ARTIGO
ORIGINAL
Fatores
de risco/causais para insuficiência renal aguda em adultos internados em
terapia intensiva
Daniele Lopes*,
Letícia da Silva Schran**, João Lucas Campos de
Oliveira, D.Sc.***, Rafaela Bramatti Silva Razini Oliveira, M.Sc.****, Luciana Magnani
Fernandes, D.Sc.*****
*Enfermeira,
Pós-Graduanda do Programa de Residência em Gerenciamento de Enfermagem em
Clínica Médica e Cirúrgica da Universidade Estadual do Oeste do Paraná
(UNIOESTE), Cascavel/PR, **Enfermeira, Pós-Graduanda do Programa de Residência
em Gerenciamento de Enfermagem em Clínica Médica e Cirúrgica da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR, ***Enfermeiro, Docente
colaborador dos cursos de Graduação em Enfermagem e Residência em Gerenciamento
de Enfermagem em Clínica Médica e Cirúrgica da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/PR, ****Enfermeira, Coordenadora do curso de
Graduação em Enfermagem da Faculdade Assis Gurgacz
(FAG), Cascavel/PR, *****Enfermeira, Professora associada ao Colegiado de
Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Cascavel/ PR
Recebido em 28 de setembro
de 2017; aceito em 21 de janeiro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Letícia da Silva Schran, Rua Aimorés, 562 Santo
Onofre 85806330 Cascavel PR, E-mail: le_schran@hotmail.com; Daniele Lopes:
lopes.daniele@outlook.com; João Lucas Campos de Oliveira:
enfjoaolcampos@yahoo.com.br; Rafaela Bramatti Silva Razini Oliveira: rafaelabramatti@hotmail.com; Luciana Magnani Fernandes: lumagna@terra.com.br
Resumo
Objetivo: Identificar
principais fatores de risco/causais para Insuficiência Renal Aguda (IRA) entre
adultos em tratamento hospitalar intensivo e hemodiálise. Material e métodos: Estudo transversal, descritivo, retrospectivo e
documental com abordagem quantitativa. Analisaram-se 77 prontuários de
pacientes elegíveis que estiveram internados no período de janeiro de 2015 a
dezembro de 2016. Aos dados tabulados, procedeu-se análise estatística
descritiva. Resultados: A amostra era
prevalente do sexo masculino (55,84%). Quanto aos fatores de risco para IRA,
foram identificados, entre outros: hipertensão arterial sistêmica (36,36%);
diabetes mellitus (20,78%) e ventilação mecânica (100%). Houve uso de droga
vasoativa em 61% da amostra, e apenas nove pacientes não usaram antibióticos.
As complicações dialíticas ocorreram em 40,26% dos casos, com enfoque para
hipotensão arterial. A taxa de moralidade foi de 71,43%. Conclusão: Os fatores de risco para IRA são diversos, enfatizados
em comorbidades clínicas e itens relacionados ao
tratamento intensivo.
Palavras-chave: lesão renal aguda,
diálise renal, unidades de terapia intensiva, fatores de risco, cuidados de
enfermagem.
Abstract
Risk/causal factors for acute renal insufficiency in adults in intensive
therapy
Objective: To identify
the main risk/causal factors for Acute Renal Failure (ARF) among adults in intensive
hospital treatment and hemodialysis. Methods:
cross-sectional, descriptive, retrospective and documentary study with a
quantitative approach. We analyzed 77 charts of eligible patients who were
hospitalized in the period from January 2015 to December 2016. To the tabulated
data, a descriptive statistical analysis was performed. Results: the sample was prevalent male (55.84%). Regarding the risk
factors for ARF, we identified, among others: systemic arterial hypertension
(36.36%); diabetes mellitus (20.78%) and mechanical ventilation (100%). There
was vasoactive drug use in 61% of the sample, and only nine patients did not
use antibiotics. Dialytic complications occurred in
40.26% of the cases, with a focus on hypotension. The morality rate was 71.43%.
