ARTIGO
ORIGINAL
Doulas
voluntárias em uma maternidade escola na Região dos Campos Gerais: a visão dos
profissionais
Thiane Cristina Wosniak*, Ana Paula Xavier Ravelli, D.Sc.**, Brenda Cristiny
Padilha*, Mariana Faria Szczerep*, Laryssa de Col Dalazoana***, Luciane Patricia Andreani Cabral, M.Sc.****
*Enfermeira
Residente do Programa de Enfermagem Obstétrica do Hospital Universitário
Regional dos Campos Gerais, UEPG, Ponta Grossa/PR, **Professora adjunta pelo
Departamento de Enfermagem e Saúde Pública, Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Coordenadora da Residência de Enfermagem Obstétrica pelo Hospital
Universitário Regional dos Campos Gerais, ***Enfermeira Obstetra, Docente da
Universidade Estadual de Ponta Grossa/Pr,
****Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR, Coordenadora da
Comissão de Residência Multiprofissional (Coremu) do
Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG)
Recebido 15 de maio
de 2018; aceito 15 de dezembro de 2018.
Endereço
para correspondência:
Thiane Cristina Wosniak,
Rua Vicente Spósito, 188 Condomínio Lagoa Dourada,
Bloco 10/04 Bairro Uvaranas 84031900 Ponta Grossa PR,
E-mail: thianecw@hotmail.com; Ana Paula Xavier Ravelli: anapxr@hotmail.com;
Brenda Cristiny Padilha: brenda.cristiny@hotmail.com;
Mariana Faria Szczerepa: mariszczerepa@gmail.com; Laryssa de Col Dalazoana: laryssadalazoana@yahoo.com.br; Luciane Patricia Andreani Cabral: luciane.pacabral@gmail.com
Resumo
O parto sempre foi
assistido por mulheres parteiras, mas com o avanço da tecnologia, perderam
espaço para os médicos. Atualmente surge a doula, a
mulher retorna ao cenário do parto e nascimento como doula,
com a função de acompanhar a mulher em trabalho de parto, prestando apoio
físico e psicológico. O objetivo deste estudo foi identificar o conhecimento
dos profissionais de saúde atuantes em uma maternidade/centro
obstétrico de um hospital escola na região dos Campos Gerais do Paraná,
sobre o papel das doulas voluntárias enquanto equipe interprofissional. Trata-se de um estudo descritivo,
prospectivo, de abordagem quantitativa. Quarenta e nove profissionais
participaram do estudo, respondendo um questionário com afirmativas de acordo
com a escala de Likert. A faixa etária prevalente foi
a de 31 a 40 anos (51%); sexo feminino (100%); técnicos de enfermagem (83,7%);
tempo de formação profissional ≥ 2 anos (97,9%);
tempo de atuação na instituição ≥ 1 ano (77,6%) e nunca terem trabalhado
com doulas em outras instituições (91,7%). Notou-se
que os profissionais têm conhecimento de que a doula
não é membro da equipe de enfermagem, porém, o conhecimento sobre os benefícios
das práticas da doula e da sua atuação é deficitária.
Palavras-chave: doulas,
parto humanizado, equipe enfermagem, enfermagem.
Abstract
Volunteer doulas in a school maternity in the region of Campos Gerais: the vision of professionals
The delivery was always attended by midwives, and with the advancement
of technology, they ended up losing space for doctors. Only today, the women
returns to the scene of birth as doulas, with the function of accompanying the
woman in labor, providing physical and psychological
support. The objective of this study was to identify the knowledge of health
professionals working in a maternity/obstetric center of a school hospital in
the Campos Gerais region of Paraná, about the role of
voluntary doulas as an interprofessional team. This
is a descriptive, prospective, quantitative approach. Forty-nine professionals
participated in the study responding to a questionnaire with affirmations
according to the Likert scale. The prevalent age
range was 31 to 40 years (51%); female (100%); nursing technicians (83,7%);
time of professional training ≥ 2 years (97,9%); time of working in the
institution ≥ 1 year (77,6%) (77,6%) and never
worked with doulas in other institutions (91,7%). We noted that professionals
are aware that doula is not a member of the nursing team, but knowledge about
the benefits of doula practices and their performance is deficient.
