ARTIGO
ORIGINAL
Diagnósticos
de enfermagem identificados em sujeitos portadores de hipertensão arterial
Carmen Cardilo Lima*,
Paula Coelho Balbino**, Cristiane Chaves de Souza, D.Sc.***
Patrícia de Oliveira
Salgado, D.Sc.***
*Enfermeira,
Coordenadora do Laboratório de Habilidades e Simulação da Universidade Nova
Iguaçu, Itaperuna/RJ, **Aluna do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal de Viçosa/MG (UFV), ***Enfermeira, Docente do Curso de
Graduação em Enfermagem da UFV
Recebido em 6 de junho de 2017; aceito em 24 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Carmen Cardilo Lima, Rua Evaristo de Castro, 33, Centro, 36860-000 Patrocínio
do Muriaé MG, E-mail: carmen.lima@ufv.br; Paula Coelho Balbino: paula.balbino@ufv.br;
Cristiane Chaves de Souza: cristiane.chaves@ufv.br; Patrícia de Oliveira
Salgado: patriciaoliveirasalgado@gmail.com
Resumo
Introdução: Entre os
profissionais atuantes no cuidado aos hipertensos na atenção primária estão os
enfermeiros. A responsabilidade do cuidar realizada pelo enfermeiro exige que
as suas decisões sobre as intervenções propostas sejam fundamentadas na
avaliação do estado de saúde do indivíduo. Objetivo:
Identificar os diagnósticos de enfermagem, bem como as características
definidoras e os fatores relacionados, de acordo com a classificação dos
diagnósticos de enfermagem NANDA International frequentes em sujeitos
portadores de hipertensão arterial sistêmica. Métodos: Estudo descritivo, desenvolvido em Unidade Básica de Saúde
com 90 usuários portadores de hipertensão arterial. Coleta de dados realizada
através da consulta de enfermagem, sendo coletados dados referentes à anamnese
e exame físico dos pacientes. Os dados foram armazenados e analisados no
programa EpiInfo versão 7, utilizando estatística
descritiva. Resultados: Os diagnósticos de enfermagem mais frequentes identificados
foram Conhecimento Deficiente (21%), Autocontrole Ineficaz da Saúde (16%) e
Estilo de Vida Sedentário (10%). Conclusão:
Através da análise dos dados foi identificada a necessidade da realização de
educação em saúde com os respectivos sujeitos, já que os diagnósticos de
enfermagem identificados são passíveis de modificação.
Palavras-chave: Enfermagem,
hipertensão, processos de enfermagem, diagnóstico de enfermagem.
Abstract
Nursing diagnoses identified in subjects with hypertension
Introduction: Among the professionals working in the care of hypertensive patients
in primary care are nurses. The responsibility of the care carried out by the
nurse requires that his decisions on the interventions are based on the
evaluation of the health status of the individual. Objective: To identify the nursing diagnoses, as well as defining
characteristics and related factors, according to the nursing diagnoses classification
of NANDA International common in subjects with systemic arterial hypertension. Methods: Descriptive study, developed in
a Basic Health Unit with 90 users with arterial hypertension. Data collection
performed through the nursing consultation, data were collected referring to
anamnesis and physical examination of the patients. The data were stored and
analyzed in the EpiInfo version 7 program, using
descriptive statistics. Results: The
most frequent nursing diagnoses identified were Deficient Knowledge (21%),
Ineffective Self-health Management (16%) and Sedentary Lifestyle (10%). Conclusion: Through the analysis of the
data, the need to perform health education with the respective subjects was
identified, since the identified nursing diagnoses are susceptible of
modification.
Key-words: Nursing,
hypertension, nursing process, nursing diagnosis.
