ARTIGO
ORIGINAL
Contribuições
da integração ensino-serviço-comunidade para a formação e transformação de
práticas na saúde do idoso
Iara Sescon Nogueira, M.Sc.*, Rayane Nascimbeni Maldonado**,
Célia Maria Gomes Labegalini, M.Sc.***,
André Estevam Jaques, D.Sc.****, Ligia Carreira, D.Sc.*****, Vanessa Denardi Antoniassi Baldissera, D.Sc.*****
*Enfermeira,
Doutoranda em Enfermagem do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da
Universidade Estadual de Maringá, **Enfermeira, Especialista em Enfermagem Perioperatória, Mestranda em Enfermagem da Universidade
Estadual de Londrina, ***Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem do Programa de
Pós-graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá,
****Enfermeiro, docente do Departamento de Enfermagem e Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá,
*****Enfermeira, docente do Departamento de Enfermagem e Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá
Recebido em 24 de
janeiro de 2018; aceito em 30 de março de 2019.
Endereço
para correspondência:
Iara Sescon Nogueira, Rua Hélio Jarreta, 54 Vila
Bosque, 87005-030 Maringá PR, E-mail: iara_nogueira@hotmail.com; Rayane Nascimbeni Maldonado:
rayane_nascimbeni@hotmail.com; Célia Maria Gomes Labegalini:
celia-labegalini-@hotmail.com; André Estevam Jaques:
andre.jaques@hotmail.com; Ligia Carreira: ligiacarreira@hotmail.com; Vanessa Denardi Antoniassi Baldissera: vanessadenardi@hotmail.com
Resumo
Introdução: A integração
ensino-serviço-comunidade pode transformar as práticas profissionais e a
própria organização do trabalho, aprimorando a formação acadêmica e melhorando
a qualidade de vida da população. Objetivo:
Analisar as contribuições da integração ensino-serviço-comunidade para o
processo de formação de acadêmicos de enfermagem e reorganização de práticas na
saúde do idoso. Métodos: Estudo
qualitativo e descritivo, realizado no período de março a abril de 2015 em um
município do estado do Paraná, com nove integrantes de um projeto de extensão
universitária em enfermagem. Os dados foram obtidos por meio da aplicação de um
questionário semiestruturado utilizando a ferramenta Google Forms®, submetidos à Análise de
Conteúdo de Bardin. Utilizou-se como referencial
teórico-analítico a Educação Permanente em Saúde. Resultados: Emergiram três categorias temáticas: “A integração
ensino-serviço-comunidade qualifica os futuros profissionais de saúde”, “A
integração ensino-serviço-comunidade qualifica o cuidado em saúde” e “A
integração ensino-serviço-comunidade possibilita associação de conhecimentos
teóricos e práticos”. Conclusão: Compreendeu-se a importância da integração
ensino-serviço-comunidade para a formação acadêmica e profissional,
transformando as práticas na saúde do idoso.
Palavras-chave: saúde do idoso,
educação superior, serviços de saúde, educação em enfermagem, serviços de
integração docente-assistencial.
Abstract
Contributions
of the teaching-service-community integration for the formation and
transformation of practices in the health of elderly
Introduction:
The teaching-service-community integration can transform professional practices
and the organization of work itself, improving academic training and improving
the quality of life of the population. Objective:
To analyze the contributions of the teaching-service-community integration to
the process of training of nursing students and reorganization of practices in
the health of the elderly. Methods: A
qualitative and descriptive study, carried out from March to April 2015 in a
municipality in the state of Paraná, with nine members of a university
extension project in nursing. The data were obtained through the application of
a semi-structured questionnaire using the Google Forms® tool and submitted to
the Bardin Content Analysis. Results:
Three themes emerged: "Teaching-service-community integration qualifies
future health professionals", "The teaching-service-community integration
qualifies health care "And" Teaching-service-community integration
enables the association of theoretical and practical knowledge ". Conclusion: It was understood the
importance of teaching-service-community integration for academic and
professional education, transforming practices into the health of the elderly.
Key-words: elderly
health, education, higher, health services, education, nursing, teaching care
integration services.
