ARTIGO
ORIGINAL
Agentes
Comunitários de Saúde e o seu papel orientador durante as visitas e
acompanhamentos mensais aos pacientes portadores de diabetes
Roberta Bárbara Gomes
Fonseca, M.Sc.*
*Enfermeira
Referência Técnica em Estomaterapia, Especialista em Gerência dos Cuidados de
Enfermagem no Programa de Saúde da Família pela PUC de Betim, Mestra em
Educação em Diabetes pela Santa Casa de Belo Horizonte
Recebido em 19 de
janeiro de 2017; aceito em 15 de agosto de 2017.
Endereço
para correspondência:
Roberta Bárbara Gomes Fonseca, Rua Galena, 140, 31110-400 Brumadinho MG,
E-mail: ro.barbaraenf@gmail.com
Resumo
Objetivo: Conhecer as
principais orientações dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), de 06 Unidades
de Saúde da Família do Município de Brumadinho/MG, nos acompanhamentos e
visitas mensais aos portadores de Diabetes Mellitus (DM). Material e métodos:
Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa cuja amostra foi
composta de 41 ACS de 06 Unidades de Saúde da Família do Município de
Brumadinho/MG. Para a coleta de dados foi utilizado como instrumento um
questionário com questão aberta em que todas as escritas dos ACS foram
respeitadas na íntegra. Resultados: Analisados os resultados obtidos referentes
à questão “Quais as principais orientações você oferece durante os
acompanhamentos e visitas mensais aos pacientes portadores de diabetes?”,
percebe-se que as principais orientações foram referentes à
dieta, uso das medicações, cuidados com os pés, realização de exames
laboratoriais e consultas médicas, entre outros. Conclusão: Fica evidente a
importância dos ACS como orientadores dos pacientes portadores de diabetes
acompanhados por eles.
Palavras-chave: diabetes mellitus,
agentes comunitários de saúde, saúde da família, conhecimento.
Abstract
Community Health Workers and their guiding role during monthly visits
and follow-ups of patients with diabetes
Objective: To know the
main guidelines of Community Health Workers, of 6 Family Health Units in the
city of Brumadinho/MG, during follow-ups and monthly
visits to patients with diabetes. Methods:
This is a descriptive qualitative study whose sample was composed of 41
Community Health Workers of 6 Family Health Units of Brumadinho/MG.
A questionnaire with one open question was used to collect data and all the
writings of Community Health Workers were fully respected. Results: Analyzing the results obtained regarding the question
“What are the main guidelines offered by you during follow-up and visits to
patients with diabetes?” we realize that the main guidelines were diet,
medication use, foot care, laboratory test and medical consultations, among
others. Conclusion: It is evident the
importance of Community Health Workers in promoting guidelines on diabetes
management for patients under their supervision.
Key-words: diabetes mellitus, community health workers, family health,
knowledge.
Resumen
Agentes Comunitarios de Salud y su papel de
guía durante las visitas mensuales y seguimientos para los pacientes con
diabetes
Objetivo: Conocer las
principales directrices de los Agentes Comunitarios de Salud, de 6 Unidades de Salud de la Familia del Municipio de
Brumadinho/MG, en acompañamientos y visitas mensuales a pacientes con diabetes.
Material y métodos: Es un estudio cualitativo
descriptivo, compuesto de 41 Agentes Comunitarios de Salud de 6 Unidades de
Salud de la Familia del Municipio de Brumadinho/MG. Para la
recolección de datos se utilizó como instrumento un cuestionario con la pregunta
abierta en la que se respetan plenamente todos los escritos de los agentes.
Resultados: En el análisis de los resultados obtenidos
con respecto a la pregunta "¿Cuáles son las principales directrices que se
ofrecen por usted en el seguimiento y visitas a los pacientes con diabetes?”,
nos damos cuenta de que las directrices principales estaban relacionados con la
dieta, el uso de medicamentos, cuidado de los pies, las pruebas de laboratorio
y consultas médicas, entre otros. Conclusión: Es
evidente la importancia de los Agentes Comunitarios de Salud como orientadores
de los pacientes con diabetes acompañados por ellos.
