ARTIGO ORIGINAL
Atuação da equipe de
enfermagem no preparo e administração de medicamentos em uma unidade de terapia
intensiva materna
Izaura Luzia Silvério Freire,
D.Sc.*, Rejane Ferreira de Lima**, Fernanda Rafaela
dos Santos***, Bárbara Coeli Oliveira da Silva****,
Anderson Brito de Medeiros*****, George Felipe de Moura Batista******
Enfermeira, Professora
da Escola de Saúde da UFRN, **Enfermeira, Especialista em Terapia Intensiva em
Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande Norte, Enfermeira da
Maternidade Escola Januário Cicco, ***Enfermeira,
Mestranda em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande Norte (UFRN),
****Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande
Norte (UFRN), Enfermeira da Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande
do Norte e da Secretaria Municipal de Saúde de Parnamirim, *****Enfermeiro,
Doutorando em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
Enfermeiro da Secretaria Municipal de Saúde de Natal, ******Discente do
Curso de Graduação em Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN)
Recebido em 25 de abril
de 2018; aceito em 24 de abril de 2020.
Correspondência: Izaura Luzia Silvério Freire, UFRN, Avenida Senador Salgado
Filho, 3000 Lagoa Nova, Natal
RN
Izaura Luzia Silvério Freire:
izaurafreire@hotmail.com
Rejane Ferreira de Lima:
rejaneflima@hotmail.com
Fernanda Rafaela dos
Santos: fernanda_tinha@hotmail.com
Bárbara Coeli Oliveira da Silva: barbaracoeli@outlook.com
Anderson Brito de
Medeiros: abmfab@yahoo.com.br
George Felipe de Moura
Batista: georgefelipe1997@gmail.com
Resumo
Introdução: Nas Unidades de
Terapia Intensiva (UTI) maternas, destaca-se a necessidade de emprego de
inúmeros recursos tecnológicos para o diagnóstico e tratamento das pacientes
internadas, assim como a imperatividade na atenção quando da administração de
medicamentos. Objetivo: Descrever a atuação da equipe de enfermagem
relacionada ao preparo e administração de medicamentos em uma UTI materna. Métodos:
Estudo exploratório, descritivo, transversal e quantitativo realizado em UTI
materna, com amostra composta por 26 profissionais de enfermagem. Resultados:
No preparo dos medicamentos, identificou-se que os entrevistados sempre
higienizavam as mãos (61,5%); nunca utilizavam o celular (80,8%); por vezes
antecipavam o preparo/administração (57,7%); nunca esqueciam de
preparar/administrar (50,0%); e sempre checavam o histórico de alergias do
paciente (65,4%). Quanto à administração dos fármacos, constatou-se que sempre
confirmavam o nome do paciente (53,8%); algumas vezes administravam fármacos
por prescrição verbal (80,8%); nunca esqueciam de checar os medicamentos
administrados (42,3%); e frequentemente higienizavam as mãos após a
administração (38,5%). Os erros mais citados cometidos nesse processo foram:
dose errada (61,5%); erro de preparo (46,2%); e paciente errado (34,6%). Conclusão:
Nas UTIs maternas, necessita-se de uma educação permanente em saúde que
proporcione aos profissionais da enfermagem o desenvolvimento de práticas
laborais seguras para as pacientes.
Palavras-chave: sistemas de medicação
no hospital, Enfermagem, unidades de terapia intensiva.
Abstract
Performance of the nursing team about preparation and medication
administration in a maternal intensive care unit
Introduction: In maternal intensive care units (ICUs), the need to employ numerous
technological resources for the diagnosis and treatment of inpatients stands
out, as well as the imperative in care when administering medications. Objective:
To describe the performance of the nursing team related to the preparation and
administration of drugs in a maternal ICU. Methods: Exploratory,
descriptive, cross-sectional and quantitative study carried out in a maternal
ICU, with a sample composed of 26 nursing professionals. Results: In the
preparation of medicines, it was identified that the interviewees always
cleaned their hands (61.5%); never used the cell phone (80.8%); sometimes they
anticipated preparation / administration (57.7%); they never forgot to prepare
/ administer (50.0%); and always checked the patient's history of allergies
(65.4%). As for the administration of drugs, it was found that they always
confirmed the patient's name (53.8%); sometimes they administered drugs by
verbal prescription (80.8%); they never forgot to check the medications
administered (42.3%); and they frequently cleaned their hands after
administration (38.5%). The most cited mistakes made in this process were:
wrong dose (61.5%); preparation error (46.2%); and wrong patient (34.6%). Conclusion:
In maternal ICUs, permanent health education is needed to provide nursing
professionals with the development of safe work practices for patients.