Resumen
Contribuciones de la integración enseñanza-servicio-comunidad para la formación y transformación
de prácticas en la salud de la persona mayor
Introducción: La integración enseñanza-servicio-comunidad puede
transformar las prácticas profesionales y la propia organización del trabajo, mejorando
la formación académica y mejorando la calidad
de vida de la población. Objetivo: Analizar
las contribuciones de la integración enseñanza-servicio-comunidad para el
proceso de formación de
académicos de enfermería y reorganización
de prácticas en la salud de la
persona mayor. Métodos:
Estudio cualitativo y descriptivo, realizado en el período de marzo a abril de
2015 en un municipio del estado de Paraná, con nueve integrantes de un proyecto de extensión universitaria en enfermería. Los datos se obtuvieron mediante la aplicación de un cuestionario semiestructurado utilizando la herramienta Google Forms®, sometidos al Análisis
de Contenidos de Bardin. Resultados: Emergieron
tres categorías temáticas:
“La integración educativa-servicio-comunidad califica a los futuros profesionales de la salud", "La integración enseñanza-servicio-comunidad
califica el cuidado en salud” y "La integración enseñanza-servicio-comunidad
posibilita asociación de conocimientos teóricos y prácticos".
Conclusión:
Se comprendió la importancia de la integración enseñanza-servicio-comunidad
para la formación académica
y profesional, transformando las
prácticas en la salud del
adulto mayor.
Palabras-clave: salud
del anciano, educación superior, servicios de salud, educación en enfermería, servicios de integración docente asistencial.
O distanciamento entre
o ensino e a realidade dos serviços de saúde é apontado como uma das
explicações para a crise do setor saúde no Brasil [1] e
também foco de constante indagação a respeito da urgente necessidade de mudança
na formação dos profissionais para que se atendam às necessidades de saúde da
população [2].
O Sistema Único de
Saúde (SUS) deve ordenar a formação de recursos humanos, incrementar a área de
atuação dos profissionais e promover o desenvolvimento científico, tecnológico
e a inovação, por meio da gestão em saúde que também deve definir os serviços
públicos que integram o SUS como campo de prática para o ensino e para a
pesquisa com o intuito de melhorar a qualidade da assistência prestada [3-4].
Dessa forma, diversas
políticas públicas foram implantadas pelo Ministério da Saúde com a finalidade
de melhorar a formação dos profissionais e integrar o ensino aos serviços de
saúde em todas as complexidades do SUS, sobretudo na Atenção Primária à Saúde
(APS) [5]. Estas trouxeram avanços relacionados à formação dos recursos humanos
e a integração entre ensino, serviço e comunidade, porém ainda distante do
esperado e necessário [1,5].
De tal modo, a fim de
romper com essa lacuna, ações que promovem a integração
ensino-serviço-comunidade são necessárias, pois essa parceria pautada no
trabalho coletivo, pactuado e integrado de estudantes e docentes dos cursos de
formação na área da saúde com trabalhadores que compõem as equipes dos serviços
de saúde, junto aos usuários dos serviços, pode levar a transformação das
práticas profissionais e da própria organização do trabalho, aprimorando a
formação acadêmica [6].
A articulação ensino-serviço-comunidade
se dá permeada pela Educação Permanente em Saúde (EPS), em que os processos de
educação ocorrem na problematização do processo de trabalho, unindo as
necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores, contribuindo para
uma aprendizagem significativa e na possibilidade de transformação das
práticas, melhorando a saúde e a qualidade de vida da população [7]. Nesse
sentido, a integração se torna um cenário real de compartilhamento de vivências
entre discentes, docentes, profissionais, gestores e comunidade [8-9].
Considerando esse
contexto e demanda, um projeto de extensão universitária em enfermagem na
atenção ao idoso foi idealizado e vem sendo desenvolvido na perspectiva da
integração ensino-serviço-comunidade. Resta saber, entretanto, em qual medida
essa parceria produz saberes e novos fazeres. Nesse sentido, a presente
pesquisa objetivou analisar as contribuições da integração
ensino-serviço-comunidade para o processo de formação de acadêmicos de
enfermagem e reorganização de práticas na saúde do idoso.
