ARTIGO
ORIGINAL
Segurança
do paciente: desenvolvimento do tema em cursos de graduação em enfermagem
Mariana Neves de
Araújo Lopes, M.Sc.*, Lúcia Marinilza Beccaria, D.Sc.**, Lidia Beloni Silva, M.Sc.***, Claudia
Bernardi Cesarino, D.Sc.****,
Josimerci Ittavo Lamana Faria*****
*Enfermeira,
Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto, **Profª do Departamento de Enfermagem
Especializada da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, ***Enfermeira,
Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto, ****Profª do Departamento de Enfermagem
Geral da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, *****Profª do Departamento de Enfermagem Especializada da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
Recebido em 4 de agosto de 2017; aceito em 19 de março de 2018.
Endereço
para correspondência:
Lúcia Marinilza Beccaria,
Av. Francisco das Chagas Oliveira, 2550 casa 41 Higienópolis 15085-485 São José
do Rio Preto SP, E-mail: lucia@famerp.br; Mariana Neves de Araújo Lopes:
mallopess134@gmail.com; Lidia Beloni
Silva: lidiabelonisilva@gmail.com; Claudia Bernardi Cesarino:
claudiacesarino@famerp.br; Josimerci Ittavo Lamana Faria: ittavojosi@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Verificar como o
tema segurança do paciente está sendo desenvolvido em cursos de graduação em
enfermagem. Material e métodos:
Estudo descritivo, transversal e quantitativo, com participação de 167
estudantes do terceiro e quarto anos e 51 enfermeiros docentes de dois cursos
(público e privado), por meio de questionário. Resultados: Constatou-se que em ambos, não há disciplina específica
e maior enfoque está em conteúdos da área hospitalar, principalmente no
processo de cuidar. A maioria acertou a definição da Organização Mundial de
Saúde, afirmou que conhecia os passos para a segurança do paciente, mas errou a
associação entre as ações preventivas de cada um, demonstrando divergências nas
respostas, conhecimento insuficiente e erros conceituais. Conclusão: O tema é desenvolvido de forma transversal, mas é
necessária disciplina específica, com abordagem interdisciplinar para
desenvolvimento de ações mais efetivas e eficazes no ensino, a fim de melhorar
o conhecimento sobre segurança do paciente.
Palavras-chave: segurança do
paciente, docentes, estudantes, curso de enfermagem.
Abstract
Patient´s safety: the theme development in nursing graduation courses
A descriptive cross-sectional and quantitative study was carried out
with 167 students and 51 teachers, through a structured questionnaire to
observe how patient’s safety is being developed in two Nursing undergraduate
courses (public and private). No related school subject was found, and greater
focus was pointed out on contents of the hospital environment. The majority of
them could state on the definition of the World Health Organization, and had
knowledge on the steps for patient’s safety, but they made mistake on the
association between preventive actions according to each of the 10 steps,
demonstrating differences in answers, insufficient knowledge and conceptual
errors. The need to have the inclusion of this specific school subject with an inter and transdisciplinary
approach on patient’s safety is important to develop more effective actions on
care and teaching to improve nurses’ training.
Key-words: Patient’s
safety, teachers, student, education nursing.
Resumen
Seguridad del paciente: desarrollo del tema en curso de pregrado en enfermería
Estudio descriptivo,
transversal y cuantitativo, realizado con 167 estudiantes
y 51 docentes, utilizando un cuestionario
estructurado con el objetivo de verificar como el
tema de seguridad del
paciente es desarrollado en
dos cursos de pregrado en enfermería (público y privado). Fue
verificado que no hay disciplina específica, y es dado mayor enfoque en contenidos del
área hospitalaria. La mayoría
acertó la
definición de la Organización Mundial de la Salud, afirmaron que conocían las etapas para la seguridad del
paciente, pero se equivocó en
la asociación entre las acciones preventivas de acuerdo con cada una de las 10 etapas, demostrando divergencias
en las respuestas,
conocimiento insuficiente y errores
conceptuales. Hay necesidad de inclusión de la disciplina específica, con abordaje inter
y transdisciplinar sobre seguridad del paciente para desarrollo de acciones más efectivas en la asistencia
y en la enseñanza
con la finalidad
de mejorar la formación del enfermero.
Palabras-clave: seguridad
del paciente, docentes, estudiantes, educación en enfermería.
