ARTIGO
ORIGINAL
Caracterização
do perfil de doadoras do banco de leite humano da maternidade escola de
Salvador/BA
Yasmin Costa Santos*,
Jadna Dourado Gaspar*, Géssica
Brito Duarte*, Flavia Pimentel Miranda, M.Sc.**
*Enfermeira
graduada pela Universidade Salvador UNIFACS| Laureate International Universities,
Salvador/BA, **Enfermeira, Professora colaboradora I da Escola de Enfermagem da
Universidade Salvador UNIFACS, Laureate International Universities,
Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP),
Salvador/BA
Recebido 18 de
outubro de 2017; aceito em 31 de maio de 2018.
Endereço
para correspondência:
Flavia Pimentel Miranda, Av. Luís Viana, 3146, Imbuí, 41720-200 Salvador BA,
E-mail: flaviabrim@hotmail.com; Yasmin Costa Santos: y-asmin.c_s@hotmail.com; Jadna Dourado Gaspar: jadnadouradogaspar@hotmail.com; Gessica Brito Duarte: gessica_tec@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Caracterizar o
perfil sociodemográfico e a história obstétrica atual
das mães doadoras de leite humano de uma maternidade escola de Salvador/BA. Métodos: Estudo transversal,
exploratório, descritivo com abordagem quantitativa, realizado no banco de
leite humano de uma maternidade de Salvador/BA no ano de 2015. Para a coleta de
dados foi utilizada uma entrevista estruturada composta por questões objetivas
e subjetivas, os dados foram analisados a partir do software SPSS versão 14.0
for Windows e apresentados descritivamente sob a forma de tabelas. Resultados: As mulheres na sua maioria
eram casadas multíparas, tiveram acompanhamento de pré-natal, parto normal e
mantiveram o aleitamento exclusivo, eram assalariadas e possuíam bom nível de
escolaridade. Conclusão: Conhecer o
perfil dessas doadoras permite o adequado enfoque das ações de captação e
divulgação dos Bancos de Leite Humano e favorece outras pesquisas do mesmo
aspecto, com outras metodologias para elaboração de estratégias para captação
de doadoras.
Palavras-chave: alimentação,
aleitamento materno, bancos de leite.
Abstract
Characterization of donor profile of human milk bank of the maternity
school of Salvador/BA
Objective: To
characterize the demographic profile and the current obstetric history of human
milk from donor mothers of a maternity school of Salvador, Bahia. Methods: Transversal study, exploratory,
descriptive quantitative approach in human milk bank of a maternity school of
Salvador/BA in the year 2015. For the collection of data we used a structured
interview which consists of objective and subjective questions. Data were analyzed
using the SPSS version 14.0 software for Windows and presented descriptively in
the form of tables. Results: The
majority of women was married, multiparous, prenatal care monitoring, natural
childbirth and maintained the exclusive breastfeeding, was salaried and has
good level of schooling. Conclusion:
To know the profile of these donors allows the appropriate focus of collection
and dissemination of human milk banks and promotes further research of the same
aspect, with other methodologies for the elaboration of strategies to attract
donors.
Key-words: nutrition,
breastfeeding, milk banks.
Resumen
Caracterización del perfil donante del banco de leche humano de la maternidad escuela
de Salvador/BA
Objetivo: Caracterizar el perfil sociodemográfico
y la historia obstétrica actual
de las madres donadoras de leche humano de una maternidad escuela de Salvador/BA. Métodos:
Estudio transversal, exploratorio,
descriptivo con abordaje cuantitativo, realizado en el
banco de leche humano de una maternidad
de Salvador/BA en el año de 2015. Para la
colecta de datos fue utilizada una entrevista estructurada
compuesta por cuestiones
objetivas y subjetivas. Los datos fueron
analizados a partir del software SPSS versión
14.0 para Windows y presentados descriptivamente en la forma de tablas. Resultados: Las
mujeres en su mayoría eran
casadas, multíparas, tuvieron acompañamiento
prenatal, parto normal y mantuvieron
la lactancia
materna exclusiva, eran asalariadas
y poseían alta escolaridad.
