ARTIGO
ORIGINAL
Pré-natal:
conhecimento das gestantes sobre a importância do teste anti-HIV no município
de Itacoatiara/AM
Geise Kelly Valente de Brito*, Elainne Chris Ferreira Silva*, Marcos Vinicius Costa Fernandes**, Ellen Priscilla Nunes Gadelha, M.Sc.***
*Enfermeira, Especialista em Urgência e Emergência, Instituto de Ensino e Treinamento Singular, **Enfermeiro, Mestrando, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade do Estado do Pará (UEPA) em associação com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), ***Enfermeira, Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Mestra em Doenças Infecciosas e Parasitárias (UEA)
Recebido em 21 de
março de 2017; aceito em 28 de junho de 2017.
Endereço para correspondência: Marcos Vinicius Costa Fernandes, Universidade Federal do Amazonas, Rua Teresina, 495 Adrianópolis 69057-070 Manaus AM, E-mail: mvcf_2012@hotmail.com, Geise Kelly Valente de Brito: kellyvalente12@hotmail.com, Elainne Chris Ferreira Silva: kellyvalente12@hotmail.com, Ellen Priscilla Nunes Gadelha: ellenpriscilla@ig.com.br
Resumo
Introdução: A epidemia da
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida com o destaque para o crescimento do
número de casos entre mulheres fortaleceu a preocupação para a transmissão
materno fetal no Brasil. A gestação é um período fundamental para a detecção do
Vírus da Imunodeficiência Humana. Objetivo:
Avaliar o conhecimento das gestantes sobre a importância do teste rápido no
período pré-natal. Método: Estudo exploratório e descritivo, desenvolvido em
uma Unidade Básica de Saúde no município de Itacoatiara/AM. Resultados: Todas as gestantes
entrevistadas tinham conhecimento sobre a doença e reconheciam a importância do
teste rápido durante a realização do pré-natal. Conclusão: Considerou-se que o conhecimento a respeito da
importância do exame realizado no pré-natal pelas gestantes e o aconselhamento
do profissional foi fundamental para promoção da qualidade da assistência.
Palavras-chave: saúde da mulher,
transmissão vertical de doença infecciosa, pandemias.
Abstract
Prenatal: knowledge of pregnant women on the importance of anti-HIV
testing at Itacoatiara-Amazonas
Introduction: The Epidemic Acquired Immunodeficiency Syndrome with emphasis on the
increase in the number of cases among women has strengthened the concern for
maternal fetal transmission in Brazil. Gestation was chosen as a fundamental
period for the detection of the Human Immunodeficiency Virus. Objective: To evaluate the knowledge of
pregnant women about the importance of the rapid test in the prenatal period. Methods: An exploratory and descriptive
study, developed in a Basic Health Unit in the municipality of Itacoatiara, Amazonas. Results:
All the pregnant women interviewed had knowledge about the disease and
recognized the importance of the rapid test during prenatal care. Conclusion: It was considered that the
pregnant women researched have knowledge about the importance of the prenatal
examination and the counseling of the professional was fundamental to promote
the quality of care.
Key-words: women's
health, vertical transmission, pandemic.
Resumen
Prenatal: conocimiento de la
mujer embarazada sobre la importancia del test VIH en el municipio de Itacoatiara-Amazonas
Introducción: La epidemia del síndrome de inmunodeficiencia adquirida, con énfasis en
el creciente número de casos entre las mujeres ha reforzado la preocupación por
la transmisión materno fetal en Brasil. Eligiendo el embarazo como un período
fundamental para la detección del virus de inmunodeficiencia humana. Objetivo: Evaluar el
conocimiento de las mujeres embarazadas sobre la importancia de la prueba
rápida en el período prenatal. Método: Un estudio exploratorio y descriptivo,
desarrollado en una Unidad Básica de Salud en Itacoatiara, Amazonas. Resultados: Todas las mujeres
embarazadas entrevistadas eran conscientes de la
enfermedad y reconocen la importancia de la prueba rápida durante el curso de
la atención prenatal. Conclusión: Se
consideró que las mujeres embarazadas encuestadas tienen conocimientos sobre la importancia de la exploración en el prenatal y el
asesoramiento profesional fue fundamental para la calidad de la promoción de la
atención.
