REVISÃO

Cuidados paliativos em oncologia pediátrica

 

Jenifer Barbara Fernandes Costa*, Tamilles Alves de Oliveira de Assunção*, Heli da Silva Araújo Salles**

 

*Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Amapá, **Doutorando em Biologia de Agentes Infecciosos e parasitários (BAIP - UFPA), Professor Efetivo do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC)

 

Recebido em 4 de novembro de 2016; aceito em 25 de maio de 2017.

Endereço para correspondência: Jenifer Barbara Fernandes Costa, Universidade Federal do Amapá, Rodovia BR 156, nº 3051, 68980-000 Oiapoque AP, E-mail: jenifer-barbara@hotmail.com; Tamilles Alves de Oliveira de Assunção: tamillesoliveira2009@hotmail.com; Heli da Silva Araújo SalleS: heliufc@gmail.com

 

Resumo

Este estudo teve como objetivo analisar, compreender e elucidar os cuidados paliativos de enfermagem em oncologia pediátrica, através da literatura em periódicos nacionais. Foram utilizadas as base de dados online: Bireme, Scielo e Lilacs, sendo selecionados um total de 47 artigos, publicados no período de 2002 a 2014. Podemos afirmar que de forma geral os cuidados paliativos são vistos como o aprimoramento do cuidar do paciente que se encontra com uma doença que pode ameaçar a continuidade de sua vida, assim como o suporte à família. Nota-se a importância de tal estudo, a fim de contribuir para a assistência prestada à criança oncológica. Por isso, a equipe multidisciplinar deve refletir os cuidados paliativos, enfatizando na necessidade de assegurar a dignidade da vida da criança, propiciando um melhor atendimento e a garantia da qualidade de vida aos pacientes e seus familiares.

Palavras-chave: Enfermagem, cuidados paliativos, humanização da assistência, oncologia pediátrica.

 

Abstract

Palliative care on pediatric oncology

This study aimed to analyze, understand and elucidate the palliative nursing care in pediatric oncology, through literature in national magazines. We searched the following electronic databases: Bireme, Scielo and Lilacs, and a total of 47 articles published between 2002 and 2014 were selected. In general, we can affirm that palliative care is improving the quality of life of patient who has a disease that can cause life-threatening, as well as to give support to his family. The importance of this study is to contribute to providing assistance to a child with cancer. Consequently, the multidisciplinary team should reflect on palliative care, emphasizing the need to ensure the dignity of the child's life, providing better care and ensure the quality of life of patients and their families.

Key-words: Nursing, palliative care, humanization of assistance, pediatric oncology.

 

Resumen

Cuidados paliativos en oncología pediátrica

Este estudio tuvo como objetivo analizar, comprender y elucidar la atención de enfermería paliativa en oncología pediátrica, a través de la literatura en revistas nacionales. Se utilizaron las bases de datos electrónicas: Bireme, Scielo y Lilacs, y se seleccionaron un total de 47 artículos publicados entre 2002 y 2014. Podemos afirmar que los cuidados paliativos, en general, son vistos como mejoramiento de la atención al paciente que está con una enfermedad que puede poner en peligro la continuidad de su vida, así como brindar apoyo a familiares del enfermo. La importancia de este estudio es poder contribuir a mejorar la atención de niños con cáncer. Por eso, el equipo multidisciplinario debe reflexionar sobre la relevancia de los cuidados paliativos, haciendo hincapié en la necesidad de garantizar la dignidad de la vida del niño, proporcionando una mejor atención y garantizar la calidad de vida de los pacientes y sus familias.

Palabras-clave: Enfermería, cuidados paliativos, humanización de la atención, y la oncología pediátrica.

 

Introdução

 

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de neoplasias malignas, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando inter-relacionadas. As causas externas referem-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de uma sociedade. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas e estão ligadas à capacidade do organismo de se adaptar as mudanças ocorridas principalmente pelo hábito de vida do indivíduo [1].

