ARTIGO
ORIGINAL
Deficiência
de vitamina D de mães e crianças ao nascer e aos seis meses
Mara Rúbia Maciel
Cardoso do Prado, D.Sc.*, Sarah Aparecida Vieira
Ribeiro**, Pedro Paulo do Prado Júnior, D.Sc.***, Silvia Eloiza Priore,
D.Sc.****, Sylvia do Carmo Castro Franceschini, D.Sc.****
*Enfermeira,
Docente da Universidade Federal de Viçosa (UFV/MG), Curso de Enfermagem,
Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM), **Nutricionista, Pós-graduação em
Ciência da Nutrição da UFV, ***Enfermeiro, Docente da UFV, Curso de Enfermagem,
Departamento de Medicina e Enfermagem (DEM), ***Nutricionista, Docente do
departamento de Nutrição da UFV
Recebido em 18 de
abril de 2017; aceito em 18 de agosto de 2017.
Endereço
para correspondência:
Mara Rúbia Maciel Cardoso do Prado, Rua Vinicius de Moraes, 470 Bairro de
Fátima 36570-000 Viçosa MG, Email: mara.prado@ufv.br ou
enfermeiramara@hotmail.com; Sarah Aparecida Vieira Ribeiro:
sarahvieiraufv@gmail.com; Pedro Paulo do Prado Júnior: pedro.prado@ufv.br;
Silvia Eloiza Priore: sepriore@gmail.com; Sylvia do Carmo Castro Franceschini: sylvia@ufv.br
Artigo
retirado da tese intitulada: “Fatores associados aos níveis de vitamina D do
binômio mãe-filho nos seis primeiros meses de vida no município de Viçosa/MG de
autoria de Mara Rúbia Maciel Cardoso do Prado, sob a orientação da Prof. Sylvia do Carmo Castro Franceschini, defendida em 26
de fevereiro de 2015, no Programa de Pós-graduação do Departamento de Nutrição
da UFV,Doutorado em Ciência da Nutrição.
Resumo
Objetivo: Avaliar fatores
associados à deficiência de vitamina D de mães e crianças ao nascer e aos seis
meses. Material e métodos: Estudo de
coorte com 65 binômios mães-filhos. Avaliou-se 25(OH)D, fosfatase alcalina,
cálcio, fósforo e paratormônio. Analisou-se risco relativo, teste t pareado,
teste de Wilcoxon, regressão linear
simples e múltipla. Resultados:
Encontraram-se baixos níveis plasmáticos de vitamina D nas mulheres e crianças
ao nascimento 85% e 80,5% e aos seis meses 23,7% e 33,3% respectivamente. A não
suplementação da criança constituiu fator de risco para a deficiência de
vitamina D. A 25(OH)D do recém-nascido e a não suplementação foram preditores
da deficiência de vitamina D da criança no sexto mês; a baixa ingestão de
vitamina D foi preditora da deficiência de 25(OH)D materna. Conclusão: Exposição solar, educação
nutricional e suplementação de vitamina D, assim como o monitoramento contínuo
da criança desde o nascimento são ações que evitam a hipovitaminose D.
Palavras-chave: deficiência de
vitamina D, mães, crianças.
Abstract
Deficiency of vitamin D of mothers and children at
birth and six months
Objective: To evaluate
factors associated with vitamin D deficiency in mothers and children at birth
and at six months of age. Methods:
Cohort study with 65 mother-child binomials. 25 (OH) D, alkaline phosphatase,
calcium, phosphorus and parathormone were evaluated.
Relative Risk, paired t-test, Wilcoxon's test, simple and multiple linear regression were analyzed. Results: Low plasma vitamin D levels were found in women and
children at birth 85% and 80.5% and at six months 23.7% and 33.3%,
respectively. The non-supplementation of the child was a risk factor for
vitamin D deficiency. The newborn's 25 (OH) D and non-supplementation were
predictors of the child's vitamin D deficiency in the sixth month; the low
vitamin D intake was a predictor of maternal 25 (OH) D deficiency.
