ARTIGO
ORIGINAL
Percepções
dos enfermeiros acerca das ações de educação continuada nos cenários da prática
profissional
Rosa Gomes dos Santos
Ferreira, M.Sc.*
*Enfermeira,
Mestre em Enfermagem EEAN UFRJ
Recebido em 17 de
fevereiro de 2018; aceito em 18 de outubro de 2018.
Endereço
de correspondência:
Rosa Gomes dos Santos Ferreira, Rua Araújo Leitão, 607 Bl.1/803
Engenho Novo RJ, E-mail: rosa1976gomes@gmail.com
Resumo
O objetivo deste
artigo é discutir as percepções dos enfermeiros psiquiátricos acerca das ações
ou programas de educação continuada no contexto dos cenários de prática
profissional. Pesquisa qualitativa, desenvolvida com enfermeiros de uma
instituição psiquiátrica federal do município do Rio de Janeiro, aprovada pelos
Comitês de Ética das instituições envolvidas. Utilizou-se a Hermenêutica de
Profundidade como método de interpretação. Para os depoentes a educação
continuada é percebida como atividade estruturada e solidificada ou, por vezes,
deficiente. As ações educativas são percebidas no contexto do trabalho em saúde
mesmo sem que exista um programa formal de educação continuada. Na ausência de
um programa de educação continuada há a utilização de estratégias pelos
enfermeiros direcionadas para o ensino informal. Os enfermeiros percebem as
práticas educativas no trabalho em saúde, independentemente da nomenclatura que
recebam, dando-lhe relevância na atualização e capacitação permanentes.
Palavras-chave: educação
continuada, enfermagem, capacitação.
Abstract
Perceptions of nurses about the actions of continuing education in
professional practice's scenarios
The aim of this study was to discuss the perceptions of psychiatric
nurses about the actions or continuing education programs in the context of
professional practice's scenarios. Qualitative research conducted with nurses
of a federal psychiatric institution in the city of Rio de Janeiro, approved by
the Ethics Committees of the involved institutions. We used the Depth
Hermeneutics as a methodology of interpretation. The continuing education is
perceived as solidified and structured activity or sometimes deficient. The
educational actions are perceived in the context of health care work even
without a formal continuing education program. In the absence of a program of
continuing education some strategies directed to the informal education are
used by nurses. The nurses perceive the educational practices in health work,
irrespective of the nomenclature received by those practices, giving it importance
to the updating and continual training.
Key-words: continuing
education, nursing, training.
Resumen
Percepciones de los
enfermeros acerca de las acciones de educación continuada en los escenarios
de la práctica
profesional
El objetivo de este artículo
es discutir las percepciones
de los enfermeros
psiquiátricos acerca de las acciones
o programas de educación continuada en el contexto de los escenarios de práctica profesional. Investigación cualitativa, desarrollada con enfermeros de una institución
psiquiátrica federal del municipio de Río de Janeiro, aprobada por los Comités de Ética
de las instituciones
involucradas. Se utilizó la Hermenéutica de Profundidad como método de interpretación.
Para los deponentes la educación continuada es percibida como actividad estructurada y solidificada o, a veces,
deficiente. Las acciones
educativas son percibidas en el
contexto del trabajo en salud incluso sin que exista un programa formal
de educación continuada. En
la ausencia
de un programa de educación
continuada hay la utilización de estrategias por los enfermeros dirigidos a la enseñanza informal. Los enfermeros perciben las prácticas educativas en el trabajo en salud,
independientemente de la
nomenclatura que reciban, dándole
relevancia en la actualización y capacitación permanentes.
Palabras-clave: educación
continuada; enfermería; entrenamiento.
No mundo há,
atualmente, 17,5 milhões de enfermeiros e obstetrizes;
mas o déficit desses profissionais é amplo e variável por país, em todas as
regiões do globo [1].
Mesmo assim, a
Enfermagem constitui-se na espinha dorsal dos sistemas de saúde, por sua
representatividade majoritária dentre os trabalhadores de saúde (maior ou igual
a 75%) e pela necessidade de permanência (24 horas) nos serviços, coordenando a
assistência em saúde.
