ARTIGO ORIGINAL
Conhecimentos de pais sobre infecções por herpes virus tipos 1 e 2
Guilherme
Ferreira de Souza*, Alessandra Januario Giesteira, M.Sc.**, Alexandre
Marques Paes da Silva, M.Sc.***, Patricia
Nivoloni Tannure, D.Sc.****, Dennis de Carvalho Ferreira, D.Sc.*****,
Lucio Souza Gonçalves, D.Sc.******, Mayra Stambovsky, D.Sc.*******, Wilma
Nancy Campos Arze, M.Sc.********,
Marcia Ribeiro*********
*Enfermeiro, Secretaria Municipal de Saúde, Nova
Iguaçu/RJ, **Enfermeira, Preceptora UNIABEU/RJ, ***Cirurgião Dentista,
Doutorando em odontologia UNESA/RJ,****Cirurgiã Dentista, Professora da FO –
UVA/RJ, *****Enfermeiro, Professor Adjunto da Faculdade de Enfermagem UERJ; FO
– UVA e UNESA/RJ, ******Cirurgião Dentista, Professor da FO – UNESA/RJ,
*******Cirurgiã Dentista, Mestranda em Odontologia UVA/RJ, ********Médica,
Professora Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Foz do
Iguaçu/PR, *********Médica, Chefe do Ambulatório de Genética Médica e
Professora Associada IPPMG – UFRJ/RJ
Recebido
em 15 de maio de 2018; aceito em 16 de agosto de 2019.
Correspondência: Guilherme Ferreira de
Souza, Rua Mário de Araújo, 1585, casa 6b, 26521-145 Nilópolis RJ
Guilherme
Ferreira de Souza: gfsouza@gmail.com
Alessandra
Januario Giesteira:
alessandra.j.giesteira@gmail.com
Alexandre
Marques Paes da Silva: xandemps@gmail.com
Patricia Nivoloni Tannure: pntannure@gmail.com
Dennis
de Carvalho Ferreira: denniscf@gmail.com
Lucio
Souza Gonçalves: luciogoncalves@yahoo.com.br
Mayra
Stambovsky: mayrastambovsky@hotmail.com
Wilma
Nancy Campos Arze: wilma.arze@unila.edu.br
Marcia
Ribeiro: marciargen@yahoo.com.br
Resumo
Objetivou-se
investigar o conhecimento de pais/responsáveis acerca da infecção pelo
herpes virus tipos 1 e 2. Um roteiro
semiestruturado foi aplicado para a realização do estudo, em uma unidade de
saúde de Belford Roxo/RJ, no período entre março e dezembro de 2016. A amostra
foi composta por 140 indivíduos (121 mulheres e 19 homens). Desses, 13 (9,3%)
declararam ter a infecção, sendo 11 mulheres e 2 homens. Um total de 66 (47,1%)
desconhecia a forma de transmissão. Segundo relato dos responsáveis, 6 (4,3%)
crianças apresentaram episódios da infecção, dessas, 5 (3,6%) responsáveis não
souberam informar como a criança adquiriu o vírus. Três mães apresentaram
infecção pelo herpes virus na
gestação. Aproximadamente 50% deste grupo desconhecia como ocorre a
transmissão destas infecções, além de relatarem uma despreocupação sobre
complicações, principalmente relacionadas às crianças. Conclui-se que a
fragilidade de conhecimento e/ou práticas inadequadas podem postergar o diagnóstico
precoce, podendo dificultar o tratamento e a prevenção de complicações. Há a
necessidade de uma ampla divulgação de informações sobre estas infecções para a
população.
Palavras-chave: herpes
simples, herpes labial, pais, cuidado da criança, viroses.
Abstract
Parents'
knowledge about herpes virus types 1 and 2 infection
The
aim of this study was to investigate parents/guardians' knowledge about herpes
virus types 1 and 2 infection. A semi-structured script was applied in a health
unit in Belford Roxo/RJ for the research, between
March and December 2016. The sample consisted of 140 individuals (121 women and
19 men). Of these, 13 (9.3%) reported having the infection, 11 women and 2 men.
