REVISÃO
Evidências
profissionais de enfermeiros em Central de Material e Esterilização:
contribuições de uma revisão integrativa
Angeline do Nascimento
Parente*, Rafael Santana Costa Torres*, Winnie Taíse Pena Macedo*, Ana Tharcylla
Macedo Freitas*, Carla Steffane Oliveira e Silva*,
Eliane da Costa Lobato da Silva**
*Enfermeiros
graduados pela Universidade Federal do Pará, **Enfermeira, Especialista em
Gestão Hospitalar, Docente da Faculdade de Enfermagem Universidade Federal do Pará
Recebido em 17 de
outubro de 2017; aceito em 23 de abril de 2018.
Endereço
de correspondência:
Winnie Taíse Pena Macedo,
Passagem São Pedro, 220A (altos) 66070-740 Belém PA, E-mail:
winnietaise@gmail.com; Angeline do Nascimento
Parente: angelineparente@gmail.com; Rafael Santana Costa Torres:
rsct22@gmail.com; Ana Tharcylla Macedo Freitas:
tharcyllafreitas@yahoo.com.br; Carla Steffane
Oliveira e Silva: carlasteffane@hotmail.com; Eliane da Costa Lobato da Silva: lobatoenfa@gmail.com
Resumo
O processo de
trabalho na Central de Material e Esterilização (CME) é interdependente e
complementar aos trabalhos assistenciais em saúde, e se caracteriza por um
conjunto de instrumentos e finalidades, adaptados ao dia a dia próprio e
peculiar deste setor no qual os resultados do trabalho dependem das pessoas e
das relações que elas estabelecem nesse ambiente. O estudo teve como objetivos
analisar a produção científica sobre o tema, a fim de avaliar as evidências
disponíveis em relação ao processo de trabalho e a percepção de profissionais
de enfermagem sobre as suas atribuições e dificuldades enfrentadas na CME. Para
isso, realizou-se uma revisão integrativa de literatura, utilizando as bases Lilacs, BDEnf
e Medline para a seleção de artigos publicados nos
últimos 10 anos. As principais categorias abordadas sobre o trabalho do
enfermeiro na CME foram: dificuldades, avanços do trabalho e atribuições do
enfermeiro na CME. As CME apresentam papel fundamental para o funcionamento do
hospital e das diversas atividades desenvolvidas, portanto, o enfermeiro
atuando como gerente neste setor possui destaque e responsabilidade, promovendo
um cuidado que transpassa as paredes da CME.
Palavras-chave: Enfermagem,
esterilização, tecnologia.
Abstract
Professional evidence of nurses in a center of material and
sterilization: contributions of an integrative review
The work process at the Material and Sterilization Center (CME) is
interdependent and complementary to health care work and is characterized by a
set of instruments and purposes adapted to the own and peculiar day to day of
this sector in which the results of the work depend on the people and the
relationships that they establish in that environment. The goal of this study
was to analyze the scientific production on the subject, in order to evaluate
the available evidence regarding the work process and the perception of the
nursing professional in the Center of Material and Sterilization (CME). This is
an Integrative Literature Review study, the Lilacs, BDEnf
and Medline databases were used to select articles published in the last 10
years. The main issues addressed in the work of nurses at CME were:
difficulties, work progress, and nurse assignments at CME. The CME units play a
fundamental role in the functioning of the hospital and in the various
activities developed in it. Therefore, the nurse acting as a manager in this
sector has a great prominence and responsibility, promoting an indirect care
that goes beyond the walls of the CME.
Key-words: Nursing,
sterilization, technology.
Resumen
Evidencias profesionales
de enfermeros en la central de material y esterilización: contribuciones de
una revisión integral
El proceso de trabajo en la
Central de Material y Esterilización (CME) es interdependiente y complementario
a los trabajos asistenciales en salud y se caracteriza por un
conjunto de instrumentos y finalidades adaptados al día a día propio
y peculiar de este sector en el
cual los resultados del trabajo dependen
de las personas y de las
relaciones que ellas establecen
en ese ambiente. El estudio tuvo como objetivos analizar la
producción científica sobre el
tema, a fin de evaluar las evidencias disponibles en relación al proceso de trabajo y la percepción del
profesional de enfermería en la CME. Para ello, se realizó una revisión integrativa de literatura, utilizando las bases Lilacs, BDEnf y Medline
para la selección de
artículos publicados en los
últimos 10 años. Os principales
temas abordados sobre el trabajo del enfermero
en la CME fueron: dificultades, avances del trabajo y atribuciones
del enfermero en la CME. Las
CME's desempeñan un papel fundamental para el funcionamiento del hospital y de las diversas actividades desarrolladas, por lo tanto, el enfermero
actuando como gerente en
este sector posee gran
destaque y responsabilidad, promoviendo
un cuidado indirecto que traspasa las paredes de la CME.