Conclusion: Sun exposure, nutritional
education and vitamin D supplementation, as well as the continuous monitoring
of the child from birth are actions that avoid vitamin D deficiency.
Key-words: vitamin D
deficiency, mothers, children.
Resumen
Deficiencia
de vitamina D en madres y niños al nacer y a los seis
meses
Objetivo: Evaluar factores
asociados a la deficiencia de vitamina D en madres y
niños al nacer y a los seis meses. Material
y métodos: Estudio de cohorte con 65 binomios madre-hijo. Se evaluó
25(OH)D, fosfatasa alcalina, calcio, fosforo y hormona paratiroidea. Se analizó
riesgo relativo, prueba t pareada, prueba de Wilcoxon, regresión lineal simple
y múltiple. Resultados: Se encontró
bajos niveles plasmáticos de vitamina D en mujeres y niños al
nacer el 85% y el 80,5% y a los seis meses el 23,7% y el 33% respectivamente.
La falta de suplementación del niño constituye un
factor de riesgo para deficiencia de vitamina D. La 25(OH)D del recién nacido y
la falta de suplementación fueron predictores de deficiencia de vitamina D del
niño en el sexto mes; la baja ingesta de vitamina D fue predictora de 25(OH)D
materna. Conclusión: Exposición
solar, educación nutricional y suplementación de vitamina D, así como el monitoreo continuo del niño desde el nacimiento son
acciones que evitan la hipovitaminose D.
Palabras-clave:
deficiencia de vitamina D, madres, niño.
A deficiência de
vitamina D (DVD), durante a gravidez, em recém-nascidos e crianças, é comum em
todo o mundo atualmente. Estudos mostram uma elevada prevalência dessa doença
em várias regiões geográficas, incluindo o Brasil [1-5]. Há uma forte relação
dos níveis circulantes de 25(OH)D materna e fetal (sangue do cordão umbilical)
de tal forma que a DVD materna reflete na DVD neonatal [1-5].
Durante as primeiras
6 a 8 semanas de vida, os níveis séricos de vitamina D (VD) das crianças são
determinados no nascimento e dependentes dos níveis plasmáticos de VD maternos
[6].
Suficiência de VD é
essencial para o desenvolvimento normal do esqueleto tanto no período
intrauterino [7] quanto na infância [8], para alcançar e manter a saúde óssea
em adultos [9]. Isto ocorre pelo fato da suficiência de VD levar a uma relação
cálcio-fósforo adequada, resultando em mineralização óssea eficaz [8]. A
insuficiência materna de VD durante a gravidez associa-se com redução na
aquisição mineral óssea em crianças [8] e ainda persiste
nove anos após o nascimento [10]. Nas crianças cujas placas epifisárias não
foram fechadas, os níveis plasmáticos de VD encontram-se abaixo de 15 ng/ml,
provocando desorganização dos condrócitos, bem como defeitos de mineralização
do esqueleto; com deformidades ósseas e baixa estatura, manifestações típicas de
raquitismo [8].
Além da DVD materna
levar a deficiência neonatal, a concentração de VD no leite materno é baixa
(<20 UI/L) e insuficiente para as necessidades do crescimento infantil [11].
Isto significa que crianças nascidas de mães com DVD são mais propensas a
desenvolver a respectiva deficiência, salvo quando suplementadas ou
adequadamente expostas à luz solar.
Os fatores de risco
para DVD são: aumento da pigmentação da pele, exposição solar inadequada,
aleitamento exclusivo sem suplementação de VD, envelhecimento, uso de protetor
solar, estilo de vida (trabalho por longas horas em ambiente fechado sem a
presença do sol), vestuário cobrindo grande parte do corpo, estação do ano,
latitude, local de moradia [8].
No Brasil existem
poucos estudos sobre a DVD em crianças. E até o presente momento não existe
estudo de coorte de crianças nascidas a termo saudáveis, do nascimento ao sexto
mês de vida que aborde tal desfecho. Baseando-se na importância desse problema
de saúde global, o objetivo desta pesquisa foi avaliar os fatores associados à
deficiência de vitamina D de mães e crianças brasileiras ao nascimento e aos
seis meses de vida.
