RELATO
DE EXPERIÊNCIA
Prática
extensionista em grupo de idosos fundamentada na
política do envelhecimento ativo
Daiane de Souza
Fernandes, M.Sc.*, Stelacelly Coelho Toscano de Brito**, Suzayne
Naiara Leal***, Sara Melissa Lago Sousa****, Lucia Hisako
Takase Gonçalves, D.Sc.*****
*Docente
da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará, **Enfermeira,
Docente na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal do Pará,
***Acadêmica do Oitavo semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Federal do
Pará, ****Acadêmica do Nono semestre do Curso de Enfermagem da Universidade
Federal do Pará, *****Profª Visitante Sênior CAPES na
Universidade Federal do Pará/Programa de Pós-Graduação Enfermagem
Recebido em 17 de
outubro de 2017; aceito em 18 de junho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Daiane de Souza Fernandes, Rua Itabira, 20 Maguari 67030-390 Ananindeua PA,
E-mail: daissf@gmail.com; Stelacelly Coelho Toscano
de Brito: stelacellytoscano@yahoo.com.br; Suzayne
Naiara Leal: suzayneleal@hotmail.com; Sara Melissa Lago Sousa:
melissalagosousa@gmail.com; Lucia Hisako Takase Gonçalves: lhtakase@gmail.com.
Resumo
Objetivo: Descrever a
experiência de desenvolvimento de educação popular em saúde dentro das práticas
acadêmico-extensionista na promoção do envelhecimento
ativo entre idosos usuários de unidade básica de saúde. Métodos: Relato de experiência de atividades extensionistas
do projeto “Idoso Saudável” da Faculdade de Enfermagem da UFPA, iniciado em
2014 e em realização na Unidade Básica de Saúde do Guamá, Belém/PA. Resultados: A educação permanente
mediada pela tecnologia de educação popular em saúde tem favorecido aprendizado
dos idosos em comportamentos mais saudáveis, melhora da autoestima e maior
inserção social. Conclusão: A
articulação do ensino com a extensão universitária gera frutos positivos no
processo ensino-aprendizagem subsidiando a formação do alunado de enfermagem ao
mesmo tempo em que produz mudança comportamental dos idosos com vistas ao
envelhecimento mais saudável.
Palavras-chave: idoso, relações
comunidade-instituição, educação em saúde, enfermagem.
Abstract
Extensionist practice in a group
of elderly based on the policy of active aging
Objective: To describe
the experience of popular education development in health within academic-extensionist practices in the promotion of an active aging
among elderly users of a basic health unit. Methods:
Experience report of extensionist activities of the
"Healthy Elderly" project of the Nursing School of UFPA, which
started in 2014 and is carried out at the Basic Health Unit of Guamá, Belém/PA. Results: The permanent education
mediated by popular education technology in health has favored the elderly
learning of healthier behaviors, self-esteem improvement and greater social
insertion. Conclusion: The
articulation between teaching and university extension generates positive
results in the teaching-learning process by subsidizing nursing students
training produces behavioral changes in the elderly regarding a healthier
aging.
Key-words: aged, community-institutional
relations, health education, teaching-learning, nursing.
Resumen
Práctica extensionista en grupo de adultos
mayores fundamentada en la política del
envejecimiento activo
Objetivo: Describir
la experiencia
de desarrollo de educación
popular en salud dentro de las prácticas académico-extensionistas en la promoción del
envejecimiento activo entre
adultos mayores usuarios de
unidad básica de salud. Métodos: Relato de experiencia
de actividades extensionistas
del proyecto
“Adulto Mayor Saludable” de la
Facultad de Enfermería de la UFPA, iniciado en el 2014 y en realización
en la Unidad
Básica de Salud de Guamá, Belém/PA. Resultados: La educación
permanente mediada por la tecnología de educación popular en salud ha favorecido el aprendizaje de personas mayores con comportamientos
más saludables, mejora de la autoestima y mayor inserción social. Conclusión: La articulación de la enseñanza
con la extensión
universitaria genera frutos
positivos en el proceso enseñanza-aprendizaje,
subsidiando la formación del alumnado de enfermería y al mismo tiempo que produce un cambio comportamental de los mayores con el
objetivo de tener un envejecimiento más saludable.
Palabras-clave: anciano, relaciones comunidad-institución,
educación en salud, enfermería.