Key-words: doulas,
humanized childbirth, nursing team, nursing.
Resumen
Doulas voluntarias en una maternidad escuela en la región de los Campos Gerais: la visión de los profesionales
El parto siempre fue realizado por mujeres parteras, pero, con el
avance de la tecnología, perdieron espacio para los médicos. En la actualidad
surge la doula, la mujer retorna al escenario del parto y nacimiento como doula, con la función
de acompañar a la mujer en trabajo
de parto, proporcionando apoyo físico y psicológico.
El objetivo de este estudio fue
identificar el conocimiento de los profesionales de salud actuantes en una maternidad/centro obstétrico de un
hospital escuela en la región de los
Campos Gerais/Paraná, sobre el rol de las doulas voluntarias como
equipo interprofesional. Se trata
de un estudio descriptivo, prospectivo, de abordaje
cuantitativo. Cuarenta y nueve profesionales participaron del
estudio, respondiendo un cuestionario con afirmaciones de acuerdo con la
escala de Likert. El grupo de edad
prevalente fue de 31 a 40 años
(51%); sexo femenino (100%); técnicos de enfermería (83,7%); tiempo de formación profesional ≥ 2 años (97,9%); tiempo de actuación en la institución
≥ 1 año (77,6%) y nunca haber
trabajado con doulas en otras
instituciones (91,7%). Se notó
que los profesionales tienen conocimiento de que la doula
no forma parte del equipo de enfermería,
sin embargo, desconocen los beneficios de las prácticas de la doula y de su
actuación.
Palabras-clave: doulas,
parto humanizado, equipo enfermería,
enfermería.
Em todo o mundo, por
séculos, o parto foi visto como um fenômeno natural e as mulheres eram assistidas por outras mulheres, dentro de seus domicílios. A
partir do final do século XIX, fortalecendo-se em meados do século XX, o avanço
do capitalismo e da tecnologia na prática obstétrica, o cenário do parto passou
a ser instituições hospitalares. Então, deixou de ser
visto como natural, mas como um processo dependente de intervenções médicas,
retirando de cena a presença de outras mulheres que prestavam apoio [1].
Agora no século XXI o
parto hospitalar é uma regra. De um lado é tido como seguro, por proporcionar
melhores condições assistências, pelo uso de tecnologias diagnósticas
avançadas, o que levou inicialmente à diminuição dos indicadores de
morbimortalidade materna e perinatal. De outro lado, o parto ficou entendido
como um evento patológico, distanciando a mulher de participação ativa no
processo de parir, de domínio do seu corpo, de seus sentimentos e necessidades,
pelo excesso de intervenções obstétricas a mando médico [2].
No Brasil, as
primeiras políticas visando a saúde da mulher surgiram
na década de 30, evoluindo entre os anos 50 e 70, no contexto da gestação e
parto e aos poucos foram surgindo iniciativas de pensar na mulher além da
reprodução. Em 1984 foi criado o programa de Assistência Integral à saúde da
mulher, descentralizado, municipalizado e hierarquizado, com atendimento integral
e equânime [3].
Nos anos 2000, surge
o Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento, com vistas à diminuição de
mortes maternas e neonatais, assim como de cesarianas desnecessárias, além de
organizar a atenção pré-natal e propor a humanização do nascimento. Logo após,
em 2004, a política nacional de atenção integral a saúde da mulher veio propor
diretrizes de um cuidado integral e humanizado à mulher, para a melhoria da
qualidade da assistência em âmbito nacional [4].
Em 2011, o Ministério
da Saúde (MS), por meio da Portaria Nº 1.459, cria a estratégia rede cegonha
com o objetivo de sistematizar e institucionalizar um modelo de atenção ao
parto e ao nascimento, além de proporcionar às crianças o direito ao nascimento,
crescimento e desenvolvimento saudáveis até os dois anos de vida [2].
