RELATO
DE EXPERIÊNCIA
Prevenção
e cuidados frente às complicações mamárias relacionadas à amamentação na
atenção primária à saúde
Ana Kelly da Silva
Oliveira*, July Grassiely de Oliveira Branco, M.Sc.**, Francisca Bertilia Chaves Costa, M.Sc.***,
Maria Solange Nogueira dos Santos, M.Sc.****,
Francisca de Fátima dos Santos Freire, M.Sc.*****
*Discente
do Curso de bacharelado em Enfermagem da Faculdade Princesa do Oeste (FPO),
Crateús/CE, **Enfermeira, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva da Universidade de Fortaleza. Bolsista FUNCAP, ***Enfermeira,
Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade de
Fortaleza, ****Enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Geral de
Fortaleza, *****Enfermeira, Doutoranda em Ciências da Saúde pela Faculdade
Médica do ABC, Docente da Faculdade Princesa do Oeste, Crateús/CE
Recebido em 25 de
janeiro de 2018; aceito em 30 de janeiro de 2019.
Endereço
para correspondência:
Ana Kelly da Silva Oliveira, Rua João Gregório Timbo,
1616, 62200-000 Universidade, Novas Russas CE, E-mail: kellybbn@hotmail.com;
July Grassiely de Oliveira Branco: julybranco.upa@gmail.com;
Francisca Bertilia Chaves Costa:
bertilia_chaves@hotmail.com; Maria Solange Nogueira dos Santos:
solange.nog@hotmail.com, Francisca de Fátima dos Santos
Freire: stelfreire@hotmail.com
Resumo
Objetivo: Descrever a
experiência de ações educativas relacionadas a
prevenção e cuidados frente as complicações mamárias referentes ao processo de
amamentação. Métodos: Trata-se de um
estudo descritivo, de natureza qualitativa, relato de experiência, a partir da
vivência da estratégia de educação em saúde com puérperas acompanhadas pela
Estratégia Saúde da Família localizada em um município do Ceará, que oferece
campo de estágio para um curso de graduação em Enfermagem. A experiência
ocorreu durante estágio curricular do Supervisionado I, 9° período do curso de
Enfermagem, nos meses de agosto a outubro de 2017. Resultados: Durante os três meses de estágio, as puérperas foram
avaliadas e orientadas na consulta de enfermagem e em atividades de educação em
saúde, sendo possível fornecer orientações acerca do aleitamento materno e suas
possíveis complicações. Conclusão:
Para que se tenha sucesso no que tange a amamentação, faz-se necessário o empoderamento da mulher, bem como um adequado manejo das
complicações. Neste sentido o enfermeiro deve facilitar o desenvolvimento das
habilidades maternas, por intermédio de orientações, bem como acompanhar e
incentivar essas mulheres a participarem de grupos e apoio fornecidos pela
Estratégia Saúde da Família desde a gestação.
Palavras-chave: aleitamento
materno, cuidados de enfermagem, período pós-parto.
Abstract
Prevention and care in breast complications related to breastfeeding in
primary health care to health
Objective: To describe
the experience of an educational activity related to prevention and care in
breast complications concerning the process of breastfeeding. Methods: This was a descriptive,
qualitative study, report of experience, based on the experience of the health
education strategy with women who have recently given birth in the Family
Health Strategy located in a municipality of Ceará,
which offers training for a Nursing undergraduate course. The experience
occurred during a traineeship from August to October 2017. Results: During the three months the women were evaluated and
oriented in the nursing consultation and in health education activities for
breastfeeding and its possible complications. Conclusion: In order to be successful in breastfeeding, it is
necessary to empower women, as well as an adequate management of complications.
In this sense, the nurse should facilitate the development of maternal skills
through guidance, as well as accompany and encourage these women to participate
in groups and support provided by the Family Health Strategy.
Key-words: breast
feeding, nursing care, postpartum period.
