RELATO DE EXPERIÊNCIA

Práticas educativas do enfermeiro na atenção à saúde sexual do adolescente

 

Simone Maria de Araujo Maia*, Ana Cristina Oliveira, D.Sc.**, Nelva Jane Duarte Nicknig*** Edson Jorge Pereira da Silva***

 

*Especialista em Saúde Pública pela Universidade Gama Filho, Docente da Universidade Anhanguera Educacional (UNIAN), **Universidad nacional de Rosario, Argentina (UNR-Ar), ***Graduando da Universidade Anhanguera Educacional (UNIAN)

 

Recebido em 14 de novembro de 2016; aceito em 12 de abril de 2017.

Endereço para correspondência: Ana Cristina Oliveira, Av. Roberto Silveira, 363/202, Bloco A Niterói RJ, E-mail: ccrriiss684@hotmail.com; Simone Maria de Araujo Maia: simoneamaia@yahoo.com.br; Nelva Jane Duarte Nicknig: janeduartenicknig12345@outlook.com; Edson Jorge Pereira da Silva: edsonrb1983@gmail.com

 

Resumo

Introdução: O Ministério da Saúde segue a convenção da Organização Mundial da Saúde (OMS) que delimita como adolescência o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade. É um ciclo caracterizado pelo desenvolvimento biopsicossocial, o qual se inicia com as transformações corporais da puberdade e termina com a inserção social, pro?ssional e econômica. Objetivo: O objetivo do trabalho foi apresentar de forma clara a atuação do enfermeiro nas práticas educativas em saúde e conscientizar os adolescentes sobre os cuidados com a sua saúde sexual. Método: O universo do estudo foi composto pelo total de 15 adolescentes assistidos, entre 10 e 16 anos. O estágio ocorreu no período entre 16 de agosto e 21 de outubro de 2016 em uma instituição do Sistema Único de Saúde e a atividade foi no ambiente escolar. Resultados: Foi realizada uma análise sucinta das discussões feitas no grupo de adolescentes durante a prática educativa. Conseguiu-se perceber a relevância de duas categorias: Relação saúde e escola e Apoio da família na saúde sexual do adolescente. Conclusão: Esta pesquisa nos levou a refletir sobre a importância das práticas educativas de saúde pelo enfermeiro em programas de orientação não só para os adolescentes, mas também para os pais e educadores com a finalidade de instrumentalizá-los para poderem lidar de forma mais adequada e menos angustiante nesta nova fase.

Palavras-chave: educação em saúde, adolescente, saúde sexual.

 

Abstract

Nurse in the attention to the sexual health of adolescent

Introduction: The Ministry of Health follows the convention of the World Health Organization (WHO) which defines adolescence as the period between 10 and 19 years, 11 months and 29 days old. Adolescence is a cycle characterized by biopsychosocial development, which usually begins with the bodily changes of puberty and ends with social and professional inclusion. Aim: The objective was to present clearly the work of nurses in educational practices in health and increase awareness among teenagers about the care of their sexual health. Method: The sample was composed of 15 teenagers between 10 and 16 years. The practices took place in the period from 16 August to 21 October 2016 in an institution of Public Health System and the activity was in the school environment. Results: A brief analysis of the discussions was made in the group of teenagers during educational practice. We can see the importance of two categories: Relation between health and school and Family support in the sexual health of adolescents. Conclusion: This research has led us to reflect on the importance of educational health practices by nurses in guidance programs not only for teenagers but also for parents and educators in order to enable them to deal more adequately and less harrowing with this new stage.

Key-words: health education, adolescent, sexual health.

