ARTIGO
ORIGINAL
Perfil
epidemiológico e social de mulheres internadas em um hospital universitário de
Minas Gerais
Fernanda Canela
Prates*, Simone Guimarães Teixeira Souto, M.Sc.*, Ana
Paula Ferreira Holzmann, M.Sc.**, Maria da Salette Mendonça***
*Enfermeira,
Especialista na modalidade Residência em Saúde da Mulher pela UNIMONTES,
Docente do curso técnico em enfermagem do Colégio Indyu, **Enfermeira, Docente
do departamento de enfermagem da Unimontes, ***Enfermeira efetiva do Hospital
Universitário Clemente de Faria
Recebido em 16 de
março de 2015; aceito em 12 de junho de 2015.
Endereço
para correspondência:
Fernanda Canela Prates, Rua Antenor Leite, 12A, Vila Guilhermina, 39400-491
Montes Claros MG, E-mail: fernanda_canela@hotmail.com, Simone Guimarães
Teixeira Souto: simonegts28@yahoo.com.br, Ana Paula Ferreira
Holzmann: apaulah@uol.com.br, Maria da Salette Mendonça: mariadasalettem@yahoo.com.br
Resumo
A morbidade
hospitalar na população feminina em Minas Gerais foi de 22.616 e em Montes
Claros, 902, conforme o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde –
DATASUS do ano 2012. Este estudo objetivou conhecer o perfil epidemiológico e
social das mulheres atendidas e internadas em um hospital universitário.
Trata-se de uma pesquisa quantitativa de abordagem descritiva com objetivo
exploratório. A análise dos dados foi construída pelo programa Microsoft Office
Excel 2007. A pesquisa foi realizada no Hospital Universitário Clemente de
Faria em Montes Claros/MG com 30 prontuários de mulheres internadas na clínica
médica. Pode-se concluir que a maioria das mulheres eram adultas e solteiras; a
principal patologia encontrada foi a pneumonia, embora
houvesse maior ocorrência das doenças do sistema gastrintestinal; e a
comorbidade mais apresentada foi a hipertensão arterial. Os achados podem
contribuir para o aperfeiçoamento do cuidado e melhoria na qualidade de
atendimento específico.
Palavras-chave: morbidade, saúde da
mulher, hospitalização, epidemiologia.
Abstract
Epidemiological and social profile of women admitted to university
hospital in Minas Gerais
The hospital morbidity in the female population in the state of Minas Gerais was 22,616 and in Montes Claros, 902, according to
the Informatics Department of Brazilian Public Health System - DATASUS for the
year 2012. This study investigated the epidemiological and social profile of
women hospitalized in a university hospital. It is a descriptive study with
quantitative approach and exploratory aim. Data was analyzed using Microsoft
Office Excel 2007. The research was performed at the University Hospital
Clement Faria in Montes Claros/MG with 30 medical
records of women hospitalized in a medical center. It can be concluded that
many of the women were adults and unmarried; pneumonia was the most common
pathology, with an higher incidence of
gastrointestinal diseases; and hypertension was the most common comorbidity.
The findings can contribute to the improvement of care and improving the
quality of care.
Key-words: morbidity,
women's health, hospitalization, epidemiology.
Resumen
Perfil epidemiológico y social de mujeres
ingresadas en un hospital universitario en Minas Gerais
La morbilidad
hospitalaria en la población femenina en Minas Gerais
se situó en 22.616 y en Montes Claros, 902, según el Departamento de
Informática del Sistema Único de Salud - DATASUS/2012. Este estudio tuvo como
objetivo conocer el perfil epidemiológico y social de
mujeres tratadas e ingresadas en un hospital universitario. Se
trata de una investigación cuantitativa de enfoque descriptivo con
objetivo exploratorio. El análisis de datos fue construido por el programa Microsoft Office Excel 2007. La investigación se
llevó a cabo en el Hospital Universitario Clemente de
Faria en Montes Claros/MG con 30 registros de mujeres ingresadas en la clínica
médica. Se puede concluir que la mayoría de las
mujeres eran adultas y solteras; la principal patología encontrada fue la
neumonía, aunque las enfermedades del sistema gastrointestinal aparecieron en
mayor cantidad; y la comorbilidad principal fue la hipertensión arterial. Los
hallazgos pueden contribuir a la mejora de los
cuidados y de la calidad de la atención especializada.
Palabras-clave: morbilidad, salud
de la mujer, hospitalización, epidemiología.
