ARTIGO
ORIGINAL
“Formando
multiplicadores para prevenção de infecções sexualmente transmissíveis”
e impacto na formação de acadêmicos de enfermagem
Bianca Beatriz da
Silva*, Michele Lemos de Lourdes*, Anneliese
Domingues Wysocki, D.Sc.**, Bibiane Dias
Parreira Miranda, D.Sc.***, Sueli Riul da Silva, D.Sc.****, Mariana Torreglosa
Ruiz, D.Sc.***
*Acadêmicas
do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo
Mineiro (UFTM), **Professor Adjunto do Curso de Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), ***Professora Adjunta do
Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Triângulo Mineiro
(UFTM), ****Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Atenção à
Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (PPGAS UFTM)
Recebido em 13 de
outubro de 2017; aceito em 14 de agosto de 2018.
Endereço
para correspondência:
Mariana Torreglosa Ruiz, Praça Manoel Terra, 330 Câmpus I, Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade
Federal do Triângulo Mineiro, 38025-100 Uberaba MG, E-mail: Mariana Torreglosa Ruiz: marianatorreglosa@hotmail.com; Bianca
Beatriz da Silva: biancabeatrizsilva1@gmail.com; Michele Lemos de Lourdes:
michelemll@hotmail.com; Anneliese Domingues Wyscocki: lilisew@yahoo.com.br; Bibiane
Dias Parreira Miranda: bibianedias@yahoo.com.br, Sueli Riul da Silva:
sueliriul@terra.com.br.
Resumo
Objetivo: Avaliar o
conhecimento de acadêmicos de enfermagem, antes e após a vivência de um projeto
de extensão que utilizou a estratégia de multiplicadores sobre formas de
transmissão, prevenção, sinais e sintomas de Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST). Material e métodos:
Estudo descritivo sobre a vivência de um projeto de extensão voltado para
prevenção e promoção da saúde com enfoque nas IST, que teve como estratégia
didática a transmissão de conhecimento por multiplicadores e foi desenvolvido
em uma Universidade Federal pública. Resultados:
Os multiplicadores apresentavam conhecimento sobre as vias de transmissão das
IST, reconheciam a necessidade de tratamento do parceiro sexual e identificavam
como deve ser realizado o diagnóstico de infecção pelo HIV. A participação no
projeto aumentou discretamente o número de respostas corretas, assim como o
conhecimento sobre as IST e os sinais e sintomas. Verificou-se maior
conhecimento de IST que cursam com leucorreia/corrimento
e lesões, além do HIV/Aids e necessidade de explorar
mais as seguintes IST: infecção por clamídia, HPV e hepatites virais, durante o
curso de graduação. Conclusão: Os
multiplicadores agregaram novos conhecimentos sobre o tema e a estratégia de
multiplicadores mostrou-se efetiva e deve ser estimulada como estratégia
didática.
Palavras-chave: doenças sexualmente
transmissíveis, estudantes de enfermagem, educação em saúde.
Abstract
“Forming multipliers for prevention of sexually transmitted infections”
and impact on the training of nursing students
Objective: To evaluate
the knowledge of nursing students, before and after the experience of an
extension project that used the multiplier strategy, on forms of transmission,
prevention, signs and symptoms of Sexually Transmitted Infections (STIs). Methods: A descriptive study about the
experience of an extension project aimed at prevention and health promotion
with a focus on IST, which had as a didactic strategy the transmission of
knowledge by multipliers and was developed at a public Federal University. Results: Multipliers presented knowledge
about STI transmission pathways, recognized the need for treatment of the
sexual partner, and identified how the diagnosis of HIV infection should be
performed. Participation in the project discreetly increased the number of
correct responses as well as knowledge about STIs and signs and symptoms. There
was a greater knowledge of STIs with leukorrhea /
vaginal discharge and lesions, in addition to HIV / Aids and the need to
further explore the following STIs: chlamydia infection, HPV and viral
hepatitis during the undergraduate course. Conclusion:
The multipliers added new knowledge about the theme and the multiplier strategy
proved to be effective and should be stimulated as a didactic strategy.
Key-words: sexually
transmitted diseases, nursing students, health education.