“É
pertinente, pois, a educação ao longo da vida e a tecnologia em favor desses
valiosos recursos humanos, com metodologia apropriada, porque, durante toda a
vida, eles deverão estar comprometidos com a educação permanente para que
possam oferecer serviços de saúde de qualidade à população que requer e merece
[2].”
Pela particularidade
de desenvolver uma ocupação destinada à abrangência dos assuntos intrínsecos à
demanda decorrente dos agravos de saúde da clientela, ao enfermeiro,
solicita-se constante revisão dos processos educativos utilizados para o
intercâmbio dos saberes e valorização da educação no contexto do trabalho em
saúde, que deve ser considerado como essencial para a transformação de
paradigmas, possibilitando-lhes a apreensão do que ocorre na sociedade, ampliando-lhes a visão do mundo no qual estão inseridos
[3].
O enfermeiro,
enquanto elemento-chave na motivação de sua equipe deve atuar planejando e
desenvolvendo ações que estimulem a busca por aprimoramento. Além disso, as
habilidades assistenciais, gerenciais, educativas, delineadas como elementares
à performance do enfermeiro, devem se sustentar
através da renovação contínua do aprendizado.
Sendo assim,
ressalta-se a necessidade de qualificação do enfermeiro para o enfrentamento
das situações do cotidiano da prática profissional e de reconhecimento da
importância e da responsabilidade que tem perante a construção e o
aprimoramento dos seus saberes e dos saberes de sua equipe. A partir dessa
conscientização, ele adotará ações educativas como prática cotidiana das suas
atividades, admitindo uma postura crítica e reflexiva que o levará a buscar
permanentemente respostas para os seus questionamentos [4].
No contexto do
trabalho, é imprescindível que as instituições de saúde, bem como os gestores
de enfermagem, preocupem-se em oferecer subsídios que dirijam profissionais a
reconhecer a necessidade da atualização, em prol não só de si, mas também, com
vistas ao serviço e aos usuários deste. As ações formais institucionais de
educação contínua devem ser veículo nesse contexto, direcionado à atualização e
capacitação dos profissionais para o trabalho e para a reflexão acerca do
mesmo.
“Atualmente,
uma das tendências é que o trabalho seja desenvolvido em equipe, uma vez que as
habilidades individuais são complementares e auxiliam as pessoas a alcançarem
os propósitos estabelecidos na atenção à saúde, (re)
construindo nos espaços de formação e de capacitação contínua uma nova visão
sobre a integração no trabalho [5].”
Este artigo é um
recorte de um estudo mais ampliado cuja proposta é dar voz a um grupo de
enfermeiros psiquiátricos no que se refere às percepções advindas das
experiências em Programas de Educação Continuada ao longo de suas trajetórias
profissionais.
Tal estudo se
justifica pela inquietação com a formação contínua dos enfermeiros no contexto
da psiquiatria e da saúde mental, considerando que:
“A
prática da enfermagem no bojo da Reforma Psiquiátrica tem exigido maior
percepção das necessidades do paciente, tendo o enfermeiro que desenvolver
habilidades que lhe possam conferir maior competência para melhor desempenho de
suas funções, com educação contínua, principalmente no que se refere à
cooperação interdisciplinar [6].”
Nesse entendimento,
as atualizações contínuas dos profissionais de enfermagem podem facilitar ações
na área de saúde mental que devem ser realizadas por meio de um trabalho
coletivo em prol de uma assistência voltada para a promoção da saúde mental,
propostas pela reforma psiquiátrica e pelo SUS (Sistema Único de Saúde) [7].
A
implantação do
Sistema Único de Saúde (SUS) suscitou progressivas
mudanças na organização dos
serviços, substituindo o modelo assistencial hegemônico,
baseado em concepções
e práticas de saúde como ausência de doença,
com a atenção centrada no
indivíduo, sendo o hospital o espaço privilegiado da
atenção, para um modelo de
atenção integral, incorporando práticas de
promoção da saúde e prevenção de
doenças, com uma concepção de saúde como
qualidade de vida [7].