Palabras-clave: Diabetes mellitus,
Agentes Comunitarios de Salud, Salud de la Familia,
Conocimiento.
Por se tratar de uma
doença de grande prevalência e incidência, considera-se o Diabetes Mellitus
(DM) como sendo um importante problema de saúde pública, uma vez que é
frequente a sua ocorrência e está associada a complicações que comprometem a
produtividade, a qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos, além de envolver
altos custos no seu tratamento e de suas complicações. Medidas de prevenção do
DM assim como das suas complicações são eficazes em reduzir o impacto
desfavorável sobre morbimortalidade destes pacientes. Segundo as Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Diabetes [1], intervenções no estilo de vida com ênfase
em alimentação saudável e prática regular de atividade física reduzem a
incidência do DM2 (recomendação grau A), assim como o bom controle metabólico
do DM previne o surgimento ou retarda suas complicações crônicas (recomendação
grau A).
A incidência e a
prevalência estão aumentando, em particular do DM Tipo 2,
alcançando proporções epidêmicas e atingindo a população na idade entre 30 e 69
anos [2,3].
O DM é um problema de
saúde considerado sensível a Atenção Primária, ou seja, evidências demonstram
que um bom manejo deste problema ainda, na Atenção Básica, evita
hospitalizações e mortes por complicações cardiovasculares e cerebrovasculares
[1,4-7].
No Sistema Único de
Saúde (SUS), pessoas com DM são acompanhadas em sua maioria por Equipes de
Saúde da Família, através dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Neste
contexto a Estratégia de Saúde da Família (ESF) é de importância fundamental no
desenvolvimento de ações de controle de DM, atuando na promoção, recuperação e
reabilitação das pessoas com DM.
O ACS é elemento
essencial na Equipe de Saúde da Família, pois, além de pertencer à comunidade
onde exerce as suas atividades, é o principal elo integrador entre comunidade e
Unidade de Saúde da Família [8].
O
profissional ACS
realiza atividades de prevenção de doenças e
promoção da saúde, por meio de
ações educativas em saúde, realizadas em
domicílios ou junto às coletividades,
em conformidade com os princípios e diretrizes do SUS; estende,
também, o
acesso da população às ações e
serviços de informação, de saúde,
promoção
social e de proteção da cidadania.
Além da ampliação da
cobertura, o ACS é também importante agente social, introduzido nos municípios
brasileiros a partir dos anos 1990. Apesar disso, não há muitos estudos que,
dentro de uma perspectiva antropológica, busquem apreender de que modo o ACS
contribui, na prática, para importantes mudanças sociais e de comportamento na
população [9].
Desta forma, torna-se
necessária educação permanente e continuada em saúde em DM para os ACS que
lidam diretamente com os pacientes portadores de DM.
A educação continuada
e permanente em saúde é uma atividade educativa de caráter contínuo, cujo eixo
norteador é a transformação do processo de trabalho, centro privilegiado de
aprendizagem. É voltada para a prática educativa que se orienta pelo cotidiano
dos serviços, partindo da reflexão crítica sobre os problemas referentes à
qualidade da assistência, assegurando a participação coletiva,
multiprofissional e interdisciplinar favorecendo a construção de novos
conhecimentos e intercâmbio de vivências; representando o esforço de
transformar a rede pública de saúde em um espaço de exercício e aprendizagem no
exercício do trabalho [10].
Diante do exposto,
propõe-se aprofundar a investigação de variáveis relacionadas ao conhecimento
dos profissionais ACS sobre DM e as orientações que os mesmos transmitem aos
pacientes portadores de DM. Espera-se que este estudo possa fornecer subsídios
para melhor compreensão dos aspectos relacionados à educação em DM e a atuação
dos ACS no dia a dia de trabalho.
