ARTIGO ORIGINAL

“Formando multiplicadores para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis” e impacto na formação de acadêmicos de enfermagem

     

Bianca Beatriz da Silva*, Michele Lemos de Lourdes*, Anneliese Domingues Wysocki, D.Sc.**, Bibiane Dias Parreira Miranda, D.Sc.***, Sueli Riul da Silva, D.Sc.****, Mariana Torreglosa Ruiz, D.Sc.***

 

*Acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), **Professor Adjunto do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), ***Professora Adjunta do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), ****Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Atenção à Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (PPGAS UFTM)

 

Recebido em 13 de outubro de 2017; aceito em 14 de agosto de 2018.

Endereço para correspondência: Mariana Torreglosa Ruiz, Praça Manoel Terra, 330 Câmpus I, Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, 38025-100 Uberaba MG, E-mail: Mariana Torreglosa Ruiz: marianatorreglosa@hotmail.com; Bianca Beatriz da Silva: biancabeatrizsilva1@gmail.com; Michele Lemos de Lourdes: michelemll@hotmail.com; Anneliese Domingues Wyscocki: lilisew@yahoo.com.br; Bibiane Dias Parreira Miranda: bibianedias@yahoo.com.br, Sueli Riul da Silva: sueliriul@terra.com.br.

 

Resumo

Objetivo: Avaliar o conhecimento de acadêmicos de enfermagem, antes e após a vivência de um projeto de extensão que utilizou a estratégia de multiplicadores sobre formas de transmissão, prevenção, sinais e sintomas de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Material e métodos: Estudo descritivo sobre a vivência de um projeto de extensão voltado para prevenção e promoção da saúde com enfoque nas IST, que teve como estratégia didática a transmissão de conhecimento por multiplicadores e foi desenvolvido em uma Universidade Federal pública. Resultados: Os multiplicadores apresentavam conhecimento sobre as vias de transmissão das IST, reconheciam a necessidade de tratamento do parceiro sexual e identificavam como deve ser realizado o diagnóstico de infecção pelo HIV. A participação no projeto aumentou discretamente o número de respostas corretas, assim como o conhecimento sobre as IST e os sinais e sintomas. Verificou-se maior conhecimento de IST que cursam com leucorreia/corrimento e lesões, além do HIV/Aids e necessidade de explorar mais as seguintes IST: infecção por clamídia, HPV e hepatites virais, durante o curso de graduação. Conclusão: Os multiplicadores agregaram novos conhecimentos sobre o tema e a estratégia de multiplicadores mostrou-se efetiva e deve ser estimulada como estratégia didática.

Palavras-chave: doenças sexualmente transmissíveis, estudantes de enfermagem, educação em saúde.

 

Abstract

“Forming multipliers for prevention of sexually transmitted infections” and impact on the training of nursing students

Objective: To evaluate the knowledge of nursing students, before and after the experience of an extension project that used the multiplier strategy, on forms of transmission, prevention, signs and symptoms of Sexually Transmitted Infections (STIs). Methods: A descriptive study about the experience of an extension project aimed at prevention and health promotion with a focus on IST, which had as a didactic strategy the transmission of knowledge by multipliers and was developed at a public Federal University. Results: Multipliers presented knowledge about STI transmission pathways, recognized the need for treatment of the sexual partner, and identified how the diagnosis of HIV infection should be performed. Participation in the project discreetly increased the number of correct responses as well as knowledge about STIs and signs and symptoms. There was a greater knowledge of STIs with leukorrhea / vaginal discharge and lesions, in addition to HIV / Aids and the need to further explore the following STIs: chlamydia infection, HPV and viral hepatitis during the undergraduate course. Conclusion: The multipliers added new knowledge about the theme and the multiplier strategy proved to be effective and should be stimulated as a didactic strategy.

Key-words: sexually transmitted diseases, nursing students, health education.