Em relação ao parto e
nascimento, a Organização Mundial de Saúde (OMS), classifica práticas comuns
durante a condução do parto normal, orientando o que deve e o que não deve ser
feito durante o trabalho de parto (TP). Tal classificação foi elaborada a
partir de evidências científicas adquiridas por meio de pesquisas realizadas em
âmbito mundial [5].
Tais práticas buscam
recolocar a mulher como protagonista de seu próprio parto, reduzindo
procedimentos desnecessários ou claramente prejudiciais, como episiotomia, uso de ocitocina
indiscriminado, e até mesmo cesarianas sem indicação clínica. Em contrapartida,
favorecia práticas como os métodos não farmacológicos para o alívio da dor,
auxiliando na dilatação, variedade de posição, presença do acompanhante, entre
outros [1].
É o que se põe em
discussão atualmente sobre a humanização no parir e nascer, reduzindo
procedimentos desnecessários, respeitando o corpo da mulher, seus sentimentos e
necessidades, permitindo que seja a “dona do seu parto”, a protagonista,
inserindo-se a presença da doula como estratégia de
apoio e conforto [1].
Doula é uma palavra de
origem grega que significa “mulher que serve”, sem ter necessariamente formação
formal na área da saúde. Cabe a ela apoiar a gestante e parturiente, durante o
trabalho de parto, oferecendo posições diferenciadas durante o período de
dilatação, ambiente tranquilo, acolhedor e privativo, realiza exercícios e
técnicas respiratórias, massagens, banho morno e demais métodos não
farmacológicos para o alívio da dor [6-8].
Em muitas
maternidades brasileiras a doula tem ganhado espaço
no Sistema Único de Saúde (SUS), assistindo as mulheres no sistema único de
saúde (SUS) durante o pré-natal, parto e puerpério. No entanto, a inserção,
atuação e funções das doulas no SUS ainda não é de conhecimento de todos os profissionais da saúde
envolvidos na atenção ao parto hospitalar. Esse fato acaba gerando
desentendimentos e desconforto para a equipe, comprometendo o exercício da
humanização da atenção às mulheres em TP e no parto [9].
Frente ao embasamento
teórico, levanta-se a hipótese de que os profissionais de saúde atuantes em uma
maternidade escola têm o conhecimento sobre o papel da doula
enquanto equipe interprofissional. Assim, essa
pesquisa tem por objetivo identificar o conhecimento dos profissionais de saúde
atuantes em uma maternidade e centro obstétrico de um hospital escola, sobre o
papel das doulas voluntárias, atuando junto à equipe interprofissional da maternidade.
Trata-se de um estudo
exploratório/descritivo, prospectivo, de abordagem quantitativa, desenvolvido
em uma maternidade escola de um hospital universitário na região dos Campos
Gerais, no Paraná, sendo atualmente a única maternidade pública que atende
gestantes de risco habitual e intermediário, com uma média de 200
nascimentos/mês.
O instrumento de
coleta de dados constituiu-se de duas partes, sendo a primeira de seis questões
para identificar o perfil sócio-demográfico da
amostra, e a segunda parte com dez afirmativas a serem respondidas a partir da
escala de Likert. Essa escala foi apresentada com
cinco graus de variação, sendo 1 – discordo totalmente
(DT) 2 – discordo parcialmente (DP) 3 – indiferente (I) 4 – concordo
parcialmente (CP) e 5 – concordo totalmente (CT), tendo sido estabelecido como
média alvo o CT nas afirmativas corretas e O DT nas afirmativas incorretas.
Os critérios de
inclusão foram: enfermeiros e técnicos de enfermagem atuantes na maternidade e
centro obstétrico da instituição; aceitação para participar da pesquisa e
assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Os critérios
de exclusão foram o tempo de atuação inferior a um mês na instituição e
questionário incompleto com ≤ 5 questões
respondidas.
A Pesquisa foi
aprovada pelo comitê de ética, com o parecer 1.055.927, atendendo à resolução
nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
A coleta foi
realizada de dezembro a janeiro de 2017 e, após isso, os dados foram
armazenados em planilha eletrônica Excel® e para análise, utilizou-se o Statistic Package for Social Sciences (SPSS®), versão 25. Os resultados foram agrupados
em tabelas a partir de frequência dos dados do perfil, com as afirmativas da
escala.