Resumen
“Formando multiplicadores para prevención de infecciones sexualmente transmisibles”
e impacto en la
formación de académicos de enfermería
Objetivo: Evaluar
el conocimiento
de académicos de enfermería, antes y después de la vivencia de un proyecto de extensión que utilizó la estrategia de multiplicadores,
sobre formas de transmisión, prevención,
signos y síntomas de Infecciones Sexualmente Transmisibles (IST). Material
y métodos: Estudio descriptivo
sobre la vivencia de un proyecto de extensión dirigido a la prevención y promoción de la salud con
enfoque en las IST, que tuvo como estrategia didáctica la transmisión
de conocimiento por multiplicadores y fue desarrollado en una Universidad Federal
pública. Resultados: Los
multiplicadores presentaban conocimiento
sobre las vías de transmisión de las IST, reconocían la
necesidad de tratamiento del compañero sexual e identificaban cómo debe realizarse el diagnóstico de infección por el VIH. La participación en el proyecto aumentó discretamente el número de respuestas correctas, así como el conocimiento sobre las IST y los signos y síntomas. Se verificó mayor conocimiento de IST que cursan con leucorrea
/ flujo y lesiones, además del VIH / SIDA y necesidad de explorar más las siguientes IST: infección por clamidia, VPH y hepatitis virales
durante el curso de graduación.
Conclusión:
Los multiplicadores agregaron nuevos
conocimientos sobre el tema y la estrategia de multiplicadores se mostró
efectiva y debe ser
estimulada como estrategia didáctica.
Palabras-clave: enfermedades
de transmisión sexual, estudiantes de enfermería, educación en salud.
As Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST) podem ser definidas como grupo de doenças
causadas por vírus, bactérias ou outros microorganismos,
transmitidas principalmente pelo contato sexual desprotegido. Podem manifestar-se
de diversas formas, como através de lesões (feridas), condilomas (verrugas), leucorreia ou corrimentos, sintomas sistêmicos
inespecíficos (febre, mal-estar, mialgia, entre outros) e, muitas vezes, o
indivíduo infectado pode permanecer assintomático por longos períodos [1,2].
Desde o final do ano
de 2015, o Ministério da Saúde (MS) adotou o Protocolo
Clínico e Diretrizes Terapêuticas: Atenção Integral às Pessoas com
Infecções Sexualmente Transmissíveis, onde o termo DST passou a ser substituído
por Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), em consonância com a
terminologia adotada mundialmente e recomendada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e pela sociedade
científica internacional. Com a alteração do termo, passa-se a ideia de que
indivíduos podem ter e transmitir a infecção através de atos sexuais inseguros,
ainda que sem apresentar sinais e sintomas, e que uma vez detectada pode e deve
ser tratada e sempre prevenida [1,2].
Atualmente, as IST
são consideradas problemas de Saúde Pública devido a sua alta incidência e por
acometer em sua maioria, adolescentes e adultos jovens. Além disto, há uma
crescente preocupação principalmente devido ao aumento exponencial do número de
notificações, em especial, de sífilis, sífilis durante a gestação e sífilis
congênita [3,4].
No Brasil, entre os
anos de 1980 a 2007, foram notificados 474 mil novos casos de AIDS. Em 1999, a
OMS estimou a incidência de 340 milhões de casos por ano de IST curáveis, e
outros tantos milhões que não puderam ser estimados de casos novos de IST que
não possuem cura, como o caso das infecções pelo vírus do herpes, Papiloma
Vírus Humano (HPV), Vírus da Hepatite B (HBV) e Vírus da Imunodeficiência Humana
(HIV) [5].
Embora as IST sejam
infecções de fácil diagnóstico e o tratamento é totalmente gratuito e fornecido
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sabe-se que grande parte dos portadores não
o realiza. Se não tratadas, as IST podem acarretar sérias complicações, tais
como: infertilidade; impotência masculina; transmissão de mãe para filho
(vertical); dor pélvica crônica; diferentes tipos de cânceres, destacando o de
colo uterino e anal; aumento do risco de adquirir infecções virais como o HIV,
hepatites do tipo B e C e HPV. De forma que se não detectadas e tratadas, um
indivíduo acometido por uma IST pode evoluir ao longo do tempo para óbito [5].
Assim, a educação em saúde é uma das grandes estratégias preventivas que tem
por objetivo reduzir e controlar as taxas de transmissão das IST.
Pensando em
estratégias para a educação em saúde, sugere-se a formação de multiplicadores.