O Censo Demográfico
de 2010 apresentou uma população de 190.755.799 habitantes no Brasil. Deste
total, 51% são mulheres e 49% são homens, o número de mulheres supera em
3.941.819. A região Sudeste é a que possui o maior número de mulheres [1].
Minas Gerais é o
segundo estado mais populoso do país, com o total de 19.597.330 pessoas, das
quais 9.955.452 são mulheres. No município de Montes Claros residem 361.915
habitantes, destes, 185.052 são mulheres [1]. Conforme o Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS 2012, a morbidade hospitalar na
população feminina em Minas Gerais é de 22.616 e em Montes Claros, 902 [2].
A morbidade da
população permite avaliar os riscos de adoecer à que as pessoas estão submetidas, orientam investigações sobre os determinantes
das doenças e apontam para intervenções necessárias. Uma grande vantagem da
medida de morbidade é sua sensibilidade as mudanças a curto
prazo [3].
Para bem receber a
população nos estabelecimentos de saúde, o Ministério da Saúde atualmente tem
buscado padronizar o processo de acolhimento, com classificação de risco por
meio da adoção de medidas que uniformizem esse processo em todo o território
nacional. Após a classificação de risco e avaliação médica, é definida a
conduta e destino do usuário: alta externa (domicílio/referência) ou interna
(observação/internação) [4].
Existindo uma
padronização no acolhimento e direcionamento do usuário, a efetividade dos
motivos de hospitalizações viabiliza as internações com acurácia. Este estudo
justifica-se com base na escassez de publicações relativa à morbidade das
mulheres. Entende-se que os resultados desta pesquisa contribuirão para
conhecer os principais motivos que levam as mulheres a procurar assistência
hospitalar, consequentemente lança-se o desafio da qualificação de
profissionais para este público.
Sabendo que as causas
de internação hospitalar sofrem variações intensas de acordo com o perfil
epidemiológico da população estudada [5], o objetivo geral deste estudo foi
conhecer o perfil epidemiológico e social das mulheres atendidas e internadas
em um hospital universitário. Deste, elaborou-se os seguintes objetivos
específicos: identificar os Códigos Internacionais das Doenças (CID) dos
atendimentos, analisar as principais causas de internações hospitalares de
mulheres e investigar a existência de comorbidades, associando às doenças
prevalentes nas mulheres.
Trata-se de uma
pesquisa quantitativa de abordagem descritiva com objetivo exploratório.
Procedeu-se tecnicamente de maneira documental transversal.
A pesquisa descritiva
tem o objetivo de descrever fatos de uma determinada realidade [6]; no caso
deste estudo, é a situação de saúde das mulheres atendidas e internadas no
hospital referido, acrescida pela pesquisa exploratória que visa a uma primeira
aproximação do pesquisador com o tema, para torná-lo mais familiarizado com os
fatos e fenômenos relacionados ao problema a ser estudado [7].
Quanto ao
procedimento técnico, é uma pesquisa documental por ter o levantamento de dados
como base. Por fim, será desenvolvida de maneira transversal, ou seja, a
pesquisa realiza-se em um curto período de tempo, em um determinado momento
[7].
Espaço
de investigação
A pesquisa foi
realizada em um hospital de Montes Claros, no norte de Minas Gerais. É um
hospital eminentemente público que dedica 100% dos seus leitos ao Sistema Único
de Saúde (SUS). Possui 171 leitos hospitalares e 10 leitos de internação
domiciliar. Sua abrangência vai desde o Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e
Mucuri, Noroeste de Minas até o Sul da Bahia.
A amostra do estudo
constituiu-se de prontuários das mulheres que procuraram assistência à saúde no
pronto socorro do hospital e foram internadas na clínica médica, sendo
excluídos da amostra aqueles que tinham queixa gineco-obstétrica, crianças e
adolescentes.
Levantamento
e análise de dados
A identificação de
fontes para a coleta de dados é o primeiro passo para que se inicie o
desenvolvimento da pesquisa sobre o objeto estudado [8].
Visando alcançar o
objetivo da pesquisa utilizou-se como instrumento um formulário estruturado.
A utilização da
pesquisa documental deu-se através dos prontuários clínicos de internação, para
obtenção de dados referentes aos sujeitos em estudo, sendo transcritas para um
formulário estruturado.
Etapas
da pesquisa
O primeiro
procedimento para obtenção de dados foi a consulta nos
prontuários clínicos da clínica médica, analisados diariamente por um período
de trinta dias, a fim de perceber as variáveis existentes no decorrer do mês.
A coleta de dados
aconteceu durante o mês de dezembro de 2014, neste momento as informações
inerentes à pesquisa foram descritas em formulário próprio para melhor
tratamento dos dados.