Conclusión:
Conocer el
perfil de esas donadoras
permite el adecuado enfoque
de las acciones de captación y divulgación de los bancos de leche humano además de favorecer otras investigaciones del mismo aspecto, con otras metodologías para elaboración de estrategias para la captación de donadoras.
Palabras-clave: alimentación, lactancia materna,
bancos de leche.
Na perspectiva da
prevenção e promoção da saúde do recém-nascido (RN) e do lactente, o
aleitamento materno (AM) é considerado uma estratégia fundamental para redução
da morbimortalidade infantil. Consiste em uma oferta nutricional na quantidade
e qualidade necessária para o desenvolvimento mental e crescimento físico do
indivíduo. Entre os seus componentes estão: proteínas, ácidos graxos, enzimas e
fatores de crescimento que protegem contra infecções, alergias e distúrbios
gastrointestinais [1,2].
A soma das
propriedades biológicas, fatores psicoafetivos e o
baixo custo tornam o leite humano a escolha perfeita
para alimentação do RN, além dos benefícios gerados à mãe como: regressão
uterina no pós-parto e menor prevalência de câncer de mama e ovário. Desta
forma, os benefícios do aleitamento materno são proporcionados ao binômio mãe e lactente [3].
O leite humano da
própria mãe é a escolha inicial de alimentação do recém-nascido principalmente
dos prematuros. Entretanto, existem situações em que o leite materno não pode
ser ofertado ao neonato, a exemplo de genitoras portadoras do Human Immunodeficiency
Virus (HIV) [4], doenças transmissíveis como a
varicela, ou ainda prematuros incapazes de sugar ao seio materno. Assim, os
bancos de leite humano (BLH) se fazem como uma estratégia eficaz de promoção,
proteção e apoio ao aleitamento materno [5,6].
O BLH, de acordo com
RDC/ANVISA n° 171 de 2006, é um centro especializado sem fins lucrativos,
vinculado obrigatoriamente a um hospital materno ou infantil, responsável pela
promoção do incentivo ao aleitamento materno e execução das atividades de
coleta, processamento e controle de qualidade de leite materno humano (LMH),
com vistas à posterior distribuição para crianças que dele necessitam para sua
sobrevivência [7].
Os bancos de leite
humano permitem também a construção de uma rede de possibilidades relacionadas
à nucleação familiar e social, favorecendo a aquisição do leite humano pelas
mães impossibilitadas de amamentar, contribuindo significativamente para a melhor
interação entre elas e suas crianças [6].
Nos últimos anos as
políticas públicas de saúde destinadas ao incentivo do aleitamento materno e ao
fortalecimento dos BLH adquiriram destaque e expansão no cenário nacional e
internacional [6], a exemplo do programa de cooperação Ibero-Americana,
orientado pelo intercâmbio de conhecimento e tecnologia do aleitamento materno
e bancos de leite humano, para que atinja um dos objetivos do milênio da
Organização Mundial de Saúde (OMS), representado por acabar com as mortes
evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5
anos, para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos até 2030 [8].
A rede de BLH do
Brasil é uma das mais complexas e eficientes em todo mundo. Os recentes e bons
resultados apresentados e as características empregadas foram fortes
motivadores para o processo de exportação do modelo de BLH para diversos
países, em destaque aos em desenvolvimento. Sendo isto, nada mais que uma
tentativa conjunta de desenvolvimento socioeconômico de maioria populacional
marginalizada [9].
No entanto os BLH
muitas vezes estão com o estoque de leite humano muito baixo, não conseguindo
suprir as necessidades da instituição. Na cidade de Salvador, um dos principais
BLH do estado, pertencente a uma maternidade escola, enfrentou grande crise em
meados 2010 com a redução de doadoras e consequentemente o baixo estoque para
atender a demanda interna [10], implicando dessa forma na diminuição da oferta
do leite humano (LH) às crianças internadas.