O envelhecimento da
população no Brasil vem-se apresentando de forma acelerada em consequência das
mudanças sociodemográficas nas últimas décadas. De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [1], o aumento
acelerado da população com idade igual e superior a 65 anos em todos os
estados, correspondendo a 4,8% do total da população geral em 1991, alcançou a
taxa de 7,4% em 2010. Estima-se que em 2050 esse estrato idoso corresponda a
cerca de 20% da população brasileira [2].
Considerando o atual
panorama de processo de envelhecimento populacional e evidências de transição
epidemiológica, a atualização e a reorganização do sistema público, social e de
saúde enfrentam desafios para atender as reais necessidades de atenção aos
idosos, decorrentes da prevalência de afecções crônicas mais próprias da
velhice, na maioria das vezes sobrepostas, caracterizando as comorbidades. Tal condição se caracteriza como nova questão
de necessidades específicas que demandam monitoramento constante do estado de
saúde e de contínuo cuidado e autocuidado na família e na comunidade [3,4].
O aparecimento de
afecções na velhice não representa necessariamente fator limitante à qualidade
de vida, uma vez que ao mantê-las controladas, tratadas e cuidadas, idosos poderão levar vida autônoma, independente e produtiva
dentro dos preceitos político-sociais de determinantes do envelhecimento ativo
[3,5].
O atual perfil
característico dos idosos em nosso meio, principalmente daqueles residentes em
periferias empobrecidas de grandes cidades [6,7], induz-nos à necessidade de
redirecionar a capacitação de enfermeiras(os) e do
ensino de acadêmicos de enfermagem, focando o atendimento de pessoas idosas com
perspectiva multissetorial. Tal abordagem se
constitui em desafios a serem enfrentados, pois devem ser encontradas
tecnologias educacionais operativas voltadas para a gerontocultura,
enfatizando, dentro dos aspectos éticos do cuidado, as práticas de promoção e
manutenção do envelhecimento ativo e saudável.
Nessa circunstância,
como enfermeira na função docente universitária na UFPA/FAENF, assumimos, em
conjunto com os pares docentes, os profissionais de serviço e, necessariamente,
os acadêmicos de enfermagem, o compromisso de desenvolver estratégias de
educação popular em saúde com o intuito de cultivar o envelhecimento ativo com
base na prática extensionista universitária,
protocolada sob o título “Idoso Saudável”, cujas atividades se iniciaram em
2014 com um grupo de usuários idosos na Unidade Básica de Saúde de Guamá,
Belém/PA.
Do aspecto de prática
educacional para formação dos acadêmicos, foram enfatizadas as ações com visão
humanística, crítica e reflexiva, com o intuito de torná-los capazes de atuar
com responsabilidade social de compromisso com a cidadania de cada um dos
idosos participantes do programa de extensão.
A formação do
enfermeiro torna-se fundamental quando incentivado a desenvolver aprendizagem
vivencial sob a forma de extensão [8,9], inclusa na tríade das funções
universitárias – ensino, pesquisa e extensão – na qual se supõe ensino
transversal do projeto político-pedagógico do currículo acadêmico [10],
favorecendo a formação de perfil profissional que atuará dentro da atual
conjuntura demográfico-epidemiológica do envelhecimento no país, o que requer o
enfrentamento de novos desafios de atenção à população idosa, tanto no âmbito
individual como coletivo.
Neste sentido, o
objetivo do presente artigo é relatar a experiência de desenvolvimento de ações
de educação popular em saúde dentro das práticas acadêmico-extensionistas
na promoção do envelhecimento ativo entre idosos usuários de uma Unidade Básica
de Saúde, destacando a contribuição da aprendizagem vivencial para o empoderamento pessoal e coletivo dos atores: os usuários
idosos, os acadêmicos de enfermagem e os profissionais envolvidos.
Nunca na história da
humanidade se observou o fenômeno do aumento da população idosa e o alongado de
sua longevidade. O censo demográfico brasileiro tem demonstrado que a cada
período censitário o estrato idoso tem crescido proporcionalmente, além do
aumento, em número absoluto, de idosos mais idosos – aqueles com 80 anos ou
mais [1]. Tal fenômeno reflete a conquista social de políticas econômicas e
sociais da segunda metade do século XX, resultando na melhoria das condições de
vida [11]. Contudo, o prolongamento da vida humana requer investimentos
pessoais de quem envelhece, exigindo educação permanente para a vida, para que
a longevidade das pessoas não seja apenas o mero acréscimo de anos à vida, mas
de vida mais longa com qualidade, como propõe a OMS [5]. As pessoas nunca
viveram tanto e ao mesmo tempo nunca sentiram tanta necessidade de aprender o
que fazer e como viver o tempo que lhes é dado. Daí a existência de
universidades da terceira idade e grupos de convivência repletos de idosos, em
quase todas as regiões do país [12].