Palabras-clave: Enfermería,
esterilización, tecnología.
A Central de Material
e Esterilização (CME) é uma área específica para atuação dos profissionais de
enfermagem. Além disto, se destaca dos demais setores hospitalares, no que diz
respeito à organização dos serviços por se configurar como uma unidade de apoio
aos serviços de assistência direta à saúde que se utilizam dos artigos
médico-hospitalares para a prestação do cuidado [1].
O Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN) determinou por meio do decreto Nº 94.406/1987 que
regulamenta lei nº 7.498/86, o exercício profissional, em que as atividades
inerentes à limpeza, organização de materiais e equipamentos, desinfecção e
esterilização dos materiais são atribuições de enfermagem e contam com o
enfermeiro na supervisão destas atividades. É necessário que este seja capaz de
orientar de maneira adequada as ações dos profissionais de nível técnico [2].
Posteriormente, com a
intenção de avigorar as legislações voltadas para os profissionais de
enfermagem de CME, a Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Centro Cirúrgico,
Recuperação Anestésica e Centro de Material e Esterilização (SOBECC) divulgou,
em 2007, uma lista de celeridades para melhor organização dos processos de
trabalho [3].
A RDC nº 15/2012 veio
para nortear as boas práticas de funcionamento das CME [4], visto que o
trabalho realizado pelas mesmas é complexo, pois envolve diretamente a
qualidade da assistência, diante da importância do reprocessamento dos
materiais médicos. No mesmo ano, o COFEN torna pública a resolução nº 424 que
normatiza as atribuições de enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem em
CME [5].
Os profissionais de
enfermagem articulam elementos do processo de trabalho em CME para atender as
especificidades exigidas pelo setor, utilizando-se de conhecimentos científicos
e tecnológicos, onde o modelo de gestão e a estrutura da CME nas organizações
de saúde determinam o sucesso do trabalho desenvolvido e influenciam na
satisfação dos profissionais e das relações de trabalho [6].
É exigido do
enfermeiro deste serviço, conhecimentos pertinentes à administração, gestão de
pessoas, prestação da assistência, no sentido da compreensão da importância da
qualidade no processamento de materiais. Para isso são
necessários saberes definidos, visto a importância do cumprimento das
necessidades exigidas pelo trabalho na CME, direcionando-se à assistência e
prática seguras, qualificada aos clientes [7].
O profissional de CME
por vezes experimenta certa invisibilidade, e isso se dá porque o cuidado que
não está diretamente ligado à assistência, ou seja, o cuidado indireto é menos
valorizado, apesar de compor um exercício baseado em saberes
técnicos e científicos [1]. A qualidade do trabalho do enfermeiro não se
relaciona somente à sua formação, mas também a qualidade da estrutura
proporcionada pelas instituições para que o profissional desenvolva seus
serviços [8]. Por isso, é fundamental a valorização e o incentivo à cultura de
organização institucional de modo interativo, flexível, com escuta e foco na
satisfação do trabalhador, e também na oferta de materiais e insumos adequados
para as suas funções, pois isto certamente irá auxiliá-lo no seu reconhecimento
profissional e da sua importância no ambiente de trabalho [9].
A título desta
investigação propusemos como questão norteadora: Quais as funções desempenhadas
pelo enfermeiro na CME e quais as dificuldades encontradas no exercício da
função?
Para o atendimento
das questões, esta pesquisa integrativa teve como objetivos: Analisar a
produção científica sobre o tema e avaliar as evidências sobre a percepção do
profissional a respeito de suas práticas e rotinas, obstáculos encontrados,
motivação e valorização desse profissional em seu ambiente de trabalho.
