ARTIGO
ORIGINAL
Visitando
a teoria das transições de Afaf Meleis como suporte teórico para o cuidado de
enfermagem
Lanna Gabriela
Façanha Costa*
*Enfermeira,
Mestranda do Programa de Pós-Gradução em Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão
Recebido em 18 de
março de 2015; aceito em 9 de junho de 2015.
Endereço
para correspondência:
Lanna Gabriela Façanha Costa, Rua 18, quadra 16, casa 11, Planalto Vinhais II,
65074-871 São Luís MA, E-mail: lannagaby@hotmail.com
Resumo
A teoria das transições
proporciona ao enfermeiro auxiliar pessoas a atingirem resultados saudáveis
após período de mudança vivenciado. O objetivo do trabalho é oferecer suporte
teórico para o cuidado de Enfermagem por meio da teoria das transições. O
estudo baseou-se na Teoria das Transições e foi desenvolvido entre os meses de
agosto de 2014 e fevereiro de 2015. Diante dos resultados, identificaram-se
quatro tipos de transições relevantes para enfermagem: desenvolvimental,
situacional, saúde-doença e organizacional. Podem ocorrer simultaneamente, em
nível individual, diádico ou familiar, conduzindo a mudança de comportamento e
obter comando diante da situação ao encontrar significados e controle. As
transições são antecipadas por um acontecimento marcante que requer enfrentamento
de estratégias, desenvolvimento de novas competências, funções e relações.
Conclui-se que a teoria das transições norteia o enfermeiro a aprofundar-se
acerca dos seus conceitos, fazer uso no seu cotidiano na prática do cuidado e
planejar ações que favoreçam resultados positivos à saúde.
Palavras-chave:
teoria de Enfermagem, cuidados de Enfermagem, Enfermagem.
Abstract
Visiting Afaf Meleis’
transition theory as theoretical support for nursing care
The transitions theory provides nurse with a better approach to help
people to achieve healthy results after having experienced a period of change.
The objective of this work was to provide theoretical support for the nursing
care through the transitions theory. The study was based on the transitions
theory, developed between August 2014 and February 2015. Based on the results,
we identified four types of transitions relevant to nursing: developmental,
situational, health-illness and organizational.They
may occur simultaneously, either in the individual, dyadic or family level,
leading to behavior change and take command of the situation to find meaning
and control. Transitions are anticipated by a defining event that requires
coping strategies, developing of new skills, roles and relationships. We
concluded that the transitions theory guides the nurse to improve his concepts,
to use in their daily life in care practices and to plan actions that favor
positive health outcomes.
Key-words: Nursing
theory, Nursing care, Nursing.
Resumen
Visita a la teoría
de las transiciones de Afaf Meleis como soporte teórico para el cuidado de
enfermería
La teoría de las
transiciones proporciona a los enfermeros la
posibilidad de ayudar a las personas a alcanzar resultados saludables después
de haber experimentado un periodo de cambio. El objetivo es
proveer apoyo teórico para la atención de enfermería a través de la teoría de
las transiciones. El estudio se basó en dicha teoria, el
cual se desarrolló entre los meses de agosto del 2014 y febrero del 2015. Los
resultados permitieron identificar cuatro tipos de transiciones relevantes en el campo de la enfermería: desarrollo, situación,
salud-enfermedad y organización. Dichas transiciones pueden ocurrir
simultáneamente, ya sea a nivel individual, diádico o familiar, lo que lleva a
un cambio de comportamiento y al manejo de la
situación a fin de encontrar significados y control. Las transiciones pueden
ocurrir por un acontecimiento extraordinario que requiere de estrategias de
afrontamiento, desarrollo de nuevas habilidades, roles y relaciones. Se
concluye que la teoría de las transiciones guía a las
enfermeras em la profundización de de sus conceptos, ejercitar en la vida
cotidiana la práctica de la atención y planificar acciones que favorezcan los
resultados positivos para la salud.
Palabras-clave: teoría de
Enfermería, cuidados de Enfermería, Enfermería.