 

Resumen

“Formando multiplicadores para prevención de infecciones sexualmente transmisibles” e impacto en la formación de académicos de enfermería

Objetivo: Evaluar el conocimiento de académicos de enfermería, antes y después de la vivencia de un proyecto de extensión que utilizó la estrategia de multiplicadores, sobre formas de transmisión, prevención, signos y síntomas de Infecciones Sexualmente Transmisibles (IST). Material y métodos: Estudio descriptivo sobre la vivencia de un proyecto de extensión dirigido a la prevención y promoción de la salud con enfoque en las IST, que tuvo como estrategia didáctica la transmisión de conocimiento por multiplicadores y fue desarrollado en una Universidad Federal pública. Resultados: Los multiplicadores presentaban conocimiento sobre las vías de transmisión de las IST, reconocían la necesidad de tratamiento del compañero sexual e identificaban cómo debe realizarse el diagnóstico de infección por el VIH. La participación en el proyecto aumentó discretamente el número de respuestas correctas, así como el conocimiento sobre las IST y los signos y síntomas. Se verificó mayor conocimiento de IST que cursan con leucorrea / flujo y lesiones, además del VIH / SIDA y necesidad de explorar más las siguientes IST: infección por clamidia, VPH y hepatitis virales durante el curso de graduación. Conclusión: Los multiplicadores agregaron nuevos conocimientos sobre el tema y la estrategia de multiplicadores se mostró efectiva y debe ser estimulada como estrategia didáctica.

Palabras-clave: enfermedades de transmisión sexual, estudiantes de enfermería, educación en salud.

 

Introdução

 

As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) podem ser definidas como grupo de doenças causadas por vírus, bactérias ou outros microorganismos, transmitidas principalmente pelo contato sexual desprotegido. Podem manifestar-se de diversas formas, como através de lesões (feridas), condilomas (verrugas), leucorreia ou corrimentos, sintomas sistêmicos inespecíficos (febre, mal-estar, mialgia, entre outros) e, muitas vezes, o indivíduo infectado pode permanecer assintomático por longos períodos [1,2].

Desde o final do ano de 2015, o Ministério da Saúde (MS) adotou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis, onde o termo DST passou a ser substituído por Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), em consonância com a terminologia adotada mundialmente e recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e pela sociedade científica internacional. Com a alteração do termo, passa-se a ideia de que indivíduos podem ter e transmitir a infecção através de atos sexuais inseguros, ainda que sem apresentar sinais e sintomas, e que uma vez detectada pode e deve ser tratada e sempre prevenida [1,2].

Atualmente, as IST são consideradas problemas de Saúde Pública devido a sua alta incidência e por acometer em sua maioria, adolescentes e adultos jovens. Além disto, há uma crescente preocupação principalmente devido ao aumento exponencial do número de notificações, em especial, de sífilis, sífilis durante a gestação e sífilis congênita [3,4].

No Brasil, entre os anos de 1980 a 2007, foram notificados 474 mil novos casos de AIDS. Em 1999, a OMS estimou a incidência de 340 milhões de casos por ano de IST curáveis, e outros tantos milhões que não puderam ser estimados de casos novos de IST que não possuem cura, como o caso das infecções pelo vírus do herpes, Papiloma Vírus Humano (HPV), Vírus da Hepatite B (HBV) e Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) [5].

Embora as IST sejam infecções de fácil diagnóstico e o tratamento é totalmente gratuito e fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sabe-se que grande parte dos portadores não o realiza. Se não tratadas, as IST podem acarretar sérias complicações, tais como: infertilidade; impotência masculina; transmissão de mãe para filho (vertical); dor pélvica crônica; diferentes tipos de cânceres, destacando o de colo uterino e anal; aumento do risco de adquirir infecções virais como o HIV, hepatites do tipo B e C e HPV. De forma que se não detectadas e tratadas, um indivíduo acometido por uma IST pode evoluir ao longo do tempo para óbito [5]. Assim, a educação em saúde é uma das grandes estratégias preventivas que tem por objetivo reduzir e controlar as taxas de transmissão das IST.

Pensando em estratégias para a educação em saúde, sugere-se a formação de multiplicadores. Multiplicadores são pessoas que pertencem a um grupo, se aprofundam em determinada temática e repassam este conhecimento para os seus pares [6]. Ao se tornar multiplicador, o acadêmico amplia seu conhecimento sobre o tema, além de desenvolver estratégias e habilidades de comunicação e aproximação com a comunidade. Esta estratégia aproxima sujeitos e leva o grupo ao amadurecimento, favorecendo o processo de ensino-aprendizagem tanto para o multiplicador quanto para os beneficiados [7,8]. Mas para que seja feita de forma efetiva, os multiplicadores devem possuir conhecimento suficiente, ensinar e ao mesmo tempo trocar informações e experiências com o público-alvo.