Esta pesquisa
caracterizou-se como estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado no
período de março a abril de 2015, tendo como público-alvo 20 integrantes do
projeto de extensão universitária intitulado: “Assistência domiciliar de
Enfermagem às famílias de idosos dependentes de cuidado (ADEFI)” vinculado a
uma universidade pública de ensino, localizada em um município do Norte Central
do Estado do Paraná.
O ADEFI vem sendo realizado
desde agosto de 2014, por meio de integração ensino-serviço-comunidade, em uma
Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada no mesmo município em questão, cujo
foco é ofertar assistência domiciliar de enfermagem a 116 idosos residentes em
uma área que não possui equipe de referência da Estratégia Saúde da Família
(ESF). Para tal, os idosos foram caracterizados e estratificados por meio de
aplicação de instrumentos específicos e a partir disso foram aplicadas
estratégias de enfermagem, como visitas domiciliares, consultas de enfermagem,
atividades educativas e grupos operativos.
Após a participação
efetiva dos integrantes do projeto ao longo dos meses, os mesmos foram
questionados a respeito do que pensam sobre o fato de desenvolverem ações em
conjunto com o serviço de saúde/comunidade.
Os critérios de
inclusão para participação na pesquisa foram: estar participando efetivamente
do projeto em questão e pactuar sua participação livre e autônoma. Não houve
critérios de exclusão.
Dessa forma, foram
convidados para participar do estudo todos os 20 integrantes do projeto, entre
acadêmicos, profissionais de saúde e docentes, por meio de contato pelo
endereço eletrônico, para responderem um questionário. Atendendo aos critérios
de inclusão, participaram do estudo nove integrantes, sendo oito vinculados ao
ensino e um ao serviço. Os outros 11 integrantes do projeto não concordaram em
participar do estudo e/ou não responderam o questionário.
O levantamento de dados
se deu por meio da aplicação de um questionário semiestruturado, desenvolvido
pelos pesquisadores e disponibilizado em ambiente virtual, utilizando a
ferramenta Google Forms®,
ficando as respostas arquivadas nessa mesma ferramenta e disponível aos
docentes pesquisadores.
O instrumento foi
composto por 13 questões, sendo 10 discursivas e três objetivas, almejando
identificar a percepção dos participantes sobre a integração
ensino-serviço-comunidade e suas possíveis contribuições para o processo de
formação e reorganização de práticas em saúde, além de questões para
caracterização dos sujeitos da pesquisa (ocupação, sexo e idade),
respectivamente.
Os dados das questões
discursivas foram submetidos à Análise de Conteúdo do tipo temática,
referindo-se a unidade de análise às contribuições da
integração ensino-serviço-comunidade para a formação de acadêmicos de
enfermagem e reorganização das práticas na saúde do idoso. A mesma seguiu as
três etapas do método: na primeira, denominada de pré-análise,
foi realizada a organização das respostas na ferramenta virtual e a leitura
exaustiva das mesmas, seguindo para a etapa de exploração do material. Nesse
momento, as respostas semelhantes foram aglutinadas e codificadas, seguindo
para a última etapa, na qual as pré-categorias dos resultados foram
interpretadas e sistematicamente categorizadas compondo as categorias
temáticas, de acordo com os significados atribuídos, exaustividade,
homogeneidade, exclusividade e fidedignidade dos achados [10].
As questões objetivas
voltadas para a caracterização dos participantes, devido a seu caráter
complementar, foram analisadas por estatística descritiva simples, por meio de
soma de números absolutos e cálculo de média, organizadas na própria ferramenta
virtual.
Este estudo teve como
referencial teórico-analítico a EPS [7], visto que não é possível referir-se à
interface entre ensino, serviço e comunidade sem remeter-se à EPS, já que a
mesma possibilita o desenvolvimento dos trabalhadores da área da saúde e também
das instituições, ao promover a transformação por meio da análise crítica de
problemas, de acordo com seu contexto, reforçando a relação das ações de
formação com a gestão dos serviços [7].
