ARTIGO
ORIGINAL
Telessaúde como
suporte na assistência da enfermagem em obstetrícia
Danielle Santos
Alves, M.Sc.*, Natália Maria
Penha Coutinho, M.Sc.**, Priscila Santos Alves, M.Sc.***, Erika Maria Alves da Silva****, Magdala de Araújo Novaes, D.Sc.*****
*Enfermeira
Obstétrica, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem (UFPE), Doutoranda
do Programa de Pós-Graduação do Centro de Informática da UFPE; **Enfermeira
especialista em Saúde da Família e em Análise de situação de saúde, Teleconsultora do Núcleo de Telessaúde-
Hospital das Clínicas/UFPE e inspetora sanitária do Município de Olinda/PE,
***Enfermeira Obstétrica, Professora Substituta do Departamento de Enfermagem
da UFPE, ****Enfermeira, Aluna de Iniciação Científica do Núcleo de Telessaúde de Pernambuco NUTES/UFPE, *****Professora
associada de Informática em Saúde do Departamento de Medicina Clínica e docente
do Curso de Medicina da UFPE, Fundadora e coordenadora do Grupo de Pesquisa de
Tecnologias da Informação em Saúde (TIS) e do Núcleo de Telessaúde
(NUTES) da UFPE
Recebido em 22 de
novembro de 2017; aceito em 16 de maio de 2018.
Endereço
de correspondência:
Danielle Santos Alves, UFPE, Av. Prof. Moraes Rego, 844-900, Cidade
Universitária, Recife PE, E-mail: angeldannyalves@gmail.com; Natália Maria
Penha Coutinho: natalia.coutinho@nutes.ufpe.br; Priscila Santos Alves:
priscilastalves@gmail.com; Erika Maria Alves da Silva:
contatoerikaalves@outlook.com; Magdala de Araújo
Novaes: magdala.novaes@nutes.ufpe.br.
Resumo
Introdução: A teleassistência mostra-se capaz de melhorar a tomada de
decisões compensando a escassez de recursos de cuidados de saúde em áreas
específicas. Objetivo: Descrever a
experiência da teleassistência na área de enfermagem
em obstetrícia realizada pelo NUTES/UFPE. Métodos:
Estudo descritivo, realizado com teleconsultorias de
obstetrícia do NUTES/UFPE de 2009 a 2015. A partir de uma base de dados que
reúne todas as teleconsultorias realizadas pelo
NUTES, foram selecionadas todas as teleconsultorias
cuja especialidade foi a obstetrícia. Resultados: Foram realizadas 906 teleconsultorias na área de obstetrícia. Os profissionais
que mais utilizam e mais respondem a teleassistência
são os enfermeiros com 55% e 66,9%, respectivamente. Observa-se que 77% eram
relacionadas com aspectos da gravidez e 17% ao período de pós-parto. Conclusão: A teleassistência
apoia os profissionais que necessitam de uma segunda opinião dos especialistas.
Tem potencial de redução da morbimortalidade materna e neonatal. A enfermagem
obstétrica pode apoiar os profissionais não especialistas a melhor atender às
mulheres em todo o ciclo gravídico puerperal, desde à pré-concepção
até o término do puerpério, estendendo-se também à atenção aos fetos e
familiares.
Palavras-chave: telemedicina,
enfermagem obstétrica, atenção primária à saúde, consulta remota.
Abstract
Telehealth as support in
nursing care in obstetrics
Introduction: Teleassistance is capable to improve
decision-making by compensating for the scarcity of health care resources in
specific areas. Objective: To
describe the experience of teleassistance in
obstetrics nursing carried out by NUTES/UFPE. Methods: Descriptive study related to the NUTES/UFPE obstetrics teleconsultories from 2009 to 2015. From a database that
gathers all the teleconsultories, we selected all teleconsultations whose specialty was obstetrics. Results: 906 teleconsultations
were performed in the obstetrics area. The professionals who use the most and
most respond to teleassistance are the Nurses with
55% and 66.9%, respectively. It is observed that 77% was related to aspects of
pregnancy and 17% to the postpartum period. Conclusion:
Teleassistance supports professionals who need a
second opinion from specialists. It has the potential to reduce maternal and
neonatal morbidity and mortality. Obstetric nursing can support non-specialist
professionals to better serve women throughout the puerperal pregnancy cycle,
from preconception to the end of the puerperium, also
extending attention to the fetus and family.