Nos últimos anos o câncer infantil foi apresentado como a principal causa de mortalidade por doenças na faixa etária que abrange menores de 15 anos. Podemos destacar como neoplasias mais comuns: leucemias (28%), tumores de sistema nervoso central (20%), sarcomas (11%), linfomas (10%), neuroblastomas (8%), tumor de Wilms (6%) e 17% correspondendo a outros tipos. Algumas das neoplasias infantis, decorrente do processo de estadiamento, podem apresentar prognóstico duvidoso com relação ao tratamento, portanto uma abordagem paliativa é necessária, mesmo com os avanços tecnológicos que podem causar transtornos para a família e para o paciente com nível de cuidados mais precisos e organizados [2].

Os cuidados paliativos eram voltados principalmente para pacientes que se encontravam ao final de sua vida. Com o passar dos tempos esse conceito se modificou e, atualmente, esses cuidados devem ser implementados desde a fase inicial de doenças graves até a fase final deste paciente, atendendo-o de forma holística em busca de estabilizar a qualidade de vida na fase final ou inicial de uma doença grave [3].

Desde os primórdios o cuidar faz parte da natureza humana, pois é uma necessidade do homem, desde o nascimento até o fim de sua vida – em sua plenitude. Esta ação promove saudável continuidade da vida da espécie humana [4]. É uma prática cuja relação da ação exige doação e proximidade (conforme ao ser que é cuidado e ao cuidador), incorporando a doação ao outro e todos os sentimentos bons que permeiam o ser humano como a subjetividade, afetividade, amor, humanização, coragem, respeito, diálogo, gestos corporais, ato de tocar e percepção, além da técnica [5-7].

Mesmo com toda a importância que deve ser voltada aos cuidados paliativos, há, ainda, a necessidade imediata do avanço das pesquisas com esta temática, para aprofundar os conhecimentos na área, em particular no campo da enfermagem [8]. Contudo, ressalta-se a importância em abordar o tema sobre os cuidados paliativos em relação à oncologia pediátrica, de maneira que propicie um melhor atendimento e qualidade de vida aos pacientes e seus familiares. Ante o exposto, este estudo empreendeu analisar, compreender e elucidar os cuidados paliativos de enfermagem em oncologia pediátrica.

 

Material e métodos

 

Tratou-se de um estudo de revisão bibliográfica, cuja coleta de dados foi realizada na base de dados online: Bireme, Scielo e Lilacs. No primeiro momento foi feito o levantamento da literatura, sendo destacados os resumos daqueles que não havia o texto disponível, e os textos completos daqueles que o tinham, referentes a nível nacional, utilizando-se dos seguintes descritores: enfermagem, cuidados paliativos, humanização do cuidar e oncologia pediátrica.

Foram encontrados 47 artigos, destes foram excluídos teses, monografias, não convencionais, congressos e conferências e documentos de projeto. Para critério de inclusão, foram selecionados artigos que apresentavam idioma português, com exceção de dois artigos internacionais, que apresentassem os referidos descritores e que fossem fidedignos ao tema proposto no trabalho. O período de publicação variou entre os anos de 2006 a 2014.

Após a leitura e avaliação de todo o material, foram selecionados 11 artigos, 1 livro e 1 citação do site INCA, de forma que preenchiam todos os critérios estabelecidos e que teriam uma grande contribuição com o eixo central proposto.

 

Resultados

 

      Do material selecionado, obtivemos 1 livro publicado em 2009, 10 artigos selecionados durante o período de 2006-2014, 1 foi publicado em 2014, 2 foram publicados em 2013, 1 em 2010, 2 em 2009, 3 em 2008 e 1 em 2006, e 1 citação no site do INCA. Tais publicações mostram o interesse em investigar os cuidados paliativos e que a cada ano que passa vem sendo discutido de forma geral, mas também com relação à oncologia pediátrica.

No entanto, mostra a carência em se falar mais nesse tema, de forma que se apresenta como a segunda causa de mortalidade na faixa etária de 0 a 14 anos, por este motivo tornando tal estudo de suma importância, uma vez que nos instiga a buscar cada vez mais novas ideias e novos aspectos, para tal assunto.

