ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimento
de graduandos de enfermagem sobre tuberculose
Carla Cristina
Oliveira de Jesus Lima*, Isabella Alvarenga Cardoso**, Rosana Santos Mota, D.Sc.***, Gleide Santos de Araujo****, Ana Paula Oliveira de Jesus*****, Ridalva Dias Martins Felzemburgh******
*Enfermeira,
Mestranda em Enfermagem, Escola de Enfermagem (UFBA), **Enfermeira,
Especialista em Gestão, Universidade Jorge Amado – Unijorge,***Enfermeira,
Escola de Enfermagem (UFBA), ****Enfermeira, Doutoranda em Saúde Coletiva,
Instituto de Saúde Coletiva (UFBA), *****Graduanda em Fisioterapia, Faculdade
São Salvador (UFBA), ******Professora Adjunta Escola de Enfermagem (UFBA)
Recebido em 17 de
abril de 2017; aceito em 19 de novembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Carla Cristina Oliveira de Jesus Lima, Rua Dr. Augusto Viana, s/n Canela
40110-060 Salvador BA, E-mail: carlaenf78@gmail.com; Isabella Alvarenga
Cardoso: isabella.hp08@gmail.com; Rosana Santos Mota:
rosana17santos@yahoo.com.br; Gleide Santos de Araujo:
gleide23@yahoo.com.br; Ana Paula Oliveira de Jesus: anafisio14@hotmail.com; Ridalva Dias Martins Felzemburgh:
ridalva@gmail.com
Resumo
Introdução: A tuberculose é uma
infecção bacteriana causada por bacilo álcool-ácido resistente que no princípio
atinge os pulmões e, depois de englobado por macrófagos, é carregado para os
linfonodos hilares e mediastinais. Anualmente, são
registrados 4.543 casos de mortes por tuberculose no Brasil. Neste trabalho,
buscou-se descrever o conhecimento dos graduandos de enfermagem sobre a
tuberculose. Métodos: Estudo
descritivo, quantitativo, com 120 alunos de enfermagem, realizado em uma
instituição de ensino privado em Salvador/BA, no período de abril a junho de
2013. Resultados: A média de idade
foi 28,4 anos e 82,9% dos estudantes foram do sexo feminino. Dos entrevistados,
98,3% responderam que a tuberculose é uma doença infectocontagiosa, 95,8%
responderam que a transmissão é por via aérea. Em relação ao tratamento da
tuberculose, observou-se uma deficiência no conhecimento das drogas do esquema
básico e na aplicação do tratamento diretamente observado. Conclusão: Considerando sua condição de agentes multiplicadores de
informações, os resultados apontaram um conhecimento limitado dos graduandos de
enfermagem sobre a doença.
Palavras-chave: conhecimento,
educação em enfermagem, tuberculose.
Abstract
Knowledge of nursing students about tuberculosis
Introduction: Tuberculosis is a bacterial infection caused by alcohol-acid bacilli that at first reaches the lungs and, after being
enclosed by macrophages, are carried to the hilar and
mediastinal lymph nodes. Every year 4,543 cases of
tuberculosis deaths are registered in Brazil. In this work, the aim was to
describe the knowledge of nursing undergraduates about tuberculosis. Methods: Descriptive and quantitative
study with 120 nursing students, carried out in a private educational
institution in Salvador, Bahia, from April to June 2013. Results: The mean age was 28.4 years and 82.9% of the students were
female. Of the respondents, 98,3% answered that
tuberculosis is an infectious disease, 95,8% said that transmission is by air.
In relation to the treatment of tuberculosis, a deficiency in the knowledge of
the drugs of the basic scheme and in the application of directly observed
treatment was observed. Conclusion:
Considering their condition as information multipliers, the results indicated a
limited knowledge of nursing undergraduates about the disease.
Key-words: knowledge,
nursing education, tuberculosis.
Resumen
Conocimiento de estudiantes de enfermería
sobre tuberculosis
Introducción: La tuberculosis
es una infección bacteriana
causada por el bacilo alcohol-ácido
resistente, en el principio
alcanza los pulmones y, después de englobados
por macrófagos, se cargan a los
ganglios linfáticos y mediastínicos.
Se analizan anualmente 4.543 casos de muertes por tuberculosis en Brasil. En este trabajo, buscamos describir el conocimiento
de los graduandos de enfermería
sobre la tuberculosis. Métodos: Estudio
descriptivo, cuantitativo, con 120 alumnos de enfermería, realizado en una institución de enseñanza privada en Salvador, Bahia, en el período de abril a junio del 2013. Resultados: El promedio
de edad fue 28,4 años y el
82,9% de los estudiantes fueron del sexo femenino. De los encuestados 98,3% respondieron
que la tuberculosis
es una enfermedad infectocontagiosa, el 95,8% respondió que la transmisión es por vía aérea. En cuanto
al tratamiento de la tuberculosis, se observó una deficiencia en el conocimiento
de las drogas del esquema
básico y en la aplicación del tratamiento directamente
observado. Conclusión:
Considerando su condición
de agentes multiplicadores de informaciones, los resultados apuntaron un conocimiento limitado de los graduandos de enfermería
sobre la enfermedad.