Isto instiga e
demanda dos profissionais de enfermagem, novas habilidades e conhecimentos
acerca de seu pensar, agir e fazer em saúde.
Para efeitos deste
artigo, discutem-se as percepções desses enfermeiros acerca das ações ou
programas de educação continuada no contexto dos cenários de prática
profissional.
A pesquisa
qualitativa foi a abordagem de estudo, pela adoção de
técnicas que direcionam a captação e análise dos fatos e significados,
entendendo que os procedimentos qualitativos devem ser utilizados quando o objetivo
do investigador é verificar como as pessoas avaliam uma experiência, ideia ou
evento [8].
Participaram deste
estudo treze enfermeiros de uma instituição de ensino, pesquisa e assistência
psiquiátrica pública federal do município do Rio de Janeiro.
A coleta de dados foi
realizada através da entrevista não diretiva, originária de uma técnica
psicoterapêutica, desenvolvida por Carl Rogers e utilizada para obtenção de
informações no discurso livre do entrevistado, entendido como competente para
exprimir com clareza sua experiência [9].
A entrevista foi
realizada em grupo de até quatro (4) participantes por possibilitar ao
pesquisador:
Articular
teoria e prática em torno de uma proposta de estudo, demandando esforço,
leitura e experiência e também implica em um olhar para captar sinais, recolher
indícios, descrever práticas, atribuir sentido a gestos e palavras,
entrelaçando fontes teóricas e materiais empíricos durante o desenvolvimento da
entrevista [10].
As falas foram gravadas,
e transcritas e o conteúdo foi devolvido aos participantes, solicitando-lhes a
avaliação e parecer de aceite total, parcial ou nulo, no referente à utilização
dos dados obtidos, o que atende ao critério de confiabilidade.
Após a devolução do
conteúdo das entrevistas pelos participantes, procedeu-se com a análise formal
ou discursiva à luz do referencial metodológico da Hermenêutica de Profundidade
de John B. Thompson que “está orientado para a interpretação (ou
reinterpretação) de fenômenos significativos” [11].
Considerada como a
ciência da interpretação, a hermenêutica de profundidade tem como pressuposto o
fato de que o objeto de análise é uma construção simbólica significativa que
exige uma interpretação e que o estudo de formas simbólicas é fundamentalmente
um problema de compreensão e interpretação, pois elas são construções
significativas que exigem essa interpretação.
O objetivo da análise
formal ou discursiva é o estudo das falas dos participantes como construções
complexas sob estrutura articulada, afirmando,
representando e dizendo algo significativo sobre algum fenômeno.
Para o
desenvolvimento desta fase, exige-se um tipo distinto de análise, posto que o
interesse consiste em discutir e trazer à baila a
organização interna dos depoimentos, proporcionando ao fim do proposto pela
hermenêutica de profundidade, a legitimidade da historicidade da experiência
humana [11].
A hermenêutica de
profundidade emerge da hermenêutica da vida cotidiana, ou da doxa
e o desígnio da análise é a de recuperar as
condições
sociais e históricas de produção,
circulação/transmissão e recepção de
ações,
falas, gestos, dentre outras formas simbólicas.
Aquele que busca
interpretar tais formas simbólicas estará analisando um objeto que pode ser ele
mesmo, uma interpretação e, por sua vez, já pode ter sido interpretado pelos
sujeitos responsáveis pela construção do campo-objeto, do qual a forma
simbólica é integrante [11].
Esse referencial
teórico recomenda a ocorrência de uma reinterpretação, advertindo que o
campo-objeto constitui-se ainda em um campo-sujeito e os sujeitos que
constituem este campo-sujeito-objeto são da mesma forma que os pesquisadores,
capazes de compreender, refletir e agir abalizados nessa compreensão e
ponderação.
Assim sendo,
incluímos na discussão dos resultados deste estudo, a reinterpretação enquanto
pesquisador, dos depoimentos sob dois pontos de vista: o ponto de vista dos
entrevistados e o ponto de vista crítico.