Acadêmicos de enfermagem identificam-se enquanto futuros enfermeiros como possuidores de todos os atributos necessários para promover a educação em saúde. Entretanto, percebe-se que o trabalho educativo do enfermeiro é permeado por pressupostos tradicionais e por conceitos ampliados de saúde [9]. Estudo realizado com acadêmicos de um curso de graduação em enfermagem apontou que embora eles tenham conhecimento sobre a principal forma de prevenção das IST (uso de preservativos), ainda restam dúvidas sobre formas de transmissão, prevenção, sinais e sintomas. Os autores atentam para o fato de que esses serão futuros profissionais que prestarão informações tanto em serviços de saúde como no ambiente escolar [7], ressaltando a importância do conhecimento para este grupo, em específico.

Demonstrada a alta prevalência e magnitude das IST, a importância da educação em saúde e a inserção do enfermeiro nesta prática, e, tendo em vista a escassez na literatura de estudos sobre o conhecimento de acadêmicos de cursos de graduação em ciências da saúde sobre IST, e especificamente do curso de graduação em enfermagem, justifica-se a realização deste estudo.

Ante o exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento de acadêmicos de enfermagem, antes e após a vivência de um projeto de extensão que utilizou a estratégia de multiplicadores, sobre formas de transmissão, prevenção, sinais e sintomas de IST.

 

Material e métodos

 

Trata-se de um estudo descritivo sobre a vivência de um projeto de extensão voltado para prevenção e promoção da saúde com enfoque nas IST.

O estudo foi desenvolvido na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, universidade federal pública que oferece atualmente 25 cursos. O curso de graduação em Enfermagem foi criado em 1989 e atualmente é ministrado em 10 semestres letivos, em período integral, modalidade presencial e anualmente oferece 60 vagas [10].

A extensão é uma das atribuições das universidades, compondo o tripé ensino-pesquisa-extensão [11]. A extensão nos cursos de graduação da área da saúde representa para o acadêmico a possibilidade de deixar os bancos da universidade e aproximar-se da complexidade, processo de transformação e multidisciplinaridade da comunidade [12].

No período de março a dezembro de 2015, foi desenvolvido no âmbito da universidade um projeto de extensão intitulado: “Formando multiplicadores: promovendo educação em saúde para prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis”. Ressalta-se que o título do projeto ainda vislumbrava o termo até então utilizado – DST, que foi substituído a partir da publicação no Diário Oficial da União, em 5 de outubro de 2015, através da portaria n° 53 de 01 de outubro de 2015, quando passa então a ser adotado o termo IST [3].

Foram selecionados como multiplicadores 15 acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem, de diferentes períodos. As atividades foram supervisionadas por duas docentes do curso. Antes de iniciar as atividades, os selecionados responderam a um questionário elaborado pelas docentes. O instrumento apresentava três blocos de questões, sendo o bloco A constituído por questões sociodemográficas que caracterizaram a amostra. No bloco B, foram questionadas sobre o período em que estavam matriculadas na graduação.

O bloco C abordou questões específicas relacionadas às IST. Este bloco continha quatro questões fechadas com quatro opções de resposta, sendo apenas uma alternativa correta. O formulário também possuía cinco questões abertas sobre o tema, totalizando nove questões. No pós-teste, realizado na finalização do projeto, os multiplicadores avaliaram sua impressão sobre a estratégia didática.

Após avaliação, os multiplicadores selecionados foram capacitados através de encontros semanais por meio de discussões dialogadas, baseadas nos manuais do MS e OMS, dados epidemiológicos e artigos científicos. Ao todo, foram realizados oito encontros e estas atividades contabilizaram carga horária 10 horas/semanais atribuídas ao estudo do tema e discussões.

