REVISÃO

Significados para puérperas soropositivas diante da impossibilidade de amamentar

 

Fabiana Nascimento Silva*, Lorena Doria Raton*, Flavia Pimentel Miranda, M.Sc.**

 

*Graduada do curso de Enfermagem da Universidade Salvador (UNIFACS) - Laureate International Universities, Salvador/BA, **Enfermeira, Professora Assistente da Universidade Salvador (UNIFACS) - Laureate International Universities, Salvador/BA

 

Recebido em 18 de outubro de 2017; aceito em 31 de maio de 2018.

Endereço para correspondência: Flavia Pimentel Miranda, Rua Emilio Odebrecht, 79/402, Ed. Praia Rasa 41830-300 Salvador BA, E-mail: flaviabrim@hotmail.com; Fabiana Nascimento Silva: nfabiana4@gmail.com; Lorena Doria Raton: loredoria@gmail.com

Resumo

Objetivo: O objetivo deste estudo foi identificar os significados para mulheres soropositivas diante da impossibilidade da lactação. Métodos: Esta revisão foi conduzida com base na metodologia PRISMA (Reporting Items for Systematic Reviews), sendo utilizada as bases de dados Scielo, Medline e Lilacs, a partir da busca de descritores no Decs (Descritores em Ciências da Saúdes): “HIV”; “amamentação”; “saúde da mulher”; e “sentimentos”; e no Mesh (Medical Subject Headings): “HIV”; “breast feeding”; “women’s health”; e “emotions”. Não houve restrições quanto ao ano de publicação. Os critérios de inclusão foram: estudos originais que contemplassem a temática, disponíveis on-line, na íntegra, no idioma português. Foram excluídos artigos repetidos na base de dados, resultando em 11 estudos. Resultados: Foram identificados 397 estudos, dos quais 11 foram selecionados. Na análise dos artigos surgiram 03 grandes categorias: sentimentos diante da impossibilidade de amamentação, como: dor, impotência, tristeza, medo e frustração; o desejo de amamentar, sendo representado pelo relato de dificuldade em presenciar outras mulheres amamentando; e a aceitação da impossibilidade de amamentar, representada pelo relato de conhecimento sobre os riscos que envolvem a prática e consequente transmissão. Conclusão: Foi possível identificar, de forma mais ampla, as situações e sentimentos vivenciados por puérperas soropositivas, bem como, os diversos conflitos de dimensão afetiva que envolve a restrição da amamentação e dificuldades provenientes da sua condição, desencadeando de forma geral, sentimentos tais como: dor, impotência, tristeza, medo e frustração.

Palavras-chave: HIV, aleitamento materno, período pós-parto, saúde da mulher, emoções.

 

Abstract

Meanings for new mothers with HIV on the impossibility of breastfeeding

Objective: Conduct a qualitative systematic literature review on the meanings for HIV positive women given the impossibility of lactation. Methods: This review was conducted based on the PRISM methodology (Reporting Items for Systematic Reviews), using the Scielo, Medline and Lilacs databases, and the following descriptors on Decs (Health Sciences Descriptors): "HIV"; "breastfeeding"; "Women's health"; and "feelings"; and Mesh (Medical Subject Headings):"HIV"; "Breastfeeding"; "Women's health"; and "emotions". There were no restrictions on the publication year. Inclusion criteria were: original studies that addressed the subject, available online, in full, in Portuguese. Repeated items in the database were excluded, resulting in 11 studies. Results: 397 studies were identified, of which 11 were selected. In the analysis of 03 articles appeared three categories: feelings related to the impossibility of breastfeeding such as pain, helplessness, sadness, fear and frustration; the desire to breastfeed, represented by reporting difficulty  to observe other women breastfeeding; and acceptance of the impossibility of breastfeeding, represented by the account of knowledge about the risks involved the practice and subsequent transmission. Conclusion: It was possible to identify more broadly the situations and feelings experienced by HIV-infected mothers, as well as the various conflicts of affective dimension that involves the restriction of breastfeeding and difficulties resulting from their condition, triggering in general, feelings such as pain, helplessness, sadness, fear and frustration.

Key-words: HIV, breast feeding, postpartum period, women's health, emotions.