Assim, a educação
permanente para a vida nunca foi tão necessária como hoje, para capacitar seres
humanos para protagonizar seu próprio desenvolvimento, permitindo que cada um
se emancipe e se torne um cidadão que reconhece seus direitos e deveres, além
de compromissos consigo mesmo e com a sociedade [13]. Essa educação se torna
requisito importante para a vida das pessoas, fazendo-as participar ativamente
da sociedade. Por meio de tecnologias ativas de educação em processos de vida e
saúde, podem ser abordadas temáticas várias de cultivo
do bem viver na velhice, atuando em consonância com o que é estabelecido na
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e na Política do Envelhecimento
Ativo.
A
política do envelhecimento ativo – um marco de referência para a prática extensionista
O envelhecimento
ativo é uma política de otimização das oportunidades de saúde, educação,
trabalho, participação social e segurança, com o propósito de promover o
bem-estar e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, durante todo o
processo de envelhecimento, possibilitando a vivência da longevidade mais
saudável possível; e quando, por circunstâncias várias, levarem pessoas ao
comprometimento da vida cotidiana, com perda da autonomia e independência, lhes
sejam disponíveis cuidados condignos por toda a vida, como direito e solidariedade
humana [5,14,15].
A Organização Mundial
de Saúde [5] define política do envelhecimento ativo como o processo de prover
e oportunizar às pessoas idosas serviços sociais e de
saúde e participação social e segurança para garantir-lhes um envelhecimento
com a maior qualidade possível. Tal conceito pressupõe que as pessoas sejam
induzidas a perceber o seu potencial para buscar o bem-estar biopsicossocial e
espiritual ao longo da vida. O termo “ativo” refere-se à participação social,
econômica, cultural, espiritual e civil de forma contínua, e não apenas à
capacidade física da pessoa ou de pertencer à força de trabalho na sociedade.
Todas as pessoas em processo de envelhecimento ou que apresentem alguma
afecção, geralmente crônica, podem ainda continuar contribuindo de forma
positiva e ativa para seus familiares, sua comunidade e seu país. A política do
envelhecer ativo decorre do aumento da expectativa de vida das pessoas. O
indivíduo pode envelhecer ativamente ao reconhecer seus direitos humanos e os princípios
de autonomia e independência, de participação social, de atenção condigna e de autorrealização, estabelecidos pela Organização das Nações
Unidas. Essa abordagem deixa de considerar os idosos como passivos e passa a
considerá-los como cidadãos, que reconhecem seus direitos e deveres e buscam a
igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida à medida
que envelhecem. Para que o envelhecimento ativo se estabeleça entre as pessoas
é importante que as políticas e programas locais tenham potencial para envolver
toda a comunidade; e que setores de políticas sociais, de saúde, de mercado de
emprego e trabalho e de educação promovam e apoiem a busca pelo envelhecimento
ativo para toda a população. Para que as políticas e programas destinados ao
envelhecimento ativo tenham êxito é necessário que seus “fatores determinantes”
sejam considerados prioritariamente com inclusão de insumos para melhorar as
condições gerais e para o usufruto da coletividade, como de programas
educacionais, de serviços sociais e de saúde, de moradia condigna para as
pessoas em geral, para as famílias e para a comunidade como um todo. Os fatores
determinantes, como: os econômicos, sociais, comportamentais, pessoais, de
serviços sociais e de saúde e ambiente físico podem interagir entre si e
inclusive entre a cultura e as questões de gênero; são fatores essenciais que
contribuem para que as populações envelheçam de modo ativo e saudável [5,15].
Contribuir na
promoção de envelhecimento ativo por meio de práticas acadêmicas extensionistas de enfermagem com métodos de educação
popular em saúde requer principalmente o reconhecimento dos direitos de
cidadania da pessoa idosa, assim como a compreensão dos princípios de
participação social, autorrealização e assistência condigna,
representativos de conceitos primordiais para direcionar uma abordagem que
permita o reconhecimento dos direitos dos mais velhos e a igualdade nas
oportunidades e atenção em todos os aspectos da vida.