Palabras-clave: conocimiento,
educación en enfermería, tuberculosis.
Tuberculose (TB) é
uma enfermidade infecciosa causada por bacilo álcool-ácido resistente que no
princípio atinge os pulmões e, depois de englobado por macrófagos, é carregado
para os linfonodos hilares e mediastinais. O agente
etiológico da TB é uma bactéria em forma de pequenos bastões. Seu nome
científico é Mycobacterium tuberculosis, comumente
conhecida como Bacilo de Koch, em homenagem ao seu descobridor [1].
Em 2016, o Brasil
diagnosticou e registrou 66.796 casos novos e 12.809 casos de retratamento de TB. Entre 2007 e 2016, a doença apresentou
uma variação média anual de -1,7% no coeficiente de incidência e coeficiente de
mortalidade de 2,2 óbitos/100 habitantes, sendo registrados 4.543 óbitos anuais
[2].
A TB é um problema de
saúde pública e, entre as ações para o controle dessa moléstia, há o projeto
“Driblando a Tuberculose”, uma iniciativa do Ministério da Saúde, em parceria
com as secretarias de saúde e da educação, com a finalidade de orientar os
alunos sobre a doença, de modo que esse conhecimento promova a divulgação em
suas respectivas comunidades. Para isso, alunos, professores e profissionais de
saúde necessitam de bom embasamento sobre a moléstia para aplicação correta das
informações na população [3].
A relação entre
educação e saúde tem papel importante na mudança dos indicadores e os alunos
universitários, especialmente do curso de enfermagem, devem ocupar uma posição
diferenciada no saber, pois os enfermeiros estão diretamente envolvidos no
processo de comunicação e têm o dever de educar e aconselhar seus pacientes
[4].
Existe uma carência
de literatura sobre o conhecimento de graduandos de enfermagem sobre
tuberculose, portanto, este estudo traz a seguinte questão norteadora: qual o
conhecimento dos estudantes do curso de enfermagem sobre a tuberculose? E como
objetivo: descrever o conhecimento dos graduandos de enfermagem sobre a
tuberculose.
Trata-se de pesquisa
descritiva, quantitativa, realizada em uma Instituição de Ensino Superior (IES)
privada, na cidade de Salvador/BA, no período de abril a junho de 2013.
A população foi
composta por 120 graduandos de enfermagem do 8º semestre e a amostragem foi do
tipo de conveniência. Os questionários foram aplicados após orientação sobre a
pesquisa e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), nos
encontros com os orientadores do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e durante
os encontros de capacitação para a prova do Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade) na IES.
Os critérios de
inclusão foram: estar regularmente matriculados no 8º semestre do curso e ter
cursado a disciplina Saúde Coletiva II, que visa a estudar doenças e situações
relacionadas à saúde da população.
Utilizou-se
questionário estruturado e autoaplicável, composto de 17 questões, obedecendo à
seguinte ordem: solicitação da idade e sexo dos participantes; perguntas sobre
o agente etiológico da TB; TB doença infecciosa; via de transmissão da TB;
fatores que potencializam a transmissão; necessidade de isolamento social para
TB; o agente etiológico da TB acomete apenas pulmão; período que ocorre a
febre; primeiro exame diagnóstico; realização de radiografia de tórax como
exame de controle em comunicantes; exame utilizado em casos de suspeita de TB
multirresistente; via de aplicação do PPD; fármacos que compõem a 1ª fase de
tratamento; atividade do Tratamento Diretamente Observado (TDO); TB doença de
notificação compulsória; droga quimioprofilática em
comunicantes.
Para análise dos
dados, utilizou-se a planilha eletrônica do Microsoft Excel® e o Pacote
estatístico Stata SE versão 12. Realizou-se a análise
descritiva com frequências absolutas e relativas e a média das variáveis.
Este projeto foi
apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Tecnologia e
Ciências (FTC), sob o parecer nº 5044, de 22 de abril de 2013.
O estudo possibilitou
descrever o conhecimento dos graduandos acerca da tuberculose. Os dados foram
organizados em tabelas, considerando as seguintes abordagens relacionadas à
doença: sintoma, transmissão, diagnóstico, tratamento e notificação.