Resumen
Diagnósticos de enfermería identificados en
sujetos portadores de hipertensión arterial
Introducción: Entre los
profesionales actuantes en el cuidado a los
hipertensos en la atención primaria están los enfermeros. La responsabilidad del cuidado realizada por el enfermero exige que sus
decisiones sobre las intervenciones propuestas estén fundamentadas en la
evaluación del estado de salud del individuo. Objetivo: Identificar los
diagnósticos de enfermería, así como las características definidoras y los
factores relacionados, de acuerdo con la clasificación
de los diagnósticos de enfermería NANDA International frecuentes en sujetos
portadores de hipertensión arterial sistémica. Métodos: Estudio descriptivo, desarrollado en Unidad Básica de
Salud con 90 usuarios portadores de hipertensión arterial. La recolección de
datos ha sido realizada a través de la consulta de
enfermería, siendo recolectados datos referentes a la anamnesis y examen físico
de los pacientes. Los datos fueron almacenados y analizados en el programa EpiInfo versión 7, utilizando estadística
descriptiva. Resultados: Los
diagnósticos de enfermería más frecuentes identificados fueron Conocimiento
Deficiente (21%), Autocontrol Ineficaz de la Salud
(16%) y Estilo de Vida Sedentario (10%). Conclusión:
A través del análisis de los datos se identificó la
necesidad de la realización de educación en salud con los respectivos sujetos,
ya que los diagnósticos de enfermería identificados son pasibles de
modificación.
Palavras-chave: Enfermería,
hipertensión, proceso de enfermería, diagnóstico de enfermería.
O envelhecimento
populacional tem levado à transição epidemiológica, com alta prevalência das
doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT). Dentro
desse grupo de doenças destaca-se a hipertensão arterial sistêmica (HAS), que é
considerada a mais frequente entre as doenças cardiovasculares [1]. No Brasil,
a prevalência da HAS atinge cerca 20% a 30% da população adulta, e em
indivíduos com mais de 65 anos o índice de hipertensos chega a 58% [2-3].
A HAS, por ser
multifatorial, necessita de abordagem multiprofissional nos diversos níveis de
atenção à saúde para atingir melhores resultados no controle dos níveis
pressóricos [1]. Contudo, sabe-se que a atenção primária é considerada a porta
de entrada do sistema de saúde, pois o serviço é estruturado na integralidade e
longitudinalidade do cuidado. Assim, o acompanhamento das pessoas com
diagnóstico de HAS deve ser realizado prioritariamente por este nível de
atenção à saúde, evitando internações e reduzindo a mortalidade por doenças
cardiovasculares [4].
Entre os
profissionais atuantes no cuidado aos hipertensos na atenção primária estão os
enfermeiros. A responsabilidade do cuidar realizada pelo enfermeiro exige que
as suas decisões sobre as intervenções propostas sejam fundamentadas na
avaliação do estado de saúde do indivíduo. Para realizar esta avaliação, um
importante recurso que deve ser utilizado durante a consulta de enfermagem é o
Processo de Enfermagem (PE). O PE é um instrumento metodológico que orienta o
cuidado profissional de Enfermagem e a documentação da prática profissional.
Atualmente, é composto por cinco etapas: Investigação, Diagnóstico de
Enfermagem, Planejamento, Implementação e Avaliação da
Assistência [5].
Durante a etapa de
investigação, realiza-se a anamnese e o exame físico com a finalidade de se
identificar as necessidades ou problemas de saúde reais ou potenciais
apresentados pelos pacientes. Na sequência, em um processo de raciocínio
clínico, são formulados diagnósticos de enfermagem, para os quais propostas de
solução são estabelecidas [6].
Os diagnósticos de
enfermagem pela classificação da NANDA-I possuem uma definição e um conjunto de
características definidoras e fatores relacionados, e através deles é que
ocorre a individualidade do diagnóstico. As características definidoras são
entendidas como um conjunto de sinais e sintomas que asseguram a presença de um
determinado diagnóstico e os fatores relacionados são
o motivo pelo qual levou àquele diagnóstico, ou seja, as suas causas, então a
seleção das características definidoras e dos fatores relacionados estabelecem
se a coleta de dados e o agrupamento desses dados corresponde ao DE escolhido
[7].
Diante de um DE o
enfermeiro tem o dever de fazer algo para minimizá-lo ou resolvê-lo e, para
tanto, deve planejar e implementar cuidados efetivos,
eficientes, seguros, com foco no paciente e monitorar se o planejamento e as
ações executadas foram bem sucedidas [8]. Assim, na consulta de enfermagem, a
etapa de estabelecimento dos DE constitui a base para a formulação de
intervenções, que irão direcionar a assistência de enfermagem, bem como ajudar
na elaboração de um plano de cuidados individualizado [6].