Após a capacitação, foram realizados encontros instrucionais e presenciais para elaborar a atividade extensionista. Em consonância com docentes, o grupo discutiu a estratégia de multiplicadores, baseada em evidências científicas e foram realizados encontros semanais que geraram a produção de material didático audiovisual para ser replicado. Slides, ilustrações e conteúdo foram elaborados pelas multiplicadoras sob anuência e ciência dos docentes. O grupo ainda preparou e elaborou dinâmicas para a atividade, assim como um questionário com perguntas e respostas fechadas sobre o tema, a fim de avaliar a estratégia pedagógica.

Os multiplicadores divulgaram as oficinas sobre IST para acadêmicos da universidade através de cartazes que foram dispostos nos murais da instituição e também através de redes sociais. As inscrições foram realizadas via eletrônica e foram agendadas três oficinas em diferentes períodos (manhã, tarde e noite).

As atividades extensionistas foram realizadas por meio de aula expositiva dialogada preparada pelo grupo com imagens ilustrativas de IST, dinâmicas que abordaram o autoconhecimento; demonstração de colocação de preservativo masculino e feminino em modelos anatômicos didáticos e dinâmica final que demonstrava a cadeia de transmissão das IST, e, assim como no treinamento didático dos multiplicadores houve a aplicação do pré e pós-teste.

A atividade foi realizada pelos multiplicadores sob supervisão dos coordenadores docentes, sem necessidade de intervenções. Dados do pré e pós-teste foram tabulados e analisados, assim como os resultados foram apresentados em jornada científica institucional, em forma de três apresentações orais, envolvendo a participação de todos os integrantes nestas etapas.

Constituíram-se em critérios de inclusão para este estudo e para a participação no projeto: estar regularmente matriculado no curso de graduação em Enfermagem da UFTM, possuir idade superior a 18 anos e ter sido aprovado em processo seletivo. Não houve critérios de exclusão assim como não houve perdas de sujeitos durante a vigência do projeto e execução do estudo.

Respeitados os critérios de inclusão e após esclarecimentos, todas as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro sob parecer n° parecer n° 1.256.084, atendendo às orientações inerentes ao protocolo de pesquisa contido na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

Os dados coletados foram duplamente digitados, validados e armazenados em planilha do Excel®. Utilizou-se na análise estatística o aplicativo Statistical Package for the Social Sciences® versão 20.0. Dados obtidos foram agrupados e relacionados segundo o objetivo, buscando-se agrupar as respostas semelhantes. Os resultados foram analisados através de estatística descritiva, tratados em função de índices absolutos e percentuais, e apresentados em tabelas e gráficos.

 

Resultados

 

Todas as multiplicadoras eram do sexo feminino, a maioria era solteira (93%); estava cursando entre o quarto e o décimo período do curso de graduação em Enfermagem e a faixa etária variou de 21 a 28, com média de 22,8 ± 1,97 anos.

Em relação aos conhecimentos sobre IST prévio e pós-participação em projeto, apresentados na Tabela I, verifica-se que 93% das participantes no pré-teste citaram todas as vias de transmissão de IST (sexual, sanguínea, vertical) e 100% responderam corretamente após o projeto. Quando questionadas se a camisinha protegia contra todas as IST, 73% responderam corretamente e o percentual de respostas aumentou para 93% após o projeto. Ressalta-se que a camisinha é o método mais eficaz de prevenção de IST, embora se saiba que o preservativo pode não evitar a transmissão do HPV, cujas lesões podem estar localizadas na base do pênis e/ou em regiões ano-genitais femininas que não podem ser visualizadas e não cobertas pelo preservativo masculino.

Quando questionadas sobre necessidade de tratamento do parceiro sexual, quando detectada IST, 93% e 100% respondeu corretamente no pré e pós-teste respectivamente. O diagnóstico de HIV confirmado somente a partir de dois resultados sorológicos (Elisa) positivos teve acertos de 86% no pré e de 100% pós-projeto.

 

Tabela I - Conhecimentos sobre infecções sexualmente transmissíveis, antes e após participação em projeto de extensão, Uberaba/MG, 2017.

 

*Uma participante não respondeu a esta questão.