A teoria das
transições exerce forte influência na enfermagem, a partir do desenvolvimento
de intervenções que proporcionam um cuidado eficaz anterior a situações de mudanças
na vida dos clientes. Entretanto, proporcionar transições saudáveis é uma
tarefa desafiante para o enfermeiro, visto que existem pessoas dotadas de
singularidades, necessitando prosseguir com novas competências e novas funções
nesse processo. Assim, o cuidado de enfermagem se faz necessário com o intuito
de proporcionar uma assistência eficiente, melhorando o desfecho dos resultados
e evitando transições insalubres [1].
A partir do
entendimento da teoria das transições, o enfermeiro deve estabelecer intervenções
e estratégias no processo de transição que melhorem a qualidade de vida das
pessoas, diminuindo o risco potencial que a experiência de transição pode
colocar sobre as pessoas [1,2].
Nesse contexto, a
Enfermagem atua de forma holística em todas as dimensões do cuidado, na qual a
teoria das transições constitui um meio para orientar seu exercício, permeado
pelo contexto de mudanças [3], trazendo como pressuposto a compreensão da
transição como processo dinâmico e configurando-se como estratégia para o
cuidado de enfermagem. Para isso, descreve-se a Teoria de Afaf Meleis nas suas
proposições e etapas, assim como o papel do enfermeiro.
Conceitos
de transição
Transição é uma
passagem entre dois períodos de tempo relativamente estáveis, conduzindo o
indivíduo a mover-se por diferentes fases dinâmicas, marcos e pontos de
mudanças. Esses percursos ocorrem ao longo do tempo e têm um sentido de fluxo e
movimento, guiado por alterações que provocam um período de desequilíbrio,
incertezas, conflitos interpessoais e perturbações [1,4].
Meleis explica que a
transição denota uma mudança no estado de saúde, nas relações de papéis, nas
expectativas ou habilidades. Há semelhanças que caracterizam um período de
transição: a desconexão com a rede social habitual e sistemas de apoio social;
a perda temporária de objetos relevantes ou temas de referência familiar; novas
necessidades que possam aparecer e antigos conjuntos de expectativas não mais
relativos a situações de mudanças. Sob essa perspectiva, a transição requer que
o indivíduo incorpore novos conhecimentos, altere o comportamento, defina seu
contexto social, de um ser saudável ou doente, ou das necessidades internas e
externas que afeta o estado de saúde [6].
Meleis investigou o
que acontece com quem não vivencia transições saudáveis, como os enfermeiros
cuidam dessas pessoas, e quais intervenções de enfermagem facilitam o progresso
dos clientes no alcance de transições saudáveis. Diante disso, três conceitos
foram desenvolvidos: Transições saudáveis
como domínio de comportamentos, sentimentos, sinais e símbolos associados com
novos papéis; Transições insalubres
ou transições ineficazes que movem o indivíduo na direção de vulnerabilidade e
risco, tendo a capacidade de resistir às redefinições de significados; Insuficiência do papel caracterizada por
dificuldade para desempenhar um papel, em que comportamentos e sentimentos são
derivados do descumprimento de obrigações ou expectativas [2].
Trata-se de estudo
cuja base teórica oferece suporte teórico para o cuidado de Enfermagem por
intermédio da Teoria das Transições de Afaf Meleis. A consulta às obras da
autora foi iniciada em agosto de 2014, com intuito de embasar a dissertação de
Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão intulada “O processo
de cuidado do recém-nascido prematuro e de baixo peso ao nascer egresso da
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal em contexto domiciliar”.
Os passos
metodológicos foram iniciados a partir da leitura dos referenciais de Afaf
Meleis [1-14] e, em seguida, a partir da reflexão e da síntese, descreveram-se
os principais fundamentos do constructo teório da Teoria das Transições ao considerar
que o mesmo fornece direção suficiente para orientar o cuidado de Enfermagem.
Estima-se ser relevante a descrição da teoria e de seus conceitos para
compreender seus pressupostos básicos como suporte para os cuidados de
Enfermagem e base para sustentar um estudo científico.
