REVISÃO

Gestantes usuárias de substâncias psicoativas

 

Êmily Rodrigues Mota*, Daiana Foggiato de Siqueira, D.Sc.**, Keity Laís Siepmann Soccol, D.Sc.***, Silvana de Oliveira Silva, M,Sc.****, Mirian Lucia Dutra de Campos*****

 

*Enfermeira assistencial no Grupo Hospitalar Santiago, **Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria, ***Professora da Universidade Franciscana, ****Professora do Curso de Enfermagem da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI Campus Santiago, *****Enfermeira, Especialista em Saúde Coletiva, Escola de Educação Profissional Caio Fernando Abreu – SEG

 

Recebido em 14 de dezembro de 2017; aceito em 5 de junho de 2019.

Correspondência: Êmily Rodrigues Mota, Rua 7 de setembro, 570, 97700-000 Santiago RS

 

Êmily Rodrigues Mota: emilly_mota@hotmail.com

Daiana Foggiato de Siqueira: daianasiqueira@yahoo.com.br

Keity Laís Siepmann Soccol: keitylais@hotmail.com

Silvana de Oliveira Silva: silvanaoliveira@urisantiago.br

Mirian Lucia Dutra de Campos: mirian@viacom.com.br

 

Resumo

Introdução: A exposição das gestantes às substâncias psicoativas pode levar ao comprometimento irreversível da integridade do binômio mãe/bebê. Objetivo: Analisar a produção científica sobre o uso de substâncias psicoativas durante a gestação. Métodos: Trata-se de uma revisão de literatura do tipo narrativa. A busca inicial foi composta por 96 produções na base de dados Lilacs, 7 produções na base de dados BDENF e 1 produção na base de dados IBECS. A partir do estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão, o corpus desta revisão constituiu-se em um total de 11 artigos. A análise dos dados foi realizada por meio da proposta Operativa de Minayo. Resultados: Os artigos foram divididos em três categorias: Dificuldades no cuidado às gestantes; Fatores de risco ao uso de substâncias psicoativas; Possibilidades para o cuidado das gestantes. Conclusão: O estudo traz à tona a importância de o enfermeiro estar sempre atualizado, proporcionando uma assistência efetiva e de qualidade na atenção básica, contribuindo assim para a saúde da gestante e do bebê.

Palavras-chave: Enfermagem, gravidez, transtornos relacionados ao uso de substâncias.

 

Abstract

Uses of psychoactive substances

Introduction: The exposure of pregnant women to psychoactive substances can lead to irreversible impairment of the integrity of the mother/baby binomial. Objective: To analyze the scientific production on the use of psychoactive substances during pregnancy. Methods: This is a literature review of the narrative type. The initial search consisted of 96 productions in the Lilacs database, 7 productions in the BDENF database and 1 production in the IBECS database. From the establishment of inclusion and exclusion criteria, the corpus of this review consisted of a total of 11 articles. Data analysis was performed through Minayo's Operative proposal. Results: The articles were divided into three categories: Difficulties in care for pregnant women; Risk factors for the use of psychoactive substances; Possibilities for the care of pregnant women. Conclusion: The study highlights the importance of nurses being always up to date, providing effective and quality assistance in basic care, thus contributing to the health of the pregnant woman and the baby.

Key-words: Nursing, pregnancy, substance-related disorders.

 

Resumen

Usos de sustancias psicoactivas

Introducción: La exposición de las mujeres embarazadas a sustancias psicoactivas puede llevar a un deterioro irreversible de la integridad del binomio madre/bebé. Objetivo: Analizar la producción científica sobre el uso de sustancias psicoactivas durante el embarazo. Métodos: Esta es una revisión de la literatura del tipo narrativo. La búsqueda inicial consistió en 96 producciones en la base de datos Lilacs, 7 producciones en la base de datos BDENF y 1 producción en la base de datos IBECS. Desde el establecimiento de los criterios de inclusión y exclusión, el corpus de esta revisión consistió en un total de 11 artículos. El análisis de los datos se realizó a través de la propuesta operativa de Minayo. Resultados: Los artículos se dividieron en tres categorías: Dificultades en la atención de mujeres embarazadas; Factores de riesgo para el uso de sustancias psicoactivas; Posibilidades para el cuidado de mujeres embarazadas. Conclusión: El estudio destaca la importancia de que las enfermeras estén siempre actualizadas, brindando asistencia efectiva y de calidad en la atención básica, contribuyendo así a la salud de la mujer embarazada y del bebé.