Diante destas
considerações, evidenciou-se a necessidade de conhecer o perfil de doadoras de
LH, para que posteriormente possam ser elaboradas estratégias de captação
dessas doadoras, e um consequente aumento do estoque de leite humano,
contribuindo para redução da morbimortalidade infantil.
Assim, objetivamos
responder ao seguinte questionamento: Qual o perfil sociodemográfico
e a história obstétrica das mulheres doadoras do Banco de Leite Humano de uma
Maternidade Escola de Salvador/BA?
Trata-se de um estudo
transversal, exploratório, descritivo com abordagem quantitativa, realizado no
Banco de Leite Humano da referida maternidade em Salvador/BA.
Para tanto foi
construída uma entrevista estruturada composta por questões objetivas e
subjetivas, contemplando às seguintes questões: dados de identificação, estado
civil, escolaridade, ocupação, renda familiar, além de perguntas sobre
morbidades, gestações anteriores (número de gestações, de partos e de abortos),
acompanhamento no pré-natal, uso de medicamentos e contraceptivos, história da
gestação atual (alterações mamárias, consulta e exames de pré-natal e tipo de
parto) e saúde do concepto (peso ao nascer, semanas de gestação, tipo de
alimentação e se receberam orientações durante o pré-natal).
Como critérios de
inclusão para o estudo, consideraram-se mulheres que estavam cadastradas e
doando LH no respectivo banco de leite, mesmo que não estivessem parido neste;
e a necessidade de doação no período estipulado para coleta de dados e a
assinatura o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os critérios de
exclusão foram: pacientes com deficiência auditiva, impossibilitadas de
responderem a entrevista ou que não assinaram o TCLE.
A amostra foi
constituída por 31 nutrizes doadoras, que aceitaram participar da pesquisa e
identificadas pelo BLH no período delimitado para coleta de dados, de 12 de
julho a 20 de setembro de 2015. Para captação das doadoras internas,
realizou-se um convite individual no alojamento conjunto, momento em que se
esclareceu a pesquisa e posterior assinatura do TCLE. Posteriormente, a
participante era entrevistada em local reservado, garantindo a privacidade e
confidencialidade das informações. Para o grupo de doadoras externas, o convite
para participação da pesquisa foi feito via contato telefônico, a partir da
busca dessas doadoras no cadastro do próprio BLH. Foram esclarecidos os
aspectos relacionados à pesquisa, e após o aceite encaminhávamos o TCLE para a
residência da doadora através do corpo de bombeiro, que atualmente realiza a
coleta do leite humano doado para o Instituto. Posteriormente ao recebimento do
TCLE, devidamente assinado pela doadora, realizávamos um novo contato
telefônico para realização da entrevista.
Os dados foram
analisados a partir do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS),
versão 14.0 para Windows. A normalidade das variáveis foi verificada através da
estatística descritiva e do teste Shapiro-Wilk. Os
resultados foram apresentados por meio de tabelas, as variáveis categóricas
expressas em valores absolutos e percentuais – n (%). As variáveis contínuas
com distribuição normal foram expressas em média e desvio padrão (±DP), e
aquelas com distribuição assimétrica, em mediana e intervalo interquartil (IQ).
Para comparação entre grupos foi utilizado o teste Mann Whitney para a variável
renda, o qual apresentou uma distribuição não paramétrica. As comparações das
variáveis categóricas não foram possíveis de serem realizadas através do teste qui-quadrado, devido ao número amostral não ser
representativo. O nível de significância adotado foi p < 0,05.
A pesquisa foi
desenvolvida dentro dos padrões éticos. Para tanto, seguimos as normas e
diretrizes regulamentadoras de pesquisas com seres humanos, estabelecidas pela
Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde. O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade
Salvador (UNIFACS) sob n° CAAE 44403215.9.0000.5033.
