ARTIGO
ORIGINAL
Síndrome
de Burnout em bombeiros militares
Raiane Jordan da Silva
Araújo*, Maria Rafaela de Araújo Moraes**, Janaína Paula Calheiros Pereira
Sobral, M.Sc.***, Larissa de Carvalho Santa Rita Seabra, M.Sc.****
*Enfermeira
Especialista em Saúde Mental, Universidade Federal de Alagoas, **Enfermeira,
Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, ***Enfermeira Mestra em
Enfermagem, Universidade Federal de Alagoas, ****Odontóloga, Ciências da Saúde,
Professora da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Recebido 24 de
janeiro de 2018; aceito em 10 de janeiro de 2019.
Endereço
para correspondência:
Raiane Jordan da Silva Araújo, Av. Lourival Melo
Mota, s/n, Tabuleiro do Martins, Hospital Universitário Professor Alberto
Antunes, 57072-900 Maceió AL, E-mail: raianejsa@hotmail.com; Maria Rafaela de
Araújo Moraes: rafaelamoraes990@hotmail.com; Janaína Paula Calheiros Pereira
Sobral: nainacalheiros2@gmail.com; Larissa de Carvalho Santa Rita Seabra: larissa@seabras.net
Pesquisa baseada na
monografia de Raiane Jordan da Silva Araújo e Maria
Rafaela de Araújo Moraes, intitulada: Prevalência de Síndrome de Burnout em um Grupamento de Resgate do Corpo de Bombeiros,
para conclusão do curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Estadual
de Ciências da Saúde de Alagoas, apresentada em Maceió, 2013.
Resumo
Este estudo teve como
objetivo identificar a presença da Síndrome de Burnout
em bombeiros militares. Trata-se de pesquisa transversal com abordagem quantitativa.
Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário com dados sociais e o
Inventário Maslach de Burnout,
no qual foram analisadas, por frequência simples, as três dimensões da
síndrome: Despersonalização, Exaustão Emocional e Realização Pessoal. Estas
foram correlacionadas à idade, sexo, tempo de serviço no Grupamento de Socorros
de Emergência, horas semanais trabalhadas e realização de atividade física.
Participaram da pesquisa 80 profissionais do Corpo de Bombeiros de Alagoas. Foi
identificada a Síndrome de Burnout em 21,2% dos
bombeiros, predominando 47,5% com grau médio de Despersonalização, 40% com grau
médio de Exaustão Emocional e 67,5% com baixo nível de Realização Pessoal. Em
geral, não houve relação significante entre a prevalência de Burnout e as variáveis pré-estabelecidas. Conclui-se que há
necessidade de implementação de ações voltadas à saúde
mental para essa categoria profissional e realização de mais estudos acerca do
tema com esse público.
Palavras-chave: esgotamento
profissional, bombeiros, doenças profissionais, saúde mental.
Abstract
Burnout Syndrome in military firefighters
This study aimed to identify the presence of Burnout Syndrome in
military firefighters. This is cross-sectional research with a quantitative
approach. For data collection, a questionnaire was used with social data and
the Maslach Burnout Inventory, in which the three
dimensions of the syndrome were analyzed by simple frequency:
Depersonalization, Emotional Exhaustion and Personal Realization. These were correlated
to age, sex, length of service in the Emergency Relief Group, weekly hours worked and physical activity. Eighty professionals
from the Fire Department of Alagoas participated in
the study. We identified Burnout Syndrome in 21.2% of firefighters, predominating
47.5% with mean Depersonalization degree, 40% with average degree of Emotional
Exhaustion and 67.5% with low Personal Achievement level. In general, there was
no significant relationship between the prevalence of Burnout and the
pre-established variables. We concluded that there is a need to implement
mental health actions for this professional category and to carry out further
studies about the subject with this public.
Key-words: burnout
professional, firefighters, occupational diseases, mental health.