Este estudo
constitui-se de uma abordagem descritiva e qualitativa, realizada junto aos 41
ACS de 06 Unidades de Saúde da Família da Zona urbana do Município de
Brumadinho. As unidades selecionadas de acordo com os critérios e inclusão e
exclusão foram: Unidades de Saúde da Família (USF) Jota, Residencial Bela
Vista, Progresso, Grajaú, Centro e Santa Efigênia, do Município de
Brumadinho/MG.
Como critérios de
inclusão: ACS das USF da Zona Urbana, USF completas em relação ao número de
ACS; e como critérios de exclusão: ACS das USF da zona rural, unidades
incompletas em relação ao número de ACS como, por exemplo, ACS de licença à
maternidade ou por motivo de doença, ausência de ACS por falta de contrato em
uma das microáreas de abrangência ou em férias.
Após a inserção nos
campos de estudo deu-se início a coleta de dados através do questionário,
posteriormente à assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE).
O presente estudo foi
submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa da Santa Casa de Belo-Horizonte (CEP)
para apreciação. O estudo foi aprovado sem restrições, enquadrando-se
perfeitamente dentro dos preceitos da ética para o manuseio de dados referentes
a seres humanos.
Todos os
entrevistados foram orientados acerca dos objetivos do estudo e assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido antes do início do preenchimento do
questionário.
Com o objetivo de
conhecer as principais orientações que os ACS transmitem aos seus pacientes
portadores de DM, foi elaborada 01 questão aberta: “Quais as principais
orientações você oferece no acompanhamento e visitas aos pacientes portadores
de Diabetes?”. As informações coletadas adquirem relevância prática para
possibilitar uma padronização de condutas e elaboração de estratégias para
maior efetividade das ações no controle do DM.
As análises dos dados
coletados foram feitas em dois momentos: pré-teste, e pós-teste após abordagem
educativa em DM. Os dados coletados na questão aberta foram transformados em
dados estatísticos para facilitar a comparação destes.
A coleta de dados
iniciou-se em 27/02/2013 e terminou em 27/06/2013. As USF pesquisadas possuem
de 5 a 8 ACS.
Resultados
e discussão
No presente estudo,
entende-se o quanto é importante a educação para os
profissionais ACS, pois através da transmissão dos conhecimentos obtidos às
pessoas com DM podem promover mudanças de atitude como a predisposição para a
adoção de ações de autocuidado nestes pacientes [10]. Portanto, espera-se que
os ACS sejam capazes de: esclarecer a comunidade sobre os fatores de risco para
o DM; identificar, na população em geral, pessoas com o risco para DM2;
verificar o comparecimento dos pacientes com DM e HA (Hipertensão Arterial) às
consultas agendadas na unidade de saúde; verificar a presença de sintomas e/ou
queda do açúcar no sangue e encaminhar para a consulta externa; perguntar se a
pessoa com DM está tomando com regularidade os medicamentos e se estão
cumprindo as orientações de dieta, atividades físicas, controle de peso,
cessação do hábito de fumar e ingestão de água e bebidas alcoólicas; registrar
na ficha de acompanhamento o diagnóstico de DM de cada membro da família;
encaminhar as solicitações de exames complementares para serviços de referência,
dentre outros, contribuindo, assim, para o melhor acompanhamento mensal às
pessoas com DM [11].
Dessa forma, foi
escolhida a proposta de trabalhar com os ACS das USF na modalidade de
intervenção educativa sobre DM. O envolvimento e a participação mostraram-se
apropriados para gerar uma reflexão sobre a realidade vivenciada pelos
profissionais das USF em suas áreas de abrangência, assim como a construção de
conhecimento e formação do pensamento crítico e emancipatório dos profissionais
de saúde envolvidos no atendimento em DM nas UBS [12,13].
Neste sentido
destaca-se o papel dos ACS como agente de mudança sociocultural e na educação
em DM, visto que é esse profissional que está em contato direto com os
pacientes portadores de DM.
Analisando
os
resultados obtidos em relação à questão
“Quais as principais orientações você
oferece no acompanhamento e visitas às pessoas com
Diabetes?”, pode-se perceber
que as principais orientações foram em
relação a
dieta, uso das medicações, cuidados com os pés, realização de exames
laboratoriais e consultas médicas, entre outros. É necessário destacar que não foi relatado outros tipos de orientações, como participação
em grupos operativos e a realização de exercícios físicos, tão importante para
o controle da glicemia.