Multiplicadores são pessoas que pertencem a um grupo, se aprofundam em
determinada temática e repassam este conhecimento para os seus pares [6]. Ao se
tornar multiplicador, o acadêmico amplia seu conhecimento sobre o tema, além de
desenvolver estratégias e habilidades de comunicação e aproximação com a
comunidade. Esta estratégia aproxima sujeitos e leva o grupo ao amadurecimento,
favorecendo o processo de ensino-aprendizagem tanto para o multiplicador quanto
para os beneficiados [7,8]. Mas para que seja feita de forma efetiva, os
multiplicadores devem possuir conhecimento suficiente, ensinar e ao mesmo tempo
trocar informações e experiências com o público-alvo.
Acadêmicos de
enfermagem identificam-se enquanto futuros enfermeiros como possuidores de
todos os atributos necessários para promover a educação em saúde. Entretanto,
percebe-se que o trabalho educativo do enfermeiro é permeado por pressupostos
tradicionais e por conceitos ampliados de saúde [9]. Estudo realizado com
acadêmicos de um curso de graduação em enfermagem apontou que embora eles
tenham conhecimento sobre a principal forma de prevenção das IST (uso de preservativos),
ainda restam dúvidas sobre formas de transmissão, prevenção, sinais e sintomas.
Os autores atentam para o fato de que esses serão
futuros profissionais que prestarão informações tanto em serviços de saúde como
no ambiente escolar [7], ressaltando a importância do conhecimento para este
grupo, em específico.
Demonstrada a alta
prevalência e magnitude das IST, a importância da educação em saúde e a
inserção do enfermeiro nesta prática, e, tendo em vista a escassez na
literatura de estudos sobre o conhecimento de acadêmicos de cursos de graduação
em ciências da saúde sobre IST, e especificamente do curso de graduação em
enfermagem, justifica-se a realização deste estudo.
Ante o exposto, o
objetivo deste estudo foi avaliar o conhecimento de acadêmicos de enfermagem,
antes e após a vivência de um projeto de extensão que utilizou a estratégia de
multiplicadores, sobre formas de transmissão, prevenção, sinais e sintomas de
IST.
Trata-se de um estudo
descritivo sobre a vivência de um projeto de extensão voltado para prevenção e
promoção da saúde com enfoque nas IST.
O estudo foi
desenvolvido na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, universidade federal
pública que oferece atualmente 25 cursos. O curso de graduação em Enfermagem
foi criado em 1989 e atualmente é ministrado em 10 semestres
letivos, em período integral, modalidade presencial e anualmente oferece
60 vagas [10].
A extensão é uma das
atribuições das universidades, compondo o tripé ensino-pesquisa-extensão [11].
A extensão nos cursos de graduação da área da saúde representa para o acadêmico
a possibilidade de deixar os bancos da universidade e aproximar-se da
complexidade, processo de transformação e multidisciplinaridade da comunidade
[12].
No período de março a
dezembro de 2015, foi desenvolvido no âmbito da universidade um projeto de
extensão intitulado: “Formando multiplicadores: promovendo educação em saúde
para prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis”. Ressalta-se que o título
do projeto ainda vislumbrava o termo até então utilizado – DST, que foi
substituído a partir da publicação no Diário Oficial da União, em 5 de outubro de 2015, através da portaria n° 53 de 01 de
outubro de 2015, quando passa então a ser adotado o termo IST [3].
Foram selecionados
como multiplicadores 15 acadêmicas do curso de graduação em Enfermagem, de
diferentes períodos. As atividades foram supervisionadas por duas docentes do
curso. Antes de iniciar as atividades, os selecionados responderam a um
questionário elaborado pelas docentes. O instrumento apresentava três blocos de
questões, sendo o bloco A constituído por questões sociodemográficas
que caracterizaram a amostra. No bloco B, foram questionadas sobre o período em
que estavam matriculadas na graduação.
O bloco C abordou
questões específicas relacionadas às IST. Este bloco continha quatro questões
fechadas com quatro opções de resposta, sendo apenas uma alternativa correta. O
formulário também possuía cinco questões abertas sobre o tema, totalizando nove
questões. No pós-teste, realizado na finalização do projeto, os multiplicadores
avaliaram sua impressão sobre a estratégia didática.