Keywords: medication systems hospital, Nursing, intensive care units.
Resumen
Desempeño del
equipo de enfermería en la preparación y administración de medicamentos en
una unidad de cuidados intensivos maternos
Introducción: En
las unidades de cuidados intensivos maternos (UCI),
se destaca la necesidad de emplear numerosos recursos tecnológicos para el diagnóstico y tratamiento de
pacientes hospitalizados, así como el imperativo en la atención al administrar
medicamentos. Objetivo: Describir el
desempeño del equipo de enfermería relacionado con la preparación y administración de medicamentos en
una UCI materna. Métodos: Estudio exploratorio, descriptivo,
transversal y cuantitativo realizado en una UCI materna, con una muestra compuesta por 26 profesionales de enfermería. Resultados:
En la preparación
de medicamentos, se identificó que los entrevistados siempre se limpiaban las manos (61.5%);
nunca usó el teléfono celular (80.8%); a veces
anticiparon la preparación / administración
(57.7%); nunca olvidaron preparar / administrar
(50.0%); y siempre verificó
el historial de alergias del
paciente (65.4%). En cuanto
a la administración de
medicamentos, se encontró que siempre
confirmaban el nombre del paciente (53.8%); a veces administraron drogas por prescripción verbal (80.8%); nunca olvidaron
verificar los medicamentos administrados (42.3%); y frecuentemente se limpiaban las manos después de la administración (38.5%). Los errores más citados en este proceso fueron: dosis incorrecta (61.5%); error de preparación (46,2%); y
paciente equivocado (34,6%). Conclusión: En las UCI maternas, se necesita educación permanente en salud para proporcionar a los profesionales de enfermería el desarrollo
de prácticas laborales
seguras para los pacientes.
Palabras-clave: sistemas de medicación en hospital, Enfermería, unidades de cuidados intensivos.
Na condução de
pacientes internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) maternas, é
necessário o emprego de inúmeros recursos tecnológicos para seu diagnóstico e
propedêutica, além do uso de medicamentos que apresentam risco potencial para o
feto. Entre esses fármacos destacam-se as catecolaminas, anti-hipertensivos,
anticoagulantes e sulfato de magnésio. Somado ao uso dessas terapias, existe
grande contingente de profissionais nessas unidades, levando a maior
fragmentação da assistência e aumento da ocorrência de falhas ou eventos
adversos [1-2].
Define-se evento
adverso (EA) como lesão ou dano não intencional o qual resulta em incapacidade,
disfunção (temporária ou permanente), prolongamento de tempo de permanência ou
morte como consequência do cuidado prestado. Sendo assim, o que o caracteriza é
o fato de ter sido causado pelo cuidado prestado na organização de saúde, ao
invés de ser decorrente da evolução da doença de base [3].
Em média, o processo
supracitado afeta 10% das admissões hospitalares, constituindo um dos maiores
desafios para o aprimoramento da qualidade do cuidado na área da saúde. Quando
decorrente de erros, o evento em questão é denominado EA evitável, sendo
passível de prevenção em 50% a 60% dos casos. Em geral, não acarreta dano
importante ao paciente, embora possa, como já dito, incorrer em incapacidade
permanente ou óbito [3].
Enfatiza-se que os EAs relacionados ao uso de medicações são a segunda
categoria mais frequente de eventos adversos, sendo superados somente por
aqueles relacionados a cirurgias. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se
que os erros de medicação em hospitais provoquem mais de 7.000 mortes por ano,
implicando em importantes custos tangíveis e intangíveis ao sistema de saúde e
à população. No Brasil, por outro lado, ainda não estão disponíveis
estatísticas de óbitos relacionados a essas ocorrências [4].