A amostra foi
composta por 31 doadoras, 16 eram doadoras internas (DI) e 15 eram doadoras
externas (DE). Na tabela I, apresentam-se as características sociodemográficas e as comparações entre os grupos de
doadoras de leite humano.
A média de idade do
grupo das doadoras internas foi de 23,9 anos (± 6,4%) e a média das doadoras
externas foi 31,4 anos (± 5,9%), com um p = 0,002. Quanto ao estado civil em
ambos os grupos de doadoras, a maior frequência foi de mulheres casadas. A
situação funcional em sua maioria foi de mulheres assalariadas, com diferença
significativa na renda familiar entre as doadoras (R$6.000,00 para DE e R$
2.000 DI, p<0,01). A variável escolaridade apresentou uma maior frequência
de ensino superior completo nas DE e as DI com o grau de escolaridade do 2º
grau completo conforme demonstrado na tabela abaixo.
Tabela
I - Distribuição das características sociodemográficas das doadoras de leite humano de uma
Maternidade Escola de Salvador/BA, 2015.
DI = Doadora Interna;
DE = Doadora Externa; n = número de participantes; DP = Desvio padrão; *
p<0,05 no teste Mann-Whitney; IQ = Intervalo interquartil, M= mediana; m =
média.
A maioria das
doadoras era primíparas, e as DE apresentaram uma maior frequência de
realização de aborto, parto, filho e gestação quando comparado com as DI,
conforme demonstrado na tabela II. Há uma maior frequência de hipertensão
arterial sistêmica (HAS), representando 9,7% (n = 3), seguida por tuberculose
6,5% (n = 2), em DI. Quando questionadas sobre o uso de bebida alcoólica,
somente 6,5% (n = 2) DI referiram fazer uso, ambos os grupos de doadoras não
apresentam histórico de fumo.
Tabela
II -
História obstétrica e clínica, uso de medicações e hábitos de vida das doadoras de leite
humano de uma Maternidade Escola de Salvador/BA, 2015.
DI = Doadora Interna;
DE = Doadora Externa; n = número de participantes; DP = Desvio padrão; m =
média.
Em relação às mamas,
62,5% das DI referiram que as mamas estavam em condições normais, entretanto
(46,7%) das DE relataram mamas ingurgitadas. Em relação ao tipo de parto, 58,1%
(n=18) de doadoras referiram parto normal e 93,5%
(n=29) realizaram pré-natal.
Tabela
III
- Situação obstétrica atual das doadoras
de leite humano de uma Maternidade Escola de Salvador/BA, 2015.
DI = doadora interna;
DE = doadora externa; n = número de participantes.
Ao serem questionadas
sobre a saúde do neonato e condições do aleitamento materno, 77,4% (n = 24)
referiram o nascimento dos filhos com peso adequado e 64,5% (n= 20) com idade
gestacional adequada, conforme tabela IV.
Observa-se diferença
de frequência do tipo de aleitamento entre as doadoras, no qual, as DI possuem
predominantemente o aleitamento misto (50 %), enquanto as DE em sua maioria
possuem o aleitamento exclusivo (86,7 %). Em relação à última variável, 65% das
doadoras afirmam ter recebido orientações dos profissionais de saúde durante o
pré-natal e o pós-parto, com destaque para os benefícios do aleitamento
exclusivo até os seis meses de idade, os malefícios do uso de chupetas,
chuquinhas, mamadeiras e doação de LH.
Tabela
IV- Análise descritiva da saúde do lactente e o
perfil de amamentação das doadoras de leite humano de uma Maternidade Escola de
Salvador/BA, 2015.
DI = Doadora Interna;
DE = Doadora Externa; n = número de participantes.
Na tabela I, ao
analisar a variável idade, percebe-se que as mulheres possuíam em média 31
anos, sendo representado por mulheres adultas, em idade reprodutiva, resultado
que corrobora outros estudos [7,11-13]. Essa faixa etária pode também
representar uma maior conscientização sobre a importância do aleitamento
materno e consequente doação de LH.