O presente relato de
experiência de atividades extensionistas,
desenvolvidas por meio de processo educativo, é parte do projeto “Idoso
Saudável” da Faculdade de Enfermagem da UFPA. Criado em 2014, suas atividades
realizam-se mensalmente na Unidade Básica de Saúde do Guamá, onde esses
encontros proporcionam trabalhar práticas que proporcione aos idosos envelhecimento ativo e conhecimento sobre os
determinantes sociais de saúde, situados em um distrito de periferia
empobrecida do município de Belém/PA, campo oficial de prática do alunado da
área da saúde da UFPA.
Para implantar e
consolidar esse projeto de extensão, foram realizadas
atividades de formação e capacitação do grupo (estudantes de enfermagem,
docentes de enfermagem e enfermeiros voluntários), além de rastreamento e
cadastro dos idosos usuários da Unidade interessados em participar do projeto.
No formulário de cadastramento foram incluídos: dados de identificação como as
variáveis sociodemográficas; antecedentes familiares
e pessoais; dados de saúde, como: história de comorbidades,
tratamentos e controle; comportamentos de vida e saúde; funcionalidade para
atividades da vida diária e outros dados constantes da Caderneta do Idoso.
Dirigido
aos idosos
usuários de Atenção Primária do sistema
SUS, o “Projeto Idoso Saudável” visa à
prática do envelhecimento ativo, adotando uma estratégia
educacional adaptada
ao público gerontológico de convivência grupal, com o
alunado jovem de enfermagem, com os profissionais e docentes envolvidos, além
dos demais voluntários, todos em convívio dialógico horizontal e
compartilhamento de experiências entre diferentes gerações [16].
Esse projeto de
extensão teve origem nas necessidades identificadas no ensino curricular formal
de “Atenção Integral à Saúde do Adulto e Idoso” do terceiro semestre do Curso
de Enfermagem da UFPA para produzir integração mais consistente entre ensino e
assistência para o estrato idoso da população, cada vez mais presente nas
Unidades Básicas de Saúde. Com essa perspectiva, o envolvimento do alunado de
enfermagem em práticas extensionistas como parte de
atividade curricular busca aprendizagem efetiva em ação real conjunta com os
usuários idosos, atores desejosos de ver atendidas suas necessidades de vida e
saúde. Sua elaboração e implementação – uma estratégia
dinâmica conjunta com idosos – resultam em eleição de questões temáticas de
saúde de maior importância para o grupo e seleção de tecnologias cuidativo-educacionais mais apropriadas para discutir
comportamentos mais saudáveis com vistas a conquistar o envelhecimento ativo.
Considerando ser essa Extensão
Universitária um projeto contínuo, ano após ano, são introduzidas atualizações,
instruções e rememoração das ações do projeto realizadas periodicamente com a
equipe participante atual, incluindo não apenas o grupo de usuários idosos
participantes, grupo esse já acostumado a sofrer exclusões, mas sobretudo incluir novos idosos.
Identificação dos idosos participantes e dinâmicas das
atividades de encontros vivenciais
O presente projeto de
extensão tem como público alvo os usuários idosos de 60 e mais anos de idade
com disponibilidade para participar mensalmente de encontros vivenciais.
Atualmente, o projeto conta com mais de 90 idosos cadastrados, que participam
efetivamente, sendo 89% do sexo feminino e 11% do sexo masculino. Convém
salientar que esse quantitativo de participantes se justifica pelas
dificuldades pessoais de cada idoso em comparecer à unidade, tanto por difícil
acessibilidade urbana, quanto por problemas de saúde que o impedem de sair de
casa.
Nos encontros
vivenciais, desenvolvem-se não apenas metodologia participativa de educação
popular versando sobre a questão de saúde e envelhecimento previamente eleita
pelo grupo, mas também temas importantes veiculados pela mídia e que inquietam
os idosos, discutindo-os sob a óptica de conhecimentos gerontológicos,
partilhando experiências, questionando e encontrando melhores posicionamentos
pessoais e grupais no enfrentamento de questões em pauta.
As mais variadas
atividades são trabalhadas nas abordagens temáticas permeando ações complexas
que atendam às necessidades físicas, psicossociais e educacionais voltadas para
o autocuidado na terceira idade (individual e de família), negociado para
estabelecer vínculos na rede de suporte social, resgatando experiências e
valorizando saberes populares e técnicos facilitadores
do cuidado de outrem, em situações de idosos que necessitam de cuidadores.
