ARTIGO
ORIGINAL
Construção
participativa de uma gerontotecnologia sobre acidente
vascular cerebral
Geisieli Maria Sgrignoli Dias*, Célia Maria Gomes Labegalini**,
Marina Bennemann de Moura, M.Sc.***, Isabela Vanessa Tavares Cordeiro Silva****,
Lígia Carreira, D.Sc.*****, Vanessa Denardi Antoniassi Baldissera, D.Sc.*****
*Enfermeira
pela Universidade Estadual de Maringá, Maringá/PR, **Doutoranda em Enfermagem
pela Universidade Estadual de Maringá, ***Enfermeira da Unidade de Pronto
Atendimento Zona Sul de Maringá/PR, ****Graduanda em Enfermagem pela
Universidade Estadual de Maringá/PR, *****Docente do Departamento de Enfermagem
da Universidade Estadual de Maringá/PR
Recebido em 24 de
agosto de 2017; aceito em 1 de junho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Célia Maria Gomes Labegalini, Universidade Estadual
de Maringá PR, Av. Colombo, 5790 Bloco 2/Sala 1, 87020-110 Maringá PR, E-mail: celia-labegalini-@hotmail.com; Geisieli
Maria Sgrignoli Dias: geize_dias@hotmail.com; Marina Bennemann de Moura: marinabenn@hotmail.com; Isabela Vanessa
Tavares Cordeiro Silva: iza_bela_bela@hotmail.com; Lígia Carreira:
ligiacarreira.uem@gmail.com; Vanessa Denardi Antoniassi Baldissera: vanessadenardi@hotmail.com
Resumo
Introdução: O envelhecimento
populacional é um fato marcante neste século e impactou na organização social e
dos serviços de saúde, necessitando de ampliação dos serviços prestados a este
grupo etário especialmente no que se refere à educação e promoção da saúde. Objetivo: Descrever o processo
contextualizado e participativo da construção de uma gerontotecnologia
educativa na atenção básica sobre acidente vascular cerebral. Material e métodos: Pesquisa de
desenvolvimento metodológico, com abordagem qualitativa, elaborada a partir das
demandas de idosos usuários de uma unidade básica de saúde. Foi construído um
vídeo educativo validado por experts na área e por idosos. Resultados: Os resultados foram organizados em: a elaboração da gerontotecnologia educativa; a adequação por juízes; e roda
de conversa e adequação pelos idosos participantes. A elaboração participativa
e dialogada de uma gerontotecnologia auxilia no
processo de ensino-aprendizagem dado seu potencial educativo, por pautar-se nas
necessidades reais dos idosos. Conclusão:
O percurso metodológico de construção e adequação da gerontotecnologia
educativa na temática acidente vascular cerebral
mostrou-se oportuna e possível para abordagem de idosos em sala de espera de
unidades básicas de saúde.
Palavras-chave: idosos,
participação do paciente, Enfermagem, tecnologia educacional.
Abstract
Participatory construction of a gerontechnology
on stroke
Introduction: Population aging is a marked fact in this century and has influenced
the social organization and health services, therefore, an increase in the
services provided to this age group especially in what concerns education and
health promotion is needed. Objective:
To describe the contextualized and participatory process of the construction of
an educational gerontechnology in the basic attention
on stroke. Methods: Methodological
research with a qualitative approach, which was elaborated from the demands of
elderly users of a Basic Health Unit. An educational video was constructed and
validated by experts in the field and by the elderly. Results: The results are organized in: the elaboration of
educational gerontechnology, the adequacy by judges,
and round of conversation and adaptation by the elderly participants. The
participatory and dialogued elaboration of a gerontechnology
helps the teaching-learning process given its educational potential, because
was based on the real needs of the elderly. Conclusion:
The methodological course of construction and adequacy of the educational gerontechnology in the subject of cerebral vascular
accident proved to be opportune and possible to approach the elderly in the
waiting room of basic health units.
Key-words: aged,
patient participation nursing, educational technology.