Após avaliação, os
multiplicadores selecionados foram capacitados através de encontros semanais
por meio de discussões dialogadas, baseadas nos manuais do MS e OMS, dados
epidemiológicos e artigos científicos. Ao todo, foram realizados oito encontros
e estas atividades contabilizaram carga horária 10 horas/semanais atribuídas ao
estudo do tema e discussões.
Após a capacitação,
foram realizados encontros instrucionais e presenciais para elaborar a
atividade extensionista. Em consonância com docentes,
o grupo discutiu a estratégia de multiplicadores, baseada em evidências
científicas e foram realizados encontros semanais que geraram a produção de
material didático audiovisual para ser replicado. Slides, ilustrações e
conteúdo foram elaborados pelas multiplicadoras sob anuência
e ciência dos docentes. O grupo ainda preparou e elaborou dinâmicas para a
atividade, assim como um questionário com perguntas e respostas fechadas sobre
o tema, a fim de avaliar a estratégia pedagógica.
Os multiplicadores
divulgaram as oficinas sobre IST para acadêmicos da universidade através de
cartazes que foram dispostos nos murais da instituição e também através de
redes sociais. As inscrições foram realizadas via eletrônica e foram agendadas
três oficinas em diferentes períodos (manhã, tarde e noite).
As atividades extensionistas foram realizadas por meio de aula expositiva
dialogada preparada pelo grupo com imagens ilustrativas de IST, dinâmicas que
abordaram o autoconhecimento; demonstração de colocação de preservativo
masculino e feminino em modelos anatômicos didáticos e dinâmica final que
demonstrava a cadeia de transmissão das IST, e, assim como no treinamento
didático dos multiplicadores houve a aplicação do pré
e pós-teste.
A atividade foi
realizada pelos multiplicadores sob supervisão dos
coordenadores docentes, sem necessidade de intervenções. Dados do pré e pós-teste foram tabulados e analisados, assim como os
resultados foram apresentados em jornada científica institucional, em forma de
três apresentações orais, envolvendo a participação de todos os integrantes
nestas etapas.
Constituíram-se em
critérios de inclusão para este estudo e para a participação no projeto: estar
regularmente matriculado no curso de graduação em Enfermagem da UFTM, possuir
idade superior a 18 anos e ter sido aprovado em processo seletivo. Não houve
critérios de exclusão assim como não houve perdas de sujeitos durante a
vigência do projeto e execução do estudo.
Respeitados os
critérios de inclusão e após esclarecimentos, todas as participantes assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa foi aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro sob parecer n° parecer n° 1.256.084, atendendo às
orientações inerentes ao protocolo de pesquisa contido na Resolução 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde.
Os dados coletados
foram duplamente digitados, validados e armazenados em planilha do Excel®.
Utilizou-se na análise estatística o aplicativo Statistical
Package for the Social Sciences® versão 20.0. Dados obtidos foram agrupados e
relacionados segundo o objetivo, buscando-se agrupar as respostas semelhantes.
Os resultados foram analisados através de estatística descritiva, tratados em
função de índices absolutos e percentuais, e apresentados em tabelas e
gráficos.
Todas as multiplicadoras
eram do sexo feminino, a maioria era solteira (93%); estava cursando entre o
quarto e o décimo período do curso de graduação em Enfermagem e a faixa etária
variou de 21 a 28, com média de 22,8 ± 1,97 anos.
Em relação aos
conhecimentos sobre IST prévio e pós-participação em projeto, apresentados na
Tabela I, verifica-se que 93% das participantes no pré-teste citaram todas as
vias de transmissão de IST (sexual, sanguínea, vertical) e 100% responderam
corretamente após o projeto. Quando questionadas se a camisinha protegia contra
todas as IST, 73% responderam corretamente e o percentual de respostas aumentou
para 93% após o projeto. Ressalta-se que a camisinha é o método mais eficaz de
prevenção de IST, embora se saiba que o preservativo pode não evitar a
transmissão do HPV, cujas lesões podem estar localizadas na base do pênis e/ou
em regiões ano-genitais femininas que não podem ser visualizadas e não cobertas
pelo preservativo masculino.
Quando questionadas
sobre necessidade de tratamento do parceiro sexual, quando detectada IST, 93% e
100% respondeu corretamente no pré e pós-teste
respectivamente. O diagnóstico de HIV confirmado somente a partir de dois
resultados sorológicos (Elisa) positivos teve acertos de 86% no pré e de 100% pós-projeto.
