ARTIGO
ORIGINAL
Instrumento
para avaliação do graduando de enfermagem em prova prática
Bruno Vilas Boas
Dias, M.Sc.*, Eula Carolina M. Lemes**, Cícera Mayara B. de Oliveira***, Guilherme
Conrado Pierazo***, Gláucia Cristina V. Borges***, Leomar dos Santos***
*Enfermeiro,
Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina de Jundiaí/SP,
Especialista em Cardiologia pela UNIFESP, Docente do curso de graduação em
Enfermagem do Centro Universitário Padre Anchieta de Jundiaí/SP e Faculdade de
Campo Limpo Paulista/SP, **Enfermeira, Especialista em Docência, Docente do
curso de graduação em Enfermagem do Centro Universitário Padre Anchieta de
Jundiaí/SP, ***Acadêmicos do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre
Anchieta de Jundiaí/SP
Recebido em 18 de dezembro
de 2014; aceito em 21 de agosto de 2015.
Endereço
para correspondência:
Bruno Vilas Boas Dias, Rua Bom Jesus de Pirapora, 100/140, Departamento de
Enfermagem, 13207-270 Jundiaí SP, E-mail: bruno.dias@anchieta.br
Resumo
Objetivos: Elaborar um instrumento
simplificado para avaliação do aluno de enfermagem na realização de prova
prática. Métodos: Relato de
experiência sobre a elaboração de um instrumento de avaliação para utilização
em provas práticas de semiologia e semiotécnica de enfermagem. Foi testado com
mais de 400 acadêmicos de graduação. Resultados:
O instrumento, composto por seis etapas, aborda a técnica a ser realizada pelo
aluno, o desempenho na execução e na resposta à eventual pergunta sobre o
procedimento e também a nota estabelecida. Diante da vasta aplicação, o
instrumento foi implementado. Conclusão: Foi possível elaborar um instrumento básico, porém
eficiente, pois o professor deixava o aluno desenvolver a técnica e focava
somente nos pontos necessários à melhoria. Isso tornou o processo rápido e
completo no retorno ao acadêmico sobre seu desempenho seguidamente à prova.
Tudo em apenas uma página, o que proporcionou economia de recursos e tempo, sem
prejuízo de sua eficácia.
Palavras-chave: avaliação
educacional, aprendizagem, laboratórios, estudantes de enfermagem.
Abstract
Evaluation instrument of nursing student in practical test
Objectives: To develop
a simplified tool to evaluate nursing students during practical test. Methods: Experience report aiming at
preparing assessment tool for practical tests of semiology and nursing
semiotics. It was tested with more than 400 academic students. Results: The instrument is composed of
six steps, which concern technique to be used by the student, performance in
the implementation and response to any question about the procedure and also
the established grade. In view of the wide application, the instrument was
implemented. Conclusion: It was
possible to draw up a basic instrument, but effective, because the teacher
leaves the student to develop the technique and focuses only on points needed
to improve. This made the process faster and complete and the student receive
feedback on his performance immediately after the test. All on one page, this
provided savings in time and resources, without impairing its effectiveness.
Key-words: educational
measurement, learning, laboratories, nursing students.
Resumen
Instrumento de evaluación del
estudiante de enfermería en la prueba práctica
Objetivos: Desarrollar
herramienta simplificada para evaluar competencias en la
prueba práctica de estudiantes de enfermería. Métodos: Relato de experiencia sobre elaboración de test para
evaluar pruebas prácticas de semiología y semiótica de enfermería. El
instrumento fue probado con más de 400 estudiantes de
enfermería. Resultados: El
instrumento consta de seis pasos y aborda la técnica
que el alumno realizará, el desempeño en la ejecución y en la respuesta a
cualquier pregunta sobre el procedimiento y también la nota establecida. Dicho
instrumento se ha implementado debido a la amplia
aplicación. Conclusión: Fue posible la elaboración de un instrumento básico, pero eficaz, porque
el profesor deja al estudiante desarrollar la técnica y se centra sólo en los
puntos que necesitan mejorar. Esto hizo que el proceso
fuera más rápido y completo y el estudiante recibe el retorno sobre su
desempeño inmediatamente después de la prueba. Todo en una página, que
proporciona economía de tiempo y recursos, sin perder eficacia.
Palabras-clave: evaluación
educacional, aprendizaje, laboratorios, estudiantes de
enfermería.
As Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem reforçam que o
enfermeiro é o profissional com formação generalista, humanista, crítica e
reflexiva, qualificado para o exercício de Enfermagem com base no rigor
científico e intelectual e pautado em princípios éticos. Para tal, as
diretrizes estabelecem que façam parte dos projetos pedagógicos dos cursos de
enfermagem competências relacionadas ao conhecimento, habilidades e atitudes, a
fim de promover a resolutividade multidisciplinar para o cuidado e promoção da
saúde de todos [1].
Por outro lado, as
Diretrizes Curriculares visam também a proporcionar às Instituições de Ensino
Superior (IES) um direcionamento para a implantação e a implementação
dos projetos político-pedagógicos. Entretanto, não são fórmulas prontas, já que
o contexto sócio-político-cultural que envolve cada IES fala mais alto e exige
inovadoras formas de saber, fazer e ser [2].
Compete, portanto, a
cada IES planejar e implementar o ensino e avaliar a
aprendizagem dos acadêmicos. Fato é que não necessariamente as mudanças
precisam ser ou são vultuosas. Na verdade o que se
espera de um curso em andamento são ajustes pontuais, reformulações e
adequações mediante cada contexto apresentado. Dessa forma, ao preparar os
alunos para atividades práticas de sua carreira, surgiu a necessidade de
organizar a avaliação a que são submetidos de modo a ficar mais claro para
professor e aluno o que precisa ser melhorado.
Dentre os vários
conhecimentos adquiridos, os procedimentos como sondagem vesical e acesso
venoso, entre tantos outros, exigem dos alunos, durante a graduação, o
conhecimento aliado à habilidade e a atitude para algumas situações que se
apresentam. As habilidades são aptidões desenvolvidas e que tornam os
profissionais diferenciados em alguns aspectos de seus pares [3].
No contexto das aulas
em laboratório de práticas assistenciais, o conhecimento é o produto de
experiências, de aprendizagem, de busca de informações e de elaborações mentais
aplicados objetiva e eficazmente. Para a realização de qualquer técnica é
primordial, além do seu conhecimento, no mínimo, o de sua indicação, materiais
necessários, possíveis complicações e cuidados de enfermagem.
A prática, o “fazer
repetidamente” faz com que o aluno adquira maior desenvoltura, além de maior
facilidade, rapidez e segurança na realização do procedimento ou técnica.
Aliada ao conhecimento teórico, por fim, gera atitudes que se referem a comportamentos
relacionados com aplicação de princípios e valores, ou seja, ação consciente e
livre de danos [3].
Desse modo, a
enfermagem necessita, mesmo com tantas barreiras e dificuldades, fundamentar-se
em evidências, sempre, incluindo resultados de pesquisas, por meio de métodos
que os qualifiquem e o validem. Assim, por experiência do professor responsável
pela disciplina, optou-se por elaborar um instrumento que pudesse servir de
base para desenvolvimento das avaliações práticas em laboratório, com intuito
de deixar claro ao aluno sobre o parecer final do professor de forma
qualitativa. Ademais, o retorno ao aluno é imediato, documentado e com custo
baixo para a instituição, em relação ao instrumento propriamente dito.
Isso
posto,
entende-se que o aluno imbuído dessa busca também imerge na relação
“administração e cuidado”, enfermeiro não cuida sem administrar e não
administra sem cuidar. Direta ou indiretamente, o acadêmico precisa entender
que a realização do procedimento assertivo no tocante à técnica vai
consequentemente proporcionar conforto e promoção da saúde, melhora a
recuperação do paciente e para a instituição que representará, haverá melhoria
de ordem econômica em vários aspectos.
Assim, para melhor
organização e evidência de cada passo na realização dos procedimentos, teve-se
como objetivo elaborar um instrumento simplificado para avaliação do aluno de
enfermagem na realização de prova prática.
A
prática baseada em evidências: história e definição
Durante a prática
clínica surgem os mais variados problemas que precisam ser resolvidos por meio
de decisões baseadas nas melhores evidências que emergem dos resultados de
pesquisas e ou consenso de especialistas [4,5].
Foi no Reino Unido
com o epistemologista Archibald Cochrane, em 1972, que surgiu a Prática Baseada
em Evidências (PBE), mas, somente 20 anos depois, a comunidade científica
organizou a Cochrane Collaboration,
com informações científicas em todos os campos da saúde [6].