O espaço criado pelo
projeto “Idoso Saudável” tem possibilitado aos idosos um ambiente de
convivência propício para que eles possam empoderar-se
e participar ativamente em atividades que gerem maior qualidade de vida e
produtividade pessoal e social.
Experiência
de atividade extensionista na provisão de ensino
transformador na enfermagem
As evidências de
envelhecimento das pessoas no país são cada vez mais nítidas, conforme os
índices apresentados pela estatística nacional [2]. A proposta
político-pedagógica da UFPA/FAENF em relação à realidade atual chama a atenção
para a necessidade de serem produzidas mudanças na formação diferenciada de futuros
enfermeiros. Com vistas a tal desafio, a equipe de docentes de enfermagem do 3º
período de Graduação de Enfermagem, no qual se aloca o ensino da enfermagem ao
adulto e a enfermagem gerontológica, lançou um
projeto de experimentação de atividades de extensão atreladas aos ditames
universitários do tripé – ensino, pesquisa e extensão – na formação do
enfermeiro com novo perfil, capaz de empreender mudanças sociais necessárias.
A extensão
universitária, conforme temos realizado, é um processo de cunho
técnico-científico, educacional e social, no qual são desenvolvidos
conhecimentos diferenciados, com uma vertente transformadora, tanto no âmbito
da universidade como da comunidade, por se fundamentar na troca de saberes acadêmicos e populares. Tratando-se de uma extensão
universitária democrática, busca integrar teoria e prática – prática esta
geralmente interdisciplinar – possibilitando sua avaliação pela comunidade
envolvida e pela sociedade em geral. De concepção freiriana,
a extensão universitária é tida como um processo dialético, pela valorização e
conhecimento do outro com intuito basilar de desenvolver práticas
transformadoras, atrelando o cuidado e a educação em saúde, caracterizando elo
indissociável na formação norteadora das práticas extensionistas
[17].
Atividades que
englobam o ensino e a extensão se revestem de extrema importância, tanto no
âmbito acadêmico quanto societal, conforme se
observou ao longo dos 3 anos de funcionamento.
Trabalhar com questões gerontogeriátricas é um
desafio, pois envolve abordagens teóricas atreladas às práticas extensionistas direcionadas às atividades de educação em
saúde, culminando com integralidade assistencial com reflexos diretos na
prática cotidiana das pessoas idosas.
Nessa perspectiva,
envolver o alunado de enfermagem na integração de atividade curricular com
prática de extensão enseja-lhe maior envolvimento no processo de educação e
assistência na atenção integral ao idoso, pela percepção proporcionada acerca
do processo de cuidar de forma global e multiprofissional, refletindo melhor a
prestação de uma assistência mais completa ao usuário.
Segundo escritos
sobre extensão com foco na pessoa idosa, nas universidades brasileiras, teve
seu auge no início século XXI. Nesse aspecto, as pessoas idosas, geralmente de
camadas menos privilegiadas, participam de programas comunitários com base
social, cultural e educativa, atrelados concomitantemente ao processo dinâmico
de ensino, pesquisa cultural e extensão. Assim, essas vivências proporcionam um
retorno de aprendizado na velhice por meio de (re)construções de experiências individuais e coletivas. O
envolvimento em questões de envelhecimento incitam inquietações que mantêm os
idosos ativos em programas de extensão, onde atividades os envolvem em uma nova
perspectiva de resgate sociopessoal [8].
Dessa forma, o
propósito do projeto “Idoso Saudável”, que é proporcionar o desenvolvimento do
envelhecimento ativo, vem contribuindo efetivamente para esse processo, por
meio de uma educação adaptada ao público gerontológico
e, ao mesmo tempo, a possibilidade de conviver com o meio acadêmico,
fortalecendo assim o partilhar de experiências tanto entre diferentes gerações
quanto de saberes técnicos e populares.
Dentre os projetos de extensão desenvolvidos
pela UFPA, destaca-se em especial seu modo paralelo à proposta pedagógica da
Enfermagem, nas vertentes de formação de bacharelado e de licenciatura [10].