Cabe ressaltar que a
inserção de doulas nesta instituição se deu a partir
da demanda das mulheres, associado à lei municipal 12.666 que prevê a presença
de doulas nas maternidades do município. sendo assim, a instituição, por meio do programa de
residência em enfermagem obstétrica realizou 3 edições do curso de formação de doulas nos meses de agosto, setembro e outubro de 2017, com
carga horária de 42h, teórico-prático, formando 77 doulas
para atuação voluntária na maternidade. Sendo assim, atualmente está sendo
organizado o protocolo institucional para exercício de doulas
voluntárias na maternidade escola.
A amostra inicial foi
composta por 52 sujeitos, mas foram excluídos três, totalizando 49 sujeitos,
sendo 41 (83,7%) técnicas de enfermagem (TE); 06 (12,2%) enfermeiras (E) 2 (4,1%) enfermeiras obstetras (EO). Sendo assim,
inicialmente descrever-se-á o perfil da amostra conforme a Tabela I.
Tabela
I – Perfil sócio demográfico da amostra de
trabalhadores de enfermagem participantes da pesquisa. Ponta Grossa/PR, 2018.
N= 49.
Fonte: Produção da
autora, 2018
A seguir,
apresenta-se o percentual das respostas a cada afirmativa, de acordo com os
níveis de concordância pela Escala de Likert (Tabela
II). Nota-se nessa Tabela que a maioria discordou totalmente que a doula era integrante da equipe de saúde (57,1%)
Tabela
II –
Percentual das respostas às afirmações.
Ponta Grossa/PR, 2018.
DT = Discordo Totalmente; DP = Discordo Parcialmente; I =
Indiferente; CP = Concordo Parcialmente; CT = Concordo Totalmente; Fonte:
Produção Da Autora, 2018.
A análise dos dados
teve como norteador o CT nas afirmativas corretas e DT nas afirmativas
incorretas, no foco da escala de Likert. as afirmativas foram descritas, apresentadas em porcentagem
de acerto. em todas afirmativas, a média alvo foi
atingida. cabe ressaltar que a discussão aconteceu
mediante proximidade dos temas, no qual as questões 1, 4 e 7 foram destacadas
inicialmente, 2, 6 e 9 a seguir e posteriormente as questões 3, 5, 8 e 10.
Na questão 1, 57,1% dos participantes discordaram que a doula faz parte da equipe de enfermagem. o
maior índice de acerto foi da faixa etária de 20 a 30 anos com 75% e cruzando
com a variável profissão, 50% das enfermeiras acertaram as enfermeiras
obstetras 50%, enquanto as Técnicas de Enfermagem, 58,5%, observando-se que
acertaram mais que os demais profissionais.
A afirmativa está incorreta
porque a doula é reconhecida como uma ocupação, e não
faz parte da equipe de enfermagem, portanto, as questões referentes a esta
ocupação são da competência da sua associação, e não respaldadas pelo Conselho
Federal de enfermagem [10].
Os atributos das doulas ainda são desconhecidos pela equipe de saúde na
atenção ao parto hospitalar, o que compromete a sua atuação, uma vez que a
humanização é o eixo norteador das suas ações. Esse desconhecimento também
acaba causando resistência na integração desse novo membro da equipe [9]. o papel das doulas é de “[...]
permanecer ao lado da parturiente e não para substituir nenhum profissional da
equipe técnica” [11].
Nesse mesmo sentido,
a questão 7 identificou que a maioria dos
profissionais (89,8%) tinha domínio sobre o papel da doula
a respeito das atividades práticas rotineiras das mulheres em trabalho de
parto, pois discordaram totalmente que a doula deve
verificar sinais vitais e batimentos cardíacos do feto. No cruzamento de
variáveis, a faixa etária dos 41 anos ou mais, as enfermeiras e as enfermeiras
obstetras 100% acertaram, enquanto 87,8% das técnicas de enfermagem discordaram
totalmente dessa afirmação.