Resumen
Síndrome de Burnout
en los bomberos
militares
Este estudio tuvo como objetivo
identificar la presencia del Síndrome de Burnout en bomberos militares. Se trata de una investigación
transversal con enfoque cuantitativo.
Para la recolección
de datos, se utilizó un cuestionario con datos sociales
y el Inventario Maslach de Burnout, en el
cual fueron analizadas, por frecuencia simple, las tres
dimensiones del síndrome: Despersonalización,
Extracción Emocional y Realización
Personal. Estas fueron
correlacionadas a la edad, sexo, tiempo de servicio en el
Grupamento de Socorros de Emergencia, horas semanales trabajadas y realización de actividad física. Participaron de la
encuesta 80 profesionales del Cuerpo de Bomberos
de Alagoas. Se identificó el Síndrome de Burnout en el 21,2% de los bomberos, predominando el 47,5% con grado medio de Despersonalización, 40% con grado medio de Extracción Emocional y 67,5% con
bajo nivel de Realización Personal. En general, no hubo relación significativa entre
la prevalencia
de Burnout y las variables preestablecidas. Se concluye que hay necesidad de implementación de acciones dirigidas a la
salud mental para esa categoría profesional y realización de más estudios
acerca del tema con ese público.
Palabras-clave: agotamiento
profesional, bomberos, enfermedades profesionales, salud mental.
O adoecimento mental
oriundo do trabalho tornou-se um assunto de saúde pública discutido a nível
nacional e internacional, em diferentes categorias profissionais [1,2]. Tal
discussão envolve o estilo de vida adotado pela população na atualidade, com
jornadas de trabalho prolongadas [3], carga horária
excessiva, múltiplas atividades laborais e cobranças cada vez mais frequentes,
o que resulta em desafio para a manutenção da saúde do trabalhador [4].
Soma-se a isso o
aumento das exigências no mundo do trabalho, fazendo com que o ser humano se
torne mais propenso a desenvolver doenças advindas do esforço empregado para
realizar suas tarefas [5]. Esses fatores acarretam em sintomas como fadiga,
esgotamento físico e mental, podendo provocar consequências negativas no
cuidado prestado aos clientes e à comunidade [3,6,7].
A lógica trabalhista,
que muitas vezes está fundamentada no capitalismo, gera o desgaste físico e
mental do trabalhador e pode resultar no surgimento de doenças ocupacionais,
especialmente a Síndrome de Burnout (SB) [4]. Essa
doença ocupacional foi definida, internacionalmente, por Maslach
e Jackson (1981) como um fenômeno multidimensional estruturado em três
dimensões: Exaustão Emocional (EE), na qual há a sensação de esgotamento
emocional; Despersonalização (DE), em que ocorre uma percepção insensível ou
desumanizada com relação aos outros; e Realização Pessoal (RP), em que aparecem
sentimentos de incompetência, insatisfação e negatividade [1,8-10,17,18].
A SB é um fenômeno
individual específico, resultante do contexto laboral [8], que interfere no
processo saúde-doença dos trabalhadores [11]. Considerada, atualmente, como uma
doença ocupacional que surgiu na década de 1970 [1], com repercussão não só na
saúde do profissional, mas também no contexto organizacional, produz efeitos
negativos para os clientes e colegas [6]. Por trazer inúmeras consequências
negativas na vida do trabalhador, deve ser, se
possível, prevenida ou, no mais tardar, tratada [5].
A avaliação da SB
pode ser feita por meio de diferentes instrumentos de medida, porém a maior
utilização é do Maslach Burnout
Inventory (MBI) [6,11], o qual foi bastante aceito
não só na América do Norte como também em outros países [8], pela facilidade de
aplicação e interpretação de resultados quantitativos.