Palabras-clave: salud de la mujer, transmisión vertical de enfermedad infecciosa,
pandemias.
A Síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS) é avaliada como uma pandemia - doença de
distribuição global e segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/AIDS existe no mundo cerca de 23 milhões de pessoas infectadas pelo Vírus
da Imunodeficiência Humana (HIV) e, aproximadamente, 40% acometem as mulheres
[1]. É definida como síndrome porque as suas manifestações clínicas se
caracterizam pelo aparecimento de várias doenças sucessivas ou simultâneas
devido ao enfraquecimento das defesas imunitárias do organismo infectado pelo
HIV [2].
A epidemia da AIDS se
destaca como a enfermidade infecciosa emergente pela grande magnitude e
extensão dos danos que ela causa no ser humano desde quando foi identificada na
década de 80 [3]. Nos últimos anos esta epidemia vem mudando seu padrão de
disseminação, com destaque a transmissão sexual em pessoas heterossexuais,
levando a mulher ao centro desse crescimento na presente década [4].
Estudos
epidemiológicos apontam para indicadores que delimitam o atual perfil da
epidemia de AIDS, dentre eles destaca-se a feminilização. Esse processo envolve
principalmente mulheres na faixa etária de 25 a 39 anos, denotando a associação
com a via de contágio heterossexual e a relação com a idade reprodutiva da
mulher [5]. São consideradas altas as taxas de infecção pelo HIV em mulheres
grávidas, como as encontradas na África Sub-Saara e em alguns estados do Caribe
e que podem em muitas regiões ter um grande impacto sobre a sociedade, como,
por exemplo, em alguns centros urbanos de Botswana (África Meridional), 43% das
gestantes estão infectadas pelo HIV [6].
Desde o início da
epidemia de AIDS no Brasil até junho de 2014, foram registrados no país 757.042
casos, sendo 593.217 (78,4%) notificados no Sistema de Informação de Agravos de
Notificação (SINAN), 42.006 (5,5%). Foram registrados no Brasil em junho de
2014, 491.747 (65,0%) casos de AIDS em homens e 265.251(35,0%) em mulheres [7].
Atualmente, as mulheres compõem a população na qual a infecção pelo HIV mais
cresce. A maioria delas é jovem e tem parceiro fixo e único. Segundo dados do
Núcleo de estudos para a prevenção da AIDS da Universidade de São Paulo (USP),
71% das mulheres infectadas pelo HIV contraíram o vírus dos seus maridos,
noivos ou namorados com quem se relacionaram por mais de um ano [8].
A epidemiologia da
AIDS no Brasil caracteriza-se pela heterossexualização, feminilização, faixa
etária jovem, baixo nível de escolaridade [9] com o destaque para o crescimento
do número de casos entre mulheres que fortaleceu a preocupação pela transmissão
materna fetal, elegendo a gestação como um período fundamental para a detecção
do HIV [10]. A transmissão vertical é a infecção pelo vírus HIV passada da mãe
para o filho, durante o período da gestação (intrauterino), no parto (trabalho
de parto ou no parto propriamente dito) ou pelo aleitamento materno [11].
Contudo, para que
fosse alcançada a meta de prevenção e tratamento entre as gestantes, a partir
do ano de 1985 o Ministério da Saúde passou a recomendar na assistência ao
pré-natal o rastreamento sorológico para HIV, com a utilização dos testes
rápidos solicitados pelos profissionais de saúde na primeira consulta. O teste
quando apresenta resultado positivo possibilita a redução de transmissão
vertical e justifica a contraindicação da amamentação do bebê [3].
A oferta do teste
anti-HIV no pré-natal é de fundamental importância, pois a vulnerabilidade das
mulheres à AIDS vem sendo trazida por uma cultura de submissão sexual, das
mulheres aos homens e pela falta de conhecimento e vulnerabilidade, e assim
esses fatores interferem no controle da epidemia [12]. Considerando que a
adequada assistência no pré-natal possibilita o diagnóstico precoce e um
tratamento adequado para prevenir a contaminação no recém-nascido e reduzir a
taxa de transmissão vertical [13].