A total of 66 (47.1%) showed lack of knowledge regarding transmitted
infections. According to the parents' report, 6 (4.3%) children presented
episodes of the infection, of these, 5 (3.6%) parents could not inform how the
child acquired the virus. Three mothers acquired herpes virus infection during
pregnancy. Approximately 50% of this group was unaware of how these infections
are transmitted, and reported a concern about complications, especially related
to children. We concluded that the fragility of knowledge and/or improper
practices can postpone early diagnosis, which may hinder the treatment and
prevention of complications. There is a need for wide dissemination of
information about these infections to the population.
Key-words: herpes
simplex, herpes labialis, parents, child care, virosis.
Resumen
Conocimiento
de padres acerca de la infección
por herpes virus tipo 1 y 2
El
objetivo de este estudio es investigar el conocimiento de padres /
adultos responsables acerca de la
infección por herpes virus
tipo 1 y 2. Para la investigación
se realizó un itinerario de trabajo semi-estructurado, aplicado en
una unidad de salud de
Belford Roxo/RJ entre marzo y diciembre
de 2016. La muestra fue comprendida por 140 individuos
(121 mujeres y 19 hombres).
De estos, 13 (9,3%) declararon
presentar la infección, 11 mujeres y 2 hombres. 66 (47,1%) presentaban escaso conocimiento acerca de la forma
de transmisión. Según el relato de los adultos responsables, 6 (4,3%) niños tuvieron episodios de la infección, de los cuales 5 (3,6%) padres no supieron informar cómo el niño había
contraído el virus. Tres madres relataron haber presentado infección por
herpes virus durante la gestación. Aproximadamente el 50%
de este grupo desconocía cómo
ocurre la transmisión de estas infecciones, además
de relatar desconocimiento sobre las
complicaciones, principalmente asociadas
a los niños. Se concluye que la falta de conocimiento y / o prácticas inadecuadas retardan el diagnóstico precoz, pudiendo dificultar el tratamiento y la prevención de posibles complicaciones. Existe la necesidad de ampliar la divulgación de información sobre
estas infecciones a la población.
Palabras-clave:
herpes simple, herpes labial, padres, cuidado de niño, virosis.
Diversos
fatores associados podem interferir diretamente no conhecimento de uma
população em geral, incluindo a região onde os indivíduos residem. Desta forma,
surgiram os conceitos de saúde e doença através do Sistema Único de Saúde. Esse
se baseia na promoção de saúde, visando fornecer um conhecimento mínimo
adequado aos indivíduos, porém com embasamento científico de maneira que a
prática do cuidar seja realizada através de atitudes preventivas, que, por
exemplo, possam vir a promover saúde a uma determinada população [1].
Cabe
ressaltar que a carência de conhecimento dos pais quanto à saúde pode acarretar
em prejuízos na infância de seus filhos, de forma a trazer problemas futuros à
saúde das crianças que são de sua responsabilidade [2]. Neste sentido, o
cuidado com a saúde das crianças pode ser influenciado de acordo com o nível de
escolaridade dos pais de forma inversamente proporcional [3]. O conhecimento
inconsistente pode levar à prática de cuidados inadequados destinados às
crianças [4]. Desse modo, os profissionais de saúde podem atuar na educação em
saúde para contribuir efetivamente junto a estes.
Neste
contexto, encontram-se as infecções por Herpes Simplex Virus
tipos 1 e 2 (HSV-1 e HSV-2), que por apresentarem uma expressiva ocorrência na
infância, e ser de cunho transmissível por meio de contato, incluindo sua
possível transmissão sexual, torna-se importante a aquisição do conhecimento
sobre esses patógenos, uma vez que a infecção pode ser assintomática e alguns
pacientes apresentarem a primeira manifestação do vírus ainda na infância [5].