Key-words: telemedicine,
obstetric nursing, primary health care, remote consultation.
Resumen
Telemedicina como soporte
en la
asistencia de la enfermería en obstetricia
Introducción: La teleasistencia se muestra capaz
de mejorar la
toma de decisiones compensando la
escasez de recursos de atención
de salud en áreas
específicas. Objetivo: Describir la experiencia de la teleasistencia en el área de enfermería
en obstetricia realizada
por el NUTES/UFPE. Método: Estudio
descriptivo, realizado con teleconsultorias de obstetricia del NUTES/UFPE de 2009 a 2015. A
partir de una base de datos que reúne todas las teleconsultorias realizadas
por el NUTES, fueron seleccionadas todas las teleconsultorias cuya especialidad fue la obstetricia.
Resultados: Se realizaron 906 teleconsultorias
en el
área de obstetricia. Los profesionales
que más utilizan y más responden
la teleasistencia
son los enfermeros
con 55% y 66,9%, respectivamente. Se observa que el 77% estaba
relacionado con aspectos del
embarazo y el 17% al
período de posparto. Conclusión:
La teleasistencia apoya a los profesionales que necesitan una segunda opinión de los expertos. Tiene potencial de reducción de la
morbimortalidad materna y neonatal. La enfermería obstétrica puede apoyar a los profesionales
no especialistas a mejor atender a las mujeres en
todo el ciclo gravídico
puerperal, desde la pre-concepción
hasta el término del puerperio, extendiéndose también a la atención
a los fetos y familiares.
Palabras-clave: telemedicina, enfermería obstétrica, atención
primaria a la salud, teleconsultoria.
A saúde da mulher é
uma das prioridades de assistência à saúde no Brasil e no mundo. No âmbito
mundial, esse tema ganha força e espaço e está presente em diversos acordos
internacionais que possuem como objetivo a melhoria dos índices de saúde desse
público. Apesar dos avanços dos últimos 25 anos em relação às políticas
públicas relacionadas à saúde da mulher, ainda faz necessários avanços,
especialmente nas ações referentes à redução da morbimortalidade de mulheres em
idade fértil [1,2].
A
enfermagem é uma
profissão que tem como foco principal a saúde e a
qualidade de vida da pessoa,
atuando na promoção, prevenção,
recuperação e reabilitação da saúde.
No cenário
obstétrico, a participação do enfermeiro em
políticas da atenção à saúde da
mulher torna-se essencial, com papel fundamental na
detecção precoce de doenças
e agravos e, sobretudo, na educação em saúde
visando à integralidade da
assistência [1]. Para que o cuidado à mulher seja efetivo,
é importante que este
profissional esteja em constante atualização e tenha o
suporte de outros níveis
de assistência (secundária e terciária) [3].
A comunicação
interinstitucional, entre os diferentes níveis de assistência à saúde, nem
sempre é possível para os profissionais, tampouco para os usuários do serviço.
A distância geográfica entre as unidades de nível primário e os centros de
referência, dificulta a consulta a especialistas e, portanto, traz impactos
negativos na condução da assistência. Outro obstáculo é o deslocamento dos
usuários na busca por um cuidado especializado, que os expõe aos perigos
durante o translado. Além disso, necessitam aguardar filas de espera para
atendimento. Sendo assim, uma alternativa capaz de oferecer subsídios para
diminuir a distância entre profissionais e pacientes dos níveis secundário e
terciário de atenção à saúde é o uso da telessaúde
[4].
A telessaúde
consiste no uso de tecnologias da informação e comunicação (TIC) para facilitar
a troca de informações clínicas e aprimoramento educacional entre os
profissionais de saúde geograficamente separados [5,4]. Sua utilização permite
que os profissionais tenham acesso a especialistas localizados remotamente (teleassistência) e proporciona interação entre estes para
discussão de casos clínicos, questões de trabalho e/ou dúvidas clínicas (teleconsultorias) [6,7]. No Brasil, o telessaúde
Brasil Redes incentiva a utilização desta tecnologia em diversos estados. Essa
estratégia de saúde tem se mostrado eficaz e com resultados animadores [4].