Ressalto ainda que
foram atendidos os preceitos éticos da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde (CNS), substituída pela Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466
de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde e sob a garantia do
respeito à pessoa, ao sigilo e ao anonimato, oferecem sua anuência para
prosseguimento do estudo.
O projeto de pesquisa
foi avaliado pelos Comitês de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna
Nery (instituição proponente) e do Instituto de Psiquiatria da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (instituição co-participante),
garantindo o grau de aprovação em março de 2013, sob a ordem CAAE:
12355413.0.0000.5238.
A
Educação Continuada percebida como atividade estruturada e solidificada ou
deficiente
A maioria dos
enfermeiros entrevistados (61,5%-8) confirmou experiências em Programas de
Educação Continuada estruturados que desempenhavam ações de capacitação e
treinamento junto aos trabalhadores, fazendo parte da estrutura organizacional
das instituições, desempenhando efetivamente as suas funções.
(...)
a educação continuada era presente, com treinamento toda semana. (E 01)
(...)
a educação continuada era feita mensalmente, através de cursos, palestras. (E
02)
(...)
No hospital privado era estruturado, tínhamos aulas frequentes e a equipe de
educação continuada era a que também fazia a educação permanente. (E 03)
Dois enfermeiros
(15,3%) relataram que, embora tenham experimentado a existência de Programas de
Educação Continuada, estes eram deficientes e não desempenhavam sua função
primordial, que consiste no desenvolvimento de ações educativas no ambiente de
trabalho dos enfermeiros e de suas equipes, constando apenas como elemento
estrutural no organograma institucional.
Fui
treinada por uma enfermeira de outro setor, ela não era da educação continuada.
Procurávamos aprender a rotina com ela, mas não havia atuação da Educação
Continuada, embora ela existisse. (E 04)
Em
outro hospital também público, conheci a educação continuada, mas participei de
uma atividade que não se completou. Era esporádico e não se desenvolvia [...]
Num dos públicos onde trabalhei, eu sabia da existência da educação continuada,
mas nunca soube das atividades que desenvolviam não nos convidavam. (E 03)
As
ações educativas percebidas e as estratégias adotadas na ausência de um
programa/serviço de educação continuada
Em quatro relatos
(30,7%) os enfermeiros referiram que, no decorrer de sua vivência profissional,
atuaram em instituições onde não havia um serviço formal de educação continuada,
entretanto haviam ações educativas implantadas nesses serviços.
Numa
das unidades em que trabalhei por seis anos, não havia um serviço formal de
educação continuada, mas a chefia de enfermagem buscava promovê-la, junto aos
funcionários. (E 05)
Onde
costumo levar os alunos, senti que ficaram sensibilizados com uma paciente
sendo contida de forma violenta e pensei... Vamos fazer alguma atividade com as
equipes. Reportei-me ao enfermeiro responsável e perguntei sobre o interesse
dele, para que déssemos algumas palestras, fizéssemos algumas coisas e que aí,
até poderíamos chamar de educação continuada e num primeiro momento, ele achou
ótima ideia. (E 06)
Não
havia educação continuada e sim um centro de estudos e por ele eram
viabilizados alguns cursos. Mas não existia o serviço, não. (E 09)
Quatro enfermeiros
(30,7%) relataram as estratégias adotadas na ausência de um programa ou ações
formais de educação continuada nos serviços, valorizando o aprendizado no
cotidiano para o acolhimento das demandas dos trabalhadores.
Fui
observando ela e me adequando pra desempenhar minhas atividades. Eu uni o que
eu conhecia ao que aprendi para poder realizar o meu trabalho... Não sabia nada
de psiquiatria e fui fazendo o mesmo que eu fiz no outro... Observando quem
trabalhava e depois também procurei por especialização. (E 04)
Tudo
o que aprendemos, foi no dia a dia... Com as pessoas. (E 05)
Na
verdade, nunca participei de Programas de Educação Continuada, com este nome...