Casos
de infecção por HSV 1 ou 2 não fazem parte do cadastro para notificação de DST,
deste modo só é possível avaliar a soroprevalência no
Brasil e no mundo através de estudos com amostras para detecção de anticorpos
para o vírus. Entretanto, outros tipos de lesões podem ocorrer ao longo de suas
vidas, como: estomatites e lesões ulcerativas recorrentes. Do mesmo modo, esta
infecção também pode ocorrer em sítios cutâneos. Cabe destacar que existe a
possibilidade de desenvolvimento de complicações mais graves, tais como a
ceratite herpética (podendo causar cegueira) e meningoencefalite. Inclusive,
deve-se ter atenção quando de sua ocorrência em indivíduos imunocomprometidos
[5-7].
Crianças
que frequentam creches possuem riscos 2 a 3 vezes maiores de adquirir doenças
infecciosas, como o herpes simples, e poderiam ser evitadas ou reduzidas por
meio de medidas de controle com base no conhecimento prévio da doença. Vale
lembrar que indivíduos apresentando lesões em fase ativa da infecção oral por
HSV, ou seja, lesões não totalmente cicatrizadas devem evitar tratamentos
odontológicos de rotina, limitando-se apenas, aos procedimentos de urgência ou
emergência [8].
Em
uma pesquisa realizada com adolescentes em uma cidade de São Paulo, foi
observado que estes conheciam entre cinco a seis Infecções Sexualmente
Transmissíveis (IST), e que o Human Immunodeficiency Virus (HIV)
estava em primeiro lugar em suas descrições. Contudo, uma parte significante
dos indivíduos entrevistados desconhecia doenças como: as infecções por HSV
(33,3%), Treponema pallidum (Sífilis)
(35,6%), Neisseria gonorrhoeae
(Gonorreia) (30%) e Papiloma Vírus Humano (HPV) (27,7%), e, apesar da vida
sexual ativa, poucos conheciam a importância do uso do preservativo em todas as
práticas sexuais [9].
Cabe
lembrar que, entre os membros da família Herpesviridae, o HSV-1 possui
como característica a sua transmissão ainda na infância, e a mesma pode se dar
através do contato direto com a lesão, saliva ou através de fômites, podendo
permanecer na sua forma latente durante anos ou se manifestar através de lesões
orolabiais. Já o HSV-2 é o agente etiológico de uma
IST, causando o herpes genital [10]. A transmissão vertical pode levar ao
desenvolvimento de herpes neonatal, com possíveis consequências desastrosas,
tais como: meningite asséptica e encefalite [7]. Contudo, esses patógenos podem
ser liberados na saliva mesmo na ausência de manifestações clínicas da doença
[11].
Pode-se
dizer que as infecções por HSV-1 e HSV-2 são de grande relevância em saúde
pública, tornando-se necessário o conhecimento da prevalência de anticorpos
para ambos, permitindo uma análise mais detalhada e segura de possíveis
epidemias. Apesar do HSV-2 ser uma IST caracterizada por infectar,
principalmente, adolescentes e adultos sexualmente ativos, a transmissão do
vírus pode ocorrer também através de indivíduos assintomáticos. Sendo assim, as
infecções neonatais por HSV podem ser consideradas consequências sérias da
infecção materna por HSV-2, contudo, também é possível identificar o HSV-1,
ocasionalmente [12].
Neste
sentido, diante da importância do acesso a informação
sobre a infecção pelo HSV, este estudo tem como objetivo investigar o
conhecimento dos pais/responsáveis de crianças/adolescentes acerca da infecção
pelos HSV1 e HSV2.
Este
estudo é a parte inicial de uma pesquisa sobre a identificação do DNA do HSV-1
e/ou HSV-2 em mães/pais/responsáveis e em crianças/adolescentes menores de 12
anos de idade com a finalidade de investigar fatores associados à transmissão
viral entre membros da mesma família.