O anonimato das
respostas foi garantido, bem como todos os demais preceitos éticos orientados
pela Resolução nº466/2012 do Conselho Nacional de Saúde [11]. As respostas dos
participantes foram identificadas com a letra P, referindo-se ao termo
“participante”, seguidas de números arábicos correspondente à ordem de
resposta. A pesquisa fazia parte de um estudo mais abrangente cujo projeto foi
submetido à apreciação ética pelo Comitê Permanente de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos da Universidade Estadual do município referido, obtendo parecer
favorável nº 875.081/2014.
Compuseram o estudo
quatro acadêmicas de graduação do Curso de Enfermagem, quatro alunas do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e uma docente. Todos os nove
participantes eram do sexo feminino com idades variando de 19 a 54 anos, média
de 27,6 anos.
A partir da análise dos
dados emergiram as seguintes categorias temáticas: “A integração
ensino-serviço-comunidade qualifica os futuros profissionais de saúde”, “A
integração ensino-serviço-comunidade qualifica o cuidado em saúde” e “A
integração ensino-serviço-comunidade possibilita associação de conhecimentos
teóricos e práticos”, as quais estão apresentadas a seguir:
A
integração ensino-serviço-comunidade qualifica os futuros profissionais de
saúde
Os integrantes evidenciaram
a qualificação profissional como resultado da integração
ensino-serviço-comunidade, a partir do projeto de extensão, transformando suas
práticas assistenciais e formando futuros profissionais de saúde, mais
preparados e engajados para atuarem na APS e na atenção ao idoso, conforme as
falas a seguir:
“Foi
possível vivenciar situações em que a graduação em si não proporciona, nos
preparando assim para uma melhor formação profissional”. (P1)
“A
integração é fundamental para formar profissionais mais comprometidos e
preparados para atuar na rede de atenção ao idoso”. (P4)
“Percebo
que os enfermeiros, principalmente, começaram a aplicar novos conceitos na sua
prática e compreender que o planejamento é fundamental para o serviço a nível
local. Também tiveram que se apropriar de conhecimentos relacionados às
necessidades da pessoa idosa”. (P3)
“Acredito
que a união da academia, gestão municipal e UBS é muito enriquecedora para a
formação de profissionais que atuarão, posteriormente, nesse serviço”. (P8)
A integração
ensino-serviço-comunidade tem impacto positivo na formação acadêmica, pois ela
impulsiona a aprendizagem autêntica e faz com que o aluno desenvolva autonomia
e atue com interdisciplinaridade [6,12], além de possibilitar a vivência de
fatos apresentados durante as aulas teóricas da graduação, proporcionando contato
com os usuários, suas famílias e uma equipe de saúde multiprofissional.
A inserção do acadêmico
no serviço de saúde permite que o mesmo vivencie a prática profissional [13],
desvelando experiências reais que até então eram conhecidas apenas por
conteúdos teóricos dentro das salas de aula, oportunizando aprendizados
fundamentais e fortalecendo o processo de ensino-aprendizagem do aluno, como
evidenciou-se no presente estudo.
Dessa forma, pode-se
inferir que a parceria entre ensino, serviço e comunidade promove a
transformação das práticas tradicionais de ensino, as quais são normalmente
diretivas, coercivas e acríticas. A partir desta integração, as práticas
tradicionais tornam-se participativas e reflexivas, favorecendo a formação de
sujeitos capazes de identificar, planejar e intervir sobre os reais problemas
de saúde. Outros estudos pontuam que as atividades desenvolvidas no serviço de
saúde público pelos acadêmicos de enfermagem permitem a formação de um
profissional crítico, competente e humanizado [9,12,14,19], o que também foi
evidenciado em nossos resultados.
