ARTIGO
ORIGINAL
Feridas
neoplásicas em pacientes com câncer de mama
Débora Thaise Freires de Brito*, Irys
Karla Cosmo Pereira**, Glenda Agra***, Elton de Lima
Macêdo****, Janislei Soares Dantas*****, Thiago Lins
da Costa Almeida******
*Enfermeira,
Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus Cuité, Residente pelo
Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade, João
Pessoa/PB, **Enfermeira, Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus
Cuité, Bananeiras/PB, ***Enfermeira, Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba/UFPB, Docente do Curso de
Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus
Cuité. João Pessoa/PB, **** Enfermeiro, Universidade Federal de Campina
Grande/UFCG, campus Cuité, Recife/PB, *****Enfermeira, Universidade Federal da
Paraíba/UFPB, João Pessoa/PB,******Médico, Universidade Federal da
Paraíba/UFPB, João Pessoa/PB
Recebido em 21 de
janeiro de 2018; aceito em 20 de junho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Débora Thaíse Freires de Brito, Avenida Aluísio
França, 157, Manaíra, 58038-060 João Pessoa PB, E-mail:
deborathaise_@hotmail.com; Irys Karla Cosmo Pereira:
iryscosmopereira@hotmail.com; Glenda Agra: glendaagra@outlook.com;
Elton de Lima Macêdo: eltoneltonlm@hotmail.com; Janislei
Soares Dantas: janisleisd@gmail.com; Thiago Lins da Costa Almeida: linsalmeida@gmail.com
Resumo
Objetivo: Traçar o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico de pacientes com
feridas neoplásicas, decorrentes do câncer de mama. Métodos: Trata-se de um estudo documental, retrospectivo e
descritivo, com abordagem quantitativa, em que foram utilizados dados
secundários-sociodemográficos, clínicos e
terapêuticos - extraídos de prontuários de pacientes com feridas neoplásicas,
no intervalo de janeiro de 2009 a dezembro de 2015. Resultados: Fizeram parte deste estudo 150 prontuários, destes, 147
eram mulheres (98,0%), com idade entre 20 e 59 anos (66,0%),
casadas (41,3%), ensino fundamental incompleto (24,0%), agricultoras
(25,3%) e aposentadas (24,7%). O tipo histológico carcinoma ductal
invasivo se sobressaiu em 131 pacientes (87,3%), cujas lesões apresentavam
aspecto de ulceração infiltrante (30,7%), dor
(15,3%), sangramento (3,3%), odor (2,7%), exsudato (9,3%) e sinais de infecção
(2,7%). Quanto à modalidade terapêutica, 63 pacientes (42,0%) se submeteram à mastectomia total, 102 (68,0%) realizaram radioterapia e 125 (83,3%) quimioterapia. Conclusão: Evidenciou-se a necessidade de implementar
políticas públicas no tocante à prevenção do câncer de mama, a fim de diminuir
o risco para adoecimento; educação em saúde para esses pacientes, visando
reduzir complicações locais e sistêmicas; e criar estratégias efetivas para o
registro das informações sociodemográficas, clínicas
e terapêuticas completas do paciente em prontuários eletrônicos ou
convencionais pelos profissionais de saúde.
Palavras-chave: epidemiologia,
enfermagem oncológica, neoplasias cutâneas.
Abstract
Neoplastic wounds in breast cancer patients
Objective: To describe
the sociodemographic, clinical and therapeutic
profile of patients with neoplastic wounds, due to breast cancer. Methods: It is a retrospective and
descriptive documentary study with a quantitative approach, in which secondary
data were used - socio-demographic, clinical and therapeutic - extracted from
medical records of patients with neoplastic wounds, between January 2009 and
December 2015. Results: The sample
consisted of 150 medical records, of which 147 were women (98.0%), aged between
20 and 59 years (66.0%), married (41.3%) and had incomplete elementary school
(24.0%), women farmers (25.3%) and retirees (24.7%). The histological type
invasive ductal carcinoma was prominent in 131 patients (87.3%), with lesions
presenting with infiltrating ulceration (30.7%), pain (15.3%), bleeding (3.3%),
odor (2.7%), exudate (9.3%) and signs of infection (2.7%). Regarding the
therapeutic modality, 63 patients (42.0%) underwent total mastectomy, 102
(68.0%) underwent radiotherapy and 125 (83.3%) underwent chemotherapy. Conclusion: The need to implement public
policies regarding the prevention of breast cancer was evidenced in order to
reduce the risk of becoming ill; health education for these patients, aiming to
reduce local and systemic complications; and to create effective strategies for
the registration of the patient's complete sociodemographic,
clinical and therapeutic information in electronic or conventional medical
records by health professionals.
Key-words: epidemiology,
nursing oncology, skin neoplasms.