Trata-se de um estudo
de coorte que avaliou mães e crianças nascidas e residentes no município de
Viçosa/MG, do nascimento ao sexto mês de vida. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa
(nº 051/2012).
Incluíram-se no
estudo todas as crianças nascidas na maternidade do município de Viçosa que
apresentassem idade gestacional ≥ 37 semanas e cujas mães, residentes em
área urbana ou rural, tivessem assinado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, no período de 2012. Excluíram-se os recém-nascidos que foram
internados na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal, com malformação congênita,
portadores de síndromes e gemelares, totalizando 226 mulheres e suas crianças.
Dos 226 binômios mãe-filho incluídos no estudo ao nascimento, 119 compareceram
à primeira consulta, 65 foram acompanhados mensalmente
até o sexto mês e fizeram os exames bioquímicos.
Avaliou-se em 5 ml de sangue do cordão umbilical e 5mL de sangue venoso
materno os níveis plasmáticos de 25(OH)D, fosfatase alcalina (FA), paratormônio
(PTH), cálcio (Ca) e fósforo (P) no pós-parto e no sexto mês. O soro foi
separado em centrífuga refrigerada, aliquotado e armazenado a -20ºC até ser
analisado. O cálcio foi medido por colorimetria de ponto final
Cálcio-ArsenazoIII e a fosfatase alcalina, usando-se a cinética IFCC (Bioclin)
[12]. Os níveis plasmáticos de 25(OH)D foram medidos por Ensaio Liaison®
imunoensaio quimioluminescente competitivo-CLIA (Diasorin) [13] e os de PTH,
por imunoquimioluminométrico em um Beckman Coulter® [12]. O fósforo foi obtido
por UV de ponto final [12].
A amostra foi
dividida em dois grupos, de acordo com os níveis de VD dos RN e das mães:
suficiência e não suficiência de VD (insuficiência e deficiência de VD). A DVD
para mães e crianças foi definida como 25(OH)D < 20 ng/ml, a insuficiência
de 25(OH)D entre ≥ 20 e <3 0 ng/ml e a suficiência de 25(OH)D ≥
30 ng/ml [3]. O ponto de corte para o PTH elevado foi 46 pg/ ml; o de
hipocalcemia, níveis plasmáticos de Ca < 9 mg/dl
para crianças e < 8,8 mg/dl para as mães; a FA foi considerada elevada acima
de 375 U/L para recém-nascidos e 100 U/l para as mães [1]. O ponto de corte
para o P foi de 4,0 a 7,0 mg/dl para crianças e 2,5 a
4,6 para as mães [13].
As informações
obstétricas e dos bebês (peso, comprimento, perímetro cefálico, raça) foram
obtidas no Livro de Obstetrícia e na Declaração de Nascidos Vivos da
maternidade. Os dados socioeconômicos e do pré-natal (incluindo exposição
solar, uso de protetor e de polivitamínico) foram obtidas por meio de
questionário aplicado às mulheres no primeiro, segundo, terceiro, quarto,
quinto e sexto mês após o parto, no Setor de Imunização, da Policlínica
Municipal de Viçosa. A antropometria materna e infantil foi realizada do
primeiro ao sexto mês. Os dados de peso e comprimento foram convertidos nos
índices peso/idade (P/I), peso/estatura (P/E), estatura/idade (E/I), em
escore-Z, utilizando-se como referência o padrão antropométrico proposto pela
Organização Mundial de Saúde [14]. A velocidade média de ganho de peso (g/mês)
foi calculada a partir dos valores dos pesos absolutos do sexto mês menos o
peso ao nascer dividido por seis meses de avaliação; a velocidade média de
comprimento (cm/mês) foi calculada utilizando-se os valores dos comprimentos
absolutos do sexto mês menos o comprimento ao nascer dividido por seis meses de
avaliação; e a velocidade média do perímetro cefálico (cm/mês) utilizou-se dos
valores dos perímetros cefálicos absolutos do sexto mês menos o perímetro
cefálico ao nascer dividido por seis meses de avaliação.