Conclusion: The risk factors for ARI
are diverse, emphasized in clinical comorbidities and items related to
intensive care.
Key-words: acute kidney
injury, renal dialysis, intensive care units, risk factors, nursing care.
Resumen
Factores de riesgo/causales para insuficiencia renal aguda en
adultos internados en terapia intensiva
Objetivo: Identificar principales factores de riesgo/causales para la Insuficiencia
Renal Aguda (IRA) entre adultos en tratamiento hospitalario
intensivo y hemodiálisis. Material y métodos: Estudio transversal, descriptivo, retrospectivo y documental con
abordaje cuantitativo. Se analizaron 77 prontuarios de
pacientes elegibles que estuvieron
internados en el
período de enero de 2015 a diciembre
de 2016. A los datos
tabulados, se procedió a análisis
estadístico descriptivo. Resultados: La muestra era prevalente del sexo masculino (55,84%). En cuanto a los
factores de riesgo para
IRA, fueron identificados, entre otros:
hipertensión arterial sistémica (36,36%); diabetes
mellitus (20,78%) y ventilación mecánica
(100%). Hubo uso de droga vasoactiva
en el
61% de la muestra, y sólo nueve pacientes no usaron antibióticos. Las complicaciones dialíticas ocurrieron
en el
40,26% de los casos, con
enfoque para hipotensión arterial. La tasa de moralidad fue de 71,43%. Conclusión: Los factores de riesgo para IRA son diversos,
enfatizados en comorbilidades
clínicas e ítems relacionados al
tratamiento intensivo.
Palabras-clave: lesión
renal aguda, diálisis renal, unidades de terapia intensiva,
factores de riesgo,
cuidados de enfermería.
Alguns
tipos de
tratamento e, principalmente, hospitalizações por longos
períodos podem levar a
complicações correlatas à situação
clínica do indivíduo, ao exemplo da doença
renal (DR), que pode se manifestar aguda ou cronicamente [1,2]. A DR
ocorre
quando os rins se tornam incapazes de remover produtos de
degradação metabólica
ou de realizar suas funções reguladoras de volume de
líquidos – que culminam na
excreção urinária – o que determina a
necessidade de terapias de substituição
da função renal [1-3].
A Insuficiência Renal
Aguda (IRA) é uma das complicações mais comuns no ambiente hospitalar e sua
incidência varia de acordo com a gravidade clínica do paciente [4]. É uma patologia
complexa, de etiologias múltiplas, caracterizada pela rápida queda da
capacidade dos rins em retirar os produtos de degradação do organismo, o que
causa distúrbios hídricos, eletrolíticos e acidobásicos [1-4].
Com o avançar da
idade, a progressão da lesão vascular pode ser um fator de risco importante
para IRA, já que esta pode estar relacionada a outros fatores, como a
hipertensão arterial sistêmica (HAS) e aterosclerose, sendo essas doenças mais
comuns em idosos [5]. Ademais, a nefrotoxicidade
também é considerada um fator de risco para o desenvolvimento da IRA, uma vez
que causa alterações renais, funcionais ou estruturais decorrentes das ações de
produtos químicos [6].
O tratamento inicial
da IRA varia de acordo com o grau de acometimento da doença. As medidas
terapêuticas iniciais devem estar voltadas para a correção de volemia,
restabelecimento do equilíbrio eletrolítico, controle das manifestações urêmicas e um rigoroso controle hidroeletrolítico e
nutricional, além da correção do distúrbio acidobásico [2]. Quando estas
condutas terapêuticas se tornam insuficientes ou incapazes de manter uma
condição clínica compatível com a vida, a terapia renal substitutiva deve ser implementada através da diálise peritoneal ou da hemodiálise
[2,7].
A hemodiálise como
terapia de substituição renal é mais amplamente difundida nos serviços clínicos
ambulatoriais e hospitalares, incluindo as Unidades de Terapia Intensiva (UTI)
no manejo do doente gravemente enfermo e acometido pela injúria renal, contudo,
a mortalidade da IRA dialítica é muito superior se comparada à
não dialítica [7].
