ARTIGO
ORIGINAL
Fatores
de risco, manifestações clínicas e histopatológicas do câncer de mama entre
mulheres jovens
Morganna Guedes Batista*, Smalyanna Sgren da Costa Andrade,
D.Sc.**, Marciele
Rosendo Pessoa Cabral***, Karen Krystine Gonçalves de
Brito, D.Sc.****, Karina Karla de Sá Gomes*****,
Cintia Bezerra Almeida, D.Sc.******
*Enfermeira
Obstétrica, Docente do Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ), **Bolsista
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), Docente
do curso de graduação e Programa de Pós-Graduação em Mestrado Profissional em
Saúde da Família da Faculdade de Enfermagem Nova Esperança (FACENE),
***Enfermeira, Graduada pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ),
****Bolsista Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
(CAPES), Enfermeira da Prefeitura Municipal de Bayeux, *****Graduanda do Curso
de graduação em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba, Bolsista de
Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), ******Docente do Departamento de Enfermagem em Saúde
Coletiva da Universidade Federal da Paraíba
Recebido em 23 de
novembro de 2017; aceito em 9 de julho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Smalyanna Sgren da Costa
Andrade, Rua Irani Almeida de Menezes, 1007 Funcionários II 58078-010 João
Pessoa PB, E-mail: smalyanna@hotmail.com; Morganna
Guedes Batista: morganna_guedes@hotmail.com; Marciele
Rosendo Pessoa Cabral: marcy_nunes@hotmail.com; Karen Krystine
Gonçalves de Brito: karen_krystine@hotmail.com; Karina Karla de Sá Gomes:
karina.karlasg@gmail.com; Cintia Bezerra Almeida: cintiabez@yahoo.com.br
Resumo
Objetivo: Identificar
os fatores de risco, manifestações clínicas e histopatológicas associadas à
presença do câncer de mama entre mulheres participantes de uma organização não
governamental de apoio à doença no município de João Pessoa/PB. Métodos: Estudo
retrospectivo, transversal, com abordagem quantitativa desenvolvido com 50
mulheres. Os dados foram compilados e analisados com auxílio do SPSS, versão
20.0, através de estatística descritiva e inferencial com uso dos testes Qui-quadrado e Exato de Fisher. Resultados: Em relação à
caracterização sociodemográfica, 50% estavam entre
31-35 anos, 44% possuíam o ensino médio completo, 28% eram funcionárias do
serviço privado, 50% recebiam entre 1-3 salários mínimos, 34% eram solteiras e
54% eram de etnia branca (p=0,0072). Menarca entre 11-15 anos (p<0,0001),
nunca tinha engravidado (p<0,0001), não tinha amamentado (p<0,05), uso de
contraceptivos orais (p<0,05), não ingestão de bebidas alcóolicas
(p<0,05) e de alimentos gordurosos de 4-6 vezes na semana (p<0,05),
nenhuma realização de métodos preventivos (p<0,05), presença de nódulo
(p<0,05), carcinoma ductal infiltrativo
(p<0,05), apresentaram-se estatisticamente significativos com a presença do
câncer de mama. Conclusão: Conclui-se que medidas educativas devem ser tomadas
para que as mulheres jovens possam identificar os fatores de risco da doença
para proceder à detecção precoce.
Palavras-chave: neoplasia mamária,
mulheres, fatores de risco, Enfermagem.
Abstract
Risk factors, clinical and histopathological
manifestations of breast cancer among young women
Objective: To identify the risk factors, clinical and histopathological manifestations associated with the
presence of breast cancer among women participating in a nongovernmental
organization of support to the disease in the municipality of João Pessoa, Paraiba, Brazil. Methods: Retrospective,
cross-sectional study with a quantitative approach developed with 50 women.
Data were compiled and analyzed using SPSS, version 20.0, using descriptive and
inferential statistics using Chi-square and Fisher's exact tests. Results:
Concerning the sociodemographic characterization, 50%
were between 31-35 years old, 44% had completed high school, 28% were private
employees, 50% received between 1-3 minimum wages, 34% were single and 54% were
white ethnicity (p = 0.0072). Menarche between 10-15 years old (p<0.0001),
never having been pregnant (p<0.0001), not breastfeeding (p<0.05), use of
oral contraceptives (p<0.05), non-ingestion of alcoholic drinks (p<0.05)
and fatty foods 4-6 times a week (p<0.05), no preventive methods
(p<0.05), presence of a nodule (p<0,05), infiltrative ductal carcinoma (p
<0.05), were statistically significant with the presence of breast cancer.
