REVISÃO
Riscos
ocupacionais evidenciados nos profissionais de enfermagem inseridos nas
unidades de urgência e emergência
Fernanda Caroline
Florêncio*, Geraldo Vicente Nunes Neto*, Yalle Laryssa Florencio Silva** Marília
Cruz Gouveia Câmara Guerra, M.Sc.***
*Discente
do curso de enfermagem do Centro Universitário Tabosa
de Almeida ASCES-UNITA, Caruaru/PE, **Enfermeira, Graduada pelo Centro
Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA,
Especializando em Saúde Pública com ênfase em saúde da família (INESP),
Especializando em Saúde mental, crack, álcool e outras drogas (INESP),
***Especialização com residência em Saúde da Criança, Bacharelado, licenciatura
em enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco e docente do curso de
enfermagem do Centro Universitário Tabosa de Almeida
ASCES-UNITA
Recebido em 11 de
março de 2018; aceito em 12 de julho de 2018.
Endereço
de correspondência:
Marília Cruz Gouveia Câmara Guerra, R Joaquim Alheiros, 465 Cordeiro 50711-240
Recife PE, E-mail: mariliacamara@asces.edu.br; Geraldo Vicente Nunes Neto:
neetinho.nunes@gmail.com; Fernanda Caroline Florêncio: nanyf0110@gmail.com; Yalle Laryssa Florencio:
yalleflorencio@gmail.com
Resumo
Objetivo: Analisar a produção
científica relacionada aos riscos ocupacionais presentes na vida do enfermeiro
atuante no cenário da urgência e emergência. Material e métodos: Trata-se de uma revisão integrativa que utilizou
os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
riscos ocupacionais, esgotamento profissional, urgência e emergência, e usou a Scielo, Lilacs, Medline e BDEnf
como base de dados. Resultados: Foram
utilizados todos os descritores separadamente. No portal educacional Scielo obteve-se 587 artigos, 14 foram na BDEnf, 87 na Medline
e 323 na Lilacs. Foram selecionados 10 (1,01%)
artigos em português e inglês publicados de 2008 a 2017 para amostra final. Conclusão: Os artigos evidenciaram que
os enfermeiros que atuam nas unidades de urgência e emergência prestam uma
assistência considerada desgastante, tanto pela carga de trabalho, como pelas
especificidades das tarefas desenvolvidas em tal setor, dando ênfase ao
desgaste emocional, ampliado pelas situações imprevisíveis que envolvem tensão,
medo, sofrimento e morte, que podem desencadear o estresse ocupacional.
Palavras-chave: riscos
ocupacionais, esgotamento profissional, urgência, emergência.
Abstract
Occupational risks evidenced in nursing professionals in the emergency
and emergency units
Objective: To analyze
the scientific production related to the occupational hazards present in the
life of the nurse acting in the scenario of urgency and emergency. Methods: It is an integrative review
using the following Health Sciences Descriptors (DeCS):
occupational risks, professional exhaustion, urgency and emergency, and Scielo, Lilacs, Medline and BDEnf
as database. Results: All descriptors
were used separately. In the educational portal Scielo
587 articles were obtained, 14 were in BDEnf, 87 in
Medline and 323 in Lilacs. We selected 10 (1.01%) articles in Portuguese and
English published from 2008 to 2017 for the final sample. Conclusion: The articles showed that the nurses who work in the
emergency and emergency units provide care that is considered to be exhausting,
both due to the workload and the specificities of the tasks performed in this
sector, emphasizing emotional exhaustion, amplified by the unpredictable
situations that involve tension, fear, suffering and death that can trigger
occupational stress.
Key-words: occupational
risks, professional exhaustion, urgency, emergency.
Resumen
Riesgos ocupacionales
evidenciados en los profesionales de enfermería
insertados en las unidades
de urgencia y emergencia
Objetivo: Analizar
la producción
científica relacionada a los riesgos
ocupacionales presentes en la vida del enfermero
actuante en el escenario de la urgencia y emergencia.