Algumas experiências
regionais demonstram a eficácia e a qualidade dos serviços de teleassistência [7,8]. Os resultados clínicos dos pacientes
que fizeram uso dessa tecnologia corroboram e concluem que esses resultados são
comparáveis ao acompanhamento tradicional de consultório presencial [9]. Sendo
assim, a teleassistência mostra-se capaz de melhorar
a tomada de decisões em situações agudas, compensando a escassez local de
recursos de cuidados em áreas específicas e fornece acesso a especialistas [9].
Dentre as diversas
áreas que podem ser beneficiadas pelo uso desta tecnologia, destaca-se a
obstetrícia. É sabido que o ciclo gravídico-puerperal impõe sobre o organismo
materno, diversas modificações. Estas, em sua maioria, transcorrem de maneira
gradativa e fisiológica, de maneira a proporcionar o desenvolvimento saudável
da mãe e do concepto. Através da teleassistência, os
profissionais não especialistas podem solicitar apoio a
obstetras na condução de casos onde ocorram intercorrências na gravidez
de risco habitual, acompanhamento na gravidez de risco e auxílio no puerpério.
Portanto, a teleassistência traz como principal
benefício à integralidade do cuidado quando contribui na detecção precoce de
doenças e agravos e na redução da morbimortalidade materna e neonatal [1].
Este estudo objetiva
descrever a experiência na teleassistência na área de
enfermagem em obstetrícia realizada pelo Núcleo de Telessaúde
da Universidade Federal de Pernambuco (NUTES/UFPE).
Estudo do tipo
descritivo, quantitativo e transversal. A adoção do método
quantitativo-descritivo deve-se à sua possibilidade de realizar uma
investigação com a finalidade de delinear, ou analisar, as características de
fatos ou fenômenos, além de conhecer e controlar variáveis, preocupando-se com
a representação numérica, com a medição objetiva e a quantificação de
resultados, porém, com a possibilidade de discussão qualitativa destes [10].
O estudo foi
realizado com base nas teleconsultorias da área de
obstetrícia produzidas pelo Núcleo de Telessaúde da
Universidade Federal de Pernambuco (NUTES/UFPE) entre os anos de 2009 e 2015. O
NUTES/UFPE, localizado no Hospital das Clínicas da UFPE, atua nas áreas de telessaúde junto aos diversos municípios do estado de
Pernambuco parceiros do Telessaúde Brasil. Esses
profissionais solicitantes podem trocar experiências e requerer uma segunda
opinião a especialistas teleconsultores (teleassistência) através dos seminários ou Plataforma de Telessaúde HealthNET
[11,12].
As teleconsultorias são enviadas através da Plataforma HealthNet ou são feitas durante as
discussões nos seminários da RedeNUTES. Estas são
divididas em questões clínicas, casos clínicos e processo de trabalho. Nos
seminários, as respostas são fornecidas imediatamente. Para as teleconsultorias enviadas pela Plataforma têm o prazo de
até 48 horas úteis para ter o seu retorno efetuado.
A partir de uma base
de dados que reúne todas as teleconsultorias
realizadas pelo NUTES, foram selecionadas aquelas cuja especialidade foi a obstetrícia. Foram excluídas as que não se relacionavam
com esta área. Os dados selecionados foram separados em uma planilha Microsoft
Excel® onde foram realizadas as devidas análises estatísticas e geradas as
tabelas e gráficos correspondentes aos resultados obtidos.
Foram analisadas as
variáveis referentes a caracterização de ano, média de
dias, canal de comunicação (Teleconsultoria
individual: solicitante-teleconsultor; Coletiva:
durante os seminários; ou através da Plataforma Healthnet),
natureza e área da teleconsultoria, ocupação do
solicitante e do teleconsultor, se houve resolução na
primeira consultoria, percentual dos encaminhamentos, média de dias de retorno
e grau de satisfação no uso do serviço. Também foram analisadas as categorias
dentro da obstetrícia a qual as dúvidas se referiram e quais os respectivos
descritores.
Foi traçado um perfil
das teleconsultorias, medindo-se as frequências
absolutas e relativas das variáveis do serviço, acompanhadas pelo Sistema de
Monitoramento e Avaliação dos Resultados do Telessaúde/MS.
Para caracterizar as teleconsultorias de acordo com a
temática discutida, cada teleconsultoria foi recategorizada com descritores da Biblioteca Virtual de
Saúde, após a leitura da dúvida do solicitante. Os descritores referem-se ao
tema geral da dúvida (período pré-concepcional,
gravidez, parto e período pós-parto), ao tema específico da dúvida em
obstetrícia e à atividade da saúde apoiada pela teleconsultoria.