Os artigos selecionados tinham uma relação maior com o âmbito multidisciplinar e em sua grande maioria não abordava somente uma área específica, mas sim vários aspectos em um único trabalho. No entanto, podemos afirmar que de forma geral os cuidados paliativos são vistos como o aprimoramento do cuidar do paciente, que se encontra com uma doença que possa vir ameaçar a continuidade de sua vida, e também de sua família. Portanto, as concepções sobre cuidados paliativos encontradas no material foram alívio e controle da dor, abordagem humanizada/valorização da vida, abordagem multidisciplinar, morrer como processo natural e o apoio no luto. Logo, nota-se que essas concepções estão interligadas, consequentemente, tornam-se interdependentes.

 

Discussão

 

Todo o processo de cuidar é inerente ao ser humano, de forma que necessitamos do cuidar e de sermos cuidados durante nosso ciclo vital; no fim deste ciclo, surge a necessidade de um peculiar cuidado, repleto de valorização da pessoa/ser humano [9]. Essa é a essência original de um cuidado paliativo, onde se prevê o alívio para as dores apresentadas e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, outras ocorrências/emergências oncológicas. Neste processo de cuidados paliativos devemos reafirmar vida e morte como processos naturais. Também oferecendo suporte para ajudar a família tanto como o paciente, para lidar com a doença.

Os cuidados paliativos como disciplina, incluindo assistência, ensino e pesquisa, começaram a ser organizados há cerca de quarenta anos, tendo em seu arcabouço teórico, os cuidados de um ser humano que está morrendo e de sua família, com compaixão e empatia [10].

A fundamentação na busca incessante dos sintomas do cliente, em intervenções que visam o paciente e não a sua doença, resulta na participação ativa deste nas decisões que tratam a respeito das intervenções de seu tratamento. Os principais dados epidemiológicos que preveem a descrição do câncer em determinada situação são a incidência, ou seja, o total de casos novos em determinado momento a sobrevida, que representa o tempo após o diagnóstico, inclui-se o paciente num sistema de informações permitindo o acompanhamento, e a mortalidade que relaciona os óbitos que teve como causa/origem de neoplasias malignas. Para a estimativa de incidência por câncer na infância e juventude é necessária a implantação de sistemas de informação com Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) [11].

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estimou, para o ano de 2014, 394.450 casos novos de câncer, não foram contabilizados os tumores de pele não melanoma. Considerando o percentual mediano dos tumores pediátricos, observou-se nos registros de câncer de base populacional (RCBP) brasileiros que deverão ocorrer cerca de 11.840 casos novos de câncer em crianças e adolescentes até os 19 anos. A etiologia do câncer infantil é desconhecida, portanto sendo extremamente importante a realização de estudos descritivos, principalmente os de base populacional. Somente uma minoria de fatores de risco é identificada em crianças e adolescentes com câncer. Com isso, existe um potencial limitado para intervenções preventivas [12].

As formas de câncer mais encontradas na infância/adolescência são as leucemias, principalmente a leucemia linfoide aguda, assim como tumores do sistema nervoso central (SNC) [11].

O tratamento de criança/adolescente com câncer é um dos maiores exemplos de sucesso nas últimas décadas. Toda esta melhora é atribuída aos avanços terapêuticos e aos precoces diagnósticos, principalmente os registrados durante a década de 70. A característica individual do paciente influencia o prognóstico como: hospedeiro (sexo, idade, raça, comorbidade, fatores socioeconômicos), tumor (extensão, local primário, morfologia e biologia) e o sistema de saúde, (rastreamento, facilidades de diagnóstico e tratamento, qualidade do tratamento e acompanhamento). Atualmente, com o uso de poliquimioterapia intensiva, avanços na terapia de suporte, avanços nos exames radiológicos, melhorias em exames de anatomia patológica e genética molecular, apresentam que 70% a 80% das crianças são curadas [12].