Material y métodos: Se trata de una revisión integrativa que utilizó los siguientes Descriptores en Ciencias de la
Salud (DeCS): riesgos ocupacionales, agotamiento profesional, urgencia y emergencia, y Scielo, Lilacs, Medline y BDEnf como base de datos. Resultados:
Se utilizaron todos los descriptores por separado. En el portal educativo Scielo se obtuvieron 587
artículos, 14 fueron en BDEnf, 87 en Medline
y 323 en la Lilacs. Se seleccionaron 10
(1,01%) artículos en portugués
e inglés publicados entre 2008-2017 para la muestra
final. Conclusión:
Los artículos evidenciaron que los
enfermeros que actúan en las unidades de urgencia y emergencia prestan una asistencia
considerada desgastante, tanto por la
carga de trabajo, como por las
especificidades de las tareas
desarrolladas en tal
sector, dando énfasis al desgaste emocional, ampliado
por las situaciones imprevisibles que envuelven tensión, miedo, sufrimiento y muerte, que pueden desencadenar el estrés ocupacional.
Palabras-clave: riesgos
ocupacionales, agotamiento profesional, urgencia, emergencia.
O trabalhador da área
de saúde enfrenta uma influência do mercado capitalista nas unidades
prestadoras de serviços, que são administradas com o intuito de gerar lucros,
podendo comprometer o atendimento prestado, tornando-o rápido, superficial e
por vezes desumano. Em consequência disto há o aumento da pressão sobre o
profissional contratado que atua na área assistencial, principalmente no caso
dos enfermeiros que prestam cuidados diretamente ao público [1].
Somado a esta
influência, os enfermeiros que atuam nos serviços de urgências e emergências
enfrentam um cenário de inadequação das condições de trabalho, caracterizado
pela superlotação, ritmo acelerado e sobrecarga de trabalho [2].
É notória a presença
de inúmeros distúrbios psicológicos em profissionais de saúde, sendo estes
decorrentes de vários fatores inerentes à profissão, tais como: estresse,
sobrecarga de atividades, alteração de sono, irregularidade de horários e baixa remuneração. Dentre outros transtornos mais
frequentes, encontra-se a síndrome de Burnout,
que
consiste em uma síndrome psicológica decorrente da
tensão emocional crônica no
trabalho, constituída pelas dimensões: exaustão
emocional, desumanização, e
decepção, denominada também pela
diminuição da realização pessoal ou
ineficácia
[3].
O serviço hospitalar
de emergência é caracterizado como um setor com alto nível de tensão, onde os
trabalhadores estão expostos rotineiramente a inúmeros riscos ocupacionais,
sendo notória a importância de ações educativas em saúde que estimulem um pensamento
crítico e reflexivo por parte do profissional, na intenção de promover
autonomia e postura autoprotetora [4].
Os enfermeiros sofrem
diariamente com experiências nem sempre positivas ao relacionar-se com
indivíduos que estão em um momento de sofrimento, que despertam sentimentos de
medo, piedade e angústia, que são potencializados nos pacientes que se
encontram nas urgências e emergências, ficando a mercê dos cuidados dos
profissionais [5]. Diante do exposto, a temática envolvendo riscos ocupacionais
com ênfase no profissional de enfermagem, torna-se importante, pois subsidia
investigações para propor intervenções, a fim de minimizar os problemas
acarretados ao profissional exposto a tais riscos.
Assim, objetivou-se
sintetizar as evidências científicas a partir de artigos publicados nas bases
de dados especializadas sobre a temática em questão. Foi utilizada para nortear
o presente estudo a seguinte questão: Quais são os principais riscos
ocupacionais evidenciados nos enfermeiros das unidades de urgência e
emergência?
Para o alcance do
objetivo do estudo optou-se pelo método de revisão integrativa da literatura,
por se tratar-se de uma metodologia que permite a busca, a avaliação crítica e
a síntese das evidências disponíveis do tema investigado. Esse método tem a
finalidade de reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado
tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o
aprofundamento do conhecimento do tema investigado. Uma revisão integrativa bem
realizada exige os mesmos padrões de rigor, clareza e replicação utilizada nos
estudos primários [6].