Resultado semelhante
foi encontrado em um estudo referente às orientações dadas a 29 pessoas com DM
pertencentes a uma ESF de Ribeirão Preto/SP, foi observado que 82,3% dos
entrevistados relataram receber orientações sobre alimentação e medicação e
nunca a respeito da importância de exercícios físicos [14].
É preciso lembrar que
saúde não é apenas uma questão de assistência médica e de acesso a
medicamentos. A promoção de "hábitos saudáveis" é vista pelo sistema
de saúde como uma ação estratégica [15].
Há poucos estudos
acerca dos benefícios de programas e intervenções educativas em DM, realizadas
no contexto de culturas específicas. No contexto brasileiro também são escassos
os estudos que avaliem o efeito do processo educativo em DM, particularmente em
relação às mudanças de atitudes para adesão ao autocuidado [16].
Reconhece-se que o
conhecimento científico disponível acerca do DM é recurso relevante para
direcionar a equipe multiprofissional para a tomada de decisões clínicas
relativas ao tratamento da doença, como também para prepará-la para educar as
pessoas com DM para o conhecimento e adesão ao autocuidado. No entanto, é
preciso diferenciar aquisição de conhecimento e nível de informação.
Conhecimento é mais do que reproduzir informações - pressupõe modificação de
atitudes, comportamentos e hábitos de vida [17].
No processo
educativo, vale destacar a importância dos profissionais de saúde que se
mostram interessados e preocupados em alcançar as metas de controle metabólico,
mas nem sempre levam em consideração aquilo que o
paciente fala, sente ou faz. Assim, é preciso aumentar a sensibilidade dos
cuidadores em relação às queixas ocultas e expressas, para que a decisão
clínica seja compartilhada, de modo a fortalecer o vínculo
profissional-paciente, peça fundamental para a aquisição e manutenção de
atitude positiva. Isso porque a atitude de desconfiança em relação a certos
aspectos do tratamento pode desencadear comportamentos que dificultam a
manutenção do controle metabólico. Tais comportamentos estão relacionados a um
conjunto de valores e pressupostos, adotados pela pessoa com DM, que modulam o
conhecimento adquirido [16,18,19].
De forma complementar
autores acrescentam que os programas de educação em DM desenvolvidas por
profissionais capacitados contribuem para a queda de internações e os usuários
do sistema passam a identificar as doenças, a adotar medidas de redução dos
fatores de risco e a receber um tratamento capaz de auxiliar nas mudanças de
comportamento associado ao padrão alimentar e ao aumento de atividade física
[20].
Esses conhecimentos,
habilidades e estratégias dos profissionais de saúde podem ter efeitos
positivos na mudança de atitudes dos indivíduos com DM para adesão ao plano
alimentar, à realização de atividade física, monitorização de glicose no sangue
e tomada de medicamentos orais ou insulina, os quais possibilitam a obtenção de
controle metabólico adequado [21,18].
Dessa forma, os
profissionais de saúde devem lembrar que a educação, desenvolve-se num processo
de construção de saber coletivo visando um cuidado humanizado com a finalidade
de intervir e transformar a realidade de cada indivíduo [22].
Autores acreditam que
a educação em saúde é um dos mais importantes elos entre os desejos e
expectativas da população por uma vida melhor [23,24].
Para a avaliação
efetiva dos resultados de um programa de educação em DM, os estudos apontam a
necessidade de avaliar tanto a pré-intervenção como a pós-intervenção. Cabe
destacar que quase um quarto dos pesquisadores tem dificuldade para avaliar a
efetividade das intervenções [17,25,26].
Estudos assinalam que
a educação em DM tem envolvido equipes multidisciplinares nas atividades
educativas nos centros de saúde, ambulatórios e hospitais, reforçando os
princípios da aprendizagem para um comportamento saudável [27].