 

Resumen

Practicas educativas del enfermero en la atención a la salud sexual del adolescente

Introducción: El Ministerio de la Salud sigue la convención de la Organización Mundial de la Salud (OMS) que delimita como adolescencia el período entre 10 y 19 anos, 11 meses y 29 días de edad. Es un ciclo caracterizado por el desarrollo biopsicosocial que se inicia con los cambios corporales de la pubertad y termina con la inserción social y profesional. Objetivo: El objetivo del trabajo fue presentar de forma clara la actuación del enfermero en las prácticas educativas en salud y concienciar los adolescentes sobre los cuidados con su salud sexual. Método: El universo de estudio fue compuesto por un total de 15 adolescentes entre 10 y 16 años. Las prácticas ocurrieron en el periodo entre 16 de agosto y 21 de octubre de 2016 en una institución del Sistema Único de Salud y la actividad fue realizada en el ambiente escolar. Resultados: Un análisis sucinto de las discusiones que ocurrieron en el grupo de adolescentes durante la práctica educativa fue realizado. Se ha conseguido percibir la relevancia de dos categorías: Relación salud y escuela y Apoyo de la familia en la salud sexual del adolescente. Conclusión: Esta investigación nos llevó a reflexionar sobre la importancia de prácticas educativas de salud por el enfermero en programas de orientación no sólo para adolescentes, pero también para los padres y educadores con la finalidad de instrumentalizarlos para poder hacer frente de forma más adecuada y menos agobiante a esta nueva etapa.

Palabras-clave: educación en salud, adolescente, salud sexual.

 

Introdução

 

O Ministério da Saúde segue a convenção da Organização Mundial da Saúde (OMS) que delimita como adolescência o período entre 10 e 19 anos, 11 meses e 29 dias de idade [1]. A adolescência é um ciclo caracterizado pelo desenvolvimento biopsicossocial, iniciando com as transformações corporais da puberdade e terminando com a inserção social e pro?ssional. As necessidades do adolescente em saúde são geradas no convívio com a sociedade, a partir da interação com seus diversos componentes econômicos, institucionais, políticos-éticos, culturais e físico-ambientais [2].

A educação em saúde tem como conceito a interação entre profissionais e usuários que permite a construção de saberes e o empoderamento das pessoas no seu cuidado [3]. A prática educativa da educação em saúde busca do profissional de enfermagem um preparo e uma análise crítica da sua atuação, bem como uma reflexão de seu papel como facilitador/educador [4].

O ato de cuidar é uma atribuição do enfermeiro, sempre visto como o cuidador. No cotidiano das práticas de educação em saúde tem como processo norteador a prevenção de danos e agravos à saúde além de fortalecer o vínculo do enfermeiro com a comunidade por ele atendida [5]. Sendo o enfermeiro um educador, está inserido no contexto que norteia a educação em saúde, visto que é necessário orientar a comunidade e mostrar possibilidades de cuidados em saúde. Desempenha um papel importante para a população, uma vez que participa de programas e atividades de educação em saúde visando à melhoria da saúde do indivíduo e da família [6].

Portanto, considerando que o profissional enfermeiro faz parte da equipe de profissionais que realizam as práticas educativas em saúde, faz-se necessário a percepção do público alvo e estratégias de empoderamento do indivíduo frente aos seus riscos e agravos. Neste estudo delimitamos como nosso público alvo os adolescentes.

Assim, o interesse do estudo surgiu da necessidade de compreender a atuação do enfermeiro nas práticas educativas de saúde frente a um grupo de risco assistido na atenção primária.

O objetivo do trabalho foi apresentar de forma clara a atuação do enfermeiro nas práticas educativas em saúde e sensibilizar os adolescentes sobre os cuidados com a sua saúde sexual. Este estudo advém da vivência dos autores no estágio supervisionado em saúde coletiva como acadêmicos do curso superior de enfermagem.

Estudo justificado através das mudanças sociais evidenciadas e percepção do início da vida sexual dos adolescentes cada vez mais cedo. Fato desencadeado por muitas formas de desigualdade, gênero, raça/cor, escolaridade e condição socioeconômica. Desigualdades que influenciam as relações de saúde deste público alvo, acarretando em piora dos indicadores de morbimortalidade. A iniciação sexual precoce está associada com o não-uso ou uso inadequado dos preservativos e suas consequências, ou seja, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis (DST/AIDS) [7,8].

 

Material e métodos

 

O estudo se enquadra no modelo de pesquisa bibliográfica, qualitativa, de caráter descritivo-exploratório, com a finalidade de propor soluções práticas para os problemas evidenciados, pretendendo colaborar, a partir de uma reflexão teórico-prática, com o campo da assistência pública de saúde.

Fundamentamos nossa busca no Google acadêmico, filtrando os artigos entre 2006 a 2016 através dos descritores educação em saúde, adolescente e saúde sexual.