As complicações mais
frequentes nas sessões de hemodiálise são: hipo e/ou
hipertensão arterial, câimbras, náuseas, vômitos, cefaleia, arritmias
cardíacas, prurido, dores lombar e torácica [8]. Essas complicações podem ser
casuais e/ou de fácil manejo, o que depende das condições clínicas do paciente.
Todavia, podem ser fatais, o que evidencia a
necessidade de assistência de enfermagem atenta e precisa aos pacientes durante
o período dialítico, visando a integralidade e segurança no cuidado
sistematizado [1,9].
A assistência de
enfermagem ao doente renal deve basear-se, inclusive, na monitorização das
complicações, participar no tratamento das emergências hidroeletrolíticas, avaliar a evolução do paciente ao tratamento e fornecer o
apoio físico e emocional, coadunando ao cuidado individualizado [9]. Para que
isso aconteça, deve-se ter claro que o processo de enfermagem necessita de
muita dedicação [5].
Posta a necessidade e
a importância de tratar e prevenir a IRA, principalmente no contexto de UTI,
postula-se que o conhecimento de fatores de risco que determinam a causalidade
da doença nos serviços de cuidados intensivos é muito relevante, pois tende a
favorecer a prática baseada em evidências e a viabilização de diretrizes para
condutas/cuidados de forma respaldada. Dito isso, os estudos na problemática
enunciada se tornam inegavelmente relevantes, culminando-se à pergunta: Quais
são os principais fatores de riscos/causais para IRA em adultos internados em
UTI que tiveram hemodiálise como tratamento? Portanto, objetivou-se identificar
principais fatores de risco/causais para IRA entre adultos em tratamento
hospitalar intensivo e hemodiálise.
Trata-se de um estudo
transversal, descritivo, retrospectivo, documental de abordagem quantitativa.
Foi realizado na UTI para adultos de um hospital universitário público do
interior do Paraná, Brasil, que conta com 210 leitos exclusivos ao Sistema
Único de Saúde (SUS). Por sua vez, a UTI de inquérito possui 14 leitos de
tratamento intensivo geral, sendo cinco destinados à hemodiálise, conforme
necessidade da clientela.
A população foi
composta pelos prontuários dos pacientes internados na UTI no período de
janeiro de 2015 a dezembro de 2016. A amostra compreendeu os sujeitos que
atenderam os seguintes critérios de elegibilidade: ter o diagnóstico de IRA sem
histórico da doença crônica; usado hemodiálise como item de tratamento; e ter 18
anos ou mais de idade. Recrutou-se o total de 102 prontuários, e, aplicando-se
os critérios de inclusão/exclusão, 15 pacientes foram excluídos da pesquisa,
pois cinco deles tinham menos de 18 anos de idade e 10 já tinham um diagnóstico
prévio de Insuficiência Renal Crônica (IRC). Não houve cálculo amostral, pois a
intenção foi atingir um senso da população atendida no recorte temporal
estabelecido. Logo, a amostra constou de 77 prontuários de pacientes assistidos
na UTI no período.
Para definição dos
fatores de risco para IRA, primeiramente foi realizado um levantamento
bibliográfico de estudos publicados em português sendo encontrados 61 estudos
sobre o assunto estudado nos seguintes bancos de dados: Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific
Electronic Library Online (SciELO), Base de Dados de Enfermagem (BDENF),
Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Biblioteca Cochrane e
Índice Bibliográfico Espanhol de Ciências da Saúde (IBECS).