 

Resumen

Significados para puérpera con el VIH ante la imposibilidad de la lactancia materna

Objetivo: El objetivo de este estudio fue identificar los significados para mujeres seropositivas ante la imposibilidad de la lactancia. Métodos: Esta revisión ha sido conducida con base en  metodología PRISMA (Reporting Items for Systematic Reviews), que utilizó las bases de datos  Scielo, Medline y Lilacs, a partir de la búsqueda de los descriptores en el Decs (Descriptores en Ciencias de la Salud): "VIH"; "amamantar"; "salud de la mujer”, “sentimientos"; y en el Mesh (Medical Subject Headings): "VIH"; "breastfeeding"; "women's health"; y “emociones”. No hubo restricciones en cuanto al año de publicación. Los criterios de inclusión fueron: estudios originales que abordasen el tema, disponibles en línea, en su totalidad, en portugués. Se excluyeron artículos repetidos en la base de datos, resultando en 11 estudios. Resultados: Se identificaron 397 estudios, de los cuales 11 fueron seleccionados. En el análisis de los artículos surgieron tres grandes categorías: sentimientos ante la imposibilidad de amamantar, como: dolor, impotencia, tristeza, miedo y frustración; el deseo de amamantar, siendo representado por el relato de dificultad en presenciar otras mujeres amamantando; y la aceptación de la imposibilidad de amamantar, representada por el relato de conocimiento sobre los riesgos que implican la práctica y consecuente transmisión. Conclusión: Fue posible identificar, de forma más amplia, las situaciones y sentimientos vivenciados por puérperas seropositivas, así como los diversos conflictos de dimensión afectiva que envuelven la restricción de la lactancia y dificultades provenientes de su condición, desencadenando de forma general, sentimientos tales como: dolor, impotencia, tristeza, miedo y frustración.

Palabras-clave: VIH, lactancia materna, período postparto, salud de la mujer, emociones.

 

Introdução

 

A gestação e os eventos a ela relacionados, como puerpério e lactação, são marcados por profundas mudanças que interferem na vida da mulher. As mais reconhecidas são as modificações relacionadas ao corpo, sua fisiologia e metabolismo [1].

O aleitamento materno é a mais sábia estratégia natural de vínculo, afeto, proteção e nutrição para a criança e constitui a mais sensível, econômica e eficaz intervenção para redução da morbimortalidade infantil. Permite, ainda, um grandioso impacto na promoção da saúde integral da dupla mãe/bebê e regozijo de toda a sociedade [2].

Apesar de todas as vantagens descritas sobre a superioridade inigualável do aleitamento materno, e do incentivo dado à sua adoção, sua prática para recém-nascidos de filhos de mães com algumas doenças tem sido desaconselhada. O vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus), por exemplo, pode ser transmitido durante a amamentação, motivo pelo qual é orientada a suspensão desta prática [2].

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) é a manifestação clínica avançada, decorrente de um quadro de imunodeficiência causado pelo vírus HIV, transmitido pelas vias sexual, parenteral ou vertical [3]. Desde o início da epidemia, em 1980 até junho de 2012, o Brasil registrou 656.701 casos de SIDA [4]. De 2015 a 2016, foram notificados 3.515 casos da doença, distribuídos em todo país [5].

A taxa de transmissão vertical do HIV durante a gravidez, sem qualquer tratamento, chega a 20% [6]. Todavia, em situações que a grávida segue o tratamento médico, a possibilidade de infecção do bebê reduz para níveis menores que 1%, incluindo recomendações referentes à suspensão da lactação [6].

Apesar da razão científica para não amamentarem, as mães HIV positivas vivenciam conflitos interiores. A amamentação é vista por grande parte das mulheres como um ato prazeroso, pois através do contato pele a pele estimula o estabelecimento do vínculo mãe-bebê [7].

Isto posto, questiona-se: Quais os significados para mulheres soropositivas diante da impossibilidade de amamentar, disponíveis na literatura científica?

Neste contexto, esse estudo torna-se relevante em virtude da necessidade de se conhecer sobre os significados que envolvem o processo de não amamentar para essas mães, compreendendo, assim, questões posteriores relacionadas a essa limitação. Ante o exposto, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sistemática da literatura sobre os significados para mulheres soropositivas diante da impossibilidade da lactação.