Aplicou-se mensalmente
inquérito dietético à mãe, recordatório de 24 horas até o final do seguimento,
a fim de avaliar a ingestão de vitamina D pelo software Avanutri. A prevalência
de inadequação de consumo de vitamina D foi realizada levando em conta o número
total de mulheres do estudo, essa medida corresponde à proporção de indivíduos
que tem um consumo habitual menor que o valor de Requerimento Médio Estimado (Estimated Average Requirement)
estabelecido para o consumo de VD [15,16].
A cor da pele das
mães e recém-nascidos foi autorrelatada e confirmada na Declaração de Nascidos
Vivos pelos pesquisadores no momento da aplicação do questionário, sendo
categorizada em branca e não branca. A amostra foi dividida em dois grupos de
acordo com o tempo de exposição ao sol na gestação: adequado >60
minutos/semana ou inadequado ≤ 60 minutos/semana [7].
As crianças que
apresentaram DVD foram encaminhadas para o pediatra da Policlínica, enquanto as
mães foram encaminhadas para o médico da Estratégia de Saúde da Família para
suplementação de VD, seguindo as orientações do Instituto de Medicina [15].
As participantes
foram informadas sobre os resultados das avaliações antropométricas,
bioquímicas e orientados sobre alimentação saudável (alimentos fontes em VD) e
exposição solar adequada.
O banco de dados foi
organizado em planilha Microsoft-Excel-XP, analisados pelos softwares IBM®
SPSS® versão 20.0 para Windows (SPSS, Chicago, IL, EUA) e STATA versão 9.1 (Stata Corp.,
College Station, TX, EUA). O teste de Kolmogorov-Smirnov
foi utilizado para avaliar normalidade das variáveis quantitativas. As
variáveis categóricas foram analisadas usando o Risco Relativo, por se tratar
de um estudo longitudinal e seus respectivos Intervalos de Confiança (IC) de
95%, a fim de avaliar a não suficiência de vitamina D como desfecho principal. Teste t pareado e teste de Wilcoxon foram
usados para comparação dos níveis plasmáticos de 25(OH)D, Ca, PTH, 25(OH)D, P e
FA entre as mães e crianças no nascimento e no sexto mês de vida.
Análise de regressão
linear simples e múltipla foi realizada para identificar fatores associados aos
baixos níveis plasmáticos de VD das crianças e mães no sexto mês de vida. O
critério definido para inclusão das variáveis na regressão linear múltipla foi a relação com a variável dependente na análise de regressão
linear simples, considerando um valor de p<0,20. O nível de significância
estatística foi α < 5%.
Dos 226 binômios mães-filhos avaliados, 65 foram acompanhados
mensalmente até o sexto mês e fizeram os exames bioquímicos.
Das 65 mulheres
acompanhadas até o sexto mês e que fizeram os exames bioquímicos, na sexta
entrevista, 78,5% eram casadas ou viviam em união estável, idade média de 26,57
(± 6,54) anos e mediana de idade 27(13-44) anos. Em relação à raça, 53,8%
declararam-se brancas.
A maioria das mães
tinha menos de 11 anos de estudo (50,8%); 15,6% das mulheres foram
suplementadas do parto ao sexto mês pós-parto. Das 65 crianças que foram
acompanhadas até o sexto mês, 55,4% eram
do sexo
feminino, 63,1% brancas e 7,7% da área rural. No primeiro
mês, 33,8% das
crianças estavam em aleitamento materno exclusivo (AME), 41,5%
consumiram chás
e 13,8% consumiram água. No segundo mês, o percentual de
crianças em AME foi
43,8%, no quarto mês 33,8%, e no sexto mês 6,1%. Cerca de
6,0% das crianças
nunca foram amamentadas. Em relação ao peso de
nascimento, a média dos
recém-nascidos (RN) foi 3345,29 (± 54,84) g. A
média de idade gestacional dos
RN foi 38,8 (±1,0) semanas. A média de comprimento dos RN
foi 49,2 (± 0,21) cm
e o perímetro cefálico 34,2 (± 0,17) cm. Em
relação à suplementação com VD,
11,05% das crianças foram suplementadas do nascimento ao sexto
mês.