Em instituições
hospitalares a segurança do paciente é preocupação constante. Os enfermeiros
geralmente estão envolvidos com diagnósticos relacionados à identificação de
anomalias que necessitam de intervenções e correções por parte da equipe
multiprofissional que atua na assistência ao paciente. O diagnóstico, contendo
percepções e atitudes dos profissionais, subsidia implementação
de melhorias nos processos de trabalho [1].
A cultura da
segurança deve ser o ponto de partida para as instituições de saúde [2]. Ela
envolve política de qualidade implantada em cada serviço, com desenvolvimento
de ações a fim de minimizar resultados desfavoráveis [3]. A segurança implica
na redução de riscos de dano, com utilização de boas práticas assistenciais,
baseadas em evidências científicas [4-6]. Desta maneira, é importante
estabelecer uma cultura de comunicação de erros que favoreça discussão e
aprendizado com os mesmos [7].
A notificação de
erros, a busca e a análise dos fatores que o causaram dão subsídios para
realizar ações corretivas a fim de reduzir os riscos relacionados à assistência
em saúde. As instituições possuem normas a serem seguidas, que influenciam a
maneira como os profissionais agem e interagem, de forma a colaborar com a
cultura e o clima organizacional nos serviços [8]. Para implantação de ações
preventivas, faz-se necessário esforço, persistência e desenvolvimento de
práticas que possam conduzir mudanças de comportamento dos profissionais
envolvidos na assistência [9].
A qualidade em
serviços de saúde envolve gestão estratégica, visão, missão e valores da
instituição. As metas e objetivos devem estar claros, a fim de beneficiar os
pacientes no contexto do atendimento, por meio de protocolos assistenciais,
equipe multiprofissional qualificada e comprometida com a cultura da segurança,
efetividade, eficiência, segurança, inovação e tecnologia [10,11]. Entre as
estratégias realizadas com a participação do Ministério de Saúde, em algumas
ações globais estabelecidas pela Aliança Mundial para a Segurança do Paciente,
vinculada à Organização Mundial da Saúde, destacou-se como primeiro desafio global:
“Uma assistência limpa é uma assistência segura” e segundo: “Cirurgias seguras
salvam vidas”, priorizando a identificação e redução de eventos adversos
evitáveis nos serviços de saúde [12].
O
Programa Nacional
de Segurança do Paciente (PNSP), criado em 2013, fomenta a
inclusão do tema
segurança do paciente em cursos técnicos, de
graduação e pós-graduação na
saúde
[13]. A Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente
(REBRAENSP),
seguindo as recomendações da Rede Internacional de
Enfermagem e Segurança do
Paciente (RIENSP) objetiva melhorar as práticas de
segurança do paciente,
unindo esforços em nível mundial para
prestação do cuidado seguro [14]. O
trabalho em rede está sendo difundido por meio de polos e
núcleos regionais,
que compartilham ações sobre segurança do
paciente, assim como incentivam a
criação de Comitês de Segurança nos
serviços de saúde.
Em instituições de
saúde, os profissionais da educação permanente e gerência de risco reforçam os
conhecimentos acerca das práticas seguras e dos riscos que envolvem a qualidade
e segurança do paciente por meio de treinamentos sobre protocolos assistenciais
e ações voltadas à segurança do paciente [15]. A complexidade e alta tecnologia
dos serviços de saúde exige mudança de comportamento da enfermagem, implicando
em mudanças na formação do enfermeiro [16].
Os docentes exercem
papel importante na definição de conceitos sobre qualidade e segurança do
paciente, desenvolvimento de competências e habilidades para uma prática
segura, centrada no paciente [17]. Nesta perspectiva, os cursos de graduação em
enfermagem devem se envolver com conteúdos e práticas relacionadas à segurança
durante a formação do enfermeiro, para que ele desenvolva uma cultura para
segurança, com conhecimentos e habilidades para prevenir o erro humano [18].
O ensino de
enfermagem vem se modificando ao longo do tempo, buscando formar profissionais
com o desafio de prestar uma assistência de qualidade exigida pelo mundo atual,
por meio de conhecimento científico, tecnológico e inovador [19]. Debates
acerca das diretrizes curriculares para integrar o ensino ao serviço de saúde e
estimular ações conjuntas, a partir da inserção crítica e responsável do profissional,
vêm sendo estimulados nos últimos anos [7].