Tanto na condição de
DI como DE, houve uma maior frequência de mulheres casadas, resultado que
corrobora outros estudos [14]. Acredita-se que o apoio social oferecido pelo
parceiro pode influenciar na prática do aleitamento materno. Segundo Lima et al. [15], o apoio paterno é um
importante aliado na prática da amamentação e no processo de doação de LH.
Entretanto em um estudo qualitativo que objetivou revelar os sentimentos
vivenciados pelo pai, durante o processo de amamentação, evidenciou-se que os
pais que receberam orientações da equipe tiveram melhor desempenho junto à mãe
no processo de amamentação, apoiando, participando, incentivando e reconhecendo
a importância do leite materno para seu filho [16].
Quando questionadas sobre
a escolaridade, a maioria das mulheres referiu ter o 2º grau e/ou ensino
superior completo. Um estudo que objetivou descrever os fatores associados à
prática do aleitamento materno em nutrizes de um hospital público do Distrito
Federal mostrou que mulheres com maior nível de escolaridade amamentam por mais
tempo [17].
Outro estudo
realizado encontrou como uma das variáveis preditoras
do aleitamento materno exclusivo por pelo menos 6
meses, a variável escolaridade (OR 2,1; IC95% 1,2 - 3,6) [18]. Dessa forma, o
grau de instrução da doadora pode influenciar positivamente na decisão e na
adesão à prática de doação de leite, na medida em que interfere na compreensão
das orientações recebidas sobre aleitamento materno.
Para ambas as
categorias destacou-se como situação funcional a condição de assalariada,
provavelmente representada pela inserção da mulher no mercado de trabalho.
Entretanto a amamentação, segundo Nakano & Mamede [19], é uma prática
valorizada e cobrada socialmente, impondo à mulher a responsabilidade na
determinação das condições de bem-estar físico e emocional do filho.
O Ministério da
Saúde, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria lançou uma campanha
a fim de estimular as empresas privadas a adotarem a licença maternidade de
seis meses, a garantia da creche no ambiente do trabalho ou próximo dele e a
implantação das salas de aleitamento materno, ambiente criado no próprio
trabalho, destinados às mulheres que retornam da licença maternidade. A
intenção é que elas possam durante o horário de trabalho, com privacidade e
segurança, retirar o leite, armazená-lo em local adequado e depois levá-lo para
casa, aumentando o período de amamentação do filho [20].
Ao analisar a renda
familiar foi encontrada uma diferença significativa entre as doadoras
(R$6.000,00 para DE e R$ 2.000,00 para DI, p<0,01) com valores distribuídos
para aproximadamente 4 pessoas por família. Essa
diferença é um resultado já esperado em virtude do perfil de atendimento do
Instituto. De forma geral, as mulheres atendidas (DI) são de baixa renda e não
possuem convênio de saúde, representando essa diferença.
Em contrapartida
observa-se que em um universo com pessoas de baixa renda, a exemplo de países
como os do continente africano, asiático e alguns latino-americanos, os
recém-nascidos são nutridos com produtos industrializados. Em consequência há
um risco moderado para desnutrição, infecção e crescimento nos índices de
morbidade e mortalidade infantis [9].
Sabe-se que uma renda
familiar elevada sugere um investimento em educação, o que consequentemente
implicará na retenção e criticidade das informações passadas, bem como uma
conduta proativa e responsável do indivíduo frente ao processo saúde-doença.
Mulheres com essas características optam por gestar na fase adulta, com
melhores oportunidades financeiras proporcionadas pela estabilidade
profissional e com o apoio da sua rede social em especial o seu companheiro,
justificando talvez os percentuais de manutenção de aleitamento materno exclusivo,
representado pelas doadoras externas.
Ao analisar a tabela
II, observa-se que a maioria das doadoras era primípara, resultado também
encontrado no estudo de Alencar et. al. [1]. Essa condição pode ser um fator
que leva as mulheres à procura de auxílio e de atendimento nos serviços de
saúde, como reflexo de sua inexperiência e complicações do processo de
amamentação. Essa procura por profissionais de saúde possibilita o acesso a
informações acerca da existência dos BLH e a realização de doações [21].