Resumen
Construcción participativa de una
gerontotecnología sobre accidente
vascular cerebral
Introducción: El envejecimiento
de la población
es un hecho notable en este siglo e impactó en la organización
social y de los servicios
de salud, necesitando de ampliación de los servicios prestados a este grupo de edad
especialmente en lo que se refiere a la educación
y promoción de la salud. Objetivo: Describir el
proceso contextualizado y participativo de la construcción de una gerontotecnología educativa en la atención básica sobre accidente vascular cerebral. Material y métodos: Investigación de desarrollo
metodológico, con abordaje cualitativo. Elaborada a partir de las
demandas de personas mayores usuarias
de una Unidad Básica de Salud.
Se construyó un video educativo validado por expertos en
el área y por ancianos. Resultados:
Los resultados fueron organizados en:
la elaboración
de la gerontotecnología
educativa; la adecuación
por jueces; y rueda de conversación y adecuación por los adultos mayores
participantes. La elaboración participativa y
dialogada de una gerontotecnología auxilia en el proceso de enseñanza-aprendizaje
dado su potencial educativo, por pautarse
en las necesidades
reales de los adultos mayores. Conclusión: El recorrido metodológico de construcción
y adecuación de la
gerontotecnología educativa en
la temática accidente
vascular cerebral se mostró oportuna y posible para el abordaje de mayores en sala de espera de Unidades Básicas de Salud.
Palabras-clave: anciano,
participación del
paciente, Enfermería, tecnología
educacional.
O envelhecimento
populacional é um fato marcante do século XXI em todo o mundo. No Brasil, a
população idosa - indivíduos com mais de 60 anos - são o segmento populacional
que mais aumenta, com taxas de crescimento de mais de 4% ao ano, o que
totalizará no ano de 2030, cerca de 41,5 milhões de pessoas e 73,5 milhões em
2060 [1,2].
Essa alteração
demográfica se deu pela evolução científica, tecnológica e social que ocorreu
no século passado e levou ao aumento na expectativa de vida e diminuição da
morbimortalidade, que aliados à diminuição da natalidade levam ao progressivo
envelhecimento da população mundial. Esse novo contingente populacional alterou
as necessidades sociais e de saúde da população, tornando-se um grande desafio
organizar os serviços de saúde para atender a população idosa, mantê-la
saudável, ativa e promover sua saúde [2,3].
A longevidade é um
fenômeno que reflete a qualidade da assistência à saúde, contudo o país possui
alta incidência e mortalidade por doenças evitáveis e crônicas, como as
cardiovasculares, as quais são responsáveis por 29,4% das mortes do país, sendo
os homens com idade média de 56 anos os principais acometidos. Estas doenças
acometem o coração e as artérias e as principais são: infarto agudo do
miocárdio e acidente vascular cerebral, além de arritmias cardíacas, isquemias
ou anginas [4,5]. Desta forma, as doenças cardiovasculares causam grande
impacto nos indicadores de saúde e na qualidade de vida da população,
necessitando de ações de saúde específicas e eficientes.
Dentre as ações de
cuidado ao idoso e as condições crônicas, a educação emerge no contexto da
saúde como estratégia adequada para a sua promoção, desde que voltada às
necessidades dos indivíduos e com abordagem adequada ao público. As atividades
educativas permitem a elaboração e o fortalecimento da cumplicidade e do
vínculo entre equipe de saúde e população e devem priorizar a autonomia e o empoderamento dos indivíduos. Desta forma, as práticas
educativas integram-se aos cuidados de saúde e de enfermagem para construir
coletivamente os saberes relativos ao processo saúde-doença-cuidado [3,6].
A educação no âmbito
da saúde é considerada como uma estratégia de transformação de práticas e
melhoria do atendimento e da qualidade de vida. O cotidiano da enfermagem é
permeado por diversas práticas educativas, que vão desde a comunicação e empoderamento dos idosos no âmbito dos serviços de saúde à
criação e desenvolvimento de softwares e materiais educativos, e estes são
nomeados de tecnologias educionais [6,7]. Quando se
refere ao público idoso, existe uma nomenclatura nova e própria para as tecnologias
educativas, intitulada de gerontotecnologia,
desenvolvida com a união dos conceitos de tecnologia, gerontologia e
complexidade [7].
