ARTIGO
ORIGINAL
Educação
em saúde na Estratégia Saúde da Família: contribuições práticas do enfermeiro
Wilkslam Alves de Araújo*, Marhla Laiane de Brito Assunção*,
Izabelle Silva de Araújo**, Rayrla
Cristina de Abreu Temoteo, M.Sc.***, Emanoella
Carneiro de Souza****, Gilberto de Sousa Almeida*****, Ferdinando Oliveira
Carvalho, D.Sc.******, Ankilma
do Nascimento Andrade Feitosa, D.Sc.*******
*Enfermeiros,
Alunos de mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação Ciências da Saúde e
Biológicas da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF),
**Nutricionista, Aluna de mestrado vinculado ao Programa de Pós-Graduação
Ciências da Saúde e Biológicas UNIVASF, ***Enfermeira, Doutoranda em Enfermagem
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Docente FASP,
****Fisioterapeuta, Universidade de Pernambuco (UPE), *****Fisioterapeuta,
Faculdade Santa Maria (FSM), ******Educador Física, Docente UNIVASF,
*******Enfermeira, Doutora em Ciências da Saúde pela FMABC, Docente FSM
Recebido em 27 de
março de 2018; aceito em 23 de julho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Marhla Laiane de Brito
Assunção, Rua Dantas Barreto, 402 Vila Eduardo 56328-120 Petrolina PE, E-mail:
marhlalba@gmail.com; Wilkslam Alves de Araújo:
wilkslam@hotmail.com; Izabelle Silva de Araújo:
izabebelle@hotmail.com; Rayrla Cristina de Abreu Temoteo: rayrlacz@hotmail.com; Emanoella
Carneiro de Souza: emanoellacarneiro@hotmail.com; Gilberto de Sousa Almeida:
gilberto-gf@hotmail.com; Ferdinando Oliveira Carvalho:
ferdinando.carvalho@univasf.edu.br; Ankilma do
Nascimento Andrade Feitosa: ankilmar@hotmail.com
Resumo
Introdução: A educação em
saúde, instrumento eficiente da promoção e prevenção, é aplicada como veículo
transformador de práticas e comportamentos socioambientais, apresenta ênfase
para o desenvolvimento da autonomia e da qualidade de vida do indivíduo e
coletividade. Objetivo: Conhecer as
práticas educativas realizadas pelo enfermeiro no contexto da atenção básica de
saúde com ênfase na promoção da saúde. Métodos:
Estudo exploratório e descritivo com abordagem quantiqualitativa,
realizado por meio de entrevista com 09 enfermeiros de unidades de atenção
básica de saúde do município de Cajazeiras, localizado no estado da
Paraíba/Brasil, após aprovação Comitê de Ética da Faculdade Santa Maria. Os
dados foram coletados de junho a agosto de 2016 e analisados por meio do
programa SPSS (versão 21) e análise de discurso. Resultados: Destacam-se as atividades realizadas com a comunidade,
focadas principalmente em grupos de doenças específicas (hipertensos e
diabéticos) e saúde da pessoa idosa. No entanto, poucas atividades são
destinadas a população adolescente. Conclusão:
Faz-se necessário a sistematização de metodologias iterativas no cenário da
atenção básica que considerem as condições de vida, o indivíduo e coletividade
de forma integral por meio de ações educativas intersetoriais
que contemplem a interdisciplinaridade humana.
Palavras-chave: atenção primária à
saúde, enfermeiro, promoção da saúde, saúde da família.
Abstract
Health education in the Family Health Strategy: practical contributions
of the nurse
Introduction: Health education, an efficient instrument of promotion and prevention,
is applied as a vehicle for transforming socio-environmental practices and
behaviors, and emphasizes the development of autonomy and the quality of life
of the individual and of the community. Objective:
To know the educational practices performed by the nurse in the context of the
basic attention to health with an emphasis on health promotion. Methods: Descriptive and exploratory
study with quantitative and qualitative approach, carried out by means of
interview with nurses from 9 basic health units of the municipality of Brazil,
located in the State of Paraíba/Brazil, after
approval by the Ethics Committee of the College Santa Maria. The data were
collected from June to August of 2016 and analyzed using the SPSS program and
speech analysis. Results: The
activities carried out with the community, focused primarily on groups of
specific diseases (hypertension and diabetes) and health of the elderly person.