Até junho de 2014,
foram notificados no SINAN 70.677 casos de infecção pelo Vírus da
Imunodeficiência Humana (HIV) entre adultos e 773 em crianças [7]. Segundo a
estimativa de prevalência de HIV em parturientes, o número esperado de
gestantes com HIV no Brasil é de aproximadamente 12 mil casos por ano. Em 2013,
59,9% dos casos esperados foram notificados no SINAN. A região Nordeste
apresentou o maior percentual de casos notificados em relação ao número
esperado, 70,6%; o Sul, 65,7%; o Norte, 59,6%; o Sudeste 53,0%; e o Centro-
Oeste, 48,6% [7].
A taxa de detecção de
gestantes com HIV no Brasil vem apresentando tendência de aumento
estatisticamente significativa nos últimos dez anos. Em 2004, a taxa observada
foi de 2,0 casos para cada mil nascidos vivos, a qual passou para 2,5 em 2013,
indicando um aumento de 25,0%. A tendência de crescimento também é observada
entre as regiões do país, exceto na região Sudeste, que apresenta tendência de
queda: a taxa passou de 2,5 casos para cada mil nascidos vivos em 2004 para 2,1
em 2013, expressando uma queda de 16,0%. O aumento foi maior na região Norte
(187,5%), que apresentava uma taxa de 0,8 em 2004, passando para 2,3 em 2013
[7].
O estado do Amazonas
é peculiar porque existem locais onde o acesso a saúde
é precário, e a localização geográfica é um fator que contribui para isto e
também além das dificuldades enfrentadas pelos profissionais de saúde no
desenvolvimento de suas ações assistenciais. Em decorrência do crescimento
demográfico de Itacoatiara, que atualmente ostenta a posição da terceira cidade
mais populosa do Amazonas e uma das maiores em população da região Norte,
o município foi incluído à Região Metropolitana de Manaus em 2008. Em
2012, tinha 89.064 habitantes, em 2014 o número de habitantes pulou para
95.714. O município conta com 15 UBS [14].
Entre as Unidades da
Federação, sete apresentam taxa de detecção de HIV em gestantes superior à
média nacional em 2013: Rio Grande do Sul (9,3 casos para cada mil nascidos
vivos), Santa Catarina (5,5), Amazonas (4,1), Rio de Janeiro (3,0), Mato Grosso
(2,9), Paraná (2,6) e Roraima (2,6). Desses estados, o Rio Grande do Sul,
Amazonas, Mato Grosso e Roraima apresentam tendência significativa de aumento nas
taxas de detecção nos últimos dez anos [7].
Portanto, a falta de
informação em relação à doença da AIDS nas mulheres gestantes contribui para os
elevados números de casos da doença, consequentemente aumentando a incidência
da transmissão vertical. Essa propagação implica em desafios gigantescos e uma
delas é a dificuldade do acesso aos serviços de saúde. O objetivo do estudo
deste trabalho foi avaliar o conhecimento das gestantes do município de
Itacoatiara/AM sobre a importância do teste anti-HIV no período pré-natal.
Trata-se de um estudo
de caráter exploratório e descritivo, realizado em uma Unidade Básica de Saúde
(UBS), no município de Itacoatiara, localizado ao leste de Manaus (Amazonas), a
180km da capital. Este município apresenta uma
população de 89.064 habitantes, sendo o terceiro mais populoso do Estado. As
unidades selecionadas para o estudo foram de baixa complexidade, onde nestas
ocorrem somente atividades de clínicas básicas com profissionais de nível técnico
e nível superior, enfermeiros, médicos e odontólogos. O cenário do estudo foi a
UBS: Manoel Mendes da Silva (MMS), localizada no bairro Educandos, zona leste.
A UBS selecionada para o este estudo foi de interesse de ordem prática.
O estudo foi
realizado com gestantes que aceitaram participar do projeto e que estavam
comparecendo a assistência ao pré-natal na UBS Manuel Mendes, além de terem
assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
A coleta de dados foi
realizada nos turnos da manhã e tarde na sala de espera para consulta. A
operacionalização constou em duas etapas metodológicas visando atingir o
objetivo, sendo a primeira delas um questionário aplicado nas gestantes
cadastradas nas UBS para assistência ao pré-natal e as que deram início, e na
segunda etapa do trabalho foram aplicadas palestras educativas relacionadas à
importância do teste anti-HIV, gravidez e Infecções Sexualmente Transmissíveis
(IST).