A prevalência dos
baixos níveis de VD das mulheres e crianças no nascimento foi de 85% e 80,5%,
respectivamente. No sexto mês, a incidência dos baixos níveis plasmáticos de
25(OH)D das mulheres foi 23,07% e das crianças 33,3%.
As médias dos níveis
plasmáticos de 25(OH)D, FA, PTH e P das crianças avaliadas ao nascer foram
inferiores aos observados no sexto mês, p = 0,006; p < 0,001; p < 0,001 e
p < 0,001, respectivamente, com exceção do cálcio que não houve diferença
(Tabela I).
Tabela
I - Níveis plasmáticos das variáveis bioquímicas
das crianças no nascimento e no sexto mês pós-parto, Viçosa, Brasil, 2013.
FA = Fosfatase
Alcalina; PTH = paratormônio; P = Fósforo ; Ca =
Cálcio; *Teste t pareado; **Teste de Wilcoxon; Fosfatase alcalina elevada acima
de 375 U/l Hipocalcemia = Cálcio < 9 mg/dl; Fósforo = de 4 a 7 mg/ml; PTH
elevado acima de 58 pg/ml; 25(OH)D = deficiência < 20ng/ml; insuficiência ≥
20ng/ml e < 30 ng/ml); suficiência ≥ 30ng/ml).
Os níveis plasmáticos
de 25(OH)D e PTH das mulheres avaliadas no parto foram inferiores aos
observados no sexto mês pós-parto, p < 0,001; p < 0,001, respectivamente.
Já as médias da FA avaliadas no parto foram superiores aos observados no sexto
mês (p < 0,001). Não houve diferença entre as médias de P e CA avaliadas no
parto e seis meses após o parto (Tabela II).
Tabela
II -
Níveis plasmáticos das variáveis
bioquímicas das mulheres do estudo no pós-parto e no sexto mês pós-parto,
Viçosa, Brasil, 2013.
FA = Fosfatase
Alcalina PTH = paratormônio P = Fósforo Ca = Cálcio; *Teste t pareado; ** Teste
de Wilcoxon; Fosfatase alcalina elevada acima de 100 U/L;
Hipocalcemia = Cálcio < 8,8 mg/dl; Fósforo = de 2,5 a 4,6 mg/ml; PTH elevado
acima de 58 pg/ml; 25(OH)D = (deficiência - < 20 ng/ml; insuficiência ≥
20ng/ml e < 30 ng/ml); suficiência ≥ 30 ng/ml.
Quando se comparou as
médias das crianças com não suficiência 36(61%) com suficiência de VD 23(39%)
em relação às variáveis antropométricas pesos, comprimento e perímetro cefálico
aos seis meses, não houve diferença entre os grupos (p>0,05) (Tabela III).
Tabela
III
- Comparação entre médias, medianas e
desvios-padrão dos níveis de 25(OH)D de crianças no sexto mês de vida segundo
variáveis antropométricas. Viçosa, MG, Brasil, 2013.
*Teste t amostras independentes; Velocidade
Média de ganho de peso (g/mês) - Valores dos pesos absolutos do sexto mês - peso
ao nascer/ 6 meses; Velocidade Média de Comprimento cm/mês- Valores dos
comprimentos absolutos do sexto mês – comprimento aos nascer / 6 meses; Média
da Velocidade do PC (cm/mês) - Valores dos perímetros cefálicos absolutos do
sexto mês – Perímetro cefálico ao nascer / 6 meses.
A não suplementação
da criança constituiu-se fator de risco para os baixos níveis plasmáticos de
25(OH)D das crianças aos seis meses de vida. As demais variáveis de interesse
não apresentaram risco para os desfechos estudados (Tabela IV).
Tabela
IV- Riscos relativos e intervalos de confiança
da não suficiência e suficiência de 25(OH)D de crianças no sexto mês de vida
segundo variáveis sociodemográficas, biológicas e obstétricas. Viçosa, MG,
Brasil, 2013.
RR = Risco relativo; IC= Intervalo
de Confiança.