Palabras-clave: Enfermería, embarazo, trastornos relacionados con sustancias.

 

Introdução

 

A gravidez é um acontecimento complexo e uma experiência permeada por muitos sentimentos [1]. É uma etapa importante na vida da mulher e representa a fase anterior ao parto, na qual ocorrem mudanças físicas, com transformações diárias, acompanhadas de alterações emocionais e comportamentais. Durante esse período, a mulher pode ficar mais suscetível emocionalmente e, devido a isso, pode revelar-se mais fortalecida e amadurecida, ou, então, mais vulnerável. Dessa forma, o acompanhamento adequado faz-se necessário durante todo processo gestacional [2].

Diante de todas estas transformações, a experiência de gestar leva a uma intensificação da sensibilidade e emotividade da mulher, o que a torna passível de várias alterações emocionais [3]. Considera-se que, durante a gravidez, mesmo a mulher em boas condições de saúde, podem haver momentos de grande estresse físico e mental. Esses momentos se intensificam quando a gestação vem acompanhada por situações em que colocam a mãe o bebê em risco, como, por exemplo, o uso de álcool e outras drogas.

A ingestão dessas substâncias é vista como um dos principais problemas de saúde pública, pois elas produzem alterações do estado de consciência e alteram o comportamento das pessoas que as utilizam [4]. Quando envolve gestantes, esse problema gera uma repercussão mais ampla, pois a exposição dessas mulheres às substâncias psicoativas pode levar ao comprometimento irreversível da integridade do binômio mãe/bebê [5].

A ligação da gravidez com o uso de substâncias é um fator que coloca em risco a maternidade. O receio e a preocupação com esse acontecimento vêm se acentuando à medida que aumenta a prevalência do uso de substâncias psicoativas pelas mulheres grávidas, o qual vem ocorrendo durante os últimos anos [1].

O uso de drogas no Brasil, tanto lícitas quanto ilícitas, teve um aumento significativo pela população feminina ao longo dos anos. Estima-se que cerca de 20% das mulheres façam uso de drogas durante o período da gestação [6]. Segundo o Ministério da Saúde, o consumo inapropriado de substâncias psicoativas é um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade [7].

O consumo de substâncias psicoativas representa um importante risco à saúde da mulher e ao feto, uma vez que essas substâncias podem ultrapassar a barreira transplancentária. Dessa forma, não há como a gestante fazer uso dessas substâncias sem que haja dano para ela e o bebê [4]. Nesse aspecto, as substâncias não sofrem metabolização, agindo então diretamente na vascularização fetal [1].

Neste sentido, é necessário que o uso de substâncias psicoativas seja identificado o mais breve nas gestantes. Ao serem acolhidas na Unidade Básica de Saúde, as gestantes deverão ser encaminhadas para um serviço especializado, onde serão feitas as devidas avaliações para dar continuidade à assistência ao pré-natal conforme previsto no protocolo do Ministério da Saúde [6]. Nesse contexto, os profissionais de saúde possuem um papel de extrema importância.

A atuação do enfermeiro é essencial na atenção primária, pois realiza o acompanhamento e o pré-natal. É importante também salientar que o enfermeiro realiza o pré-natal de baixo risco, bem como identifica e acompanha o pré-natal de alto risco [8]. Além disso, os profissionais da área da saúde têm a possibilidade de oferecer seu conhecimento a serviço do bem-estar da gestante e do bebê, reconhecendo a necessidade de intervenções para garantir a saúde de ambos [7].

Diante do exposto justifica-se a necessidade de aprofundar o conhecimento acerca dessa temática pelo enfermeiro, para que o mesmo possa dar suporte e desenvolver um cuidado integral às gestantes. Além disso, ressalta-se que este estudo está aliado a trajetória acadêmica a partir de inquietações surgidas no decorrer do curso, durante as aulas práticas e estágios, quando se observou a necessidade do enfermeiro em conhecer as necessidades de saúde das gestantes que fazem uso de substâncias psicoativas.

Assim, tem-se como questão orientadora: Qual a produção científica sobre o uso de substâncias psicoativas durante a gestação? E, como objetivo analisar a produção científica sobre o uso de substâncias psicoativas durante a gestação.

 

Material e métodos

 

Trata-se de uma revisão de literatura do tipo narrativa. Esse tipo de revisão vem sendo utilizada para relatar o desenvolvimento de determinado assunto. As revisões baseiam-se em análise de artigos, livros entre outros documentos, bem como sua interpretação, contendo a análise crítica do autor [9].