E tinha aqui uma professora da escola Y, eu estava sempre junto, distribuía
apostilas para os alunos e eu pedia também. Havia aula e eu pedia pra
assistir... Ela nem chamava de curso de capacitação, ela chamava de
sensibilização... Não era educação continuada. (...) Eu corri muito atrás porque
me sentia muito deslocada e como eu não sabia nada de psiquiatria, só o que eu
tinha era o que eu trazia da faculdade... (E 11)
A
percepção dos
enfermeiros acerca dos programas de educação continuada
foi variada, sendo
constatadas experiências que vão desde a existência
e ação de programas de
capacitação de pessoas, até a
aparição de serviços ou programas de
educação
puramente organizacionais dentro dos organogramas institucionais e
ineficazes
no desempenho de suas atividades.
No cotidiano do
trabalho da enfermagem, as equipes com suas especificidades, necessitam
adequar-se aos contextos onde estão imersas e para tal, a educação contínua
deve servir de aparato institucional, para este fim.
Um
programa de educação voltado aos profissionais de enfermagem requer um
planejamento dinâmico, participativo, interdisciplinar com objetivos definidos,
buscando atender diretamente as necessidades da organização e dos profissionais
[12].
As organizações
necessitam de profissionais capacitados para o alcance das suas metas
institucionais. Nesse sentido, carecem de um trabalho de formação contínua,
junto aos seus funcionários, integrando-os nas suas funções, no contexto
institucional e não menos importante, no contexto de sua formação enquanto
profissional e sujeito.
Trazer à baila estes
depoimentos implica em revalidar a necessidade de gestores das instituições e
de coordenadores dos programas compreenderem a importância da implantação e
desenvolvimento eficaz dos Programas ou ações de Educação em Serviço,
Continuada e/ou Permanente, não cabendo mais a oferta de subsídios mínimos ou
nulos para a capacitação dos profissionais ou mesmo a condução de um aparato
insuficiente institucional.
“O
Programa de Educação Continuada deve ser pautado sob um planejamento
participativo, dinâmico, com objetivos definidos, buscando atender
trabalhadores e organizações, mas, a meu entender, deve também ter em sua
constituição, o caráter organizacional de uma articulação fidedigna entre a prática
e o conhecimento teórico, trazendo verdade aos sujeitos, no referente ao
processo de ensino-aprendizagem [13].”
Daí, certificamos a
importância da implantação, revalidação e reflexão acerca do desempenho, metas
e estratégias utilizadas por programas de educação contínua nos serviços de
saúde, para a sustentação de seu valor para as corporações e para as pessoas a
quem tais programas se destinam.
Nos relatos dos
participantes constatamos ainda que, embora as ações de educação continuada nos
serviços não tenham recebido a estrutura formal, pertencendo a determinado
organograma institucional, assumiram destaque no cotidiano do grupo.
As questões de
aprendizado mobilizaram os participantes na busca de conhecimento, sendo o
ensino informal, a estratégia utilizada para atendimento de tais demandas.
Embora os depoentes
mencionassem a ausência do aparelho formal de educação continuada, demonstraram
a necessidade da implantação do dispositivo organizacional da educação
continuada nas instituições.
“Colocar
em evidência a formação para a área da
saúde como estratégia para a construção
da educação em serviço/educação
continuada/educação permanente requer uma
associação entre desenvolvimento individual e
institucional, entre serviços e
gestão setorial, e entre atenção à
saúde e controle social [14]”.
Corroboramos as
afirmações de que o ensino formal corresponde a atividades sistemáticas para
formação intelectual e desenvolvimento de capacidades, mas o ensino e a
aprendizagem informais ocupam importante posição, quando se trata do processo
de capacitação de trabalhadores de enfermagem, pois interferem
significativamente no processo de troca de conhecimentos no cotidiano do
trabalho. Essa troca de experiências e conhecimentos de modo não planejado pode
ser complementar à Educação formal. [15,16].
Reinterpretando
a percepção dos enfermeiros
Sob o ponto de vista
dos participantes, houve experiências significativas em Programas de Educação
Continuada consistentes, assim como em programas ineficazes meramente
constituintes do organograma institucional.