Assim, gerontotecnologia é termo mundialmente utilizado e
conceitua todo produto, processo, estratégia, serviço e/ou conhecimento,
desenvolvido com objetivo de promover a autonomia de idosos tendo como
público-alvo os próprios idosos e/ou seus familiares e cuidadores. No âmbito da
educação e da saúde é denominada de gerontotecnologia
cuidativo-educacional, por seu potencial de
contribuir e auxiliar no cuidado e na saúde do idoso. Além do público-alvo
específico, as gerontotecnologias, por seu caráter de
promover autonomia e qualidade de vida, devem ter processo de elaboração
participativo e valorizar as relações, interações e retroações dos participantes permeado pelo sinergismo do conhecimento inter-multi-trans-meta-disciplinar
[7,8], proporcionando cuidado à saúde do ser humano de forma mais
contextualizada e humanizada [9], e construindo um produto educativo – vídeo,
folder, carta, cartilha, outdoor – capaz de promover a aprendizagem
significativa.
Desta forma, a gerontotecnologia educativa é considerada instrumento
disponível para facilitar o processo de ensino-aprendizagem no âmbito da saúde,
proporcionando o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários
para o cuidado, por aglutinar as experiências cotidianas aos conhecimentos
científicos, a fim de provocar intervenções sobre uma situação prática [10].
Dada suas características pedagógicas próprias e atuais, o uso do termo gerontotecnologia faz-se necessário para identificação da
abordagem e do público da atividade ou ação educativa de forma rápida e
específica.
No Brasil estudos
para a construção de gerontotecnologia foram realizados versando sobre cuidados com ostomia [3], doença de
Alzheimer [10], condições crônicas [11], dependência física [12], e no
campo das engenharias [13] na criação de espaços acolhedores aos idosos, as
tecnologias destinaram-se, usualmente, aos idosos e sua família. Contudo, seu
uso ainda é incipiente, necessitando de mais estudos que aborde sua construção
e potencial educativo.
Cabe destacar que gerontotecnologia, no campo da educação é compreendido como
qualquer instrumento novo e educativo que contribua para o cuidado à saúde do
idoso. E que foi elaborado considerando as características do processo de
envelhecimento e do processo saúde/doença dos idosos envolvidos a fim de que o
instrumento seja capaz de facilitar e/ou contribuir para o cuidado ou autocuidado,
corresponsabilidade e coparticipação do idoso e sua família [12].
Dado o potencial
educativo da gerontotecnologia, se faz necessário
expandir o conceito e aplicabilidade da mesma de modo que as inovações e o uso
criativo dos instrumentos disponíveis para estimular o pensamento crítico sejam
frequentes nas práticas educativas em saúde. Esta tecnologia educativa
corrobora as necessidades de atendimento personalizado ao idoso, pois o
envelhecimento populacional traz novas perspectivas de gestão e de cuidado que
devem ser abarcadas pelos profissionais de saúde.
Diante da gerontotecnologia como nova estratégia educativa e de
cuidado que impacta positivamente na educação em saúde aos idosos e com a
presença frequente dos mesmos nas atividades desenvolvidas na atenção primária
à saúde, encontra-se campo fértil e aberto à construção de gerontotecnologias
delineadas nos anseios dos idosos.
Para tanto,
objetivamos descrever o processo contextualizado e participativo da construção
de uma gerontotecnologia educativa na atenção básica
sobre acidente vascular cerebral.
Tratou-se de uma
pesquisa de desenvolvimento metodológico, com abordagem qualitativa. As
pesquisas desse tipo almejam desenvolver, adequar, avaliar ou aprimorar um
instrumento metodológico, por meio da obtenção, organização e análise de dados
[14]. Podem ser utilizadas para avaliar a solidez, confiabilidade e
adequabilidade de técnicas de pesquisa ou recursos educativos [15,16].
