ARTIGO
ORIGINAL
Conhecimento
de cuidadores formais de idosos para manter a pele do idoso livre de lesão por
pressão
Paula Soares
Carvalho*, Elizabeth Souza Silva de Aguiar, M.Sc.**, Karen Krystine
Gonçalves de Brito, M.Sc.***, Ester Missias Villaverde Antas****, Smalyanna Sgren da Costa Andrade,
M.Sc.*****, Mirian Alves da Silva, D.Sc.******, Maria Júlia Guimarães Oliveira Soares, D.Sc.*******
*Discente
de Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, **Enfermeira,
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem – PPGENF/UFPB, Membro do
Grupo de Estudo e Pesquisas no Tratamento de Feridas – GEPEFE/UFPB,
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, ***Enfermeira, Doutoranda do
Programa de Pós-Graduação de Enfermagem – PPGENF/UFPB, Membro do Grupo de
Estudo e Pesquisas no Tratamento de Feridas - GEPEFE/UFPB, Universidade Federal
da Paraíba, João Pessoa/PB, ****Enfermeira, Especialista em UTI e Nefrologia,
Membro do Grupo de Estudo e Pesquisas no Tratamento de Feridas, Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, *****Enfermeira, Doutoranda do Programa de
Pós-Graduação de Enfermagem – PPGENF/UFPB, Membro do Grupo de Estudo e
Pesquisas no Tratamento de Feridas, Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa/PB, ******Enfermeira, Docente do departamento de Enfermagem clínica da
Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB, *******Enfermeira, Docente
titular na Graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Enfermagem - PPGEnf/UFPB, Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em
Tratamento de Feridas da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa/PB
Recebido em 7 de julho de 2017; aceito em 13 de março de 2018.
Endereço
para correspondência:
Paula Soares Carvalho, Rua Ana Cristina Rolim Machado, 253301, Residencial
Funchal, Aeroclube, 10738389609 João Pessoa PB, E-mail: paaula-soares@live.com;
Elizabeth Souza Silva de Aguiar: elisouaguiar@hotmail.com; Karen Krystine Gonçalves de Brito: karen_enf@yahoo.com.br; Ester Missias Villaverde Antas:
ester_villaverde@yahoo.com.br; Smalyanna Sgren da Costa Andrade: smalyanna@hotmail.com; Mirian Alves
da Silva: miads.enf@gmail.com; Maria Júlia Guimarães Oliveira Soares: mmjulieg@gmail.com
Resumo
Objetivos: Avaliar o
conhecimento dos cuidadores formais de idosos institucionalizados sobre lesão
por pressão e formas de prevenção dessa lesão. Métodos: Estudo de abordagem quanti-qualitativa, realizado em duas
instituições de longa permanência para idosos de João Pessoa/PB. A amostra foi
de 14 cuidadores formais de idosos, entrevistados em junho e julho de 2016, por
meio de roteiro estruturado, com base em guideline
internacional. Para análise dos dados relacionados ao perfil demográfico e
profissional foi utilizada a estatística descritiva, e para a análise das
variáveis relacionadas ao conhecimento dos cuidadores três categorias foram
empregadas para avaliar as respostas como: correta/completa, parcialmente
correta e incorreta/incompleta. Resultados: A maioria dos entrevistados eram mulheres, com 24 a 54
anos de idade, solteiros (as), com ensino médio e metade dos entrevistados
realizaram o curso de cuidador de idosos. Concernente à averiguação do
conhecimento sobre as lesões por pressão, a maioria
das respostas foram parcialmente corretas ou incompletas. Conclusão: Verificou-se como urgente a viabilização de intervenções
educativas fundamentadas no cuidado à saúde do idoso, especificamente na
capacitação dos cuidadores para prevenção das lesões por pressão.
Palavras-chave: cuidadores, idoso,
instituição de longa permanência para idosos, prevenção e controle, úlcera por
pressão.