 

A Tabela II apresenta as respostas à questão aberta sobre quais as IST as multiplicadoras conheciam. No pré-teste foram citadas em média 5,0 ± 2,0 IST; já no pós-teste, a média de citações apresentou discreto aumento para 5,5 ±1,6 IST.

Em relação às IST que apresentam como sintoma lesões genitais, houve maior número de citações para todas as lesões após a participação no projeto, com exceção da sífilis que teve o mesmo número de citações previamente e foi a mais citada das lesões.

Já as IST que causam corrimentos foram pouco citadas, com exceção da gonorreia que foi citada por todos previamente e após a capacitação 86% citaram a infecção. No entanto, a infecção por clamídia que foi citada por 14% das participantes no pré-teste, foi citada por 40% das participantes no pós-teste.

Condilomas causados pelo vírus HPV foram citados por 73% das participantes no pré-teste e por 60% no pós-teste, mostrando necessidade de manter capacitações e discussões sobre esta infecção. Já o HIV/Aids foi citado por 93% no pré e por 80% no pós-teste, sendo a IST mais citada após a gonorreia. As hepatites virais transmitidas por via sexual (B e C) foram pouco citadas (20%) no pré e pós-teste, indicando necessidade de ampliação da discussão sobre a transmissão sexual das hepatites.

 

Tabela II - Menção de infecções sexualmente transmissíveis, antes e após participação em projeto de extensão, Uberaba/MG, 2017.

 

 

Quando questionadas sobre medidas preventivas para IST, todas as participantes citaram o uso do preservativo tanto no pré quanto no pós-teste. Em relação a outras medidas, 20% citaram a importância de ter parceiro sexual fixo no pré e o percentual aumentou para 53% no pós-teste. O não compartilhamento de agulhas foi citado por 20% das participantes tanto no pré quanto no pós-teste. O não compartilhamento de materiais perfuro-cortantes e necessidade de esterilização de instrumentais foi citado por 33% e 13% respectivamente. A educação em saúde enquanto estratégia de prevenção foi citada por 27% dos participantes no pré e apenas por 7% no pós-teste. Já a importância de consultas, exames e hábitos saudáveis de vida foi citada por 13% e 27% respectivamente. A vacina contra o vírus HPV foi citada por uma participante, e, uma participante citou que a abstinência sexual previne a ocorrência de IST. Foram citadas em média 2,3 ± 0,8 medidas preventivas no pré-teste e 2,5 ± 1,0 no pós-teste.

Em relação aos sinais e sintomas apresentados pelos acometidos pelas IST, o corrimento genital foi o mais citado (87% e 93% respectivamente); seguido pelos condilomas e lesões, ambos com 73% e 67% de citações. Foram citados ainda no pré- teste: dispareunia (47%); prurido genital (40%); e apenas uma citação para: placas esbranquiçadas; sangramento genital; mal-estar geral e ausência de sintomas. Já no pós-teste foram citados em mesma proporção a dispareunia (47%) e o prurido genital (40%), sangramento genital e mal-estar geral; houve ainda uma citação de febre como sintoma e achado anormal de exame colpocitológico em mulheres assintomáticas. Foram citados em média 3,1 ± 0,9 sinais e sintomas de IST no pré e 3,5 ± 1,0 no pós-teste.

Se detectado algum sinal e sintoma de IST, a maioria citou que o paciente deve agendar consulta o mais rápido possível (60% e 87% respectivamente); 40% respondeu que nestes casos deve procurar especificamente o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no pré-teste e 14% indicou esta alternativa no pós-teste. No pré-teste ainda houve uma citação da necessidade do uso de preservativos ou abstinência sexual até os resultados dos exames e no pós-teste 14% citaram a importância do uso de preservativos e 20% a necessidade de orientação do parceiro sexual.

Quanto à melhor forma de esclarecimento sobre IST, foram citadas: uso de dinâmicas (40%); palestras (27%); discussões de forma clara e objetiva (27%), entre outros.

A maioria das multiplicadoras (93%) respondeu que teve suas expectativas alcançadas, embora uma relatasse frustração diante do número restrito de público das atividades. Quanto aos aspectos positivos do projeto foram citados pelos participantes: interação e trabalho em equipe (47%); ampliação do conhecimento sobre o tema (40%); participação acadêmica na construção de todos os processos do projeto (33%), entre outros. Foram citados como pontos negativos: baixa adesão da comunidade acadêmica e curto espaço de tempo para desenvolvimento das atividades de extensão.