Com base nessas
informações e no que tange a prevenção de EAs
evitáveis, deve-se lembrar que o grupo de medicamentos de alta vigilância
possuem maior possibilidade de provocar danos no caso de erros em sua
utilização, sendo considerados, portanto, potencialmente perigosos. Desse modo,
é necessária a adoção de protocolos específicos para a prevenção dessas
ocorrências, como é o caso do programa Aliança Mundial para a Segurança do
Paciente, lançado em 2004 pela OMS. O documento conclama todos os
países-membros a adotarem medidas para assegurar a qualidade e segurança da
assistência prestada nas unidades de saúde [4].
Inserida nesse
contexto, a segurança do paciente deve ser entendida como questão ampla, de
abrangência multidisciplinar e que requer engajamento político de todos os
envolvidos com a saúde: profissionais de saúde, pacientes, instituições,
governo e empresas do ramo da saúde de forma integrada. Urge que sejam
promovidas mudanças culturais e comportamentais as quais proporcionem os
avanços pretendidos nessa conjuntura, tornando a assistência prestada nos
diversos segmentos do sistema de saúde mais segura. Sendo assim, o protocolo de
segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos deverá ser
implantado em todos os estabelecimentos que prestam cuidados à saúde, assim
como em todos os níveis de complexidade nos quais os medicamentos estejam sendo
utilizados [4-5].
Com a finalidade de
conhecer mais profundamente essa realidade, visando a melhoria da segurança do
paciente e da qualidade da assistência prestada realizou-se este estudo, que
tem como foco descrever a atuação da equipe de enfermagem relacionada ao
preparo e administração de medicamentos em uma UTI materna.
Trata-se de estudo
exploratório, descritivo, transversal, com abordagem quantitativa, desenvolvido
em uma UTI materna pública de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil.
A população constou por
toda a equipe de enfermagem que trabalhava na UTI materna e que aceitasse
participar do estudo mediante a assinatura do termo consentimento livre e
esclarecido (TCLE). Foram excluídos os profissionais de enfermagem que estavam
de férias, afastados, de licença gestante e/ou médica e os que não respondessem
ao questionário por completo. Após a aplicação desses critérios, dos 38
profissionais de enfermagem que trabalhavam na UTI materna, cinco se
encontravam afastados e um dos questionários não foi respondido de forma
adequada, sendo a amostra final composta por 26 (81,2%) profissionais.
A
coleta dos dados foi
realizada por meio de questionário estruturado com
questões fechadas, no
período de fevereiro a abril de 2017. Este instrumento foi
elaborado pelas
pesquisadoras, tomando como base o protocolo de segurança na
prescrição, uso e
administração de medicamentos do Ministério da
Saúde/ANVISA [4], em seguida,
submeteu-se a pré-teste entre os docentes de enfermagem
participantes do grupo
de pesquisa Saúde e Sociedade da Escola de Saúde da
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (ESUFRN). Após o processo de
construção e pré-teste, o
questionário sofreu modificações relacionadas
à redação, estruturação,
conteúdo, sequência, categorização e
codificação das informações, objetivando
melhor aplicabilidade e adequação aos propósitos
do estudo, ficando composto
por duas partes: a primeira referente à
caracterização sociodemográfica dos
participantes; e a segunda por 16 questões sobre a
atuação da equipe de
enfermagem no preparo e administração de medicamentos,
utilizando cinco opções
de respostas: nunca, uma vez, algumas vezes, muitas vezes ou sempre.
Os dados foram
categorizados e tabulados em planilha eletrônica no software Microsoft Excel
2010® e, posteriormente, analisados por meio de estatística descritiva no
programa estatístico SPSS 20.0®, cujos resultados foram apresentados em tabelas
e gráficos.
A pesquisa foi aprovada
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN sob o número 1.774.730 e CAAE
59961516.5.0000.5537, de acordo com a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde, no que se refere aos aspectos éticos observados quando da realização da
pesquisa envolvendo seres humanos.