Este estudo está respaldado
e obedece as normas da na portaria nº 2.546, de 27 de
outubro de 2011 que regulamenta o Programa Telessaúde
Brasil Redes [13], e foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de Pesquisas
Ageu Magalhães (CEP-CPqAM/Fiocruz) com registro no
CAAE nº 02791212.9.0000.5190, parecer nº 24/2012.
Entre 2009 e 2015
foram solicitadas 10.868 teleconsultorias. Destas,
906 solicitações referiam-se a área de Obstetrícia, o que representou 8% do
total. O ano de 2012 teve o maior número de solicitações em comparação com os
outros anos (30,8%). O tempo médio de resposta aos profissionais de origem
ficou menor que um dia (24 horas).
Parte significativa
das teleconsultorias foi realizada durante os
seminários (53,8%), quando as dúvidas eram esclarecidas coletivamente. Outra
possibilidade de acesso foi a Plataforma Healthnet
(41,6%) ou a partir de webconferência individual
(4,6%).
As teleconsultorias são categorizadas em: Questão Clínica
(relacionadas às ações de saúde de um modo geral); Caso clínico (ligadas à
assistência ao paciente); ou relativas aos Processos de trabalho das equipes de
saúde da família. Em sua maioria, estas se relacionavam à questão clínica
(63,2%), seguidas por casos clínicos (34,5%). A área de atendimento mais solicitada
foi a Enfermagem (73,2%), seguidas por Medicina (15,7%). Algumas dúvidas
enviadas eram multidisciplinares, envolvendo nutrição e fisioterapia (2,1%) e
enfermagem (1,8%).
Observa-se que os
profissionais que mais utilizam a teleassistência são
os enfermeiros (55%) e os agentes comunitários de saúde (18,9%). A categoria
profissional do teleconsultor que mais respondem a
essas solicitações é o enfermeiro (66,9%), seguido do médico (13,0%). É
importante enfatizar que muitas teleconsultorias (7%)
foram respondidas de modo multidisciplinar, englobando, em geral, a enfermagem
e outras áreas do saber (Tabela I).
Tabela
I - Caracterização das teleconsultorias
realizadas pelo NUTES/UFPE. Recife/PE, 2017.
A maior parte das teleconsultorias estava diretamente ligada à Obstetrícia
(97,6%). Destas, 97,4% foram resolvidas no primeiro contato com o teleconsultor. Na maioria das vezes, o solicitante não
planejava encaminhamento, mas em 21,4% esse encaminhamento tinha sido
inicialmente planejado. Dentre o total de intenções de encaminhamento ao
especialista, a especialidade mais solicitada foi a Obstetrícia (88,7%).
Contudo, o encaminhamento foi qualificado em 7,6% das vezes.
A média de retorno do
solicitante para o teleconsultor acerca da questão
discutida foi de 5 dias. A maioria das teleconsultorias não recebe o seu retorno sobre a resolução
do caso, no entanto, entre aquelas em que o solicitante retornou sobre o caso
(19,9%), 95% classificaram a resposta e o atendimento do teleconsultor
como sendo “Ótima” (Tabela II).
Tabela
II -
Caracterização das teleconsultorias
realizadas pelo NUTES/UFPE segundo o seu potencial de resolução e qualificação
dos encaminhamentos. Recife/PE, 2017.
Com relação à
temática geral da obstetrícia discutida, observa-se que 77,37% destas
relacionavam-se com aspectos da gravidez e 16,78% ao período de pós-parto.
Apenas 4,42% estavam relacionadas ao parto e 1,32% à gravidez na adolescência.
Menos de 1% não foram classificadas em nenhuma dessas áreas. A categorização
das teleconsultorias foi organizada de acordo com os
descritores DeCS/BVS (Tabela III).
Observa-se
que na
Categoria “Gravidez”, o descritor mais usado foi o
relacionado aos cuidados de
Pré-Natal, seguidos de nutrição na
gestação e hipertensão gestacional. Em
“Gravidez na adolescência”, a maior
preocupação era relacionada às
complicações
inerentes a faixa etária. Na categoria “Parto”, os
aspectos relacionados ao processo do trabalho de parto foram os mais
questionados. E sobre o “Período Pós-parto” as dúvidas foram sobre aleitamento
materno e contracepção (Tabela III).
