ARTIGO ORIGINAL
Conhecimento do enfermeiro sobre os sinais e sintomas
da sepse em adulto
Ana
Paula Sementino Amário*,
Débora Lourene Azevedo Covay*,
Luana Moraes Veloso*, Deise Aparecida Carminatte, M.Sc.**, Angelita Maria Stabile, D.Sc.***, André Luiz Thomaz de Souza, M.Sc.****
*Graduação em Enfermagem pelas Faculdades Integradas
do Vale do Ribeira, Registro/SP, **Professora na Escola de Enfermagem das
Faculdades Integradas do Vale do Ribeira, Registro/SP, ***Professora na Escola
de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto/SP,
****Professor na Escola de Enfermagem das Faculdades Integradas do Vale do
Ribeira, Registro/SP
Recebido
14 de novembro de 2017; aceito em 7 de maio de 2019.
Correspondência: André Luiz Thomaz de
Souza, Faculdades Integradas do Vale do Ribeira, Rua Oscar Yoshiaki Magário, 185 Jardim das Palmeiras, Registro SP - Artigo
extraído do Trabalho de Conclusão de Curso “Conhecimento do enfermeiro sobre os
sinais e sintomas identificados na sepse, na sepse grave e no choque séptico”,
apresentado nas Faculdades Integradas do Vale do Ribeira, Registro/SP
André
Luiz Thomaz de Souza: alfenas2@hotmail.com
Ana
Paula Sementino Amário:
anapaulasementino@hotmail.com
Débora
Lourene Azevedo Covay:
deby_covay@hotmail.com
Luana
Moraes Veloso: Luana_mveloso@hotmail.com
Deise
Aparecida Carminatte: deiseac@gmail.com
Angelita
Maria Stabile: angelita@eerp.usp.br
Resumo
Objetivo: Identificar o
conhecimento do enfermeiro sobre a sepse em um hospital público de grande
porte. Métodos: Estudo quantitativo,
descritivo, de delineamento transversal, conduzido com 41 enfermeiros em um
hospital público de grande porte. A identificação do conhecimento dos
enfermeiros sobre a sepse foi realizada com o uso de um formulário estruturado,
com coleta de dados entre os meses de agosto e setembro de 2016. Resultados: Os dados deste estudo revelaram
baixo percentual de acertos nas variáveis identificadas na sepse,
principalmente no que se refere às variáveis inflamatórias, hemodinâmicas, de
disfunção orgânica, de perfusão tissular e outras variáveis. Conclusão: Os enfermeiros que
participaram deste estudo apresentaram déficit no conhecimento sobre os sinais
e sintomas que podem ser identificados na sepse.
Palavras-chave: sepse, enfermagem,
conhecimento.
Abstract
Nurses’
knowledge about the signs and symptoms of sepse in
adult
Objective: To identify
nurses' knowledge about sepsis in a large public hospital. Methods: A quantitative, descriptive, cross-sectional study
conducted with 41 nurses in a large public hospital. The identification of
nurses' knowledge about sepsis was performed using a structured form, with data
collection between August and September 2016. Results: The data from this study revealed low percentage of
correct answers in the variables identified in sepsis, mainly in relation to
inflammatory, hemodynamic, organic dysfunction, tissue perfusion and other
variables. Conclusion: The nurses who
participated in this study had deficits in knowledge about the signs and
symptoms that can be identified in sepsis.
Key-words: sepsis,
nursing, knowledge.
Resumen
Conocimiento del enfermero sobre las señales y síntomas de la sepsis en adulto
Objetivo: Identificar el conocimiento
de la enfermera acerca de
la sepsis en un gran hospital público.
Métodos:
Estudio transversal descriptivo
cuantitativo, realizado con
41 enfermeros en un gran hospital público. La identificación de los conocimientos de enfermería sobre
la sepsis se realizó con un
uso de forma estructurada, con
la recogida de datos llevada a cabo entre agosto
y septiembre de 2016. Resultados: Los datos de este estudio mostraron bajo porcentaje de respuestas correctas en las
variables identificadas en la sepsis, especialmente en lo que respecta
a inflamatoria, hemodinámica,
las variables de disfunción de órganos, la perfusión tisular
y otras variables. Conclusión: Enfermeras que participaron en este estudio mostraron déficits en el conocimiento de los signos y síntomas que pueden ser identificados en la sepsis.
Palabras-clave:
sepsis, enfermería, conocimiento.
