ARTIGO ORIGINAL
Estratégias
para melhoria da qualidade dos materiais hospitalares licitados em pregão eletrônico
Fábio Vilas Gonçalves
Filho, M.Sc.*, Luiz Eduardo da
Motta Ferreira**, Carmem Fernandes Alves, M.Sc.***, Liane
Gack Ghelman, D.Sc.****, Ediclea Mascarenhas Fernandes,
D.Sc.*****, Luciana Krauss Rezende,
D.Sc.******, Nébia Maria Almeida
de Figueiredo, D.Sc.*******, Wiliam César Alves Machado, D.Sc.********
*Advogado,
Programa de Pós-Graduação em Saúde e Tecnologia no Espaço Hospitalar – PPGSTEH,
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), **Médico, Professor Adjunto,
Escola de Medicina e Cirurgia, UNIRIO, ***Enfermeira, Mestre em Saúde e Tecnologia
no Espaço Hospitalar – PPGSTEH, UNIRIO, Hospital Universitário Gafré e Guinle – HUGG, ****Enfermeira, Professor Adjunto no
Departamento de Enfermagem de Saúde Pública, Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), *****Pedagoga, Professor Associado,
Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), ******Fisioterapeuta,
Professor na Faculdade Univértix de Três Rios (UNIVÉRTIX),
*******Enfermeira, Professora Emérita, Departamento de Enfermagem Fundamental, Escola
de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP), UNIRIO, ********Enfermeiro, Professor Adjunto,
Departamento de Enfermagem Fundamental, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto (EEAP),
UNIRIO, Professor na Faculdade Univértix de Três Rios
(UNIVÉRTIX)
Recebido em 15 de maio
de 2018; aceito em 24 de agosto de 2018.
Endereço
de correspondência:
Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado RN, MsN,
Ph.D, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,
Rua Silva Jardim, 5, 25805-160 Três Rios RJ, E-mail: wilmachado@uol.com.br; Fábio
Vilas Gonçalves Filho: fabiounirio@hotmail.com; Luiz Eduardo da Motta Ferreira:
luizmotta@predialnet.com.br; Carmem Fernandes Alves: carmem.hrm@gmail.com; Liane
Gack Ghelman: lgghelman@gmail.com;
Ediclea Mascarenhas Fernandes: professoraediclea.uerj@gmail.com;
Luciana Krauss Rezende: lukrare@uol.com.br; Nébia Maria Almeida de Figueiredo: nebia43@gmail.com
Estudo extraído da dissertação
de mestrado intitulada “Implantação da comissão de pré-qualificação de materiais
hospitalares no pregão eletrônico de hospital universitário: pré-requisito para
controle de qualidade”. Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e Tecnologia no Espaço Hospitalar – PPGSTEH, Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)
Resumo
Objetivo: Propor estratégias para
que o pregão eletrônico de compras de materiais para hospitais universitários constitua-se
num processo focado na qualidade dos produtos adquiridos, repercutindo em segurança
dos pacientes e equipes de saúde. Métodos:
Estudo descritivo, abordagem qualitativa, realizado com 11 médicos e 18 enfermeiros,
em 2015. Entrevistas analisadas à luz da análise temática de conteúdo. Resultados: Da análise dos dados emergiram
as seguintes categorias temáticas: Materiais com mais problemas, intercorrências
por falta de critérios de qualidade; Credibilidade sobre solicitação de amostras
para o pregão; e propósitos da comissão de padronização de materiais hospitalares.
Conclusão: Sugerida a implantação de comissão
para pré-avaliação de amostras, como recomendação estratégica essencial para melhoria
da qualidade dos materiais hospitalares. O artigo não esgota o tema, mas evidencia
a necessidade de novos estudos sobre compras através de pregões eletrônicos, para
se buscar critérios de pré-avaliação das amostras de materiais terapêuticos utilizados
em hospitais universitários.