Conclusion: We concluded that educational measures should be taken so that
young women can identify disease risk factors for early detection.
Key-words: mammary
neoplasm, women, risk factors, Nursing.
Resumen
Factores de riesgo, manifestaciones clínicas
e histopatológicas del cáncer de mama entre mujeres jóvenes
Objetivo: identificar
los factores de riesgo, manifestaciones clínicas
e histopatológicas asociadas a la presencia del cáncer de mama entre mujeres
participantes de una organización no gubernamental de apoyo a la enfermedad en
el municipio de João
Pessoa. Método: Estudio retrospectivo, transversal, con abordaje cuantitativo
desarrollado con 50 mujeres. Los datos fueron compilados y analizados con ayuda del SPSS, versión 20.0, a
través de estadística descriptiva e inferencial con uso de las pruebas Qui-cuadrado y Exacto de Fisher. Resultados: En relación a la
caracterización sociodemográfica,
50% estaba entre 31-35 años,
44% poseía la enseñanza media completa, 28% era funcionaria del servicio privado, 50% recibía entre 1-3 salarios
mínimos, 34% era soltera y 54% era de etnia blanca (p = 0,0072). Primera menstruación entre 11-15 años
(p<0,0001), no haber amamantado (p<0,05), uso de anticonceptivos orales (p <0,05), no ingestión
de bebidas alcohólicas (p<0,05) y de alimentos grasos de 4-6 veces a la semana (p<0,05), ninguna realización de métodos preventivos (p<0,05), presencia
de nódulo (p<0,05), carcinoma ductal infiltrativo (p<0,05), presentaron
estadísticamente significativos con
la presencia del cáncer de mama.
Palabras-clave: neoplasias de la mama, mujeres,
factores de riesgo, Enfermería.
O câncer de mama
consiste no crescimento desordenado e múltiplo das células da mama com ruptura
dos mecanismos reguladores da multiplicação celular, o que proporciona o
crescimento e divisão celular anômalos, originando a neoplasia ou tumor. O
desenvolvimento deste tipo de câncer é decorrente de vários fatores, como os
biológicos e ambientais [1].
No Brasil, o câncer
de mama se destaca como segundo mais incidente, ficando atrás do câncer de
pele. Destarte, ele é o que causa mais mortes por câncer entre mulheres. Em
2016 a estimativa é de 57.960 casos novos, com um risco estimado 56 casos a
cada 100 mil mulheres. Esse tipo de tumor apresenta um dos maiores índices no
país afetando mais as mulheres, respectivamente, das regiões sudeste, sul,
centro-oeste, nordeste e norte [2].
Os fatores de risco
estão relacionados à história familiar, alimentar, elementos genéticos,
ambientais e idade. Sobre isso, estudo identificou que o câncer de mama entre
mulheres menores de 35 anos, com metástases sistêmicas ocorreu em 55,3% dos
casos, ou seja, mais da metade das mulheres participantes foram acometidas pela
neoplasia em idade abaixo da considerada população-alvo pelas políticas
públicas. Além disso, a pesquisa apontou índice de mortalidade de 38%,
demostrando que a problemática gera consequências irreparáveis ao indivíduo e
família [3].
As estratégias de
controle do câncer de mama vêm sendo implementadas no
Brasil desde o século passado, através de ações isoladas e, em décadas
recentes, por ações de programas de controle do câncer. Em 2005 com apoio do
Ministério da Saúde, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) lançou a Política
Nacional de Atenção Oncológica, cujos objetivos principais foram reduzir a
exposição aos fatores de risco, diminuir a mortalidade e melhorar a qualidade
de vida da mulher com câncer de mama. Esta meta esteve em consonância com as
diretrizes atuais da Política de Controle do Câncer, publicadas pela Portaria
GM/MS nº 874, de 2013, e com a Política Nacional de Prevenção e Controle do
Câncer [4].