However, few activities are aimed at the adolescent population. Conclusion: It is necessary the
systematization of iterative methodologies in basic care to consider the living
conditions, the individual and collective fully by means of educational
activities including interdisciplinary human development.
Key-words: primary
health care, health promotion, family health, integral health.
Resumen
Educación en salud en la Estrategia Salud de la Familia: contribuciones practicas del enfermero
Introducción: La educación en salud,
instrumento eficiente de la
promoción y prevención, se aplica como vehículo
transformador de prácticas
y comportamientos socioambientales,
presenta énfasis para el desarrollo de la autonomía y de la calidad de vida del individuo y la colectividad. Objetivo: Conocer
las prácticas educativas
realizadas por el enfermero en el
contexto de la atención
básica de salud con énfasis en la
promoción de la salud. Métodos: Estudio exploratorio y descriptivo con abordaje cuantitativo, realizado
por medio de una entrevista con
9 enfermeros de unidades de atención básica de salud del municipio de Cajazeiras, ubicado en el
estado de Paraíba, Brasil, tras la
aprobación del Comité de
Ética de la Facultad Santa María. Los datos fueron recolectados de junio a agosto de 2016 y analizados
a través del programa SPSS (versión 21) y análisis de
discurso. Resultados: Se destacan las actividades
realizadas con la
comunidad, enfocadas principalmente en grupos de enfermedades
específicas (hipertensos y diabéticos) y salud de la persona mayor. Sin embargo, pocas actividades se destinan a la población
adolescente. Conclusión:
Se hace necesario la sistematización
de metodologías iterativas en
el escenario de la atención básica que consideren las condiciones de
vida, el individuo y colectividad
de forma integral por medio de acciones
educativas intersectoriales que contemplen
la interdisciplinaridad
humana.
Palabras-clave: primary health care, nurse, health promotion, family health.
As discussões sobre o
processo saúde-doença têm sido amplamente influenciadas no cenário
internacional e nacional pelas ciências da saúde e sociais. A abordagem do
processo saúde-doença, atualmente, fundamenta-se em um conceito ampliado de
saúde que reconhece o completo bem-estar biopsicossocial do indivíduo enquanto
ser social, que transforma e é transformado, por meio das relações e
interações, assegurando a sua dinamicidade [1,2].
Essa abordagem
apropria-se da necessidade de superar o modelo médico hegemônico,
considerando-o insuficiente para garantir à integralidade da saúde do
indivíduo, sua família, a comunidade e o meio no qual está inserido. Nesse
sentido, formula-se a estratégia da atenção primária à saúde (APS), que
contempla a coletividade, fundamentada na epidemiologia e nas ciências sociais,
devendo valorizar e priorizar as atividades de promoção da saúde (PS) em todos
os ciclos da vida, reconhecendo a saúde como direito e orientar-se pelos
princípios/diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) [3,4].
A PS favorece a
visibilidade dos fatores de risco e dos agravos à saúde da população, para
enfrentamento dos múltiplos problemas biopsicossociais que afetam os seres
humanos e elaborando mecanismos que reduzem as situações de vulnerabilidade por
meio da transformação social, estimulando o desenvolvimento de capacidades para
saúde [5].
A educação em saúde,
instrumento eficiente da PS, é aplicada como veículo transformador de práticas
e comportamentos individuais (coletivos e ambientais), e no desenvolvimento da
autonomia e da qualidade de vida do usuário do sistema de saúde [6]. Nesse
contexto, encontra-se a Estratégia Saúde da Família (ESF), direcionada para as
ações, principalmente, de cunho preventivo por intervenções de equipes
multiprofissionais em unidades básicas de saúde. É considerada como o principal
plano de atenção primária nesse novo modelo assistencial [7].
A equipe da ESF, em
especial o enfermeiro, assume a responsabilidade da prestação de uma APS
baseada nas ações educativas, norteadas pelos princípios da PS, em que a ação
interdisciplinar é fator integrante para a melhoria dos indicadores de saúde e
da qualidade de vida da população [8]. As ações de cunho preventivas prevalecem
na incorporação de práticas educativas realizadas pelo enfermeiro, mas, apesar
de relevantes, não avançam para uma concepção positiva de saúde. Essa situação
é referida tanto em relação aos espaços de formação quanto aos cenários de
atuação profissional, favorecendo para a presença de modelos tradicionais de
atenção [9].