Palavras-chave: serviço hospitalar de
compras, administração de materiais no hospital, administração hospitalar, controle
de qualidade; assistência à saúde.
Abstract
Strategies to improve the quality of hospital materials purchased through
electronic bids
Objective: To propose strategies
for the electronic procurement of materials for university hospitals to be a process
focused on the quality of the products purchased, with repercussions on the safety
of patients and health care teams. Methods:
Descriptive study, qualitative approach, carried out with 11 physicians and 18 nurses.
Interviews analyzed in the light of thematic content analysis. Results: From the data analysis, the following
thematic categories emerged: Materials with more problems, intercurrences due to
lack of quality criteria; Credibility for requesting samples for electronic procurement;
and purposes of the hospital materials standardization commission. Conclusion: A commission for pre-evaluation
of samples was suggested as an essential strategic recommendation for improving
the quality of hospital materials. The article does not exhaust the theme but shows
the need for further studies on public contracting regarding electronic procurement
in order to seek criteria in the pre-evaluation of material samples for university
hospitals.
Key-words: hospital purchasing,
hospital materials management, hospital administration, quality control, delivery
of health care.
Resumen
Estrategias para mejorar la
calidad de los materiales hospitalarios licitados
en una sesión electrónica
Objetivo: Proponer
estrategias para que la licitación electrónica de
compras de materiales para hospitales
universitarios constituya un proceso enfocado en la calidad
de los productos adquiridos,
con repercusión en seguridad del
paciente y equipos de salud.
Métodos: Estudio
descriptivo, abordaje cualitativo, realizado con 11 médicos
y 18 enfermeros en 2015. Entrevistas
estudiadas mediante análisis
de contenido temático. Resultados: Del análisis de datos surgieron las categorías: Materiales más problemáticos; Incidencias
por inexistencia de criterios
de calidad; Credibilidad sobre
solicitud de muestras para la licitación;
y Propósitos de la comisión
de estandarización de materiales
hospitalarios. Conclusión: Sugerida la implantación
de comisión de preevaluación
de muestras, como recomendación
estratégica fundamental para mejorar la calidad de los
materiales hospitalarios. El
artículo no agota el tema, aunque evidencia la necesidad de nuevos estudios sobre compras por
licitación electrónica para buscar criterios de preevaluación de muestras de materiales terapéuticos utilizados en hospitales universitarios.
Palabras-clave: departamento de compras
en hospital, administración
de materiales de hospital, administración
hospitalaria, control de calidad, prestación de atención de salud.
Utilizado para dinamizar
os processos de compras de materiais hospitalares, o pregão eletrônico, quando não
contempla critérios de avaliação de amostras, não se configura modalidade de licitação
satisfatória, considerando a celeridade e redução de custos que o mesmo propicia
para a administração pública, contudo, não prioriza elementos de qualidade, essenciais
na aquisição desses materiais [1,2].
Sabe-se
que as compras
e contratações públicas compreendem procedimentos
com características e componentes
de caráter comercial, envolvendo a negociação de
propostas de preço e de caráter
jurídico-legal, sujeitando-se a controles [1], à
interposição de recursos e à
aplicação
de sanções administrativas [2].
Importante considerar
no contexto deste estudo que o número de hospitais de ensino, no Brasil, em 2013,
era de 134 instituições distribuídas em todo o território nacional, com 80 públicas,
47 filantrópicas, e sete instituições privadas [13]. Identificadas como instituições
de ensino, pesquisa e extensão na área de saúde, nas quais os gestores dos hospitais
universitários devem primar pela qualidade dos serviços oferecidos a sociedade,
sobretudo, pelo controle da qualidade dos materiais adquiridos, de forma a garantir
segurança para os pacientes e profissionais que os utilizam.
De acordo com estudo realizado
no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, o sistema de gestão de materiais
é um dos grandes determinantes do planejamento financeiro de uma instituição, ou
seja, é nesta área que se observa um grande gasto da receita e onde o capital poderá
ser consumido [4].