Visto a necessidade
de cuidados individualizados na atenção primária à saúde, este estudo
justifica-se pelo fato de que atualmente a HAS é uma doença que possui fatores
de risco passíveis de modificação. Assim, é necessária a identificação dos DE
que irão trazer subsídios para a realização de um plano de cuidados de alta
qualidade para os usuários das Unidades Básicas de Saúde.
Dessa forma, este
estudo tem por objetivo identificar os diagnósticos de enfermagem frequentes em
sujeitos portadores de HAS, de acordo com a taxonomia da NANDA-I.
Trata-se de um estudo
descritivo-exploratório, do tipo transversal, realizado em duas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) de um município da Zona da Mata Mineira, no período de
abril 2015 a abril de 2016. Estas unidades oferecem atendimento primário à
saúde a aproximadamente 6.090 usuários.
Foram estabelecidos
como critérios de inclusão do estudo pacientes com
diagnóstico médico de hipertensão arterial sistêmica, de ambos os sexos, com
idade superior a 18 anos e que fossem usuários das Unidades Básicas de Saúde
incluídas no estudo. Foram excluídos do estudo os pacientes que não
compareceram na unidade para a realização da consulta de enfermagem agendada.
A população do estudo
foi constituída por 736 sujeitos hipertensos adscritos na área de abrangência
das UBS do estudo. O tamanho da amostra foi determinado pelo método não-probabilístico de amostragem de conveniência. Este tipo
de amostragem caracteriza-se pelo uso das pessoas ou objetos mais prontamente
acessíveis como sujeitos de pesquisa num estudo [8]. Neste estudo, a amostra
foi delimitada pelo tempo de coleta de dados, de seis meses consecutivos
totalizando 90 pacientes.
Primeiramente, os
pacientes foram convidados a participar da pesquisa por meio de contato
telefônico, momento no qual foram informados o tema e a relevância do estudo.
Após o aceite, foi agendada uma data para a realização da consulta de
enfermagem com a pesquisadora para a coleta de dados. Na ocasião da consulta,
os pacientes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assim foi obtida
a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Durante a consulta de
enfermagem foram coletados dados referentes à anamnese e exame físico dos
pacientes. Para tanto, utilizou-se instrumento contendo dados referentes à
identificação do paciente, história da HAS e do tratamento, estilo de vida,
avaliação dos fatores de risco cardiovasculares, terapia medicamentosa e
avaliação clínica com dados referentes aos sintomas cardiovasculares. Após a
coleta dessas informações, em um processo de raciocínio clínico, as
necessidades dos pacientes foram identificadas a partir da interpretação e
agrupamento dos dados e formulados os diagnósticos de enfermagem de acordo com
a taxonomia de diagnósticos de enfermagem NANDA-I[10]. Os dados foram
armazenados e analisados no programa EpiInfo versão 7,
utilizando estatística descritiva.
O estudo seguiu as
recomendações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e obteve
parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade Federal
de Viçosa (CAAE 44785915.7.0000.5153).
Foram realizadas 90
consultas de enfermagem, sendo a maioria da amostra composta pelo sexo feminino
(64,4%), raça branca 43 (48,3%), com idade entre 66 e 79 anos 41 (45,5%),
ensino fundamental incompleto 46 (51,1%), casados 56 (62,9%) e com renda
familiar de 2 a 3 salários mínimos 34 (37,7%). Quanto ao tempo de diagnóstico
da HAS, 52 (58,4%) referiram ter a doença há mais de dez anos.
Foram identificados
através da consulta de enfermagem 25 diferentes DE. Na tabela I, encontram-se
os títulos diagnósticos de enfermagem formulados para os pacientes, sendo os
mesmos agrupados de acordo com os 12 domínios propostos pela NANDA-I [10].
Tabela
I – Títulos diagnósticos de enfermagem mais frequentes em pacientes hipertensos, agrupados por domínios,
segundo a taxonomia da NANDA-I. Viçosa/MG, 2016.