A idade mediana dos
graduandos foi de 26 anos. Houve predomínio do sexo feminino (97 graduandos -
82,9%). Em relação ao agente etiológico, 89 (74,8%) graduandos responderam
corretamente, informando bactéria como agente etiológico, entretanto 26 (21,8%)
acreditam que vírus é o agente etiológico da TB.
Mais de 90% dos
graduandos de enfermagem têm conhecimento que tuberculose é uma doença
infecciosa e que a transmissão da doença ocorre por via aérea. Com relação ao
fator que potencializa a transmissão da tuberculose, 74 (64,3%) responderam
corretamente; 30 (26,1%) acreditam que o estado nutricional potencializa a transmissão
da TB.
Noventa e três
(78,1%) graduandos responderam que o portador da TB não necessita de isolamento
social e 87 (73,7%), que a TB não acomete apenas os pulmões (Tabela I).
Tabela
I – Sexo e idade dos graduandos de enfermagem e
o conhecimento sobre tuberculose. Salvador/BA, 2013.
*Número de casos
difere em cada variável, ausência de informações. Fonte: Instrumento de
pesquisa.
Referente ao período
que ocorre a febre, 67 (56,3%) graduandos assinalaram o período vespertino, 38 (31,9%)
assinalaram o noturno. Sobre o primeiro exame realizado para diagnóstico da TB,
47 (40,6%) marcaram baciloscopia.
Na pergunta referente
à indicação de radiografia de tórax para diagnóstico dos comunicantes, 61
(52,6%) graduandos responderam afirmativamente. Para exame em caso de suspeita
de tuberculose multirresistente, 53 (46,1%) graduandos acreditam que a baciloscopia é um exame capaz de detectar TB
multirresistente e 43 (37,4%) acreditam que a cultura é o exame indicado para
esse diagnóstico (Tabela II).
Tabela
II –
Conhecimento dos graduandos de enfermagem
sobre a febre e o diagnóstico da tuberculose. Salvador/BA, 2013.
*Número de casos
difere em cada variável; ausência de informações. Fonte: Instrumento de
pesquisa.
Com relação aos
fármacos que compõem a primeira fase de tratamento da TB, 59 (50%) graduandos
assinalaram pirazinamida, isoniazida,
rifampicina e etambutol.
Destaca-se que 37 (31,4%) graduandos não opinaram nessa questão.
Para o Tratamento
Diretamente Observado (TDO), 50 (42%) graduandos não opinaram e 42 (35,3%)
acreditam que essa atividade é realizada diariamente, do início até o final do
tratamento.
Cem (85,5%)
graduandos reconheceram a importância de notificação da doença e, em relação à
droga utilizada na quimioprofilaxia em comunicantes,
prevaleceu a rifampicina, citada por 53 (44,9%)
graduandos.
Tabela
III
– Conhecimento dos graduandos de
enfermagem sobre o tratamento e a notificação da tuberculose. Salvador/BA,
2013.
*Número de casos
difere em cada variável; ausência de informações. Fonte: Instrumento de
pesquisa.
O presente estudo
propôs descrever o conhecimento de graduandos de enfermagem sobre a TB. A
partir dos resultados, pode-se constatar a predominância do sexo feminino,
corroborando estudo realizado em quatro Instituições de Ensino Superior
brasileiras em que também houve maior prevalência de discentes de enfermagem do
sexo feminino [5]. Esse resultado pode ser justificado pelo fato das mulheres
buscarem mais cursos superiores nas áreas das ciências da saúde [6].
No tocante à idade,
observou-se a prevalência de estudantes adultos jovens. Esse resultado está em
consonância com demais estudos [7,8], realizados com diferentes temáticas, para
identificar o conhecimento de graduandos de enfermagem. A inclusão de jovens
nas universidades pode ser justificada pelo fato de serem inseridos ou
iniciarem sua preparação precoce para o mercado de trabalho, esse estímulo
ocorre logo após o término do ensino médio ou até mesmo antes da conclusão da
educação básica [9].
Para as variáveis
analisadas sobre a TB, o resultado mostrou que os graduandos têm conhecimento
parcial sobre a doença, pois responderam corretamente no que concerne ao agente
etiológico e se a doença é infectocontagiosa. Entretanto, uma revisão de
literatura realizada no Peru, destaca a importância do conhecimento integral do
profissional de enfermagem sobre a TB para detecção dos casos [10].
Em relação à via de
transmissão da doença, os resultados demonstraram conhecimento dos estudantes
nesta área, pois conforme publicado pelo Manual de Recomendações, a via aérea é
capaz de disseminar os bacilos para o ambiente através de gotículas expelidas
pela tosse, espirro, canto ou fala de um doente bacilífero
[11].