No Brasil, a Lei no 8.666 de junho de 1993, é a principal norteadora dos processos
de compras públicas, a qual foi alterada, pela redação conferida ao art. 3o da mesma
lei, pela Lei no 12.349, de 15 de dezembro de 2010, que modificou radicalmente o
quadro jurídico e operacional das licitações públicas no Brasil, obrigando todos
os entes da Federação a promoverem licitações públicas sustentáveis [2,5,6].
O objetivo da redução
de custos e a agilização de rotinas e procedimentos nas
compras e contratações têm sido uma prioridade na administração federal brasileira
[4]. A introdução de novos instrumentos, proporcionados pelas tecnologias da informática,
ao lado da revisão da legislação e das normas, já experimentou avanços significativos.
Após a implantação do pregão eletrônico, foram abertas possibilidades inéditas de
maior transparência, ampliação de oportunidades de participação e de competição
e disseminação de mecanismos de controle gerenciais [1-3,7].
Para fins norteadores
dos aspectos jurídico-administrativos das compras de materiais hospitalares, objeto
deste estudo, buscou-se respaldo na Lei nº 10.520/2002, que criou a modalidade pregão,
e no Decreto nº 5.450/2005, que regulamentou o pregão eletrônico [5]. É importante
destacar que a modalidade pregão, embora não verse sobre a questão, a doutrina e
a jurisprudência do Tribunal de Contas da União, permitem aos gestores incluir cláusula
impositiva de exigência de amostra ou protótipos de licitante, provisoriamente,
nos editais, viabilizando a testagem dos profissionais que as utilizarão.
A questão norteadora desta
investigação é: Como proceder para que o pregão eletrônico de compras de materiais
hospitalares seja focado na melhoria da qualidade dos produtos adquiridos e repercutam
na segurança dos pacientes e equipes de saúde?
Isto
posto,
considerando a necessidade de aprimoramento dos processos de compras através do
pregão eletrônico, conferindo melhorias na qualidade do cuidado e assistência de
saúde prestados à clientela, o objetivo deste estudo foi propor estratégias para
que o pregão eletrônico de compras de materiais em hospitais universitários constitua
processo focado na qualidade dos produtos adquiridos, repercutindo na segurança
dos pacientes e equipes de saúde.
Trata-se de estudo descritivo,
de abordagem qualitativa, realizado no período de setembro a dezembro de 2015, com
gestores de unidades de internação do Hospital Universitário Gafreé e Guinle, da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro (UNIRIO), unidade da rede federal de ensino, de grande porte, localizado
na Cidade do Rio de Janeiro/RJ/Brasil, fundamentado nas diretrizes da Política Nacional
de Compras Sustentáveis [8].
Participaram
deste estudo
18 enfermeiros e 11 médicos, atuantes em cargos de gestão
de unidades de internação
de média e alta complexidade, tratamento intensivo, de
internação clínica, cirúrgica
e de tratamento intensivo, cujas funções envolvem
solicitação, avaliação e
utilização
de materiais hospitalares. Todos devidamente convidados a participar do
estudo,
baseado no especificado no seu Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido.
Critérios
de inclusão
Exercer função de gestor
de unidade de internação do Hospital Universitário Gafreé
e Guinle, ser responsável pelo processo de compras e solicitação de materiais hospitalares,
utilizados nos procedimentos terapêuticos realizados com os clientes da unidade,
concordar em participar e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.
O desenvolvimento do estudo
atendeu as normas nacionais e internacionais de ética em pesquisa envolvendo seres
humanos e animais, conforme parecer CAAE n° 47784415.8.0000.5285, aprovado em 27/08/2015,
emitido pelo CEP UNIRIO.
Caracterização
da amostra
Participaram do estudo
16 gestoras do sexo feminino (55.17%) e 13 gestores do sexo masculino (44.83%).