Em poucos cenários de
atuação profissional dos depoentes, os Programas de Educação Continuada eram
inoperantes ou caracterizavam-se pela baixa produtividade de ações e pela
insuficiente aproximação dos enfermeiros.
Na ausência de
programas organizados nas instituições, houve ações educativas permeadas pelo
ensino informal, assumindo definitivo papel no aprendizado dos enfermeiros e de
outros profissionais de enfermagem.
Por fim, a demanda de
aprendizado dos depoentes, mobilizou-os no processo de ensinar e aprender e na
busca por práticas educativas e, embora estas práticas educativas não tenham
recebido a estrutura formal, pertencendo a determinado organograma
institucional, assumiram destaque no cotidiano dos serviços.
Sob o ponto de vista
crítico, a formação é continua formal e/ou informal sendo responsável pelo
processo de ensinar e de aprender os trabalhadores, coordenadores e gestores
institucionais.
As ações de educação
continuada, no âmbito do trabalho de enfermagem, ainda sofrem intercessão
imediata, no que se refere aos desejos e demandas das instituições e por vezes,
falham em sua efetividade.
A baixa produtividade
de ações, bem como a ineficiência de programas de educação continuada nos
serviços ocorre por diversos motivos e é fator desencadeante de baixa
capacitação e qualificação da assistência de enfermagem.
O ensino informal
adquire importante função na capacitação de pessoas dentro do trabalho, pois
impõe grau de aproximação, igualdade e facilidade de troca de conhecimentos
entre os trabalhadores de enfermagem, valorizando as experiências, habilidades
e conhecimentos de cada um.
As práticas
educativas no ambiente de trabalho dos enfermeiros assumem importante papel no
que se refere ao compromisso que os profissionais de enfermagem, gestores
institucionais e coordenadores destes programas devem assumir, em se tratando
da formação continua e da capacitação profissional.
Torna-se claro que
enfermeiros compreendem a necessidade e a importância do desenvolvimento de
ações educativas no ambiente do trabalho de enfermagem, independentemente da
nomenclatura que recebam, embutindo-lhes uma relevância na atualização e
capacitação permanentes.
O êxito das ações
educativas não foi evidenciado na totalidade dos depoimentos dos participantes
deste estudo, contudo tem sido comumente observada, na rotina dos serviços, a
valorização pelos gestores do alcance de metas institucionais, a partir do
atendimento a convocações pelos trabalhadores para garantir a lotação de auditórios
numa perspectiva quantitativa e não qualitativa.
Haverá êxito na
educação contínua em enfermagem, quando se der o atendimento, mesmo que
solitário, aos anseios de aprender e discutir sobre algo do cotidiano, na
certeza de que com estas ações, sejam elas formais ou não, o profissional
responsável pelo programa e os gestores, atingirão seu objetivo.
Refletir acerca do
que se faz e do que está posto no cotidiano do trabalho da equipe de enfermagem
é processual e depende da interpretação das falas, ações e atitudes dos
depoentes, entendidas como formas simbólicas produzidas, transmitidas e
reproduzidas em contextos sociais diferentes, considerando o distanciamento
espaço-temporal, que emerge na trajetória dos enfermeiros em diferentes
instituições de saúde.
Destacamos ainda, a
importância dada pelos depoentes ao ensino informal no cotidiano do trabalho,
como complexo constructo de formas simbólicas, que fomenta a interação dos
pares na discussão a respeito de suas ações dentro do trabalho, aproximando e
facilitando o processo de troca de conhecimentos, afirmando o potencial de
aprendizado quando se aborda e se valoriza a experiência de cada um, mesmo num
ambiente de informalidade.
Por fim, as
instituições devem organizar e adaptar os programas ou as ações de educação
continuada às exigências da sociedade e do mercado de trabalho, para capacitar
e aperfeiçoar permanentemente profissionais de enfermagem capazes do
desenvolvimento da reflexão, articulando saberes, permitindo a crítica fundamentada
e partilhada entre participantes, coordenadores e gestores institucionais.