REVISÃO
Atividade
laboral do enfermeiro e a relação com a síndrome de burnout
Bruna Fávero*, Ana
Maria Bellani Migott**
*Enfermeira
graduada pela Universidade de Passo Fundo, residente no Programa de Residência Integrada
Multiprofissional em Saúde Mental Coletiva pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, **Enfermeira, psicóloga, docente do Curso de Enfermagem na
Universidade de Passo Fundo
Recebido em 12 de
março de 2017; aceito em 04 de outubro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Bruna Fávero, Rua Duque de Caxias, 1294, Centro Histórico, 90010-281 Porto
Alegre RS, E-mail: brunafavero94@gmail.com, Ana Maria Bellani
Migott: migott@upf.br
Resumo
Objetivo: Verificar se o
enfermeiro que atua em ambiente hospitalar está sujeito à síndrome de burnout. Métodos: Trata-se de uma revisão
integrativa que buscou artigos na Bireme e no Google
Acadêmico e teve como critérios de inclusão: textos disponíveis completos,
escritos no idioma português, publicados entre 2000 e 2015 e referir-se à
síndrome de burnout em enfermeiros na área
hospitalar. Resultados: Dos 357
artigos encontrados, foram utilizados 12, dos quais 4
originários da Lilacs, 4 da Bdenf
e 4 do Google Acadêmico. Metade destes apontou que a sobrecarga de trabalho é o
principal fator causador de estresse laboral e burnout seguido por múltiplos
vínculos empregatícios. As atividades relacionadas à administração de pessoal
foram as mais estressantes. Conclusão:
Constatou-se que o trabalho do enfermeiro no hospital é estressante e favorece
o desenvolvimento da síndrome de burnout.
Palavras-chave: esgotamento
profissional, ocupações, enfermeiros, medicina hospitalar.
Abstract
Labor nurses activity and the relationship with the burnout syndrome:
integrative review
Objective: To verify if
the nurse working in hospitals is subject to the burnout syndrome. Method: This study is an integrative
literature review, which aimed to articles in the Bireme and Google Scholar,
and had as inclusion criteria: full texts available, written in Portuguese,
published between 2000 and 2015, and nurses who referring burnout syndrome in
the hospital area. Results: We found
357 articles, but used only 12, of which 4 are from Lilacs, 4 Bdenf and 4 Google Scholar. Half of these articles pointed
out that the workload is the main cause of work stress and burnout. Activities
related to personnel administration were the most stressful, and the workload
is the main triggering factor followed by multiple employment relationships. Conclusion: We noted that the nursing
work in hospital is stressful and favors the development of burnout syndrome.
Key-words: professional
burnout, occupations, nurses, hospital medicine.
Resumen
Actividad laboral del enfermero
y la relación con el síndrome del burnout
Objetivo: Verificar si el enfermero
que trabaja en los hospitales está sujeto a la síndrome de burnout. Método: Se trata de una revisión integradora de la literatura que tiene
como objetivo los artículos de la
Biblioteca Virtual en Salud
y Google Scholar y tuvo como criterios
de inclusión: textos disponibles
completos, escritos en portugués,
publicados entre 2000 y 2015 y referencia el síndrome
del burnout en enfermeros
en el área hospitalaria. Resultados:
De los 357 artículos encontrados, se utilizaron 12, de los cuales 4 eran
de Lilacs, 4 Bdenf y 4
Google Scholar. La mitad de ellos
señaló que la
carga de trabajo es la
principal causa de estrés laboral y burnout. Las actividades relacionadas con la administración de personal fueron las más estresantes y la carga de trabajo es el principal factor desencadenante seguido de múltiples relaciones de empleo. Conclusión: Se observó que el
trabajo de enfermería en el hospital es estresante y favorece el desarrollo del síndrome de burnout.
Palabras-clave: agotamiento
profesional, ocupaciones, enfermero, medicina hospitalar.