A idade dos participantes variou entre 31 e 70 anos, com média de 47,72 anos. O
tempo de formados variou entre 8 e 40 anos, tendo média
de 24,38 anos, enquanto o tempo de atuação no setor obteve média de 14,54 anos.
Quanto ao vínculo de atuação profissional, constatou-se 24 (82.76%) assistenciais
e 5 (17.24%) docente e assistencial
Produção
de dados
Ocorreu no período de
setembro a dezembro de 2015, através da técnica de pesquisa de entrevista individual,
cujo instrumento foi roteiro semiestruturado, elaborado pelos pesquisadores. As
entrevistas foram agendadas com antecedência, procurando conciliar
os compromissos dos participantes e dos pesquisadores, sendo realizadas na
instituição hospitalar, em ambiente exclusivo, como medida preventiva a eventuais
interrupções.
As entrevistas foram gravadas
em áudio e posteriormente transcritas para o Word. O roteiro das entrevistas buscou
responder as seguintes questões:
Método para
análise dos dados produzidos
Utilizou-se a análise
de conteúdo, mais precisamente a análise temática [9], considerando-se suas três
etapas: pré-análise (leitura flutuante e formulação de
hipóteses), exploração do material (codificação e classificação em categorias),
tratamento dos resultados obtidos e interpretação (processo de reflexão). O texto
bruto foi decodificado em categorias de análise temática sobre como os gestores
compreendem a dinâmica dos processos de compras e licitações de materiais hospitalares
através dos pregões eletrônicos, com ênfase no controle da qualidade e segurança
dos pacientes e clientes internados na instituição.
A análise das categorias
baseou-se nos princípios básicos da Lei 8.666/93, utilizando os benefícios das novas
tecnologias da informação (TI), como forma de propor mecanismos de controle de qualidade
dos materiais comprados através dos pregões eletrônicos do Hospital Universitário
Gafreé e Guinle.
Buscando preservar o anonimato
dos participantes nos recortes apresentados nas categorias, decidiu-se pelo uso
do seguinte esquema: [Profissão e número de ordem], considerando as legendas ENF.
(enfermeiro 1-18), MED. (médico 1-11).
Os dados brutos foram
organizados em unidades de registro a partir dos temas que compõe os quadros abaixo,
como forma de organização para a definição das categorias do estudo.
Quadro I - Materiais que apresentam mais problemas, Hospital
Universitário, Rio de Janeiro, 2015.
Fonte: Participantes deste estudo,
dados das entrevistas.
Quadro II - Intercorrências com materiais por falta de qualidade,
Hospital Universitário, Rio de Janeiro, 2015.
Fonte: Participantes deste estudo,
dados das entrevistas.
Quadro III - Eficácia da solicitação de amostra para o pregão,
Hospital Universitário, Rio de Janeiro, 2015.
Fonte: Participantes deste estudo,
dados das entrevistas.
Quadro IV - A criação de uma Comissão de Padronização minimiza
problemas da qualidade dos materiais hospitalares, Hospital Universitário, Rio de
Janeiro, 2015.
Fonte: Participantes deste estudo,
dados das entrevistas.
A análise das Unidades
de Registro apresentada nos quadros I,II,III,IV possibilitou
emergir as seguintes categorias temáticas: 1) Materiais com mais problemas: intercorrências
por falta de critérios de qualidade; 2) Credibilidade sobre solicitação de amostras
para o pregão; e 3) Propósitos da comissão de padronização de materiais hospitalares.
Categoria
1: Materiais com mais problemas: intercorrências por falta
de critérios de qualidade
Como pode ser observado na tabela I, os participantes deste estudo
relatam que os materiais que apresentam mais problemas são: jelcos,
luvas, equipos, polifix, cateter
venoso e agulhas, além da informação de que nenhum material apresenta problema,
como relatos de ENF14, MED4, MED9.