Entre os 25 títulos
DE identificados, apenas dois apresentaram frequência maior que 50%, sendo eles
“conhecimento deficiente” e “autocontrole ineficaz da saúde”. Assim, para esses
diagnósticos foram analisadas as Características Definidoras (CD) e os Fatores
Relacionados (FR) mais frequentes identificados na amostra estudada (Tabela
II).
Tabela
II –
Títulos diagnósticos identificados em
mais de 50% dos pacientes com suas respectivas características definidoras e
fatores relacionados, segundo taxonomia da NANDA-I. Viçosa/MG, 2016.
Verificou-se que para
o diagnóstico de enfermagem “conhecimento deficiente”, das cinco CD
apresentadas pela NANDA-I apenas “comportamentos exagerados” e “desempenho
inadequado em um teste” não foram identificadas na amostra estudada e dos 6 FR todos foram identificados. Em relação ao DE
“autocontrole ineficaz da saúde”, todas as CD apresentadas pela NANDA-I foram
identificadas entre os pacientes avaliados, e dos 16 FR apresentados pela
taxonomia, apenas dois não foram identificados nos pacientes estudados, que são
“benefícios percebidos” e “gravidade percebida”.
A maioria dos
pacientes que compuseram a amostra deste estudo era idosa, aposentados, do sexo
feminino, com baixa renda e baixa escolaridade. Esse resultado se justifica
pelo fato de os bairros aos quais as unidades estudadas pertencem concentram
populações de periferia, e, de acordo com a literatura, esses locais são
constituídos, em grande parte, por moradores com características semelhantes a deste estudo [11-12].
Ao avaliar os
diferentes DE identificados nos sujeitos do estudo de acordo com os domínios da
NANDA-I verificou-se que o domínio 4 –
Atividade/repouso apresentou o maior número de diagnósticos e os domínios 9 –
Enfrentamento/tolerância ao estresse, 10 – Princípios de vida e domínio 12 –
Conforto apresentaram o menor número de diagnóstico
O Domínio 1 (Promoção da Saúde) refere-se à capacidade do indivíduo,
família ou comunidade de realizar atividades para manter a saúde e o bem-estar
(NANDA-I). Neste domínio foram identificados cinco diferentes DE, e
“autocontrole ineficaz da saúde” foi o mais frequente. A literatura aponta que
os indivíduos possuem dificuldades de alcançarem as metas de saúde propostas
pelo plano de tratamento, não realizando as atividades para manter o bem-estar,
bem como a normalidade de suas funções orgânicas [13]. Essa dificuldade pode
estar diretamente relacionada com o fato de a maioria dos pacientes que
compuseram a amostra serem idosos parcialmente dependentes, e possuírem pouco
controle de sua própria saúde, gerando comportamentos de risco à saúde.
Neste domínio, o
título diagnóstico “comportamento de saúde propenso a risco” foi identificado
em apenas 6,7% da amostra, mas se mostra como um fator que pode interferir na
adesão ao tratamento do paciente hipertenso, pois muitas vezes o discurso do
paciente se contradiz com a realidade [14]. Assim como também o DE “controle
familiar ineficaz do regime terapêutico” identificado em 1,1% dos pacientes,
pode influenciar diretamente na adesão ao tratamento, uma vez que em muitas
vezes a baixa renda e baixa escolaridade familiar levam à dificuldade em seguir
o regime terapêutico prescrito [13].
O DE “estilo de vida
sedentário”, identificado em 34,4% dos indivíduos, reflete que grande parte dos
entrevistados possui um baixo nível de atividade física. Estudo aponta que
crenças, atitudes e hábitos dos indivíduos influenciam diretamente na adoção de
medidas para o controle da HAS, impactando na decisão de praticar atividades
físicas [15]. Além disso, a renda e a escolaridade também podem influenciar na
prática de atividade física. Sabe-se que menor renda pode dificultar o acesso a
maior nível de formação, e o baixo nível de escolaridade tende a prejudicar a
adesão ao tratamento e à atividade física, influenciando diretamente na
qualidade de vida dos indivíduos [16]. É importante que o enfermeiro tenha
conhecimento dos fatores que interferem na prática da atividade física, para
que possa estabelecer um plano terapêutico, com intervenções que auxiliem os
indivíduos à melhora de seu estilo de vida [13,16-17].