Para a realização da busca, foram definidos alguns descritores, previamente testados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) que são: gravidez e transtornos relacionados ao uso de substâncias. A busca foi realizada na base de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e no Índice Bibliográfico Español em Ciencias de la Salud (IBECS) no mês de junho de 2019.

Como critérios de inclusão, utilizaram-se os artigos de pesquisas de campo, disponíveis na íntegra, nos idiomas inglês, português ou espanhol, online e gratuitos. E como critérios de exclusão, os que não responderam ao objetivo proposto, teses e dissertações, manuais ministeriais e estudos que apresentassem duplicidade. O recorte temporal para seleção das produções foi de 2001-2018, tendo como marco a Reforma Psiquiátrica [10].

A busca inicial foi composta por 96 produções na base de dados Lilacs, 7 produções na base de dados BDENF e 1 produções na base de dados IBECS. A partir do estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão, o corpus desta revisão constituiu-se em um total de 11 artigos. Conforme figura 1 a seguir:

 

 

Figura 1Fluxograma elaborado a partir dos critérios de inclusão e exclusão.

 

A análise dos dados foi realizada por meio da proposta Operativa de Minayo (2014) que possui três etapas: pré-análise, exploração de material e tratamento dos resultados obtidos e interpretações. A pré-análise consiste na seleção dos materiais a serem analisados, a exploração do material visa alcançar o foco do entendimento dos textos e busca encontrar as categorias, e; o tratamento dos resultados e interpretações permite colocar em relevo as informações obtidas.

Após análise dos dados, os artigos foram divididos em três categorias: Dificuldades no cuidado às gestantes; Fatores de risco ao uso de Substâncias psicoativas; Possibilidades para o cuidado das gestantes.

Salienta-se que os aspectos éticos foram respeitados no que se refere a zelar pela legitimidade das informações e autoria dos estudos.

 

Resultados e discussão

 

Os 11 artigos analisados estavam distribuídos em duas bases de dados, dez artigos na Lilacs e um artigo na BDENF. Quanto ao idioma, nove artigos são em português e um em espanhol. No que diz respeito ao ano das publicações, verificou-se um artigo no ano de 2009, um em 2010, um em 2011, três em 2013, um em 2014, três em 2015 e um em 2018. Em relação aos países de publicação, nove artigos são do Brasil, um da Argentina e um dos Estados Unidos. E, quanto à metodologia, seis estudos foram de abordagem quantitativa e cinco de abordagem qualitativa.

 

Dificuldades no cuidado às gestantes

 

Esta categoria refere-se às ações dos enfermeiros que, por vezes, são consideradas insuficientes para as demandas de cuidados das gestantes. Apesar de receberem orientações pertinentes ao uso de substâncias psicoativas, são insuficientes e, ainda, essas gestantes não são encaminhadas aos serviços especializados para tratamento. Essa temática é alvo de obstáculos entre os profissionais e as gestantes usuárias, resultando em assistência e informações insuficientes, durante o pré-natal, além do conhecimento dos profissionais ser restrito e a troca de experiência entre eles não ser frequente.

As condutas executadas pelo enfermeiro da unidade básica ainda são insatisfatórias, pois, apesar das gestantes receberem informações e orientações sobre as consequências do uso de substâncias, não são encaminhadas aos centros especializados para acompanhamento [6]. Para alcançar uma assistência integral de qualidade, as unidades devem trabalhar diretamente com os CAPS a fim de desenvolverem um Projeto Terapêutico Singular às gestantes [11].

As gestantes usuárias não buscam realizar o pré-natal como o esperado, além de não terem participação ativa em grupos de gestantes disponibilizados pelas unidades básicas, sofrendo assim maiores complicações durante o parto. A maioria não procura assistência nem orientações durante o período da gravidez. A fragilidade socioeconômica e as condições psicoemocionais que elas vivenciam não favorecem o autocuidado e implicam na baixa adesão ao pré-natal. Algumas em situação de rua procuram ajuda apenas na hora do parto, dificultando uma assistência efetiva e de qualidade, pois a equipe desconhece sua realidade, riscos e necessidades [12-14].