O
processo de transição para Afaf Meleis
A Teoria das
Transições de Afaf Meleis pode ser objetivamente visualizada na Figura 1, sendo indentificados por meio de um processo colaborativo de
entendimento, comparação dos resultados de estudos e análise.
Figura
1 - Diagrama representativo do processo das
transições.
Adaptado de Meleis
[1].
Natureza
das transições
A natureza das
transições compreende tipos, padrões e propriedades. Schumacher e Meleis [11]
identificaram quatro tipos de transições relevantes para a enfermagem:
desenvolvimentais, situacionais, saúde-doença e organizacionais. Os tipos de
transições não são mutuamente exclusivos, podendo ocorrer simultaneamente
durante um determinado período de tempo, em nível individual, didático ou
familiar.
Quanto às transições
desenvolvimentais, a maior parte dos trabalhos centra-se no indivíduo,
compreendendo-a a partir da perspectiva dos que a vivenciam [11], considerando
a existência de uma grande variedade de eventos que desencadeiam esse processo
de transição, como, por exemplo, relacionamentos de parentalidade (maternidade
e paternidade), mudança da imagem corporal na adolescência, menopausa,
consciência da homosexualidade e o nascimento de uma criança.
As transições
situacionais compreendem adição ou subtração de pessoas no meio, requerendo
para cada circunstância a definição ou redefinição de papéis dos envolvidos
[11]. Mudanças em situações familiares como viuvez, ida do idoso para um asilo,
imigração e falta de moradia, caracterizam transições situacionais. Todos estes
recebem a atenção dos enfermeiros e necessitam de diferentes intervenções de
enfermagem e estratégias no processo de transição [2].
A transição no
processo saúde/doença é influenciada pela diversidade cultural e de doenças,
ficando a passagem do hospital para o domicílio, para o atendimento
ambulatorial ou para centros de reabilitação, explorada em vários contextos
[1], tais como a ocorrência de doenças cerebrovasculares, recuperação
pós-operatória, infecção pelo HIV, lesão da medula espinhal, câncer e doenças
crônicas.
Já as Transições
Organizacionais representam mudanças em ambientes institucionais e podem ser precipitadas por mudanças no ambiente social, político, econômico,alterações
na estrutura ou nas dinâmicas organizacionais [1]. Fazem parte
das
transições organizacionais: a reorganização
estrutural das instalações, a
introdução de novos programas, adoção de
novas políticas, mudanças em posições
de liderança adotando novos padrões de pessoal, implementando
novos modelos de cuidados de enfermagem e a introdução de novas tecnologias
[11].
Estudos apoiaram
também o entendimento das transições como padrões de mutiplicidade e
complexidade, nos quais o indivíduo que enfrenta mais de um tipo de transição
não a vivencia de maneira isolada e exclusiva, mas em conjunto, podendo um ser
prioritário a outro [15]. Diante dos resultados de estudos [14], a natureza das
transições sugere que enfermeiros considerem os padrões de todas as transições
vivenciadas por um indivíduo, em vez de centrar-se apenas em um tipo específico
de transição. Esses padrões podem ser simples ou múltiplos, sequenciais ou
simultâneos, de acordo com a dimensão da sobreposição entre as transições e a
relação entre os diferentes eventos que precipitam as transições de um
indivíduo.
Apesar da complexidade
e da multiplicidade das transições, as propriedades das mesmas não são
necessariamente exclusivas, mas inter-relacionadas em um processo complexo e
dinâmico. Dentre as propriedades [14] incluem ser consciente, engajamento,
mudança e diferença, tempo de transição, pontos críticos e eventos.
Ser consciente está
associado à percepção, conhecimento e reconhecimento de uma experiência de
transição [14] e retrata o conjunto esperado de respostas e percepções dos
indivíduos que vivenciaram transições similares e o nível de conformidade entre
os processos e as respostas. Chick e Meleis [3] descrevem consciência como uma
característica definidora de transição. O indivíduo deverá ter conhecimento das
mudanças que estão ocorrendo, uma vez que a ausência desta poderia significar
que o indivíduo não iniciou a experiência de transição, apesar da falta de
manifestação consciente não ser empecilho do início dessa ocorrência.