Para elaboração deste
estudo, foram seguidas as etapas propostas por Mendes, Silveira e Galvão: 1)
identificação do tema e questão de pesquisa para a elaboração da Revisão
Integrativa; 2) estabelecimento de critérios para a inclusão e exclusão de estudos/amostragem
e busca na literatura; 3) definição das informações a serem extraídas dos
estudos selecionados/categorização dos estudos; 4) avaliação dos estudos
incluídos na revisão integrativa; 5) interpretação dos resultados e (6)
apresentação da revisão/síntese do conhecimento [10].
A coleta de dados
ocorreu em 2017, através de busca nas bases de dados Lilacs
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval
System Online) e BDEnf (Base
de dados de enfermagem), de acordo com os seguintes critérios de inclusão:
produções na Língua Portuguesa, Inglesa e Espanhola, publicadas nos últimos 10
anos, sendo textos disponíveis na íntegra gratuitamente; e tratar-se de
pesquisa referente à Enfermagem e o trabalho por ela realizado, na CME.
Utilizamos os
indexadores controlados contidos no DeCS (Descritores
em Ciências da Saúde), que contemplou os seguintes termos ou descritores:
Enfermagem, Esterilização, Trabalho e Tecnologia. Como critério de exclusão,
deliberou-se pela não utilização de publicações pagas, artigos não disponíveis
na íntegra, dissertações, artigos publicados há mais de 10 anos, artigos que
não atenderam à questão norteadora, e artigos que não abordaram a temática.
Por meio de
cruzamento nas bases de dados, utilizando os descritores e demais critérios já
mencionados, selecionando-se o total de 12 (doze) artigos. A partir da análise
crítica de seus resumos, 10 (dez) estudos foram incluídos na pesquisa, por
atenderem aos critérios de inclusão e exclusão. Dos artigos excluídos, 1 (um) não atendia à temática, e 1 (um) tratava-se de uma
carta ao editor, portanto não se caracterizava como um artigo completo.
Posteriormente,
realizamos a releitura dos artigos relacionados, tendo como enfoque os
objetivos, metodologia e resultados apresentados, com o intuito de analisá-los
para obter sua correspondência com o objetivo e questão norteadora a serem
elucidados e, consequentemente, foi realizado o registro destes dados.
As sínteses dos dados
desta primeira análise temática foram organizadas em tabelas, com agrupamento
das informações, de acordo com a relevância e a correlação entre as categorias
temáticas que configuram o objetivo central deste estudo. Após esta configuração
e organização dos dados, realizamos a análise temática dos mesmos.
Os 10 artigos
selecionados para agregarem esta revisão integrativa da literatura foram
codificados por ordem cronológica (ano de publicação do artigo). Esta
identificação codificada teve por finalidade facilitar o processo dos dados,
com localização do artigo e retomada das leituras sempre que houvesse
necessidade.
Caracterização dos
estudos
Para melhor
caracterização dos artigos contemplados nesta revisão, a tabela I distribui as
pesquisas de acordo com o ano de publicação, periódico, tipo de estudo e
título.
Tabela
I – Artigos selecionados para o estudo.
Fonte: Artigos selecionados
na revisão integrativa de literatura.
Com relação ao ano de
publicação, obtivemos em 2013, um total de 7 artigos,
sendo utilizados somente 2, por se enquadrarem na proposta apresentada. No ano
de 2012, a pesquisa nos trouxe um total de 11 artigos, mas somente 1 foi utilizado por atender aos critérios de seleção que
compõe este estudo. Para 2011, encontramos 18 artigos para os descritores
utilizados, sendo somente 2 utilizados neste estudo.
No ano de 2010, nas bases de dados, encontramos 15 artigos e com apenas a
utilização de 1. Já em 2008 na base de dados
encontramos 15 artigos e somente 1 fora utilizado. Em
2007, obtivemos 13 artigos, no entanto, somente 2
foram utilizados por atenderem aos critérios pré-determinados. Em 2009, 2014,
2015 e 2016 foram encontradas um total de 30 publicações, porém as mesmas não
se enquadravam dentro do tema proposto com os descritores utilizados.
Outra forma de
categorizar refere-se à área de realização da pesquisa dos artigos
selecionados. Observou-se que 5 (50%) foram realizados
na região Sul (1 Rio Grande do Sul, 1 não identificado o estado, 3 no Paraná);
3 (30%) na região Sudeste (2 em São Paulo, 1 no Rio de Janeiro); 2 (20%) na
região Centro-Oeste (2 Goiás).