Entre os fatores que
corroboram o desenvolvimento da SB, algumas características podem não
necessariamente desencadear a síndrome, mas talvez facilitar ou inibir a ação
de agentes estressores [5], entre elas, destacam-se: as variáveis ocupacionais
[3,6,12], estresse relacionado à organização do
trabalho [13] e as variáveis individuais [5,6,14]. Essas podem atuar tanto na
gênese da síndrome quanto nos agentes moduladores ou na consequência da mesma
[6], uma vez que as variáveis laborais encontram correlações significativas
entre a síndrome e características do ambiente no qual o trabalho ocorre,
repertórios demandados pela atividade, características da atividade e
consequências da tarefa [6].
Vale ressaltar que o
adoecimento mental relacionado ao trabalho também resulta em impacto negativo
na qualidade de vida. As contradições entre o contexto geral de vida e o
cotidiano laboral revelam uma fragmentação do ser, uma vez que há dificuldades
e até impossibilidade de ser a mesma pessoa saudável dentro e fora do trabalho
[4].
Neste sentido, o
desenvolvimento da SB é entendido como um processo que ocorre aos poucos, pelo
acúmulo gradativo de situações de estresse [9]. Esta doença ocupacional ocorre
com maior frequência em indivíduos que exercem atividades profissionais com
pessoas [10], especialmente em profissionais que atuam no atendimento
pré-hospitalar, por poder apresentar, além de estresse, desespero, tristeza,
exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal, relacionados
ao processo e aos ambientes de trabalho [15].
Os profissionais
bombeiros militares lidam com riscos biológicos e
psicossociais [5], desempenhando atividades em salvaguarda e defesa de vidas e
bens em situações emergenciais e contingenciais, com enfrentamento de situações
cotidianas em que a categoria se encontra exposta também à carga de trabalho
[16]. Além disso, trabalham com a incerteza do que lhe será exigido em cada
ação que desempenham e o efeito do trabalho. Sob essas condições, permanece
ainda como uma inferência, uma suposição do quanto isso afeta a saúde deles
[16], uma vez que, no Brasil, ainda são poucos os estudos que investigam a SB
nesta categoria profissional [1].
Com isso, torna-se
evidente a necessidade de novos estudos [7] com profissionais para averiguar a
ocorrência deste quadro patológico e para compreender as três etapas do
processo, antes da instalação da patologia, durante a manifestação da doença e
após a sua recuperação [13], uma vez que o reconhecimento desse problema e das
suas variáveis possibilita o planejamento de formas adequadas de enfrentamento
[9].
Assim, o presente
estudo teve como objetivos: identificar a presença da SB, caracterizando as
suas dimensões, em um grupo de profissionais bombeiros brasileiros que atuavam
diretamente no atendimento pré-hospitalar, bem como verificar a associação
entre a ocorrência da SB e as variáveis sociodemográficas
e laborais.
Trata-se de estudo
exploratório, descritivo, com delineamento transversal e abordagem
quantitativa, realizado no Grupamento de Socorros de Emergência do Corpo de
Bombeiros Militar de Alagoas (GSE/CBMAL), sendo um órgão público de caráter
militar.
A amostra
populacional foi não-probabilística por conveniência.
Foi, então, constituída por todos os profissionais bombeiros com cargos de
soldado, cabo ou sargento, que no período da coleta de dados estavam lotados e
ativos no GSE/CBMAL, que atuavam diretamente no atendimento pré-hospitalar,
excluindo-se os profissionais que desempenhavam suas atividades no setor
administrativo e as outras patentes da instituição por não atuarem com a mesma
frequência que os bombeiros que atuavam no atendimento pré-hospitalar. Assim,
havia um efetivo de 80 militares que desempenhava atividades no atendimento
pré-hospitalar e que entraram nos critérios de inclusão, dos quais todos
participaram voluntariamente da pesquisa.
Após aprovação do
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNCISAL, em 2011, com o número de registro
1646/2010, e após autorização por escrito do Comandante do CBMAL, foi então iniciada a coleta de
dados.