A
sepse é motivo de grande preocupação no ambiente hospitalar, em especial nas
Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) [1]. Os
mecanismos fisiopatológicos envolvidos na doença resultam em elevadas taxas de
mortalidade [2]. Estima-se que anualmente ocorram em torno de 20 milhões de
casos de sepse no mundo [3].
O
termo sepse é normalmente utilizado de forma genérica, entretanto, ela se
apresenta com diferentes níveis de gravidade. A sepse distingue-se em Síndrome
da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), sepse, sepse grave, choque séptico e
Síndrome da Disfunção de Múltiplos Órgãos (SDMO) [4,5]. No Brasil, a partir de
um panorama realizado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB),
identificou-se que 17% dos leitos nas UTIs são preenchidos
por pacientes diagnosticados com sepse grave ou choque séptico [6].
A
sepse está associada ao tratamento de alta complexidade, envolvendo a demanda
por cuidados clínicos continuados e um controle eficaz no intuito de minimizar
danos e consequentemente a evolução ao óbito. Diferente dos demais doentes, os
pacientes com sepse geralmente são aqueles expostos a um número maior de
procedimentos invasivos, ao tempo prologando de internação e a exposição a uma
variedade de microrganismos, destacando-se as UTIs
como ambiente propício ao surgimento de infecções [7]. No entanto, a sepse não
se desenvolve apenas nas UTIs, podendo ocorrer em
outros setores hospitalares e até mesmo na comunidade [8], porém o tratamento
da doença deve ocorrer em um ambiente de maior complexidade tecnológica.
No
decorrer das últimas décadas os critérios de diagnóstico para a sepse sofreram
modificações com foco em melhorar o rastreamento da doença. Desde a primeira
definição proposta em 1992 pelo American College of Chest
Physicians em conjunto com a Society of Critical
Care Medicine [4], ocorreram quatro novas
conferências para redefinir o consenso sobre a doença, em 2001 [5], em 2008
[9], em 2012 [10], e em 2016 [11].
Conforme
consenso de 2012 [10], a sepse é definida como a presença (provável ou
documentada) de infecção associada a manifestações clínicas de infecção. Embora
tenham ocorrido pequenas mudanças nos critérios para o diagnóstico de sepse
entre 1992 e 2012, a mudança mais significativa se deu em 2016. De acordo com o
consenso de 2016 [11], sepse passa a ser definida como uma disfunção orgânica
ameaçadora à vida causada por resposta desregulada do organismo à infecção.
No
que diz respeito ao diagnóstico e ao tratamento para a sepse, é fundamental que
ocorram precocemente, por possibilitar um aumento nas chances de sobrevida.
Entretanto, a ausência de especificidade nos sinais e sintomas torna o
diagnóstico um desafio para os médicos e para os enfermeiros, impondo barreiras
para as intervenções imediatas [4,12].
Neste
contexto, o enfermeiro detém um papel importante na vigilância da evolução
clínica dos pacientes, pois a presença desse profissional auxilia no
monitoramento contínuo dos sinais e sintomas [13], com ênfase na identificação
de complicações que possam estar associadas à sepse. Para tanto, o enfermeiro
deve estar qualificado no conhecimento sobre as manifestações clínicas dos
quadros de sepse, o que reflete no menor tempo de internação e na redução de
custos atrelados ao tratamento da doença.
Frente
à complexidade que envolve o diagnóstico para sepse e principalmente a
importância da participação da enfermagem no rastreamento da doença, este
estudo teve como objetivo responder a seguinte questão norteadora: qual o
conhecimento do enfermeiro sobre os sinais e sintomas presentes na sepse em adulto? Especificamente buscou-se identificar o
conhecimento do enfermeiro sobre a sepse em um hospital público de grande
porte.
Trata-se
de uma pesquisa descritiva, quantitativa e transversal, desenvolvida com uma
amostra por conveniência composta por enfermeiros de um hospital público
localizado no Litoral Sul do Estado de São Paulo. O projeto foi aprovado por
Comitê de Ética competente (parecer n°1.616.732), encontrando-se dentro dos
padrões éticos de pesquisa com seres humanos, conforme resolução nº 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde.
O
hospital conta com 83 enfermeiros distribuídos em funções administrativas e
assistenciais. Foram incluídos no estudo pessoas de ambos os sexos e com
experiência prévia de no mínimo um ano de atendimento assistencial de
enfermagem. Foram excluídos aqueles que possuíam somente experiência em funções
administrativas, no atendimento ambulatorial e/ou em enfermagem do trabalho.