De acordo com estudo realizado
em 2012, em instituições hospitalares de todo o território brasileiro, visando identificar
as atividades dos enfermeiros gestores de centro de material e esterilização, utilizando-se
da ferramenta Google Docs Offline®,
a incorporação de tecnologias sofisticadas para aquisição dos materiais pode ajudar
no aspecto celeridade, porém, carece de critérios de qualidade dos produtos. Critérios
seletivos para dar conta da complexidade das práticas assistenciais hospitalares,
que possibilitem realizar o monitoramento da qualidade dos produtos, preservando
a segurança para o paciente e equipe de saúde [10].
A necessidade de se estabelecer
critérios de controle da qualidade dos materiais hospitalares tem preocupado pesquisadores
mundo afora. Estudos realizados nos Estados Unidos da América [11], na Inglaterra
[12], no Irã [13] e no Canadá [14] confirmam que os avanços tecnológicos da indústria
devem ser criteriosamente avaliados antes de utilizados nos procedimentos terapêuticos
realizados nas instituições de saúde.
Como constatado nos relatos
dos participantes deste estudo, os procedimentos invasivos realizados em unidades
de internação carecem de que os materiais neles utilizados sejam de qualidade confiável,
sejam testados antes de adquiridos. Em caso de perfuração da luva, a transferência
de microrganismos e demais patógenos, é facilitada, aumentando o risco de contaminação
do sítio cirúrgico capaz de desencadear infecção hospitalar [15].
Sabe-se que a ocorrência
de incidentes que comprometam a segurança do paciente tornou-se um desafio premente
para todas as instituições de serviços de saúde, podendo ou não envolver a lesão.
Quando ocorrem são denominados eventos adversos [14]. A questão da segurança do
paciente tornou-se mais e mais generalizada dentro das instituições de saúde e entre
os profissionais de saúde no que diz respeito à busca constante pela qualidade dos
cuidados prestados e minimizar o número de incidentes evitáveis [16].
As unidades de registro
elencadas na tabela II oferecem leitura dos relatos dos participantes, justificando
suas avaliações com importante destaque para a falta de qualidade dos materiais,
como relatos atribuídos a má qualidade dos cateteres de punção venosa tipo jelco: como relatados pelos participantes ENF3 e ENF8. Destaque
também para o sofrimento, estresse e ansiedade [11,12], devido aos procedimentos
invasivos que são realizados várias vezes [13] nos clientes em geral, relatados
pelo MED3, ou impostos ao recém-nascido, como relatos do participante ENF2.
A temática segurança do
paciente encontra-se intrinsecamente relacionada à qualidade nos serviços de saúde
e vem sendo amplamente referida e discutida pelos setores prestadores de serviços
de saúde, pelas entidades de classe e pelos órgãos governamentais [16-18].
Ausência de critério para
avaliação da qualidade dos produtos adquiridos através dos pregões tem causado problemas
para a segurança nos hospitais. Uma peculiaridade importante do pregão eletrônico
é a chamada inversão das fases de habilitação e julgamento, entendendo-se a primeira
como aquela em que o licitante deve comprovar sua capacidade técnica e financeira,
além de sua idoneidade fiscal, para fornecer o bem ou serviço que a Administração
deseja adquirir. A segunda se refere à apuração efetiva da proposta comercial mais
vantajosa para a Administração [19].
Da mesma forma, de acordo
com a tabela II, os participantes deste estudo atribuem problema de baixa qualidade
dos materiais utilizados para procedimentos de alta complexidade, como cateteres
de punção venosa profunda e equipos utilizados para infusão
de grandes volumes líquidos, hemotransfusões e diversos
medicamentos, como relatados pelos participantes MED1 e MED7.
Entre
os riscos intrínsecos
na assistência à saúde, a infusão de
medicamentos é uma preocupação constante.
Avanços
tecnológicos da indústria de equipamentos hospitalares
viabilizaram a aplicação
de medicamentos por via endovenosa através de bombas infusoras.