O engajamento é o
nível de envolvimento de um processo característico à transição. Meleis et al. [14] enfatizam que o nível de
consciência influencia o engajamento e este não pode acontecer sem a
consciência. O que os autores afirmam é que o nível de envolvimento de um
indivíduo que está consciente das mudanças físicas, emocionais, sociais ou
ambientais será diferente dos que não vivenciaram tais mudanças.
Mudança e diferença,
embora semelhantes, não são sinônimos de transição. Todas as transições
envolvem mudança, ao passo que nem todas as mudanças estão relacionadas com a
transição [16]. A mudança pode estar relacionada a eventos críticos ou
desequilibrador, a perturbações nas relações e rotinas, ou a ideias, percepções
e identidades. Deve-se incluir como dimensões da mudança: a natureza, a
temporalidade, perceber a importância da gravidade, da pessoa, da família, dos
padrões sociais e das expectativas [14].
A diferença é outra
propriedade da transição que resulta na alteração de comportamentos ou
percepções. Ao analisar as experiências de transição, pode ser útil para que
enfermeiros considerem o nível de conforto de um indivíduo e domínio em lidar
com a mudança e a diferença [14]. Portanto, essa propriedade compreende
alternância nos papéis, na identidade e nos padrões de comportamento, sendo
fundamentais para uma visão de si mesmo e do mundo, em vez de mudanças
passageiras e superficiais [3,11,12].
Em
relação ao tempo
de transição, todas as mudanças são
caracterizadas por fluxo e movimento ao
longo do tempo [12]. Bridges caracteriza transições como
um período de tempo
com um ponto final identificável, abrangendo desde os primeiros
sinais de
antecipação, percepção ou
demonstração de mudança, até um
período de
instabilidade, confusão e sofrimento. O tempo de
transição envolve o evento
inicial marcador até que a harmonia e a estabilidade sejam
novamente
experimentadas. Este período de tempo é necessário
para experimentar diferentes
estratégias e padrões de respostas, e,
incorporá-los no seu próprio
conhecimento [3,11,12].
Algumas transições
são marcadas por acontecimentos, como nascimento, morte ou diagnóstico de uma
doença, à medida que, em outras transições, eventos marcadores específicos não
são tão perceptíveis [16,17]. Os pontos críticos e eventos são associados com o
aumento da conscientização sobre a mudança e diferença, além de engajamento em
lidar com a experiência de transição. Há, ainda, pontos críticos, os quais
foram caracterizados por um senso de estabilização em novas rotinas,
habilidades, estilos de vida e atividades de autocuidado, havendo um período de
incerteza marcado com a flutuação, mudanças contínuas e ruptura da realidade. A
maioria das experiências de transição envolve pontos críticos e eventos,
requerendo do enfermeiro atenção, conhecimento e experiência para lidar com
essas mudanças [14].
Condições
das transições
Para entender as
experiências do indivíduo durante as transições, é fundamental revelar as
condições pessoais e ambientais que facilitam ou dificultam o progresso no
sentido de alcançar uma transição saudável. Condições pessoais compreendem os
significados, as atitudes e crenças culturais, o estado socioeconômico, a
preparação e o conhecimento apoiados nas dimensões comunitárias e sociais,
podendo facilitar ou restringir os processos de transições saudáveis e os
resultados das transições [14].
Os significados
atribuídos a eventos precipitantes de uma mudança podem facilitar ou dificultar
transições saudáveis [14]. A maioria das pessoas não relaciona os problemas que
teve com a situação vivenciada, indicando que passou pela situação sem sentir
ou perceber qualquer adversidade. Assim, "não há significados
especiais" para facilitar a transição [18], no entanto significados
neutros e positivos podem facilitar a transição.