Resumen
Prevención y cuidados ante las complicaciones mamarias
relacionadas con la lactancia materna en la atención
primaria a la salud
Objectivo: Describir la experiencia
de acciones educativas relacionadas con la prevención
y atención ante las complicaciones mamarias referente al proceso
de lactancia. Métodos:
Se trata de un estudio descriptivo, de naturaleza cualitativa, relato de experiencia,
a partir de la vivencia de la estrategia de educación en salud
con puérperas acompañadas
por la Estrategia Salud de la Familia
ubicada en un municipio de Ceará, que ofrece campo de practica en el curso de graduación en Enfermería.
La experiencia ocurrió
durante prácticas curriculares del Supervisionado I, 9° período del
curso de Enfermería, en los meses de agosto a octubre de
2017. Resultados: Durante los tres meses de prácticas, las puérperas fueron evaluadas y orientadas en la
consulta de enfermería y en
actividades de educación en salud, siendo
posible proporcionar orientaciones
sobre la lactancia materna
y sus posibles complicaciones.
Conclusión:
Para que se tenga éxito en lo que se refiere
a la lactancia,
se hace necesario el empoderamiento de la mujer, así
como un adecuado manejo de las complicaciones. En este sentido, el
enfermero debe facilitar el desarrollo de las habilidades maternas, por medio
de orientaciones, así como acompañar e incentivar a esas mujeres a participar de grupos y apoyo
proporcionados por la Estrategia
Salud de la Familia desde la gestación.
Palabras-clave: lactancia
materna, atención de enfermería,
período posparto.
O processo de
amamentar encontra-se presente na vida da espécie humana praticamente durante
toda a sua existência. Assim, visto de forma epigenética,
o leite materno é caracterizado com a fonte ideal de nutrição. Esse fato ocorre
devido a sua composição que proporciona para o lactente
quantidades necessárias de água, carboidratos, lipídeos e proteínas [1].
É
um dos pilares para
a proteção da saúde das crianças, uma
intervenção para a redução da morbidade e
mortalidade infantil [2-3]. Além disso, constitui-se da mais
sábia estratégia
natural de vínculo, proteção e afeto tão
importantes para o desenvolvimento
psíquico e emocional da criança. Favorecendo ainda a
saúde física e psíquica da
mãe [3].
Dentre os benefícios
da amamentação, destacam-se a diminuição do risco de câncer de mama, de
diabetes mellitus, risco de anemia e hemorragia pós-parto, sendo considerado um
método natural para evitar uma nova gravidez, reduzindo, também, o peso
rapidamente após o parto, ajudando o útero a recuperar seu tamanho normal e
apresentando menores curtos financeiros, melhorando, assim, a qualidade de vida
[4].
A amamentação deve
ser iniciada ainda na sala de parto, na primeira hora da vida, devendo ser
mantida como aleitamento materno exclusivo sem a adição de qualquer outro tipo
de alimento nos primeiros 6 meses do bebê, e a partir
desse momento introduzir uma complementação alimentar juntamente com o
aleitamento materno até a criança completar 2 anos ou mais [5].
Essas recomendações
são baseadas em evidências científicas em crescimento desde a década de 1980,
diante das comprovações dos efeitos positivos que aleitamento materno favorece
para crianças, mulheres que amamentam, famílias e para
a sociedade em geral [1].
Na década de 80, o
Brasil mostrou declínio na prática da amamentação devido à falta de apoio das
empresas para as mulheres que desempenhavam sua prática laboral fora de casa,
do surgimento de fórmulas lácteas próprias para lactentes e sua propaganda
excessiva e a valorização da mama como um símbolo sexual, motivando a mulher a
optar por aleitamento artificial [6].
Uma das questões que
podem determinar o desmame precoce é a deficiência orgânica enfrentada pelas
parturientes, tais intercorrências têm início entre o primeiro e o décimo
quinto dia após o parto, quando o processo de amamentação e o ritmo das mamadas
apresentam-se instáveis [7].
Dentre as principais
intercorrências mamárias relacionadas à lactação encontram-se mamilos planos ou
invertidos, ingurgitamento mamário, trauma mamilar, candidíase, fenômeno de Raynaud,
bloqueio de ductos lactíferos, mastite puerperal e
abcesso mamário. Essas intercorrências enfrentadas pelas
nutrizes durante o
aleitamento materno, se não forem precocemente identificadas e
tratadas, podem
ser importantes causas de interrupção da
amamentação. Porém, são
condições que
apresentam prevenção e solução requerendo
por parte da mulher conhecimento
sobre a fisiologia da lactação, paciência e firmeza
[8].