A palavra trabalho
tem sua origem do latim tripalium,
de forma que os elementos tri, que significa “três”, e palum,
que significa “madeira”, assim, tripalium era o nome de um instrumento de tortura
constituído de três estacas de madeira afiadas comum em tempos remotos na
região europeia. Desse modo, originalmente, "trabalhar" significava
“ser torturado”, porém com o passar do tempo e a evolução da sociedade, trabalhar
se tornou uma necessidade para garantir sobrevivência e outros objetivos foram
assegurados como moradia, vestimenta, segurança, lazer e autorrealização
como Maslow [1] descreve em sua teoria das necessidades humanas básicas, e o
trabalho passou a ser um instrumento para qualidade de vida e não uma tortura.
Com a revolução
industrial, novos métodos de organização do trabalho foram implantados
refletindo diretamente no sistema trabalhista, devido ao surgimento da utopia de
trabalhar mais para lucrar ainda mais. Esse trabalho que traz o sustento,
também poderá trazer problemas à saúde no trabalhador, principalmente no âmbito
da saúde mental [2].
O trabalho do
enfermeiro, além dos riscos que envolve, é uma
profissão de grande desgaste e os hospitais constituem-se um dos ambientes de
trabalho mais estressantes, pois lida com sofrimentos ao longo do ciclo vital,
o que corrobora para desenvolvimento de transtornos mentais [3]. Segundo duas
estudiosas sobre o assunto “o stress tem haver com a resistência às pressões,
com a habilidade de lidar com demandas e mudanças [4]” e também reforça que o
trabalho pode causar estresse e que há ocupações consideradas mais estressantes tais como o policial, professor, vendedor,
entre outras.
As primeiras relações
entre trabalho e psicopatologia foram descritas por Le Guillant
em 1950, que observou as atividades das telefonistas em Paris e em 1980 o
francês Chistophe Dejours
publicou a obra “A loucura do trabalho” que trata das repercussões da organização
do trabalho no campo psíquico [5]. Esse autor diz que “é preciso reconhecer que
o conflito que opõem o trabalho à vida mental é um território quase
desconhecido”, relata também que se o trabalho permite a diminuição da carga
psíquica é equilibrante e se não permite essa diminuição ele é fatigante por
tornar-se fonte de tensão e desprazer originando a patologia [6].
Estudos afirmam que
sofrimento psíquico no trabalho afasta as pessoas de suas atividades
profissionais, sobretudo no hospital, embora haja estudos sobre essa situação,
ainda não se percebe uma correlação direta do adoecimento como algo
desencadeado pelo próprio trabalho. Há mais reconhecimento das doenças
relacionadas ao trabalho quanto aos aspectos orgânicos de forma que existe um fator
que comprove dados objetivos, mas no campo subjetivo (saúde mental), essas
evidências parecem se distanciar, recaindo sobre o próprio indivíduo devido a
suas características psicológicas e, portanto, ficam invisíveis
na relação processo saúde-doença laboral [7].
Dentre os transtornos
mentais relacionados à saúde do trabalhador, observa-se a crescente incidência
da síndrome de burnout
(SB) ou estresse profissional. Essa expressão é originário do inglês
“queimar-se” que no CID 10 recebe o código Z73.0 [8].
A SB foi descrita pela primeira vez por Freudemberger
[9], em 1974, com objetivo de explicar a deterioração profissional,
principalmente nos trabalhadores que tem contato direto com pessoas. A
definição mais aceita de SB é de Christina Maslash e
Susan Jackson as quais afirmam que a síndrome resulta do envolvimento
sequencial de três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa
realização pessoal [10].
Na exaustão emocional
(EE) ocorre manifestação física ou psíquica caracterizada pela falta ou pouca
energia para o trabalho e sentimento de esgotamento emocional que leva a desentusiasmo, frustração e tensão. Despersonalização (DP)
é o desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas no trabalho como
endurecimento afetivo, insensibilidade ou até dissimulação com os clientes,
colegas ou organização tratando-os como objetos e na baixa realização
profissional (RP), ocorrem sentimentos de inadequação
pessoal e profissional, o trabalhador se autoavalia
de forma negativa tornando-se infeliz, insatisfeito surgindo sentimentos de
fracasso e incapacidade [11-13]. Tem-se afirmado que a exaustão emocional é um preditor da despersonalização e esta prediz a baixa
realização profissional [14].