Para subsidiar o
levantamento bibliográfico foram usados os seguintes descritores: Hemodiálise,
Unidades Hospitalares de Hemodiálise, Lesão Renal Aguda, Unidade de Terapia Intensiva Adulto, Insuficiência Renal, Fisiologia Renal,
Cuidados de Enfermagem, pesquisados nos dicionários de Descritores em Ciência
da Saúde (DeCS), juntamente com o conector booleano
AND. Foram encontrados 61 estudos publicados sobre o assunto estudado. Este
levantamento permitiu a identificação prévia dos fatores de risco mais comuns
para a IRA em pacientes internados em UTI. Como o levantamento da literatura
não correspondeu ao objetivo fixado deste estudo, optou-se
por não descrever os seus resultados detalhadamente, uma vez que este processo
foi usado a fim de obter consistência na identificação dos fatores de risco
para IRA na pesquisa de campo.
Os dados foram
coletados entre maio e junho de 2017. Para isso, foi elaborado um formulário
próprio para a extração das seguintes variáveis: sexo; idade; fatores de risco
para IRA (incluindo comorbidades e intervenções
clínicas); informações acerca da hemodiálise (nº de sessões e intercorrências)
e desfecho do quadro paciente (alta da UTI; transferência ou óbito).
Após a coleta, os
dados foram registrados em planilhas eletrônicas do software Microsoft Office
Excel, versão 2010. Neste aparato tecnológico, empregou-se a análise dos dados
por meio de estatística descritiva em medidas de proporção. Além disso, para
análise das variáveis quantitativas foram calculadas medidas de tendência
central e amplitude.
Ressalta-se que este
estudo foi submetido e aprovado por Comitê de Ética em
Pesquisa institucional, levando-se em consideração as normas éticas para
pesquisas envolvendo seres humanos. Logo, recebeu parecer de número 2.072.098/2017
e está registrado nacionalmente por CAAE: 67953717.9.0000.0107.
Da amostra de 77
prontuários, 55,84% pacientes (n = 43) eram do sexo masculino, e os demais
44,16% (n = 34) do sexo feminino. A média de idade foi de 54,76 anos para as
mulheres com variância entre 25 e 80 anos e de 47,67 anos para os homens, com
variabilidade entre 18 e 78 anos. A faixa etária de maior prevalência foi de 41
a 50 anos (29,41%). Do total, 36,36% (n = 28) dos pacientes apresentaram mais
de 10 dias de internação hospitalar antes de iniciarem a hemodiálise, sendo o
tempo médio de permanência na UTI de 10,5 dias.
Foram identificados
três principais diagnósticos médicos na internação dos pacientes, a saber: dor
abdominal a esclarecer (15,58%; n = 12); rebaixamento de nível de consciência,
com proporção de 12% (n = 9) e Trauma Cranioencefálico
em 6% da amostra (n = 5). A Tabela 1 descreve os achados referentes aos
principais fatores de risco para IRA constatados na amostra
dos pacientes.
Tabela
I – Distribuição dos fatores de risco para IRA
entre pacientes submetidos à hemodiálise, por sexo. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
Os níveis de
creatinina dos pacientes foram avaliados no primeiro dia de internação
hospitalar, e a média da creatinina para os homens no momento da internação foi
de 2,4 ml/dl, com variância entre 0,75 ml/dl e 7,78 ml/dl. Para as mulheres a
média foi de 2,26 ml/dl, com variância entre 0,65 ml/dl e 15,89 ml/dl. Dados
desta ordem são descritos na Tabela II.
Tabela
II –
Distribuição dos exames laboratoriais
entre pacientes com IRA submetidos à hemodiálise, por sexo. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
Entre os pacientes
estudados, 61% (n = 77) fez uso de pelo menos um tipo de droga vasoativa (DVA),
sendo a Noradrenalina (90,9%), a droga principal de escolha. Ainda, pôde-se
observar que a maior parte dos pacientes (n = 38) fez uso de 2
ou 3 tipos de antibióticos, o que está ilustrado na Tabela III.
Tabela
III
– Distribuição dos pacientes com IRA submetidos à hemodiálise, de acordo com número de antibióticos
recebidos. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
Por sua vez, a Tabela
IV descreve quais antibióticos foram empregados, em sua frequência, no
tratamento dos pacientes com IRA. O mesmo paciente pode ter usado diversos
medicamentos.