E podemos perceber que os cuidados paliativos devem integrar o tratamento, evitando mudanças bruscas, oferecendo um cuidar integrado, com conforto. Necessitando então de equipe interdisciplinar esforçada para isto, com parcerias entre centros oncológicos pediátricos terciários e centros de atenção primários e secundários, para aperfeiçoar toda uma rede. Mesmo com desafios que precisam ser vencidas para programar atenção global as crianças [11].

 

Conclusão

 

Ao final da análise aqui empreendida, nota-se a importância de tal estudo, a fim de contribuir para a assistência prestada à criança oncológica. De maneira que a equipe multidisciplinar deve refletir os cuidados paliativos, enfatizando na necessidade de assegurar a dignidade da vida da criança, propiciando um melhor atendimento e a garantia da qualidade de vida aos pacientes e seus familiares.

Nesse aspecto, nota-se a evolução no conceito de cuidados paliativos, que migram para o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, porém com um olhar integral a cada paciente, fazendo com que seja acrescida qualidade de vida aos dias e não dias a vida, tanto ao paciente oncológico quanto a sua família, de forma que quando uma pessoa adoece, não adoece sozinha, mas sim ela e todos ao seu redor. Por isso, deve ser reforçada a implantação da equipe multidisciplinar, e a preparação e/ou formação mais aprofundada pelos profissionais competentes a tal assunto.

Ressalta-se a importância em abordar o tema, sobre os cuidados paliativos em relação à oncologia pediátrica, de maneira que propicie novas pesquisas e inovações na área, para beneficiar a todos que precisem dos cuidados paliativos.

 

Referências

 

  1. INCA. O que é câncer. [citado 2014 Abr 12]. Disponível em URL: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/cancer/site/oquee.
  2. Pollock RE, Doroshow JH, Khayat D, Nakao A, O´Sullivan B. (Ed.) Manual de Oncologia Clínica da UICC - União Internacional Contra o Câncer. 8ª ed. São Paulo: Fundação Oncocentro de São Paulo; 2006.
  3. Maciel MGS. Definições e princípios. In RA. Oliveira RA, Ed. Cuidado paliativo. São Paulo: Cremesp; 2008. p.15-32.
  4. Avanci BS, Carolindo FM, Góes FGB, Netto NPC. Cuidados paliativos à criança oncológica na situação do viver/morrer: a ótica do cuidar em enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009;13(4):708-16.
  5. Morais GSM, Costa SFG. Experiência existencial de mães de crianças hospitalizadas em unidade de terapia intensiva pediátrica. Rev Esc Enferm USP 2009;43:639-46.
  6. Silva AA, Terra MG, Motta GC. Enfermagem e cuidado de si: percepção de si como corpo existencial no mundo. Rev Enferm UERJ 2013;21:366-70.
  7. Sousa ATO, França JRF, Nóbrega, MML Fernandes, MG, Costa SFG. Palliative care: a conceptual analysis. Online Braz J Nurs 2010;9:1-8.
  8. França JRF, Costa SFG, Nóbrega MML, Lopes MEL, França ISX. The importance of communication in pediatric oncology palliative care: focus on Humanistic Nursing Theory. Rev Latinoam Enferm 2013;21:1-7
  9. Silva EP, Sudigursky D. Concepções sobre cuidados paliativos: revisão bibliográfica. Acta Paul Enferm 2008;21(3):504-8.
  10. Florani CA, Schramm FR. Cuidados Paliativos: interfaces, conflitos e necessidades. Ciência Saúde Col 2008;13(Supl 2):2123-32.
  11. Brasil. Ministério da Saúde. Diagnóstico precoce do câncer na criança e no adolescente. / Instituto Nacional de Câncer, Instituto Ronald McDonald. Rio de Janeiro: INCA; 2009.
  12. Macedo CRD. Situação atual da oncologia pediátrica no Brasil. Revista Onco & 2014;(5). [citado em 2015 Maio 12]. Disponível em URL: http://revistaonco.com.br/wp-content/uploads/2014/09/ESPECIAL-INFANTIL_DRA.-CARLA.pdf