Há uma tendência na
redução das doações de LH à medida que aumenta o número de filhos. Uma
realidade atribuída à redução de tempo livre das mães para ordenhar, preparar
materiais e armazenar de forma correta o leite [22].
Observou-se também
que as DE apresentaram um maior número de gestações, partos, filhos e
abortamentos em comparação com as DI. Acreditamos que este resultado pode estar
relacionado a uma média de idade superior das DE, vivenciando com maior
frequência essas experiências obstétricas.
Ao analisar a
história clínica, a doença que mais se destacou foi hipertensão arterial
sistêmica (HAS), seguida por tuberculose. Destaca-se ainda que todas as doenças
crônicas e infecciosas foram relatadas em sua maioria
pelas doadoras internas do BLH. A maternidade em questão é uma unidade de saúde
pública que atende a população carente às mais susceptíveis a comorbidades sugerindo, dessa forma, uma estreita relação
entre a condição socioeconômica com o processo saúde-doença. Entretanto,
acredita-se que a promoção e proteção à saúde são de corresponsabilidade da
comunidade, do governo e da equipe multidisciplinar em saúde, seja no âmbito
público ou privado [23].
Quando questionadas
sobre hábitos de vida, somente 6,5% (n = 2) DI referiram utilizar bebida
alcoólica. Seu consumo faz parte do cotidiano de muitas mulheres, em especial
aquelas com baixo nível socioeconômico, que por desconhecimento dos possíveis
agravos ou por consequência do vício, mantém o uso durante a gravidez e a
lactação. Devido aos fatores físicos e psíquicos envolvidos nos períodos de
gravidez e amamentação, esses momentos tornam-se ideais para que os
profissionais de saúde orientem a interrupção do uso de álcool e tabaco [24].
Quando questionadas
sobre aspectos relacionados às mamas, a maioria delas referiu que estava em
condições normais. Entretanto, quando comparamos os grupos, observou-se que
grande parte das DE, referiram mamas ingurgitadas. A dificuldade de
amamentação, pega inadequada, ingurgitamento mamário, dentre outros, é o
principal fator para a busca ao serviço de BLH, nesse momento o profissional
deve orientar e sensibilizar a lactante e assim captar novas doadoras [22].
Esse resultado pode
estar relacionado à assistência prestada pela equipe multiprofissional de saúde
na maternidade escola. Por ser também um hospital amigo da criança, a
instituição capacita e treina periodicamente seus funcionários para o manejo
adequado das intercorrências resultando em menores números de complicações
mamárias.
Entre os grupos de
doadoras, ambos fizeram referência ao parto normal, representando 58,1%. De
acordo com Genovez et al. [25], o tipo de parto parece exercer influência no tempo de
duração da amamentação e no risco de desmame precoce, assim como encontrado em
outros estudos [26,27].
Quanto à realização
das consultas de pré-natal, 93,5% das doadoras de ambos os grupos realizaram a
consulta de pré-natal, resultado que corrobora outros estudos [1,24]. A
consulta pré-natal faz-se de fundamental importância, pois é também, nesse
momento, que a mãe receberá informações sobre aleitamento materno, preparação
adequada para as mamas e realização de sorologias, sendo seus resultados úteis
para o preenchimento dos pré-requisitos para a doação de LH.
Com relação às
variáveis do nascimento do neonato, a maioria destes era a termo e tinha peso
adequado para idade gestacional, resultado que corrobora estudo também
desenvolvido em uma Maternidade de Referência de Salvador, que observou que
91,2% das doadoras tiveram seus bebês a termo (37 a 41 semanas) e 70,6% nasceram com peso adequado [26]. Acreditamos que esse perfil
de doadoras possa relacionar-se à procura do serviço do Instituto para o manejo
de complicações mamárias, sendo dessa forma manejadas e posteriormente
estimuladas a doarem o leite excedente. Com relação às DI, essas mulheres
provavelmente foram orientadas sobre a importância da doação ao BLH em virtude
da oferta desse serviço na instituição.