Tabela
I - Conhecimentos sobre infecções sexualmente
transmissíveis, antes e após participação em projeto de extensão, Uberaba/MG,
2017.
*Uma participante não
respondeu a esta questão.
A Tabela II apresenta
as respostas à questão aberta sobre quais as IST as multiplicadoras conheciam.
No pré-teste foram citadas em média 5,0 ± 2,0 IST; já no pós-teste, a média de
citações apresentou discreto aumento para 5,5 ±1,6 IST.
Em relação às IST que
apresentam como sintoma lesões genitais, houve maior número de citações para
todas as lesões após a participação no projeto, com exceção da sífilis que teve
o mesmo número de citações previamente e foi a mais citada das lesões.
Já as IST que causam
corrimentos foram pouco citadas, com exceção da gonorreia que foi citada por
todos previamente e após a capacitação 86% citaram a infecção. No entanto, a
infecção por clamídia que foi citada por 14% das participantes no pré-teste,
foi citada por 40% das participantes no pós-teste.
Condilomas causados
pelo vírus HPV foram citados por 73% das participantes no pré-teste e por 60%
no pós-teste, mostrando necessidade de manter capacitações e discussões sobre
esta infecção. Já o HIV/Aids foi citado por 93% no pré e por 80% no pós-teste, sendo a IST mais citada após a
gonorreia. As hepatites virais transmitidas por via sexual (B e C) foram pouco
citadas (20%) no pré e pós-teste, indicando
necessidade de ampliação da discussão sobre a transmissão sexual das hepatites.
Tabela
II -
Menção de infecções sexualmente
transmissíveis, antes e após participação em projeto de extensão, Uberaba/MG,
2017.
Quando questionadas
sobre medidas preventivas para IST, todas as participantes citaram o uso do
preservativo tanto no pré quanto no pós-teste. Em
relação a outras medidas, 20% citaram a importância de ter parceiro sexual fixo
no pré e o percentual aumentou para 53% no pós-teste.
O não compartilhamento de agulhas foi citado por 20% das participantes tanto no
pré quanto no pós-teste. O não compartilhamento de
materiais perfuro-cortantes e necessidade de esterilização de instrumentais foi
citado por 33% e 13% respectivamente. A educação em saúde enquanto estratégia
de prevenção foi citada por 27% dos participantes no pré
e apenas por 7% no pós-teste. Já a importância de consultas, exames e hábitos
saudáveis de vida foi citada por 13% e 27%
respectivamente. A vacina contra o vírus HPV foi citada por uma participante,
e, uma participante citou que a abstinência sexual previne a ocorrência de IST.
Foram citadas em média 2,3 ± 0,8 medidas preventivas no pré-teste e 2,5 ± 1,0
no pós-teste.
Em relação aos sinais
e sintomas apresentados pelos acometidos pelas IST, o corrimento genital foi o
mais citado (87% e 93% respectivamente); seguido pelos condilomas e lesões,
ambos com 73% e 67% de citações. Foram citados ainda no pré-
teste: dispareunia (47%); prurido genital (40%); e
apenas uma citação para: placas esbranquiçadas; sangramento genital; mal-estar
geral e ausência de sintomas. Já no pós-teste foram citados em mesma proporção
a dispareunia (47%) e o prurido genital (40%),
sangramento genital e mal-estar geral; houve ainda uma citação de febre como
sintoma e achado anormal de exame colpocitológico em
mulheres assintomáticas. Foram citados em média 3,1 ± 0,9 sinais e sintomas de
IST no pré e 3,5 ± 1,0 no pós-teste.
Se detectado algum
sinal e sintoma de IST, a maioria citou que o paciente deve agendar consulta o
mais rápido possível (60% e 87% respectivamente); 40% respondeu que nestes
casos deve procurar especificamente o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no pré-teste e 14% indicou esta
alternativa no pós-teste. No pré-teste ainda houve uma citação da necessidade
do uso de preservativos ou abstinência sexual até os resultados dos exames e no
pós-teste 14% citaram a importância do uso de preservativos e 20% a necessidade
de orientação do parceiro sexual.
Quanto à melhor forma
de esclarecimento sobre IST, foram citadas: uso de dinâmicas (40%); palestras (27%);
discussões de forma clara e objetiva (27%), entre outros.