Para elaboração deste
estudo foi realizada uma coleta de dados no mês de outubro de 2017, por meio de
levantamento bibliográfico na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas Bases
Eletrônicas Medline (Medical Literature
Analysis and Retrieval System Online), Lilacs
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), BDEnf (Base de dados em
Enfermagem) e pelo portal de educação Scielo (The Scientific Electronic Library
Online). Os critérios de inclusão foram artigos publicados entre 2008 e 2017,
idioma português e inglês, completos, originais e de revisão, sobre o tema em
foco. Foram excluídos artigos de caráter comercial e que se repetiam entre as
bases de dados, anais de congresso e carta de editor. Para tal achado, foram
utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
riscos ocupacionais, esgotamento profissional, urgência e emergência.
Para a busca no banco
de dados, foram utilizados todos os descritores separadamente. Quando realizada
pelo portal educacional Scielo, obteve-se um total de
587 artigos, dos quais 584 foram excluídos, na BDEnf foram localizados 14 artigos dos quais 11 foram
excluídos, na Lilacs foram localizados 323 artigos
dos quais 320 foram excluídos, na Medline foram
localizados 87 artigos dos quais 86 foram excluídos. Ao total foram utilizados
10 (1,01%) artigos para realização deste estudo, conforme tabela abaixo.
Tabela
I - Distribuição por frequência simples dos
artigos localizados, excluídos e selecionados nas bases eletrônicas de dados no
Brasil.
Os artigos mostram
que o cenário de urgência e emergência é caracterizado por uma ampla demanda de
pacientes com risco iminente de morte, com frequentes ocorrências de natureza
imprevisível, longas jornadas de trabalho, cobrança de familiares e tempo
reduzido para prestação da assistência. De acordo com os artigos pesquisados,
os principais eventos estressores que levam os enfermeiros que atuam no
ambiente de urgência e emergência a riscos ocupacionais são: falta de recursos
humanos, recursos materiais e instalações físicas irregulares e inadequadas,
carga horária de trabalho elevada, plantões noturnos, interação trabalho lar,
relacionamentos interpessoais, trabalhar em clima de concorrência e rivalidade
e distanciamento entre teoria e prática.
É relatado também que
tal contexto favorece o surgimento das alterações à saúde, que prejudicam tanto
o trabalhador como a classe patronal, pois o adoecimento leva-o ao afastamento
de suas atividades laborais, prejudicando o andamento do trabalho, já que os
demais empregados acumulam as tarefas não realizadas. Além disso, há o aumento
das taxas de absenteísmo e afastamentos por auxílios doenças, pois a enfermagem
é considerada como uma das profissões com risco de desenvolver dores
osteomusculares, relacionadas com o trabalho, pois incluem entre as suas
atividades a manipulação de cargas, frequentes curvaturas do tronco e a
manutenção por longos períodos de posturas estáticas. Na tabela a seguir estão
os resultados da síntese dos 10 artigos selecionados para o estudo.
Tabela
II -
Distribuição dos estudos selecionados por
autor, título, bases de dados/ano e resultados no período de 2008 a 2017. (Ver Anexo em PDF).
A partir do estudo
dos artigos utilizados foi percebido que todos os artigos evidenciam que os
enfermeiros que atuam nas unidades de urgência e emergência prestam uma
assistência considerada desgastante, tanto pela carga de trabalho, como pelas
especificidades das tarefas desenvolvidas em tal setor, dando ênfase ao
desgaste emocional, que pode ser evidenciado em consequência de situações
imprevisíveis que envolvem tensão, medo, sofrimento e morte, que podem
desencadear o estresse ocupacional.
O trabalho tanto pode
ser gerador de satisfação, por possibilitar a transformação, crescimento,
reconhecimento e independência pessoal, como também pode comprometer a saúde do
profissional pelas constantes mudanças impostas, que são geradoras de
insegurança, insatisfação, desinteresse e irritação, o enfermeiro emergencista ainda se depara com um cenário de fragmentação
e normatização do trabalho, que comprometem seu bem-estar psicoemocional e
físico [7].