Desenho, local do estudo e período
Trata-se
de um estudo descritivo e seccional, em que foi aplicado um roteiro de
entrevista semiestruturado, a fim de avaliar o nível de conhecimento de pais
(responsáveis legais) de crianças e adolescentes sobre a infecção pelo vírus
herpes simplex.
Para
coleta de dados, a amostra foi alocada por conveniência, no período de março a
dezembro de 2016, na Clínica da Mulher no Município de Belford Roxo, no Rio de
Janeiro.
População
ou amostra e critérios de inclusão e exclusão
A
amostra foi composta por indivíduos que participavam do Programa de
Planejamento Familiar que ocorre em uma unidade de saúde, duas vezes por
semana, do município de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, situado na Baixada
Fluminense. Foram entrevistados 140 indivíduos. Os critérios de inclusão foram:
Protocolo do estudo
Aos
participantes do estudo foi explicado qual o tipo de pesquisa que seria
realizada, qual o seu objetivo e desfecho final quanto à divulgação científica.
Antes
e durante a entrevista os participantes não receberam nenhuma orientação quanto
ao conceito da infecção, esses apenas responderam em relação ao seu
conhecimento prévio sobre o que é ou não a doença. Durante as entrevistas houve
o cuidado de não auxiliar o entrevistado nas respostas utilizando algum tipo de
explicação que o levasse a mudar sua resposta inicial, buscando controlar
possível viés de informação.
A
aplicação das entrevistas foi realizada por dois pesquisadores (dois dos
autores) devidamente treinados.
Análise dos dados
Os
dados foram tabulados em um banco de dados criado no Microsoft Office Excel 2013, e tratados com a utilização de um
software estatístico Statistical Package for
Social Science for Windows (SPSS) versão 17.0 (IBM, Brasil).
Foram
utilizados os testes do Qui-quadrado e Exato de
Fisher para comparação dos dados. O limite de significância estatística
estabelecido foi de 5% (p ≤ 0,05). Os resultados obtidos sofreram análise
a partir dos autores que estudam a temática e pelos pesquisadores.
Aspectos éticos
O
presente estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em
Humanos do Hospital Geral de Nova Iguaçu, em outubro de 2015, com o seguinte
número de aprovação: 052752/2015 e o adendo no. 113689/2015.
Os
entrevistados foram devidamente instruídos quanto à importância do estudo e foi
obtida a assinatura do TCLE previamente a sua participação.
Na
tabela I, é possível visualizar as características dos 140 participantes do
estudo. Em relação ao sexo, as mulheres apresentaram uma maior frequência
(121/86,4%) e a faixa etária de maior ocorrência estava entre 26 a 35 anos para
ambos os sexos, com um total de 64 indivíduos (45,7%). A média de idade de
todos os participantes foi de 28,5 ± 6,82 anos.
Quanto
à escolaridade dos entrevistados, apenas 51 indivíduos (36,4%) declararam ter
concluído o ensino médio e 40 tinham ensino médio incompleto (28,6%). Em
relação ao tipo de atividade laboral como fonte de renda familiar, a maior
frequência foi para o desemprego (56/40,0%), seguido de celetista.
Tabela I – Caracterização da amostra de pais/responsáveis.
*Teste
do qui-quadrado; **Teste Exato de Fisher; ***Bolsa
família; #Teste de Mann-Whitney.
Na
Tabela II, encontram-se os resultados da avaliação feita sobre o conhecimento
de pais sobre a infecção por HSV1 e HSV2, em que 39 indivíduos (27,8%)
descreveram que o contato sexual era o único meio de sua transmissão, 18
participantes (12,8%) acreditavam ser através do beijo e sete (5,0%) através do
contato sexual e/ou oral; e 66 (47,1%) declararam não saber a forma de
transmissão.