Abstract
Knowledge of formal caregivers of elderly to keep the skin of the
elderly free from pressure injury
Objectives: To evaluate the knowledge of formal caregivers of institutionalized
elderly people on pressure injuries and ways of preventing this injury. Methods: A quantitative-qualitative
study, carried out in two long-term institutions for the elderly in João Pessoa/PB/Brazil. The sample was of 14 formal
caregivers of the elderly, interviewed in June and July of 2016, through a
structured script, based on an international guideline. Descriptive statistics
were used to analyze the data related to the demographic and professional
profile, and for the analysis of the variables related to the caregivers'
knowledge, three categories were used to evaluate the answers as:
correct/complete, partially correct and incorrect/incomplete. Results: Most of the interviewees were
women, 24 to 54 years of age, single, with high school and half of the
interviewees attended the caregiver course for the elderly. Concerning the
investigation of knowledge about pressure injuries, most of the answers were
partially correct or incomplete. Conclusion:
It was verified as urgent the viability of educational interventions based on
the health care of the elderly, specifically on the training of caregivers to
prevent pressure injuries.
Key-words: caregivers,
aged, home for the aged, prevention and control, pressure ulcer.
Resumen
Conocimiento de cuidadores formales de adultos mayores para mantener la
piel del mayor libre de lesión por presión
Objetivos: Averiguar el conocimiento
de cuidadores de ancianos institucionalizados en Instituciones de Larga Permanencia (ILP) e investigar los
factores limitantes a la realización del cuidado a los ancianos, en
lo que conciernen a las lesiones por presión. Métodos: Se trata de un
estudio exploratorio con abordaje cuantitativo,
realizado en 2 ILPs, en João Pessoa/PB/ Brasil.
La muestra fue de 14
cuidadores, entrevistados en marzo
y julio de 2016, por medio
de un itinerario pre-estructurado, con base en informaciones y orientaciones establecidas por órganos de fomento nacionales e internacionales. Para el
análisis de los datos relativos al perfil sociodemográfico
y técnico-profesional se utilizó
estadística descriptiva, mientras
que la evaluación cualitativa consideró tres categorías: correcta / completa, parcialmente correcta
e incorrecta / incompleta. Resultados: La mayoría de los entrevistados eran mujeres, con 24 a 54 años de edad, solteros
(as), con enseñanza media y
algún curso técnico relacionado a
la salud. En cuanto a la averiguación del conocimiento sobre las lesiones por presión a la mayoría de las
respuestas fueron
parcialmente correctas o incompletas. Mientras que las limitaciones citadas remitieron
principalmente a las relaciones interpersonales
y sobrecarga de trabajo. Conclusión: La falta de conocimiento, junto con otras dificultades relatadas por los cuidadores, refleja de modo
negativo en la
asistencia prestada a esa población, acarreando consigo factores
perjudiciales para la propia salud de los ancianos.
Palabras-clave: cuidadores, ancianos, institución de larga permanencia para ancianos, prevención y control, lesión por presión.
Atualmente, o
envelhecimento populacional representa um dos desafios da saúde pública de
nosso país, de um lado devido à crescente demanda por serviços de saúde e por
outro se depara com recursos humanos e materiais insuficientes para a adequada
atenção à saúde de pessoas idosas [1]. Os problemas de saúde dos idosos
desafiam os modelos tradicionais de cuidado e segundo Veras [2], envelhecer,
independente da presença ou não de doenças crônicas, implica em alguma perda
funcional como diminuição de vigor, força, prontidão, velocidade de reação
sistêmica e eficiência metabólica.
No Brasil, os idosos
representam 13% da população total, sendo a maior parte concentrada na região
Sul (14,5%) e a menor na região Norte (8,8%). A faixa etária acima dos 60 anos
concentra 11,8% da população total existente na região nordeste e 12,9% do
estado da Paraíba [3]. A proporção do número de pessoas com 60 anos ou mais
deve continuar se multiplicando, estipulando-se que em 2050, alcance dois
bilhões de idosos, e a faixa acima de 80 anos ultrapassará a população de 400
milhões de pessoas [4].