Na
coleta de dados, foi utilizado um formulário estruturado com 12 questões
divididas em duas partes: a) informações sobre as características
sociodemográficas e do trabalho (gênero, estado civil, idade, setor onde
trabalhava, turno em que trabalhava, se possuía outro vínculo empregatício,
pós-graduação); b) conhecimento sobre os sinais e sintomas que podem ser
identificados na sepse em adulto
com alternativas de
respostas objetivas distribuídas em SIM, NÃO e NÃO
SEI. As questões sobre a
sepse foram subdivididas em: variáveis gerais, variáveis
inflamatórias,
variáveis hemodinâmicas, variáveis de
disfunção orgânica, variáveis de
perfusão
tissular e outras variáveis [14].
O
formulário foi elaborado pelos autores deste estudo a partir de fundamentações
teóricas sobre os critérios de diagnóstico para a sepse [10,14], bem como no
modelo de pesquisa adotado em um estudo com temática similar [15]. Previamente,
o formulário foi submetido ao processo de refinamento que envolveu a validação
de sua aparência, com o objetivo de verificar se os seus itens representavam o
universo do conteúdo, se permitiam alcançar os objetivos propostos e se
apresentavam clareza e objetividade. Esse refinamento foi realizado por três
enfermeiras especialistas na temática. A coleta de dados junto aos
participantes ocorreu entre os meses de agosto e setembro de 2016.
Ressalta-se
que a definição de sepse adotada neste estudo baseou-se no consenso de 2012
[10]. No entanto, em janeiro de 2016 foram publicadas novas definições sobre a
doença [11], as quais se encontram em ampla discussão para aceitação no
contexto clínico.
Inicialmente
os enfermeiros foram convidados para participar do estudo, momento este em que
foram esclarecidos os objetivos e a proposta de pesquisa. Após o consentimento
na participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre
Esclarecido, foi solicitado que cada enfermeiro respondesse o formulário
estruturado. A aplicação do formulário ocorreu em um único momento nas
dependências do hospital, sem que interferisse na rotina de trabalho.
Dificuldades na interpretação do formulário foram esclarecidas pelos
pesquisadores, contudo foi vedado o auxílio nas respostas destinadas a cada
item. O tempo médio de 15 minutos foi suficiente para responder ao formulário.
Os
dados foram tabulados e analisados de forma descritiva por meio do software
estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS),
versão 20.0 e os resultados foram expressos em frequência absoluta e porcentagem.
Nas questões sobre a sepse, como padrão de acerto esperava-se que os
participantes respondessem SIM em todas as alternativas das variáveis gerais,
varáveis inflamatórias, variáveis hemodinâmicas, variáveis de disfunção
orgânica e variáveis de perfusão tissular, e NÃO em todas as alternativas do
item outras variáveis.
Foram
incluídos no estudo 41 enfermeiros. Dos 42 enfermeiros que não compuseram a
amostra, 14 alegaram desinteresse em participar, quatro alegaram falta de
tempo, duas estavam em licença maternidade, dois de férias, 10 por exercerem
função no atendimento em ambulatório de especialidade vinculado ao hospital,
sete não foram encontrados após duas tentativas, um estava afastado e dois
atuavam em função administrativa.
Os
resultados deste estudo revelam predominância do sexo feminino entre os
participantes, casado(a), com média de idade de 37,5 ± 6,2 anos, com período de
trabalho diurno e com mais de um vínculo empregatício. Além disso, quando
questionados sobre a participação em educação continuada sobre a sepse, mais da
metade dos participantes responderam que não tinham participado; e relataram
desconhecer a Surviving Sepsis Campaign (Tabela I).
Tabela I - Caracterização dos participantes do estudo (n=41). Registro/SP, Brasil,
2016.
O
tempo médio de formação profissional foi de 9,9 ± 4,9 anos, e 34 (82,9%)
possuíam título de especialização. O tempo de atuação profissional como
enfermeiro foi de 8,8 ± 5,4 anos. Em relação ao setor onde trabalhava, ocorreu
maior concentração de respostas para a alternativa “Pronto Socorro”,
representando 19,5% dos participantes (Tabela II).
Tabela II - Frequência e porcentagem de respostas relacionadas ao setor de trabalho
dos participantes do estudo no hospital (n = 41). Registro/SP Brasil, 2016.