Além disso, as gestantes sentem dificuldades em cessar com o uso das drogas durante a gestação e que as informações recebidas nas unidades eram insuficientes [1]. O conhecimento das gestantes sobre o assunto é bastante escasso, principalmente no que se refere à gestação e o uso de álcool e drogas. Um estudo evidência que, apesar do uso de drogas ser um assunto bastante comum hoje em dia, o diálogo e a troca de conhecimentos entre os profissionais que atendem essa demanda não são habituais, resultando em complicações na saúde da mulher e do bebê, pois não é possível identificar as necessidades e os riscos [5].

Destaca-se que o cuidado com as gestantes usuárias de substâncias psicoativas é bastante complexo, exigindo preparo dos enfermeiros. Os profissionais devem ser específicos e tratar cada gestante de acordo com suas particularidades e características [12].

Há discriminação entre as gestantes e puérperas usuárias de drogas e isso implica não aderirem à assistência pré-natal ou a procurarem os serviços tardiamente. As unidades básicas de saúde são a porta de entrada para o SUS e deverão atender as usuárias de forma humanizada e com resolutividade [11].

Deste modo, as consultas e as orientações oferecidas no pré-natal são importantes na prevenção do uso de substâncias na gestação e após o parto. Os profissionais devem continuar orientando as usuárias, a fim de conscientizar sobre os perigos e consequências das substâncias psicoativas [12].

Os enfermeiros são essenciais na assistência da unidade básica, pois trabalham diretamente com pessoas que apresentam riscos de saúde devido ao uso de álcool e drogas. Ao reconhecerem os problemas relacionados à ingestão de substâncias, podem oferecer cuidado de qualidade, desenvolvendo ações assistenciais em benefício dessas pessoas [13].

É imprescindível que os profissionais da saúde que realizam o pré-natal tenham conhecimento suficiente sobre o assunto. Assim, poderão orientar as gestantes usuárias adequadamente e investir em condutas de prevenção, além de encaminhá-las em casos mais graves para serviços especializados, garantindo assim, maior sucesso e adesão à assistência pré-natal.

 

Fatores de risco ao uso de substâncias psicoativas

 

O tema abordado nesta categoria relaciona as questões familiares, socioeconômicas, culturais, biopsicossociais como fatores de risco para o envolvimento com substâncias psicoativas [4]. Esses fatores são determinantes para a procura das substâncias psicoativas, pois as pessoas procuram nas substâncias o alívio para seus problemas.

Contudo, os profissionais não sabem ao certo os verdadeiros motivos que levam as mulheres gestantes a consumir substâncias ilícitas na gestação, pois, às vezes, estas omitem essas informações da equipe. Ainda, há outros fatores que interferem, tais como dificuldade no acesso aos serviços, assistência pré-natal insuficiente e baixo nível socioeconômico [11].

Estudo aponta que há relação entre o uso de substâncias psicoativas e as relações familiares. A gravidez na adolescência representa um dos agravantes resultantes desta relação. Nesse sentido, necessita de um olhar atento por parte dos profissionais voltados ao contexto familiar [15].

A família está diretamente relacionada ao desenvolvimento saudável de seus membros, já que ela exerce uma influência bastante significativa em relação ao uso ou não de substâncias psicoativas. É fundamental a presença dos pais na vida dos adolescentes, interessando-se pelo seu cotidiano e problemas, pois eles necessitam saber que os pais estão presentes, tendo, assim, um grupo familiar disposto a resolver os conflitos que surgirem [16].

Ainda, a família possui um papel importante no sentido de proteção à criança e ao adolescente mesmo antes deles terem algum contato com as drogas. O diálogo é essencial para gerar um ambiente agradável e harmonioso, contribuindo assim para o cuidado e o conhecimento sobre os efeitos das drogas na vida de quem as utiliza [16].

Estudo evidencia que carência afetiva, falta de estrutura familiar, ansiedade, transtornos psiquiátricos e histórico de depressão são considerados fatores determinantes para o envolvimento das pessoas com as substâncias ilícitas. Entretanto, a ingestão de bebidas alcoólicas se mostrou predominante em gestantes com mais idade, com baixa escolaridade, tabagistas e sem nenhum tipo de apoio social [4].

Frente ao exposto, torna-se essencial que a equipe de saúde, com ênfase nos enfermeiros, durante o pré-natal, atente para as condições de vida da gestante e não apenas no desenvolvimento gestacional. Assim, facilita a identificação de fatores de risco que poderão levar a gestante a procurar pelas drogas, além de trabalhar o processo de prevenção e intervenção nesse contexto.