Vale ressaltar que a
participação da doula no parto e nascimento se faz
por meio do acompanhamento, apoio físico e psicológico, e procedimentos de
enfermagem não fazem parte de suas funções [12]. Logo, não é responsabilidade,
nem inclui-se entre as competências da doula, a verificação de sinais vitais da mulher e nem a
ausculta do BCF, o que foi de encontro com o conhecimento de grande parte da
amostra.
Neste enfoque, a
questão 4 mostrou que a maioria da amostra (67,7%) DT
que a doula exerce o mesmo papel e responsabilidade
que a equipe de saúde da maternidade. a faixa etária
de maior acerto foi dos 20 a 30 anos com 87,5% e 67,5% dos te com o maior
índice de acerto.
As doulas voluntárias podem desempenhar um papel importante na
melhoria das experiências de nascimento, através do apoio físico e emocional
contínuo, complementando o papel clínico dos profissionais. No entanto, é
necessário maior clareza sobre a autonomia e atividades da doula
voluntária para melhorar a relação de trabalho com a equipe obstétrica. [13].
Como exemplo disso,
contrastando o papel da doula e da enfermeira
obstetra, a doula acaba tendo uma ligação afetiva com
a mulher, e a enfermeira domina procedimentos e rotinas da instituição,
deixando, por vezes, em segundo plano as técnicas de apoio físico e emocional,
complementado pelo papel da doula [14,15].
Para que a atuação da
doula tenha um bom desenvolvimento, tem-se como uma
regra de conduta, a ciência dos seus limites na atuação e a não interferência
nas condutas dos outros profissionais envolvidos no cuidado [16].
Na questão 2, considerando o CT o acerto, apenas 36,7% da amostra
concordou totalmente que a presença da doula é
importante para a evolução do TP. Contudo, a partir da soma do CT e do CP,
teve-se 77,5% de acerto considerável. O maior índice de acerto foi da faixa
etária de 20 a 30 anos, com 50% e quanto a profissão,
50% das enfermeiras obstetras acertaram mais se comparado aos TE (36,6%) e
enfermeiras (33,3%).
Já na questão 6, considerando o CT o acerto, apenas 33,3% concordaram que
as atividades desenvolvidas pelas doulas colaboram
com a dilatação do colo do útero com a diminuição da dor. Contudo, a partir da
soma do CT e CP, obteve-se 70,8% de acerto considerável. O maior índice de
acerto foi da faixa etária de 20 a 30 anos, 62,5% CT. Por profissão, 40% das
enfermeiras CT e CP e 20% DT; das EO 100% CP; e das TE
34,1% CT e CP. assim, os enfermeiros acertaram mais. Contudo, nota-se que 20%
das enfermeiras DT, o que não corrobora com a literatura atual e com evidências
científicas.
O apoio contínuo
durante o TP por uma doula deve ser fornecido a todas
as mulheres, de preferência desde o início do TP, pois o apoio fornecido pela doula é mais eficaz quando comparado ao apoio fornecido por
um funcionário da instituição [17].
Um dos maiores
benefícios da doula à mulher, é a menor percepção
dolorosa, aumento da capacidade de lidar com a dor, servindo como um calmante
motivacional, empoderando-as para lidar com o medo, a
ansiedade e confiar em si mesma [18-21].
As principais ações
da doula se dão pelo apoio emocional e físico, o que
inclui práticas integrativas e complementares, massagem na região lombossacral, exercícios respiratórios, técnicas de
relaxamento e a hidroterapia com água morna. o uso da
bola associado ao banho morno apresenta redução significativa da dor, ansiedade
e estresse [22,23].
A utilização da água
morna estimula as terminações nervosas da pele, reduzindo neurotransmissores da
dor, diminuindo a sensação dolorosa e proporcionando mais conforto à
parturiente. Além disso, o banho auxilia na rotação fetal, na aceleração do tp e na redução do trauma perineal [22,24].