A realização do
pré-natal é uma oportunidade para motivar as mulheres a amamentarem. Neste
contexto o enfermeiro da Atenção Primária à saúde é o profissional que mais se
relaciona com a mulher durante o ciclo gravídico-puerperal, tendo um importante
papel nos programas de promoção e proteção à saúde. O profissional deve
preparar a gestante para o aleitamento, para que o processo de adaptação do
pós-parto seja facilitado e tranquilo, evitando dificuldades, dúvidas e
possíveis complicações [9].
A educação em saúde
durante e após o ciclo gravídico, comprovadamente, tem impacto positivo nas
prevalências de aleitamento materno, em especial entre as primíparas. Portanto,
cabe ao enfermeiro identificar e compreender o processo do aleitamento materno
no contexto sociocultural e familiar, requerendo atitudes, habilidades e
conhecimentos específicos, atribuindo assistência de qualidade e comunicação
eficaz durante esse período [10]. Assim, tendo em vista a importância da
educação em saúde durante o processo de amamentação e considerando-se a
responsabilidade do enfermeiro com esse público, é importante compreender como
o enfermeiro pode contribuir para a prevenção e manejo dos principais problemas
relacionados à amamentação.
Dessa forma, o
presente estudo tem como objetivo descrever a experiência de ações educativas
relacionadas a prevenção e cuidados frente as
complicações mamárias relacionadas ao processo de amamentação.
Estudo descritivo, de
natureza qualitativa, na modalidade de relato de experiência, a partir da
vivência da estratégia de educação em saúde com puérperas acompanhadas pela
Estratégia Saúde da Família (ESF) localizada em um município do Ceará, que
oferece campo de estágio para um curso de graduação em Enfermagem. A
experiência ocorreu durante estágio curricular do Supervisionado I do 9°
período do Curso de Enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior da região
oeste do estado do Ceará, nos meses de agosto a outubro de 2017.
A atividade a ser
descrita foi pensada, uma vez que, durante o estágio percebeu-se alto o número
de mães com intercorrências mamárias, e que as mesmas necessitavam de
orientações quanto a esses problemas, pois apresentavam pouco ou nenhum
conhecimento sobre a forma de prevenir e quais as condutas necessárias para o
tratamento dessas complicações.
Dessa forma
oficializou-se um convite por escrito e entregue via Agentes Comunitários de
Saúde (ACS) às puérperas da unidade de saúde, para que essas participassem de
uma atividade de educação em saúde acerca do processo de amamentar. O convite
entregue estava vinculado a data do agendamento para a
consulta de puericultura de enfermagem de rotina presenciada por essas.
Assim, as mulheres
que participaram desse momento educativo foram aquelas
acompanhadas pela equipe multiprofissional em consultas de puericultura, dentre
elas primíparas e multíparas. Dentre essas, nenhuma foi excluída.
Então no dia previamente agendada pelo convite aconteceu
primeiramente a consulta de enfermagem de forma individual e sistematizada,
buscando a coleta de dados, levantamento de diagnósticos de enfermagem,
planejamento dos cuidados a serem prestados, intervenções, implementação das
ações e avaliação dos resultados esperados, referentes aos diagnósticos
identificados com intuito de promover o bem-estar das mães. No entanto, sempre
realizando agendamento de retorno para avaliação dos resultados esperados.
Nessas avaliações de retorno era observada a total melhora das mamas e o
sentimento de alivio das puérperas.
A atividade de
educação em saúde fora realizada logo após cada dia da consulta de enfermagem,
durante o período de três meses, ocorrendo em um ambiente calmo e acolhedor,
disponibilizado pela própria ESF, adotando-se a roda de conversa como
estratégia de ação.