Almeja-se que os
estudantes de graduação em enfermagem sejam os futuros líderes do cuidado,
sendo necessário desenvolvimento de habilidades na aplicação de princípios e
conceitos sobre segurança e práticas seguras. Portanto, a questão norteadora
deste estudo foi: Como os cursos de graduação em enfermagem estão desenvolvendo
o tema segurança do paciente? Diante disto, objetivou-se verificar como o tema
segurança do paciente está sendo desenvolvido em cursos de graduação em
enfermagem.
Estudo descritivo,
transversal e quantitativo, realizado com 51 enfermeiros docentes e 167
estudantes de dois cursos de graduação em enfermagem (um público e outro
privado, denominados A e B, respectivamente), em uma cidade do noroeste
paulista, no período de agosto a dezembro de 2015.
Os critérios de
inclusão para os estudantes eram estar cursando o terceiro ou quarto ano do
curso de enfermagem e assinar o termo de consentimento. Foram excluídos o
primeiro e segundo anos, por não terem cursado disciplinas que envolvem os
cuidados diretos e indiretos ao paciente. Para os docentes foram ser
enfermeiro, ministrar aulas no curso de graduação em enfermagem e assinar o
termo de consentimento livre e esclarecido.
A instituição A é
pública tinha 85 estudantes do terceiro e quarto anos, sendo 39 do terceiro, 35
(89,74%) responderam ao questionário e 46 do quarto, e todos (100%)
participaram, totalizando uma amostra de 81estudantes (95,5%). A instituição B
é privada, tinha 90 estudantes do terceiro e quarto anos, 38 do terceiro, 37
(97,36%) responderam ao questionário e 52 no quarto, 49 (94,23%) participaram,
totalizando uma amostra de 86 estudantes (95,5%). A amostra foi correspondente ao
número de estudantes dos dois cursos (95,5%).
Para os docentes, foi
utilizado um questionário dividido em duas partes: a primeira caracterizou os
sujeitos; sexo, idade, instituição a qual pertencia, formação, instituição que
se formou, tempo de formado, função que exercia na instituição e se possuía
função assistencial em outra instituição, tempo de atuação como docente e
atividades desenvolvidas no curso de graduação que atuava. A segunda parte
continha 17 questões relacionadas ao conceito de segurança do paciente,
disciplinas que contemplavam este conteúdo, estratégias de ensino-aprendizagem,
experiência sobre evento adverso (EA) durante a vida acadêmica e sobre o
conhecimento dos 10 passos para a segurança do paciente de acordo com as
orientações contidas na cartilha do COREn
de 2010 [16]. O questionário foi entregue em mãos pelo pesquisador no próprio
ambiente de trabalho do participante.
O questionário
utilizado pelos estudantes foi dividido em duas partes: a primeira caracterizou
os sujeitos e a segunda parte continha 17 questões relacionadas à definição de
segurança do paciente, disciplinas que contemplavam este conteúdo, estratégias
de ensino-aprendizagem, período do primeiro contato com paciente, se receberam
suporte teórico e laboratorial sobre a temática, se presenciaram algum EA
durante as disciplinas e sobre o conhecimento dos 10 passos para a segurança do
paciente descritos na cartilha do Coren de 2010 [16].
Os questionários foram entregues durante o intervalo das aulas dos respectivos
cursos.
Foi realizada
validação do questionário por três enfermeiros docentes que participavam do
Núcleo de Segurança do Paciente de São José do Rio Preto e três alunos que não
participaram como sujeitos da pesquisa. Essas pessoas atuaram como juízes,
avaliaram a forma e o conteúdo do questionário e solicitaram modificação em
duas questões relacionadas à definição da segurança do paciente, que não
estavam claras, o que foi acatado pela pesquisadora.
Quanto à estatística,
a análise inferencial das variáveis quantitativas foi realizada utilizando o
Teste T de Student. As comparações de frequências,
envolvendo as variáveis qualitativas nominais foram realizadas por Teste Qui-quadrado, considerando p ≤ 0,05 significativo, em
ambos os testes. O programa utilizado foi o Graphpad Prism 6.01. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto- FAMERP. Parecer 168.753.
Quanto à
caracterização dos docentes, no curso A, a maioria se formou em instituição
pública, todas eram mulheres, com idade entre 50 e 60 anos. No B, a maioria
estudou em instituição privada, do sexo feminino, com idade entre 30 e 40 anos.
A diferença de idade entre os docentes dos cursos foi significativa, com valor
p < 0,0001, os docentes do curso público apresentaram maior idade em relação
ao privado.