Ao realizar regressão
multivariada para estimar a influência das variáveis obstétricas, biológicas e
socioeconômicas em relação a DVD das crianças no sexto mês de vida, foram
incluídas no modelo as variáveis: aleitamento materno exclusivo (p = 0,10),
suplementação da criança (p = 0,009), 25(OH)D do recém-nascido (p = 0,08), e
uso de protetor solar na criança (p = 0,13). A 25(OH)D do recém-nascido e a não
suplementação da criança até o sexto mês se comportaram como preditores
independentes da DVD das crianças (Tabela IV). Essas variáveis explicaram
25,18% da variabilidade dos níveis de VD nas crianças no sexto mês de vida
(Tabela V).
Tabela
V – Regressão linear múltipla para avaliar os
fatores associados à DVD das crianças no sexto mês de vida.
β = Coeficiente
de regressão; IC = Intervalo de confiança; R2 = 0,251.
Ao realizar regressão
simples para estimar a influência dessas variáveis em relação à DVD das
mulheres no sexto mês de vida, foram incluídas no modelo as variáveis: ingestão
de VD materna (r = 0,0003; p = 0,013 R2 = 0,0712). A baixa ingestão de VD
materna pelas mulheres até o sexto mês constitui-se preditora independente da
DVD dessa. Esse modelo contribuiu com 7,0% da variação dos níveis de VD nas
mulheres no sexto mês pós-parto.
De
acordo com o
seguimento do estudo até o sexto mês, crianças e
mulheres apresentaram valores
de 25(OH)D médios superiores aos valores de nascimento, fato que
pode ser
explicado pela orientação da equipe às mães
todo mês em relação à importância
da exposição solar e suplementação desde os
primeiros dias de nascimento das
crianças e mães com DVD. Tais dados reforçam a
importância das práticas de
promoção da saúde. A incidência de
não suficiência em mulheres e crianças foi
detectada aos seis meses 23,07% e 33,3%, respectivamente, resultados
semelhantes aos encontrados em pesquisas internacionais [2,4,5,9].
No presente estudo,
verificou-se que crianças não suplementadas apresentaram risco 2,02 vezes maior
de apresentar baixos níveis plasmáticos de 25(OH)D aos seis meses. A não
suplementação de VD, também foi preditora da não suficiência de 25(OH)D nas
crianças no sexto mês de vida. A Academia Mineira de Pediatria [17] passou a
preconizar a suplementação de VD de acordo com a Institute of Medicine (IOM), de 400 UI/dia no primeiro ano de vida
[15]; porém essa orientação no Brasil ainda não é adotada como rotina. As
crianças que apresentaram DVD foram suplementadas e acompanhadas pelo pediatra
do estudo até o sexto mês, e algumas permaneceram em acompanhamento.
As baixas reservas de
25(OH)D dos recém-nascidos foram preditoras dos baixos níveis plasmáticos de
25(OH)D da criança no sexto mês. Foi possível detectar forte relação dos níveis
de VD circulantes entre mãe e o recém-nascido, tal que a deficiência de VD
materna, reflete-se na DVD neonatal [4,9,10]. Sabe-se
que o AME sem a suplementação da VD, é fator de risco para hipovitaminose D
[11].
Assim, mulheres com
DVD ou baixa ingestão de VD, irão produzir leite com baixas atividades
antirraquíticas e suas crianças amamentadas terão baixos níveis plasmáticos de
VD, a não ser que recebam suplementação de vitamina D ou exposição solar
adequada [18]. Estudo holandês mostrou que, mesmo quando níveis plasmáticos de
25(OH) D eram adequados no nascimento, os níveis em crianças amamentadas
ficaram muito baixo dentro de 8 semanas por causa dos
baixos níveis plasmáticos de VD no leite materno e exposição solar limitada
[19].
A Sociedade
Brasileira de Pediatria orienta que crianças menores de seis meses sejam
expostas diretamente à luz solar, a partir da segunda semana de vida, sendo
suficientes 30 minutos/semana com a criança usando apenas fraldas (seis a oito
minutos por dia, três vezes por semana), ou de duas horas/semana em exposição
parcial (17 minutos por dia) com exposição apenas da face e mãos, para que
elevem os níveis plasmáticos de 25(OH)D [20].