Resumen
Heridas neoplásicas en pacientes con cáncer de mama
Objetivo: Trazar
el perfil sociodemográfico, clínico y terapéutico
de pacientes con heridas
neoplásicas, resultantes del cáncer
de mama. Métodos: Se trata de un estudio documental,
retrospectivo y descriptivo, con
abordaje cuantitativo, en el
que se utilizaron datos secundarios - sociodemográficos,
clínicos y terapéuticos - extraídos de prontuarios de pacientes con heridas neoplásicas, en el intervalo de enero de 2009 a diciembre de 2015. Resultados:
La muestra fue compuesta por 150 prontuarios, de
éstos, 147 eran mujeres (98,0%), con edad entre 20 a 59 años (66,0%),
casadas (41,3%), con enseñanza
fundamental incompleta (24), 0%), agricultoras (25,3%)
y jubiladas (24,7%). El tipo histológico carcinoma ductal
invasivo se sobresalió en
131 pacientes (87,3%), en que las
lesiones presentaban aspecto
de ulceración infiltrante
(30,7%), dolor (15,3%), sangrado (3,3%), (2,7%), exudado (9,3%) y signos de infección
(2,7%). En cuanto a la modalidad
terapéutica, 63 pacientes (42,0%) se sometieron a la mastectomía total, 102 (68,0%) realizaron
radioterapia y 125 (83,3%) quimioterapia. Conclusión: Se evidenció la
necesidad de implementar políticas públicas en cuanto a la
prevención del cáncer de mama, a fin de disminuir el riesgo
para enfermarse; educación en salud para estos
pacientes, con el fin de reducir las complicaciones locales y sistémicas; y crear estrategias efectivas para el registro de las informaciones sociodemográficas,
clínicas y terapéuticas completas del
paciente en prontuarios
electrónicos o convencionales por los
profesionales de salud.
Palabras-clave: epidemiología,
enfermería oncológica, neoplasias cutáneas.
O câncer de mama é o
tipo de neoplasia mais incidente e que causa maior mortalidade na população
feminina em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países
desenvolvidos, com uma incidência de 1,7 milhões de novos casos ou 11,9% de
todos os cânceres [1].
No Brasil, segundo o
Instituto Nacional do Câncer (INCA), a estimativa para o biênio 2016/2017
apontou que o câncer de mama foi o mais incidente na população feminina, com cerca de 58 mil casos novos com um risco estimado de 56,20
casos a cada 100 mil mulheres, reforçando a magnitude do problema no país. Para
estes mesmos anos, na região Nordeste, estimaram-se 11.190 casos novos de
câncer de mama com um risco de 38,74 casos a cada 100 mil mulheres e na
Paraíba, estimaram-se 800 casos novos de câncer de mama com risco de 39,50
casos a cada 100 mil mulheres [1].
O
câncer de mama é
considerado uma doença heterogênea com
relação à clínica, derivado de
variações
genéticas e morfológicas. A maioria desses tumores se
origina no epitélio ductal (cerca de 90%) e é conhecido como carcinoma ductal invasivo, contudo existem mais de 20 subtipos
diferentes da doença. Dessa forma, outros subtipos podem ser diagnosticados
como o lobular, tubular, mucinoso, medular, micropapilar, papilar, entre outros [1-2].
Vale salientar, que
uma das complicações do câncer de mama é o aparecimento de feridas neoplásicas
resultante da infiltração das células malignas do tumor nas estruturas da pele,
levando consequentemente à quebra da sua integridade, com posterior formação de
uma ferida evolutivamente exofítica, decorrente da
proliferação celular descontrolada que o processo de oncogênese provoca [3].
Embora não existam
dados que confirmem a incidência fidedigna de feridas neoplásicas decorrentes
do avanço do câncer, pode-se realizar uma estimativa sobre essa associação.
Diante disso, um estudo verificou que 5% a 10% dos pacientes com câncer desenvolvem
feridas neoplásicas, seja em decorrência do tumor primário ou de tumores
metastáticos, sobretudo nos últimos seis a 12 meses de vida [4].
Essas feridas quando
acometem a mama constituem mais um agravo na vida do paciente oncológico, pois,
progressivamente, tornam-se friáveis, dolorosas, exsudativas,
fétidas, podem desfigurar o corpo e provocar no paciente distúrbio da
autoimagem e desgaste psicológico, bem como sensação de desamparo, humilhação,
isolamento social e tristeza [5-6].
Diante dessas
circunstâncias, vale ressaltar que a equipe multiprofissional deve estar
empenhada em cuidar do paciente com câncer de mama que desenvolve ferida
neoplásica. Nessa conjuntura, o enfermeiro é um dos membros responsável em
avaliar o paciente e a lesão, bem como realizar os curativos adequados e
acompanhar o paciente até o desfecho (alta ou óbito). Diante disso, é
primordial que o enfermeiro tenha conhecimento sobre os produtos, substâncias,
coberturas e medicamentos específicos mais indicados para controle dos sinais e
sintomas, a realidade econômica do paciente e de seus familiares e da
instituição em que está hospitalizado para assim melhor intervir [7].
Nessa perspectiva, a
motivação pela temática surgiu a partir da escassez de estudos que contribuíssem
para melhorar a qualidade da assistência prestada, uma vez que pesquisas
científicas que abordam dados epidemiológicos, descritivos, clínicos e
terapêuticos de pacientes com feridas neoplásicas são incipientes no Brasil.