Sendo proporcionado três momentos: no primeiro uma conversa
informal entre as puérperas e a moderadora da atividade educativa diante dos
temas abordados que emergiram de acordo com as dúvidas apresentadas pelas
mulheres. Após esse, foi exposto por meio de imagens a
forma correta da pega, as complicações da amamentação, bem como as formas de
prevenção. E como terceiro momento, sempre fora solicitado que as puérperas
presentes demonstrassem na prática os conhecimentos apreendidos realizando o
ato de amamentar.
O presente estudo
pautou-se nos princípios éticos e legais previsto na Resolução N° 466/2012 do
Conselho Nacional de Saúde, entretanto, por se tratar de experiência de ensino
e aprendizagem, não necessitou de aprovação pelo Comitê de Ética.
Apresentação
do caso
O acolhimento no dia
agendado para a presença das puérperas na unidade de saúde era realizado por
uma enfermeira do serviço, uma acadêmica de enfermagem, que se encontrava em
estágio curricular no período e sete agentes comunitárias de saúde, com a
finalidade de construir uma relação de confiança, vínculo e compromisso entre a
equipe e usuárias.
Primeiramente essas
eram encaminhadas para a consulta de puericultura, realizada pela enfermeira da
ESF com a prestação de cuidado integral à criança e a mãe, devido a avaliação das mamas para identificação de algumas
complicações mamárias. Dentre essas, dores e lesões nos mamilos, mastite,
ingurgitamento mamário e candidíase.
Logo após o término
da consulta as mulheres e seus filhos eram direcionados para a atividade de
educação em saúde, proporcionada pela acadêmica de enfermagem.
Essa atividade era
realizada em três momentos: No primeiro momento, sempre ocorria uma roda de
conversa, sendo as puérperas as protagonistas da ação, pois acontecia uma
conversa informal, um diálogo entre elas e a moderadora do momento, referentes
a dúvidas de temas diversos relacionados ao processo de amamentar, como, por
exemplo, motivos para a ocorrência das lesões mamárias.
Então, ainda nessa
conversa algumas puérperas colocavam suas experiências e formas de
enfrentamento, sendo essas colocações mediadas pela moderadora, a qual
complementou cada informação prestada com explanações acerca da prevenção de
complicações mamárias.
Após essa etapa a
moderadora assumiu a liderança do grupo com a apresentação de imagens
referentes ao processo de amamentar para exemplificar a forma certa e errada de
realizarem as mamadas, bem como os benefícios da amamentação. Além disso, foram
expostos os cuidados diante das complicações mamárias, bem como a identificação
de problemas provenientes do ato de amamentar. Dessa forma, reforçava-se as
orientações relativas a amamentação diante das
posições para amamentar, dor durante a sucção, cuidados com as mamas e
possíveis problemas ocasionados por pega incorreta.
Quando
necessário,
frente às complicações mamárias, houve
orientações quanto à intervenção de
alívio da dor e cuidado para a cicatrização das
lesões, com a sugestão de
medidas de conforto, como a utilização de compressas
frias e quentes
alternadamente, com o intuito de minimizar a dor na aréola e no
mamilo,
indicação da amamentação com técnica
adequada, a permanência de mamilos secos,
a exposição ao ar livre e a luz solar, evitar o uso de
sabões, álcool ou outros
produtos que retiram a proteção natural do mamilo. E
ainda, orientações de
continuar as mamadas no seio mesmo afetado e o uso de analgésico
sistêmico por
via oral se apresentasse dor significativa.
Dessa forma, a atividade
educativa utilizou como estratégia de ação a roda de conversa e nessa os
assuntos abordados partiram das próprias puérperas sendo complementado ao final
do diálogo pela moderada. Então, se descreveram as orientações reforçadas pela
moderadora, no caso a acadêmica de enfermagem: além das lesões/fissuras, esclareceu-se acerca da mastite, mamilos invertidos,
ingurgitamento mamário e candidíase.
Para mulheres com
presença de mastite, diante da identificação de mamas doloridas e quentes,
apresentando-se vermelhas e com edema, houve a orientação de esvaziar
adequadamente a mama e de preferência que o lactente fizesse esse esvaziamento,
que permanecessem em repouso, iniciasse a amamentação na mama não afetada e
usar sutiã adequado.