O uso da bola suíça
melhora a circulação sanguínea uterina, tornando as contrações mais eficazes,
auxiliando na dilatação cervical e descida fetal, sendo considerado um método
importante durante o TP [24,25]. Por fim, a ingestão de água e alimentos deve
ocorrer durante o TP, bem como o incentivo a posições verticais [9].
Ante o exposto,
nota-se que as atividades desenvolvidas pela doula
contribuem de fato para a progressão do trabalho de parto, bem como para o
alívio da dor, fato desconhecido por alguns profissionais atuantes na
maternidade. As dificuldades no campo de atuação da doulaestão
mais relacionadas à falta de conhecimento dos profissionais
sobre suas
funções, o que resulta na desvalorização e
na não visualização de benefícios de
suas atividades durante o TP [23].
Na questão 9, considerando o CT o acerto, apenas 26,5% concordaram que
o TP de uma mulher acompanhada pela doula evolui mais
rápido do que uma mulher que está sozinha. Contudo, com a soma do CT e do CP
obteve-se 67,3%, um acerto considerável. A faixa etária de 31 a 40 anos, foi a
que mais acertou, 52%.
Segundo a categoria
profissional, 33,3% das enfermeiras CT, das enfermeiras obstetras, 50% DT e 50%
I. Entre as TE, 26,8% manifestaram CT, mostrando que as enfermeiras foram as
que mais acertaram nessa questão.
Um dos primeiros
estudos nessa perspectiva mostrou que a presença da doula
durante o processo de parto e nascimento reduz em 25% a duração do TP [26].
Estudos mais recentes também mostram que a duração do TP foi menor para as
mulheres acompanhadas por doulas [27,28].
Nesta pesquisa,
observou-se limitação de conhecimento sobre os benefícios da doula no TP, principalmente a sua importância na diminuição
do tempo de TP. É possível que ainda não se detiveram
para observar na sua realidade, a diminuição do TP com a doula,
e a experiência não os deixa concordar com tal afirmação.
Cabe ressaltar que
entre as enfermeiras obstetras, uma concordou totalmente e outra discordou
totalmente sobre o papel da doula na diminuição do
tempo de trabalho de parto, fato que pode mostrar que a especialidade não teve
significância em relação ao conhecimento.
Pode-se perceber que
nas três questões descritas e discutidas acima, a porcentagem de acerto não
alcançou os 50%, portanto ao que diz respeito a essa
temática, os profissionais demonstraram desconhecimento sobre os benefícios e
evidências da atuação da doula, o que compromete sua
integração na equipe.
A doula
é capaz de proporcionar à mulher mais segurança no processo de parto, contudo,
sua função é esquecida ou não reconhecida pelos profissionais das unidades
hospitalares. Uma discussão que se faz sobre a doulaé
que é uma ocupação, pois a não
legitimação oficial da profissão trás
dificuldades para a atuação e prática,
principalmente o não reconhecimento da
sua função e da necessidade da sua presença, para
a instituição institucional,
associado ao desconhecimento de suas funções pela equipe
de saúde [29].
Na questão 3, considerando correto o CT, apenas 38,8% concordaram que a
presença da doula pode aumentar os índices de parto
normal. Contudo, contando o CT e CP, obteve-se 65,3% de acerto, o que é
considerável. A faixa etária de 41 anos ou mais foi a que mais acertou, 43,8%. na profissão, 33,3%
das enfermeiras CT ou CP e das enfermeiras obstetras 50% CT.
Resultados positivos
para a área obstétrica podem ser associadas à atuação
das doulas, especialmente na melhora da percepção do
parto como evento natural, o que contribui para o parto normal [30]. Uma
revisão sistemática da Cochrane com 15 estudos, e com 12.791 mulheres,
comprovou que as mulheres que tiveram o apoio contínuo individual com uma doula, tiveram mais índices de parto normal espontâneo, sem
uso de analgesias e medicações [31].