Os sujeitos foram
convidados a participar da pesquisa e informados quanto aos objetivos, o livre
arbítrio para a participação, o tempo médio de preenchimento do questionário,
os materiais que seriam utilizados para a coleta dos dados, o sigilo e a
preservação das informações obtidas, sendo posteriormente solicitada a
assinatura, em duas vias, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE),
o qual continha os objetivos do estudo, os riscos e benefícios com a
participação, a justificativa e a importância dos instrumentos utilizados, bem
como a divulgação do resultado para os participantes, a garantia do sigilo e o
compromisso com o caráter confidencial dos dados.
A coleta de dados foi
realizada pelos pesquisadores em um período de 3
meses, iniciada em setembro de 2011, na concentração de um desfile
institucional e seguindo a escala de trabalho, conforme disponibilidade dos
sujeitos da pesquisa, com finalização em dezembro de 2011.
Como instrumento de
coleta de dados, utilizou-se dois questionários autoaplicáveis, sendo o
primeiro composto de questões semiestruturadas relacionadas ao perfil sociolaboral e, logo após, o questionário do Inventário Maslach de Burnout (MBI), criado
por Maslach e Jackson, e adaptado por Lautert [17,18].
Tratando-se de “um
questionário de auto informe para ser respondido através de uma escala do tipo Likert de 5 pontos, indo de ‘1’
como ‘nunca’ a ‘5’ como ‘todos os dias’. De seus 22 itens, 9 são relativos à
dimensão EE, 5 à DE e 8 à RP. Considera-se em Burnout
uma pessoa que revele altas pontuações em EE e DE, associada a baixos valores
em RP” [18].
Os dados obtidos por
meio da coleta foram agrupados no programa Epi Info.
Em seguida, tabulados utilizando o Microsoft Excel,
versão 2010, analisados com estatística descritiva mediante frequência simples
e inferencial com SPSS 18.0 (Statistical Package for Social Sciences),
foram realizadas análises percentuais, utilizando o teste do qui-quadrado e frequências, assumindo a significância
estatística quando p ≤ 0,05. Ademais, optou-se por analisar as variáveis sociolaborais e as três dimensões da SB: EE, DE e RP.
Para uma melhor
compreensão e visualização dos resultados, os mesmos serão apresentados em
quatro partes: perfil demográfico e ocupacional, presença da SB, grau de risco
para desenvolver uma ou mais das dimensões da SB e associação entre SB e as
variáveis analisadas.
Por ter sido
utilizado um questionário autoaplicável, alguns sujeitos optaram por não
responder determinados itens relacionados aos dados sociodemográficos
e laborais, por isso foram desconsideradas as respostas em branco.
A Tabela I apresenta
o perfil sociolaboral dos profissionais do GSE/CBMAL
que desempenham atividades diretamente no atendimento pré-hospitalar.
Observou-se o predomínio de participantes do sexo masculino (59,5%) e idade
inferior a 30 anos (63,9%).
Quanto ao cargo
ocupado, 56 eram soldados (73,7%). Verificou-se que a maioria dos sujeitos
possuía tempo de serviço acima de 36 meses (88%). Quanto à carga horária de
trabalho, 48 sujeitos (77,3%) trabalhavam acima de 40 horas semanais.
Tabela
I - Perfil Sociolaboral
dos Bombeiros do Grupamento de Socorros e Emergência do Corpo de Bombeiros de
Alagoas que desempenham atividades diretamente no atendimento pré-hospitalar.
Maceió/AL, 2011.
Fonte: Dados da
própria pesquisa; *Grupamento de Socorros de Emergência;As respostas em branco foram
desconsideradas.
A Tabela II apresenta
a presença de SB em profissionais que atuam diretamente no atendimento
pré-hospitalar do GSE/CBMAL, a qual foi identificada em 17 bombeiros (21,2%).
Tabela
II -
Presença de Síndrome de Burnout em bombeiros que atuam diretamente no atendimento
pré-hospitalar do GSE/CBMAL. Maceió/AL, 2011.
Fonte: Dados da
própria pesquisa.