Tabela
III
- Descritores das teleconsultorias
realizadas pelo NUTES/UFPE. Recife/PE, 2017.
A teleassistência
vem se mostrando como um instrumento de suporte para segunda opinião entre
profissionais de saúde, em especial, aos da atenção primária, onde o acesso a
especialidades e a serviços de maior complexidade (níveis secundário e
terciário) é escasso [13,14]. Um aspecto importante a ser ressaltado é o
caráter multi e interdisciplinar das teleconsultorias que em geral, busca envolver mais de uma
especialidade nas respostas enviadas por entender a importância da
integralidade do cuidado com vistas a restabelecer a condição de saúde do
indivíduo.
Em se tratando da
atenção obstétrica entende-se que a gestação representa um marco na vida de um
grupo, família e em especial de uma mulher. Nenhum outro evento na vida de um
ser humano é tão complexo, pois este repercute profundamente nos planos físico,
mental, emocional e social, além de representar uma mudança definitiva de
papéis [15]. Assim, a atenção multidisciplinar proporcionada pela teleassistência nesta área reforça a compreensão da
complexidade deste evento e da importância do cuidado integral em saúde e
oportuniza melhores condições de assistência à gestante, família e feto, seja
durante a gravidez, parto e puerpério [1].
Os enfermeiros e os
agentes comunitários de saúde foram os profissionais que mais enviaram
solicitações por serem estes o maior público que utiliza a telessaúde.
Fato semelhante foi encontrado em diversos estudos que encontraram que estas
categorias de profissionais buscam utilizar com maior frequência a ferramenta
da telessaúde por serem eles os principais
intermediadores entre a população assistida e o acesso aos cuidados de saúde
[13,16-19].
Este público trouxe
as questões de sua população assistida para serem
discutidas com os teleconsultores, o que proporciona
resolutividade de maneira ágil para os casos nos quais são necessários
intervenções e/ou encaminhamentos para especialistas e reforço à educação em
saúde quando esclarecidas dúvidas destes profissionais acerca de quadros
clínicos ou de seu processo de trabalho. A eficiência do retorno das teleconsultorias ficou evidente tanto pelo tempo de retorno
aos solicitantes (menor que um dia) quanto pela resolução dos casos já na
primeira teleconsulta. Isto representa um ganho para
a população assistida no que diz respeito ao tempo de acesso aos especialistas,
implementação do tratamento adequado em tempo oportuno
quando comparados aos atendimentos presenciais convencionais que, por vezes,
demandam um tempo mínimo de um mês para atendimento [16,20].
Salienta-se que
apesar do planejamento do solicitante em encaminhar a paciente para serviços de
mais alta complexidade, apenas 7,6% se fez realmente necessário. Além disso, o
grau de satisfação dos profissionais que retornaram com um feedback
sobre as respostas dos teleconsultores se mostrou
alto, sendo classificado como Ótimo e Bom. Contudo, registra-se ainda o baixo
retorno sobre os desfechos dos casos e/ou resolução das questões por parte dos
solicitantes. Este retorno ao teleconsultor e ao
serviço é de extrema importância para aprimoramento e controle de qualidade dos
serviços. Observa-se através de outras experiências no Brasil, que há esse
baixo retorno dos solicitantes, dificultando a avaliação dos serviços de telessaúde [16,20-24].
As teleconsultorias permitem caracterizar o profissional
solicitante e, consequentemente, qualificam os atendimentos ao usuário,
evitando também os encaminhamentos desnecessários ou qualificando aqueles
encaminhamentos que se fazem necessários. Isto tem impacto importante no que
tange aos aspectos relacionados à segurança e deslocamento dos pacientes ao
deslocar-se do interior dos municípios longínquos até os centros urbanos, além
da exposição às longas filas de espera e superlotação dos hospitais terciários
para atendimentos que a atenção básica resolveria com a ajuda da teleassistência através de seus especialistas [7,14,16].
O uso desta
tecnologia tem apresentado impactos na qualificação da assistência pré-natal,
uma vez que a segunda opinião auxilia os profissionais não-especialistas
na condução e resolução das principais intercorrências que por ventura ocorram
durante o período gravídico-puerperal. Países desenvolvidos e em
desenvolvimento já tem comprovado em suas experiências o impacto da telessaúde na redução da morbimortalidade através da
detecção precoce de eventos adversos [18-21].