A Health Education Authority [12,15] afirma que a enfermagem é classificada
como a quarta profissão mais estressante, uma vez que trabalha direta e
diariamente com outras pessoas. O enfermeiro por estar submetido continuamente
aos fatores geradores de estresse laboral como escassez de pessoal, sobrecarga,
baixa participação nas decisões, sentimento de injustiça nas relações laborais,
remuneração inadequada, entre outras situações deixando-o vulnerável a
desenvolver psicopatologias, especialmente a SB. Estudos relatam que professores, magistrados, cuidadores e outras classes
trabalhistas também estão propensos a desenvolver a SB por estarem em contato
direto com pessoas [16,17].
A organização do
trabalho, por sua vez, é peça fundamental para desencadear ou inibir uma
sobrecarga psíquica, pois, quando há liberdade na organização, o trabalhador se
sente mais valorizado e com seu poder de decisão levado em conta, por outro
lado, quando esse rearranjo é bloqueado, o sofrimento se instala acumulando-se
no aparelho psíquico, ocasionando desprazer e tensão. Uma organização autoritária
que não permite uma saída à energia tensional desencadeia um aumento da carga
psíquica, principalmente se o trabalho for intelectual invés de manual e está
diretamente ligado a pessoas [6].
Considerando as
vivências adquiridas durante a prática acadêmica pelo contato diário com
enfermeiros, nota-se fadiga, exaustão emocional, atitudes de indiferença
perante pacientes, familiares e colegas e em alguns casos o pior: baixa
realização profissional. Percebe-se que o enfermeiro acaba vivenciando um
ambiente laboral com muitas pressões de modo que muitas vezes seu olhar se
dirige somente para o cuidado do pacientes, esquecendo-se de seu próprio
cuidado. A temática SB é pouco debatida pela Enfermagem no seu campo laboral. A
par desta pequena reflexão para realizar esse estudo questiona-se: na atividade
laboral do enfermeiro pode-se desenvolver a síndrome de burnout?
Este estudo se faz
importante visto que seu tema é uma questão da atualidade que vem afetando
muitos trabalhadores especialmente os que em seu ofício lidam diretamente com
pessoas, neste caso o enfermeiro e tende a aumentar devido ao aumento de
trabalho, cobranças, pouca valorização, etc. Baseando-se na contextualização
apresentada, tem-se como objetivo deste estudo verificar se o enfermeiro que
atua em ambiente hospitalar está sujeito à síndrome de burnout.
Trata-se de um estudo de revisão integrativa
de literatura visto que esse método de pesquisa reúne e sintetiza os tipos de
estudos publicados referentes a um tema específico de maneira sistemática e
delimitada, o que contribui para maior aprofundamento do assunto [18]. Os
artigos encontrados foram pesquisados a partir de consulta de cadastros dos
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Bireme: burnout, enfermeiro e hospital. Inicialmente resultou em 350
artigos sendo destes 307 na Medline (Sistema Online
de Busca e Análise de Literatura Médica), 17 na Lilacs
(Bases de dados de Literatura Latino-americana de Ciências da saúde), 14 na Bdenf (Base de Dados de Enfermagem), 05 na IBECS (Índice
Bibliográfico Espanhol em Ciências da Saúde), 04 na Central- Ensaios Clínicos
controlados, 02 no Coleciona SUS e 01 no PAHO (Pan American Health Organization).
Como critério de
inclusão para a análise foi estabelecido que os textos estivessem disponíveis
completos, escritos no idioma português, publicados entre os anos 2000 a 2015 e
referir a síndrome de burnout
em enfermeiros na área hospitalar. Foram aceitos artigos intitulados ou com
descritores “esgotamento profissional”, uma vez que este é equivalente à burnout. Como
critérios de exclusão foram considerados os artigos em outros idiomas,
diferentes do português, resumidos ou incompletos, estarem repetidos nas bases
de dados, incompatíveis com o período de tempo definido e que tratassem a SB em
outra classe profissional díspar do enfermeiro.
Após filtragem foram
selecionados 08 artigos nas bases de dados que passaram por análise completa
buscando responder a questão problema e atender os objetivos desse estudo.