Na intenção de aprofundar
o conhecimento acerca da temática, emergiu a seguinte questão: Qual o perfil sociodemográfico, clínico e terapêutico de pacientes com
feridas neoplásicas decorrentes do câncer de mama que foram atendidos em um
hospital de referência na Paraíba? Esse questionamento representou o ponto de
partida para o desenvolvimento da pesquisa por considerar que há necessidade de
conhecer a clientela para a qual se presta diversas formas de cuidados e,
assim, direcionar o seu atendimento.
Diante disso, o objetivo
do estudo foi traçar o perfil sociodemográfico,
clínico e terapêutico de pacientes com feridas neoplásicas decorrentes do
câncer de mama.
Trata-se de um estudo
documental, retrospectivo e descritivo, com abordagem quantitativa, no qual
foram utilizados dados secundários extraídos de prontuários de pacientes com
câncer do Serviço de Arquivo Médico e Estatística de um hospital filantrópico
do município de Campina Grande, na Paraíba.
A coleta de dados foi
realizada durante o período de agosto de 2015 a abril de 2016, em que foram
analisados 8.360 prontuários de pacientes com câncer. Após a leitura destes,
foram identificados 150 prontuários que atendiam aos critérios de inclusão,
constituindo-se, assim, a amostra final do estudo, sendo esta do tipo
intencional.
Os critérios de
inclusão adotados para a amostra foram: prontuários de pacientes com idade
igual ou maior que 18 anos, que possuíssem o diagnóstico de câncer de mama,
independente da fase da doença, com presença de ferida neoplásica exofítica na mama, no espaço temporal de 2009 a 2015. Este
intervalo é justificado devido à primeira publicação do Manual para Cuidados de
Pacientes com Feridas Tumorais do Instituto Nacional do Câncer [3] ter datado
de 2007 e por isso, levou-se em consideração pelo menos um intervalo mínimo de
dois anos para que o manual apresentasse um alcance à rede de serviço público
do país. Como critério de exclusão, adotaram-se prontuários que apresentaram
preenchimento dos dados com letras ilegíveis ou em branco.
Para coleta de dados,
utilizou-se um roteiro estruturado adaptado do Manual do Instituto Nacional do
Câncer, [3] que aborda recomendações acerca do controle de sinais e sintomas de
feridas tumorais. Ao finalizar a coleta, os dados foram transferidos para o Microsoft Word, dispostos em tabelas, e em seguida foi
realizada a análise descritiva das variáveis do estudo.
A pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Alcides
Carneiro sob CAAE nº 42918715.1.0000.5182 e obedeceu às recomendações éticas
dispostas nas diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas envolvendo
seres humanos, estabelecidas na Resolução nº466/2012 do Conselho Nacional de
Saúde em vigor no país. Também foram respeitadas as observações éticas
presentes no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem – Resolução nº
311/2007 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), capítulo III, que trata das
responsabilidades, deveres e proibições referentes ao ensino, pesquisa e
produção técnico-científica.
Entre os anos de 2009
e 2015, 8.360 pessoas foram atendidas no hospital lócus da pesquisa para
diagnóstico e tratamento de câncer. A amostra final (n) foi composta por 150
prontuários de pessoas com câncer de mama que progrediram com feridas
neoplásicas. A Tabela I descreve os dados sociodemográficos,
em que se observou maior predominância de mulheres (98,0%) na faixa etária
entre 20 e 59 anos (66,0%), de cor parda (46,0%), casadas (41,3%), com prole de
um até três filhos (40,6%), ensino fundamental incompleto (24,0%), agricultoras
(25,3%) e aposentadas (24,7%). Abaixo, seguem os dados da Tabela I.
Tabela
I – Distribuição de prontuários de pessoas com
feridas neoplásicas na mama segundo as características sociodemográficas
dos pacientes. Campina Grande/PB, Brasil, 2016 (N = 150).
1Utilizou-se a parcimônia
científica na variável profissão, uma vez que houve uma estratificação de
múltiplas categorias profissionais, dentre elas: Auxiliar de escritório; Caixa;
Comerciante; Costureira; Funcionário Público; Manicure; Merendeira; Motorista;
Professora; Recepcionista; Técnica de enfermagem;Fonte:
Dados da pesquisa, 2016.
A Tabela II, logo
abaixo, dispõe sobre os dados clínicos da doença dos pacientes com feridas
neoplásicas. Ao analisá-la, constatou-se que o tipo histológico mais incidente
do câncer de mama foi o carcinoma ductal invasivo
correspondendo a 87,3% da amostra. No que se refere ao
tempo do diagnóstico, 83 (55,4%) prontuários informavam que o diagnóstico de
câncer de mama foi referenciado em menos de seis meses até o início do
tratamento. Em relação à extensão da doença, o tumor local se sobressaiu,
estando presente em 98 (65,3%) pacientes. Quanto às doenças associadas, 112
(74,7%) dos prontuários não possuíam essa informação, contudo, 22 (14,7%)
pessoas apresentaram apenas uma doença associada ao diagnóstico do câncer, em
que a hipertensão arterial sistêmica (HAS) se sobressaiu.
No tocante aos sinais
e sintomas, 82 (54,7%) prontuários não apresentaram esta informação, entretanto
49 (32,7%) pacientes apresentavam múltiplos sintomas em decorrência do câncer.