As tabelas demonstram
a descrição dos resultados obtidos relacionados às orientações do agente
comunitário de saúde aos pacientes diabéticos durante os acompanhamentos e
visitas mensais. Comparação pré-teste/pós-teste.
Fonte: Dados da
pesquisa.
Conforme a questão
aberta, de acordo com as orientações oferecidas pelos ACS aos pacientes portadores
de DM; no que se refere à alimentação saudável, um estudo apresentou que 82,5%
dos pacientes com DM afirmaram ter recebido esse tipo de orientação do
enfermeiro [28]. Resultado semelhante foi obtido neste estudo, visto que 33
(80,5%) e 29 (70,7%) agentes orientaram os pacientes com DM sobre a importância
da dieta no controle da glicemia, respectivamente no pré-teste e pós-teste.
Outro estudo refere que todos os ACS entrevistados referiram que fazem
orientações sobre dieta [29].
De acordo com as
orientações sobre medicações e o uso correto das mesmas no pré-teste, 06
(14,6%) relataram não orientar sobre medicação ao passo que 35 (85,4%)
orientaram sobre a importância das medicações e seu uso correto. No pós-teste,
11 (26,8%) agentes não orientaram sobre o uso da medicação enquanto 30 (72,2%)
orientaram sobre o uso correto da mesma. Observa-se uma diminuição de respostas
assertivas do pré-teste para o pós-teste.
No que se refere aos
cuidados com os pés, no pré-teste, 28 (68,3%) agentes não orientaram sobre os
cuidados com os pés, enquanto 13 (31,7%) informaram aos seus pacientes sobre a
importância dos cuidados com os pés. No pós-teste, 21 (51%) agentes não
orientaram sobre os cuidados com os pés e 20 (48,8%) ofereceram este tipo de
orientação aos seus pacientes portadores de DM.
Em estudo semelhante,
em relação à orientação de cuidados com os pés realizados por enfermeiros aos
seus pacientes com DM, apresentou que apenas 46,2% dos pacientes com DM da
amostra referiram ter recebido orientações sobre a necessidade de examinar os
pés, bem como secar os espaços interdigitais depois de lavar os pés, fato
preocupante se considerar que o pé diabético é uma das principais causas de
hospitalização de pessoas com DM [28]. Resultado similar foi obtido no presente
estudo, no qual, no pós-teste, 20 agentes (48,8%) ofereceram este tipo de
orientação de cuidado com os pés aos seus pacientes com DM. Porém outro estudo
constatou que todos os ACS’s referiram fazer orientações em relação ao cuidado
com os pés e que essas orientações eram bem variáveis [29]. Diferente do que
foi encontrado neste estudo.
Autores reforçam
quanto à necessidade de usar calçados fechados que se adaptem bem aos pés, bem
como quanto à importância de inspecionar os sapatos antes de calçá-los. Os
dados identificados neste estudo remetem a necessidade de profunda reflexão e
mudança acerca do fazer dos enfermeiros e de outros profissionais da área da
saúde, pois a ausência desses cuidados é considerada comportamento de alto risco
para a ocorrência de agravos no pé, bem como de custos com especialistas e
internações [30].
Referente às orientações aos familiares
de pacientes portadores de DM, o resultado obtido não foi satisfatório, pois se
observa uma diminuição de respostas assertivas do pré-teste para o pós-teste,
apenas 5 (12,2%) agentes reforçaram sobre a
importância da família no processo de tratamento do paciente portador de DM.
Estudos destacam a
importância da família como componente de motivação para a adesão terapêutica,
uma vez que o apoio e participação familiar repercutem positivamente para a
melhoria das condutas de autocuidado [31,32].
Percebe-se o quanto a
família e os amigos exercem papel determinante na vida diária das pessoas,
principalmente do paciente portador de DM. A vida familiar acaba por
influenciar a tomada de decisões quanto ao seguimento das recomendações,
devendo, pois, o paciente reorganizar-se para a obtenção do controle
metabólico, e nisso é de suma importância o enfermeiro e os outros
profissionais de saúde considerar a família como partícipe do processo.