Tabela
IV –
Distribuição dos antibióticos empregados
no tratamento dos pacientes com IRA submetidos à hemodiálise,
por sexo. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
Todos os pacientes
(100%) realizaram sessões de hemodiálise. Observa-se que a maior prevalência
25,97% (n = 20) dos pacientes realizou mais de 10 sessões durante o internamento,
seguido por 14,28% (n = 11) com apenas uma sessão e 11,69% (n = 9) com três
sessões conforme demonstrado na Tabela V. Vale ressaltar que 100% dos pacientes
que realizaram apenas uma sessão de hemodiálise evoluíram para óbito.
Tabela
V – Distribuição dos pacientes com IRA pela
quantidade de sessões de hemodiálise. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
No presente estudo,
pode-se observar que 40,26% (n = 31) dos pacientes apresentou pelo menos um
tipo de complicação durante a sessão de hemodiálise, sendo a hipotensão
arterial a de maior prevalência conforme aponta a Tabela VI. Um paciente pode
ter apresentado mais de uma intercorrência.
Tabela VI – Distribuição
das intercorrências dialíticas entre pacientes com IRA submetidos à
hemodiálise. Cascavel, 2017.
Fonte: Dados da pesquisa,
2017.
Quanto ao desfecho do
quadro da amostra de pacientes, obteve-se os seguintes
achados: um paciente em transferência hospitalar (1,3%); 21 receberam alta da
UTI (27,27%); e 55 casos de óbito, obtendo-se mortalidade em 71,43% dos
pacientes com IRA tradados com hemodiálise.
Conforme os dados
demonstrados, os homens são muito afetados por este tipo de problema de saúde,
a IRA. A despeito da maior vulnerabilidade e das altas taxas de
morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de
atenção básica com frequência e periodicidade [10-11]. Este achado pode
refletir a maior internação na UTI, e, por consequência, o desenvolvimento de
IRA na população masculina.
O
tempo de internação
hospitalar depende de vários fatores como, por exemplo, a
natureza da doença
básica e as exigências terapêuticas decorrentes das
complicações, além da
evolução clínica, complicações e
agravos ao qual o paciente está sujeito. É habitual
que o tempo de internação em UTI seja curto, sendo
citadas na literatura
permanências médias com duração de 1 dia e de 2 a 4
dias; contudo, há internações de 5 a 10 dias [12,13]. Logo, infere-se que a
média de internação na UTI dos pacientes com IRA foi alta, possivelmente por
sua gravidade clínica, inclusive, refletida na elevada mortalidade.
A hipoperfusão
renal prolongada é a causa mais frequente de IRA, principalmente entre aqueles
que foram submetidos a grandes cirurgias, traumas, hipovolemia grave, sepse e
grandes queimados [14]. Ademais, os principais fatores para IRA demonstrados
corroboram achados anteriores os quais ratificam que os fatores de
risco/causais presentes em pacientes que desenvolveram IRA eram HAS (54,5%),
seguido de DM (27%) [5].
A ventilação mecânica
(VM) constatada em toda a amostra pode gerar consequências imediatas sobre a
função renal, como: diminuição de 20 a 40% do fluxo urinário,
balanço hídrico positivo, retenção de sódio, provocando uma queda do
débito cardíaco e nas alterações humorais e afetando de forma direta ou
indireta a função renal [15].
A VM pode levar à
falência renal aguda por três mecanismos, a saber, efeitos nos gases arteriais;
efeito sobre o fluxo sanguíneo sistêmico e renal e liberação sistêmica de
agentes inflamatórios. A influência sobre a função renal está relacionada com hipoperfusão renal induzida por ventilação mecânica [15].
Destarte, a VM é um importante preditor de
mortalidade em pacientes com IRA na UTI, pois ela é uma importante fonte de
aparecimento de comorbidades [7-16].