Na presença de puérperas
com mamilos invertidos, orientou-se quanto às posições e manobras que podem
ajudar a aumentar o mamilo antes das mamadas, a importância das compressas
frias e como utilizar a bomba manual e a seringa adaptada.
Diante da abordagem
de puérperas com ingurgitamento mamário, foi indicado o uso de compressas frias
de duas em duas horas, massagem nas mamas, ordenha manual da aréola, até que
essa se tornasse macia e o mamilo flexível, orientações ainda relacionadas ao
posicionamento correto no momento de amamentar, para que a criança estabeleça
adequada capacidade de sucção. Explicações sobre a importância da alternância
dos seios e a frequência das mamadas, continuação das mamadas frequentes, uso
de analgésico sistêmico/anti-inflamatórios foram dadas. Enfatizaram-se também
os fatores de risco para o desenvolvimento do ingurgitamento mamário e as
maneiras de prevenir a fadiga, dor e a ansiedade.
Para as puérperas com
presença de candidíase, mamas apresentando-se avermelhadas, brilhantes, com presença
de prurido, e algumas com presença de dor em agulhadas, características de
infecção fúngicas, orientou-se tratamento junto à
equipe multiprofissional com tratamento tópico de antifúngico. Além disso, as
mulheres diante desse quadro estabeleceram um diálogo sobre esse tema na roda
de conversa, compreendendo que a infecção na mama por cândida é bastante comum
durante o processo de amamentar. Foram explicados os fatores predisponentes
para o surgimento da candidíase e a diferença de crostas brancas orais das
crostas de leite pela acadêmica de enfermagem. As puérperas foram orientadas de
como prevenir os fungos com a indicação de sempre manter os mamilos arejados e
secos, como também expor à luz solar por alguns minutos ao dia.
Ao término desses
dois momentos as puérperas foram encorajadas a praticar os conhecimentos
adquiridos na roda de conversa diante do processo de amamentar. Assim, sob a
supervisão da acadêmica de enfermagem, cada uma das integrantes do grupo,
proporcionaram leite materno as crianças, com a preocupação de demonstrar se
estavam fazendo da forma correta ou não.
Diante da roda de
conversa identificou-se que as lesões e/ou fissuras nos mamilos é a causa mais
comum de dor para amamentar devido ao inadequado posicionamento e uma má pega.
Dessa forma é fundamental que o enfermeiro realize educação contínua com as
puérperas em relação a posição correta da amamentação
e desmistifique mitos de que mulheres com pele escura são menos vulneráveis a
lesões mamilares que mulheres com pele clara, estudo esse sem evidência
científica [4].
A fissura no mamilo é
quando apresenta uma solução de continuidade, tipo fenda, podendo comprometer a
epiderme e/ou a derme e ser localizada na superfície do mamilo e/ou na junção
mamilo-areolar, apresenta-se sempre de formato curvo ou horizontal, geralmente
esse tipo de lesão ocorre com mais frequência em mamilo protuso
[11].
As fissuras
correspondem a um sinal de que está havendo uma má técnica de amamentação. Para
que a criança realize uma sucção correta, deve-se estar próximo do mamilo,
abrir amplamente a boca e impelir a língua para frente, abocanhado não apenas o
mamilo, mas também parte da aréola. Durante a mamada, a criança deve estar com
a boca bem aberta, com lábio inferior virado para fora, queixo tocando a mama,
com visibilidade da aréola mais acima da boca da criança. Uma posição
inadequada da mãe e/ou do bebê na amamentação levaria ao surgimento da lesão de
mamilo [12].
Em relação ao
tratamento, deve realizar condutas em relação a
correção do fator causal, ou seja, a pega adequada, o posicionamento e a sucção
correta, recomenda-se também o tratamento úmido das lesões mamilares, com a
finalidade de formar camadas protetoras que evite a desidratação das camadas
mais profundas da epiderme. Para isso, pode-se recomendar o uso do próprio
leite materno ordenhado nas fissuras [12].