O profissional
atuante e imerso em seu contexto e adquirindo sua experiência progressivamente
tem impacto profundo no processo de desenvolvimento de uma pesquisa, haja vista
que novas tecnologias vêm surgindo, a expectativa de vida está aumentando, o
perfil de morbimortalidade está sofrendo alterações e consequentemente, o gasto
com a saúde vem crescendo em ritmo acelerado no mundo [7,8]. Assim, para a PBE,
a experiência ou expertise prévia contribui de forma a ratificar ou refutar uma
nova evidência, antes que ela seja incorporada à prática clínica [6].
Prática
baseada em evidências como tecnologia para decisões em saúde
A busca de evidências
pode diminuir a margem de erro da assistência e analisar a questão de
custo-efetividade, reduzindo gastos e melhorando a assistência [9]. Desse modo,
a PBE busca aprimorar decisões oriundas da racionalidade clínica, que tem por
base não toda e qualquer evidência científica, mas, somente, aquela decorrente
do modo clínico de se fazer pesquisa [6].
Assim, mesmo que os
resultados alcançados em uma pesquisa não sejam os melhores ou os esperados,
são relevantes e têm uma repercussão importante e benéfica para a ciência, no
processo de construção do conhecimento, ao longo da história [10].
A
Enfermagem baseada em evidências: histórico e definição
Na década de 80,
surgiu a Pesquisa Baseada em Evidências (PBE), no Canadá, por meio de um grupo
de estudos da Universidade de McMaster, que se preocupava com uma adequada
avaliação das publicações científicas. Foram publicados diversos textos nesse
sentido e, posteriormente, ficaram conhecidos como Medicina Baseada em
Evidências (MBE).
A Enfermagem Baseada
em Evidências (EBE) teve origem com a medicina baseada em evidências [11],
tendo, por sua vez, a definição de uso consciencioso, explícito e criterioso
das informações oriundas de teorias e pesquisas para a tomada de decisão sobre
o cuidado prestado a indivíduos ou grupos de pacientes, priorizando as
necessidades individuais e preferenciais [12], ou seja, está amparada na utilização
de resultados de pesquisas e dados que proporcionem a
melhoria da qualidade originários de especialistas reconhecidos e de confirmada
experiência que comprovem a prática [13].
Em relação à
aplicabilidade do termo “evidências” para a enfermagem, na literatura americana
é sinônimo de “baseada em pesquisa”, enquanto que, no Canadá e Inglaterra,
torna-se amplo e está associado à utilização dos recursos da investigação [13].
Independentemente do local o termo “evidências” está ligado à pesquisa, entretanto,
para a EBE, o binômio pesquisa e prática são um todo inseparável, significando
que evidências e o uso dos resultados da pesquisa na clínica estão interligados
à atividade diária do enfermeiro.
A
visibilidade e
oportunidade de desenvolvimento de pesquisas em Enfermagem, com o apoio
de
várias áreas da saúde para
disseminação na prática clínica e nas vidas
diárias
de indivíduos e famílias foi preocupação,
desde o início, para a Enfermagem.
Para solucionar este gargalo, foi criado, em 1986, o National Institute of Nursing Research (NINR), um órgão vinculado
ao Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos [14,15].
A Enfermagem
reconhece que a pesquisa é a base para o conhecimento e desenvolvimento da
profissão [6]. Para tal, busca de forma mais ampla (em relação à MBE), não
somente aspectos baseados em pesquisas, mas afirmação dos cinco passos que
devem ser seguidos: transformar a dúvida em questão clínica; buscar a melhor
evidência para respondê-la; avaliar a validade, impacto e aplicabilidade dessa
informação; integrar a evidência com a experiência clínica; e as
características do paciente e a autoavaliação de desempenho nos passos
posteriores [16].
Entretanto, a EBE
ainda não tem um caminho próprio, seguindo a MBE, que inicia pela formulação de
uma dúvida, que se denomina questão clínica, derivada da prática clínica. Por
sua vez, a questão clínica deve conter quatro componentes triviais recomendados
pela MBE [17]: a situação clínica; a intervenção; o grupo-controle, que é
padrão de comparação; e o desfecho clínico, que é o resultado esperado para a
intervenção. Essas estratégias são conhecidas pela sigla PICO [18,19]:
P: definir a
população, situação clínica ou problema;
I: definir
intervenção;
C: adicionar uma
comparação;
O: descrever um
desfecho clínico;
A EBE possui
pesquisas, em grande número, com características qualitativas, o que, para a
PBE, é considerada uma evidência menor. Todavia, a ausência de alta qualidade
de evidências não impossibilita a tomada de decisões baseadas nelas. Dessa
forma, entende-se que o necessário é a melhor evidência disponível e não a
melhor evidência possível [20,21].