Conforme
resultados da Tabela III, ao investigar o conhecimento do enfermeiro sobre os
sinais e sintomas que podem ser identificados na sepse em adulto,
houve maior concentração de acertos para as variáveis: infecção documentada
(82,9%); febre (temperatura corporal > 38°C) (95,1%); leucocitose
(quantidade de células brancas > 12.000/mm3) (87,8%); e elevação plasmática
de proteína C-reativa (> DP acima do limite
superior do intervalo normal) (80,5%).
O
baixo nível de acertos em algumas variáveis associadas à identificação da
sepse, nos chama atenção, dentre elas destacamos as variáveis: suspeita de
infecção, com 58,5% de acertos; hipotermia (temperatura corporal < 36°C),
com 48,8% de acertos; hiperglicemia na ausência de diabetes (glicose plasmática
> 140 mg/dl), com 41,5% de acertos; e leucopenia (quantidade de células
brancas < 4000 /mm3), com 39,0% de acertos; hipotensão arterial (pressão
sistólica < 90 mmHg; pressão arterial média < 70 mmHg; ou diminuição da
pressão sistólica > 40 mm Hg em adultos ou 2 > DP abaixo do limite normal
para a idade, com 41,5% de acertos.
Tabela III - Frequência e porcentagem de respostas sobre os sinais e sintomas que
podem ser identificados na Sepse (n=41), Registro/SP, Brasil, 2016.
DP
= Desvio padrão; *A hipotensão refratária é definida como hipotensão
persistente ou requerendo vasopressores após administração de bolos de fluído
intravenoso.
Os
resultados deste estudo revelam dados importantes sobre o conhecimento do
enfermeiro em relação aos sinais e sintomas que podem ser identificados na
sepse em adulto, evidenciando dificuldades destes
profissionais quanto à identificação das alterações fisiopatológicas presentes
na doença, principalmente no que diz respeito às variáveis inflamatórias,
hemodinâmicas, de disfunção orgânica, de perfusão tissular e outras variáveis, Tabela
I.
Pesquisas
deste cunho são necessárias para a investigação das diferentes realidades
encontradas no Brasil, e, consequentemente, a implementação de medidas
educativas que fortaleçam o conhecimento da equipe de enfermagem. No Brasil são
poucos os estudos que investigaram o conhecimento do enfermeiro sobre a sepse e
a escassez de informações sobre o assunto impõe obstáculos na compreensão sobre
como tem sido a formação de profissionais para lidar com a doença.
Em
um estudo realizado com nove enfermeiros intensivistas, cujo objetivo era
identificar o conhecimento destes profissionais em relação à sepse, os
resultados revelaram que os mesmos possuíam conhecimento sobre a prevenção e
controle da sepse em UTI. Contudo, foi identificado déficit no conhecimento em
relação ao reconhecimento dos sinais e sintomas que diferenciam sepse, sepse
grave e o choque séptico, bem como sobre as formas de tratamento da doença
[16].
Em
outro estudo realizado com uma amostra de oito participantes, os resultados
revelaram que os enfermeiros afirmavam reconhecer a sepse precocemente,
entretanto, as respostas obtidas com o uso de um questionário contendo três
perguntas dissertativas contradiziam essa afirmação e revelavam que o
reconhecimento da doença se dá nos estágios de sepse grave ou choque séptico,
quando o quadro clínico do paciente está mais deteriorado e a chance de óbito é
maior [17].
Embora
ocorra um grande esforço para possibilitar o rastreamento da doença
precocemente, dados sobre a incidência da sepse são difíceis de serem estimados
em decorrência das subnotificações envolvendo a doença [15,18]. Por exemplo, se
um paciente morre por choque séptico devido a uma pneumonia, ele pode ter sua causa mortis registrada como pneumonia e
não por falência múltipla de órgãos causada pelo choque séptico [18].
A
sepse é uma doença grave, cujo percurso clínico pode levar a piora do
prognóstico quando ocorre a evolução para o choque séptico. Essa mudança
representa um índice de mortalidade que varia de 10% a 40% [19]. Neste
contexto, durante a assistência oferecida a pacientes críticos, o enfermeiro
detém um papel importante na vigilância da evolução clínica de quem recebe sua
assistência em saúde.
