REVISÃO
Fatores
de risco cardiovasculares como preditor para o
desenvolvimento de infarto agudo do miocárdio
Alex Bezerra da Silva
Maciel*, Ellis Regina Dias da Silva*, Matheus Moraes de Matos*, Shubert Klinstenys Oliveira de
Castro*, Maria Raika Guimarães Lobo, M.Sc.**
*Pós-Graduação
em Enfermagem em Urgência e Emergência, Faculdade Delta Singular, **Enfermeira,
Mestre em Imunologia Básica e Aplicada, Universidade Federal do Amazonas, Manaus
Recebido em 26 de
junho de 2017; aceito em 10 de outubro de 2017.
Endereço
de correspondência:
Alex Bezerra da Silva Maciel, Rua Inaldo Luigi, 96,
Flores, 69028348 Manaus AM, E-mail: alexmaciellive@hotmail.com; Maria Raika Guimarães Lobo: raikaguimaraes@hotmail.com; Matheus
Moraes de Matos: moraes.mts77@gmail.com; Ellis Regina Dias da Silva:
ellisregina80@gmail.com; Shubert Klinstenys
Oliveira de Castro: shubert.oficial@hotmail.com
Resumo
As doenças
cardiovasculares, principalmente o infarto agudo do miocárdio, representam a
principal causa de mortalidade e incapacidade no Brasil e no mundo e o seu
crescimento acelerado em países em desenvolvimento representa uma das questões
de saúde pública mais relevante da atualidade. Este estudo tem por objetivo
identificar os diferentes fatores de risco cardiovasculares preditores
para desenvolvimento de Infarto Agudo do Miocárdio. Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura na qual foram consideradas as seguintes etapas de
seleção: identificação da questão da pesquisa, busca na literatura,
categorização e avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e síntese
do conhecimento. Foram encontradas 2.730 referências, 954 na base Lilacs e 1776 na base de dados Pubmed,
por meio do cruzamento dos descritores. Após exclusão a partir do título, foram
selecionados 47 artigos. A leitura do resumo foi realizada e excluídos os
duplicados, totalizando 8 artigos que, assim, entraram
nesta revisão integrativa. Este estudo proporcionou elucidar quais os fatores
de risco cardiovasculares que podem aumentar o risco de desenvolver Infarto
Agudo Miocárdio, entre os principais estão o tabagismo, hipertensão arterial e
dislipidemias.
Palavras-chave: infarto agudo do
miocárdio, fatores de risco, estudo de caso-controle.
Abstract
Cardiovascular risk factors as predictor for development of acute
myocardial infarction
Cardiovascular diseases, especially acute myocardial infarction,
represent the main cause of death and disability in Brazil and in the world.
Its accelerated growth in developing countries represents one of the most
relevant current public health issues. In this context, this study aims to
identify the different cardiovascular risk predictors for the development of
acute myocardial infarction. This is an integrative review of the literature,
including the following steps: identification of the research question,
database searches, categorization and assessment of the obtained studies, interpretation
of the results and knowledge synthesis. A total of 2,730 references were found
through descriptor intersection; 954 at the Lilacs database, and 1776 at the Pubmed database. After title exclusion, 47 articles were
selected. By evaluating the abstract and excluding duplicates, a total of 8
articles were considered adequate to compose this integrative review. This
study allowed for the elucidation of how cardiovascular risk factors can
increase the risk of developing acute myocardium infarction. Among the most
common factors are smoking, hypertension and dyslipidemias.
Key-words: myocardial
acute infarction, risk factors, case-control study.
Resumen
Factores de riesgo cardiovascular como predictor
para el desarrollo
de infarto agudo de miocardio
Las enfermedades
cardiovasculares, principalmente el
Infarto Agudo de Miocardio (IAM), representan
la principal causa de mortalidad
e incapacidad en Brasil y en el mundo. Su
crecimiento acelerado en
países en desarrollo
representa una de las cuestiones
de salud pública más relevante de la actualidad. Este estudio tiene como objetivo
identificar los diferentes factores
de riesgo cardiovasculares predictores
en el
desarrollo de Infarto Agudo de Miocardio.
Se trata de una revisión integrativa de literatura en la cual fueron consideradas las siguientes etapas de selección: identificación de la cuestión a ser investigada, búsqueda en la
literatura, categorización y validación
de los estudios, interpretación de los resultados
y síntesis del conocimiento. Fueron encontradas
2,730 referencias por medio del cruzamiento de los descriptores, 954 en la base Lilacs
y 1,776 en la base de datos Pubmed. Después
de la exclusión
a partir del título fueron seleccionados 47 artículos, estos
pasaron por análisis del resumen, excluyéndose
los duplicados, la muestra total obtenida fue de 8 artículos, los cuales entraron en esta revisión integrativa.
Este estudio permitió
elucidar cuales son los factores de riesgo cardiovasculares que pueden
aumentar el riesgo de desarrollar Infarto Agudo
de Miocardio, de entre los principales son el tabaquismo, hipertensión
arterial y dislipidemias.
Palabras-clave: infarto agudo de
miocárdio, factores de riesgo,
estudio de caso-control.