Desta forma, é o tipo
de pesquisa adequada para a construção e adequação de gerontotecnologias
[14,16]. Cumpre destacar que o levantamento da demanda educativa foi realizado
em estudo anterior, em um projeto de iniciação científica, que elencou as
temáticas de preferência de 40 idosos de uma Unidade Básica de Saúde escolhida
de forma intencional por possuir vínculo com a Instituição de Ensino,
localizada no Noroeste do Estado do Paraná. Os idosos foram abordados na sala
de espera da unidade enquanto aguardavam atendimento por demanda espontânea ou
oferta programada.
Estes 40 idosos foram
escolhidos aleatoriamente enquanto aguardavam atendimento na unidade, destes 24
são do sexo feminino (60%) e 16 do sexo masculino (40%), a média de idade dos
participantes foi de 72 anos, o nível de escolaridade predominante foi ensino
fundamental incompleto, totalizando 15 (37,5%) idosos. A maioria (N=25-62,5%)
dos idosos eram casados, e consequentemente moravam
com seus companheiros, usualmente com mais um familiar seja ele neto (a) ou
filho (a).
Os dados foram
coletados durante os meses de janeiro a março de 2016, por meio de entrevista
semiestruturada, utilizando-se como instrumento um roteiro elaborado pelas
pesquisadoras, dividido em duas partes: a primeira para coletar dados
referentes à caracterização sociodemográfica e a
segunda com questões abertas referentes às demandas educativas dos idosos. Os
depoimentos foram gravados e transcritos na íntegra, e analisados.
As demandas
educativas apontadas foram: etilismo, Diabetes mellitus, chikungunya,
hipertensão arterial e acidente vascular cerebral (AVC), sendo esta última a escolhida como temática para a elaboração da gerontotecnologia por apresentar maior frequência e se
tratar de uma doença relevante à fase do envelhecimento, por sua alta
incidência e associação com outras morbidades.
A forma e o local de
apresentação da gerontotecnologia foram definidos
pelas pesquisadoras com auxílio dos profissionais da unidade de saúde
considerando a organização e estrutura da mesma. Desta forma, a apresentação
audiovisual na sala de espera foi escolhida pela facilidade e amplitude de
ação, já que a referida unidade possui aparelho televisor fixo no ambiente e
este espaço possui alto fluxo de pessoas, especialmente idosas.
O presente estudo
metodológico, portanto, pautou-se nesta demanda educativa levantada
previamente. Participaram da pesquisa como avaliadores da gerontotecnologia
elaborada, três profissionais com experiência na área de gerontologia. Para
formação desse grupo, foi solicitada a indicação de profissionais capacitados à
orientadora do projeto e professora do departamento de enfermagem da
Universidade Estadual de Maringá. Como rigor para adequação,
foram convidados profissionais com experiência na construção ou
avaliação de materiais educativos.
Para tanto,
elaboramos este instrumento ancorado nos pressupostos de Manzini [17],
dividindo-o em duas partes para sua análise: 1) Análise da forma, sequência e
abrangência dos slides; 2) Análise da ação verbal dos textos utilizados nos
slides.
Após a adequação
pelos profissionais juízes, os idosos presentes na sala de espera da UBS em que
a demanda educativa foi levantada, participaram de uma roda de conversa mediada
pela gerontotecnologia elaborada, permitindo que
também participassem da adequação da forma e conteúdo da mesma.
O estudo em tela, por
fazer parte de um estudo maior, possui aprovação do Comitê Permanente de Ética
em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Maringá (parecer
nº 875.081, CAE 37457414.6.0000.0104), e seguiu todos os preceitos éticos
vigentes na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
Os resultados estão
organizados seguindo o processo de construção da gerontotecnologia,
o qual foi permeado pelo diálogo e pela participação dos envolvidos a fim de
que o material possuísse maior proximidade com a realidade e atendesse seu
potencial educativo.
A
elaboração da gerontotecnologia educativa
Para a construção da
tecnologia educativa o idoso foi considerado participante ativo do processo de
aprendizado. Portanto, a construção da gerontotecnologia
foi conduzida de acordo com as demandas elencadas previamente, buscando a
transversalidade de saberes e práticas e a promoção da saúde.