Ao todo, foram capacitados apenas 16 acadêmicos pelos multiplicadores, mesmo com ampla divulgação da atividade. A limitação do projeto deveu-se às atividades agendadas previamente ter ocorrido concomitantemente a período de greve na universidade, o que prejudicou o alcance das metas, no quesito do público-alvo estimado e também devido aos prazos e cronograma estabelecido para o projeto. Foram aplicados aos beneficiados, instrumentos de avaliação pré e pós-teste, que apontaram que a capacitação foi positiva, assim como as estratégias didáticas utilizadas, embora se tenha notado que ainda restam dúvidas sobre alguns aspectos relacionados ao tema, demonstrando a necessidade de continuidade de projetos voltados para este público.

 

Discussão

 

A descoberta precoce da sexualidade, multiplicidade de parceiros, liberdade sexual, não adesão ao uso de preservativo e a necessidade de se afirmar em relações grupais são fatores que atualmente tornam os adolescentes e adultos jovens vulneráveis às IST. E, mesmo diante de ampla divulgação na mídia e maior acesso à informação, jovens ainda apresentam dúvidas sobre a prevenção e transmissão das IST, além de muitas vezes estarem na condição de vulnerabilidade devido a comportamentos de risco [13].

No entanto, a sociedade ainda questiona quais devem ser as fontes de informação destes jovens. Neste sentido, os pais têm papel fundamental e seriam os ‘grandes responsáveis’ pelo diálogo sobre sexualidade com os filhos a fim de que os mesmos façam escolhas maduras, responsáveis e seguras [14]. No entanto, um estudo com universitários de cursos da área da saúde apontou que 78% referiram ter recebido informações sobre sexualidade e IST na escola e 49% obtiveram informações pela televisão [15], desvelando que muitas vezes este diálogo deixa de fazer parte do contexto familiar e é delegado a terceiros, indicando a importância dos educadores, profissionais da saúde e mídia na prevenção das IST.

É importante salientar que de acordo com a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, cabe ao enfermeiro o manejo das IST, a realização de consulta de enfermagem, procedimentos, atividades educativas em grupos e, conforme protocolos ou outras normativas técnicas, a solicitação de exames complementares, a prescrição de medicamentos e encaminhamento, quando necessário, de usuários a outros serviços [16], destacando a importância do papel do enfermeiro na promoção da saúde e prevenção das IST.

Em relação à caracterização sociodemográfica da amostra, observa-se nos estudos sobre IST e acadêmicos de cursos da área da saúde, que a faixa etária dos acadêmicos varia de 18 a 30 anos [17,18], com predomínio de solteiros [17,19] e do sexo feminino [17,19], semelhante ao perfil das multiplicadoras.

Quanto às vias de transmissão das IST, verificou-se que a maioria identificou todas as vias de transmissão. Um estudo com 160 acadêmicos de diferentes cursos das áreas da saúde observou que quando questionados sobre formas de transmissão das IST, 100% citou o sexo vaginal; 91% transmissão por sangue e em mesma proporção o compartilhamento de objetos perfuro-cortantes; 90% citou o sexo anal; 73% identificaram a transmissão vertical e apenas 70% destacaram a importância do sexo oral na transmissão de IST, demonstrando que muitos acadêmicos ainda têm dúvidas quanto às formas de transmissão [7].

Segundo a maioria das participantes, o preservativo protege contra todas as formas de IST. No entanto, o preservativo masculino pode não proteger contra a transmissão do HPV, dependendo do local das lesões, que podem não ser cobertas. Estudo com 61 acadêmicos de um curso de graduação em enfermagem, matriculados no primeiro ao sétimo período concluiu que a maioria não possui conhecimento suficiente sobre o vírus do HPV, suas consequências, formas preventivas e de tratamento, podendo influenciar negativamente na vulnerabilidade a esta IST, assim como na transmissão da informação sobre esta infecção [20].