Dentre todos os
riscos aos quais os profissionais de enfermagem estão expostos, foi bastante frisado nos artigos utilizados, a deterioração das
instituições de saúde, principalmente as públicas, aliadas ao desgaste de seus
recursos humanos e precárias condições de atendimento, que são influenciadoras
não somente na qualidade da assistência prestada mas também ao crescente número
de agentes de riscos ocupacionais expostos aos trabalhadores [8].
Além do exposto os
profissionais são acometidos a riscos ergonômicos, destacando dentre eles a
distribuição inadequada de pessoal e/ou equipe, conhecimento insuficiente dos
princípios da ergonomia, falta de ferramentas e/ou instrumentos para a
realização das tarefas, necessidade de adoção de posturas inadequadas do corpo
e espaço inadequado para a realização das atividades, elevando
consideravelmente a obtenção de riscos ocupacionais nos enfermeiros da urgência
e emergência [9].
Os pacientes que se
encontram inseridos no contexto de urgência e emergência, estão em situações de
risco iminente de morte e necessitam de ações rápidas, complexas e de alta
qualidade, pois estas influenciam significantemente em seu prognóstico, além
dessas ações o trabalhador lida com peculiaridades das relações de trabalho que
afetam a sua moral. O estresse aliado as situações de
desgastes físicos e emocionais são geradores de baixo nível de motivação,
insatisfação, altas taxas de absenteísmo e rotatividade destes profissionais
[10].
A enfermagem é uma
classe profissional que tem como agente de trabalho e sujeito da ação o próprio
homem. Ao se tratar dos emergencistas, a situação de
estresse é intensificada pela carga de trabalho e especificidades das tarefas
ao lidar com pacientes em situações críticas, tornando-os suscetíveis a síndromes,
como a de burnout, onde o profissional irá apresentar
uma tríade de esgotamento emocional, despersonalização e diminuição da
realização profissional, gerando insatisfação, desinteresse, irritação e
apatia, prejudicando assim sua rotina de trabalho [11].
Diante de tantas
situações que desgastam o bem-estar do profissional, os mesmos relatam o uso de
terapias alternativas, como o Reiki, música e florais de Bach, a fim de
minimizar as alterações físicas e emocionais decorrentes de sua atividade laboral.
Tais terapias tem um olhar holístico ao ser, enquadrando o homem como um
conjunto de corpo, alma e psiqui, com melhorias do
bem-estar, por reduzir a dor e o estresse [12]. Somado a isto ainda podem ser
utilizadas técnicas como: relaxamento, alimentação, exercício físico, repouso,
lazer, psicoterapia e atividades prazerosas [13].
Os resultados
encontrados demonstram que os riscos ocupacionais evidenciados nos enfermeiros
das urgências e emergências tem caráter multifatorial, pela diversidade de
riscos, sejam eles por fatores químicos, físicos, mecânicos, biológicos,
ergonômicos e/ou psicossociais. É de fundamental importância a avaliação dos
riscos laborais, para otimizar a rotina de trabalho,
assegurando uma maior proteção, com a minimização ou eliminação dos riscos,
sejam eles evitáveis ou não.
O trabalho de
enfermagem é considerado como fator desgastante, não somente pelos aspectos
operacionais, mas também por requerer muita responsabilidade para com o
usuário, a fim de garantir uma assistência integral, com um olhar holístico ao
indivíduo. O profissional, ainda, lida diariamente com a dor, o sofrimento e a
morte, exigindo um maior controle emocional, e que pode ser gerador de
esgotamento profissional, o que pode resultar em um enfermeiro indiferente,
apático e cansado, dominado pelo estresse e desmotivação.
Sendo assim é
imprescindível que haja o reconhecimento destes fatores estressores e de seus
malefícios, para que sejam adotadas medidas como adequação da carga horária e
das condições de segurança e saúde laboral, a fim de minimizar os distúrbios
psicológicos e patológicos acarretados ao profissional de enfermagem,
proporcionando ambientes menos insalubres e com maior satisfação na profissão.