O universo do estudo foi composto pelo total de 15 adolescentes assistidos, com idade entre 10 e 16 anos. O estágio ocorreu no período entre 16 de agosto e 21 de outubro de 2016 em uma instituição do Sistema Único de Saúde, porém a atividade foi no ambiente escolar.

Foi traçado como estratégia a prática educativa no seguinte molde: visita prévia à escola onde os adolescentes estudavam com autorização da direção. Como tarefa, solicitou-se que no dia da atividade todos trouxessem dúvidas e/ou curiosidades sobre saúde sexual. Foram analisadas situações relacionadas à saúde sexual de adolescentes escolares do nono ano.

No dia da atividade em grupo, foram levados papéis escritos com dúvidas e curiosidades não só dos alunos, mas também escritos pelos facilitadores /enfermeira/acadêmicos. E cada adolescente que conseguisse se expressar ganharia um brinde.

O estudo teve como questão norteadora a prática educativa de saúde pelos graduandos em enfermagem como parte do estágio supervisionado em saúde coletiva, o qual faz parte de uma instituição de ensino superior localizada na cidade de Niterói, Rio de Janeiro. As atividades foram supervisionadas pela docente responsável no campo do estágio e acompanhadas pela equipe de enfermagem da unidade de saúde.

 

Resultados e discussão

 

Foi realizada uma análise sucinta das discussões feitas no grupo de adolescentes durante a prática educativa. Conseguiu-se perceber a relevância de duas categorias: Relação saúde e escola e apoio da família na saúde sexual do adolescente.

 

Relação saúde e escola

 

No início da atividade já foi evidenciado o conhecimento dos adolescentes nas teorias sobre saúde sexual, gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis. Foi informado pelos próprios alunos que já haviam estudado sobre o assunto em questão. Daí, com esse cenário, iniciou-se a atividade com esses pontos que definimos como positivos e facilitadores. A teoria demonstrada através de uma dinâmica prática foi a nossa troca de experiência na instituição.

A integração dos educadores/professores e enfermeiros, o conhecimento sobre os temas trazidos, a dinâmica de grupo, acrescida da credibilidade dispensada pelos adolescentes ao grupo foram pontos facilitadores para a operacionalização das atividades e o alcance dos objetivos propostos. Como ponto dificultador, aponta-se o pouco tempo destinado às discussões frente à motivação e participação ativa dos adolescentes [9].

Destaca-se que a preocupação com situações relacionadas à vida sexual e reprodutiva dos jovens é relevante, uma vez que o principal motivo que leva os adolescentes a procurar os serviços de saúde está ligado à sexualidade e reprodução. No entanto, o contato não deve ser apenas por estes aspectos, pois os adolescentes podem demandar outros cuidados em saúde, uma vez que são sujeitos de direito e devem ser percebidos em sua integralidade [10].

Estudos mostram a orientação sexual como um tema transversal que deveria ser trabalhado nas disciplinas escolares. A justificativa para tal ação é a participação do adolescente como promotor de saúde num meio efetivo de adquirir conhecimentos, identificar situações e discutir o fenômeno da adolescência [2].

A integralidade da atenção, como uma das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), pressupõe a organização de serviços e a execução de práticas de saúde: promove as ações da saúde das pessoas jovens, os seus projetos de vida no contexto sociocultural e econômico articulados com as escolas e famílias [1].

 

Apoio da família na saúde sexual do adolescente

 

Como discussão desta categoria trazemos como evidência percebida, o sentimento de medo dos adolescentes ao iniciar um diálogo com a família, principalmente a figura da mãe e do pai sobre sexualidade, desejos, gravidez e métodos contraceptivos. Alguns já tentaram dialogar, mas não conseguiram e outros nem tentaram. Informaram ainda que o conhecimento que tem, vem na escola e do convívio com os colegas. Quando questionados quanto ao uso de preservativos, citaram como primeiro motivo a prevenção das doenças sexualmente transmissíveis e depois citaram a gravidez precoce.

Discutir acerca da iniciação sexual na adolescência deve ser compreendida a partir de uma perspectiva sócio-histórica. É importante considerar, não somente o caráter natural da sexualidade, mas compreendê-la como uma construção cultural [11].