Em relação a
orientações de periodicidade de realização de exames, de controle laboratorial
e consultas médicas periódicas, observa-se que houve um decréscimo de respostas
assertivas do pré-teste para o pós-teste, visto que no pós-teste apenas 10
(24,4%) agentes informam esse tipo de orientações aos seus pacientes com DM.
De acordo com a
importância e número de consultas médicas e de enfermagem, o manual estadual de
Atenção à Saúde do Adulto em Hipertensão e Diabetes define que devem ser
realizadas, em média, 02 consultas médicas por ano e de 1 a 6 consultas de
enfermagem por ano. Em relação à realização de exames, devem ser realizadas de
02 a 04 glicemias plasmáticas ao ano, e de 02 a 04 hemoglobinas glicadas ao ano
[33].
Conforme dados
apresentados na Tabela I, tanto no pré-teste quanto no pós-teste, em relação a
outros tipos de orientações realizadas pelos agentes aos pacientes portadores
de DM a porcentagem se manteve inalterada. 40 (97,6%) agentes não ofereceram
outros tipos de orientação aos seus pacientes ao passo que apenas 01 (2,4%)
orientou sobre algum outro tipo de cuidado. Vale destacar que nenhum dos
agentes relatou ou orientou sobre a importância da atividade física no controle
da glicemia.
Outro estudo atestou
que 78,2% dos pacientes com DM da amostra foram orientados pelo enfermeiro
quanto à realização de exercícios físico, o que difere do que foi encontrado no
presente estudo [28]. Porém, um estudo, relatou que apenas 54,7% dos
entrevistados referiram ser orientados pelo profissional de saúde quanto a esse
aspecto da assistência [34].
Por fim, vale
salientar que este estudo pode apresentar limitações metodológicas. Utilizou-se
um desenho de pesquisa descritiva e transversal, o que impossibilita fazer
inferências a respeito do efeito do programa educativo para a aquisição de
conhecimentos e mudança de atitudes dos participantes, bem como fazer
generalizações para outros profissionais e outras populações de pessoas
portadoras de DM. Os dados foram coletados em 6
Unidades de Saúde da Família do Município de Brumadinho e que, provavelmente,
têm certas particularidades que não são comuns às outras Unidades de Saúde da
Família que prestam assistência às pessoas portadoras de DM. Apesar dessas
limitações, os resultados deste estudo fornecem subsídios importantes para a
avaliação de intervenções educativas e de programas de educação continuada e
permanente em DM, em especial para os profissionais de saúde, para a prestação
de cuidados a pessoas com DM, como também para o desenho de estudos futuros com
outras metodologias e maior número de participantes.
Conclusão
As doenças crônicas,
em especial o DM, exigem envolvimento contínuo dos profissionais, pacientes e
familiares, além de acompanhamento sistematizado com enfoque de vários aspectos
da assistência à saúde. Nesse contexto, o DM, com suas especificidades e
peculiaridades faz do paciente o principal responsável pelo manejo da doença,
por meio das atividades de autocuidado, desde que bem orientados pelos
profissionais de saúde, principalmente os ACS.
Destaca-se
o quanto
importante é a educação em saúde e em DM.
Para isso, é necessária a formação,
educação e atuação contínua, da
equipe interdisciplinar em conjunto com as
pessoas portadoras de DM e a sociedade civil organizada. A
Atenção Primária à
saúde deve estar capacitada para realização de
práticas educativas dialógicas e
reflexivas, que valorizem o nível cultural das pessoas.
Adicionalmente, os
profissionais envolvidos precisam aprimorar suas habilidades de
aconselhamento
e comunicação.
Ficou evidente a
dificuldade de repassar as orientações sobre alguns cuidados aos pacientes
portadores de DM durante os acompanhamentos e visitas mensais por parte dos ACS
devido à falta de treinamentos e capacitações para estes profissionais.
Espera-se que este
estudo alerte aos gestores do quanto é importante um trabalho de educação
continuada e permanente em saúde para os profissionais de saúde e para os
portadores de doenças crônicas, não só em DM.
Referências