Foram encontrados outros 07 artigos de busca manual no Google Acadêmico e 04
selecionados para o estudo. Este levantamento ocorreu no período de julho a
agosto de 2015 e foram aceitos 12 artigos para esta revisão integrativa. A
figura 1 simplifica e mostra a metodologia utilizada, número de artigos
encontrados e bases de dados que estavam indexados. Houve uma igualdade entre o
número de artigos encontrados e suas bases de dados.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2015.
Figura
1 - Total de artigos encontrados, selecionados,
excluídos, utilizados e suas bases de dados.
Depois de realizada a
coleta dos 12 artigos, os mesmos foram lidos na íntegra e então se procedeu à
análise dos mesmos. Nos gráficos e quadros abaixo os dados encontrados estão
dispostos de forma a mostrar o que os autores estudaram fazendo uma panorâmica
do tema em questão. No gráfico 1 é apresentado o
número de artigos encontrados nas bases de dados e ano de publicação.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2015.
Gráfico
1 - Relação de publicações por ano e números de publicações
encontradas e utilizadas.
Percebemos no gráfico
1, uma estabilidade de publicação de artigos
relacionados com enfermeiros e a SB, nos anos de 2000 e 2007, uma queda em
2008; e entre 2009 e 2012 um aumento, resultando um total de 18 artigos sendo o
período de maior número de publicações. Nos anos de 2013 e 2014 novamente houve
uma leve queda na produção, e no período em que foi realizada a busca não foram
encontradas publicações no ano de 2015.
Para melhor
sintetização e diálogo dos achados foram elaboradas alguns quadros e os artigos
estão dispostos na ordem em que foi realizada a leitura. O quadro abaixo se
constitui em uma sinopse dos achados contendo título, autor, profissão,
revista/periódico, ano de publicação, tipo de estudo e objetivos.
Quadro
1 - Panorama da sumarização das referências
encontradas na busca às bases de dados. (ver PDF em anexo)
Podemos notar que dos
doze artigos, nove identificam a formação dos autores, os quais praticamente
todos são escritos por enfermeiros e três não trazem identificação da graduação
dos autores, somente consta a universidade ou instituição na qual foi realizado
o estudo. Este dado aparece no quadro 1 contendo um
asterisco (*) identificatório. Um estudo foi escrito
por graduandas de enfermagem em orientação com enfermeiras e outro estudo
publicado por médicas e graduandas de medicina. Os artigos foram publicados em
revistas de circulação nacional e/ou internacional, relacionadas à área de
enfermagem e a maioria dos estudos foi de ordem qualitativa descritiva.
A seguir serão
demonstrados resumidamente os principais achados advindos da análise dos
artigos encontrados na base de dados no período de estudo a partir da ordem de
leitura dos textos.
Quadro
2 - Sinopse contendo os autores e os principais
resultados obtidos por estes. Fonte: Elaborada pelo autor, 2015. (ver PDF em
anexo)
Podemos relacionar o
aumento de publicações sobre o tema burnout nos últimos anos, como visto no gráfico 1, com a emersão das questões relacionadas à saúde mental na
última década principalmente em decorrência da Reforma Psiquiátrica com a
publicação da Lei 10.216/01 que dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial
em saúde mental [19].
Além desta situação,
a questão relacionada à saúde do trabalhador também começou a ganhar mais
atenção. Com isso estamos vivendo uma transição de paradigmas que está
permitindo trazer e debater assuntos relacionados à saúde mental e ao trabalho
que antes eram ignorados ou menosprezados seja por falta de conhecimento ou
preconceitos.
Segundo os resultados
dos artigos analisados no quadro 2, evidenciou-se que
o estresse está mais presente na atividade laboral do enfermeiro que trabalha
no hospital do que do enfermeiro que trabalha em unidades básicas de saúde.
Dentro do hospital as unidades abertas quando comparadas às fechadas são mais
estressoras e as atividades de administração de pessoal são consideradas as
mais estressantes [23,24,26]. Este resultado desvela
que as atividades de assistência ao paciente não são produtoras de maior
estresse do que outras atividades e acaba por apontar uma discordância entre a
pesquisa e conhecimento popular. Há estudos que reforçam estes achados e
relatam que a SB se desenvolve mais em decorrência do somatório dos fatores do
processo de cuidar do que a modalidade de trabalho realizada e os graus de
exaustão emocional, despersonalização e realização profissional podem variar de
acordo com as características pessoais e ocupacionais do grupo [13].