Os dados demonstrados
na Tabela II são de grande importância, pois o critério de diagnóstico Risk Injury Failure Loss and
End-Stage Renal Failure
(RIFLE) se baseia na definição de três estágios de IRA (Risk, Injury e Failure),
que têm como base alterações da creatinina sérica juntamente com os valores do
débito urinário, configurando os estágios de disfunção renal [17].
A creatinina sérica é
um importante marcador do estado nutricional e apresenta relações com a
mortalidade de pacientes com enfermidades renais em terapia intensiva [18], bem
como o uso de DVA, que apresenta relação significante com o desenvolvimento de
IRA pela hipoperfusão e isquemia renal, além de
importante fator de risco para mortalidade em terapia intensiva devido à
instabilidade hemodinâmica dos pacientes e em função do mecanismo de
vasoconstrição [18-19].
A noradrenalina é uma
DVA comum em UTI, sendo um vasopressor utilizado em pacientes hipotensos, desde
que não hipovolêmicos [13]. Acerca disso, é visível que a amostra esteve
exposta aos eventos do vasopressor, o que, conforme notado anteriormente,
possui relação direta na perfusão renal, e, consequentemente, predispõe os
pacientes à IRA [18-19].
O número de
antibióticos utilizados por cada paciente é alarmante, uma vez que os
antibióticos podem levar a danos renais pela nefrotoxicidade.
Para esta análise, alguns fatores relacionados aos pacientes
devem ser levados
em consideração como idade, função renal,
função hepática, desidratação, dose
da droga, associação com outros fármacos [20-22].
No entanto, o uso de
antibióticos é uma intervenção rotineira e
necessária ao tratamento dos
pacientes, sendo imprescindível o seu emprego clínico
racional.
A hemodiálise em UTI
é indicada para indivíduos que apresentam estados graves de descompensação
hidroeletrolítica e edema pulmonar, além de estágios avançados de uremia que,
se não tratados imediatamente, podem levar à morte [23]. Várias complicações
podem ocorrer durante as sessões de hemodiálise; e, quanto mais sessões, pior o
prognóstico do paciente devido à gravidade do paciente, instabilidade
hemodinâmica, tipo de IRA e as complicações que podem ocorrer durante as
sessões [2]. Isso posto, percebe-se que a amostra
realmente apresentava gravidade no quadro de IRA, pois o número de sessões
necessárias à hemodiálise foi alto.
Durante as sessões de
hemodiálise podem ocorrer algumas complicações que podem ser extremamente
graves e até fatais [24]. A hipotensão arterial foi a
complicação de maior prevalência durante as sessões de hemodiálise, e trata-se
de um reflexo primário da grande quantidade de líquidos que é removida do
volume plasmático durante uma sessão rotineira de diálise. Em geral, as causas
comuns da hipotensão durante a hemodiálise são: flutuações na velocidade de ultrafiltração; velocidade de ultrafiltração
alta; peso seco almejado muito baixo; medicamentos anti-hipertensivos;
superaquecimento da solução de diálise; ingestão de alimentos; neuropatia
autônoma; isquemia tecidual; disfunção diastólica; frequência cardíaca e
contratilidade [25]. Com isso, postula-se que conhecer a relação/associação das
intercorrências e o perfil dos pacientes pode ser um vislumbre de estudos
futuros.
O prognóstico de IRA
refere-se predominantemente à mortalidade e, com menor índice, à recuperação da
função renal durante a internação hospitalar. A sobrevida é um bom prognóstico
de um paciente com IRA e é muito variável, dependendo de fatores que não
estejam relacionados diretamente à doença renal [7,23]. Logo, esta assertiva
denota claramente o prognóstico clínico ruim dos pacientes assistidos na UTI de
inquérito, pois, inegavelmente, a taxa de mortalidade foi alta.
A atuação do
enfermeiro e da equipe multidisciplinar visa evitar a IRA como complicação da
internação ou minimizar seus efeitos e promover um melhor prognóstico. Algumas
estratégias e ações básicas podem ser utilizadas, como, por exemplo:
monitorização rigorosa do balanço hidroeletrolítico e precauções quanto a dosagem, administração e interação medicamentosa,
principalmente em drogas potencialmente nefrotóxicas [21,22]. Estas ações devem
redundar a avaliação diária da função renal do
paciente crítico, sendo isso uma ferramenta indispensável ao trabalho
qualificado em UTI [26].