 

Material e métodos

 

Trata-se de uma revisão sistemática, com abordagem qualitativa, conduzida conforme a metodologia PRISMA (Reporting Items for Systematic Reviews). A pesquisa foi feita entre agosto de 2016 e julho de 2017, a partir das bases de dados Scielo (Scientific Electronic Library Online), Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online) e Lilacs (Literatura Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde), sendo utilizados os descritores do Decs (Descritores em Ciências da Saúdes): “HIV”; “amamentação”; “saúde da mulher”; e “sentimentos”; e do MeSH (Medical Subject Headings): “HIV”; “breast feeding”; “women’s health”; e “emotions”. Não houve restrições quanto ao ano de publicação.

Os critérios de inclusão foram: estudos que contemplassem a temática, encontrados nas bases de dados com a ocorrência simultânea dos termos de busca, mediante uso de indicadores booleanos “and” e “and not”, pesquisas originais, disponíveis on-line, na íntegra, no idioma português. Foram excluídos artigos repetidos na base de dados e foram lidos todos os resumos resultantes, totalizando 11 estudos. Nos casos em que a leitura do resumo não era suficiente para estabelecer se o artigo deveria ser incluído, considerando-se os critérios de inclusão definidos, o artigo foi lido na íntegra para determinar sua aptidão. Quando o resumo era suficiente, os artigos eram selecionados e obtida a versão integral, para confirmação de sua inclusão no estudo.

A primeira pesquisa foi realizada em 01 de agosto de 2016 e a última em 11 de julho de 2017. Para extração dos dados dos artigos, elaborou-se um instrumento contendo as seguintes informações: autoria, título, ano de publicação, local, metodologia e principais resultados. A análise dos estudos encontrados foi feita de forma descritiva e realizada em duas etapas: a primeira incluiu autoria, título, ano, local, metodologia e principais resultados; a segunda compreendeu a análise do desfecho, que resultou em três categorias temáticas: Sentimentos diante da impossibilidade de amamentação; O desejo de amamentar; e Aceitação da condição.

 

Resultados

 

A busca dos artigos nas bases de dados identificou 397 artigos elegíveis. Destes, 358 foram excluídos, sendo 50 em virtude da duplicidade nas bases de dados e 308 após a análise dos títulos e resumos. Após a leitura na íntegra, outros 27 estudos foram excluídos, resultando na seleção final de 11 artigos, conforme demonstrado na Figura 1.

 

 

Figura 1 - Representação gráfica da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão da revisão sistemática.

 

A Tabela I caracteriza os artigos de acordo com autoria, título, ano, local, metodologia e principais resultados. Em relação ao período, houve maior número de estudos publicados nos anos de 2008 e 2010, sendo a publicação mais antiga em 2004 e a mais recente em 2015. Quanto aos locais de publicação, percebeu-se a concentração dos estudos em grandes centros urbanos, como: Fortaleza/CE (n = 3), Rio de Janeiro/RJ (n = 2), Porto Alegre/RS (n = 1), Recife/PE (n = 1), São Paulo/SP (n = 1).  Quanto às participantes, todas eram gestantes ou puérperas soropositivas, casadas e com baixo nível de escolaridade.

 

Tabela ICaracterísticas dos artigos científicos da revisão sistemática.

 

 

Para melhor apresentação dos resultados, optou-se por dividi-los conforme categorização temática. Os eixos temáticos derivaram da leitura dos 11 artigos analisados, sendo: 1) Sentimentos Diante da Impossibilidade de Amamentação; 2) O Desejo de Amamentar; (3) Aceitação da Impossibilidade de Amamentar.

 

Sentimentos diante da impossibilidade de amamentação

 

De forma geral, foi evidenciado nos artigos que, para as mães soropositivas, a impossibilidade de amamentar é vista como uma condição que promove diversos sentimentos. Em alguns artigos [8,9,11,16,17], as mães relataram tristeza e sofrimento diante desta impossibilidade, pois não foi uma escolha, e sim uma privação, como ilustrado nos estudos de Moreno et al.[8] e Paiva & Galvão [9]:

 

“Senti como se eu não prestasse. Se meu corpo não pode oferecer pra ela nada de bom, então ele não presta. Me senti uma pessoa inútil” [8].