Ao caracterizar o
perfil sociodemográfico dos participantes do estudo, observou-se que a maioria
dos profissionais eram técnicos em enfermagem (17; 65,3%) seguidos de
enfermeiros (7; 28,0%) e auxiliares de enfermagem (2; 8,0%). Predominou o sexo
feminino (25; 96,0%), na faixa etária de 31 a 40 anos (20; 76,9%), com média
das idades de 37,4 anos, idade mínima de 27 e máxima de 53 anos. A maioria dos
participantes eram católicos (19; 73,1%), casados (17; 65,4%) e residiam em
Natal/RN (17; 68,0%), tinham graduação em enfermagem (16; 64,0%) e eram
pós-graduados (12; 48,0%).
Dos que possuíam
pós-graduação, a especialização em terapia intensiva foi a mais frequente (7;
58,3%). O tempo de serviço na enfermagem foi de, no mínimo, dois anos e, no
máximo, 25 anos. Já na UTI materna, o período de experiência variou de 2 meses
a 17 anos. A maioria tinha dois vínculos empregatícios (19; 76,0%) e nunca
havia realizado capacitação relacionada a administração de medicamentos (15;
60,0%).
A Tabela I apresenta os
resultados referentes à atuação dos profissionais de enfermagem na preparação
dos medicamentos. Observou-se que a maior parte desses profissionais sempre
higienizava as mãos antes do preparo da medicação (61,5%), mas destaca-se que
nenhum enfermeiro afirmou sempre realizar tal processo.
A maioria dos
participantes afirmou nunca utilizar o aparelho celular durante as preparações
dos medicamentos (80,8%), algumas vezes antecipar seu preparo/ administração
(57,7%), nunca esquecer de preparar/ administrar (50,0%) e sempre checar se o
paciente tinha histórico de alergia ao medicamento antes do preparo/
administração (65,4%). No entanto, 46,2% dos entrevistados afirmou já ter
esquecido de preparar e administrar as medicações alguma vez.
Tabela I – Atuação dos
profissionais de enfermagem de uma UTI materna na preparação dos medicamentos.
Natal/RN, Brasil, 2017.
A Tabela II mostra que
a maioria dos profissionais sempre confirmava o nome do paciente antes de
administrar o(s) medicamento(s) (53,8%) e algumas vezes administrava
medicamentos preparados por outro profissional (50,0%). Os participantes
informaram que muitas vezes administravam medicamentos por ordem verbal
(80,8%), e quando questionados em qual ocasião, a maioria afirmou realizar este
procedimento em situação de emergência (92,3%), seguido de situações nas quais
o prescritor estava ocupado (57,7%), encontrava-se no repouso (50,0%) ou estava
em outro setor e solicitou a prescrição pelo telefone (19,2%).
A
maior parte dos participantes
informou nunca esquecer de checar os medicamentos que administrava
(42,3%) e
que, algumas vezes, registrava/checava os medicamentos administrados
por outros
profissionais (73,1%). Com relação à
higienização das mãos após a
administração
dos fármacos, o mesmo percentual de entrevistados (38,5%)
informou muitas vezes
ou sempre realizar esse procedimento.
Tabela II – Atuação dos
profissionais de enfermagem de uma UTI materna na administração dos
medicamentos. Natal/RN, Brasil, 2017.
De acordo com o Gráfico
1, os erros mais frequentemente presenciados pelos profissionais de enfermagem
foram a administração de dose errada (61,5%), seguida de erro de preparo,
manipulação e/ou acondicionamento (46,2%).
Gráfico 1 – Erros presenciados
pelos profissionais de enfermagem de uma UTI materna no preparo e na
administração dos medicamentos. Natal/RN, Brasil, 2017.
Conforme o Gráfico 2,
os erros mais frequentemente cometidos pelos profissionais de enfermagem foram
dose errada (38,5%), também seguido por erro no preparo, manipulação e/ou
acondicionamento (19,2%).
Gráfico 2 – Erros cometidos
pelos profissionais de enfermagem de uma UTI materna no preparo e na
administração dos medicamentos. Natal/RN, Brasil, 2017.