O instrumento de
coleta se deu por meio de entrevista estruturada com 22 questões sobre dados
socioeconômicos, número de consultas pré-natal, informação acerca do HIV e do
teste anti-HIV, adesão ao teste anti-HIV. Quanto à coleta, cada participante
teve sua identidade preservada. O método da entrevista visou valorizar a fala
dos sujeitos, visto que este tipo de instrumento apresenta uma maior
flexibilidade, permitindo maior liberdade ao pesquisador e ao sujeito,
principalmente, por permitir a livre expressão das ideias.
Este projeto foi
aprovado em 02 de setembro de 2015 pelo comitê de ética em pesquisa humana do
Centro Universitário Luterano de Manaus - CEULM/ ULBRA com o número do parecer
1.212.992 e segue a resolução de 466 de 2012.
Caracterização
das gestantes
O estudo mostra que
das 46 gestantes entrevistadas, 22 correspondiam à faixa etária de 16 a 25
anos, seguida pela faixa etária de 26 a 35 anos apresentando 16 gestantes e 08
na faixa acima de 36 anos de idade. Em conformidade com os dados, a faixa
etária das mulheres se assemelha com outros estudos sobre aconselhamento do
pré-teste anti-HIV no pré-natal, no qual a maioria dos sujeitos estava na faixa
etária de 14 a 31 anos, e se aproximam dos dados de outro estudo no qual a
maioria das gestantes tinham idade entre 20 e 25 anos [15,16]. De modo geral,
as maiores proporções de gestantes infectadas pelo HIV, de acordo com dados do
Ministério da Saúde, estão concentradas na faixa etária de 20 a 29 anos.
Esses resultados
apontam que a atividade sexual feminina está se iniciando cada vez mais cedo, e
muitas vezes não possui o conhecimento adequado em relação ao uso dos
preservativos, fato que coloca essas mulheres numa condição de vulnerabilidade
à contaminação pelo HIV [17]. O aumento da ocorrência de casos no sexo feminino
em idade reprodutiva vem, em consequência, aumentando ano a ano a frequência de
transmissão materno-infantil do HIV [16].
Em relação ao estado
civil, observou-se que houve predominância nas que se encontraram
em união estável ao todo 16 grávidas, seguida de 15 casadas, 14 solteiras e 01
divorciada. Quanto ao grau de escolaridade, apenas 05 participantes da pesquisa
possuíam ensino superior. O pouco tempo de estudo contribui para confirmar a
epidemia da AIDS em mulheres [18]. Dados epidemiológicos têm mostrado que, no
Brasil, a maioria dos casos de AIDS em mulheres ocorre naquelas com baixa
escolaridade e com ocupação menos qualificada. A distribuição da escolaridade,
mesmo que indiretamente, mostrou-se um indicador da pauperização das pessoas
acometidas pelo HIV, sendo mais evidente entre as mulheres [19].
Outra pesquisa
indicou que jovens de baixo nível socioeconômico são mais suscetíveis às
infecções sexualmente transmissíveis [20]. A pouca instrução se constitui um
grande obstáculo à proteção das mulheres contra o HIV porque ela pode
contribuir com a desinformação para o autocuidado. E, devido ao caso da
prevenção da AIDS, o maior desafio para educação em saúde no concernente a
contaminação por esse vírus é a ideia de risco que cada pessoa tem acerca de si
próprio [19].
Em relação à renda
familiar, predominou a renda de um salário mínimo, representadas por 32
gestantes e apenas 02 apresentam uma renda acima de 02 salários mínimos e 10
não apresentavam renda. Um estudo de análise do perfil de gestantes em um
ambulatório de pré-natal do IFF/Fiocruz constatou que o perfil econômico da
clientela era de baixa renda, com cerca de dois terços das famílias (63%)
vivendo com no máximo três salários mínimos. No grupo estudado, 7,6% das
gestantes declararam renda familiar inferior a um
salário mínimo, percentual equivalente aos 8% da população brasileira, que
vivem em situação de extrema pobreza e que são alvo da política governamental
de erradicação da miséria. A baixa renda familiar tem associação com uma maior
ocorrência de malformações fetais. Condições socioeconômicas maternas
desfavoráveis como a baixa renda, baixa escolaridade e carência nutricional têm
sido associadas à maior prevalência de bebês com defeitos congênitos [21].