Assim, esta pesquisa
busca reforçar que a prática da educação em saúde na perspectiva da promoção e
prevenção do cuidado é condição sine qua non, pois a intervenção bem articulada na
comunidade propicia o acolhimento, escuta e encaminhamento das diferentes
demandas/necessidades individuais e coletivas, contribuindo para a gestão
participativa e corresponsabilidade em saúde dos atores envolvidos.
Considerando o exposto, questiona-se: Quais são as práticas educativas
realizadas pelo enfermeiro com ênfase na promoção da saúde no âmbito da atenção
básica?
Portanto,
o objetivo
deste estudo é conhecer as práticas educativas realizadas
pelo enfermeiro no
contexto da atenção básica de saúde com
ênfase na PS. Espera-se contribuir para
o norteamento de trabalhadores e gestores, quanto ao planejamento e
desenvolvimento das ações de educação em
saúde no âmbito da atenção básica.
Trata-se de um
recorte do projeto: “O processo de trabalho com base no planejamento das ações
de saúde e o impacto no âmbito da atenção básica”. Caracterizado por um estudo
exploratório e descritivo com abordagem quantiqualitativo.
A pesquisa foi
realizada no âmbito da Atenção Básica de Saúde do município de Cajazeiras/PB. A
amostra compartilhada do grande estudo supracitado foi composta pelo número de
profissionais de nível superior, ativos, cadastrados na equipe saúde da família
do município de Cajazeiras/PB. Atualmente são cadastradas 24 equipes
multidisciplinares distribuídas nas 23 unidades saúde da família (USF) do
município.
Para delimitação da amostra
deste estudo, foram utilizados dados do projeto piloto. Foram incluídos os
profissionais cadastrados na equipe de saúde da família; que atuavam como
enfermeiro em UFS, devidamente registrados no Cadastro Nacional de
Estabelecimento de Saúde (CNES), do município de Cajazeiras/PB; que faziam
parte da equipe multidisciplinar de Unidade Mista, ou seja, aquela que abrange
a população da área urbana e rural em um mesmo estabelecimento. Em
contrapartida, foram adotados os seguintes critérios de exclusão: não estiver
presente no momento da coleta, tempo de trabalho na ABS inferior a seis meses
de atuação.
Desta forma, a
amostra deste estudo envolveu sete USF do nível primário de atenção à saúde,
que constituiu o quantitativo de nove enfermeiros integrantes das equipes de
saúde da família.
A coleta de dados foi
realizada no período de junho a agosto de 2016. O pesquisador visitou as
unidades para agendar com os enfermeiros os dias para a realização da pesquisa.
Antes da aplicação do instrumento, os profissionais foram informados sobre os
objetivos do estudo, sendo apresentado para eles o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE). Os sujeitos foram identificados com pseudônimos por nomes
de flores nativas da caatinga – um bioma que se concentra na região nordeste do
Brasil.
Utilizou-se um
formulário semiestruturado adaptado [10], com pergunta de múltipla escolha e
discursiva divididas em dois segmentos: 1) quanto à caracterização social e
demográfica dos entrevistados e 2) questões diretamente relacionadas ao objeto
central de estudo.
Os dados foram
analisados no Statistical Package for the Social Sciences (versão
21). Atribuindo estatísticas descritivas de frequência relativa e absoluta, e
como técnica inferencial, considerando para os dados qualitativos a análise
através da Técnica de Bardin [11].
O estudo foi aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Santa Maria, Cajazeiras/PB, sob protocolo de número 1.589.319, conforme a resolução 510,
de 07 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde, que determina as normas e
diretrizes para realização de pesquisa envolvendo seres humanos.