A maioria das
multiplicadoras (93%) respondeu que teve suas expectativas alcançadas, embora
uma relatasse frustração diante do número restrito de público das atividades.
Quanto aos aspectos positivos do projeto foram citados pelos participantes:
interação e trabalho em equipe (47%); ampliação do conhecimento sobre o tema
(40%); participação acadêmica na construção de todos os processos do projeto
(33%), entre outros. Foram citados como pontos negativos: baixa adesão da
comunidade acadêmica e curto espaço de tempo para desenvolvimento das
atividades de extensão.
Ao todo, foram
capacitados apenas 16 acadêmicos pelos multiplicadores, mesmo com ampla
divulgação da atividade. A limitação do projeto deveu-se às atividades
agendadas previamente ter ocorrido concomitantemente a período de greve na
universidade, o que prejudicou o alcance das metas, no quesito do público-alvo
estimado e também devido aos prazos e cronograma estabelecido para o projeto.
Foram aplicados aos beneficiados, instrumentos de avaliação pré
e pós-teste, que apontaram que a capacitação foi positiva, assim como as
estratégias didáticas utilizadas, embora se tenha notado que ainda restam
dúvidas sobre alguns aspectos relacionados ao tema, demonstrando a necessidade
de continuidade de projetos voltados para este público.
A descoberta precoce
da sexualidade, multiplicidade de parceiros, liberdade sexual, não adesão ao
uso de preservativo e a necessidade de se afirmar em relações grupais são
fatores que atualmente tornam os adolescentes e adultos jovens vulneráveis às
IST. E, mesmo diante de ampla divulgação na mídia e maior acesso à informação,
jovens ainda apresentam dúvidas sobre a prevenção e transmissão das IST, além
de muitas vezes estarem na condição de vulnerabilidade devido a comportamentos
de risco [13].
No entanto, a
sociedade ainda questiona quais devem ser as fontes de informação destes
jovens. Neste sentido, os pais têm papel fundamental e seriam os ‘grandes
responsáveis’ pelo diálogo sobre sexualidade com os filhos a fim de que os
mesmos façam escolhas maduras, responsáveis e seguras [14]. No entanto, um
estudo com universitários de cursos da área da saúde apontou que 78% referiram
ter recebido informações sobre sexualidade e IST na escola e 49% obtiveram
informações pela televisão [15], desvelando que muitas vezes este diálogo deixa
de fazer parte do contexto familiar e é delegado a terceiros, indicando a
importância dos educadores, profissionais da saúde e mídia na prevenção das
IST.
É importante
salientar que de acordo com a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, cabe ao
enfermeiro o manejo das IST, a realização de consulta de enfermagem,
procedimentos, atividades educativas em grupos e, conforme protocolos ou outras
normativas técnicas, a solicitação de exames complementares, a prescrição de
medicamentos e encaminhamento, quando necessário, de usuários a outros serviços
[16], destacando a importância do papel do enfermeiro na promoção da saúde e
prevenção das IST.
Em relação à
caracterização sociodemográfica da amostra,
observa-se nos estudos sobre IST e acadêmicos de cursos da área da saúde, que a
faixa etária dos acadêmicos varia de 18 a 30 anos [17,18], com predomínio de
solteiros [17,19] e do sexo feminino [17,19], semelhante ao perfil das
multiplicadoras.
Quanto às vias de
transmissão das IST, verificou-se que a maioria identificou todas as vias de
transmissão. Um estudo com 160 acadêmicos de diferentes cursos das áreas da
saúde observou que quando questionados sobre formas de transmissão das IST,
100% citou o sexo vaginal; 91% transmissão por sangue e em mesma proporção o
compartilhamento de objetos perfuro-cortantes; 90% citou o sexo anal; 73%
identificaram a transmissão vertical e apenas 70% destacaram a importância do
sexo oral na transmissão de IST, demonstrando que muitos acadêmicos ainda têm
dúvidas quanto às formas de transmissão [7].
Segundo a maioria das
participantes, o preservativo protege contra todas as formas de IST. No
entanto, o preservativo masculino pode não proteger contra a transmissão do
HPV, dependendo do local das lesões, que podem não ser cobertas. Estudo com 61
acadêmicos de um curso de graduação em enfermagem, matriculados no primeiro ao sétimo
período concluiu que a maioria não possui conhecimento suficiente sobre o vírus
do HPV, suas consequências, formas preventivas e de tratamento, podendo
influenciar negativamente na vulnerabilidade a esta IST, assim como na
transmissão da informação sobre esta infecção [20].