Adicionalmente, a telessaúde impõe contribuições relevantes em se tratando
das estratégias de ensino-aprendizagem em saúde através do uso de recursos
tecnológicos de informação, como a webconferência, teleconsultorias, entre outros, para colaborar com a
formação permanente dos profissionais. Todas as categorias profissionais podem
se beneficiar dessas contribuições da teleassistência.
Ademais, observa-se que a categoria mais participativa (tanto na solicitação
quanto na resposta da teleconsultoria) é a Enfermagem
[11,17,18].
O tema das questões
enviadas aos teleconsultores eram especialmente
relacionadas à condutas assistenciais que devem ser
tomadas durante o pré-natal, tais como prescrição de medicação e protocolos
relativos à conduta profissional. Também foi enviado número expressivo de casos
relacionados à prevenção e/ou detecção e/ou tratamento relacionados à
hipertensão gestacional. Em se tratando do período pós-parto, questões
relacionadas à amamentação foram as mais presentes.
Dessa forma,
percebe-se que o serviço de teleconsultoria, por
contribuir com a qualificação da assistência prestada às mulheres em seus
diversos ciclos de vida, e em especial no período gestacional, possui um
potencial para favorecer a redução da taxa de mortalidade materna [18,19].
Apesar de todas as
contribuições aqui registradas, observa-se como limitação para o uso desta
tecnologia a escassez e/ou entrave relacionado ao acesso à internet em alguns
locais distantes dos grandes centros urbanos. Outra limitação que ultrapassa o
poder de atuação da telessaúde está na resolução
local dos casos. A exemplo disto, salienta-se a
dificuldade encontrada pelos profissionais da atenção básica em seguir as
intervenções e condutas propostas quanto a prescrição de um tratamento e/ou a
solicitação de um exame, pois não dispõe destes recursos ou há demora na
entrega dos resultados.
A telessaúde
é uma importante ferramenta de suporte ao enfermeiro, particularmente para
aqueles que estão geograficamente distantes de centros de saúde. O estudo
demonstrou que o uso da teleassistência tem
comprovado potencial para qualificação permanentemente da equipe da atenção
básica, em especial ao enfermeiro, melhorando a qualidade e resolubilidade do atendimento
às mulheres no ciclo gravídico puerperal, otimizando
assim a utilização dos recursos do sistema público de saúde.
Dessa forma, a teleassistência vem cumprindo o seu papel de apoiar os
profissionais que necessitam de uma segunda opinião dos especialistas para
conduzir as situações clínicas e de processo de trabalho vivenciadas no seu
cotidiano de trabalho. Isto tem sido observado pela eficiência e satisfação
observada dos serviços aqui analisados.
A teleassistência
também se mostra uma área promissora de atuação para os enfermeiros obstetras.
Através das teleconsultorias, a enfermagem obstétrica
pode apoiar os profissionais não especialistas a melhor atender às mulheres em
todo o ciclo gravídico puerperal, desde a preconcepção até o término do
puerpério, estendendo-se também à atenção aos bebês e familiares.
A contribuição dos
resultados deste estudo auxilia para o direcionamento de ações de aprimoramento
profissional voltadas às demandas assistenciais vivenciadas pelos enfermeiros e
outros profissionais na Atenção Básica relacionadas ao
período gravídico puerperal, visando avanços na assistência integral à mulher e
melhores índices de saúde.
A enfermagem
obstétrica pode se beneficiar bastante dos serviços de teleassistência
conforme pode ser observado pelos números da experiência do NUTES/UFPE. A
disponibilidade de acesso a especialistas e a qualidade das teleconsultorias
se mostra promissora para redução das dúvidas relativas ao período
gravídico-puerperal, impactando indiretamente, na redução de complicações
obstétricas evitáveis. Como trabalhos futuros, será analisado o impacto do uso
da telessaúde na redução dos impactos da
morbimortalidade materna e neonatal.
Agradecemos ao
Ministério da Saúde e à Telessaúde Brasil Redes pelo
financiamento do Programa e ao Núcleo de Telessaúde
da Pernambuco (NUTES/HC/UFPE) pela sua anuência ao estudo.