Sabe-se que o acesso
aos serviços de saúde é tratado na Política Nacional de Atenção Oncológica
(PNAO) e Política Nacional de Controle do Câncer de Mama como oferta do Estado,
o qual reconhece que o investimento financeiro deve estar vinculado à ampliação
das redes de atenção em oncologia, na tentativa de estruturação estática e
dinâmica do atendimento integral a mulheres com neoplasia maligna mamária. A
finalidade consiste em oferecer uma porta de entrada baseada nas premissas dos
parâmetros de atendimento estabelecido pelo Sistema Único de Saúde [5].
Em paralelo, existe
um aparato social de acolhida e suporte às mulheres acometidas por câncer de
mama, destacando-se como iniciativas salutares no campo da saúde, as quais fornecem serviços de atenção
biopsicossocial. A criação destas iniciativas, também chamadas de Organizações
Não Governamentais, é influenciada pelo altruísmo e vontade de melhorar a
qualidade de vida dos indivíduos, principalmente àqueles cujo poder aquisitivo
não permite viver a saúde em sua plenitude [6].
Considerando o
crescimento da incidência do câncer de mama entre mulheres jovens, suas
repercussões biopsicossociais e também a importância de organizações não
governamentais no apoio às mulheres vitimadas pela doença, o presente estudo
teve como indagação norte: As mulheres acometidas por câncer de mama antes dos
35 anos de idade possuem características semelhantes àquelas evidenciadas pela
comunidade científica? Para responder ao questionamento, o objetivo deste
estudo foi identificar os fatores de risco, manifestações clínicas e
histopatológicas associadas à presença do câncer de mama entre mulheres
participantes de uma organização não governamental de apoio à doença no
município de João Pessoa.
Estudo retrospectivo,
transversal, com abordagem quantitativa, desenvolvido na Organização Não
Governamental (ONG) Amigos do Peito da Paraíba, a qual desempenha
políticas de saúde pública com atenção especial à
neoplasia mamária, promovendo orientação, conscientização e assistência social
de forma gratuita de referência no tratamento do câncer na Paraíba.
A população foi
constituída por mulheres jovens com diagnóstico de câncer de mama. A amostra
não probabilística resultou em 50 mulheres que atenderam aos seguintes
critérios de inclusão: maioridade etária, diagnóstico de câncer de mama com
idade igual ou inferior a 35 anos. Optou-se por esta faixa etária justamente
por ser aquela que recebe menor visibilidade das políticas de saúde relativas
ao câncer de mama.
O instrumento
utilizado foi do tipo formulário contendo questões objetivas direcionadas ao
objeto do estudo. A coleta de dados ocorreu entre agosto e outubro de 2012,
após apreciação e aprovação do projeto de pesquisa pelo comitê de ética. Os
dados foram compilados e analisados com auxílio do Software Statistical Package
for the Social Science (SPSS), versão 20.0, por
meio de estatística descritiva (frequência absoluta e relativa) e inferencial
com uso de testes estatísticos como o Qui-quadrado de
aderência e Exato de Fisher. O instrumento utilizado foi do tipo formulário
contendo questões objetivas direcionadas ao objeto do estudo. A coleta de dados
ocorreu entre agosto e outubro de 2012, após apreciação e aprovação do projeto
de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob protocolo
nº 70/12 e Certidão nº 04505412.5.0000.5179.
Na tabela I é
possível visualizar os aspectos sociodemográficos das
mulheres que apresentaram câncer de mama com diagnóstico até 35 anos de idade.
Tabela
I - Caracterização sociodemográfica
das mulheres participantes da pesquisa. João Pessoa/PB, 2012 (N=50).
Fonte: Dados da
pesquisa. *Teste Quiquadrado (p=0,0072).
Alguns fatores de
risco, manifestações clínicas e tipo histológico foram associados à presença do
câncer de mama (Tabela II).
Tabela
II -
Associação entre a presença do câncer de
mama e fatores de risco. João Pessoa/PB, 2012 (N=50).
Fonte: Dados da
pesquisa.
Presença
do receptor hormonal e do tipo de cirurgia podem ser visualizada na
tabela III.
Tabela
III
- Prevalência do câncer de mama com
manifestações clínicas, tipo histológico, presença do receptor hormonal e tipo
de cirurgia. João Pessoa/PB, 2012 (N=50).
Fonte: Dados da
pesquisa.
Pesos anteriores ao
diagnóstico e atual para análise inferencial de comparação de dados pareados da
amostra em ocasiões distintas (Tabela IV).