Diversas atividades do
projeto foram realizadas baseando-se na teoria da problematização para o
processo de ensino-aprendizagem. Foi adotado como referencial os princípios propostos
por Paulo Freire, cuja ação de problematizar acontece a partir da realidade que
cerca o sujeito [15]. Tais fundamentos privilegiaram a troca de experiências,
saberes e conhecimentos entre os envolvidos (acadêmicos, docentes e
profissionais do serviço de saúde), considerando o indivíduo com sua história,
saberes e vivências individuais e coletivas em um contexto social
compartilhado. Neste sentido, todos os envolvidos são detentores de um saber e
no instante que a relação dialógica e educativa é estabelecida, os
conhecimentos tornam-se convergentes, buscando a mudança individual e coletiva,
resultando na transformação da realidade de forma criativa e crítica [15].
A proposta da EPS é
coerente com os propósitos da integração ensino-serviço-comunidade ao refletir
sobre a formação e o desenvolvimento profissional, os quais envolvem diversos
saberes e ocorrem no cotidiano das pessoas e das organizações, resultando no
desenvolvimento da capacidade de aprender e de ensinar de todos os atores envolvidos,
determinando a qualificação profissional, por meio da efetividade da formação
dos estudantes e também da educação permanente dos profissionais [7,12].
A
integração ensino-serviço-comunidade qualifica o cuidado em saúde
No que se refere à
integração ensino-serviço-comunidade, os participantes relataram que, por meio
da integração, houve o aprimoramento do cuidado em saúde, ao auxiliar o
planejamento das ações de saúde e consequentemente produzir serviço de
qualidade, melhorando o cuidado prestado e a saúde da população idosa,
influenciando inclusive, no plano local de saúde do município:
“Com
os resultados obtidos ficou mais fácil para a unidade criar ações que englobam
essa população e assim, fornecer um serviço de
qualidade para a comunidade”. (P2)
“Acredito
que compreender como funciona a dinâmica dos serviços de saúde e suas demandas
é muito importante para nós da academia, pois assim não produzimos conhecimento
apenas por produzir, produzimos para fazer alguma diferença para a população”.
(P6)
“Além
de aproximar os alunos da realidade vivenciada pelos profissionais de saúde,
ajuda o serviço planejar melhor as ações de saúde, melhorando seu atendimento”.
(P7)
“Acredito
que os dados estão influenciando no planejamento local de saúde”. (P8)
Destaca-se que a
experiência acadêmica nos serviços de saúde deve ser utilizada para
aprendizagem e também para a reflexão sobre a produção
de cuidados, o que reforça a importância desta parceria pelo fato de contribuir
para o ensino e, consequentemente, melhorar a qualidade do atendimento de saúde
qualificando a APS [6]. Assim, os participantes tiveram a oportunidade de
protagonizar o processo de implementação das práticas de saúde no que envolve a
atenção ao idoso.
A participação dos
integrantes do projeto de extensão no planejamento do serviço possibilitou a
academia exercer o seu papel social de agente propulsor de mudanças, efetivando
também o seu compromisso com a comunidade de tentar transformar o ensino em uma
prática justa e democrática, estabelecendo pactos de responsabilização e
participação coletiva, engajadas com a necessidade da população [9].
Nesse sentido, a
integração ensino-serviço-comunidade contribuiu para o atendimento em saúde
prestado à população idosa, ao promover a troca de informações entre discentes
e profissionais de saúde, colaborando para a melhoria da assistência. Por um
lado, o ensino detém uma visão crítica da literatura e dos procedimentos, e de
outro, o serviço possui a visão ampliada da assistência [9], o que contribui
para o planejamento das ações de saúde e, consequentemente, redefine as
práticas de saúde aos idosos.
Além disso, o acadêmico
se torna capaz de identificar as necessidades da comunidade, propor ações em
saúde voltadas para estas necessidades previamente identificadas, considerando
as possibilidades do serviço de saúde [6,12]. Desenvolve sua capacidade de
identificação de problemas de saúde existentes e de planejamento de ações em
saúde condizentes com as reais possibilidades do serviço, tornando esta
parceria benéfica tanto para o aluno, o qual precisa desenvolver suas
capacidades com as condições reais do ambiente de trabalho [13] quanto para o
serviço, que desenvolve ações voltadas às necessidades de sua comunidade,
contribuindo para a melhoria do cuidado e atendimento prestado.