Assim como em nosso
estudo, a maioria dos acadêmicos de cursos da área da saúde associa a IST com o
corrimento/leucorreia, sendo assim mais conhecidas as
IST que cursam com este sintoma. Estudo com 154 acadêmicos apontou que 84%
consideram o corrimento algo anormal e associado à IST e 8,3% já tiveram alguma
IST [18].
Quando questionadas
sobre medidas preventivas para IST, todas as participantes citaram a
importância do uso do preservativo. Neste sentido, verifica-se que os dados na
literatura são divergentes. Um estudo apontou que 87% dos acadêmicos citaram o
preservativo como prática contraceptiva e prevenção das IST, entretanto, apenas
75% referiu fazer uso em todas as relações; a maioria referiu fazer uso de
anticoncepcionais orais (59%) e 53% usavam preservativos esporadicamente,
mostrando que a maioria se voltava apenas para prevenção da gestação indesejada
[17]. Já um estudo com 149 acadêmicos do curso de enfermagem apontou que 19%
consideram extremamente importante o uso de
preservativo, mas apenas 36% declarou fazer uso. O motivo alegado para não
utilizar o preservativo é a confiança no parceiro sexual (79%), uso de
anticoncepcionais orais (62%) e 42% dos acadêmicos declararam que cursar
enfermagem não alterou seus conhecimentos e comportamento sexual [21].
Semelhantemente aos
resultados, 97% dos acadêmicos de cursos da área da saúde citaram o
preservativo como medida preventiva; 19% a importância de ter parceiro sexual
fixo e 15% citaram que a abstinência sexual é uma forma segura de prevenção
[7]. Há ainda que citar que estudo com 143 acadêmicos de enfermagem demonstrou
que apenas 28% possuíam conhecimento adequado sobre o exame de ‘Papanicolau’ e
apenas 19% identificou que o exame é importante para prevenção e detecção de
IST, indicando que este conhecimento precisa ser revisto e as práticas de
prevenção e promoção à saúde devem ser estimuladas no ambiente universitário
[22].
Se detectado algum
sinal e sintoma de IST, a maioria dos participantes citou que o paciente deve
agendar consulta o mais rápido possível, sendo citado por 40% o CTA.
Contrapondo estes dados, 75% dos acadêmicos citaram que se detectado sinal e
sintoma, deve-se procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima da residência,
apenas 18% citaram a testagem no CTA e 20% referiu que nestes casos, o paciente
deve procurar a Unidade de Pronto Atendimento [7].
Quanto à estratégia
de multiplicadores, a maioria das extensionistas
respondeu que teve suas expectativas alcançadas a partir da vivência no
projeto, agregando novos conhecimentos. Ensaio clínico com 28 acadêmicos de
enfermagem utilizando como estratégia a aprendizagem em ambiente virtual sobre
aspectos epidemiológicos das IST, características, assistência de enfermagem,
abordagem sindrômica e manejo das IST, desenvolvido em sete módulos com carga
horária total de 20 horas, apontou que antes da capacitação, 68% dos acadêmicos
consideravam seu conhecimento limitado e após a capacitação, 78,5%
classificaram como substancial ou muito substancial [23], indicando a
importância de desenvolver diferentes estratégias de ensino para estimular a
aprendizagem do acadêmico, principalmente em relação a esta temática.
Conclui-se que as
multiplicadoras apresentavam conhecimento sobre as vias de transmissão das IST,
reconheciam a necessidade de tratamento do parceiro sexual e identificavam como
deve ser realizado o diagnóstico de infecção pelo HIV. A participação no
projeto aumentou discretamente o número de respostas corretas, assim como o
conhecimento sobre as IST e os sinais e sintomas.
Verificou-se maior
conhecimento de IST que cursam com leucorreia/corrimento
e lesões, além do HIV/Aids e a necessidade de explorar
mais as seguintes IST: infecção por clamídia, HPV e hepatites virais.
Em relação à
estratégia de multiplicadores, a maioria respondeu que teve suas expectativas
alcançadas, agregando novos conhecimentos, indicando ser efetiva e que deve ser
estimulada como estratégia didática.
Projeto contemplado
com bolsa Proext – UFTM.