No que se refere ao
fator que potencializa a transmissão da TB e a necessidade de isolamento
social, não foram encontrados outros estudos com graduandos de enfermagem
abordando essa temática. Conforme o Manual para Controle da Tuberculose, a
proximidade com o portador de TB positivo serve como um potencializador
para transmissão da moléstia e uma vez infectado não há necessidade de
isolamento social para o paciente com tuberculose [12].
Quanto à forma
clínica, alguns graduandos de enfermagem indicaram que o agente etiológico da
TB infecta apenas pulmões. Um estudo realizado em São Paulo, envolvendo
estudantes do curso de graduação em enfermagem, mostra que apenas 40% dos
estudantes no 1º ano de graduação concordaram totalmente que a TB pode se
localizar em outras partes do organismo [13]. Este achado pode ser justificado pela
maior prevalência da TB pulmonar [11,14-15]. Porém, o desconhecimento de alguns
participantes da pesquisa sobre as formas clínicas da TB pode resultar no
reconhecimento tardio das formas extrapulmonares.
No que diz respeito
ao período que ocorre a febre, houve divisão das respostas entre o turno
vespertino e noturno. Esse dado pode estar relacionado com o fato de,
frequentemente, a febre ocorrer no período vespertino e ser comum sudorese
noturna [11]. Achados registrados na Etiópia, provenientes de investigação com
233 pacientes acometidos pela tuberculose, mostraram que mais de 26% dos casos
queixaram-se de febre e sudorese noturna [16].
Foi observado que a
maioria dos graduandos respondeu baciloscopia como
primeiro exame para diagnóstico da TB. Estudos nacional e internacional
mostraram o uso do exame de baciloscopia do escarro
como método para diagnosticar os episódios de TB [17,18]. De acordo com o
Manual para Controle da Tuberculose, esse método, além de simples e seguro, é a
técnica mais usada em laboratórios, pois tem a capacidade de detectar 60% a 80%
dos casos de tuberculose pulmonar [11].
As respostas dos
graduandos foram variadas quando perguntados sobre o exame utilizado para
diagnóstico da TB multirresistente. O estudo realizado no Laboratório Nacional
de Referência da Tuberculose, na cidade de Maputo, considerou o resultado de
culturas para definição dos eventos de TB multirresistente [19]. Na literatura
nacional também é indicado culturas para os casos suspeitos de tuberculose
multirresistente, devido à capacidade de testar e comparar o número de
colônias, crescendo em meio aos fármacos [20].
Ademais, observou-se
também um dado preocupante com o pouco domínio dos graduandos em relação ao
esquema no tratamento da tuberculose e à aplicação do TDO. O estudo realizado
em unidades de saúde brasileiras, com práticas das ações do Programa Nacional
de Controle da Tuberculose, descreve que a associação adequada dos
medicamentos, as doses corretas e o uso por tempo suficiente, com supervisão da
tomada dos medicamentos, levam a diminuição dos casos de tuberculose, quebra na
cadeia de transmissão, promovendo, assim, a cura [21]. Pesquisas internacionais
identificaram que a falta de conhecimento é um fator que influencia na adesão dos
pacientes e na cura da doença [22-23]. Apontar a relevância no desconhecimento
dos graduandos de enfermagem sobre o tratamento da moléstia é importante
porque, para interromper o contágio e obter sucesso terapêutico, é necessário o
conhecimento e o uso correto das drogas.
Como limitações do
estudo, destaca-se que, por ser uma investigação de corte transversal, não foi
possível acompanhar estes alunos a fim de analisar o conhecimento sobre a
doença em momentos distintos durante o processo de aprendizagem na graduação.
Além disso, o tamanho da amostra investigada pode impedir a generalização dos
achados da pesquisa.
Da apreciação dos
resultados obtidos, este estudo demonstrou que mesmo sendo estudantes de
enfermagem do 8º semestre, grupo diferenciado da população em geral, estes
possuem informações insuficientes sobre TB, sendo evidenciado pelo baixo número
de acertos com relação ao período que ocorre a febre, exame para diagnóstico da
TB multirresistente, via de aplicação para o PPD, fármacos que compõe o esquema
básico da primeira fase de tratamento e o período para realização da atividade
TDO.
O estudo oferece
subsídios para a sensibilização de graduandos e de universidades acerca da
importância do conhecimento sobre a doença, pois a educação é uma estratégia
importante para difundir as diretrizes para promoção e prevenção de doenças e
agravos transmissíveis, além de capacitá-los para o enfrentamento dos problemas
de saúde pública no Brasil.
Portanto, é
necessário que os cursos de graduação em saúde, especialmente os de enfermagem,
adotem estratégias metodológicas com a finalidade de aprofundar o conhecimento
dos futuros profissionais de saúde acerca dos problemas de saúde e/ou agravo
que acometem as comunidades.