Assim, para a
construção de cada etapa da gerontotecnologia
educativa e seu processo de adequação, utilizou-se abordagem dialógica por
valorizar o conhecimento e demandas apresentadas pelos participantes.
Após a escolha da
temática, AVC, a gerontotecnologia educativa foi
construída utilizando como recurso didático a apresentação audiovisual
elaborada no programa Power Point, versão 2010, do pacote Microsoft®, o qual
permite elaborar apresentações com imagens, textos e áudios formando um vídeo.
Assim, o conteúdo
educativo foi organizado em 18 slides, formato escolhido por ser de fácil
manuseio e por permitir inserções dinâmicas, com a organização de imagens e
textos, a fim de apresentar de forma didática, acessível e clara o conteúdo
abordado. Ainda, utilizou-se o recurso de gravação de áudio utilizando a fala
da própria autora e finalizou-se formando um vídeo.
Para a organização
dos conteúdos as pesquisadoras fizeram leitura sobre a fisiopatologia do AVC em
literatura atual e pertinente, organizando os dados em: significado do termo
AVC; função dos vasos sanguíneos; permeabilidade dos vasos sanguíneos; tipos de
AVC; fatores de risco para o AVC e suas contribuições para o desenvolvimento da
doença; sinais e sintomas do AVC; e prevenção do AVC e dos agravos.
Dessa forma, a
tecnologia foi elaborada respeitando a sequência dos fatores desencadeantes do
AVC em nosso organismo. Tal organização favoreceu melhor entendimento dos
participantes e ampliação das discussões no local do estudo.
Para a escrita dos
slides foi utilizada linguagem simples e acessível ao público, por meio do uso
de frases curtas e pela alternância entre a palavra escrita e imagens, a fim de
facilitar a compreensão das informações e do material. Utilizaram-se
comparações para facilitar o entendimento do conteúdo, como os vasos sanguíneos
comparados às rodovias, buscando a associação de conhecimentos teóricos e
práticos que possam contribuir efetivamente para o aprendizado e a qualidade de
vida.
A
adequação por juízes
O material na versão
de vídeo foi avaliado para adequação por experts na área. Para tal, foram
escolhidos três juízes com experiência na temática e no desenvolvimento de
tecnologias educativas, estes são enfermeiros com doutorado na área da saúde e
atuantes na docência. Para tal enviou-se por e-mail um convite formal para
participação no estudo e após o aceite foram enviadas as instruções sobre o
trabalho e o processo de adequação, o instrumento de adequação e a gerontotecnologia elaborada.
Os juízes avaliadores
enviaram as sugestões de alterações no texto: grafia, gramática, tipo e
localização das imagens, cinco dias após o envio da gerontotecnologia,
a fim de melhorar a aplicabilidade do conteúdo ao público alvo, buscando
atingir o objetivo inicial.
As sugestões dos
experts se pautaram em: reorganização dos ícones de áudio e das figuras;
definir como padrão cor do fundo preta e da fonte branca; padronizar o tipo e
tamanho de fonte em todos os slides; e substituir alguns textos para linguagem
de fácil compreensão para leigos.
O instrumento de
adequação foi elaborado seguindo as premissas de Mazini [17] e continha espaço
para identificação profissional e um quadro para avaliação de cada slide com
escala do tipo Likert (insatisfatório, parcialmente
satisfatório, satisfatório e altamente satisfatório), solicitando-se justificar
quando assinalado insatisfatório ou parcialmente satisfatório. Quando pelo
menos um dos juízes apontou parcialmente satisfatório ou insatisfatório foi
considerada discordância entre os juízes [11].
Dessa forma, doze
slides não necessitaram de alteração e seis slides foram reescritos, seguindo
as sugestões feitas pelos juízes especialistas, a fim de garantir o
aperfeiçoamento da gerontotecnologia.
Roda de
conversa e adequação pelos idosos participantes
Após a adequação da gerontotecnologia educativa pelos profissionais, foi
realizada uma roda de conversa com os idosos que aguardavam atendimento na sala
de espera da unidade de saúde. A gerontotecnologia
educativa foi apresentada e iniciada discussão reflexiva sobre o tema e a forma
da tecnologia, realizando o levantamento de sugestões e adequações na
perspectiva dos idosos.