Como consequência à
maior expectativa de vida, tem-se observado o aumento exponencial das doenças
crônicas não transmissíveis e, as sequelas e incapacidades oriundas dessas
doenças demandam maior rigor no processo de cuidar diário, exigindo dos idosos
e dos familiares maior atenção, tempo e dedicação. Quando se instalam
dificuldades para o autocuidado, ou havendo conflitos ou ausência dos
familiares, associados dentre outros fatores à falta de condições para
manutenção do cuidado, entram em cena as chamadas Instituições de Longa
Permanência para Idosos (ILPI) como suporte social para essa população
específica [5].
Nessas instituições,
além de idosos com doenças crônicas em curso, geralmente se encontram idosos
com capacidade funcional comprometida, especialmente idosos
com alguma limitação física (pessoas com deambulação prejudicada que passam a
maior parte ou o dia inteiro sentadas, e idosos acamados), verifica-se
também que a precária mobilização associada a outros fatores de risco, torna-os
vulneráveis ao desenvolvimento de lesões, como a lesão por pressão.
A lesão por pressão,
nova nomenclatura, antes chamada de úlcera por pressão, é um dano localizado na
pele e/ou tecido mole subjacente geralmente sobre proeminência óssea ou também
pode estar relacionado a equipamentos médicos ou outro tipo de dispositivo. A
lesão pode apresentar-se como pele intacta ou como úlcera aberta e pode ser
dolorosa. Ocorre como um resultado de intensa e/ou prolongada pressão ou de
pressão combinada com cisalhamento [6]. A tolerância do tecido mole à pressão e
cisalhamento poderá ser afetada pelo microclima, nutrição, perfusão, doenças
associadas e condição do tecido mole [7].
Estudos realizados
entre idosos institucionalizados apontam uma prevalência de lesão por pressão
que varia entre 18,8% e 26,6%. Esse panorama evidencia a importância da
prevenção dessas lesões pela equipe de saúde, em especial profissionais da
enfermagem e os cuidadores formais de idosos das ILPI’s,
especificamente nos idosos com dependência funcional total ou parcial [8-10].
A princípio, torna-se
importante explicar quem é o cuidador de idosos, uma pessoa membro ou não-membro familiar, com ou sem remuneração, alguém que
cuida do idoso dependente ou doente, auxiliando nas atividades de vida diária
como: alimentação, higiene pessoal, acompanhamento aos serviços de saúde ou
outros que se fizerem necessários, acompanhamento da medicação oral de rotina,
exceto realização de técnicas ou procedimentos identificados por profissões
legalmente estabelecidas, a exemplo da Enfermagem [11].
No entanto,
diferencia-se o tipo de cuidador de idosos conforme o sistema de cuidados:
cuidador formal e cuidador informal. Cuidadores formais são pessoas que atuam
de forma remunerada na assistência ao idoso, possuem vínculo empregatício,
estão preparados e treinados para assistir ao idoso e
familiares. E denomina-se cuidador informal a pessoa que atua de forma
voluntária na assistência ao idoso, sem remuneração ou formação profissional
específica, na maioria das vezes são membros diretos da família [12]. Nesse estudo,
utilizaremos a expressão cuidador formal de idosos, para um melhor
esclarecimento quanto ao tipo de cuidador em foco.
Portanto, o exercício
da função de cuidador de idoso de forma remunerada é atributo do cuidador
formal de idosos, e como função vinculada a trabalho. O Ministério do Trabalho
e Emprego reconhece a função de cuidador como ocupação profissional, tendo por
função primária conforme Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) [13]:
Cuidar de idosos, a partir de objetivos estabelecidos por instituições
especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde,
alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa
assistida.
Igualmente, a
Política Nacional de Saúde do Idoso [11] prevê algumas competências para os
cuidadores de pessoas dependentes, e ressalta que a função do cuidador é
acompanhar e auxiliar o idoso ajudando-o nas atividades de vida diária. No
entanto, não se deve confundir com o profissional da enfermagem, por isso
algumas técnicas e procedimentos não são autorizados de serem feitos pelo
cuidador.