O enfermeiro que atua
em UTI presta assistência a pacientes com as mais variadas patologias. Por
isto, faz-se necessário uma constante renovação e apreensão de diversos
conhecimentos para capacitar e qualificar sua equipe. Sobre a IRA, os
enfermeiros, por meio do trabalho sistematizado [27] devem, entre outros, se atentar ao quadro clínico dos pacientes e os achados de
injúria renal (densidade, volume, índice urinário, ureia, creatinina plasmática
e ácido úrico), além de analisar odor, transparência, resíduos e coloração da
urina, contribuindo na determinação da etiologia e na prevenção das
complicações [2]. Isso é importante porque a deficiência de conhecimento sobre
a IRA entre enfermeiros já foi constatada recentemente [28] reforçando que o profissional precisa se munir do saber científico para
intervir de maneira mais eficaz às necessidades dos pacientes que sofre da
injúria.
A IRA pode trazer
como manifestações clínicas, mal-estar inespecífico até um quadro urêmico (náusea, vômitos, sangramento gastrintestinal,
tamponamento pericárdico, dispneia, hipertensão, alterações neurológicas e do
nível de consciência). Os pacientes podem ter sinais e sintomas decorrentes da
doença de base (exemplo: pneumonia com choque séptico, insuficiência cardíaca
grave, etc.) ou da perda de função renal. Os sintomas dependem da gravidade da
insuficiência renal, de sua velocidade de instalação, bem como de sua
etiologia. Como tratam-se de sinais e sintomas
inespecíficos e que podem ser facilmente confundidos com outras patologias,
faz-se necessário uma anamnese e exame físico completo por parte do enfermeiro
e da equipe multidisciplinar, atentando-se principalmente às comorbidades e patologias já existentes, balanço hídrico e
análise minuciosa dos exames laboratoriais [7].
O diagnóstico da IRA
se dá principalmente pelo método laboratorial no qual é avaliado
no sangue a elevação nos níveis de ureia, creatinina, ácido úrico, a
acidose metabólica, hipo ou hipernatremia,
hiperpotassemia, hipo ou hipercalemia e hiperfosfatemia e
anemia normocítica. Na urina, avalia-se a osmolalidade, sódio, creatinina, ureia e sendimentos urinários [23]. Além do diagnóstico médico,
reforça-se, com base no conhecimento levantado neste estudo, que a identificação
de fatores de risco e aspectos que entornam o tratamento do paciente com IRA é
fundamental para que o enfermeiro alavanque estratégias racionais de
assistência, se munindo das informações inerentes à doença, mas também, aos
recursos necessários para o cuidado integral e individualizado.
Por meio deste estudo
foi possível descrever o cenário que envolve o risco/causalidade de IRA em
adultos assistidos em regime hospitalar intensivo. Sobressaíram os seguintes
achados: maior proporção de homens; alta média de dias de internação na UTI;
principais fatores de risco para IRA: hipertensão arterial sistêmica; diabetes
mellitus; ventilação mecânica; uso de drogas vasoativas e
antibióticos. Face ao tratamento de hemodiálise, os pacientes expõem-se
principalmente à hipotensão como intercorrência dialítica. Ademais, a
mortalidade constatada foi elevada.
Com base nos achados,
conclui-se que os fatores de risco para IRA são diversos, enfatizados em comorbidades clínicas e itens relacionados ao tratamento
intensivo. Apesar das limitações do estudo expressas pela impossibilidade de
generalizações e ausência de análise estatística inferencial, acredita-se que
este estudo dá robustez ao arsenal de conhecimento produzido, e reforça a
necessidade de implantação de diretrizes clínicas de cuidado muito bem
mapeadas, o que deve incluir a participação do enfermeiro.