Qualquer erro de programação em uma bomba de infusão pode gerar graves consequências,
podendo ser fatal dependendo do perfil do paciente ou da medicação utilizada [20].
Acredita-se que para o
estabelecimento e manutenção da segurança do paciente na terapia intravenosa em
unidades de tratamento intensivo se faz necessário maior investimento em pesquisas
com níveis de evidência mais elevados, uma vez que estas fornecem maior recomendação
para prática [21,22].
Em
torno de 80% dos pacientes
hospitalizados recebem terapia por infusão. Com o aumento do uso
de terapias intravenosas,
tornou-se necessário desenvolver dispositivos para infundir
drogas com pressão superior
à pressão sanguínea e com precisão elevada.
Cerca de 30% dos danos durante a hospitalização
estão relacionados a erros de medicação, os quais
trazem também sérias consequências
econômicas aos hospitais. O custo anual de danos severos a erros
de medicação, nos
USA, tem sido estimado em torno de U$ 76,6 bilhões [20].
Os eventos adversos são
comumente associados ao erro humano individual, mas devem-se considerar como desencadeadores
as condições de trabalho, os aspectos estruturais e a complexidade das atividades
desenvolvidas [18].
Categoria
2: Credibilidade sobre solicitação de amostras para o pregão
Com
a regulamentação do
pregão eletrônico, como deliberado pelo Decreto nº
5.450/2005, as licitações para
aquisição de bens e serviços comuns, incluindo as
contratações de serviços contínuos
no âmbito da União, passaram a ser feitas
preferencialmente por esta ferramenta
[22]. A ausência de critérios para que o fornecedor
ofereça amostras suficientes
dos materiais para avaliação pela equipe que os
utilizarão, tornou o pregão limitado
às compras com entregas mais rápidas e cotadas pelo menor
preço, comprometendo princípios
de segurança e qualidade de materiais hospitalares, objeto deste
estudo.
Alguns participantes deste
estudo relataram que acreditam na eficácia da solicitação de amostra para o pregão,
pautados nas experiências vivenciadas noutras instituições ou nos setores que atuam
no HUGG, como observado na tabela III, nos relatos do ENF3 e ENF5.
Garantias de maior celeridade,
desburocratizando as etapas da licitação, com a inversão das fases e entregas mais
rápidas [19], não são suficientes para que o pregão eletrônico cumpra exigências
básicas de qualidade nos processos de compras de materiais hospitalares. Tampouco,
experiências esporádicas de um ou outro membro da equipe consolida comportamento
crítico sobre a importância da solicitação de amostras, como política institucional,
de acordo com o observado nas informações dos participantes deste estudo.
Outros participantes informaram
que as amostras oferecidas são insuficientes para testagem, por isso, não acreditam
na eficácia da solicitação de amostras, como demonstrado pela tabela III, de acordo
com o narrado pelos participantes ENF2 e ENF10.
Quando o fornecedor não
oferece amostras suficientes, corre-se risco de graves acidentes com os clientes
e membros da equipe. A propósito, define-se por segurança do paciente a redução
a um mínimo aceitável do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde.
O mínimo aceitável refere-se ao conhecimento científico corrente, descobertas disponíveis
e ao contexto no qual o cuidado é dispensado [21].
Diante disso, além da
criação de uma comissão para solicitação de amostra nos pregões eletrônicos, os
participantes deste estudo recomendaram que a mesma seja
composta por profissionais capacitados para a tarefa de avaliar a qualidade dos
materias que utilizarão nos procedimentos terapeuticos desenvolvidos nos pacientes internados.
Entre os participantes
favoráveis à eficácia da solicitação de amostras no pregão, destacou-se o entendimento
que a comissão deve ser composta por profissionais capacitados e que sejam envolvidos
com a utilização dos materiais, de acordo com o relatado pelo MED1 e MED7, como
observado na tabela III.