Atitudes e crenças
culturais quando estão ligadas a uma experiência de transição, podem inibir
mudanças [14], pois alguns indivíduos se intimidam em discutir sobre algumas
situações, preferindo vivenciar a situação por conta própria, tornando-se uma
experiência solitária [19]. Seus sintomas psicológicos são observados somente
quando há alguma manifestação física [14]. Outro inibidor de transição saudável
é a baixa condição socioeconômica. Estudos mostram que indivíduos com baixo
nível socioeconômico são mais propensos a apresentar sintomas psicológicos frente
a transições [14].
Para Meleis et al. [15], preparar-se antecipadamente
para uma mudança facilita a experiência de uma transição, considerando que a
falta dessa preparação possa inibir esse percurso. Pode ser útil para gerir a
transição a preparação e o conhecimento sobre o que esperar durante a mudança e
quais estratégias usarem no processo da transição. As consequências da falta de
preparação e compreensão tornam-se imediatamente evidente quando o indivíduo é
surpreendido com determinada situação.
Os recursos
comunitários, do mesmo modo, facilitam ou inibem as transições. Para lidar com
a transição, alguns indivíduos buscam apoio da comunidade diante de situações
de saúde e doença, porém os recursos disponíveis nem sempre são aceitos por
questões de desconfiança e necessidade de privacidade [18]. As condições que
facilitam transições são: o apoio da comunidade, informações relevantes obtidas
a partir de prestadores de cuidados de saúde confiáveis, conselho de fontes
respeitadas, modelos e esclarecimento a perguntas [20]. Inibidores de uma
transição saudável incluem: recursos insuficientes para suportar uma situação,
suporte inadequado, conselhos não solicitados ou negativos, informação
insuficiente ou contraditória, bloqueio por ser estereotipado ou presenciar a
negatividade dos outros [20].
No tocante às
condições sociais, a sociedade pode facilitar ou inibir as transições. Um
evento de transição estigmatizado e com significados estereotipados tendem a
interferir no processo de transição saudável. Como exemplo: a desigualdade de
gênero como uma restrição no nível da sociedade que influencia a transição e a
marginalização da sociedade por conta da própria cultura, sendo negligenciados
e ignorados [14].
Padrões
de respostas às transições
Para Schumacher,
Jones e Meleis [12], os indicadores de processo de uma
transição acontece a qualquer tempo. Temos como exemplo vivenciar sintomas e
alteração do estado funcional, conexão com rede interpessoal, recuperação do
controle sobre sua vida e senso de integridade englobando o sentido de
totalidade e coerência. Para auxiliar nos processos de transição saudável, as
terapêuticas de enfermagem favorecem a diminuição das transições insalubres e
defende os indicadores de processos positivos.
Meleis e Trangenstein
declaram que “a Enfermagem está preocupada com o processo e as experiências dos
seres humanos submetidos às transições, onde a saúde e o bem-estar são o
resultado”. Ao longo do tempo, as transições se desenvolvem apontando indicadores
de processo que movem indivíduos, no sentido de saúde ou vulnerabilidade e
risco, o que permite uma avaliação e intervenção precoce facilitando, assim,
resultados saudáveis. Esses indicadores incluem: sentir-se conectado,
interagir/relacionar-se, estar localizado/situado e desenvolver confiança e
enfrentamento [14:257].
A necessidade de
sentir-se conectado é ressaltado em muitos relatos de transição [4]. Fazer
novos contatos, continuar se conectado com familiares e amigos são exemplos
significativos de experiência de um indivíduo [15]. Portanto, utilizar redes
sociais e de parentescos são as principais fontes de informações para que os
profissionais de saúde identifiquem a emergente dimensão que a transição
suporta diante de evidências clínicas [13,15]. Outro importante indicador de
uma experiência de transição positiva é sentir-se ligado a esses profissionais
de saúde que podem esclarecer dúvidas e com quem se pode sentir
confortavelmente conectado [15].
Por meio da interação
e da relação, comportamentos são desenvolvidos, descobertos, esclarecidos e
reconhecidos em resposta à transição [14], e estratégias são desenvolvidas pela
interação e reflexão de uma relação nova e emergente. Dessa forma, o
envolvimento entre o cuidador e o indivíduo cria um contexto de autocuidado e
cuidado, ocorrendo de forma eficaz e harmoniosa e recebido como um gesto de
apoio [14].