Projetos de Lei
tramitam na Câmara dos Deputados e Senado Federal, e atualmente aguarda-se
aprovação do Projeto de Lei (PL) 284/2011 [14] na Câmara Federal, já aprovado
pelo Senado Federal, que apontam os requisitos para o exercício da profissão
com o estabelecimento de escolaridade mínima e formação em cursos para
cuidadores, discutem sobre as atribuições, e ampliam o âmbito de atuação,
estendendo a profissão de cuidador ao contexto institucional.
Portanto, nas ILPI os
cuidadores formais de idosos são agentes de cuidados de suma relevância, visto
que conhecem mais o idoso sob seus cuidados considerando seu maior contato
diário, além de que contribuem para o bem-estar e saúde destes, através do
auxílio nas atividades funcionais, sendo considerados por alguns autores como
integrantes da equipe de profissionais da saúde [15].
Assim, considerando
que a ocorrência da lesão por pressão eleva a morbimortalidade do usuário,
compromete a qualidade de vida da pessoa portadora da lesão e aumenta a
sobrecarga de cuidados do cuidador, alguns cuidados preventivos básicos e
específicos são necessários, bem como urgentes para a manutenção da integridade
da pele do idoso e minimização da ocorrência dessas feridas. Levando em
consideração essas premissas, questionou-se: Os cuidadores formais de idosos de
ILPIs sabem o que é uma úlcera por pressão e as
maneiras de preveni-la? Para responder ao questionamento supracitado,
objetiva-se: avaliar o conhecimento dos cuidadores formais de idosos, de ILPIs, sobre UP e formas de prevenção dessa lesão.
Trata-se de um estudo
transversal de abordagem quanti-qualitativa, realizado com cuidadores formais
de idosos em duas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), localizadas em João Pessoa, Paraíba.
As duas ILPIs somadas assistiam 103 idosos, em que 55 eram mulheres
e 48 homens. O quadro de recursos humanos dessas instituições era bastante
diversificado: uma enfermeira em cada ILPI, técnicos de enfermagem, médicos
(maioria voluntários), nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais,
psicólogas, auxiliar administrativo/secretária, gestores, auxiliares de
serviços gerais e cuidadores de idosos. Ressalta-se que em uma das instituições
aqueles que exerciam a função de cuidadores de idosos, também eram responsáveis
pela limpeza das dependências da ILPI.
Neste estudo a
população-alvo foram os cuidadores formais de idosos, que totalizavam dezesseis
cuidadores de idosos nas duas instituições pesquisadas. Os cuidadores foram
convidados para participar do estudo conforme os critérios de inclusão: atuar
na ILPI na função de cuidador formal de idosos no mínimo há seis meses e não
estar de férias e/ou licença médica durante a coleta de dados. A amostragem
adotada foi a não probabilística, do tipo por conveniência, obteve-se uma
amostra de quatorze cuidadores.
A coleta de dados foi
realizada durante os meses de junho e julho de 2016, através da técnica de
entrevista, para a qual foi elaborado pelas pesquisadoras um roteiro
estruturado dividido em três partes, contemplando as seguintes variáveis: I.
Perfil demográfico (sexo, idade, estado civil, escolaridade); II. Perfil
profissional (curso de cuidador de idoso, curso técnico de enfermagem, tempo de
atuação como cuidador de idosos, jornada de trabalho, número de idosos que
cuida, atividades desenvolvidas na ILPI) e III. Conhecimento sobre prevenção de
úlcera por pressão (entendimento sobre o que é úlcera por pressão, causas
dessas lesões, fatores de risco para essas lesões, principais áreas corporais
de ocorrência, formas/medidas de prevenção). Ressalta-se que o instrumento
elaborado foi enviado para a apreciação de três docentes-pesquisadoras, uma da
área da Enfermagem gerontológica e as demais eram
membros do Grupo de Estudo e Pesquisa no Tratamento de Feridas (GEPEFE) da
Universidade Federal da Paraíba, desta forma, após a avaliação algumas questões
foram suprimidas e esclarecidas.