Ressalta-se que dentre os sinais e sintomas mais prevalentes neste estudo,
destacaram-se: náuseas, vômitos, diarreia, alopecia, astenia, disfagia,
descamação, constipação, edema e hiperemia. No que concerne à reincidência do
câncer, 107 (71,3%) prontuários não especificavam esse dado e 31 (20,7%)
pessoas não apresentaram recidiva do tumor. Outrossim,
quanto ao desfecho clínico, 141 (94,0%) prontuários não possuíam esse dado, no
entanto nove (6,0%) prontuários apresentavam registro de alta hospitalar.
Tabela
II –
Distribuição de prontuários de pessoas
com feridas neoplásicas na mama segundo as características clínicas da doença.
Campina Grande/PB, Brasil, 2016 (N = 150).
2Carcinoma Ductal
Cribiforme; Carcinoma pouco diferenciado; Carcinoma
Mamário Metastático; Carcinoma Papilar Invasivo; Carcinoma Nuclear; Xantogranuloma.
3Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS); Diabetes Mellitus (DM); Derrame Pleural; Herpes Labial.
4HAS + DM; Gastrite
Crônica + Talassemia; HAS + DM + Mioma; Esquizofrenia
+ Déficit Visual e Auditivo; Erisipele + Hérnia de Disco; Osteopatia
+ Esteatose Hepática + Hiperinsuflação
pulmonar.
5Dor em diversas partes do
corpo; Prurido.
6Náuseas + Vômitos + Diarreia;
Alopecia + Febre; Cefaleia + Tosse + Parestesia;
Astenia + Disfagia + Dispneia; Descamação + Constipação; Edema + Hiperemia.
Fonte: Dados da
pesquisa, 2016.
A Tabela III, que
segue logo abaixo, destaca o perfil clínico das feridas neoplásicas com ênfase
no aspecto da lesão e sinais e sintomas presentes. Ao analisá-la, percebe-se
que em relação ao aspecto clínico da lesão, 53 (35,4%) prontuários não
continham essa informação, contudo a ulceração infiltrante
estava presente em 46 (30,7%) pacientes com feridas neoplásicas. Quanto aos
sinais e sintomas, observa-se que a dor foi registrada em apenas 23 (15,3%)
prontuários, exsudato em 14 (9,3%), sangramento em
cinco (3,3%), odor e sinais de infecção, igualmente, em quatro (2,7%).
Tabela
III
– Distribuição de prontuários de pessoas
com feridas neoplásicas na mama segundo as características clínicas da lesão.
Campina Grande/PB, Brasil, 2016 (N = 150).
7Ulceração infiltrante
+ Vegetante; Nodular Profunda + Ulceração infiltrante;
Nodular superficial + Ulceração vegetante; Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
Ademais, a Tabela IV
destacada logo a seguir, exibe as modalidades terapêuticas utilizadas pelos
pacientes com feridas neoplásicas, segundo as variáveis: procedimento
cirúrgico, radioterapia, quimioterapia, tratamento medicamentoso para a dor e
produtos utilizados na ferida. Nela, percebe-se que 63 (50,7%) pacientes
realizaram mastectomia total, 90 (60,0%) pessoas se
submeteram a 21-30 sessões de radioterapia e 125 (83,3%) realizaram
quimioterapia. No que concerne ao tratamento medicamentoso para dor, havia
registro de medicamentos utilizados apenas em 23 prontuários, contudo 17
(73,9%) não especificava o medicamento, seguido de três (13,0%) que utilizavam opioides fortes, dois (8,7%), opioides
fracos e um (4,4%) analgésicos não-esteroidais.
Quanto aos produtos utilizados na ferida, 145 (96,7%) prontuários não continham
essa informação, entretanto observa-se que dois (1,3%) pacientes faziam uso de Sulfadiazina de prata, dois (1,3%) óleo de girassol e um
(0,7%) trofodermin.
Tabela
IV –
Distribuição de prontuários de pessoas
com feridas neoplásicas na mama segundo as modalidades terapêuticas utilizadas
durante a assistência. Campina Grande/PB, Brasil, 2016 (N = 150)
8Apenas 23 pacientes
relataram sentir dor, conforme tabela III; Fonte: Dados da pesquisa, 2016.
Analisando a tabela
I, observa-se que a maioria (98,0%) dos participantes da pesquisa é do sexo
feminino. Essa circunstância pode ser explicada pelo fato do gênero feminino
ser o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de mama. No
Brasil, excluindo-se os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o tipo
de neoplasia mais comum no sexo feminino em todas as regiões, exceto na região
Norte, na qual o câncer do colo do útero ocupa o primeiro lugar [1].
Postula-se que a
mulher tenha mais risco de desenvolver câncer de mama, devido à hipótese que os
hormônios estrógeno e progesterona possam contribuir para o processo de
desenvolvimento do câncer de mama, atuando como alimento para
aquela célula que se encontra alterada. Atualmente, cerca de 60% dos
casos de câncer de mama são estimulados pelos hormônios femininos,
principalmente o estrogênio; assim entre os fatores de risco para câncer de
mama estão: ser mulher e o processo de envelhecimento [8].