Em seguida, foi
realizada adequação de aparência e conteúdo seguindo os apontamentos dos
idosos. Por fim, os idosos aprovaram a gerontotecnologia
reconhecendo-a como instrumento terapêutico capaz de veicular conhecimento e
aprendizagem ampliando sua compreensão sobre o processo saúde-doença.
Durante a roda de
conversa, os participantes referiram que os slides foram capazes de atingir o
objetivo proposto, pois as palavras utilizadas foram adequadas e objetivas, os
slides estavam organizados de modo dinâmico e o assunto foi considerado de
extrema importância para o cotidiano. Relataram também, que a forma como foi
aplicada a gerontotecnologia – vídeo na televisão da
sala de espera - deveria ser mais utilizada, pois é rápida e fácil facilitando
o processo de ensino-aprendizado de temas relativos à saúde.
Referiram também, que
o alerta para os riscos que as doenças podem causar e como elas agem no
organismo foram de grande valia, pois desconheciam esse tipo de informação e
não sabiam quais eram os sintomas e como identificar uma pessoa que está
sofrendo um AVC próximo a eles, e que a gerontotecnologia
contribuiu para a prevenção e identificação precoce do AVC.
As discussões que
ocorreram na roda de conversa evidenciaram que os participantes possuem
entendimento de que os comportamentos de um indivíduo geram reflexos para a sua
saúde. Assim, as pessoas são responsáveis pelo seu autocuidado a fim de evitar
doenças ou amenizar as consequências em seu corpo. Portanto, o desenvolvimento
do cuidado gerontológico deve pautar-se na
compreensão do idoso enquanto cidadão e protagonista do seu cuidado e/ou
tratamento. E para ser emancipador e verdadeiramente promotor da saúde deve-se
romper com a lógica culpabilista hegemônica durante
os processos educativos, como almejou este estudo.
A elaboração
participativa de uma gerontotecnologia auxiliou no
processo de ensino-aprendizagem dado seu potencial educativo, pois se pautou
nas demandas reais dos idosos. Quando se utiliza de ferramentas tecnológicas de
informação e comunicação têm-se potencial para ampliar as práticas
colaborativas e aprendizagem autônoma [15]. Entre as diversas ferramentas, o
uso de vídeos educativos ganha destaque com o público
idoso, especialmente quando construído especificamente para eles e sua vantagem
foi reafirmada no estudo em tela [18,19].
O rigor metodológico
e científico da construção da gerontotecnologia
garante seu potencial educativo e a difere de materiais educativos
convencionais, pois é feita – forma e conteúdo – direcionada para o público
específico [8,12], com respaldo pedagógico e da saúde, no caso.
Neste contexto, o uso
do Microsoft Power Point® para a construção dos slides e do vídeo possibilitou
desenvolver uma tecnologia adequada e de fácil compreensão. Por tratar-se de
uma ferramenta de baixo custo e de fácil manuseio, permitiu construir uma
tecnologia educativa de qualidade, atestada por juízes experts e representantes
do público-alvo. Este processo foi fundamental para garantir a eficácia
educativa do material [18,20].
Acrescenta-se que o
uso da tecnologia audiovisual possivelmente repercutirá de modo positivo no
conhecimento e no autocuidado dos idosos e das famílias, pois permitiu ilustrar
e complementar os conhecimentos já existentes [17]. De fato, argumenta-se que
os recursos audiovisuais são potentes instrumentos didáticos e tecnológicos que
aglutinam, em um único objeto de promoção do conhecimento, vários elementos,
tais como: imagens, texto e som, estimulando o conhecimento, a autonomia e a
consciência crítica [18-20], tal qual apreendemos nesse percurso.
Desta forma, a gerontotecnologia desenvolvida de forma dialógica e
participativa apresenta-se como estratégia capaz de estimular o autocuidado e o
cuidado de si pelo empoderamento do idoso, emergindo
como inovação para a promoção da saúde e a emancipação dos envolvidos [21-24].