Nos levantamentos
realizados com a utilização da escala Maslach Burnout Inventory,
observou-se nos estudos que há um baixo percentual de desenvolvimento da
síndrome no trabalho do enfermeiro, menos de 5% dos entrevistados, porém o que
chama a atenção nos estudos é o número de profissionais suscetíveis a
desenvolverem o burnout,
ou seja, que estão vivenciando algum tipo de alteração em qualquer uma das três
dimensões (exaustão emocional, despersonalização e realização profissional)
sendo estes candidatos importantes a desenvolverem a síndrome de burnout [3,12,14].
O gráfico 2, a seguir sintetiza os principais causadores de estresse
laboral e síndrome de burnout
resultantes das atividades do enfermeiro que trabalha em hospital. Foram
apontados em ordem decrescente, os fatores desencadeantes da estafa
profissional e o número de artigos que relatam esta situação.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2015.
Gráfico
2 - Principais causas de burnout no ambiente
hospitalar.
Podemos constatar no gráfico
acima que o principal fator desencadeador de estresse laboral do enfermeiro no
ambiente hospitalar apresentado pelos autores é a sobrecarga de trabalho [12,21,22,25-27], independente do setor que trabalha, seja
assistencial ou administrativo, uma vez que ao acumular funções o enfermeiro
não consegue desempenhá-las com êxito e acaba se frustrando [25].
Ter múltiplos
vínculos empregatícios [3,12,20,22,25] também foi
apontado como desencadeador do burnout, pois o profissional deixa de realizar atividades
pessoais e de lazer como a não prática de atividade física [20,25], e com isso
acaba envolvido somente com o trabalho, ficando mais tenso e isolando-se, o que
interfere de forma negativa na sua qualidade de vida.
O relacionamento
interpessoal tenso e ou desarmonioso foi considerado outro causador de estresse
no ambiente hospitalar, seja entre colegas, superiores ou subordinados, pois
causa conflitos e sofrimentos como se pode perceber no gráfico 2 a partir dos achados dos estudos [3,25,26]. Não esquecendo
que a relação com o paciente e familiar também pode ser geradora de estresse.
Em algumas
literaturas [20,21,25] o pouco tempo para desempenhar
as atividades também foi classificado como fator desencadeante do estresse
laboral, pois o enfermeiro se sente pressionado constantemente, principalmente
quando trabalha em setores hospitalares fechados se comparado com atenção
básica de saúde e com os setores abertos. O enfermeiro recém-graduado, com
pouca habilidade prática para realizar grande número de tarefas, pouca vivência
para contornar situações e para tomada de decisões, aliado a dificuldade para
autocontrolar suas emoções tem mais probabilidade de sofrer de esgotamento
profissional, contribuindo para a presença do burnout, que o profissional com
maior tempo de serviço [21].
O funcionamento
organizacional foi apontado como outro desencadeador de estresse pelo modelo
hierarquizado e burocrático das organizações hospitalares, evidenciado pela
falta de respaldo e apoio institucional [3,12,25], o
que vai ao encontro de Dejours no livro
“Psicodinâmica do Trabalho”, que afirma que a organização do trabalho é peça
fundamental para desencadear ou inibir uma sobrecarga psíquica [6].
As deficiências na
estrutura física e recursos materiais impõem maior esforço físico para realizar
as tarefas e impedem a correta realização de técnicas desencadeando
insatisfação com o trabalho [25,26]. Por conseguinte, dispensar muito esforço
físico para a realização da tarefa foi apontado como outro causador de estresse
[21,22,25], uma vez que faz o trabalhador entrar em
exaustão física, surgindo sintomas somáticos como cefaleia, irritabilidade,
pressão arterial alta, dores osteomusculares, ansiedade, insônia, pequenas
infecções e problemas gastrointestinais [14,20,22]. A deficiência no número de
funcionários corrobora estes fatores visto que sobrecarrega o enfermeiro
levando ao desgaste físico e emocional pelo acúmulo de tarefas [3,22,25].