Contudo, foram
identificadas barreiras para a aplicabilidade da EBE pelos enfermeiros. Um
levantamento realizado na Austrália suscitou fatores como: acessibilidade de
resultados de pesquisa; resultados antecipados de usar pesquisa; apoio
organizacional para usar pesquisa; e apoio de outros para usar pesquisa [22].
Também se ressalta que, a rigor, as evidências levantadas nem sempre são
incorporadas à prática clínica, devido a variáveis como o local de trabalho,
recursos humanos e financeiros para a implementação
das mudanças necessárias e, principalmente, se estão em acordo com o paciente e
família [23].
Relato de experiência
de um professor do curso de graduação em enfermagem de um centro universitário
do interior do estado de São Paulo. A indagação nasceu de estudos e percepções
desse professor, em relação à necessidade de maior clareza e consolidação dos
pontos que cada aluno desenvolve na realização de diferentes técnicas, durante
as provas práticas.
A instituição onde
foi desenvolvido o instrumento conta, atualmente, com três disciplinas
relacionadas à técnica (Propedêutica e Semiotécnica I, Propedêutica e
Semiotécnica II e Laboratório de Práticas Assistenciais), cujas práticas são
realizadas, essencialmente em ambiente de laboratório. Nesse local, são
realizados procedimentos práticos relacionados ao exame físico e aos sinais
vitais, punção venosa e arterial; sondagens vesical, gástrica, enteral e retal;
banho e higienização; curativos; cuidados com drenos, entre outros.
Quando da ocorrência
de uma avaliação, o professor solicita ao técnico do laboratório que disponha
na bancada do setor, todos os materiais necessários e em número suficiente para
a realização de todas as técnicas, conforme previsão. O material não fica
agrupado por técnica para não influenciar o aluno, exigindo a evocação de
conhecimentos necessários para a concretização da prática em avaliação.
Outro preparo é em
relação à avaliação. O professor prepara as técnicas a serem realizadas e
praticadas, anteriormente, em forma de pergunta ou caso clínico resumido, em um
impresso, as recorta e prepara para sorteio. O aluno entra no laboratório,
mediante ordem de lista de presença, e ele próprio sorteia sua técnica. A
seguir, seleciona e prepara seu material na bancada (nesse momento, já é
informado que está sendo avaliado) e vai até o boneco para realização do
procedimento.
Todo esse processo
vinha sendo realizado em papel de avaliação tipo folha de pauta ou sulfite.
Entretanto, entendendo a necessidade de melhoria nesse registro, o professor
dessas disciplinas propôs elaborar um instrumento que fosse prático, simples,
organizado e ao mesmo tempo eficaz, ou seja, que tivesse os itens necessários
para anotação de toda avaliação sem tomar muito tempo, pois a prova prática,
por ser individual, despende tempo mais elevado, quando comparado a outro
método avaliativo.
Desse modo, foi
elaborado um instrumento simplificado para avaliação do aluno na realização de
procedimentos técnicos de enfermagem (Apêndice 1) por
esse professor e aplicado com o auxílio de outra professora, em provas, e
também pelos monitores, em simulados de avaliação.
O instrumento de
avaliação elaborado é composto basicamente de seis etapas que seguem:
Anualmente, passam
pelo laboratório de práticas assistenciais, cerca de 150 alunos do curso de
graduação em enfermagem, tendo sido o instrumento elaborado utilizado em
avaliações de mais de 400 alunos. Portanto foi testado e aprovado na
instituição, após ter sido implementado, em cerca de
quatro centenas de avaliações.
Foi possível elaborar
um instrumento básico, porém eficiente, pois o avaliador deixa o aluno
desenvolver a técnica e foca somente nos pontos necessários à melhoria. Isso
tornou o processo avaliativo rápido e completo no retorno ao acadêmico sobre
seu desempenho seguidamente ao término da prova ou simulação. Tudo em, apenas,
uma página, o que proporcionou economia de recursos e tempo, sem prejuízo de
sua eficácia.