A
maior parte da
amostra estudada estava com idade gestacional entre 28 e 41 semanas. O
início
do pré-natal é importantíssimo, pois é
nessa fase que se descobre o diagnóstico
da infecção pelo vírus. Em relação
à gestação, evidenciou-se que quase 80% das
gestantes têm seu diagnóstico feito em períodos
gestacionais, e que a gestação
em estudo foi o momento em que quase metade destas mulheres tomou
conhecimento
de serem portadoras do HIV. Dados semelhantes foram obtidos por um
estudo na
cidade de Belo Horizonte, onde 38,9% das gestantes tiveram o
diagnóstico na
última gestação.
Este dado reforça a
necessidade de rastreamento universal da infecção pelo HIV, ou seja,
solicitação do teste anti-HIV 1 e 2 no primeiro e
terceiro trimestres das gestações, para que medidas profiláticas da transmissão
vertical possam ser adotadas. O início tardio do pré-natal, após o primeiro
trimestre da gestação, bem como o número reduzido de consultas pré-natais
constituem uma barreira para a prevenção da transmissão vertical. No presente
estudo, 10,3% das pacientes iniciaram o pré-natal tardiamente, com IG superior
a 30 semanas. Contudo, a maioria (60,3%) iniciou o acompanhamento pré-natal
antes da 20ª semana. Nesta situação de diagnóstico precoce, as intervenções
disponíveis tornam-se mais eficazes como medidas de prevenção da transmissão
materno-infantil do HIV [22].
E quanto ao número de
gestações, 25 gestaram entre 01 e 03 vezes. A maior fecundidade entre as
soropositivas contribui para o incremento de taxas de transmissão
materno-infantil, demonstrando a importância de um pré-natal adequado, já que,
atualmente, a quase totalidade de casos de AIDS em menores de 13 anos de idade
tem como fonte de infecção a transmissão vertical [22]. O início tardio do
pré-natal, após o primeiro trimestre da gestação, bem como o número reduzido de
consultas pré-natais constituem uma barreira para a prevenção da transmissão
vertical [23].
Comportamento
sexual
Com relação ao
parceiro sexual todas relataram ter apenas um parceiro fixo. Mesmo tendo
parceiros fixos, as gestantes não estão isentas da vulnerabilidade às IST/AIDS,
principalmente pelo fato da cultura brasileira ainda seguir padrões tradicionais
onde a mulher é vista como um ser submisso ao seu companheiro, e nas relações
afetivo-sexuais isso é traduzido em consequências muitas vezes danosas a ela,
evidenciadas pela dificuldade em negociar o uso do preservativo em todas as
relações, assim como a cultura da fidelidade enquanto método de prevenção ao
HIV/AIDS e a outras IST [17].
As estatísticas têm
comprovado que o vírus HIV se intensificou bastante devido a maior exposição da
mulher, em decorrência de sua vulnerabilidade biológica, e também ao baixo
poder de decisão no qual envolve a vida sexual e reprodutiva [24]. Quanto ao
tipo de relação, além de vaginal, 12 praticavam sexo oral e 05
sexo anal. Sabe-se que qualquer tipo de relação sexual é suscetível a
contrair o vírus HIV/AIDS, porém há um maior risco de infecção por relação de
sexo anal, onde a região é mais vascularizada.
Vinte e cinco
gestantes relataram não fazer o uso do preservativo e 17 fazer o uso
esporadicamente. Hoje, o principal método de prevenção do contágio do HIV é o
método de barreira, ou seja, a utilização de preservativos. Posteriormente
alguns preferem não fazer o uso, por ter algum tipo de alergia, o fato de
incomodar e alguns não preferem fazer o uso como prova de amor e assim estando
a mercê de ser infectada pelo vírus HIV. Sabe-se que qualquer relação sexual
desprotegida é considerada fator de risco para aquisição do IST/AIDS [25].