No curso A, a maioria
tem formação há mais de 20 anos, trabalham no curso em torno de 10 a 20 anos.
No B, a maioria é formada há cerca de 5 a 10 anos, atuam no curso no período de
5 a 10 anos. A diferença entre os docentes quanto ao tempo de formado e atuação
profissional como docente foi significativa, com valor de p < 0,0022 e p
< 0,0001 respectivamente, sendo os docentes mais jovens pertencentes à
instituição privada.
Em relação aos
estudantes: no curso A, a maioria era do sexo feminino, com idade entre 20 e 25
anos no terceiro e quarto anos. No curso B, a maioria era do sexo feminino, com
idade entre 20 - 25 anos e em torno de 30% acima de 30 anos. A diferença de
idade entre os estudantes dos cursos foi significativa, com valor de p <
0.0001. Na instituição pública os estudantes eram mais jovens.
Na instituição A,
apenas 06 (7,50%) trabalhavam na enfermagem e na B, 32 (37,64%) trabalhavam na
área, principalmente em hospitais, 20% são técnicos em enfermagem. A diferença
entre os estudantes que trabalhavam e não trabalhavam,
entre os dois cursos, foi significativa, com valor de p < 0.0001.
No que se refere à
definição do tema segurança do paciente pelos docentes, no curso A, 17 (42,5%)
responderam correto, 21 (52,50%) disseram que conheciam os 10 passos para a
segurança, porém, mais de 50% deles não souberam associar as ações preventivas
de cada um deles. No curso B, sete (63,63%) acertaram a resposta, seis (54,54%)
responderam que conheciam os 10 passos, porém, quando comparadas às medidas de
segurança de cada passo, houve incongruência nas respostas, pois mais de 80%
não souberam associar as ações preventivas de cada um deles, como observado na
Tabela I.
Tabela
I - Demonstrativo do conhecimento dos docentes
dos cursos A e B, acerca da definição e dos 10 passos para segurança do
paciente. São José do Rio Preto, 2015.
Os estudantes dos
dois cursos apresentaram conhecimentos divergentes em relação à definição do
tema. No curso A, do terceiro ano, apenas sete (20%) acertaram a definição e os
do quarto, apenas 13 (28,88%). No B, 12 (36,36%) do terceiro e apenas cinco
(10,41%) do quarto ano respondeu correto. A diferença de acertos entre os
estudantes dos dois cursos foi significante, com valor p < 0.0164, sendo
maior número de acertos no curso A.
No curso A, do
terceiro ano apenas um (2,85%) trabalhava na área de enfermagem e acertou a
questão e no quarto, cinco (10,86%) trabalhavam e apenas um (25%) acertou. No
curso B, no terceiro ano 14 (38,88%) trabalhavam na área, destes, apenas seis
(42,85%) acertaram a resposta e no quarto ano 18 (37,50%) trabalhavam e apenas
dois (11,76%) acertaram.
Sobre os 10 passos
para a segurança do paciente, os estudantes do curso A, do terceiro ano, 16
(45,71%) e do quarto 25 (54,34%) disseram que conheciam e no B, do terceiro ano
17 (47,22%) e do quarto 16 (32,65%) conheciam, porém, quando comparado com as
respostas das medidas de segurança, houve incongruência, pois em ambas as
instituições, mais de 60% não souberam associar as ações preventivas corretas
de cada um dos 10 passos para segurança do paciente, como observado na Tabela
II.
Tabela
II -
Demonstrativo do conhecimento dos
estudantes dos cursos A e B acerca da definição e dos 10 passos para segurança
do paciente. São José do Rio Preto, 2015.
Quanto à percepção
dos docentes sobre disciplinas que abordam o conteúdo segurança do paciente,
ficou destacado nos dois cursos: cuidar em enfermagem (Semiologia e Semiotécnica) a que mais contempla a temática, seguida da
Saúde do Adulto e do Idoso. Entretanto, no curso privado mais de 90% disseram
que o Estágio Supervisionado, realizado no último ano do curso é o que mais
aborda.
As estratégias de
ensino-aprendizagem utilizadas no desenvolvimento de conteúdo sobre segurança
do paciente mais citadas pelos docentes do curso A foram: discussão de casos 32
(80%) e aulas expositivas 27 (67,50%). Enquanto no B, 11 (100%) relataram aulas
expositivas e realização de discussão de casos, oito (72,72%) também citaram
laboratórios de aprendizagem. Quando questionados sobre terem presenciado
evento adverso (EA) durante a vida profissional, 32 (80%) da instituição A
disseram que passaram por essa experiência, e na B 10 (90,90%). Entretanto, a
maioria não causou nenhum dano ao paciente.