Um estudo que ocorreu
com um grupo de mulheres com apoio de doula e com um
grupo de mulheres sem o apoio de doula, identificou
que o número de cesáreas foi menor no grupo de intervenção com doula, quando comparado ao outro grupo. Estudos sobre a
presença da doula e seus benefícios vêm sendo
realizados desde os anos 80, mostrando que a doula
influencia positivamente no parto normal e na redução de cesarianas, contudo,
muitos profissionais da área obstétrica ainda não têm essa percepção [32,33].
Na questão 5 a média alvo foi atingida, pois 58,3% dos sujeitos DT que
a presença da doula substitui a presença do
acompanhante. O maior índice de acerto foi da faixa etária de 20 a 30 anos,
75%. das enfermeiras, 83,3%; EO 50% e TE 55%.
De acordo com a lei
11.108 de 2005 [33], é garantia das parturientes o direito do acompanhante
durante o tp, parto e pós-parto imediato no âmbito do
SUS. não obstante, o município de Ponta Grossa
decretou a lei 12.166 de 2015 [34], que permite a presença de doulas nas maternidades do município.
Cabe salientar que a
presença de um não substitui a do outro, uma vez que a doula
é considerada uma acompanhante treinada, reconhecida como uma ocupação desde
2013, portanto exerce papel diferente do acompanhante. Além disso, estudos
atestam os benefícios da doula, mesmo quando há um
acompanhante e uma equipe que esteja de acordo com os princípios da humanização
[35,36].
Na questão 8, 55,1% CT que a presença voluntária da doula
é uma ferramenta importante para a humanização do parto e nascimento. O maior
índice de acerto foi na faixa etária 41 anos ou mais. De acordo com o tempo de
profissão, 100% dos profissionais com menos de 2 anos,
concordaram totalmente (CT), e dos profissionais com 2 anos ou mais, 53,2% CT
da afirmação. Pode-se inferir, então, que os profissionais com menos tempo de
profissão, demonstraram mais conhecimento em relação a
afirmativa.
A humanização do
parto surge como um movimento que busca retomar o papel de protagonista,
durante o ciclo gravídico puerperal, e no parto, diminuindo as intervenções
profissionais [38]. A humanização vem abrindo caminhos para a entrada de novos
profissionais nesse processo. Neste contexto, surgem as doulas,
cuja figura faz sentido apenas dentro desse modelo humanizado no cenário do
parto, transmitindo segurança à mulher em todos os aspectos, por isso, é
considerada uma profissional humanizada [5,38].
A assistência
humanizada significa ofertar liberdade de escolha para a mulher, buscando a
integralidade de práticas benéficas, respeitando os direitos, e proporcionando
outras modalidades terapêuticas que diferem da assistência convencional [22].
Na questão 10, apenas
23,4% CT que desde a entrada das doulas no hospital,
já se percebe os benefícios para a mulher em TP. Contudo, somando o CT e CP há
68,1% de acerto considerável. Na faixa etária de 20 a 30 anos, 62,5%. por profissão, apenas os técnicos de enfermagem concordaram
totalmente (28,2%), os enfermeiros (83,3%) e os enfermeiros obstetras apenas
CP. Pode-se concluir que os técnicos de enfermagem foram os que mais
visualizaram mudanças após a entrada das doulas.
De acordo com o tempo
de profissão, dos profissionais com menos de 2 anos de
profissão, 100% deles CP e dos profissionais com 2 anos ou mais, 44,4% CP e
24,4% CT 24,4%. Então, neste estudo, os profissionais de enfermagem com menos
de 2 anos de profissão foram os que mais demonstraram
percepção das mudanças após a entrada das doulas.
Em um estudo, a
atuação da doula foi reconhecida pela equipe de
enfermagem o apoio emocional e as orientações que dão, além de acreditarem ser
importante, pelo fato das doulas estarem mais com a
mulher do que a própria equipe [12].
O apoio de doula é complementar porque foi visto como um cuidado
diferente da obstetrícia, pois o foco é o apoio a
mulher de acordo com suas necessidades, sem avaliações clínicas, o que
corrobora com o conceito de doula como “fomentadora
de relações de autonomia”, além de ser um elo entre a equipe e a mulher
[39,40].