Em relação ao local
de estudo, os trabalhos são predominantemente desenvolvidos em ambiente
hospitalar com 8 publicações (80%), 1 publicação em
ambiente acadêmico (10%) e 1 de forma on-line (10%) que integram a coletânea
dos artigos.
Por meio da análise
dos 10 artigos selecionados, encontraram-se 9 (90%)
artigos na base de dados Lilacs e apenas 1 (10 %) na
base de dados Medline. Deste total de publicações 8 (80%) artigos também foram encontrados repetidos nas bases
de dados BDEnf e Medline.
Aspectos
do trabalho do enfermeiro na central de material e esterilização
A partir da análise
dos 10 artigos escolhidos, os principais aspectos do trabalho do enfermeiro na
Central de Material e Esterilização que foram encontrados neste estudo foram
agrupados em 3 tabelas por autores dos artigos (Tabela
II a IV).
Tabela
II –
Dificuldades do trabalho desenvolvido na
CME.
Fonte: Artigos selecionados
na revisão.
Tabela
III –
Atribuições do enfermeiro na CME.
Fonte: Artigos selecionados
na revisão.
Tabela
IV – Avanços no trabalho desenvolvido na CME.
Fonte: Artigos selecionados
na revisão.
As tabelas anteriores
descrevem os principais aspectos do trabalho da enfermagem na CME, extraídos
após o refinamento por leitura dos 10 artigos selecionados para a discussão. Os
resultados encontrados foram agrupados em categorias, sendo encontradas três
principais categorias: dificuldades do trabalho desenvolvido na CME;
atribuições do enfermeiro na CME; e os avanços no trabalho desenvolvido na CME.
Através da análise
das variáveis por categorias, pôde-se constatar que 5
artigos (50%) abordaram a desvalorização, desconhecimento e discriminação
sofridos pelos profissionais da CME; outros 2 artigos (20%) apontaram a
repetitividade das funções, cansaço físico e sobrecarga de trabalho na CME;
além destes, 2 artigos (20%) citaram dificuldades de relacionamento e falta de
adaptação em outros setores como motivos para estes profissionais serem
admitidos na CME. E apenas 1 artigo citou como
dificuldades o ambiente fechado, o isolamento de outros setores do hospital e o
período de adaptação na CME.
Segundo Martins [14],
a motivação e o conhecimento da dinâmica do CME foram os pontos relevantes
trazidos nos registros dos profissionais em seu estudo. A percepção desses
elementos pelos membros da equipe de enfermagem no CME tende a facilitar o
trabalho, tornando-o mais harmônico, principalmente, quando estes têm mais
clareza do seu papel e da responsabilidade que envolve suas ações para
qualidade do serviço.
Restrições pessoais,
sentimentos de exclusão e peso excessivo de responsabilidades são apontadas
como fatores que comprometem as ações individuais diante do trabalho em equipe,
e que comprometem o desempenho de profissionais que atuam na CME, indicando que
a valorização pessoal destes no âmbito do trabalho e a proteção ergonômica,
revelam a diferença no desempenho.
O bom relacionamento
interpessoal, a satisfação no trabalho e o perfil adequado dos trabalhadores
são fatores que facilitam o trabalho em equipe no setor [14].
Para Pezzi e Leite [16], o que se vê na maioria das CME’s é uma luta contínua das enfermeiras para estabelecer
um equilíbrio entre doença e saúde, trabalho e qualidade, qualidade no trabalho
e qualidade de vida, ou seja, tudo está envolvido no processo de trabalho na
CME, quase sempre, reproduzido com muito esforço. O trabalho em enfermagem tem
sido investigado em diversos estudos, no que tange o sofrimento e adoecimento,
por ser desgastante e, muitas vezes, realizado em condições de exposição a
riscos químicos, físicos, biológicos e ergonômicos [19].
O estudo de Martins
[14] indica como fatores impulsores, os bons recursos de infraestrutura, a
efetivação do registro na organização do trabalho e o clima organizacional.
Como restritivos, a autora aponta o déficit de recursos e de estratégias para
diminuir limitações da equipe e do próprio ambiente de trabalho. Corroborando
esses resultados, Spagnol [20] fala que em se
tratando de enfermagem, que é uma profissão marcada pela prestação de cuidados,
a presença da qualidade de vida no seu cotidiano de trabalho é extremamente
importante. No entanto, quando não há condições de trabalho que favoreçam a
satisfação e bem-estar dos trabalhadores, certamente alterará o produto final
desse trabalho, seja ele a assistência direta ou indireta ao cliente [20].