Na III Parte do
instrumento que trata do conhecimento dos cuidadores de idosos sobre prevenção
de úlcera por pressão, as autoras consideraram imperativo avaliar inicialmente
o entendimento dos cuidadores sobre a lesão por pressão propriamente dita,
desde o conceito do que são essas lesões, suas causas e área/localização
anatômica, pois esses saberes concorrem para um melhor conhecimento da causa
dessas lesões. Assim, seguindo essa ordem cognitiva, aproximou-se das reflexões
dos cuidadores sobre os modos de prevenir ou evitar as lesões por pressão.
Para análise das
variáveis relacionadas aos perfis demográficos e profissionais utilizou-se a
estatística descritiva, apresentados através de números absolutos e
percentuais; de outro modo, os dados concernentes ao conhecimento dos cuidadores
de idosos sobre lesão por pressão e sua prevenção foram analisados sob enfoque
da abordagem quanti-qualitativa, para a qual foram consideradas três
categorias: correta/completa, parcialmente correta e incorreta/incompleta.
As definições para categorização das respostas, especificamente na formulação
das questões referentes à III Parte do instrumento, foram construídas baseadas
nas últimas diretrizes internacionais sobre prevenção de úlcera por pressão
[7]. Tais detalhamentos são expostos no quadro 1.
Este estudo seguiu os
procedimentos éticos e legais, sendo aprovado sob número
008950/2016 e CAAE 53192616.6.0000.5183 pelo Comitê de Ética e Pesquisa 5183-
Hospital Universitário Lauro Wanderley/UFPB. Todos os participantes concordaram
participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Esta pesquisa foi realizada com base nos aspectos éticos em pesquisa envolvendo
seres humanos, preconizados pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde
[16].
Quadro
1 – Categorização das respostas dos cuidadores
de idosos, conforme definições das últimas Diretrizes Internacionais sobre
Úlcera por Pressão. João Pessoa/PB, 2016.
Os cuidadores de
idosos entrevistados eram em sua maioria do sexo feminino (78,5%), predominando
pessoas solteiras (42%), com faixa etária de 24 a 54 anos. Quanto à formação
educacional e/ou profissional, 57% referiam ensino médio concluído, 50%
informaram ter realizado curso de cuidador de idosos, e 28,5% fizeram o curso
técnico de enfermagem.
No que se refere à ocupação desempenhada na ILPI, todos os pesquisados
eram cuidadores formais de idosos, o tempo médio de atuação nessa atividade era
de oito anos. Quanto à jornada de trabalho, os cuidadores referiram cumprir uma
carga horária de oito horas por dia, distribuída em seis dias por semana e
informaram ser responsáveis por cinco a treze idosos nas ILPIs.
As atividades citadas pelos cuidadores como competências desenvolvidas nas
instituições foram: banho nos idosos dependentes; asseio/higienização nos
idosos acamados e incontinentes; auxílio aos idosos em suas necessidades
diárias como vestir-se, alimentar-se, deambular e ir ao banheiro; passeio com
os idosos; limpeza diária dos quartos e sanitários; troca de lençóis de cama; limpeza
da instituição e servir refeições.
Quanto ao
conhecimento dos cuidadores sobre a lesão por pressão e suas medidas de
prevenção, conforme elucidado anteriormente na metodologia, as
autoras do presente estudo acreditam que é de suma importância avaliar o
entendimento sobre o que se trata uma lesão por pressão, pois compreender “o
porquê” pactua com “o que fazer” como medida(s) preventiva(s) ou pelo menos
colabora para o cuidador evitar algumas ações prejudiciais ou omissões que
contribuam para o desenvolvimento da lesão. A seguir serão destacadas algumas
falas dos entrevistados segundo os questionamentos realizados, as quais foram
classificadas como respostas: Correta/completa, Parcialmente correta e Incorreta/incompleta.
O Quadro 2 apresenta algumas respostas sobre o que seria essa lesão,
verificou-se que as respostas foram breves e sinalizaram tratar-se de
ferimento/ ferida.
Quadro
2 - Respostas dos cuidadores formais
relacionadas ao conceito de úlcera por pressão. João Pesso/PB,
2016.