Quanto ao recurso
didático, o vídeo elaborado pelas pesquisadoras é uma estratégia que facilita e
potencializa o processo de ensino-aprendizado por apresentar de forma clara e
dinâmica informações complexas e de atrelar saberes
científicos e fisiopatológicos com saberes populares e vivenciados,
permeado pela discussão da temática na perspectiva dos envolvidos, garantindo a
proximidade do tema e da linguagem com o universo pesquisado [20,21].
A adoção da
estratégia pedagógica baseada em dinâmicas de grupo para eleger a demanda
educativa e para validar a gerontotecnologia
elaborada propiciou o encontro do saber técnico-científico com a realidade
vivenciada rompendo-se com o modelo tradicional e vigente no campo da saúde, o
da transmissão de informações. Desse modo, inseriu-se a abordagem dialógica no
contexto da saúde, esta considera que tanto o educador quanto o educando
possuem conhecimentos e experiências que devem ser considerados durante a
prática educativa [22] e enriquecem e dão sentido ao processo de
ensino-aprendizagem e ao cuidado.
Pautando-se na dialogicidade e na imersão na realidade, a sala de espera
da unidade foi o local de estudo escolhido para o levantamento dos temas e
adequação da gerontotecnologia pelos idosos, por se
tratar de um espaço dinâmico de encontro daqueles que buscam ou aguardam
qualquer tipo de atendimento na atenção básica, e que possibilita o encontro e
o diálogo dos usuários e dos profissionais, além da comunhão da sociedade com o
serviço [23].
A abordagem em grupo
foi a estratégia escolhida para estimular o diálogo e
a comunhão dos idosos e profissionais, pois se delineia nas necessidades e
saberes dos envolvidos sendo a principal estratégia educativa utilizada para a
promoção da saúde preconizada pelas políticas de saúde que se referem a
educação popular, especialmente para a população idosa [9,13,21].
Além disto, as
atividades em grupos possibilitam ampliar o cuidado, por vezes focado na
atenção individual e centradas no controle das doenças crônicas, e
potencializar uma abordagem mais abrangente de saúde por meio do diálogo, do
vínculo e da construção coletiva, fortalecendo a rede de apoio social e
mobilizando as pessoas na busca de autonomia e autocuidado [21].
O percurso
metodológico de construção e adequação da gerontotecnologia
educativa na temática acidente vascular cerebral
mostrou-se oportuna e possível para abordagem de idosos em sala de espera de
Unidades Básicas de Saúde.
O caráter dialógico
foi preservado, bem como a participação efetiva do público-alvo, fazendo-o
ativo no processo de educação em saúde.
Durante o encontro,
notou-se que os participantes não possuíam conhecimento sobre a fisiopatologia
da doença apresentada, nem a associação dos fatores de risco com a doença. A gerontotecnologia possibilitou inserir e reforçar os
conhecimentos pré-existentes e também estimulou reflexão sobre as repercussões
do AVC.
O estudo demonstra
que a construção de gerontotecnologias educativas no
contexto de trabalho e voltado às necessidades da população é possível, pode
ser feito com recursos relativamente simples e acessíveis, e deve ser
estimulado entre os profissionais de saúde, pelo seu potencial transformador.
Os aspectos
limitantes do estudo foram o pequeno número de idosos que participaram da roda
de conversa para adequação da gerontotecnologia, em
virtude de faltas frequentes nas consultas previamente agendadas na unidade de
saúde, e a escolha da temática por tratar-se de uma demanda local.
Cabe destacar a
importância de se adotar e difundir o uso do termo gerontotecnologia
para facilitar a localização de estudos que buscam desenvolver tecnologias
específicas aos idosos, com características de manter a autonomia e qualidade
de vida dos mesmos.
À Secretaria
Municipal de Saúde de Maringá e aos integrantes do “Grupo de Estudos e
Pesquisas em Práticas Educativas em Saúde” pelo apoio, parceria e colaboração.
E ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela
bolsa de iniciação cientifica para a realização desse estudo.