Apesar dos avanços na
relação ensino-serviço-comunidade, é comum entre os acadêmicos e docentes uma
postura de desconexão com o serviço de saúde, onde as atividades práticas são
realizadas [16], o que prejudica o ensino-aprendizagem e a assistência em
saúde. Isto ocorre pelo fato da UBS, enquanto serviço da APS, não ser observada
com interconexão necessária ao processo ensino-aprendizagem e por conta do
profissional do serviço, o qual muitas vezes é resistente ou se nega a
participar do processo de formação dos acadêmicos [16].
Neste sentido, em nosso
estudo, a colaboração e participação dos acadêmicos, docentes e profissionais
foram fatores importantes e imprescindíveis para o sucesso das atividades, as
quais resultaram em integração ensino-serviço-comunidade, contribuindo de forma
significativa para a formação acadêmica dos participantes deste projeto e,
principalmente, para a melhoria da qualidade da assistência em saúde prestada a
população idosa.
O distanciamento por
parte dos profissionais foi notado apenas em relação à participação na
pesquisa. Porém, nas atividades desenvolvidas pelo projeto, foram receptivos,
participativos e colaboradores, facilitando o diagnóstico das necessidades da
população, planejamento, execução e implantação das diversas atividades que,
consequentemente, impactaram positivamente no aprimoramento do cuidado em
saúde.
No que diz respeito à
EPS, permitiu a desfragmentação e integralidade do cuidado, a busca de soluções
criativas para os problemas encontrados, o desenvolvimento do trabalho em
equipe, a melhoria permanente da qualidade do cuidado à saúde e a humanização
do atendimento [7]. Além disso, permitiu a atualização e/ou conhecimento
técnico-científico dos profissionais e dos participantes do projeto em um
movimento em que todos se beneficiam (estudante, profissional e comunidade)
[8,12,17].
A EPS transforma as
práticas e os profissionais, pois estes passam a desenvolver o conhecimento com
base na resolução dos problemas do cotidiano e estabelecem compromisso social e
profissional com metas de saúde [7]. Neste sentido, ocorre a desfragmentação
das práticas em saúde e reafirma uma assistência humanista baseada na
integralidade do cuidado [18], reestruturando as práticas e os serviços de
saúde, necessários para a transformação da formação dos profissionais de saúde.
Assim, a aproximação
efetiva entre ensino e serviço de saúde (discentes, docentes e profissionais da
assistência à saúde) possibilitou a articulação entre o saber e o fazer [8],
permitindo o aprendizado e a melhoria do serviço de saúde, tendo em vista que
esta parceria permite a prestação de uma assistência à saúde diferenciada, na
qual há presença de professores supervisionando os alunos e o atendimento é
baseado nas reais necessidades da população, as quais são definidas a partir da
realização de pesquisas [9].
A
integração ensino-serviço-comunidade possibilita associação de conhecimentos
teóricos e práticos
Segundo os
participantes, a integração ensino-serviço-comunidade permitiu a associação de
conhecimentos teórico e práticos na atenção ao idoso e possibilitou ao
participante aplicar o conhecimento adquirido durante sua formação, tornando
indissociável a teoria da prática:
“Vivências
entre acadêmicos, trabalhadores e população agregam valores que livros e
conceitos de sala de aula não alcançam”. (P2)
“Aliar
a teoria e a prática ajuda muito na formação dos novos profissionais, além
disso, a teoria tem mais valia quando colocada em prática”. (P3)
“Um
projeto desenvolvido em conjunto possibilita ao acadêmico aplicar a teoria em
prática de forma mais realista, tendo em vista que se verifica as necessidades
reais da população”. (P4)
“Utilizar
escalas, índices e ferramentas de gestão permitiu visualizar a implementação de
conhecimentos teóricos e sua aplicabilidade na prática”. (P5)
“Você
percebe que toda a bagagem teórica que você tem e teve até o momento, de nada
valeria se não tivesse a prática, e vice-versa. Na verdade, um complementa o
outro”. (P8)
As asserções acima
destacadas tornaram possível analisar que os integrantes do projeto de extensão
universitária fazem uso de critérios teóricos para dar suporte aos cuidados de
enfermagem prestados aos idosos, mas que no entanto,
sua aplicabilidade na prática permitiu validar o conhecimento adquirido dentro
de salas de aula.