Tabela
IV -
Distribuição das medidas de tendência
central sobre a variável ‘peso’. João Pessoa/PB, 2012 (N=34).
Mi = Mínimo; Ma = Máximo; Amp = Amplitude; DP
= Desvio-padrão; Md = Mediana; CV = Coeficiente de
variação; *Teste de Wilcoxon; Fonte: Dados da
pesquisa.
Em relação às
características sociodemográficas, todas as
participantes foram diagnosticadas com câncer de mama antes dos 35 anos de
idade, com média de 31 anos. A faixa etária mais prevalente foi entre 31-35
anos. O grau de escolaridade da maioria foi ensino médio completo, com ocupação
no funcionalismo público, renda entre 1-3 salários mínimos, solteiras e
brancas. A raça possuiu associação estatisticamente significativa (p ≤
0,05), demonstrando que a etnia branca ainda é a mais atingida pela doença
(Tabela I).
Nos Estados Unidos,
este padrão de etnia vem modificando. Embora as mulheres brancas tenham
historicamente taxas de incidência mais altas do que as mulheres negras, entre
2008 e 2012, as taxas de incidência foram significativamente maiores em
mulheres negras comparadas com mulheres brancas [7].
Pesquisas demonstram
que a idade acima de 40 anos é um fator importante na incidência do câncer de
mama [8-10]. Todavia, outros estudos têm explicado que mulheres com idade igual
ou inferior aos 35 anos podem ser diagnosticadas mais comumente com a doença
devido ao avanço tecnológico [11], conscientização feminina [12], programas de
rastreamentos [13] ou modificações na história natural da doença, em virtude de
exposições a agentes cancerígenos, alterações ambientais e mudança de estilo de
vida [14].
Os principais fatores
de risco para o aparecimento do câncer de mama é idade precoce e/ou maior do
que 30 anos na primeira gravidez, uso de anticoncepcionais de alta dosagem,
menopausa tardia e terapia de reposição hormonal, idade avançada, alta
densidade do tecido da mama e história familiar de câncer de mama. Outros
fatores estão relacionados com a alimentação, atividade física, duração de
amamentação, obesidade na pós-menopausa, tabagismo, consumo de álcool e
radiação ionizante [15].
Um estudo publicado
fornece evidências adicionais, confirmando que certas profissões representam um
maior risco de câncer de mama, particularmente aquelas que expõem a
trabalhadora a agentes cancerígenos e desreguladores
endócrinos [16], o que não condiz com a realidade trabalhista das mulheres deste
estudo, considerando que a maioria das acometidas trabalha em setor privado.
Obviamente, não se
sabe a relação deste fator com o acometimento entre as participantes, mas
infere-se que a carga horária trabalhista (44 horas semanais) seja um elemento
influenciador a não busca por prevenção ou detecção precoce. Em outras
palavras, o pouco tempo disponível pode ser direcionado às atividades de lazer
ou relações sociais, fazendo com que a mulher relegue o cuidado ao segundo
plano, buscando atendimento em saúde somente após a instalação da doença.
Mulheres com nível
socioeconômico mais alto estão tendo seu primeiro filho com idade mais
avançada, o que pode está relacionado ao estado civil e paridade, apontando
direções à explicação do acometimento pelo câncer de mama entre as pesquisadas
[8]. Na tabela II, a idade da menarca entre 11-15 anos e nuliparidade
apresentaram p-valor <0,0001.
Não
ter amamentado,
uso de anticoncepcional oral, não ingestão de bebidas
alcoólicas, consumo de
alimentos gordurosos de 4 a 6 vezes durante a semana, não
realização de métodos
de prevenção ao câncer, presença de
nódulo com principal manifestação clínica e
o carcinoma ductal infiltrativo
como o mais prevalente tipo histológico apresentaram significâncias (p<0,05).
A literatura
explicita que o risco de câncer de mama aumenta para mulheres com menarca
precoce e menopausa tardia [17,18], pois a primeira menstruação em idade
precoce provoca índice de exposição acumulativa ao estrogênio, desencadeando a
modificação celular no epitélio mamário, que culmina em transformações malignas
[19,20].