A localização é
importante para a maioria das experiências de transição, embora possa ser mais
evidente em alguns indivíduos do que em outros [14]. Uma das características de
uma transição é
a criação de novos sentidos e
percepções, quando comparações dão
sentido às experiências. Essas comparações
são feitas como forma de "situar-se" em relação ao
tempo, espaço e
relações, tornando uma maneira de explicar e talvez
justificar como ou por que
indivíduos vão, onde estão, para onde foram e quem
são [14].
Diante
da dimensão da
natureza do processo de transição, existe um
padrão indicativo que os
indivíduos envolvidos estão experimentando um aumento em
seu nível de confiança
[14]. Desenvolver a confiança compreende os diferentes processos
inerentes ao
diagnóstico, tratamento, recuperação e
limitações, o nível de utilização de
recursos e o desenvolvimento de estratégias. Indivíduos
podem demonstrar um
conhecimento cumulativo de situações, compreensão
de pontos críticos e de
mudanças e senso de sabedoria resultante de suas
experiências vividas [14].
Indicadores
de resultado
À
proporção que os
resultados são experimentados, refletem diretamente na qualidade
de vida
daqueles que estão enfrentando transições [14]. A
determinação de quando uma
transição está completa é variável e
flexível, e depende do tipo de alteração
ou o evento que inicia a transição, bem como da natureza
e o ritmo de
transição. Dois indicadores de resultado surgiram a
partir de estudos: domínio
de novas competências (maestria) e desenvolvimento de uma fluida
identidade
integrativa (habilidade).
O Papel de Maestria
caracteriza o domínio de novos comportamentos exigidos diante de novas
situações, domínio de novas competências necessárias para gerir uma transição
[14]. Alguns componentes incluindo competência, conhecimento ou habilidade
cognitiva, tomada de decisão, habilidades psicomotoras e autoconfiança são
características importantes para o papel de maestria. Portanto, a conclusão
saudável de uma transição é determinada pelo grau em que indivíduos demonstram
domínio das habilidades e comportamentos necessários para gerenciar suas novas
situações [7].
As habilidades necessárias para conseguir o
controle sob os cuidados de determinada situação incluem o monitoramento e
interpretação de sintomas, tomada de decisões, agilidade, fornecimento de
cuidado com as mãos e trabalhar em colaboração com o receptor de cuidados [21].
Além disso, a habilidade se desenvolve ao longo do tempo com a experiência,
sendo pouco provável ser identificada no início de uma experiência de
transição.
O papel
da Enfermagem nos processos de transição
A transição é motivo
de apreensão para a enfermagem pelo risco potencial que sua experiência pode
colocar sobre as pessoas [1]. Prevenir esses riscos, melhorar o bem-estar,
maximizar o funcionamento e reproduzir atividades de autocuidado são
estratégias que enfermeiros usam para cuidar e apoiar as pessoas a alcançar os
processos de transição saudáveis e resultados [1]. Portanto, lidar com a
transição é um processo dinâmico, que inclui vários seguimentos, alguns construídos
de forma criativa e dinâmica e, ao mesmo tempo, adquirindo experiência e
desenvolvendo competências no cuidado [22].
Bridges [16,17]
descreve três fases experimentadas na transição, sendo a primeira etapa
"um período de terminações" em que há a retirada de relacionamentos
ou de formas de comportamento assim como mudanças. A segunda etapa, denominada
de "zona neutra", é o período de tempo em que uma pessoa vivencia
desorientação causada pelas perdas no primeiro estágio, seguido pela desintegração
de sistemas que estavam no local. O estágio final de uma transição é o de
"novos começos”, marcado por encontrar significado e experimentar controle
diante da situação. Segundo o autor, as pessoas devem passar por todos os três
estágios para lidar realmente com a transição. No entanto, as fases de uma
transição não ocorrem obrigatoriamente de uma forma linear, em vez disso, eles
podem ser sequenciais, paralelas ou sobrepostas.