Fonte: Pesquisa
Própria. João Pessoa, 2016; * Durante a entrevista, para facilitar a
comunicação sobre o termo “úlcera por pressão”, a pergunta foi elaborada da
seguinte forma: “Você sabe o que é úlcera por pressão ou escara como eram
chamadas no passado?“.
Concernente aos
fatores de risco para o desenvolvimento da lesão por pressão, a maioria dos
cuidadores responderam de forma parcialmente correta, posto que apenas dois
fatores foram mais citados: a imobilidade e
higienização. Outros fatores de risco foram mencionados de maneira isolada
(Quadro 3). Ressalta-se que nenhum cuidador referiu
desconhecer qualquer fator de risco, ou mesmo não respondeu aos
questionamentos, de forma, que nenhuma resposta foi considerada incorreta.
Quadro
3 - Respostas dos cuidadores formais
relacionadas ao questionamento: “O que leva o idoso a desenvolver a úlcera por
pressão?”. João Pessoa/PB, 2016.
Fonte: Pesquisa
Própria. João Pessoa, 2016.
Referente às
áreas/locais no corpo de ocorrência da lesão por pressão, poucas áreas foram
citadas pelos pesquisados e, portanto, a maior parte das respostas foram
consideradas parcialmente corretas, Quadro 4.
Quadro
4 - Respostas dos cuidadores formais
relacionadas ao questionamento: “Quais os locais de ocorrência de úlcera por
pressão nos idosos?”. João Pessoa/PB, 2016.
Fonte: Pesquisa
Própria. João Pessoa, 2016.
Quanto às formas de
prevenção das lesões, os cuidadores apontaram média de duas a três ações como
medidas preventivas, assim sendo, todas as respostas (100%) foram classificadas
em parcialmente corretas/incompletas (Quadro 5).
Quadro
5 - Respostas dos cuidadores formais
relacionadas ao questionamento: “Você conhece alguma forma para evitar
(prevenir) essas feridas?” João Pessoa/PB, 2016.
Fonte: Pesquisa
Própria. João Pessoa, 2016.
Neste estudo, a
maioria dos cuidadores formais de idosos era mulheres, dentro da faixa etária
de idade ativa, ensino médio completo, semelhantes aos perfis encontrados em
outras pesquisas com cuidadores formais de idosos [17,18]. Verificou-se que a
forte presença feminina entre os cuidadores segue a tradição histórica e
cultural da mulher como cuidadora nata.
Identificou-se que
metade dos pesquisados realizaram curso específico para cuidador de idosos,
assim, a realidade encontrada compactua com o perfil de cuidadores formais de
outros estudos [18,19]. Esse achado ainda se repete em nosso meio, devido a não
exigência de curso de formação de cuidadores de idosos no ato da contratação do
trabalhador, visto que a legislação brasileira ainda não aprovou a alteração da
função de cuidador de ocupação para profissão regulamentada. Quanto aos
dispositivos legais que respaldem os cuidadores de idosos enquanto profissão, tramitam-se projetos de lei discutindo: requisitos,
atribuições e questões trabalhistas.
Ainda sobre a
formação profissional dos cuidadores, o PL 4702/2012 [20], proposto pelo Senado
Federal, acrescenta aos PL 2178/2011 [21] e PL 284/2011 [14], e descreve de
forma mais completa as proposições quanto à qualificação do profissional
cuidador. Estabelece que está habilitado para o
exercício desta profissão aquele que tiver concluído o curso de formação de
cuidador de pessoa idosa. São dispensadas da exigência de conclusão de curso de
formação as pessoas que estejam atuando na função há no mínimo dois anos,
quando a Lei entrar em vigor. Contudo, prevê que nos cinco anos seguintes o
cuidador deverá realizar a referida formação ou concluir o programa de
certificação de saberes reconhecido pelo Ministério da Educação.
Mas, considerando a
atual prescrição legal derivada da CBO [13], dentre as atividades passíveis de
serem desenvolvidas pelos cuidadores, estão: promover o bem-estar do idoso,
cuidar de sua saúde, alimentação, higiene pessoal e de seu ambiente domiciliar
e institucional. Como também: estimulá-lo e auxiliá-lo no desempenho de
atividades de vida diária; acompanhá-lo em atividades externas; incentivá-lo à
participação nas atividades de cultura e educação.