O enfermeiro em sua
prática necessita realizar o manejo indicado e orientar as puérperas a estarem sempre iniciando a mamada pela mama menos afetada,
ordenhar um pouco de leite antes da mamada, diferenciar o posicionamento
durante a amamentação para reduzir a dor e evitar lesões, além da utilização de
analgésico por via oral se necessário. Deve-se evitar o uso de cremes, óleos e
loções, pois eles podem causar alergias e ocasionar obstrução dos poros
lactíferos, e práticas de uso popular como, por exemplo, a utilização da casca
de banana na aréola para tratamento das fissuras mamilares, pois isso pode
causar reações alérgicas e ser fonte de contaminação [12].
Outro agravo também
identificado foi a mastite puerperal, processo
infeccioso agudo que pode acometer de um ou mais segmentos da mama, geralmente
unilateral, podendo evoluir ou não para uma infecção bacteriana. Ocorre com
mais frequência na segunda ou terceira semana após o parto. Comumente causadas
pelo Staphylococcus
(aureus e albus) e ocasionalmente pela Escherichia coli e Streptococcus. Os achados
clínicos vão desde a inflamação local, com sintomas sistêmicos como febre,
calafrios, mal-estar geral, astenia e prostração, até abscessos e septicemia
que podem alterar o sabor do leite, podendo ter rejeição pelo bebê [12].
Existem duas formas
de mastite: a infeciosa e não-infeciosa (por estase do leite). A mais comum é a
não-infeciosa e resulta de um processo inflamatório secundário ao obstáculo à
drenagem livre do leite através dos ductos lactíferos. Já a mastite infeciosa
ocorre pela propagação das bactérias, geralmente da pele e das estruturas da
mama [13].
Para se distinguir a
ocorrência, a parte afetada da mama encontra-se, vermelha, dolorosa, edemaciada
e quente. A mastite infecciosa apresenta sinais inflamatórios locais,
habitualmente com febre elevada (acima de 38°C), por vezes com calafrios,
mal-estar importante e outros sintomas. Na não-infeciosa também podem ocorrer
esses sintomas, mas os sinais sistémicos são menos exuberantes. Se as
manifestações locais persistirem por mais de 24 horas, e em especial se houver
febre elevada e/ou grande desconforto mamário ou a mastite for bilateral, será
mais provável estarmos perante uma mastite infeciosa [13].
O tratamento deve ser
instituído o mais rápido possível, pois sem o tratamento adequado e em tempo
oportuno a mastite pode evoluir para um abcesso mamário [12]. O melhor tratamento
é a massagem, seguida de ordenha, suporte emocional, compressas frias ou gelo
local, ingestão abundante de água, repouso, antibiótico e terapia também podem
ser utilizados. A continuidade da amamentação está indicada, pois o leite
materno é rico em anticorpos e fatores antibacterianos, e as toxinas das
bactérias quando ingeridas são destruídas no tudo digestivo da criança [11].
Já para mulheres com
a complicação de mamilos planos ou invertidos, observou-se a ocorrência de
dificuldades na amamentação [14], porém estudos demonstram que essa complicação
não impede o processo de amamentação, uma vez que o bebê faz o “bico” com a
aréola [15].
Em um estudo
transversal realizado em Minas Gerais a partir de 276 binômios mãe-lactente
identificaram mediante observação realizada diante do processo de amamentar que
existem diversas condições que dificultavam a amamentação com destaque para os
problemas relacionados a mama em primeiro lugar
(28,3%) e dentre esses a fissura (19,9%) e o mamilo plano (10,1%) como
principais fatores. Já para outras condições observadas, houve a ocorrência da
pega inadequada (25,0%) e resposta ao contato com a mama (26,1%) [16].
Outro agravo
significativo corresponde ao ingurgitamento mamário que apresenta como os fatores
determinantes: leite abundante, início tardio da amamentação, mamadas não
frequentes e/ou de pouca duração e sucção ineficaz do recém-nascido [12].
Como manejo diante
dessa situação é essencial que medidas preventivas devam ser orientadas a mulher
como, por exemplo, a ordenha manual da aréola, caso esteja tensa antes de cada
mamada, para que essa fique macia, facilitando a pegada da criança; o emprego
de mamadas em livre demanda, sem horários pré-estabelecidos [12].