Isso indica a
necessidade de ajustes e implementações em vistas de
melhorias do setor, no que tange às dificuldades de escassez de recursos
materiais, equipamentos adequados, incluindo insumos específicos da CME, tais
como, as autoclaves, lavadoras e termodesinfectoras, climatizadores. Isto gera nos profissionais reflexões e
sentimentos que percorrem a insatisfação, a fadiga e a resiliência. Portanto, deve-se levar em consideração as características
particulares do ambiente, no intuito de contribuir com o trabalho, para a
visibilidade e destaque da real importância da enfermagem na CME como área
específica de trabalho e assistência de enfermagem aos clientes.
O ato de
problematizar situações favorece a dialética do ensino-aprendizagem, e que nos
remete à cidadania e humanização. Em se tratando de CME, devemos buscar
desvelar a realidade, para assim transformá-la. Neste contexto, a educação problematizadora, além de ser pautada em situações reais, é
também uma busca mediadora entre o indivíduo, a sociedade e o ambiente que o
cerca, propondo reflexões sobre a realidade e buscando construir outra de
interesse do grupo trazendo consigo consequências benéficas para o próprio
sujeito [13].
Assim sendo, o método
problematizador possibilita a sensibilidade do
indivíduo sobre seu comportamento no serviço de saúde, gerando uma alternativa
de caráter pedagógico, uma ferramenta que permite trabalhar a construção do
conhecimento através de experiências vivenciadas e que tenham alguma
significância para si e para o meio [13].
Na tabela III,
“Atribuições do enfermeiro na CME”. Foram identificados 3
artigos (30%) apontaram a atividade de gerenciamento; enquanto 4 artigos (40%)
citaram que a enfermagem atuando na CME realiza uma forma de cuidado indireto e
apenas 1 artigo (10%) citou as atividades desenvolvidas pela enfermagem como
atividades que seguem um padrão rotativo e os profissionais apresentam
preferência por determinadas áreas da CME.
Pezzi e Leite [16] em seu
estudo apontam que a prática profissional, o gerenciamento e recursos humanos
conectados, constituem um modelo de gerenciamento baseado na prática das
enfermeiras gerentes/supervisoras de CME, voltada para os recursos humanos.
A expressão ‘prática
gerencial de recursos humanos’ pode ser substituída por ‘gestão de pessoas’,
entendida como um conjunto de processos dinâmicos que podem ser associados a
pratica das enfermeiras da CME, compreendido por seis processos: 1- processo de
agregar pessoas (quem deve trabalhar no setor); 2 - processos de aplicar
pessoas (o que as pessoas deverão fazer); 3 - processos de recompensar pessoas
(como recompensar as pessoas pelo bom trabalho desenvolvido); 4 - processos de
desenvolver pessoas (como aperfeiçoar as pessoas para que realizem bem o seu
trabalho); 5 - processos de manter pessoas (como manter as pessoas no trabalho,
motivadas); 6 - processos de monitorar pessoas (como saber o que as pessoas
fazem e o que representam para a organização).
Fusco e Spiri [21] trazem em seu estudo dados que corroboram para
os resultados desta revisão, as falas de enfermeiros pesquisados, trazem que o
processo de trabalho se relaciona a um tipo de gerenciamento rotineiro e com
atividades programadas, porém, isso não diminui o valor das atividades realizadas
em CME.
Todos esses processos
estão bastante relacionados entre si. Quando um desses processos é falho,
poderá comprometer todos os demais.
A função do
enfermeiro do CME tem início na fase de planejamento da unidade. Sendo ele o
responsável pela escolha dos recursos materiais e humanos, e tem total
responsabilidade pela seleção e treinamento de pessoal: tanto a qualificação
quanto o recrutamento dos recursos humanos devem ser dimensionados,
criteriosamente, levando em conta o trabalho e o funcionamento do CME [16].