No que se concerne à
idade, evidenciou-se que houve prevalência de feridas neoplásicas decorrentes
do câncer de mama em mulheres com idade entre 20 e 59 anos (66,0%). Estudo
realizado com 12.689 mulheres com câncer de mama verificou que as mesmas
apresentavam uma idade média entre 18 e 39 anos, o que demonstra que o câncer
de mama está afetando cada vez mais mulheres jovens [9].
Em relação à raça, 69
(46,0%) dos pacientes eram pardos. No Brasil, em 2014, a maioria (53,6%) da
população se dizia parda; no Nordeste, a maioria (61,9%) das pessoas também se
autodenominou parda. Estudos genéticos realizados em habitantes de capitais
nordestinas têm confirmado a origem mestiça dessa população formada pela
miscigenação de europeus, africanos e índios [10].
A predominância da
raça parda do estudo (46,0%) diverge de um estudo que encontrou maior proporção
de casos de feridas em pessoas brancas (80,6%), porém a porcentagem da raça
caucasiana desta pesquisa (32,7%) confirma a proporcionalidade da raça/cor para
a população geral do Nordeste. Vale destacar que a variável raça/cor deste
estudo não é autodeclarada [11].
No que concerne ao
estado civil, 62 (41,3%) das mulheres com feridas neoplásicas eram casadas.
Esse dado é de grande relevância, uma vez que o companheiro tem papel
fundamental no ajustamento ao diagnóstico e tratamento da doença. Outrossim, a presença do companheiro minimiza o risco de o
paciente evoluir para quadros psíquicos, tais como ansiedade e depressão [6].
No quesito número de
filhos, 61 pacientes (40,6%) tinham entre um e três filhos. A contribuição dos
filhos para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar da pessoa com câncer
está relacionada a vários aspectos, dentre eles destacam-se os cuidados com a
higiene, alimentação específica, medicação, curativos, bem como manifestações
de amor, afeto e solidariedade. Nesse sentido, o suporte da família no cuidado
à pessoa com feridas neoplásicas contribui significativamente para o
desenvolvimento do bem-estar físico, emocional e social daquele que padece da
doença e da lesão [12].
De acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de filhos por
mulher diminuiu nos últimos 15 anos no Brasil, passando de 2,39 filhos/mulher
no ano 2000 para 1,72, entre 2000 e 2015. Associado à queda na taxa de
fecundidade, aumentou o percentual de mulheres sem filhos no país, fato que
pode explicar os achados do estudo em questão. Diante disso, observa-se que,
atualmente, as mulheres têm atrasado a maternidade e muitas optam por não ter
filhos ou engravidam tardiamente, o que leva a compreender que estes fatores
relacionados à vida reprodutiva da mulher também estão ligados ao risco de
desenvolver esse tipo de neoplasia, uma vez que fatores como nuliparidade e primigestação
tardia (após os 30 anos de idade) contribuem para aumento no risco do câncer de
mama, haja vista que a amamentação em idade menor que 35 anos se associa a um
menor risco de desenvolvimento de câncer de mama [1,13].
No que se refere ao
item escolaridade, 40 (26,7%) prontuários não possuíam essa informação, porém
em 36 (24,0%) havia a informação de que os participantes possuíam ensino
fundamental incompleto. Pesquisa realizada com pacientes acometidos por feridas
neoplásicas do Hospital do Câncer de Pernambuco revelou que a maior parte da
amostra (47,1%) possuía o ensino fundamental incompleto. Possivelmente, o menor
grau de instrução influencie diretamente na progressão da doença e da lesão,
uma vez que a pessoa pode possuir uma percepção reduzida do processo de
saúde-doença e consequentemente, demorar a procurar atendimento médico para
fins de diagnóstico e tratamento da doença, dificultando o acesso a
terapêuticas mais avançadas, que poderiam elevar as chances de cura [14].
Em relação à
profissão, pode-se constatar que, neste estudo, 53 (35,4%) dos prontuários não
especificavam a profissão dos participantes da pesquisa e 38 (25,3%) pacientes
eram agricultores. Ademais, no que concerne à ocupação, percebeu-se que a maioria
(64,0%) dos prontuários não continha essa informação, contudo 37 (24,7%) dos
pacientes eram aposentados.
Ao analisar a Tabela
II, verifica-se que em relação ao tipo histológico mais incidente do câncer de
mama, o carcinoma ductal invasivo sobressaiu em 131
(87,3%) pacientes. Esse fato pode ocorrer devido à maioria (cerca de 80%) dos
tumores de mama se originar no epitélio ductal [1].
Estudo realizado com
mulheres diagnosticadas com câncer de mama e tratadas nas unidades hospitalares
de câncer do INCA e da Fundação Oncocentro de São
Paulo (FOSP) apontaram que dos 12.689 casos analisados, 10.832 (90,7%) foram
diagnosticadas com carcinoma ductal invasivo,
corroborando os achados do presente estudo [9].