Candidíase ou monilíase é uma infecção da mama, bastante comum, apresenta
pele avermelhada, brilhante ou com uma fina descamação. Pode atingir a pele do
mamilo e da aréola, ou comprometer os ductos lactíferos da puérpera. Fatores
como a umidade, lesão dos mamilos e uso frequente, pelas mulheres, de
antibióticos, contraceptivos orais e esteroides, uso da chupeta e mamadeira
contaminadas são relacionados à presença de cândida [12].
A infecção costuma se
manifestar por prurido intenso, sensação de queimação e fisgadas nos mamilos,
que persistem após as mamadas. O fungo cresce em meio úmido, quente e escuro,
com isso é necessário medidas preventivas contra a instalação de cândida.
Devem-se manter os mamilos secos e arejados e expô-los à luz por alguns minutos
ao dia [12].
Para tratamento da
candidíase, pode-se utilizar aplicação local com Nistatina,
Clotrimazol, Miconazol ou Cetoconazol por duas semanas. Podem utilizar o creme após
cada mamada sem precisar ser removido antes da próxima mamada. Porém, se a
mulher apresentar resistência à Nistatina, utiliza-se
Violeta de Gerenciana a 0,5% nos mamilos/aureolas e
na boca da criança uma vez por dia por três dias [12].
Assim, é fundamental
que o enfermeiro conheça a relevância do processo de amamentação, bem como o
manejo clínico. É necessário conhecimento científico e técnico sobre anatomia e
fisiologia da lactação, da sucção, dos fatores emocionais e psicológicos que
possam interferir, além de saber se comunicar, para que saiba orientar sobre
posicionamento e pega adequada, extração manual do leite materno e formas
alternativas de oferta do leite materno [17]. Haja vista que uma mama saudável
aumenta a prevalência do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida
do bebê [18].
Compreende-se ainda
como essencial verificar que outros estudos identificaram a existência de uma
associação significativa entre o fato de mães receberem orientações referentes
ao processo de amamentar e continuarem com o aleitamento materno exclusivo até
o sexto mês de vida de sua criança. Ocorrendo também associação positiva entre
práticas inadequadas e menor prevalência dessa amamentação [19].
Para esse relato
devem ser consideradas algumas limitações, como o fato de não ter sido possível
contemplar todas as puérperas, pois algumas delas faltaram no dia agendado para
a consulta de puericultura e consequente atividade educativa. E ainda o fato
dessa estratégia não ter tido abrangência para as gestantes, pois compreende-se que ações como essas devem ser iniciadas ainda
durante o pré-natal.
A importância de
atividades de educação em saúde pode ser constatada a partir de trabalhos já
realizados, em um desses desenvolveu-se uma pesquisa de campo no estado do Rio
de Janeiro em unidades de alojamento conjunto com puérperas. Nessa pesquisa
percebeu-se que as ações de educação em saúde são fundamentais para puérperas
tanto quanto para gestantes e parturientes, compreendendo que essas atividades
fazem parte do dia a dia dos profissionais de Enfermagem, por contribuir para a
qualidade dos cuidados prestados e para a qualidade de vida das pessoas
assistidas nesse processo [20].
O aleitamento materno
exclusivo é o alimento ideal para o bebê até os seis meses de idade. Porém as
nutrizes podem apresentar algumas complicações mamárias relativas a esse
processo, que, se não forem identificados e tratados de forma precoce, podem
ser uma importante causa de interrupção da amamentação.
Para o manejo das
complicações enfrentadas pelas mães, o enfermeiro deve estar à frente do
processo de educação em saúde com orientações precisas e imparciais,
desempenhando um papel essencial na decisão de amamentar dessa mulher.
Assim, a experiência
de ações educativas relacionadas a prevenção de
complicações mamárias deve ser precisa e adequada para sustentar a continuidade
do processo de amamentar e ainda estabelecer relações de confiança, compromisso
e vínculo entre o enfermeiro, equipe, mulheres, e ainda com sua rede sócio
afetiva.
Diante do exposto,
ressalta-se a importância do acompanhamento e o incentivo à participação em
grupos e apoio proporcionados pela Estratégia Saúde da Família, fornecendo
orientações às puérperas durante o processo de aleitamento.