Tabela
III
- Disciplinas que abordam conteúdo sobre
segurança do paciente, estratégias utilizadas e eventos adversos na percepção
dos docentes dos cursos A e B. São José do Rio Preto, 2015.
A maioria dos
estudantes do curso A, 17 (48,57%) do terceiro e 27 (58,69%) do quarto ano,
afirmou que as melhores estratégias de ensino-aprendizagem são aulas
expositivas e laboratórios. Na B a mais citada pelos alunos do terceiro ano, 15
(40,54%) foi aula expositiva e do quarto, 16 (32,65%) prática em laboratórios.
Quando questionados
sobre ter presenciado EA durante a graduação, houve diferença significativa
entre os estudantes dos dois cursos, com valor p < 0.0001, do terceiro ano
24 (58,57%) e do quarto 36 (78,26%) da instituição A relataram ter vivido essa
experiência, enquanto na B, apenas oito (21,62%) do terceiro e 12 (24,48%) do
quarto ano.
A realização de
prática clínica pelos estudantes de ambos os cursos ocorreu durante o terceiro
período do curso de graduação. Quanto ao suporte teórico e prático-laboratorial
antes do primeiro contato com paciente em instituições de saúde, 141 (84,43%)
relataram ter recebido. Porém, essa descrição é significativa, com valor p <
0.0001, os estudantes do curso privado relataram ter recebido maior conteúdo
sobre segurança do paciente.
Sobre os estudantes
sentirem-se seguros na realização de procedimentos assistenciais de enfermagem
houve diferença significativa entre os dois cursos, com valor p < 0.0001.
Dos estudantes do curso A, 82% relataram que se sentem seguros, e no B, 67%.
O gênero feminino
predominou entre os docentes e estudantes. A quantidade de homens cursando
enfermagem foi menor que 6% nos dois cursos, o que pode ser justificado pela
história da profissão e o fato da enfermagem ser exercida por mulheres tanto na
assistência como no ensino [18,20,21]. Quanto à
docência, a maioria do curso A possuía dedicação exclusiva, e no B a metade
deles possuía outro emprego concomitante. A docência é uma das funções do
enfermeiro, portanto, é necessário investir na formação e capacitação do
enfermeiro para o ensino, com uma visão geral de educação [22].
A diferença de idade
entre os docentes e estudantes dos dois cursos foi significativa. A instituição
pública possui mais jovens em relação à privada. Corroborando estudos
realizados também em instituições privadas, em que os estudantes tinham idade
acima de 30 anos (31,60%) [23] e nas públicas a maioria dos estudantes é jovem,
entre 20 a 30 anos [24].
Nesta pesquisa, nos
dois cursos, mais da metade dos docentes relataram conhecer os 10 passos para a
segurança do paciente. Entretanto, aproximadamente 50% erraram a definição e
mais de 50% deles não souberam associar as ações preventivas de cada um dos
passos. Quanto aos estudantes, mais da metade relatou conhecer os 10 passos
para a segurança do paciente, porém, aproximadamente 60% não souberam
correlacionar às definições com as ações de cada item e as práticas que devem
ser desenvolvidas. Em 2010, baseado nas seis metas internacionais para
segurança do paciente, o Conselho Regional de Enfermagem (COREn) [16] lançou a cartilha com os 10 passos para a
segurança do paciente, distribuídas aos enfermeiros, com ampla repercussão na
enfermagem, portanto esperava-se maior conhecimento e acertos dos docentes e
estudantes sobre essa temática.
Na grade curricular
dos dois cursos não há disciplina específica sobre segurança do paciente. Em
ambos, o tema estava inserido dentro das disciplinas, de maneira transversal. O
Programa Nacional de Segurança do Paciente juntamente com o Ministério da Saúde
e com o Conselho Nacional de Educação sugerem a inclusão do tema segurança como
disciplina nos currículos dos cursos da área da saúde [13].
O Guia Curriculum de
Segurança do Paciente da OMS, criado em 2011 é um programa que ajuda na
implantação da educação para a segurança do paciente em instituições de ensino
de todo o mundo. Também sugere alguns métodos de ensino para se introduzir o
tema em currículos existentes, incluindo simulação, palestras interativas e
didáticas, grupos de discussão e práticas clínicas. Embora existam barreiras a
serem superadas ao se adicionar disciplina específica sobre segurança do
paciente, reconhece-se a importância para a formação do enfermeiro, com o
envolvimento de docentes e estudantes neste contexto [12].