Percepção
sobre o pré-natal
Os resultados
mostraram que todas realizaram o pré-natal, e uma gestante estava iniciando a
primeira consulta. Quanto ao número de consultas, a maioria, representada por
25 gestantes, estava realizando as 06 consultas e 15 realizaram 03 consultas.
No Brasil, o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) estabelece
que o número mínimo de consultas de pré-natal deverá ser de sete consultas,
preferencialmente, uma no primeiro trimestre, duas no segundo trimestre e três
no último trimestre.
A maior frequência de
visitas no final da gestação visa à avaliação do risco perinatal e das
intercorrências clínico-obstétricas mais comuns nesse trimestre, como trabalho
de parto prematuro, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, amniorrexe prematura e óbito
fetal [26]. A frequência das mulheres ao pré-natal é o momento desencadeador de
todas as ações de prevenção da transmissão materno infantil do HIV.
Em relação às
dificuldades encontradas para o acompanhamento do pré-natal, 38 afirmaram não
haver nenhuma dificuldade, porém 04 gestantes apresentaram problemas pessoais,
e outras 04 não justificaram o motivo do não comparecimento às consultas. As
mulheres que não comparecem as consultas de pré-natal e apresentam dificuldades
constituem um problema de difícil resolução, pois, muitas vezes, são elas que
apresentam maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Algumas gestantes
relataram como motivo para o não comparecimento alguns como: acompanhamento do
esposo na consulta.
Apesar das
dificuldades, as gestantes comparecem as consultas, com isso demonstram que
estão preocupadas não só consigo mesmas, mais principalmente com o filho que
gesta, a gestante sabe a importância de comparecer as consultas de pré-natal
para um tratamento mais eficaz.
Conhecimento
das gestantes sobre o HIV e o teste anti-HIV
Com relação ao
conhecimento, 44 das gestantes entrevistadas tinham conhecimento sobre a doença
HIV/AIDS e reconheciam a importância do teste anti-HIV durante a realização do
pré-natal. Estudos consideram o conhecimento das mesmas como uma das dimensões
inscritas no quadro da vulnerabilidade o aspecto cognitivo, o qual interfere na
mudança de comportamento [15]. Quanto ao meio de transmissão, três
participantes desconheciam os meios de transmissão do vírus HIV/AIDS e duas não
haviam realizado o exame, pois estavam dando início ao pré-natal. Entretanto,
das gestantes que realizaram o exame, apenas duas não buscaram o resultado.
A desinformação sobre
a AIDS e suas formas de transmissão pode contribuir com o crescimento das taxas
de transmissão vertical do HIV. Em pleno século 21 ainda existem pessoas que
desconhecem a doença e principalmente o meio de transmissão.
Percebeu-se nos
resultados obtidos que as mulheres participantes do estudo aceitavam o exame
apenas como rotina da prática clínica, porém era negado o direito da mulher em
conhecer a importância do exame no tocante a ela e à criança. O conhecimento
apreendido pela maioria das gestantes acerca da importância da realização
Sorológica para o HIV pode ser considerado adequado, uma vez que estas mulheres
referiram a percepção da sua importância para a manutenção da saúde do binômio mãe-bebê, bem como para iniciar tratamento precoce,
caso o resultado fosse positivo. A maior ênfase nos depoimentos esteve
associada à necessidade de evitar a transmissão vertical do HIV durante a
gestação.
Considera-se que as
gestantes pesquisadas tem conhecimento a respeito da importância do exame
anti-HIV realizado durante o pré-natal e o aconselhamento do profissional na
atenção foi fundamental para promoção da qualidade da assistência. Portanto os
resultados da pesquisa que foram comparados e discutidos com a literatura atual
exigem de cada um de nós e de todos os profissionais ações
eficientes e resolutivas para a minimização do problema de pesquisa que é
considerada um problema de saúde pública.
Apesar da realização
do estudo em um município do interior do Amazonas com número limitado de
gestantes, o estudo serve como alerta para direcionar as políticas públicas,
pois problemas como a falta de conhecimento da doença e dos meios de prevenção
podem ser evitados com campanhas maciças direcionadas a essa população.