Na distribuição do
conjunto dos enfermeiros por sexo encontrou-se a predominância de mulheres
(88,9%). Declararam a condição de solteiros (66,7%), apresentando concentrações
mais expressivas nas faixas etárias de 24 a 34 anos (88,9%), o tempo de
formação da graduação teve maior expressão entre aqueles que declararam 02 a 06
anos, 87,5% possuem especialização. No que diz respeito ao tempo de trabalho na
atenção básica prevaleceu de 1 e 3 anos de instituição
e de trabalho na equipe, referem receber 3 a 5 salários mínimos. A maioria é
funcionário efetivo, com carga horária de trabalho, entre 30 e 40 horas por
semana.
Tabela
I - Descrição dos dados sócio demográficos dos
enfermeiros. Cajazeiras/PB, 2016.
Fonte: Dados da
pesquisa. ƒi: Frequência
absoluta. ƒri: Frequência
relativa
Segundo relato dos
participantes, a prática de atividades educativas em saúde são desenvolvidas
pelos enfermeiros, com particularidades em cada USF ações de promoção da saúde,
com grande frequência, sobre diabetes mellitus (DM) e hipertensão arterial sistêmica (HAS), ambas apresentaram percentil de
100%. Conforme exposto na tabela II.
Tabela
II -
Descrição das ações educativas realizadas
pelos enfermeiros. Cajazeiras/PB, 2016.
Fonte: Dados da
pesquisa. ƒi: Frequência
absoluta. ƒri: Frequência
relativa
As ações educativas
de promoção e prevenção da saúde estão voltadas para as particularidades de
cada USF, como:
[...]
Palestras para diabéticos e hipertensos; orientações sobre câncer de mama e
colo do útero; Pré-natal [...] (Bromélia do sertão)
[...]
Orientações para o grupo de hipertensão e diabetes [...] (Catingueira)
[...]
Grupo de tabagistas; atividades relacionadas à alimentação saudável para
gestantes e pessoas com sobrepeso; Saúde do idoso (risco de quedas) [...]
(Jurema)
Observa-se que as
ações educativas têm sido sistematizadas com maior foco nas doenças instaladas
e em condições crônicas. Prevalece às atividades educativas direcionadas para
grupos homogêneos com pessoas acometidas por uma mesma patologia (hipertensão,
diabetes, tabagismo) e com relação ao público alvo das ações educativas, entre
os vários contextos encontrados, demonstra que do total de atividades
desenvolvidas, 28% foram com idosos, 24% com mulheres e também com gestantes.
Destaca-se também a deficiência de atenção para a população adolescente,
constituindo apenas 2% das ações (Tabela III).
Tabela
III
- Identificação do público-alvo das ações
educativas. Cajazeiras/PB, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa.
Os recursos materiais
didáticos utilizados para o desenvolvimento das ações citadas, observado nas
falas, foram: projetor de multimídia, cartazes, rádio, panfletos, diálogo,
peças anatômicas para demonstração e revistas. Na descrição das ações,
identificamos que as atividades educativas na sua maioria foram realizadas nas
unidades de saúde, em praças da cidade, escolas e em residências dos próprios
usuários, onde também são desenvolvidas consultas médicas e visitas nas
comunidades rurais. Com relação à frequência, essas atividades são
desenvolvidas de forma semanal e/ou mensal.
Notou-se por meio das
falas, como potencialidades da intervenção educativa a “aquisição de conhecimento sobre assuntos relativos ao processo saúde
doenças”, e como fragilidade constatou-se a “dificuldade de adesão da comunidade às ações,” “recursos materiais indisponíveis” e “fragilidade do trabalho em equipe”.
Os resultados do
estudo demonstram que os participantes apresentam faixa etária mediana e a
maioria é solteira. Referente ao vínculo empregatício, o estudo revelou a
maioria destes são concursados (55%) e dedicavam-se exclusivamente à
instituição de trabalho. A maior renda referida dos entrevistados foi de 03 a
05 salários mínimos. Uma premissa constantemente destacada na literatura é a
isonomia salarial, que tem causado insatisfação na prática de trabalho, podendo
influenciar na qualidade dos serviços, assim como baixa expectativa de
crescimento profissional [12,13]. Em relação à jornada, a carga horária de
trabalho semanal estava em torno de 36 a 44 horas semanais.
As práticas
educativas em saúde no cenário da enfermagem tem sido uma realidade frequentemente
efetivada devido à mudança de paradigmas de atenção e cuidado, em vista ao
conceito da PS humana. Dentre os diversos profissionais da área, é o enfermeiro
que se destaca na ação educativa [14,15].