No que se refere ao tempo do diagnóstico, 83 (55,4%) prontuários
informavam que o diagnóstico de câncer de mama foi obtido em menos de seis
meses até o início do tratamento. Esse dado provavelmente se deve à procura
rápida de ajuda médica pelos pacientes, uma vez que a Lei n° 12.732/2012 garante
ao paciente com doença oncológica, o direito ao início do tratamento em um
período igual ou inferior a 60 dias após confirmado o
diagnóstico, bem como pelo fato do acesso a exames no Sistema Único de Saúde
(SUS), assim como tratamento da doença ter sido ampliado gradativamente. No
Nordeste, o principal aumento foi na faixa prioritária, ampliando em cinco
vezes o número de mamografias realizadas, passando de 124 mil para 629.517. No
geral, o número de exames saltou de 261.341 para 401.421 [15-16].
Em relação à extensão
da doença, o tumor local se sobressaiu, estando presente em 98 (65,3%)
pacientes. Possivelmente, essa dimensão do tumor esteja relacionada com o
início precoce do tratamento do câncer.
Quanto às doenças
associadas, 112 (74,7%) prontuários não possuíam essa informação, contudo 22
(14,7%) pacientes apresentaram uma doença associada ao diagnóstico do câncer,
em que a HAS foi à comorbidade que se sobressaiu
nesses pacientes. É imperioso destacar que a presença de comorbidades
pode ser explicada pelo fato do câncer ser uma doença que compromete e debilita
o paciente das mais variadas formas. Autores afirmam que a HAS é a comorbidade mais frequentemente registrada em pacientes com
câncer e sua incidência aumenta com o tratamento quimioterápico, principalmente
com a utilização de inibidores de angiogênese (IA). O
mecanismo de ação dos IA em induzir HA não é
completamente compreendido, mas pode estar diretamente relacionado à inibição
da sinalização via tirosina quinase e dos fatores de
crescimento endotelial vascular, em que essa inibição prejudica a vasodilatação
[17].
No tocante aos sinais
e sintomas, 82 (54,7%) prontuários não apresentaram esta informação, entretanto
49 (32,7%) pacientes apresentavam múltiplos sintomas em decorrência do câncer.
Habitualmente, os sinais e sintomas do câncer estão relacionados à localização
e ao tipo de tumor. A dor, náuseas e vômitos são relacionados à quimioterapia e
são sintomas considerados desagradáveis pelos pacientes, bem como são
determinantes na queda da qualidade de vida relacionada ao tratamento. Estudo
realizado com 79 mulheres com câncer de mama verificou que 93% apresentaram
náuseas e 87%, vômitos, pelo menos uma vez durante o tratamento [18].
No que concerne à
reincidência do câncer, 107 (71,3%) prontuários não especificavam esse dado e
31 (20,7%) pessoas não apresentaram recidiva do tumor. Além disso, quanto ao
desfecho clínico, 141 (94,0%) prontuários não possuíam esse dado, no entanto
nove (6,0%) prontuários apresentavam registro de alta hospitalar.
Neste contexto, um
estudo realizado com 460 mulheres diagnosticadas com câncer de mama, atendidas
em um hospital referência em oncologia, na cidade de Goiânia/GO, verificou que
213 (46,3%) não apresentaram recidiva do tumor, 132 (28,7%) mulheres possuíam
recidivas e 115 (25,0%) prontuários não apresentavam informações sobre esse
dado, estando em consonância com o estudo em tela [19].
Ao verificar a Tabela
III, constata-se que em relação ao aspecto clínico da lesão, 53 (35,4%)
prontuários não continham essa informação, contudo a ulceração infiltrante estava presente em 46 (30,7%) participantes com
feridas neoplásicas.
Do ponto de vista
clínico, as lesões neoplásicas podem ser classificadas em nodulares, ulceradas
e vegetantes. As nodulares caracterizam-se por serem recobertas de mucosa
normal e podem ser benignas ou malignas; as ulceradas são divididas em
superficial, quando se situam paralelamente ao epitélio e infiltrante,
quando invadem os tecidos subjacentes; e as vegetantes se caracterizam pela
exteriorização e são denominadas exofíticas [3,14].
Quanto aos sinais e
sintomas, observa-se que a dor foi registrada em apenas 23 (15,3%) prontuários,
sem detalhamento da intensidade e características do episódio álgico. De acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor pode ser avaliada em vários
aspectos. No que tange à intensidade, pode ser classificada em leve, moderada e
intensa. Para atribuir valores a estes aspectos qualitativos, a OMS lançou mão
de várias escalas, a fim de mensurar e atribuir um valor a dor verbalizada pelo
paciente. Uma das escalas mais utilizadas é a numérica, em que a pontuação de 0
a 3 é considerada “dor leve”, 4 a 7, “dor moderada” e 8 a 10, “dor intensa”
[20].
Estudo realizado com
62 pacientes com câncer de mama avançado em um Hospital de São Paulo revelou
que, dentre os sinais e sintomas mais frequentes, a dor se sobressaiu de forma
significativa em 20 (32,2%) participantes, corroborando a pesquisa [11].
Em relação ao odor,
dos 150 prontuários analisados, 146 (97,3%) não possuíam esta informação,
apenas quatro (2,7%) apresentavam esse registro, contudo não havia a
classificação deste sintoma. O odor é um sintoma constante no dia a dia do
paciente com ferida neoplásica em estágio avançado da doença, tornando-se uma
preocupação frequente e angustiante não só para o paciente, mas também para
seus familiares e cuidadores, uma vez que pode provocar isolamento social,
depressão, vergonha, constrangimento e falta de apetite, o que gera impacto
negativo em sua qualidade de vida [5].