A
presença contínua do enfermeiro, principalmente nas UTIs,
deveria refletir na identificação precoce de sinais e sintomas que estejam
associados à desregulação fisiológica [13]. Para tanto, a atuação do enfermeiro
requer conhecimento científico que dê subsídios para a tomada de decisão
clínica na qual possibilite a identificação precoce de complicações e
consequentemente a implementação de medidas terapêuticas que favoreçam a
recuperação do indivíduo.
Conforme
observado na Tabela I, as variáveis gerais identificadas na sepse foram as que apresentaram
um maior percentual de acertos. Contudo, alguns itens investigados nesta
variável, se destacam, como por exemplo, a afirmação de 48,8% dos participantes
de que a hipotermia (temperatura corporal < 36°C) não é um sinal de sepse e
51,2% afirmando que não ocorre alteração no nível de consciência /estado
mental.
O
percurso clínico da sepse envolve uma complexidade de mecanismos
fisiopatológicos resultantes da interação entre o hospedeiro e os
microrganismos invasores (ou seus componentes), levando a exacerbação na
resposta inflamatória, também denominada como SIRS [15], e consequentemente a
manifestação de uma variedade de sinais e sintomas. Neste contexto, é
necessário que a formação profissional do enfermeiro seja permeada de
conhecimento que possibilite a interpretação das manifestações fisiopatológicas
apresentadas pelo organismo.
Em
um estudo realizado com 77 estudantes de enfermagem, os resultados demonstraram
um baixo nível de conhecimento em relação à sepse. Além disso, 64% destes
estudantes revelaram que o curso de graduação fornece pouca informação sobre o
assunto. A partir destes dados, os autores apontam que este problema possa
estar relacionado ao ensino deficitário sobre o assunto durante a graduação
[15].
O
desconhecimento de 80,5% sobre a Surviving Sepsis Campaign e a não
participação de 53,7% dos enfermeiros em educação continuada sobre a sepse,
podem ser apontados como agravantes para a falta de conhecimento em relação aos
sinais e sintomas que podem ser identificados na sepse em adulto.
Além disso, o desenvolvimento de habilidades para a identificação precoce da
sepse é algo que deve ser investigado desde a formação acadêmica,
principalmente no que se refere ao conhecimento vinculado as disciplinas
básicas, com destaque para fisiologia, patologia e imunologia; e disciplinas
clínicas que possibilitem a interpretação de sinais e sintomas.
Destaca-se
ainda que 53,7% dos enfermeiros possuem mais de um vínculo empregatício. Este
fato, além de interferir diretamente na qualidade da assistência prestada [20],
pode ser um fator que impeça o profissional de aprofundar seus conhecimentos em
questões relacionadas à sua prática diária. Além disso, a dupla jornada de
trabalho pode repercutir em efeitos negativos na qualidade de vida, na
capacidade funcional e em sinais e sintomas físicos de agravamento a saúde do
profissional de enfermagem [21].
Frente
aos desafios que envolvem o diagnóstico e o tratamento da sepse, o
desenvolvimento de outros estudos com populações maiores e/ou amostras
representativas é fundamental para avançar a fronteira de conhecimento sobre a
temática deste estudo. Visto que a recusa de 18 enfermeiros em participar do
estudo, alegando desinteresse e/ou falta de tempo, pode estar associada ao
receio de se expor frente a um tema que não dominam. Contudo, essa recusa
torna-se um fator desfavorável para a implementação de medidas que fortaleçam a
atuação deste profissional.
O
estudo evidenciou déficit no conhecimento dos enfermeiros sobre os sinais e
sintomas que podem ser identificados na sepse em adulto,
o que repercutiu na baixa frequência de acertos em grande parte das variáveis
investigadas. No que tange a prática clínica, este estudo traz implicações no
sentido de que, durante a formação dos profissionais de enfermagem e no seu
ambiente de trabalho, as instituições de saúde/ensino possam proporcionar
condições necessárias para uma atuação eficiente no diagnóstico e no tratamento
precoce da doença. Isso envolve a educação permanente, a participação em
eventos científicos e a contínua capacitação profissional.
A
limitação deste estudo está associada às dificuldades que foram encontradas
para inserir um número maior de participantes, durante a coleta de dados, principalmente
em relação à recusa dos enfermeiros. Sugerimos que em estudos futuros outros
delineamentos de pesquisa possam ser implementados em conjunto a pesquisa
descritiva, como por exemplo, estudos clínicos com o uso de intervenções
educativas sobre a sepse.