A PS deve contar com
a participação ativa dos usuários dos serviços de saúde, os quais possuem
capacidade de decidir sobre questões que envolvem seu bem-estar, subsidiados
pelas próprias experiências e pelas práticas educativas. Nesse contexto, a
educação em saúde não deve conduzir apenas conhecimentos cognitivos lineares,
mas visar à transformação dos comportamentos e atitudes que propiciem a qualidade
de vida, incluindo a estimulação da participação comunitária em decisões, a fim
de exercer o controle social indispensável à democracia [16].
Portanto, a ação
educativa para a sociedade apresenta-se como um dispositivo de grande
relevância para assegurar a autonomia e a independência para saúde no âmbito
individual e coletivo [5]. Dessa forma, a educação em saúde torna-se um
processo dinâmico cujo objetivo é a capacitação dos indivíduos e/ou grupos em
busca da melhoria das condições de saúde e trabalho, na modificação dos
determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, considerando o seu
sentido amplo (emprego, renda, educação, cultura, lazer e hábitos de vida),
buscando estimular a indagação, o diálogo, a reflexão
crítica e a ação partilhada [17].
O processo
metodológico das atividades educativas deve emergir a partir dos problemas
cotidianos, que apresente um sentido na vida das pessoas e que envolvam temas
transversais, por meio da interdisciplinaridade. Pensando educação em saúde
como processo criativo, dialógico e de construção, assumindo-o como estímulo ao
indivíduo para participar do processo educativo, orientadas no enfoque à
liberdade, autonomia e independência dos indivíduos [2].
Neste estudo foi
possível observar que a palestra tem sido a principal estratégia escolhida
pelos enfermeiros para se trabalhar PS, entretanto essa ferramenta em grande
parte emprega a chamada “educação bancária” que consiste na deposição de
conteúdo e repasse de conhecimentos do educador para o educando, sendo o
usuário tratado de maneira passiva sem considerar a condição da população, seus
saberes e tendo caráter unidirecional. Assim, prevalecendo a
autoridade do educador, e não permite uma construção compartilhada do
conhecimento [18].
No entanto, a
concepção dialógica pode ampliar as fronteiras de atuação da saúde da família,
com maior resolutividade das ações e melhor impacto dos indicadores de saúde e
de qualidade de vida da população assistida. Na ação educativa é vital
considerar o outro como sujeito, detentor de conhecimento e não mero receptor
de informações [8].
Dessa forma, a
educação em saúde tem como objetivo transformar as concepções e práticas
existentes objetivando a autonomia e responsabilidade do indivíduo para com a
sua saúde [19]. A implementação de metodologias
inovadoras e a maneira de condução das discussões em saúde entre os atores
sociais é fator diferencial e atrativo, é necessário que as práticas educativas
sejam realizadas de forma participativa no intuito de identificar necessidades
e interesses da população [20].
As ações educativas
devem contemplar atividades de assistência integral em todas as fases do ciclo
de vida (criança, adolescente, mulher, adulto e idoso). Na educação em saúde,
os profissionais devem utilizar sistematicamente conhecimentos, habilidades de
ensino, metodologias ativas/participativas,
privilegiando o diálogo, saberes formal e informal, atuando como facilitador,
estimulando o desenvolvimento de capacidades individuais e coletivas visando à
melhoria das condições de saúde das pessoas e grupos, e não somente a criação
de grupos de doenças específicas [21].
Os enfermeiros
entrevistados neste estudo enfatizaram as atividades desenvolvidas para o
público idoso, pois o envelhecimento rápido da população produziu um
acirramento das condições crônicas e degenerativas, além de crescente
desequilíbrio entre os problemas de saúde prevalentes e o atendimento oferecido
pelos sistemas de saúde [22]. Ademais, em 2011 o governo brasileiro lançou o
Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNT no Brasil para o
período 2011-2022 englobando três eixos fundamentais: a) Vigilância, Informação
e Monitoramento; b) Promoção da Saúde; e c) Cuidado Integral [23]. Justificando
o empenho dos profissionais em realizarem as ações com essa temática.