Ao enfermeiro por
vezes, é atribuído papeis prioritariamente administrativos onde se é cada vez
mais comum o uso de enfermeiros na gerência ou gestão hospitalar, em que pese a
sua capacidade de organizar e conduzir pessoas, indicando assim fatores extras a capacidade dos profissionais de diversas áreas da saúde
[11]. O estudo de Bartolomei concorda com este fato,
afirmando que a gerência apresenta-se como principal atividade realizada pelo
enfermeiro na CME, caracterizando-se em um processo estruturado, confirmando a
prática tradicional da enfermagem, cujo principal objeto é o processamento de
matérias médicos hospitalares que serão utilizados na assistência hospitalar,
subsidiando as ações não somente de enfermeiros, como também de outros
profissionais da saúde, e assim, promovendo um cuidado indireto ao paciente
[6].
Em relação aos
avanços no trabalho desenvolvido na CME, identificou-se em 3
artigos (30%) que os enfermeiros da CME conseguem reconhecer a importância do
trabalho realizados por eles na CME; 2 artigos (20%) apontam a necessidade de
haver educação continuada neste setor de extrema importância para o
funcionamento hospitalar; outros 2 artigos (20%) citam os avanços tecnológicos
que se sucederam nos últimos anos na CME e otimizaram os processos realizados
no interior da CME.
O autor relata que os
profissionais da CME se reconhecem como úteis e importantes à medida que passam
a compreender o valor do trabalho que realizam e a competência profissional que
é exigida para a realização dessas tarefas, assim ultrapassando percepções
falsas e incompletas sobre os profissionais que atuam na CME [18]. Corroborando
para isso, Pezzi [16] destaca em sua pesquisa que “o
potencial humano é cada vez mais reconhecido como um trunfo especial para a
instituição, devendo, então, seus profissionais ser
respeitados como verdadeiros condutores e formadores de uma realidade”. Reforça
ainda que a atuação na CME deve ser valorizada desde a graduação, para que se
diminua a imagem de desvalorização atrelada ao setor.
É notória a evolução
tecnológica e científica que ocorreu na CME nos últimos anos, o que facilita o
desenvolvimento das atividades realizadas na CME, aumentando a eficácia e a
eficiência dos processos, melhorando a qualidade dos artigos processados, e
proporcionando mais segurança aos profissionais, contribuindo com a saúde do
trabalhador [18].
Destaca-se a
importância da realização de atividades de educação permanente desenvolvidas na
CME, pois possibilita diminuir possíveis falhas ocorridas nos processos de
trabalho, além disso, a capacitação técnica em uma área específica facilita a
inserção dos trabalhadores e desenvolve a prática profissional no ambiente de
trabalho, contribuindo para a reflexão sobre a importância de seu trabalho.
A educação continuada
destaca-se como fundamental no constante aprimoramento do trabalhador [12,13].
Esta pesquisa nos
permitiu perceber a importância do profissional de enfermagem dentro das
Centrais de Materiais e Esterilização (CME), além do quanto este setor
apresenta papel fundamental para o funcionamento do hospital e das diversas
atividades desenvolvidas por todos os membros da equipe multiprofissional, o
que leva a considerar, que a CME é de fato essencial ao funcionamento do
hospital, pois sem ela não há como garantir assistência à saúde segura e de
qualidade.
O enfermeiro
apresenta um papel de importância na CME, pois em vista da rotatividade, que é
característica deste setor, o enfermeiro pode atuar tanto na assistência direta
- quando é chamado para atuar no centro cirúrgico - quanto na assistência
indireta, ao desempenhar as funções de gestor da CME. Ou seja, o coordenador
dos recursos humanos, materiais e de processos de higienização e esterilização
de artigos médico-hospitalares, os quais serão destinados à assistência direta
do paciente, também atua em atividades de ensino, capacitação e pesquisa que
podem e devem ser desenvolvidas por este profissional.
Ressaltamos também
que falhas no controle de esterilização refletem diretamente na qualidade e
peculiaridade do atendimento ao cliente, pois aumenta o risco de infecção para
o paciente.
Assim o estudo
pretendeu instigar a estudantes e profissionais de enfermagem a uma reflexão a
respeito deste setor de prática e atuação da enfermagem, a CME, sobre sua
complexidade, enfocando a importância da busca por novas pesquisas sobre o tema
abordado, a fim de oferecer atividades desenvolvidas neste setor com maior
eficiência, eficácia e qualidade, para que se obtenha uma prática segura
durante as diversas etapas dos processos de higienização e esterilização de
materiais, em que os maiores beneficiários são os clientes, e por extensão os
profissionais e a instituição de saúde.