 

“[...] sem poder amamentar a gente fica com aquele sentimento desagradável” [9].

 

“[...] você não pode amamentar [...] como mulher você se sente a pior coisa do mundo” [9].

 

A amamentação era um sonho para as mães e algumas relataram que choravam muito, viam que seu bebê sentia o cheiro do peito e queria. A tristeza era relatada em virtude de saber que seus filhos nunca mais vivenciarão a amamentação, e que os filhos que virão não saberão o que é mamar no peito [10].

Algumas puérperas expuseram o constrangimento vivenciado por terem que mentir, devido às indagações de não estarem amamentando, visto que, em muitos casos, a família, os amigos e até os companheiros não sabiam o real motivo da impossibilidade da lactação. As mulheres relataram, ainda, o medo do julgamento, do preconceito [15,18], de serem abandonadas pelos seus parceiros e até mesmo excluídas por seus familiares [11], conforme mostram os estudos de Morena et al. [8] e Spindola et al. [12]:

 

“As pessoas perguntam: por que você não está dando o peito? E eu me sinto constrangida em ter que mentir. Hoje em dia estou acostumada, mas é ruim quando as pessoas perguntam por que não estou amamentando e a gente tem de inventar desculpas” [8].

 

“[...] Sinto-me desconfortável para dizer, a sociedade não aceita, é a única coisa que me incomoda (não ser capaz de amamentar) [...]” [12].

 

O desejo de amamentar

 

Foram encontrados relatos de mães que manifestaram o desejo de amamentar, pois sabiam da importância nutricional do leite materno e tinham medo do neonato não ganhar peso [9,13-15,17]. Referiam também que era muito difícil presenciar outras mães amamentando, uma vez que era um sonho poder acalentar o filho no momento do choro [13].

 

“Acho assim: mãe, para ser mãe, quando a gente amamenta, a gente se sente mais mãe, no caso como eu não vou poder” [13].

 

“Meu último filho mamou 3 anos, tem 6 anos hoje. Com 3 anos, ele parou de mamar, aí é triste, não é? [...] Porque, na hora da amamentação, a gente transmite muito amor, muito afeto, não é? Isso eu não vou passar para esse, mas é assim mesmo” [13].           

 

Há também relatos de sentimentos de inveja [14-15], representados conforme nos estudos de Batista & Silva [14] e Gonçalves et al. [15]:

 

Me dava vontade de amamentar o meu, eu ficava com vontade, ficava achando que podia (pausa) aí só ficava olhando elas amamentarem, ficava só na inveja, né? A gente tem inveja realmente” [14].

 

“Eu olho pra ele e me sinto triste. Vejo as outras crianças mamando no seio da mãe e fico assim... Mas, se é pra saúde dele, me conformo[...]” [15].

 

Aceitação da impossibilidade de amamentar

 

Mesmo sendo doloroso e triste para a maioria das mães que relataram suas experiências nos estudos, observou-se que, após o impacto de descobrir sobre a condição sorológica e consequente privação do aleitamento, parte delas relataram ter aceitado esta condição e viram que a supressão da lactação também é um ato de amor, pois evita a transmissão para o bebê [9,14].

De forma geral, as mulheres aceitam não ofertar o leite materno, em virtude de saberem do risco que esta prática envolve, transmitindo a doença para o seu filho [9,12], como demonstrado nos estudos de Paiva & Galvão [9] e Spindola et al. [12]:

 

“Eu aceitei normalmente não amamentar porque a gente sabe que vai passar para o bebê [...] eu vou ficar firme, com certeza, em não amamentar” [9].

“[...] eu já sabia que eu era soropositiva e já sabia que não podia amamentar. No início eu estava um pouco agitada sobre isso, mas então eu pensei que se eu amamentasse meu filho, ele seria mais afetado. Eu alimentaria meu ego, mas prejudicaria sua saúde [...]” [12].

 

Discussão

 

O objetivo deste estudo foi identificar os significados para mulheres soropositivas diante da impossibilidade da lactação. A partir da análise dos artigos encontrados, observaram-se diversos relatos que expressaram múltiplos sentimentos.