O Infarto Agudo do
Miocárdio é um problema de saúde global que é causado pelo descolamento de
placa de ateroma nos vasos sanguíneos, com subsequente sua colocação em ramos
das artérias coronárias promovendo trombose e posteriormente cessação da
circulação sanguínea e morte do tecido do coração [1].
Dados do Sistema
Único de Saúde revelam que o Infarto Agudo do Miocárdio foi a principal causa
de morte no país, tendo durante os anos de 1996 a 2011 um aumento de quase 50%
em relação a outros períodos [2,3]. No Brasil os eventos cardiovasculares são a
principal causa de morte em adultos e idosos e, em 2007, houve um aumento de
49,8% de mortalidade em doenças do aparelho cardiovascular [4]. Estudos
epidemiológicos revelam que as taxas de mortalidade geral estão ao redor de
30%, metade dos óbitos ocorrem nas primeiras duas horas do evento e 14% morrem
antes de receber atendimento médico [5].
As doenças
cardiovasculares, principalmente o infarto agudo do miocárdio (IAM),
representam a principal causa de mortalidade e incapacidade no Brasil e no mundo
e o seu crescimento acelerado em países em desenvolvimento representa uma das
questões de saúde públicas mais relevantes da atualidade [6]. O Brasil, a
despeito da condição de país em desenvolvimento, demonstra progressiva redução
das doenças infecciosas e degenerativas com acentuação das doenças
cardiovasculares associadas ao aumento da expectativa de vida aliado à ingestão
de dietas ricas em gorduras saturadas, tabagismo e estilo de vida sedentária [4,6,7]. Para reduzir a mortalidade dos acidentes cardiovasculares,
a identificação dos fatores de risco que acometem uma população é primordial
para diminuir os casos [7].
Os fatores de risco
no Brasil até bem pouco tempo permaneciam pouco e inapropriadamente avaliados e
com frequência a extrapolação de dados norte-americanos e europeus era feita
para população brasileira, desconsiderando a relevante influência que a
suscetibilidade genética e fatores comportamentais peculiares a cada população
pode ter sobre o processo aterosclerótico [8]. Descrever esses fatores de risco
é imprescindível na prática da enfermagem como prática preventiva e de triagem
em programas de saúde para avaliar a necessidade de intervenção em determinado
paciente; dessa forma os fatores de risco podem ser classificados como modificáveis
sendo dislipidemias, tabagismo, álcool e os modificáveis como sendo sexo, idade
e raça [4].
Trata-se de uma
revisão integrativa da literatura, na qual foram consideradas as seguintes
etapas de seleção: identificação da questão da pesquisa, busca na literatura,
categorização e avaliação dos estudos, interpretação dos resultados e síntese
do conhecimento.
Para o
desenvolvimento do estudo optou-se por duas bases de dados: Lilacs
e Pubmed, realizando o cruzamento de descritores
conforme figura abaixo. Os critérios de inclusão foram: artigos de ensaios
clínicos randomizados, estudos de coorte, casos-controle e observacionais que
abordassem a questão do estudo; pesquisas em seres humanos maiores de 18 anos;
artigos publicados em língua inglesa e portuguesa, entre os anos de 2009 e
2017; foram excluídas cartas, livros, teses e dissertações.
A pergunta norteadora
do presente estudo foi elaborada de acordo com a estratégia PICO, de Joanna Briggs em 2014, sendo “P” homens e mulheres, “I” não se
aplica, não havendo comparação “C”, e o desfecho “O”. Espera-se demonstrar por
meio dos estudos quais foram os principais fatores de risco para o
desenvolvimento de um Infarto Agudo do Miocárdio.
Realizaram-se buscas
no portal Lilacs utilizando os cruzamentos dos
descritores: fatores de risco, infarto
agudo do miocárdio e estudo de caso controle, e na base de dados Pubmed com os cruzamentos de descritores Myocardial acute infarction; Risk factors; Case-control study. Foram incluídos os trabalhos que abordavam a
temática do estudo e que demonstravam resultados compatíveis com a pergunta
norteadora, e excluídos os que não possuíam estes requisitos.
A
coleta de dados do
estudo foi realizada no período entre 10/05/2017 e 11/06/2017
por dois
pesquisadores de forma independente para diminuir viés de
seleção dos estudos
(índice de concordância 100%). Para extração
dos dados dos artigos incluídos
nesta revisão, foi utilizado um instrumento de coleta de dados
validado
previamente e organizado em cinco itens: Dados de
identificação do estudo
(título da publicação, título do
periódico, base de dados indexada, autores,
país, idioma, ano de publicação,
instituição sede do estudo e tipo de
publicação); Introdução e objetivo
(descrição e avaliação crítica);
Características metodológicas (análise do
delineamento do estudo, amostra,
técnica para coleta de dados e análise dos dados);
Resultados (descrição e
análise crítica dos resultados); Conclusões
(descrição e análise crítica dos
dados e nível de evidência em que o estudo se encontra).
Figura
1 - Seleção e busca de artigos nas bases de
dados segundos os descritores, Manaus/AM, 2017.