Fundamentadas nos
estudos de Schumacher, Jones e Meleis [4], descreve-se a seguir modalidades
terapêuticas de enfermagem para lidar com as transições:
Avaliação de Enfermagem é a origem para todas as terapêuticas
de enfermagem. Como a transição se modifica, o enfermeiro precisa em uma
sequência linear de ações de enfermagem, avaliar, planejar e implementar.
Para que os cuidados de enfermagem prosperem, a avaliação deve abranger todo o
período de transição, requerendo uma vigilância especial, além de criação de um
contexto de cuidados de saúde. A avaliação dos indicadores de processos oferece
uma forma de investigar o progresso do indivíduo e detecta precocemente
dificuldades em pontos críticos no processo de transição [4,23, 24].
Reminiscência auxilia na integração do processo de
transição, fornecendo um elo importante entre o passado e o presente e constrói
oportunidades para o indivíduo refletir sobre as experiências de vida. Além
disso, facilita o processo de crescimento e desenvolvimento de identidade,
facilita os processos de explorar o significado e as áreas nas quais a continuidade
com o passado ainda é possível descobrir [25,26].
Suplementação de papel facilita o processo em propagar novos
conhecimentos e habilidades. Traz à consciência comportamentos, sentimentos,
sensações e objetivos envolvidos em uma determinada função e é particularmente
útil para que as pessoas assumam um novo papel [2]. Para Schumacher, Jones e Meleis [4], a suplementação de papel tem vários componentes,
entre os quais esclarecer e identificar aspectos, tais como entender a posição
e o ponto de vista do outro e entender como o seu papel pode afetar outras
pessoas.
Criação de um ambiente saudável há características
peculiares dentre as quais Daly e Berman [27], McCracken [23], Taft et al. [28] destacam: fornecer um ambiente
que forneça segurança e proteção; respeitar tradições culturais; facilitar o
acesso aos que necessitam para realizar rotinas diárias e livrar o meio
ambiente de obstáculos. A meta da enfermagem é proporcionar um ambiente
dinâmico e adaptável, com o objetivo de sincronizar as necessidades de cada
pessoa.
Mobilização de recursos incluem recursos pessoais, familiares
e comunitários. Para mobilizar recursos, é necessário considerar sua
disponibilidade, se eles são ou não estáveis, se são suficientes ou se é
necessário desenvolver novos recursos [4]. As autoras apontam exemplos de
estratégias de terapêuticas de enfermagem durante o período de transição, como
promoção de estilo de vida saudável, incentivo de exercício regular, uma dieta
nutritiva, controle do consumo de álcool, imunizações regulares, além de
serviços regulares de cuidados primários de saúde.
Chick e Meleis [3]
enfatizam que há variações de transições que ocorrem entre indivíduos, famílias
ou organizações. Nesse caso, devem ser avaliadas por enfermeiros para
perceberem mudanças e entenderem a experiência de transição de cada indivíduo,
assim como a especificidade para compreender os fatores que influenciam o
processo de transição, tais como significados, expectativas, nível de
conhecimento e habilidade, ambiente, nível de planejamento, nível do bem-estar
físico e emocional.
As transições são de
notável interesse para a Enfermagem pelas consequências que trazem para a saúde
dos clientes. Para evitar instabilidade, enfermeiros precisam levar em
consideração padrões de respostas em vez de respostas individuais, reconhecer
situações críticas e de vulnerabilidade durante as transições. Diante disso,
são indispensáveis as terapêuticas de enfermagem com o intuito de impedir
consequências negativas e favorecer resultados positivos à saúde. Visitar a
teoria das transições proporcionou, além do aprofundamento acerca dos seus
conceitos, a utilização no âmbito da vivência cotidiana da prática do cuidado,
pretendendo que teorias revelem, sugiram e apoiem o
planejamento das ações do profissional de enfermagem, respondendo a suas
expectativas e a dos pacientes.