Retornando aos
achados da atual pesquisa, com relação ao conhecimento dos cuidadores de idosos
sobre a úlcera por pressão/ lesão por pressão (conceito, áreas de ocorrência e
fatores de risco para a lesão) e medidas preventivas para a ocorrência da ferida,
verificou-se que grande parte das respostas foi classificada como parcialmente
corretas, demostrando fragilidades no conhecimento. Desta forma, enfatiza-se a
inter-relação existente entre conhecer o que é a lesão, como ela pode surgir e
em que locais, de modo que esse entendimento favoreça o emprego de ações
preventivas adequadas. Autores apontam que o déficit de conhecimento de
cuidadores relacionada às suas ações, dificulta a compreensão do que acontece
com o próprio idoso [22].
Destaca-se que a
manutenção de cuidados de higiene e mobilização do idoso são ações que podem
ser efetivadas pelo cuidador e, portanto, realizar ações seguras e eficazes que
ajudem na manutenção da integridade da pele do idoso concorre para prevenir
lesões. No Guia Prático do Cuidador [23] elaborado pelo Ministério da Saúde,
dois capítulos mencionam a lesão por pressão (na época denominou-se de úlcera
de pressão/ escara): o Capítulo 10 - Cuidados no domicílio para pessoas
acamadas ou com limitações físicas e, de modo específico para a prevenção - o
Capítulo 23 - Úlcera de Pressão/ Escaras/ Feridas.
Vale ressaltar que se
observa um déficit de saberes sobre essas lesões, não somente por parte dos
cuidadores, mas também de profissionais da enfermagem, conforme identificados
em outros estudos [24,25]. Por outro lado, torna-se importante ressaltar que o
aparecimento desse tipo de lesão é visto como indicador negativo da qualidade
assistencial, conforme declarado na Política Nacional de Segurança do Paciente
[26].
O desenvolvimento de
UP em idosos é algo evitável, e para minimizar a ocorrência dessas lesões,
torna-se necessário conhecer os fatores de risco; por conseguinte, conhecendo
quais são esses fatores, os profissionais responsáveis pelo cuidado devem
colocar em prática medidas preventivas em prol do bem-estar dessa clientela
[25].
Diante do exposto,
suscita à reflexão que o conhecimento desse ser cuidador é fundamental para a
manutenção da integridade da pele dos idosos sob seus cuidados, de modo
contrário, a qualidade do cuidado relacionado à prevenção de UP pode estar
prejudicado, se o conhecimento e a habilidade deles não estiverem adequadamente
conduzidos. Logo, o conhecimento técnico-científico tem como base identificar
qualquer ocorrência na questão da integridade da pele, através de um olhar
individualizado ao idoso [9].
Um estudo com
cuidadores identificou necessidade de mais conhecimentos para cuidar dos
idosos, e em concordância com as autoras, quando afirmaram que a dificuldade
existente sobre conhecimentos específicos poderia ser solucionada ou minimizada
através de capacitações voltadas aos cuidadores, de modo a se alcançar cuidados
conscientes, efetivos e integrais no cotidiano da assistência aos idosos [27].
No presente estudo,
pode-se perceber que há um déficit de conhecimento relacionado à lesão por
pressão entre os cuidadores formais de idosos que atuam nas ILPI pesquisadas.
Embora tenha sido realizado em apenas duas ILPIs, os
resultados ora apresentados não possuem critérios de generalizações, podendo
esta ser uma limitação do presente estudo, contudo o
fato de corroborar alguns estudos realizados aponta que a situação local é
condizente com outras realidades de nosso país.
Ainda que novos
estudos sejam necessários para sanar as possíveis lacunas aqui evidenciadas,
verificou-se como urgente a viabilização de intervenções educativas
fundamentadas no cuidado à saúde do idoso, especificamente na capacitação dos
cuidadores para prevenção das lesões por pressão.