Após a coleta de
dados, iniciou-se a organização e a análise do material. Nesta fase torna-se
evidente a “hesitante alquimia” do pesquisador, pois é o momento em que
transforma dados brutos em descobertas finais [9]. Neste estudo, a análise dos
dados foi construída pelo programa Microsoft Office Excel 2007 para
apresentação dos dados coletados buscando confirmar ou não os pressupostos da
pesquisa.
Os resultados e as
discussões foram descritas por variáveis a serem exploradas em consonância com
os objetivos da pesquisa. São elas: 1) Perfil das mulheres internadas. 2) Descrição dos CID e doenças prevalentes nas mulheres. 3) Comorbidades apresentadas e fatores associados à
internação das mulheres.
Aspectos
éticos
Em concordância com a
Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 que busca atender aos princípios da
bioética, a instituição assinou o Termo de Concordância da Instituição para
aceite da pesquisa, autorizando a coleta dos dados, bem como a divulgação da
pesquisa e de seus resultados.
A pesquisa foi
executada após ter sido aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes com o parecer de número
537.309.
A amostra da pesquisa
compreendeu 30 prontuários de mulheres que estiveram internadas na clínica
médica do hospital, durante o mês de dezembro de 2014, tanto em tratamento de
patologias crônicas quanto eventos agudos.
Perfil
das mulheres internadas
A taxa de internação
hospitalar está associada a fatores como idade, gênero, renda familiar e
escolaridade [5]. As figuras a seguir mostram o perfil social – faixa etária,
estado civil, etnia e cidade – das participantes do estudo.
Figura
1 - Distribuição da idade.
Figura
2 - Estado civil das participantes.
A idade das pacientes
variou de 19 a 81 anos. Foram divididas em faixas etárias preconizadas pela
Organização Mundial de Saúde, sendo a juventude de 19 a 24 anos, idade adulta
de 25 a 59 anos, e a pessoa idosa com 60 anos ou mais. Na amostra 10% (3)
equivale a mulheres jovens, 56,6% (17) adultas e 33,4% (10) idosas.
Conforme estudo
realizado com adultos em um município da Amazônia Legal, a maior frequência de
internação hospitalar foi para a faixa etária de 18 a 39 anos (51,6%) [11]. Em
outro estudo realizado no Rio Grande do Sul 57,2% das mulheres internadas
estavam na faixa etária de 40 a 69 anos [10].
O estado civil foi
informado no momento da internação. De 100% da amostra, 66,6% (20) eram
solteiras, 6,7% (2) casadas, 10% (3) divorciadas, 6,7% (2) viúvas e 10% (3) não
informaram, conforme apresenta a Figura 2.
Figura
3 - Raça autodeclarada.
Nota-se, na Figura 3,
que a maioria das mulheres - 53,3% (16) se declararam pardas, e uma fração
significativa não declarou sua cor - 36,7% (11). Completando, 6,7% (2)
consideraram-se brancas e 3,3% (1) preta. No estudo realizado na zona urbana de
Pelotas, houve predomínio de 83,2% de mulheres declaradas brancas [10].
Figura
4 - Localidade.
Sabe-se que o
hospital universitário, espaço da investigação, atende a população do Norte de
Minas, Vale do Jequitinhonha e Mucuri, Noroeste de Minas até o Sul da Bahia.
Das mulheres atendidas, vinte e nove moram no Norte de Minas, destas 80% (24) residem
em Montes Claros – cidade em que fica localizada a instituição; e apenas uma
mulher é de outra região.
Descrição
dos CID e doenças prevalentes nas mulheres
As doenças do CID são
organizadas por categorias, isto é, códigos de três caracteres (uma letra e
dois algarismos) e subcategorias (nesse caso, quando a uma categoria é
atribuído um outro número, tem-se, portanto, as
subdivisões de três caracteres iniciais acrescidos de um ponto e de outro
número. Um conjunto de categorias que contém doenças semelhantes constitui um
agrupamento [11].
A tabela I apresenta
as doenças informadas nos prontuários analisados. Correspondendo a 13,4% (4)
dos casos, a pneumonia foi a principal doença diagnosticada.