As atividades de
administração de pessoal se sobressaíram como causadoras de estresse das outras
atividades quando utilizado a Escala de Bianchi de Stress [23,24]. Quando
comparado setor fechado com setor aberto, o setor aberto foi considerado mais
estressante e as atividades relacionadas à administração foram as mais
favoráveis para síndrome de burnout [23], e quando verificado na unidade de terapia
intensiva [24] este dado se repetiu o que infere que há uma grande
responsabilidade por parte do enfermeiro sobre a equipe quanto ao controle e
distribuição dos funcionários, supervisão de atividades, elaboração de escalas
mensais, o que caracteriza a administração de pessoal uma área estressante para
o enfermeiro [23,24,26]. Uma literatura aponta para a
necessidade de existir um enfermeiro que desempenhe atividades unicamente
administrativas para que assim tanto o enfermeiro administrativo como o
assistencial possam melhor realizar seus trabalhos diminuindo o estresse
laboral [26].
Desequilíbrio
esforço-recompensa também pode ser considerado outro fator importante visto que
o hiato entre muito esforço desprendido e mínima recompensa recebida, tanto de
ordem material (benefícios, cuidados com o bem-estar) quanto simbólica
(oportunidades, estima, reconhecimento) faz com que o enfermeiro perca a
satisfação e a motivação com o trabalho e isso se torne uma fonte de tensão e
de desmotivação [12,21,22].
A grande
responsabilidade nas atividades que deve realizar também é desencadeador de
estresse [14,21] principalmente quando aliado ao tempo de formação, pois para
alguns autores, o enfermeiro com pouco tempo de práxis tem mais expectativas
não concretizadas, dificuldades para vislumbrar melhores condições laborais,
insegurança e consequentemente maior vulnerabilidade à síndrome de burnout [12,14].
Interrupções e
incômodos das atividades, como paradas repetitivas, também são considerados
causa de desgaste e estresse, pois faz o profissional perder muito tempo,
desvia atenção e pode causar erros ou iatrogenias
principalmente se o enfermeiro ainda não possui domínio do processo de trabalho
[21].
Praticamente todos os
estudos apontaram a predominância do gênero feminino na categoria [3,12,14,20,22-24,26]. Historicamente a enfermagem vem sendo
constituída de maneira quase exclusiva por mulheres, pois profissões que
aparentemente apresentam menor status e demandem de cuidado são exercidas pelo
sexo feminino. As mulheres sofrem desvantagens como a responsabilidade de
assumir, além do trabalho, tarefas domésticas, o cuidado dos filhos, o que se
caracteriza em dupla jornada de trabalho, tornando-as mais vulneráveis ao burnout do que os
homens. Também, considera-se que estas estão mais propensas a se envolverem com
os problemas dos pacientes e por usarem a negação e a repressão como mecanismos
de defesa [12].
O intuito desta
revisão integrativa foi descrever o que a literatura traz sobre a atividade
laboral do enfermeiro e o desenvolvimento da SB. Em resposta a esse
questionamento constatou-se que o trabalho do enfermeiro no hospital é
estressante e favorece o desenvolvimento da SB. As atividades relacionadas à
administração de pessoal foram as mais estressantes, sendo a sobrecarga de
trabalho o principal fator desencadeador seguido por múltiplos vínculos
empregatícios.
Além dessa situação,
recai sobre o profissional recém-formado maior propensão a desenvolver burnout, pois
este está submetido a maior tensão no processo de trabalho, portanto se faz
merecedor de maior atenção por parte da instituição.
Finalizando e de
acordo com os achados devem-se estimular discussões e debates nas instituições
e nas reuniões gerais e de treinamento a respeito das condições de trabalho dos
enfermeiros, indagar a opinião destes sobre o que está desgastando a sua
relação laboral para que sejam elaboradas estratégias de prevenção e controle
da SB. A não observância de sinais e sintomas de esgotamento profissional
ocasiona sofrimento psíquico, adoecimento e maior número de absenteísmos o que
consequentemente traz prejuízos para o enfermeiro, para a instituição e para
quem ele cuida.