Observa-se ainda uma
diferença em relação ao tipo de aleitamento entre as doadoras, havendo um
predomínio maior do aleitamento exclusivo, 86,7% entre as doadoras externas.
Essa condição possivelmente está atrelada ao nível socioeconômico e
escolaridade, com consequente disponibilidade de informações e conhecimentos
sobre os benefícios da prática para o binômio, como encontrado em diversos
estudos [5,19,26]. Entretanto as DI, apesar de terem o
apoio do BLH da instituição, representaram um maior número de aleitamento
misto, podendo estar relacionado a múltiplos fatores como: baixa qualidade do
pré-natal e consequente ausência de orientação sobre aleitamento, falta de apoio à nutriz e baixa produção de leite em
virtude da má alimentação e hidratação, condições intimamente relacionadas ao
baixo nível socioeconômico.
É dado que para o
sucesso do AM nos BLH faz-se necessário um padrão de normas a serem seguidas
por todos os funcionários, treinamento continuo, fazer educação em saúde,
incentivar e sugerir alternativas para a manutenção do AM, esclarecer sobre as
desvantagens de uso de bico e mamadeiras, praticar o alojamento conjunto e
direcionar as mães, com alta hospitalar, para grupos de apoio ao aleitamento
materno na comunidade ou em serviços de saúde [28]. A última variável da
pesquisa contempla as orientações dos profissionais de saúde sobre o
aleitamento materno aos pais e familiares durante o pré-natal e mostrou que em
comparação com as DE, as DI tiveram em maior parte orientações relacionadas à
prática durante esse período. Percebe-se dessa forma que os profissionais de
saúde exercem grande influência no preparo da gestante durante a fase da
amamentação, fato que nos leva a refletir sobre a responsabilidade das
instituições em capacitação profissional e elaboração de estratégias para
estímulo e apoio ao AM [29].
A educação em saúde
bem como todo processo de preparo para lactação durante o pré-natal e
pós-parto, comprovadamente, garante bons resultados para o AM e para o
crescimento das doações ao BLH. O profissional de saúde que mantém o contato
com a gestante ou puérpera deve informar as vantagens da amamentação para o binômio mãe-filho, as desvantagens e técnicas apropriadas
de amamentação a fim de prevenir e tratar ingurgitamento mamário, mastite, dor
mamilar, abscesso mamário.
Além do domínio técnico
os facilitadores do processo de amamentação que atuam no BLH necessitam ter
carisma e empatia para promover a saúde emocional da mulher e realizar um
atendimento humanizado [29].
O presente estudo
permitiu identificar que as doadoras do BLH são mulheres na sua maioria
casadas, primíparas, que tiveram acompanhamento de pré-natal, parto normal e
mantiveram o aleitamento exclusivo. São assalariadas e possuem bom nível de
escolaridade, corroborando o entendimento quanto à necessidade do aleitamento
materno e sugere que o trabalho de incentivo a doação seja eficaz.
Ao identificar o
perfil das doadoras do local de estudo, institui-se a possibilidade de futuros
estudos e intervenções para captação de novas doadoras e fidelização das
mesmas. Destacamos que o estudo realizado apresentou limitações quanto à sua
população e amostra. O número de doadoras cadastradas no BLH da maternidade é
superior ao número das participantes da pesquisa e a definição da amostra
também é considerada um fator limitante, por não ser aleatória.
Logo, faz-se
necessário investir em novas pesquisas e produções científicas específicas na
área de Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano, além de intensificar as
orientações à genitora e sua família, núcleo social durante o pré-natal e
puerpério, expandir a divulgação das ações dos BLH, realizar a busca ativa de
doadoras e capacitar profissionais de saúde para que sejam precursores da
prática do aleitamento materno.