A nuliparidade
também tem sido apontada como importante fator de risco ao aparecimento do
câncer de mama entre mulheres, o que pode ser evidenciado pelos resultados deste
estudo. Não obstante, investigação afirma que a chance de nulíparas
desenvolverem a neoplasia na mama é duas vezes maior, quando comparadas às
mulheres que tiveram o primeiro parto antes dos 25 anos de idade [21].
Para as mulheres cuja
primeira gestação ocorreu após os 30 anos de idade, a incidência da doença
aumenta 1,7% para cada 1 ano de adiamento do primeiro
filho [21]. E para cada ano adicional de espaço entre o primeiro filho e o
segundo filho, o risco tende a aumentar, atingindo a taxa de 0,4% [18].
Revisão sistemática
da literatura explicitou que o ato de amamentar é apontado como sendo uma
prática protetora contra o câncer de mama. Essa proteção tem eficácia maior
quando o período de lactação for superior a 49 meses, quando comparado às
mulheres que amamentam por 24 meses. O efeito protetor da amamentação é mais
eficaz nos tipos de cânceres ductal e lobular ou ductal-lobular [20].
Sobre os
anticoncepcionais, o seu uso prolongado pode trazer algumas repercussões à
saúde da mulher, como o aumento do risco do câncer de mama [22]. Dentre os
fatores comuns ao desenvolvimento do câncer de mama, a obesidade é o segundo
maior fator de risco, seguido pelo tabagismo. A obesidade está associada a
fatores como influência hormonal, elevados níveis de estrogênio e insulina
[23].
O consumo de álcool é
um fator extrínseco ao aparecimento de câncer. Isso se explica pelo fato do
etanol aumentar os níveis de estrogênio circulante [24]. Como a prevenção do
câncer de mama pode ser dividida em prevenção primária e secundária, ambas as
medidas estão relacionadas aos hábitos de vida, controle da obesidade,
sedentarismo e alimentação saudável [25].
O autoexame das mamas
não é indicado como medida primária para rastreio do câncer de mama, apesar de
a sua prática auxiliar bastante nos casos de tumor já instalado [25]. Para o
diagnóstico do câncer de mama, existe uma ordem adequada, qual seja, o exame clínico das mamas (ECM), seguido de exames de
imagem e laboratoriais. A primeira etapa que consiste no ECM se trata do exame
físico em busca de nódulo palpável, através das técnicas de inspeção estática/dinâmica e palpação [26].
Os exames de imagem
permitem observar a localização das células cancerígenas e o exame histológico
consiste na análise laboratorial do tecido mamário, servindo não mais para
diagnosticar, mas para obter por meio da biópsia informações sobre o tumor para
proposição de intervenções. O histopatológico também especifica se o tumor é
invasivo ou não invasivo [26].
Em relação aos tipos
de neoplasias, o carcinoma Ductal invasivo inicia nos
ductos e invade outras estruturas do tecido mamário, podendo causar alterações
no mamilo ou espessamento da pele, com aumento no tamanho da mama e edema. Este
tipo é o mais comum correspondendo acerca de 70% dos casos de carcinoma na mama
[27]. Infelizmente, mulheres acometidas por carcinoma ductal
infiltrativo apresentam normalmente um maior
envolvimento linfático e um pior prognóstico [28].
Sobre os receptores
hormonais, 30% das participantes deste estudo apresentaram Estrogênio
Negativo–Progesterona Positivo e 14% apresentaram HER2. A presença de
receptores de estrogênio e progesterona no tecido tumoral foi relacionada a
outros fatores que indicam bom prognóstico, como menor grau histológico e
menores índices de proliferação celular, além de apresentar com menos
frequência metástases para fígado e cérebro. Porém, os tumores com receptor de
estrogênio negativo recidivam mais precocemente [28].
A expressão do
receptor de estrogênio (RE) é um importante biomarcador
em câncer de mama, fornecendo índice de sensibilidade ao tratamento endócrino.
Evidenciou-se que durante cinco anos de tratamento adjuvante com tamoxifeno, mulheres com RE positivo
não apresentam avanço benéfico. Porém, algum benefício foi verificado no grupo
de RE negativo e RP positivo [28]. Tumores com RE negativo recidivam mais precocemente, todavia o
prognóstico das mulheres com RE positivo não é tão satisfatório [28,29].