Na Tabela III,
mostram-se as dimensões da SB, considerando o grau de risco para a sua presença
em profissionais do GSE/CBMAL.
Identificou-se que 32
participantes (40%) apresentaram médio risco para a dimensão EE. Quanto à
dimensão DE, 38 profissionais (47,5%) apresentaram grau de médio risco,
considerando, em seguida, o grau alto risco com 36 bombeiros (45%). Na última
dimensão analisada, houve o predomínio de 54 bombeiros (67,5%) com grau baixo
de RP.
Tabela
III
- Dimensões da Síndrome de Burnout e nível de risco em Bombeiros que atuam diretamente
no atendimento pré-hospitalar do GSE/CBMAL. Maceió/AL, 2011.
Fonte: Dados da
própria pesquisa.
A Tabela IV mostra a
associação entre SB nos Bombeiros atuantes em atendimento pré-hospitalar do
GSE/CBMAL, com idade, sexo, tempo de serviço e horas semanais trabalhadas.
Observou-se que não
houve significância estatística (p>0,05) na associação referente à presença
de SB.
Tabela
IV -
Associação da SB nos Bombeiros atuantes
em atendimento pré-hospitalar do GSE do CBMAL, com sexo, idade, tempo de
serviço e horas semanais trabalhadas. Maceió/AL, 2011.
Fonte: Dados da
própria pesquisa; As respostas em branco foram desconsideradas.
A descrição da
caracterização social foi semelhante a outros estudos realizados com esta
categoria profissional que evidenciaram a predominância do sexo masculino nas
instituições militares no Brasil [1,19,20]. Em outros
estudos, constatou-se, semelhantemente a esta pesquisa, faixa etária acima de
30 anos [1,19].
Em relação aos dados
laborais, observou-se uma semelhança com outros estudos
realizados em Minas Gerais (MG), nos quais também foi
encontrado um maior quantitativo de participantes com o cargo de soldado, o que
pode estar relacionado aos princípios hierárquicos das instituições militares
que limita em sua base um maior número de profissionais com esta patente
ocupacional [1,19].
Com relação ao tempo
de serviço, estudos corroboram os achados, nesta investigação, quando apontam
um tempo acima 3 anos de serviço [1,19]. Tal resultado
sugere as peculiaridades referentes à contratação, no sentido de que o ingresso
destes profissionais é realizado por meio de concurso público, não existindo,
frequentemente, a abertura de editais para seleção no Brasil.
Em relação à presença
da SB no GSE/CBMAL, pode-se afirmar que foi fortemente identificada no atual
estudo devido à associação entre médio risco da EE, DE e baixo risco da RP.
Sendo dessemelhante em uma investigação realizada em MG, em 2010, com a mesma
categoria profissional, na qual não foi identificada a presença desta síndrome
[5].
Outro estudo
realizado, em 2016, no Estado do Rio Grande do Sul, igualmente com bombeiros,
identificou altos níveis de SB em uma frequência menor que 3% [1]. Este dado muito
se distancia se comparado aos resultados desta pesquisa. Tal consideração pode
ser justificada pela diferença no instrumento de avaliação utilizado e ainda
pelo público que, embora tenha sido da mesma categoria profissional, não foi
selecionado por setores específicos de atuação, enquanto que, neste estudo,
foram selecionados apenas os que atuavam no atendimento pré-hospitalar.
Ao analisar as
dimensões da SB, houve predominância do grau médio risco tanto para EE quanto
para DE e baixo risco para RP. Neste sentido, vale destacar que os resultados
exibem que os sujeitos desta pesquisa, mesmo apresentando satisfação no
desenvolvimento de suas atividades laborais, vivenciam riscos consideráveis de
adoecimento por SB, o que indica a necessidade de realização de ações de
promoção à saúde e prevenção desta doença ocupacional.