Assim como em nosso estudo, a maioria dos acadêmicos de cursos da área da saúde associa a IST com o corrimento/leucorreia, sendo assim mais conhecidas as IST que cursam com este sintoma. Estudo com 154 acadêmicos apontou que 84% consideram o corrimento algo anormal e associado à IST e 8,3% já tiveram alguma IST [18].

Quando questionadas sobre medidas preventivas para IST, todas as participantes citaram a importância do uso do preservativo. Neste sentido, verifica-se que os dados na literatura são divergentes. Um estudo apontou que 87% dos acadêmicos citaram o preservativo como prática contraceptiva e prevenção das IST, entretanto, apenas 75% referiu fazer uso em todas as relações; a maioria referiu fazer uso de anticoncepcionais orais (59%) e 53% usavam preservativos esporadicamente, mostrando que a maioria se voltava apenas para prevenção da gestação indesejada [17]. Já um estudo com 149 acadêmicos do curso de enfermagem apontou que 19% consideram extremamente importante o uso de preservativo, mas apenas 36% declarou fazer uso. O motivo alegado para não utilizar o preservativo é a confiança no parceiro sexual (79%), uso de anticoncepcionais orais (62%) e 42% dos acadêmicos declararam que cursar enfermagem não alterou seus conhecimentos e comportamento sexual [21].

Semelhantemente aos resultados, 97% dos acadêmicos de cursos da área da saúde citaram o preservativo como medida preventiva; 19% a importância de ter parceiro sexual fixo e 15% citaram que a abstinência sexual é uma forma segura de prevenção [7]. Há ainda que citar que estudo com 143 acadêmicos de enfermagem demonstrou que apenas 28% possuíam conhecimento adequado sobre o exame de ‘Papanicolau’ e apenas 19% identificou que o exame é importante para prevenção e detecção de IST, indicando que este conhecimento precisa ser revisto e as práticas de prevenção e promoção à saúde devem ser estimuladas no ambiente universitário [22].

Se detectado algum sinal e sintoma de IST, a maioria dos participantes citou que o paciente deve agendar consulta o mais rápido possível, sendo citado por 40% o CTA. Contrapondo estes dados, 75% dos acadêmicos citaram que se detectado sinal e sintoma, deve-se procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima da residência, apenas 18% citaram a testagem no CTA e 20% referiu que nestes casos, o paciente deve procurar a Unidade de Pronto Atendimento [7].

Quanto à estratégia de multiplicadores, a maioria das extensionistas respondeu que teve suas expectativas alcançadas a partir da vivência no projeto, agregando novos conhecimentos. Ensaio clínico com 28 acadêmicos de enfermagem utilizando como estratégia a aprendizagem em ambiente virtual sobre aspectos epidemiológicos das IST, características, assistência de enfermagem, abordagem sindrômica e manejo das IST, desenvolvido em sete módulos com carga horária total de 20 horas, apontou que antes da capacitação, 68% dos acadêmicos consideravam seu conhecimento limitado e após a capacitação, 78,5% classificaram como substancial ou muito substancial [23], indicando a importância de desenvolver diferentes estratégias de ensino para estimular a aprendizagem do acadêmico, principalmente em relação a esta temática.

 

Conclusão

 

Conclui-se que as multiplicadoras apresentavam conhecimento sobre as vias de transmissão das IST, reconheciam a necessidade de tratamento do parceiro sexual e identificavam como deve ser realizado o diagnóstico de infecção pelo HIV. A participação no projeto aumentou discretamente o número de respostas corretas, assim como o conhecimento sobre as IST e os sinais e sintomas.

Verificou-se maior conhecimento de IST que cursam com leucorreia/corrimento e lesões, além do HIV/Aids e a necessidade de explorar mais as seguintes IST: infecção por clamídia, HPV e hepatites virais.

Em relação à estratégia de multiplicadores, a maioria respondeu que teve suas expectativas alcançadas, agregando novos conhecimentos, indicando ser efetiva e que deve ser estimulada como estratégia didática.

 

Agradecimentos

 

Projeto contemplado com bolsa Proext – UFTM.

 

Referências

 

  1. Brasil. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. Brasília. Ministério da Saúde; 2006.
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