No domínio
“Nutrição”, foram identificados quatro títulos DE
diferentes: “nutrição desequilibrada: mais do que as necessidades corporais”;
“nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais”; “risco de
glicemia instável” e “risco de desequilíbrio eletrolítico”. Todos esses títulos
DE apresentam relação com a ingestão alimentar. Identificou-se nas consultas de
enfermagem do estudo realizadas, que grande parte dos indivíduos também possuía
diabetes e não realizava o controle da sua alimentação. A falta de controle
também se relacionava à ingestão de sal e gorduras, que afetam diretamente no
controle da pressão arterial e também no controle do peso [13,18]. O enfermeiro
tem o dever de orientar os pacientes quanto aos hábitos alimentares tanto em
grupos educativos quanto nas consultas de enfermagem [13].
No
domínio 4 -
Atividade/Repouso foram identificados 11 títulos DE. Apesar de
ter sido o
domínio da taxonomia NANDA-I em que se identificou o maior
número de diferentes
títulos diagnósticos, esses apresentaram frequência
inferior a 13% na amostra
estudada. Entre os títulos DE, os mais frequentes neste
domínio, destacam-se:
“intolerância à atividade”;
“deambulação prejudicada”;
“fadiga” e “padrão
respiratório ineficaz”. Esses diagnósticos
também foram identificados durante
consultas de enfermagem a pacientes que apresentavam
condições pré-existentes
como acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca,
limitações físicas e
idades avançadas. Sabe-se que essas condições
limitam as pessoas acometidas,
provocando, em muitos casos, um estilo de vida sedentário e,
consequentemente,
aumento do peso e falta de controle dos níveis
pressóricos [17].
Os DE “conhecimento
deficiente” e “disposição para conhecimento melhorado” também foram os identificados
nos pacientes estudados, e pertencem ao domínio 5 – (Percepção/Cognição). O DE
conhecimento deficiente foi o mais frequente na amostra estudada (76 - 84,4%).
Durante as consultas de enfermagem identificou-se o baixo nível de escolaridade
dos entrevistados, o que pode ser um obstáculo para a aquisição de novos
conhecimentos, ocasionando maior dificuldade para o enfrentamento das
alterações no estilo de vida. Sabe-se que o conhecimento, as crenças e os
hábitos dos portadores de HAS afetam diretamente na adesão ao tratamento
anti-hipertensivo [19].
A HAS é uma doença
com fatores de risco modificáveis, de fácil controle, desde que os indivíduos
portadores realizem mudanças em seu estilo de vida. Apesar de um grande número
de pacientes apresentar o título diagnóstico “autocontrole ineficaz da saúde” e
o DE “conhecimento deficiente”, foram identificados os DE “disposição para
autocontrole da saúde melhorada” em 5,6% da amostra e “disposição para
conhecimento melhorado” em 2,2% dos pacientes. A identificação destes DE na
população estudada reforça a necessidade de os enfermeiros que atuam na atenção
primária realizem intervenções educativas com os hipertensos com a finalidade
de melhorar o conhecimento da doença, formas de tratamento e consequentemente
aumentar a adesão dos mesmos ao tratamento prescrito [20].
No domínio 9 -
Enfrentamento/Tolerância ao estresse identificou-se apenas o diagnóstico de
“ansiedade”. Sabe-se que este é um problema considerado como um traço de
personalidade característico do indivíduo hipertenso. O estado emocional
interfere na variabilidade da pressão arterial, e transtornos de ansiedade
podem estar associados a maior mortalidade, particularmente
morte cardíaca repentina, e maior morbidade cardiovascular. Assim os
enfermeiros devem atuar de forma a minimizar a ansiedade do indivíduo
hipertenso com a ajuda da equipe multiprofissional, principalmente psicólogos
[20-21].