Assim, busca-se aqui, executar a prática em analogia ao do processo de educar,
onde o idoso apoiado em processo de seu empoderamento, torna-se protagonista da construção do seu próprio
envelhecer com qualidade. A extensão universitária potencializa as práticas
educativas para proporcionar ao idoso, familiares e à comunidade o conhecimento
multidisciplinar, através de troca de experiências, viabilizando o processo de
ensino-aprendizagem na busca por transformações positivas no processo de
construção e reconstrução de saberes em contexto real [9].
Convém salientar a
repercussão dos efeitos do grupo de extensão em estudo, quando foi convidado a
estabelecer integração numa comunidade vizinha denominada Monte Serrat, onde se buscou ampliar as discussões com outras
pessoas idosas que ansiavam partilhar experiências e desenvolver o
autoconhecimento, discutindo e aprendendo o protagonismo do próprio envelhecer
com mais qualidade, por meio da educação popular em saúde, meta do projeto
“Idoso Saudável”.
Logo se percebe que a
relação do idoso com o projeto de extensão se concretiza com a
criação de relacionamentos seguros oportunizados na construção da autopercepção do idoso na sociedade, expressada por
atitudes de autoconfiança, vínculo entre todos os integrantes do projeto, bem
como participação ativa em atividades de grupo, com proposição de ações e
compartilhamento de experiências pessoais, dentro dos temas de vida e saúde
abordados.
A repercussão do
compartilhamento de notícias pela ferramenta digital na divulgação das
atividades realizadas mensalmente com os idosos, valorizando seus feitos, e a
comunicação de informações pertinentes aos conhecimentos de gerontogeriatria
da página do Projeto na mídia social Facebook,
permitiram ampliar e divulgar entre a comunidade local a importância de ser
repassada a proposição do Projeto e disseminá-lo para tornar-se conhecido,
evidenciando a real relevância da vivência para o envelhecimento ativo, como
direito de cidadania, e até mesmo para divulgar o que muitos desconhecem acerca
de envelhecimento, de velhice e de pessoas idosas.
A extensão universitária
possibilita aos acadêmicos o repasse de conhecimentos técnico-científicos
adquiridos na universidade, de modo articulado e congruente com o saber
popular, ao atender as demandas do público alvo, resignificando
a relação ensino-aprendizagem de forma dinâmica, conduzindo a mudanças
possíveis [9]. Os acadêmicos de enfermagem passam a ter uma visão diferenciada
do plano de intervenção, valorizando o contexto real e os saberes dos atores
participantes.
A busca por (re)construção de conhecimentos e
comportamentos de vida e saúde voltados para o envelhecimento ativo se pauta na
interação da tríade universitária – ensino, pesquisa e extensão – na qual a
articulação do ensino com a extensão seja enfática na educação permanente para
o desenvolvimento humano, mediada por tecnologias de educação popular para o
cultivo protagonista do bem viver dos envelhecentes,
os idosos usuários do sistema SUS, em postura empoderada
de cidadãos ativos e cientes dos seus direitos e deveres humanos.
Desempenhado pelo
enfermeiro de serviço e ou pelo docente universitário, o papel de educador em
enfermagem inclui funções diretas de responsabilidade nesse processo de
educação realística para a vida dos usuários, quando conseguem trabalhar na dialogicidade horizontal e encontrar juntos os melhores
direcionamentos da vida, sejam pessoal ou coletivo.
Na perspectiva aqui
analisada, o envolvimento dos acadêmicos de enfermagem na prática extensionista oportuniza reflexão e posicionamento sobre a
multifacetada realidade da pessoa idosa e do envelhecer humano e sobre o seu
papel social enquanto futuro profissional.
A educação permanente
para o cultivo do próprio envelhecimento como usufruto no desenvolvimento
humano enquanto pessoas que envelhecem é parte fundamental a ser mantida e
estimulada para o desenvolver positivo das pessoas idosas. Tal ação
educacional, por sua vez, influencia diretamente a capacitação dos
profissionais e acadêmicos para lidar adequadamente com a temática do
envelhecimento humano.
O envolvimento do
alunado de enfermagem nas práticas extensionistas,
desfrutando de ações cuidativo-educacionais no real
campo de prática acadêmica, como tem ocorrido no desenvolvimento do presente
projeto “Idoso Saudavel”, refletirá certamente na
formação desses futuros profissionais enfermeiros com visão e postura
diferenciadas na atenção da população idosa nos domínios teórico, prático e
político, valorizando a pessoa idosa em particular e a população idosa em
geral.