Estes dados foram
semelhantes a um estudo realizado no Paraguai com sujeitos de categoria
profissional diferente. Tal pesquisa, ao utilizar o MBI, evidenciou prevalência
de níveis altos de EE mesmo diante de níveis baixos na dimensão RP [21]. Em
outro estudo realizado com policiais no Brasil, os resultados apontaram para a
não presença da SB, mesmo com a identificação de níveis altos de EE, sendo
justificado que, no desenvolvimento de suas atividades laborais, os indivíduos
sofriam de forma singular as intensidades e possuíam diferentes percepções
[22].
Outra investigação
correlacionou a SB com a Depressão e evidenciou que quanto maior o nível de EE
e de DE maior será a sintomatologia depressiva; e
quanto menor a RP (inversamente proporcional), maior a sintomatologia
depressiva [23].
Neste estudo, não foi
encontrada relação significativa entre sexo, idade e SB, tendo resultado
similar ao estudo realizado no Chile com profissionais da saúde [24]. Pesquisas
encontraram resultados díspares quanto à relação entre o tempo de serviço e o
surgimento da SB, evidenciando que o tempo de serviço prediz o surgimento da SB
[20], assim como a quantidade de horas trabalhadas também está associada ao
desenvolvimento da SB [25], enquanto que nesta pesquisa não foram encontrados
valores de p significativos para afirmar estas relações.
A limitação deste
estudo pode estar relacionada à utilização de apenas um instrumento de avaliação
da SB quantitativo (elaborado a nível internacional), assim como a
especificação da amostra escolhida, pois a presença da SB pode variar conforme
a natureza do trabalho, cultura e país em que o trabalhador está inserido [1].
Por meio desta
pesquisa, foi possível compreender que a relação de trabalho entre o
profissional bombeiro, a organização militar e a comunidade exercem impactos
positivos e negativos na saúde desse trabalhador, que pode resultar em riscos
não só biológicos e físicos, como também, e principalmente, de comprometimento
da sua saúde mental.
Pode-se afirmar que,
no ano de 2011, houve ocorrência da SB em 21,2% dos profissionais que atuavam
no atendimento pré-hospitalar do GSE/CBMAL, sendo caracterizado também risco acentuado
para predisposição da mesma, evidenciado pelos graus médios de EE e DE e pelo
baixo grau de RP.
De forma geral, esta
investigação apresenta contribuições importantes quanto à compreensão do mundo
e do cotidiano de trabalho do bombeiro, uma vez que desempenham atividades no
atendimento pré-hospitalar que podem favorecer o risco de adoecimento psíquico,
especificamente a SB.
Mesmo que os dados
apresentados não forneçam significância estatística quanto à associação entre
as variáveis sociodemográficas e laborais e a
ocorrência de Burnout, faz-se necessário a
divulgação, com o intuito de incentivar os pesquisadores interessados na área à
realização de mais pesquisas nesta temática em outras regiões do Brasil,
considerando ainda uma abordagem metodológica diferenciada, objetivando
analisar de forma mais detalhada esta correlação.
Destaca-se que os
resultados obtidos, embora os dados tenham sido coletados no ano de 2011, ainda
se tornam relevantes, visto que os participantes desta pesquisa são servidores
públicos de caráter efetivo na instituição, o que sugere que muitos possuem
situação ativa em suas atividades laborais até os dias atuais. Tal consideração
faz despertar, ainda, a curiosidade e necessidade de uma nova investigação com a
mesma população, o que permitiria avaliar a evolução dos resultados
inicialmente encontrados neste estudo.
Sendo
assim, as
contribuições estão relacionadas à
evidência da necessidade de planejamento,
elaboração e implantação de
estratégias de prevenção e enfrentamento da SB,
que
podem ser estendidas a todos os profissionais bombeiros que atuam nesta
instituição, e ainda à implantação
de ações voltadas à saúde mental dessa
categoria profissional em qualquer local de atuação, a
fim de prevenir o estresse
ocupacional, melhorando as condições de trabalho e,
consequentemente,
qualificando a assistência prestada à
população.