A abordagem do tema
segurança do paciente em currículo de cursos de graduação é mais frequente em
países desenvolvidos, como Estados Unidos da América (EUA) e Reino Unido, em
geral, como disciplina optativa, não havendo inclusão formal obrigatória na
estrutura curricular educacional em saúde [14]. No Japão, estudo realizado com
83 instituições de ensino em enfermagem, sendo 55% públicas e 45% privadas
constatou que elas utilizam cerca de nove a 14 horas de conteúdo relacionado à
segurança do paciente, respectivamente [25].
No contexto de uma
formação crítica-reflexiva com enfoque para a realidade da saúde apontam-se a
importância no trabalho docente enquanto mediador do processo
ensino-aprendizagem, a partir da elaboração de estratégias de ensino em sala de
aula, com a finalidade de formar profissionais com atitude de aprender a
aprender. O docente tem uma atuação estratégica, pois exerce o papel de
traduzir a ideia principal para o contexto da prática [26].
As estratégias de
ensino utilizadas pelos docentes foram aulas expositivas e a maioria dos alunos
avaliou como boa. Estudos mostram algumas estratégias utilizadas para estimular
o pensamento crítico-reflexivo dos estudantes como: simulação em laboratório,
questionamento, estudo de caso, ensino online e aprendizagem interativa, mapa
conceitual e aprendizagem baseada em problemas [27,28].
Estudo realizado no
Iran no ano de 2015 ressalta a necessidade de estudantes e profissionais da
saúde se familiarizarem com barreiras que previnem erros e utilização de
melhores práticas assistenciais. Constatou-se que ainda há pouco conhecimento
sobre os mecanismos multifatoriais que envolvem a ocorrência de erro, por isso
o desenvolvimento de uma cultura para segurança do paciente nos currículos das
profissões da área da saúde é essencial para a melhoria dos serviços [29].
Houve incongruência
na resposta dos estudantes em relação ao sentimento de segurança para
realização de procedimentos durante a graduação. A maioria errou as práticas
relacionadas aos 10 passos para segurança do paciente do COREn [16]. Para implantação de ações preventivas, é
necessário mudança de comportamento, esforço, persistência e desenvolvimento de
práticas que possam conduzir às mudanças. Os profissionais de enfermagem são os
que ficam maior tempo com o paciente, logo devem conhecer e aceitar os riscos
que envolvem a sua profissão, o ambiente de trabalho, a equipe
multiprofissional e estar consciente e envolvido com práticas seguras [30].
No processo
ensino-aprendizagem, o uso da simulação é uma estratégia inovadora e complementar
que deve ser incentivada. Estudo realizado com estudantes de 4º e 5º ano de
graduação em enfermagem demonstrou que mais de 65% acreditam que a simulação em
laboratório consolida o aprendizado, contribuindo para superação das
dificuldades de assimilação e controle do estresse emocional, além de reforçar
a interação entre professor e aluno [31].
A utilização de novas
estratégias de ensino no processo de aprendizagem deve agregar valor à prática
e transcender novos horizontes [32]. Na atualidade, a questão da segurança do
paciente é um problema de saúde mundial [33]. Portanto, os profissionais de
saúde, especialmente os enfermeiros, devem conhecer os 10 passos para a
segurança do paciente e os processos de trabalho que envolve a qualidade e
segurança nos serviços de saúde.
Quanto ao
desenvolvimento de práticas seguras e do tema segurança do paciente, houve
divergências nas respostas, demonstrando conhecimento insuficiente e erros
conceituais tanto dos docentes como dos estudantes dos dois cursos de graduação
em enfermagem. O tema é desenvolvido de forma transversal em ambos, no entanto
é necessário disciplina específica, com abordagem interdisciplinar para implementação de ações mais efetivas e eficazes no ensino, a
fim de melhorar o conhecimento e propiciar ao enfermeiro conscientização e
envolvimento com a cultura de segurança do paciente.
Novas pesquisas a fim
de elaborar estratégias adequadas para o desenvolvimento do tema segurança do
paciente nos cursos de graduação em enfermagem se fazem necessárias, a fim de
propiciar melhor formação profissional e consequentemente uma assistência mais
segura.