No domínio 10 -
Princípios de vida, o título diagnóstico “falta de adesão” foi identificado em
15,5% da amostra. Este diagnóstico foi recentemente validado em pacientes
hipertensos, uma vez que essa população tende a apresentar altos índices de
falha na adesão ao tratamento [22]. A identificação precoce deste problema de
enfermagem pelo enfermeiro é importante para que estratégias efetivas sejam
encontradas e aplicadas pela equipe de enfermagem para que seja proporcionado
um seguimento adequado ao tratamento estabelecido para a hipertensão [23].
Os DE “Conhecimento
deficiente” e “Autocontrole ineficaz da saúde” estiveram presentes na maioria
dos pacientes. Ao avaliar as CD e os FR desses dois diagnósticos em conjunto,
verifica-se a complementação de um ao outro (Tabela II). O conhecimento
deficiente sobre a doença, bem como as práticas errôneas de autocuidado
interferem diretamente no autocontrole da saúde, o que justifica a maior
frequência desses diagnósticos na amostra estudada. Além de que, má interação
entre o profissional de saúde e o paciente pode afetar diretamente na adesão ao
tratamento. Dessa forma, a identificação dos sinais/sintomas e das causas de um
ou mais problemas de enfermagem numa determinada população torna mais eficiente
e eficaz a seleção de um plano terapêutico que seja viável ao paciente [24-25].
Aponta-se como limitação
deste estudo o fato de que, apesar de a coleta de dados ter
sido realizada em duas UBS, ambas apresentavam características semelhantes
quanto ao perfil clínico e sociodemográfico dos pacientes atendidos, o que
impossibilitou estabelecer inferência estatística entre os sujeitos que
compuseram a amostra deste estudo.
No entanto, o
objetivo deste estudo foi identificar os diagnósticos de enfermagem mais
frequentes nesta população, assim, acredita-se que os achados contribuem para
nortear estudos futuros de maior nível de evidência para investigar a
associação das CD e dos FR descritos na NANDA-I com a ocorrência de um
determinado diagnóstico de enfermagem frequente em portadores de hipertensão
arterial. Além disso, o conhecimento do perfil de diagnósticos de enfermagem em
populações específicas é altamente significativo para o desenvolvimento de base
de dados que possam subsidiar na padronização da linguagem de enfermagem e
favorecer extração de dados de eficácia do cuidado de enfermagem prestado.
Foram
identificados
25 diferentes DE na amostra estudada. Estes diagnósticos
pertencem aos domínios
Promoção da Saúde, Nutrição,
Atividade/Repouso, Percepção/Cognição,
Enfrentamento/Tolerância ao estresse, Princípios de vida e
Conforto. Os DE
“conhecimento deficiente” e “autocontrole ineficaz da
saúde” foram
identificados em mais de 50% dos pacientes, o que pode estar
relacionado ao
fato de a amostra estudada ser, em sua maioria, de pacientes idosos com
baixa
renda e escolaridade.
Os resultados deste
estudo mostram que os DE identificados são passiveis de modificação. Desta
forma, percebe-se que o tratamento e o controle da HAS, na maioria das vezes,
estão diretamente relacionados com o estilo de vida do indivíduo e com sua
adesão à terapia medicamentosa. Assim, o enfermeiro utilizando o raciocínio
clínico e o PE como metodologia do cuidado, conseguirá elaborar um plano
terapêutico eficaz e individual, ajudando o paciente a compreender o seu
processo de saúde-doença, estimulando-o a praticar o seu autocuidado, que
resultará em um melhor controle da HAS e na minimização dos riscos à saúde.
Espera-se que a
descrição do presente trabalho contribua para um aprimoramento da relevância do
cuidado de enfermagem direcionado aos portadores de hipertensão arterial. Além
disso, considera-se que os resultados deste estudo são importantes para a
organização de conteúdos de ensino para alunos e enfermeiros preparando-os para
que ao prestar o cuidado a indivíduos hipertensos considerem toda a estrutura
enquanto ser humano, abrangendo não somente os aspectos biológicos, mas também
os valores culturais, históricos, sociais emocionais e espirituais que fazem
parte deste perfil de paciente.
Sugere-se a
realização de estudos que identifiquem entre os diagnósticos de enfermagem
formulados quais foram solucionados, quais predominam e aqueles que deixam de
ser trabalhados.