No que tange ao
sangramento, observou-se que 145 (96,7%) prontuários não apresentavam esse
registro e somente cinco (3,3%) continham essa informação, e não havia a
classificação desse sinal. É importante enfatizar que o sangramento pode
ocorrer durante a realização do curativo ou espontaneamente e que além das
causas supracitadas pode ser ocasionado devido aos distúrbios de coagulação
relacionados à doença ou ao tratamento. Além disso, a proliferação de células
cancerígenas pode causar erosão de vasos sanguíneos adjacentes, ocasionando
sangramento, que pode levar o paciente a óbito [11].
No que concerne ao
exsudato, 136 (90,7%) prontuários não possuíam este dado. Observou-se que
apenas 14 (9,3%) apresentaram esse registro, mas não havia informações acerca
da quantidade. A presença de exsudato no leito da lesão é comum durante o
processo inflamatório, porém níveis excessivos podem ter efeitos prejudiciais.
Nas feridas neoplásicas, o exsudato resulta de processos inflamatórios e
infecciosos decorrentes da liquefação do tecido necrótico e consequente
ativação das proteases pelas bactérias que colonizam a lesão, bem como pelo
fato do tumor ser hiperpermeável ao fibrinogênio e
plasma [5,11].
Ademais, em relação à
infecção, 146 (97,3%) prontuários não especificavam este registro, sendo
identificado apenas em quatro (2,7%) prontuários, contudo não houve registros
de informações específicas sobre esse sinal. Os episódios infecciosos,
geralmente, estão relacionados à redução da resposta imunológica, a
proliferação de microrganismos anaeróbios e tecido desvitalizado na ferida
neoplásica, que podem ser verificados pela presença de sinais sistêmicos e
locais como: febre, aumento do odor, da dor, da exsudação, da mudança de
coloração do leito da ferida dentre outros [5,11,14].
Por fim, ao examinar
a Tabela IV, percebe-se que em relação ao procedimento cirúrgico, 63 (42,0%)
pacientes realizaram mastectomia total, com o
objetivo de reduzir a incidência e melhorar a expectativa de vida de mulheres
pertencentes a populações consideradas de alto risco. A cirurgia visa à
retirada total da glândula mamária e é realizada de acordo com o quadro de cada
paciente e em algumas pacientes pode ocorrer esvaziamento de nódulos linfáticos
axilares. Geralmente, esse procedimento cirúrgico é quase sempre inevitável em
fases avançadas da doença [21].
Estudo realizado com
mulheres mastectomizadas verificou que este
procedimento acarreta uma série de consequências de ordem física e emocional
que impactam na qualidade de vida, provocando alterações nas suas relações
familiares e sociais, bem como florescer sentimentos de impotência e de
frustração [21].
No quesito
radioterapia, dos 150 prontuários analisados, observou-se que 102 (68,0%)
pacientes realizaram esse tipo de tratamento, destes, 90 (43,1%) se submeteram
a 21 - 30 sessões. A radioterapia constitui-se em uma modalidade terapêutica em
que é aplicada uma dose pré-calculada de radiação por
um determinado tempo a um volume de tecido que engloba o tumor, buscando
erradicar todas as células tumorais com o menor dano possível às células
normais circunvizinhas. Com este método de tratamento, pretende-se à
erradicação do tumor, melhorar a autoestima e sobrevida do paciente [22].
No tocante à
quimioterapia, em 125 (83,3%) prontuários havia registros de uso de
quimioterápicos. A quimioterapia consiste na utilização de medicamentos
administrados continuamente ou com intervalos que variam de acordo com esquemas
terapêuticos; atua de forma sistêmica e agem indiscriminadamente nas células
(normais ou cancerosas), e pode ser utilizada isoladamente ou em combinação com
outras modalidades de tratamento [23].
A radioterapia e
quimioterapia são modalidades terapêuticas paliativas, que melhoram o controle
dos sinais e sintomas decorrentes da ferida neoplásica, como dor, exsudato e
sangramento, bem como reduzem o tumor [14].
Quanto ao tratamento
medicamentoso para a dor, apenas 23 (15,3%) dos 150 prontuários possuíam a
informação que o paciente utilizava medicamentos para esse sintoma, todavia 17
(73,9%) não especificavam o medicamento utilizado, seguido de três (13,0)
pacientes que faziam uso de opioides fortes, dois
(8,7%) de opioides fracos e um (4,4%) de anti-inflamatórios
não esteroidais (AINES).
A OMS criou um método
específico de classificação da dor e de medicamentos que devem ser utilizados
de acordo com sua intensidade, com a finalidade de orientar os profissionais de
saúde na condução correta do alívio deste sintoma. A Escada Analgésica da OMS
padroniza o tratamento analgésico da dor baseado em uma escada de quatro
degraus conforme a intensidade de dor que o paciente apresenta e verbaliza. É
imperioso destacar que ao analisar os dados da pesquisa, ficou explícito que a
dor sentida pelos pacientes não é tratada conforme sua intensidade, uma vez que
em nenhum prontuário havia o registro da intensidade da dor e os medicamentos
correspondentes. Infere-se, dessa forma, que a dor não é avaliada corretamente
e a condução terapêutica é subvalorizada pelos profissionais de saúde [20].