As características
sociodemográficas referentes ao sexo e função exercida reforçam outras
pesquisas realizadas no Brasil sobre os profissionais de enfermagem, cujo
perfil predominante é de mulheres e que, em sua maioria, são técnicas em
enfermagem [6-7]. No tocante à qualificação profissional, verificada ao nível
de graduação em enfermagem em 64% da amostra, bem como ao nível de
pós-graduação em quase metade dos participantes, tem sido vista enquanto
importante tática para o aperfeiçoamento do cuidado ao paciente grave. Além
disso, confere visibilidade ao profissional e à instituição [8].
Ainda no presente
estudo, observou-se que a maioria dos profissionais de enfermagem tinham mais
de um vínculo empregatício. Pesquisa realizada em hospital universitário de
grande porte sobre a carga de trabalho da equipe de enfermagem e segurança do
paciente encontrou associação significativa entre o aumento da referida carga e
a diminuição da qualidade de assistência prestada, implicando em impacto
negativo na segurança do paciente [9].
Outros trabalhos
afirmam que, apesar de não existir um limite seguro para a duração das jornadas
e cargas de trabalho, acredita-se que sua elevação afeta tanto a saúde dos
trabalhadores quanto a qualidade do cuidado realizado [7-10]. Ressalta-se a
recorrência desse problema na área da saúde devido às baixas remunerações, as
quais obrigam os profissionais a terem mais de um vínculo empregatício para
aumentar sua renda mensal, causando insatisfação profissional e exaustão
frequentes, além de fazer com que se tornem mais propensos a cometerem erros
durante o cuidado ao paciente [10].
Com
relação aos
resultados referentes à atuação dos profissionais
de enfermagem no preparo dos
medicamentos, observou-se que, apesar da maioria dos participantes
afirmarem
que higieniza as mãos antes do preparo, 38,5% relatou que essa
não é uma
prática constante na UTI em estudo. Nesse contexto, a literatura
coloca a
lavagem das mãos como a medida individual mais simples e menos
dispendiosa para
prevenir a propagação das infecções
relacionadas à assistência à saúde, na qual
as mãos devem ser higienizadas antes e após o contato com
os pacientes, assim
como na manipulação de medicamentos [6].
O preparo dos
medicamentos, por sua vez, é uma ação que exige a devida atenção dos
profissionais de enfermagem, necessitando de segurança e conhecimento. Apesar
da atenção exigida, 19,2% dos participantes do presente estudo afirmaram já ter
utilizado o celular durante essa etapa do processo laboral. Reforça-se que,
durante o preparo dos medicamentos, o profissional deve concentrar sua atenção
somente nessa atividade, evitando fontes de distração, como conversas e uso de
celular, além de que os referidos objetos podem se tornar fômites na
transmissão das infecções [11-13].
Quanto à antecipação do
preparo e administração dos medicamentos, 65,3% dos profissionais afirmaram ter
praticado esse procedimento. A literatura afirma que a antecipação ou o atraso
da administração em relação ao horário predefinido somente poderá ser feito com
o consentimento do enfermeiro e do prescritor. O medicamento deve ser preparado
de modo a garantir que a sua administração seja feita sempre no horário
correto, seguindo as recomendações do fabricante, assegurando a estabilidade e
garantindo a adequada resposta terapêutica [14].
Ainda neste trabalho,
observou-se que 50,0% dos pesquisados afirmaram ter esquecido de preparar e
administrar os medicamentos prescritos pelo menos uma vez. Esses resultados
convergem com os encontrados em revisão integrativa acerca dos principais erros
relacionados à administração de medicamentos, em que a omissão de dose ou de
registro da execução da dose foi verificada em, respectivamente, 35% e 40% dos
casos. A literatura descreve que possíveis causas desses eventos podem estar
relacionadas à sobrecarga de trabalho, rotina intensa, falta de atenção dos
profissionais, inexperiência na prática assistencial, inadequação na formação
profissional e estrutura dos serviços de saúde [15].