Embora o período de coleta dos dados tenha sido curto, o estudo de Paiva & Galvão [9] constatou que, para as mulheres soropositivas, a recomendação de não amamentar, confronta com o seu desejo, visto que, essa condição as impossibilita de exercerem o seu papel materno, de forma completa. Neste sentido, diante desta recomendação e da decisão de não amamentar, geram-se vários conflitos de dimensão afetiva, que envolvem a amamentação e as dificuldades provenientes da sua condição, desencadeando sentimentos de dor, impotência, tristeza, medo e frustração [12,13,16].

Apesar do tamanho amostral proposto pelo estudo de Rigoni et al. [17], os resultados demonstraram que algumas mães não vivenciam esses sentimentos, pois, para elas, a amamentação é vista como uma tarefa do cotidiano. Esse achado é reforçado pelos relatos encontrados em outros estudos [10,11,17], em virtude da conscientização materna do processo de transmissão da doença através da prática, aceitando a impossibilidade de amamentar e a introdução de fórmulas artificiais com maior tranquilidade.

Observou-se outro grande problema enfrentado por essas mulheres, que é a cobrança social pelo fato de não amamentarem. Dessa forma, elas vivenciam situações constrangedoras, em razão dos vários questionamentos acerca do porquê de não amamentarem. Como estratégia, elas criam diversas desculpas e justificativas, com o objetivo de omitir o real motivo, devido ao medo de perder amigos e familiares, tornando este momento penoso e desgastante [9,11,15,18].

No estudo de Batista & Silva [14], das 12 mulheres entrevistadas, nove tinham apenas o ensino fundamental, fato que poderia ter interferido nos resultados da pesquisa, devido à falta de conhecimento sobre o tema. Apesar disso, notou-se que, quando a mãe protege o filho da doença, ela consequentemente protege a si mesma, de forma a ter uma chance de ser perdoada e aceita pela sociedade. Entretanto, para algumas mães, o instinto materno é mais forte, fazendo com que o desejo de amamentar supere o medo do risco da transmissão vertical.

Somada às dificuldades enfrentadas, as mães demonstraram, ainda, o desejo de amamentar, ao presenciarem outras mães exercendo esta prática [14]. Esse desejo pode estar relacionado à permanência das mulheres no alojamento conjunto, que tem em seu escopo o apoio e estímulo ao aleitamento materno. Dessa forma, a vivência da impossibilidade da prática representa uma experiência muito dolorosa.

Elas também relatam preocupações a respeito da formação de vínculo com a criança e da ausência da transferência dos benefícios da lactação para o bebê [9]. Paiva & Galvão [9] destacam, ainda, a questão financeira como fator dificultador para privação da prática, representado pela necessidade da compra do leite artificial para alimentação da criança. Entretanto, esses relatos podem estar relacionados ao perfil de participantes do estudo, realizado em um hospital público de referência do estado.

Apesar de algumas mulheres referirem sentimentos penosos em relação à restrição da lactação, outras conseguem encarar essa contraindicação como um ato de amor, em virtude da prevenção da transmissão vertical [15,17]. Esses sentimentos provavelmente foram gerados em virtude de os locais dos estudos congregarem pacientes mais conscientes do seu processo de doença e transmissibilidade, visto que se tratava de um ambulatório de referência para pacientes com HIV e dois ambulatórios de infectologia, tendenciando as respostas das participantes.

 

Conclusão

 

O estudo permitiu compreender, de forma mais ampla, as situações e sentimentos vivenciados por puérperas soropositivas, diante da impossibilidade da lactação, pois as mesmas enfrentam vários dilemas e conflitos.

Mesmo tendo o desejo e o sonho de amamentar, elas entendem que a privação da lactação, mesmo causando sentimentos como dor, impotência, tristeza, medo e frustração, é necessária para proteger o bebê contra a transmissão vertical, e representa um ato de amor.

A partir dos estudos analisados, foram levantadas informações importantes, relacionadas ao significado da impossibilidade de lactação para puérperas com HIV/AIDS. As principais limitações deste estudo foram a escassez de artigos originais sobre a temática, restringindo o desenvolvimento de uma pesquisa mais complexa, e o viés de informação decorrente da qualidade e coleta das informações dos estudos. Dessa forma, sugere-se o desenvolvimento de estudos com outros desenhos metodológicos, que possam descrever e compreender os significados da impossibilidade de amamentar para essas mulheres.

 

Referências

 

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