 

Possibilidades para o cuidado das gestantes

 

Esta categoria refere-se à importância dos profissionais em realizar e acompanhar o pré-natal em gestantes usuárias de substâncias psicoativas, ressaltando a necessidade de realizar atividades que estimulem o autocuidado. Ressalta-se que as orientações em grupos de gestantes sobre o risco do uso de substâncias e suas consequências durante a gestação são bastante importantes nesse período.

Estudo aborda a necessidade de qualificação do cuidado que deve emergir a partir da qualificação dos profissionais que atendem essas pacientes [14]. Os profissionais de saúde precisam estar atentos quanto às condições de vida da gestante, além de suas questões familiares [4]. Foi identificada a precisão de elaborar formas de estimular a aceitação da desintoxicação química, além de realizar práticas de autocuidado com as mulheres gestantes [1].

Estudo mostrou que as atividades desenvolvidas com as gestantes foram satisfatórias para o autocuidado das mesmas diante de suas realidades [1]. Ressalta-se a necessidade de sensibilizar os profissionais sobre a importância de acolher, orientar e apoiar as gestantes usuárias de substâncias, a fim de reverter em uma assistência pré-natal de qualidade [8].

É essencial destacar que quando os profissionais prestam assistência a uma gestante usuária, a conduta inicial é verificar a possibilidade de a situação ser tratada na unidade ou requer hospitalização da paciente. Entretanto, há alguns aspectos que deverão nortear os profissionais para a escolha, tais como a intensidade dos sintomas, nível de aceitação e realidade da paciente [11].

Os enfermeiros são fundamentais no processo de transformação social, através de planejamento de programas e desenvolvimento de projetos com foco em promoção da saúde, integrando a prevenção do uso de drogas e reabilitação. Além disso, é imprescindível o trabalho em rede estabelecida pelos profissionais e unidades de saúde, pois fortalecem o cuidado e a assistência com as gestantes usuárias de substâncias e seus familiares [13].

Quanto às ações de prevenção, devem ser planejadas e desenvolvidas para as comunidades que estão expostas ao risco, que tenham problemas devido ao uso de drogas. Dessa forma, os profissionais devem construir estratégias que auxiliem na prevenção, promoção e tratamento dos agravos que as drogas causam não somente no ambiente familiar, mas em toda a comunidade [12].

É necessária ainda a elaboração de políticas públicas mais específicas e direcionadas à gestante, com enfoque na prevenção e tratamento do uso de drogas. Essas estratégias facilitam a assistência e permitem reduzir consideravelmente os efeitos e as consequências causadas pelas drogas na mãe e no bebê [17]. Por fim, destaca-se que o cuidado com as gestantes usuárias de substâncias é delicado, pois exige preparo e dedicação dos profissionais da saúde, os quais precisam estar cientes da realidade e condições de vida de cada usuária.

 

Conclusão

 

Ao buscar e analisar a produção na literatura científica sobre o uso de substâncias psicoativas, durante a gestação, constatou-se que há dificuldade no cuidado às gestantes e a presença de fatores de risco ao uso de substâncias psicoativas. Mas, tem-se a possibilidade de cuidado das gestantes. Para isso, verificou-se a necessidade dos enfermeiros em aprofundar os conhecimentos relacionados ao uso de substâncias em mulheres gestantes, visto a necessidade de um acompanhamento adequado durante o período da gestação.

Ficou evidente que o uso de substâncias em mulheres gestantes acarreta inúmeros malefícios em sua saúde, envolvendo ameaça de aborto, descolamento de placenta, depressão, partos prematuros, modificação na produção do leite materno e distúrbios do sono. Além disso, para o recém-nascido os danos são devastadores, incluindo malformações congênitas, sintomas psiquiátricos, irritabilidade, baixo peso e dificuldades comportamentais.

O estudo traz à tona a importância de o enfermeiro estar sempre atualizado, proporcionando uma assistência efetiva e de qualidade na atenção básica, contribuindo assim para a saúde da gestante e do bebê. Outro fator a ser considerado é sobre a necessidade de o enfermeiro reconhecer e identificar os fatores de risco, encaminhando a gestante a serviços especializados a fim de prezar pela integridade da saúde de ambos.

Após a realização deste estudo, concluiu-se que o mesmo é importante, pois traz uma oportunidade de reflexão sobre um assunto debatido no âmbito da enfermagem, sendo o mesmo considerado um problema de saúde pública. Tal reflexão visa uma consolidação de aprendizagem do enfermeiro e uma mudança de condutas na assistência prestada às gestantes usuárias, contribuindo significativamente para uma ressignificação do ato do cuidar em um dos momentos mais importantes na vida dessas mulheres.