Como houve poucos
casos de repetição, analisaram-se as doenças por categorias do CID, em que são
agrupadas por doenças e natureza da lesão. As doenças do sistema
gastrintestinal (doenças do fígado; e transtornos da vesícula biliar, das vias
biliares e do pâncreas) totalizaram 20% (6) dos casos; em seguida do sistema
respiratório (influenza e pneumonia; e outras doenças da pleura) com 16,7% (5)
e do sistema circulatório (doenças das veias, dos vasos linfáticos e dos
gânglios linfáticos, não classificadas em outra parte;
doenças hipertensivas; e das artérias, das arteríolas e dos capilares) com
13,3% (4) dos casos.
Tabela
I - Doenças e CID dos atendimentos.
Em estudo cujo
objetivo foi analisar as tendências das principais causas de internações
hospitalares no Brasil, por faixa etária e região, no período de 1999 a 2006,
constatou-se que, em menores de vinte anos, a primeira causa de internação
foram as gastroenterites infecciosas e complicações (60,5 internações por 10
mil em 1999 e 53,3 por 10 mil em 2006); a segunda, asma (33,1 por 10 mil em
1999 e 22,6 por 10 mil em 2006); e, a terceira, as pneumonias bacterianas (7,4
internações por 10 mil em 1999 e 18,0 por 10 mil em 2006) [12].
Outro estudo
realizado no hospital regional do Guará, região administrativa do Distrito
Federal, mostrou que as principais causas presumidas das internações foram as doenças do aparelho respiratório, circulatório,
geniturinário e as do sistema digestivo, representando juntas 75,9% destas
causas naquele hospital [13].
Já em um hospital
municipal em Barra das Garças, na Amazônia Legal, os diagnósticos que causaram
maiores motivos de internação foram lesões, envenenamentos e algumas outras
consequências de causas externas (39,8%), seguido por doenças do aparelho
digestivo com 25,3%, doenças do aparelho circulatório (6,0%) e doenças
infecciosas e parasitárias (5,5%), e as doenças respiratórias representaram
apenas 4,3% dos casos [5].
Comorbidades
apresentadas e fatores associados à internação das mulheres
O termo comorbidade
se refere à presença de qualquer doença coexistindo adicionalmente, em um mesmo
indivíduo, com uma doença particular. A presença desta doença adicional pode
alterar o curso clínico, o período quando a doença é detectada, o prognóstico
inicial, a eleição da terapêutica preferencial e os cuidados após o tratamento
[14].
Os dados referentes
às comorbidades foram coletados do item “história pregressa” da anamnese no
prontuário clínico de cada mulher, 50% (15) dessas mulheres não apresentava
nenhuma comorbidade. A principal patologia associada encontrada foi hipertensão
arterial, correspondendo a 30% (9); seguida pelo diabetes mellitus – 13,3% (4),
como mostra a Figura 5.
Figura 5 - Comorbidades associadas.
Estudo realizado em
Fortaleza enfatizou as comorbidades associadas, com predomínio de 50 pacientes
com insuficiência/infecção respiratória, 48 com hipertensão arterial sistêmica,
42 com septicemia, 35 com diabetes mellitus e 30 portadores da Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (SIDA) [15].
Uma das finalidades
de caracterizar as internações hospitalares é a possibilidade de identificar
fatores associados à maior frequência de hospitalizações, a qual está
relacionada em geral à maior gravidade e riscos à saúde. A identificação de
fatores associados potencialmente modificáveis permite calcular o impacto de
intervenções de cada fator na redução das internações hospitalares [10].
Os achados deste
estudo demonstram que a maioria das mulheres é adulta e solteira. A principal patologia
encontrada foi pneumonia, embora as doenças do sistema gastrintestinal
aparecessem em maior número. Metade das mulheres não apresentava doença
associada, enquanto a principal comorbidade foi hipertensão arterial.
Os
bancos de dados e
as produções bibliográficas referentes à
temática não possuem ricas informações
sobre comorbidades, o que contribuiria para analisar a
utilização dos serviços
de saúde e a identificação dos principais fatores
que causam maior frequência
de internações de mulheres.
Sabendo-se sobre os
principais acometimentos em mulheres internadas, a implementaçãode
políticas de prevenção, proteção e
promoção à saúde na atenção
primária
objetiva a redução de ocorrência de
internações, assim como envolve a equipe
hospitalar de modo cooperativo e participativo em pesquisas e contribui
para o
aperfeiçoamento do cuidado e melhoria na qualidade de
atendimento específico.
Portanto, tais
achados somam às demais publicações existentes para utilização das informações,
considerando que se cumpra o objetivo de devolvê-las à comunidade e
profissionais envolvidos, e aprofunde os estudos sobre os determinantes das
internações hospitalares de mulheres. Além disso, torna-se evidente a
necessidade de profissionais qualificados para o atendimento deste público.
Referências