No entanto,
destaca-se a maior dificuldade de adesão às atividades encontradas no grupo de
adolescentes. Desta maneira, os profissionais atuantes no cenário da atenção
básica devem desenvolver ações educativas em saúde direcionadas a esse grupo
etário no intuito de diminuir o comportamento de riscos, mas, estes necessitam
desenvolver competências para abordar essa população e a fase da adolescência.
Os profissionais de saúde nem sempre estão habilitados para atender às
necessidades do público adolescente, isso acarreta um distanciamento que
prejudica a disseminação do conhecimento, a troca de experiência e a prática de
uma assistência alicerçada em diálogo e acolhimento [24].
Outro fator bastante
citado na literatura diz respeito à resistência dos adolescentes junto às
unidades de saúde da família, ao mesmo tempo em que estas têm dificuldade de
acolherem os adolescentes que a procuram. Embora constantemente se destaque a
baixa procura aos serviços, é notório o déficit dos profissionais de saúde
comprometidos em expandirem as suas atividades para os múltiplos cenários,
agregando a família como um todo e os envolvendo de forma intersetorial,
integrando às escolas, projetos e comunidade em geral [10], no intuito de
prevenir os riscos aos quais estão frequentemente expostos.
Erroneamente,
os
adolescentes e jovens, por serem consideradas pessoas saudáveis,
não têm a
necessária atenção à saúde, a
não ser nas questões de saúde sexual. No entanto,
atualmente, as condições de saúde desse grupo
tornaram-se um diferencial que
exalta a sua vulnerabilidade frente às diferentes formas de
violências e a
crescente incidência de mortalidade, demonstradas especialmente
pelas causas
externas [25].
Nesta perspectiva, as
principais causas de morbidade e mortalidade entre adolescentes e jovens
destacam-se: os comportamentos que contribuem para lesões não intencionais e
violência; uso de tabaco; uso de bebidas alcoólicas e outras drogas;
comportamentos sexuais que contribuem para gravidez indesejada e infecções
sexualmente transmissíveis; hábitos alimentares inadequados e falta de prática
de atividade física [25].
Evidenciada a
importância da promoção à saúde de adolescentes e de jovens, enfatiza-se a
necessidade de estabelecer processos de intervenção intersetoriais
e interdisciplinares, de ampliação e diversificação das práticas de
intervenção. É de suma importância que os mesmos tenham participação ativa no
desenvolvimento do seu projeto terapêutico, para que se envolvam mais com a sua
saúde e apoiem o trabalho da equipe responsável por ele, na tentativa de
promover a participação desse grupo populacional em redes intersetoriais
que lhes garanta proteção e garantia de seus direitos [26].
Vale reforçar que a
educação em saúde neste grupo, deve favorecer a autonomia, a liberdade e a
dignidade humanas, estimulando a reflexão e o posicionamento frente a relações
sociais que dificultam ou facilitam assumir comportamentos saudáveis, ao mesmo
tempo em que estimula o desenvolvimento da curiosidade crítica, como sinal de
atenção que é integrante da vida. Em suma, produzir saúde com adolescentes e
jovens é trazê-los para o centro do processo como sujeitos de direitos [27].
Dessa forma, os
profissionais de enfermagem precisam conhecer as limitações no que diz respeito
à prática educativa no âmbito da atenção básica de saúde e por meio delas
buscar alternativas para superá-las. Salienta-se que na educação em saúde ainda
prevalecem às práticas educativas hegemônicas, necessitando maior abrangência
temática e dos grupos etários.
Dentre as atividades
educativas desenvolvidas pelos profissionais de enfermagem inclusos no estudo,
destacam-se as atividades realizadas com a comunidade, focadas principalmente
em grupos de doenças específicas, como: grupos de hipertensos, diabéticos,
gestantes e saúde da pessoa idosa.
No entanto, poucas
atividades são destinadas a população adolescente. Visto que se trata de um
grupo vulnerável a fatores de riscos aos quais são expostos, incentiva-se a
ampliação das ações para esse público, ressaltando a importância da ação intersetorial que propicie espaços para discussões, da
participação ativa dos indivíduos e da comunidade.
Este estudo apresenta
limitações quanto ao número de participantes, bem como, por ser uma pesquisa
qualitativa, a qual não pretende generalizações.