O baixo consumo de VD
materna até o sexto mês constituiu-se preditora independente da não suficiência
de 25(OH)D das mulheres (r=0,0003; p=0,03; R2=0,0700), pois nesse estudo foi
evidenciada a alta prevalência de inadequação do consumo de VD pelas mulheres
(86%), e apenas 14% faziam um consumo habitual maior ou igual ao valor de
Requerimento Médio Estimado (Estimated
Average Requirement) estabelecido para o consumo de VD [15,16].
Sabe-se que 90% das
reservas do corpo de VD são provenientes da exposição solar, enquanto 10% são
derivadas de fontes dietéticas [5].
Provavelmente se
essas mulheres tivessem seguido as recomendações de exposição solar de braços e
pernas entre cinco e trinta minutos, duas vezes por semana, no horário das 10
às 15 horas, frequentemente, a VD seria adequada, diminuindo assim os índices
de DVD [7].
O aumento entre as
médias da FA e PTH das crianças no sexto mês acontece devido à relação da
presença da DVD, e a necessidade de suprir a demanda de Ca e P [21,22].
Durante a vida fetal,
provavelmente a síntese e a secreção do PTH estão suprimidas pelas altas
concentrações de Ca sérico existente nesse período [21]. Mas no período
neonatal, elevam-se as concentrações de Ca e P e durante toda a infância, para
promover um balanço positivo, com o objetivo de alcançar um desenvolvimento e
crescimento esquelético normais [21].
O presente estudo encontrou
alta prevalência de baixos níveis plasmáticos de VD em mulheres (85%) e
crianças (80,5%) no nascimento e incidência de baixos níveis de VD, em mães e
bebês a termo avaliados no sexto mês, 23,07% e 33,3% respectivamente.
Foi possível
identificar também que os fatores de risco que contribuíram para os baixos
níveis plasmáticos de VD da criança no sexto mês de vida, foram a 25(OH)D no
nascimento e a não suplementação da criança até o sexto mês. Os fatores de
risco, tais como sexo, raça, AME e uso de protetor solar, não estiveram
associados aos baixos níveis plasmáticos de VD das crianças no sexto mês de
vida. Além disso, o baixo consumo de ingestão de VD materna até o sexto mês,
constituiu-se preditora independente da não suficiência de 25(OH)D das
mulheres, fato que a maioria dessas mulheres apresentou baixos níveis
plasmáticos de VD no sexto mês.
Este estudo possui
limitações em relação às perdas das participantes, como o próprio desenho do
estudo de coorte, possivelmente se deve ao fato do município não possuir
anteriormente um serviço de puericultura implantado, e que esse tipo de serviço
ofertado se deu a partir dessa pesquisa, além de outros fatores como mudanças
de município, acompanhamento da criança por outro profissional, além do não consentimento
materno para a coleta de sangue das crianças no sexto mês de vida.
Vários estudos
internacionais abordando a mesma temática e o mesmo público-alvo foram
realizados a fim de avaliar os fatores que realmente influenciam os baixos
níveis de vitamina D, e em nosso país esse é o primeiro estudo de
acompanhamento do nascimento ao sexto mês de vida, fato importante para que
realmente se conheça a magnitude desse problema de saúde nessa população de
risco.
Diante deste estudo
destaca-se a importância da promoção e prevenção de doenças da saúde da
criança, desde os primeiros dias de nascimento, através do acompanhamento
mensal, objetivando desfechos de desenvolvimento e crescimento saudáveis para a
mesma. Nesses atendimentos rotineiros das crianças, devem-se orientar as mães
em relação à exposição solar adequada, suplementação de vitamina D e
orientações alimentares a fim de evitar problemas de saúde que possam
repercutir na vida adulta.
Agradeçemos à Agência
Financiadora FAPEMIG – Fundação de Amparo à pesquisa de Minas Gerais-Processo
APQ 00846-11-Edital 01/2011 - Demanda Universal pelo financiamento dessa
pesquisa.