Os participantes
revelaram que a integração ensino-serviço-comunidade auxilia no processo de
formação em enfermagem, pois associa o aprendizado teórico à atividade prática,
ressaltando a rotina da UBS, considerando a sua realidade e princípios, e
permitindo promover uma assistência baseada na realidade vivenciada (tanto
serviço ofertado quanto as necessidades dos usuários), alcançando com isso,
melhores resultados nas intervenções realizadas com os idosos e adquirindo
experiências em situações nas quais o aluno irá futuramente exercer seu papel
como profissional.
A integração entre
ensino junto ao serviço tem sido objeto de estudo em diversos estudos [2,6,8-9,13-14,16,19],
sendo considerado um dispositivo desencadeador de mudanças, mediante a
aproximação entre aprendizagem e prática profissional [6]. A inserção de
acadêmicos e docentes nos serviços fortalecem os conhecimentos norteadores das
políticas de saúde e EPS, propiciam a realização de um maior número de
atividades educativas e discussões entre docentes e trabalhadores, além de
envolver a participação dos profissionais do serviço no planejamento e execução
das estratégias pedagógicas na prática [19]. Dessa forma, a integração
ensino-serviço-comunidade contribui para estreitar a distância entre teoria e
prática, intensificando a atuação dos envolvidos como agentes de mudanças e
redefinindo as práticas em saúde.
A troca de informações
entre ensino e serviço proporcionada pela EPS, permite ao acadêmico a
desfragmentação de sua formação, possibilitando a aplicação dos conteúdos
teóricos na prática, representando o encontro entre a saúde e educação. Nesta
perspectiva, o processo de trabalho é o eixo central da aprendizagem e por meio
da utilização de metodologias ativas de aprendizagem é possível realizar a
problematização da realidade [20]. Neste sentido, o acadêmico pode aplicar seu
conhecimento técnico-científico na prática por meio da problematização, além
disso, é estimulado aprimorar e a adaptar seu conhecimento técnico-científico à
prática em saúde baseada em cada indivíduo e sua respectiva realidade.
Sobre as exigências do
Ministério da Educação para o funcionamento de cursos de enfermagem no que diz
respeito à integração ensino-serviço-comunidade, ainda se busca uma
reformulação e maior inserção nos currículos acadêmicos, sendo disponíveis
atividades promotoras de integração durante a formação acadêmica, como o
estágio curricular supervisionado, o Programa de Educação pelo Trabalho para
Saúde (PET-Saúde), o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional
em Saúde (Pró-Saúde), além de projetos de extensão [21], como é o caso da
presente pesquisa.
Destaca-se como
limitações do estudo a ausência da participação dos profissionais do serviço
que, indiscutivelmente, acrescentaria novas perspectivas e olhares para a
integração ensino-serviço-comunidade. Sugere-se a realização de novos estudos
que abordem a temática em questão e que desvelem a perspectiva do serviço e também da comunidade, também implicados na integração
ensino-serviço-comunidade.
Os participantes
relataram a importância da integração ensino-serviço-comunidade para a formação
acadêmica e profissional, sendo apontada como colaboradora no processo de
qualificação do cuidado em saúde e na consequente transformação das práticas de
saúde na atenção ao idoso.
Observamos que a
parceria ensino-serviço-comunidade permitiu, por meio da pesquisa, a identificação
das necessidades de saúde da população idosa, contribuindo para a elaboração de
ações em saúde voltadas para as reais necessidades, considerando as
possibilidades do serviço, associando teoria à prática.
Portanto, integração
ensino-serviço-comunidade foi considerada um meio de aprendizagem tanto para
acadêmicos quanto para os profissionais, concretizando a EPS, na medida em que
contribuiu para a melhoria da qualidade da assistência balizada pelas trocas de
saberes e fazeres em saúde.