Outro ponto importante
a ser realizado antes da administração do medicamento é a avaliação do
histórico de alergias do paciente. Os pacientes alérgicos devem ser
identificados de forma diferenciada, com pulseira e aviso em prontuário, além
de que toda a equipe deve ser alertada. Em contraponto à literatura,
observou-se que percentual expressivo dos participantes do presente estudo
(34,5%) afirmou nem sempre seguir essa recomendação. Ressalta-se às reações
alérgicas entre os eventos adversos de maior gravidade decorrentes da exposição
a medicamentos, seja por seu alto potencial de morbidade, mortalidade ou
prolongamento do tempo de internação [16].
Na
prática, a ênfase à
prevenção dessas reações por
órgãos governamentais têm sido cada vez mais
frequente,
estando, inclusive, presente na lista de verificação de
parto seguro
preconizada pela OMS, tão utilizada nas unidades de
assistência maternas. A
despeito disso, um trabalho associado a investigação de
acidentes durante a
administração de drogas em um hospital de ensino
brasileiro demonstrou a
prescrição de medicações para
alérgenos como responsável por 88,9% dos “quase
acidentes” relatados (situações nas quais a
medicação seria administrada, mas
um determinado fator externo impediu a ocorrência do evento).
Deve-se ressaltar
que na totalidade das ocasiões nas quais isso foi verificado a
administração
foi interceptada pelo próprio paciente, que mencionou a
condição alérgica ao
questionar o nome do fármaco ao profissional de saúde
responsável [17,18].
Com relação a
identificação do paciente antes da administração do medicamento, observou-se
que apesar da maioria dos participantes assegurar sempre confirmá-la, 46,1%
relatou tal prática como não sendo unânime. Tais dados são condizentes com
estudo realizado sobre as conformidades e inconformidades no preparo e
administração de antibacterianos de um hospital de ensino brasileiro, o qual
mostrou 79,3% de inconformidade na confirmação do nome do paciente [19].
Acerca do passo acima
descrito, a literatura orienta sobre a necessidade de perguntar ao paciente seu
nome completo antes da administração dos fármacos, além de utilizar, no mínimo,
dois identificadores distintos para confirmação do indivíduo correto. É
importante, também, verificar se o paciente corresponde ao nome identificado na
pulseira, no leito e no prontuário. A não realização dessa etapa representa,
portanto, um risco à segurança e bem-estar do paciente, que fica sujeito a
ocorrência de incidentes durante sua permanência no ambiente hospitalar [14].
Outro evento importante
encontrado foi o de que alguns profissionais (80,7%) afirmaram ter administrado
medicamentos preparados por terceiros. Acerca desse item, um parecer do
Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo (COREN-SP) refere que a
administração de um fármaco por outro profissional da saúde pode se dar somente
após a certificação de identificação correta, que deve possuir o nome do
paciente, dose, princípio ativo e diluente, horário e a identificação do
profissional [20].
Quanto à prescrição
verbal, deve ser utilizada somente em situações de emergência,
necessitando ser escrita logo quando possível [21]. Com relação a isso,
observou-se que a UTI em estudo mantém o procedimento em situações não
emergenciais, tais como: quando o prescritor encontra-se ocupado com outros
afazeres, está no repouso ou em outro setor. Estudos reforçam que, além de ser
restrito às situações já citadas, o emprego da prescrição verbal deve ser
acompanhado do método de dupla checagem, devido ao elevado risco de erros nesse
tipo de prescrição [21,22].
Percentual significante
(57,7%) de profissionais afirmaram também que nem sempre checam os medicamentos
administrados, o que representa um risco à segurança do paciente. Pesquisa realizada
para estimativa da prevalência de incidentes relacionados à medicação em
Unidade de Terapia Intensiva demonstrou concordância com o trabalho atual,
apontando a não realização de checagem de medicações como o erro mais comumente
realizado [23].
Outro ponto importante
a ser ressaltado é a necessidade de higienização das mãos ao final da
administração dos medicamentos. Todavia, vários profissionais (61,5%) da
presente pesquisa afirmaram não executar com frequência esse procedimento
simples e necessário no controle das infecções relacionadas à assistência em
saúde. Esses dados reforçam informações encontradas em estudo sobre a
conformidade da prática assistencial da equipe de enfermagem, durante a
administração de medicamentos por cateter vascular central, onde foram
identificadas falhas antes e após a administração dos medicamentos [6].