O adolescente sofre influências da mídia, pressão dos amigos, as questões referidas ao gênero masculino, no qual esta iniciação precoce também é altamente estimulada [12].

Dentre as possibilidades, o entendimento da saúde em sua forma mais abrangente, com suas diversas dimensões e múltiplos fatores causais, ambientais, sociais e culturais que afetam o desenvolvimento neste grupo etário. Faz-se como processo facilitador de promoção e prevenção aos riscos à saúde que os profissionais de saúde e a família compreendam esse processo [1].

O diálogo nessa fase do desenvolvimento do adolescente assume uma função ainda mais importante, apesar de que às vezes os adolescentes buscam se fechar em seu “mundo” sozinho. Devido a essa tendência à reclusão, o diálogo com os membros da família, nessa etapa da vida, é fundamental, pois nesse período, eles precisam da orientação e da compreensão dos responsáveis. A falta de diálogo no ambiente familiar pode dificultar em seu cuidado de saúde [11].

 

Conclusão

 

O estudo evidenciou a inserção do enfermeiro na contribuição para uma melhor prestação do serviço na saúde do adolescente.

Os objetivos do trabalho foram alcançados. Foram eles: apresentar de forma clara a atuação do enfermeiro nas práticas educativas em saúde e conscientizar os adolescentes sobre os cuidados com a sua saúde sexual. E ainda foi de grande relevância para uma vivência como graduandos em enfermagem.

Esta pesquisa nos levou a refletir sobre a importância das práticas educativas de saúde pelo enfermeiro em programas de orientação não só para os adolescentes, mas também para os pais e educadores com a finalidade de instrumentalizá-los para poderem lidar de forma mais adequada e menos angustiante nesta nova fase. Podendo também promover as atividades fora do cenário da unidade de saúde, dentro de uma visão integral do público alvo.

A iniciação sexual precoce, a ameaça de uma gravidez não desejada, a preocupação com as doenças sexualmente transmissíveis com a possibilidade de contaminação pelo vírus HIV, o uso de métodos contraceptivos e uso inadequado de preservativo enfatizam a necessidade de mais pesquisas sobre a temática abordada. Além do papel fundamental da família, do professor e do enfermeiro na promoção e prevenção à saúde do adolescente.

 

Referências

  1.  
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
  3. Jager ME, Batista FA, Perrone CM, Santos SS, Dias ACG. O adolescente no contexto da saúde pública brasileira: Reflexões sobre o prosad. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria-RS, Brasil. Psicologia em Estudo 2014;19(2):211-21.
  4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Glossário temático: gestão do trabalho e da educação na saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.
  5. Cervera DPP, Parreira BDM, Goulart BF. Educação em saúde: percepção dos enfermeiros da atenção básica em Uberaba (MG). Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(1):1547-54.
  6. Colomé JS, Leidens CO. Educação em Saúde: por quem e para quem? A visão de estudantes de graduação em enfermagem. Texto Contexto Enferm 2012;21(1):177-84.
  7. Oliveira RL, Santos MEA. Educação em saúde da família: conhecimentos e práticas do enfermeiro. Revista Enfermagem Integrada 2011;4(2):13-9.
  8. Silva MAI, Mello FCM, Monteiro RA, Porto DL, Sardinha LMV, Freitas PCF. Saúde sexual dos adolescentes segundo a Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares. Rev Bras Epidemiol 2011;14(1)Supl.:147-56.
  9. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Marco teórico e referencial: saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens. Brasília: Ministério da Saúde; 2006.
  10. Souza MM, Brunini S, Almeida NAM, Munari DB. Programa educativo sobre sexualidade e DST: relato de experiência com grupo de adolescentes. Rev Bras Enferm 2007;60(1):102-5.
  11. Santos CC, Ressel LB. O adolescente no serviço de saúde. Adolescência e Saúde 2013;10(1):53-5.
  12. Santos MAS, Pratta EMM. Família e adolescência: a influência do contexto familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Psicologia em estudo 2007;12(2):247-56.
  13. Gubert D, Madureira VSF. Iniciação sexual de homens adolescentes. Ciênc Saúde Coletiva 2009;14(4).