Pode notar-se que a
maioria da amostra demonstrou falta de conhecimento sobre benefícios e as
vantagens da presença da doula desde sua inserção.
Esse fato pode se dar devido a não visualização das doulas
em determinados plantões ou pode representar uma certa
resistência a entrada das mesmas. A pouca aceitação das doulas
pode não estar relacionada especificamente a mesma, e sim a inclusão de mais
uma pessoa na assistência ao parto e nascimento, pois isso representa uma
modificação nas relações de poder na atenção à mulher [12].
A atuação da doula na assistência ao parto é reconhecida mundialmente,
uma vez que a maioria das evidências científicas é de origem americana ou europeia.
O governador do estado de Nova York anunciou no mês de abril de 2018, que
contará com as doulas para a redução da mortalidade
materna entre as mulheres negras, considerando que a possibilidade de óbito no
período fértil é quatro vezes maior do que comparado a mulheres brancas. Esse
será o terceiro Estado dos EUA a introduzirem programas de doulas
à assistência ao parto [41].
Para ser doula nos EUA, é necessária a participação de um curso de
formação de dezoito horas, que incluem temas relacionados à saúde materna
infantil, parto, amamentação, bem como a observação de partos. Após avaliações
satisfatórias das mulheres e profissionais, entre outros requisitos, é entregue
a certificação por alguma instituição responsável, como por exemplo, a Dona – Doulas of North América.
No Canadá, o processo de formação é semelhante, pela Association of Ontario Doulas.
Muitos hospitais dos
EUA e Canadá contam com a doula, sendo que a grande
maioria tem prática independente e contratada diretamente pelo casal [42].
Atuam também na Europa, Ásia, América Central e Sul, efetuando seu papel de
acordo com as condições sociais e econômicas locais [43].
Em 1994 a Dona
certificou 31 doulas, e em 2012 certificou 6.154 doulas, o que demonstra que o mercado de trabalho nesta
área é vasta, e importância do seu papel na equipe de
assistência ao parto foi sendo reconhecido [44].
Os resultados obtidos
nesta pesquisa mostraram que grande parte da equipe de enfermagem tinha
conhecimento sobre o papel da doula e a sua
importância na atenção à mulher em trabalho de parto. Contudo, cabe ressaltar
que alguns profissionais ainda não compreendem em sua totalidade a presença
deste profissional, o que pode estar associado ao fato de ainda não terem
presenciado o trabalho da doula, da falta de
conhecimento sobre a ocupação ou até mesmo da resistência quanto à entrada de
outro profissional no cenário de atuação.
O desconhecimento dos
profissionais deste estudo quanto à atuação da doula
pode ser associado à falta de atualização, pesquisa e interesse no tema, pois
as evidências científicas mundiais são claras a respeito da efetividade do
trabalho da doula, repercutindo positivamente na
fisiologia do TP. Pode-se associar também a resistência a
entrada de outro profissional na equipe e a sua desvalorização.
Apesar da amostra não
ter acertado totalmente 5 questões, a partir da soma
das concordâncias e discordâncias parcialmente, a tendência da amostra foi ao
acerto. Porém, ao assinalar uma afirmação correta como CP, pode-se visualizar
certa duvida ou desconhecimento do assunto, pois, se o assunto fosse realmente
claro, o sujeito concordaria totalmente. Então, perceberam-se lacunas e
desconhecimento na metade das afirmativas.
Foi possível concluir
que a maior parte dos profissionais incluídos nesta pesquisa demonstrou
conhecimento a respeito da doula não ser da equipe de
enfermagem, não desempenhar e não ter as mesmas responsabilidades que a equipe.
A respeito das evidências positivas do trabalho da doula,
menos da metade da mostra demonstrou não ter esse conhecimento.
Sugere-se que mais
estudos sejam desenvolvidos no país sobre os benefícios da atuação da doula voluntária em instituições hospitalares, considerando
as evidências científicas de sua importância em outros países. Ainda, sugere-se
também que os profissionais atuantes nesse cenário tomem conhecimento sobre a
atuação de doulas, para compreender sua atuação,
reconhecendo seus limites e funções.