Foram encontradas
2.730 referências, sendo 954 na base Lilacs e 1776 na
base de dados Pubmed, por meio do cruzamento dos
descritores. Após exclusão a partir do título foram selecionados 47 artigos.
Estes passaram por leitura do resumo, excluindo-se 39 duplicados, a amostra
obteve um total de 8 artigos que assim entraram nesta
revisão integrativa, conforme quadro abaixo.
Quadro
1 - Distribuição dos estudos analisados com
resultados efetivos, segundo autor, amostra do estudo, objetivos, metodologia e
resultados, Manaus/AM, 2017. (ver anexo em PDF)
Em um estudo Japonês
em 2016 alguns pacientes submetidos à ICP primária, os pacientes com MBP < 79
mmHg tiveram a maior mortalidade intra-hospitalar
e, exceto para pacientes com MBP < 79 mmHg, a prevalência de óbito hospitalar
foi comparável entre os outros quatro MBP quintis:16,6 % (< 79 mmHg), 4,9%
(79-91 mmHg), 3,9% (92-103 mmHg), 3,2% (104-115 mmHg), e 5,0% (≥ 116
mmHg) [14]. Estudo italiano, realizado em 2016, tentou elucidar se um
determinado gene específico estaria associado a vir a desenvolver um IAM. Dessa
forma, observou-se que no grupo que possuía IAM 7,9% dos indivíduos possuíam o
gene comparado com o grupo controle com 3,1% com um significativo relevante p =
0.003.
Esse achado era
independente de fatores de risco como diabetes, hipertensão e obesidade, após
regressão logística OR = 2,54 e p = 0.002 [10]. Um estudo Taiwanês em 2016
analisou 329 casos no departamento de emergência comparando 164 pacientes
idosos e 165 adultos, sendo a morte preponderante nos idosos 8.5% (23) assim
como diabetes mellitus 26.2% (45.1), e hipertensão 51.5% (65.9) [16]. Em 2016
um estudo Tunisiano comparou idosos com uma população de pessoas jovens para
verificar fatores de risco e prognóstico intra-hospitalar
em comparação com os pacientes sobreviventes (n = 181), aqueles que morreram (n
= 30) tiveram mais frequentemente insuficiência cardíaca e insuficiência renal
na admissão (63,3% vs. 24,3%, p <0,001 e 36,7% vs. 11,6%, p < 0,001,
respectivamente) [8].
Uma pesquisa semelhante
se deu no Canadá em 2016 onde um grupo de pesquisadores encontrou um fator de
risco diferente que avaliou o grau de stress como fator determinante para o IAM
à atividade física no período do caso foi associada ao aumento das
probabilidades de IAM (odds ratio,
2,31; 99% de intervalo de confiança [IC], 1,96-2,72) com um risco atribuível à
população de 7,7% (IC de 99%, 6,3-8,8) [12]. Em pacientes que foram a óbito, a
fibrilação atrial de novo aparecimento e o bloqueio atrioventricular ocorreram
com maior frequência no curso hospitalar (26,7% contra 9,4%, p = 0,019 e 33,3%
vs. 13,3%, p = 0,006, respectivamente) [8].
O infarto do
miocárdio é o principal causador de insuficiência cardíaca que leva a
morbimortalidade, constituindo um dos mais custosos problemas de saúde pública,
sua prevalência tende a subir por conta do envelhecimento populacional. O
infarto do miocárdio é um processo que pode levar à necrose de parte do músculo
cardíaco por falta de aporte adequado de nutrientes e oxigênio, consequente à
obstrução do fluxo coronariano, transitória ou permanentemente, de magnitude e
duração suficiente para não ser compensado pelas reservas orgânicas.
Um dos maiores
problemas do IAM é o fato da maioria do pacientes possuírem fatores de risco
cardiovasculares, sociais e psicológicos que facilitam o acometimento dessa
patologia. Dessa forma este estudo proporcionou elucidar como fatores de risco
cardiovasculares podem aumentar o risco de desenvolver IAM, e mostrou que os
principais fatores que contribuem para esse evento são tabagismo, hipertensão
arterial, dislipidemia.
A abordagem do
paciente com suspeita de IAM em ambiente extra-hospitalar
deve, idealmente, ser feita por profissional de saúde, com realização de uma
história clínica direcionada, investigando as características dos sintomas
atuais momento do início, tempo de duração, qualidade, intensidade, relação com
o esforço e repouso e presença de doença coronária estabelecida. Algumas
características são reconhecidamente determinantes para a manifestação atípica
de um evento coronariano e devem ser lembradas quando um indivíduo for abordado
na fase pré-hospitalar, por mascararem o quadro de IAM.
Conhecer os fatores
de risco que se sobrepõe ao pré-evento cardiovascular
é de importância ímpar para conseguir desenvolver uma atitude de intervenção no
paciente de forma a reverter esse caso para impedir que venha a desenvolver o
desfecho final. O enfermeiro como profissional da saúde capaz de intervir
nesses aspectos do paciente tem papel importante nas consultas e triagem
realizadas em ambulatórios espalhados pelo país.