Como limitação do estudo pode-se citar o fato de ter sido utilizado nas estratégias de busca somente os descritores para recuperar as produções nas bases de dados, pois se observou certo descompasso entre estes termos e as palavras-chave utilizadas nos artigos selecionados, o que pode ter contribuído para que algumas produções não fossem acessadas.

 

Referências

 

  1. Nicolli T, Gehlen MH, Ilha S, Diaz CMG, Machado KFC, Nietsche EA. Self care theory in pregnant women during chemical detoxification from crack: nursing’s contributions. Esc Anna Nery 2015;19(3):417-23. https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150055
  2. Silva MRC, Vieira BDG, Alves VH, Rodrigues DP, Vargas GS, Sá AMP. A percepção de gestantes de alto risco acerca do processo de hospitalização. Rev Enferm UERJ 2013;21(esp.2):792-7.
  3. Piccinini CA, Gomes AG, Nardi TD, Lopes RS. Gestação e a Constituição da Maternidade. Psicol Estud 2008;13(1):63-72. https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000100008
  4. Rodrigues P, Zerbetto S, Ciccilini M. The perceptions of nursing staff regarding the risk factors of drug use for pregnant women. SMAD 2015;11(3):153-60. https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v11i3p153-60
  5. Portela G, Barros L, Frota N, Landim A, Caetano J, Farias F. Perception of pregnant on consumption of illicit drugs in pregnancy. SMAD 2013;9(2):58-3. https://doi.org/10.11606/issn.1806-6976.v9i2p58-63
  6. Lima LPM, Santos AAPS, Póvoas FTX, Silva FCL. O papel do enfermeiro durante a consulta de pré-natal à gestante usuária de drogas. Espaç Saúde 2015;3(16):39-46.
  7. Brasil. Ministério da Saúde. Pesquisa Nacional sobre o uso de crack: quem são os usuários de crack e/ou similares do Brasil? Quantos são nas capitais brasileiras? Bastos FI, Bertoni N, eds. Rio de Janeiro: ICICT/Fiocruz; 2014. 224p.
  8. Kassada DS, Marcon SS, Pagliarini MA, Rossi RM. Prevalence of drug abuse among pregnant women. Acta Paul Enferm 2013;26(5):467-71. https://doi.org/10.1590/S0103-21002013000500010
  9. Sallum AMC, Garcia DM, Sanches M. Acute and chronic pain: a narrative review of the literature. Acta Paul Enferm 2012;25(Special Issue 1):150-4. https://doi.org/10.1590/S0103-21002012000800023
  10. Brasil. Lei 10.216, de 06 de abril de 2001: dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Diário Oficial da União.
  11. Botelho APM, Rocha RC, Melo VH. Uso e dependência de cocaína/crack na gestação, parto e puerpério. Femina 2013;41(1).23-32.
  12. Maia JÁ, Pereira LA, Menezes FA. Consequências do uso de drogas durante a gestação. Revista Enfermagem Contemporânea 2015;4(2):121-8.
  13. Wronski JL, Pavelski T, Guimarães NA, Zanotelli SS, Schneider JF, Bonilha ALL. Uso do crack na gestação: vivências de mulheres usuárias. Rev Enferm UFPE on line 2016; 10(4):1231-9. https://doi.org/10.5205/reuol.8464-74011-1-SM.1004201609
  14. Aquino GS, Pivatto LF, Silva DI, Veríssimo DLO. Necessidades em saúde de puérperas dependentes químicas na perspectiva dos profissionais de Enfermagem. Rev Fun Care Online 2018;10(4):1050-6. 
  15. Faler CS, Câmara SG, Aert DRGC, Alves GG, Béria JU. Family psychosocial characteristics, tobacco, alcohol, and other drug use, and teenage pregnancy. Cad Saúde Pública 2013;29(8):1654-63. https://doi.org/10.1590/0102-311X00107812
  16. Freires IA, Gomes EMA. O papel da família na prevenção ao uso de substâncias psicoativas. Rev Bras Ciênc Saúde 2012;16(1):99-104.
  17. Coutinho T, Coutinho CM, Coutinho LM. Assistência pré-natal às usuárias de drogas ilícitas. Femina 2014;42(1):11-8.