A expressão do RP é
fortemente dependente da presença de RE. Por esta razão, tumores com expressão
RP e falta de expressão do RE são reavaliados para
eliminar a possibilidade de falso negativo. Nos raros casos de expressão apenas
do RP, a terapia endócrina ainda é amplamente recomendada com uso de tamoxifeno [28,29].
A expressão de algum
receptor deixa a terapia mais específica, aumentando as chances de resposta
positiva. Mulheres com imunoexpressão da proteína
HER-2 possuem elevado risco de recidiva precoce de neoplasia, bem como menor
sobrevida quando comparadas àquelas com ausência de expressão [30].
Pesquisa sobre
avaliação imunoistoquímica dos receptores de
estrogênio e progesterona no câncer de mama, pré e
pós-quimioterapia neoadjuvante em peças cirúrgicas identificou a negativação da
imunoexpressão dos receptores de estrogênio e
progesterona, bem como foram encontradas reduções estatisticamente
significativas (p<0,0001) nos níveis dos dois tipos de receptores,
influenciando na diminuição do tamanho tumoral. Os pesquisadores concluíram que
existe a necessidade de outros estudos com amostra maior, porém os dados
demonstraram que a terapia neoadjuvante pode ser efetiva no controle do câncer
de mama [31].
Estudo de coorte com
84.427 mulheres avaliou a associação entre ingestão de bebida alcoólica e câncer
de mama, segundo o status dos receptores hormonais, e conclui-se que não houve
significância entre os grupos comparativos, demonstrando que existem lacunas
importantes na expressão dos receptores, ainda não evidenciadas cientificamente
[32].
Apesar disso,
pesquisa publicada em ano anterior explicitou que a ingestão de uma dose diária
de bebida alcoólica (10-15g de etanol/dia) foi considerada fator de proteção ao
câncer de mama dentre as mulheres participantes, quando comparadas ao grupo que
não fazia ingestão de álcool [33].
A presença do HER-2
desempenha papel fundamental na transformação oncológica, cuja amplificação
ocorre em 15% a 25% dos casos de câncer de mama humano. Esta amplificação é
reconhecida como importante marcador de doença agressiva e são os alvos
moleculares para terapias específicas com trastuzumab
e lapatinib [28,29].
Sobre o tipo de
cirurgia, neste estudo a mastectomia se mostrou como
a intervenção mais prevalente dentre as pesquisadas, indicando que os cânceres
foram diagnosticados em estágios que acometeram toda a mama. Por outro lado, a
cirurgia conservadora foi de menor percentual, apontando que a detecção em
estágios iniciais ainda é uma lacuna a ser preenchida nos serviços de saúde.
Sobre isso, estudo de
revisão explicitou que a qualidade de vida (QV) geral das mulheres que passaram
por mastectomia é menor que aquelas indicadas à
cirurgia conservadora, sendo o domínio referente à imagem corporal o mais
afetado, devido à mutilação provocada pela intervenção. Embora este seja um
resultado previsível, os autores concluíram que medidas quantitativas de QV
podem ser ótimas ferramentas para direcionar estratégias de enfrentamento ao
desconforto e ao sofrimento causados pela cirurgia, podendo ser empregadas em serviços
de saúde e instituições filantrópicas e não governamentais [34].
Por fim, na tabela
IV, pode ser evidenciada a redução nas medidas de tendência central da variável
peso. Estes resultados demonstram que após o diagnóstico do tumor, as mulheres
tentaram minimizar este fator de risco ligado ao sobrepeso/obesidade como forma
de reduzir e controlar a chance de recidiva. Estudo identificou que houve
aumento do risco relativo para o acometimento do câncer de mama entre mulheres
com ganho de 20 a 30 kg desde a juventude até a data do diagnóstico tumoral
[20].
As mulheres
pesquisadas apresentaram alguns fatores de risco condizentes com a literatura e
significativos para o desenvolvimento da doença. Entende-se que os
profissionais de saúde que trabalham na atenção básica devem utilizar
informações consolidadas em nível nacional e internacional para facilitar o
processo de identificação precoce do câncer de mama entre mulheres, ajudando a
reduzir o risco de mortalidade nesta população. O estudo foi estritamente
quantitativo, o que se impõe como limitação. Talvez uma análise fenomenológica
e qualitativa dos discursos das mulheres, para explicação de alguns fatores de
risco, pudesse deixar a pesquisa mais robusta.