Sobre os erros mais
frequentemente presenciados ou cometidos pelos profissionais de enfermagem no
presente artigo, destacam-se a administração de dose errada (61,5%) e o erro de
preparo, manipulação e/ou acondicionamento inadequado (46,2%). Reforçando esses
achados, uma revisão de literatura demonstrou que 67,5% dos estudos trazia
erros na dosagem como a principal causa de equívocos na administração de
medicamentos [15]. Desse modo, recomenda-se aos estabelecimentos de saúde o
sistema de dose unitária, que consiste na distribuição dos medicamentos com
doses prontas para a administração de acordo com a prescrição médica do
paciente. É esse o sistema mais seguro considerado, sendo a dose do medicamento
embalada, identificada e dispensada pronta para administração [24].
Os erros de preparo,
por sua vez, ocorrem quando o medicamento é incorretamente diluído ou
reconstituído, podendo, junto aos equívocos na administração, acarretar na geração de incapacidades, aumento do período de
recuperação, necessidade de novas intervenções e levar ao óbito. Dentro desse
contexto, pesquisa realizada com o objetivo de identificar os principais erros
no preparo e administração de medicamentos cometidos pela equipe de enfermagem
de um hospital universitário de São Paulo encontrou que os equívocos mais
prevalentes foram má higienização das mãos e não utilização de técnica
asséptica [25].
Ressalta-se que o
armazenamento dos medicamentos deve ser padronizado, com identificação completa
e clara de todos os fármacos que estão sob a guarda da equipe de enfermagem.
Ademais, não se pode esquecer da monitorização da temperatura de
acondicionamento das drogas, observando-se o parâmetro mínimo e máximo de
temperatura diária [24]. Com base nisso, há uma série de recomendações
utilizadas para evitar erros de medicação, à exemplo da prescrição eletrônica,
utilização de código de barras para medicamentos e identificação do paciente,
dispensação por dose unitária, preparo de medicação intravenosa pela farmácia,
notificação de eventos adversos, interação multidisciplinar (farmácia, médicos
e enfermeiros) e revisão da prescrição por farmacêuticos [26].
Identificou-se que na
fase do preparo das medicações a maior parte dos profissionais de enfermagem
sempre higienizava as mãos, nunca utilizava o celular, algumas vezes antecipava
o preparo/administração, nunca esquecia de preparar/administrar e sempre
checava previamente o histórico de alergias do paciente.
Com relação a
administração dos medicamentos, observou-se que a maioria dos profissionais
sempre confirmava o nome do paciente, por vezes administrava medicamentos
preparados por outro profissional, algumas vezes administrava medicamentos por
prescrição verbal em situações não emergenciais, nunca esquecia de checar os
medicamentos que administrava, algumas vezes registrava/checava os medicamentos
administrados por outros profissionais e muitas vezes higienizava as mãos após
a administração. Os erros mais frequentes presenciados ou cometidos pelos
profissionais de enfermagem foram a administração de dose errada e o erro de
preparo, além de manipulação e/ou acondicionamento inadequado dos medicamentos.
Diante
desses resultados,
conclui-se a notável necessidade de educação
permanente a qual proporcione
atualização constante da equipe de enfermagem, seja
quanto aos procedimentos de
preparo, manipulação, acondicionamento ou
administração dos medicamentos. É
necessário, também, a implementação de
estratégias que minimizem a ocorrência
de eventos adversos relacionados a esses procedimentos, tais como
implantação
de protocolos de segurança, melhorias do ambiente físico
de trabalho,
utilização de prescrições
eletrônicas, incentivo à notificação dos
erros sem
punições, uso de pulseiras de identificação
nos pacientes, fornecimento de
informações aos pacientes a respeito dos medicamentos que
serão administrados e
supervisão da equipe pelo enfermeiro.
Desse modo, acredita-se
que os resultados desta pesquisa se tornem relevantes para uma reflexão
profunda sobre a segurança do paciente no âmbito do preparo, manipulação e/ou
acondicionamento e administração de medicamentos, contribuindo para a melhoria
da qualidade da assistência prestada e no efetivo desenvolvimento de uma
prática segura em enfermagem.