No que diz respeito
aos produtos utilizados nas feridas, em 145 (96,7%) prontuários, esta
informação não estava especificada. Apenas cinco prontuários possuíam registros
sobre os produtos utilizados nas lesões. Ao considerar esses dados, percebeu-se
que dois (1,3%) pacientes faziam uso de sulfadiazina
de prata, dois (1,3%) de óleo de girassol e um (0,7%) de trofodermin.
A sulfadiazina
de prata é recomendada nos casos de persistência do prurido, quando se observa
áreas de hiperemia ao redor da ferida associada à pápulas esbranquiçadas, bem
como nos casos de odor grau I [3].
O óleo de girassol é
um produto originado de óleos vegetais poli-insaturados, composto fundamentalmente
de ácidos graxos essenciais (AGEs)
que não são produzidos pelo organismo, tais como: ácido linoleico, ácido caprílico, ácido cáprico,
vitamina A, E e lecitina de soja. Os AGEs são necessários para manter a
integridade da pele e a barreira de água, cujo objetivo é promover quimiotaxia
e angiogênese, manter o meio úmido e acelerar o
processo de granulação tecidual, sendo indicado na prevenção e tratamento de
dermatites, lesões por pressão, venosa e neurotrófica,
bem como no tratamento de úlceras abertas com ou sem infecção [3].
Ressalta-se que não
existem estudos que recomendam ou contraindicam a utilização deste produto nas
feridas neoplásicas, porém é indispensável questionar-se sobre o uso de
produtos cicatrizantes, que induzem a divisão celular para fins de reparação
tecidual, uma vez que a recidiva do tumor pode ser consequência de uma única
célula alterada.
Estudo realizado com
mulheres acometidas por feridas malignas mamárias avançadas evidenciou que a sulfadiazina de prata e o AGE foram utilizados, porém em
menor quantidade. Outro estudo mencionou a utilização de sulfadiazina
de prata (22,5%) seguida de AGE (16,1%) nas lesões de mama de 62 mulheres com
câncer de mama avançado [11,14].
É oportuno ressaltar
que os cuidados das lesões neoplásicas seguem os mesmos preceitos do curativo
ideal, todavia as feridas neoplásicas possuem características peculiares que
devem ser prontamente avaliadas e tratadas, levando sempre em consideração
curativo confortável, funcional e estético.
O estudo em tela
possibilitou traçar o perfil sociodemográfico,
clínico e terapêutico de pacientes com feridas neoplásicas decorrentes do
câncer de mama atendidos em um hospital referência da Paraíba, sendo um estudo
relevante, pois agrega conhecimento sobre a realidade de pessoas que convivem
com feridas neoplásicas, seus aspectos epidemiológicos e o manejo clínico
destas lesões.
Como limitação deste
estudo, destacou-se a escassez de produções científicas nesta área, bem como a
fragilidade dos registros de enfermagem, sobretudo no que se refere à avaliação
e manejo clínico das feridas neoplásicas decorrente do câncer de mama,
impedindo uma análise mais ampla da assistência prestada, visto que o registro
contempla informações subjetivas e objetivas do paciente, constituindo-se como
um dos mais importantes indicadores da qualidade da assistência prestada.
Nessa perspectiva, ao
concluir este estudo, observou-se a necessidade de inserir, efetivamente,
educação permanente nos serviços de saúde para que sejam implementados
espaços de discussão com os profissionais sobre a importância e qualidade dos
registros em prontuários, uma vez que estas informações facilitam a comunicação
entre os membros da equipe multiprofissional; fornecem dados para a elaboração
de planos de cuidados; auxilia no acompanhamento da evolução do paciente;
constitui um documento legal, de caráter sigiloso e científico; facilita
auditoria; bem como contribui para dados epidemiológicos, ensino e pesquisa na
área de saúde; e ofertar educação em saúde aos pacientes, visando reduzir danos
locais e sistêmicos.
Vale salientar ainda
a necessidade de melhorias de políticas públicas no quesito acessibilidade aos
exames de imagens das mamas, implementação de projetos
educativos e informativos sobre o autoexame e de treinamento de profissionais
voltados aos programas de rastreamento de câncer de mama, com vistas a
incentivar a prevenção dessa doença.
Nesse ínterim,
sugere-se que a Comissão de Pele da instituição construa e implemente
um protocolo para avaliação e tratamento de feridas neoplásicas, em forma de check list, validado por
expertises na área, a fim de facilitar e padronizar ações e registros de
enfermagem.
Espera-se que este
estudo possa contribuir para a comunidade científica e assistencial,
enriquecendo o banco de dados, e desperte o interesse para o desenvolvimento de
novos estudos neste âmbito, pois dessa forma será possível conhecer a clientela
atendida com maior propriedade e identificar se os cuidados prestados, nos
diferentes contextos, estão sendo satisfatórios diante destas pessoas que
sofrem com lesões oncológicas.