Categoria
3: Propósitos da comissão de padronização de materiais
hospitalares
Experiências com processos
de compras de materiais hospitalares que contemplam critérios para avaliação de
amostras são decisivas para que os gestores acreditem que sua implementação é fundamental para o controle da qualidade dos
produtos. Vale destacar a importância do preparo profissional para atuação conforme
as práticas preconizadas, de modo que estes se tornem capazes de agir corretamente
perante as recomendações e assim favoreçam a segurança do paciente [21].
Estudo realizado em hospital
de ensino da Cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, reitera que a função de compras
engloba todas as atividades essenciais associadas à aquisição de materiais, serviços
e equipamentos utilizados nos procedimentos terapêuticos realizados na instituição,
buscando conciliar requisitos de qualidade, melhor preço e padronização dos itens
de maior consumo nas unidades de internação [7].
De acordo com as unidades
de registro da tabela IV, os participantes deste estudo relataram acreditar que
a criação de uma Comissão de Padronização resolve problemas da qualidade dos materiais
hospitalares, como relatos do ENF4, ENF5, ENF7, ENF16 e ENF17. Enquanto houve quem
se mostrasse favorável, porém, com reservas, a exemplo do relato do MED4 e MED7.
A
inserção e a tentativa
de unificação dos conteúdos sobre segurança
do paciente ainda é uma proposição recente
nas escolas do Brasil e não faz parte dos objetivos escolares.
Demonstra a necessidade
de uma revisão dos Projetos Pedagógicos, em que se
contemple uma abordagem interdisciplinar,
bem como transdisciplinar, uma vez que há mudanças
contínuas na sociedade contemporânea,
e a universidade deve estar à frente dessas discussões
[23].
Relevante observar que
nas unidades de registro da tabela IV alguns relatos dos participantes destacam
que a criação da comissão pode contribuir para melhoria da qualidade do material,
como observado nas falas do ENF1 e ENF8.
A propósito do destacado
pelos enfermeiros participantes deste estudo, pesquisa realizada em um hospital
universitário de médio porte em Belém, Estado do Pará, Brasil, em 2014, sugere que
a atuação do enfermeiro na gestão de recursos materiais é uma das maiores conquistas
na tomada de decisões gerenciais, o que reforça a sua importância nos aspectos técnicos
e administrativos inerentes aos processos de atenção e gestão [24].
Por fim, cabe ressaltar
que a administração de instituições hospitalares mantidas com verbas públicas, atualmente,
constitui imenso desafio para os gestores, considerando aspectos como baixo financiamento,
desequilíbrio entre oferta e demanda, elevados custos e
planejamento e políticas públicas ineficientes [7].
O estudo aponta para exposição
de pacientes e equipes profissionais causados pela má qualidade dos materiais hospitalares
adquiridos através do pregão eletrônico, considerando a falta de critérios de avaliação
prévia dos produtos, o que poderia ser minimizado com a implementação
de uma comissão para testagem dos materiais a serem comprados nesse processo.
A ocorrência de problemas
decorrentes do uso de materiais hospitalares de não conformidade causa dor e sofrimento
para os clientes internados nos diversos setores do hospital, além de estresse e
riscos de acidentes a que ficam expostos os profissionais da equipe terapêutica.
Razões que justificam os depoimentos dos participantes deste estudo quando afirmam
a necessidade de padronização desses materiais e da sua testagem antes dos processos
de compras, realizados através dos pregões eletrônicos.
Diante do avanço tecnológico
que os pregões eletrônicos trouxeram para os processos de compras de materiais hospitalares,
importante considerar que a celeridade sem critérios de
avaliação dos produtos para fins terapêuticos, aumenta a ocorrência da não conformidade,
o descarte de vários insumos, o desperdício de recursos financeiros, que bem melhor
poderiam ser utilizados em pesquisas acadêmicas da comunidade universitária.
Este estudo não esgota
o tema, mas abre horizontes para que outras investidas acadêmicas possam descortinar
novas possibilidades na área de administração de compras de materiais hospitalares.