Treze
pais autodeclararam ter contraído herpes ou ter apresentado alguma vez a
infecção ao longo da vida, 11 não sabiam como adquiriram a doença, e dois
descreveram o beijo e através de fômites (copos e talheres contaminados),
respectivamente, como vias de transmissão.
Quando
foi perguntado se os indivíduos conheciam o HSV por outro nome, ou seja, se
existia algum sinônimo para o termo, 12 indivíduos (8,6%) acreditavam que “sapinho” e herpes seriam a mesma doença.
“Impingem” ficou em segundo lugar,
descrito por 11 participantes (7,8%).
Tabela II – Avaliação do conhecimento sobre o vírus herpes simplex.
*Teste
do qui-quadrado; **Teste Exato de Fisher.
Destes
responsáveis que declararam já ter vivenciado algum episódio de infecção por
herpes com manifestação clínica (9,3%), 11 eram mulheres (7,9%) e dois eram
homens (1,4%). Seis indivíduos descreveram que a primeira manifestação clínica
ocorreu antes dos 20 anos de idade e a região mais acometida foi à cavidade
oral em nove indivíduos (Tabela III).
Tabela III – Avaliação dos responsáveis que autodeclararam ter contraído herpes oral
e/ou genital.
*Teste
do qui-quadrado; **Teste Exato de Fisher.
Durante
a entrevista foi perguntado aos pais se possuíam algum(a) filho(a) que tivesse
sido acometido por infecção herpética durante a infância, e seis (4,3%)
descreveram que sim, em que quatro (2,8%) tiveram a primeira infecção entre um
e seis anos de idade, e nenhuma lesão ocorreu em região genital. Também não foi
realizada indicação/prescrição por profissionais de saúde para o tratamento, e
os pais utilizaram o que consideraram ser adequado no processo de cura das
lesões (Tabela IV).
Tabela IV – Relato dos pais quanto a possível infecção pelo HSV em seus filhos.
*Teste
do qui-quadrado; **Teste Exato de Fisher. 0|-|6:
Idade compreendida entre 0 a 6 anos completos. 7|-|12: Idade compreendida entre
7 a 12 anos completos
Na
Tabela V, pode-se observar o perfil dos pais, quanto ao seu conhecimento sobre
a infecção e principais fatores predisponentes que podem ou não estar
relacionados a novos episódios da infecção. É possível observar que mesmo
declarando possuir a infecção, nenhum deles sabia relatar com clareza as formas
de transmissão do HSV.
Na
Tabela VI, encontra-se o perfil das crianças cujos pais relataram que as mesmas
apresentaram ao menos um episódio de infecção herpética ao longo da vida. Cerca
de cinco responsáveis não sabiam qual teria sido a forma de transmissão do
vírus e apenas dois levaram a criança a um pediatra para a realização do
diagnóstico.
Tabela V-
Perfil de filhos cujos pais relataram ter apresentado ao menos um episódio de
infecção por HSV em cavidade oral.
Tabela VI - Perfil dos responsáveis que autodeclararam ter apresentado infecção por
HSV. (ver PDF em anexo)
Os
resultados do presente estudo apontam para uma fragilidade no conhecimento dos
aspectos da infecção pelo HSV, assim como vias de transmissão, pela maioria dos
pais/responsáveis. Um dos fatores que pode estar associado a esta questão seria
o baixo status educacional e socioeconômico do grupo avaliado (Tabela I),
denotando baixa escolaridade, desemprego e baixa renda familiar [13]. Outros
autores relatam que quanto maior é o nível de pobreza da região, maior é o
quantitativo de indivíduos com alguma IST [13]. Os resultados encontrados
corroboram estes dados, nos quais foi observado que 47,1% dos indivíduos
desconheciam como o HSV era transmitido. Neste sentido, embora o presente
estudo não tenha ocorrido com a população adolescente, um grupo de
pesquisadores realizou um estudo com o objetivo de avaliar o grau de
conhecimento de adolescentes (12-19 anos) sobre a transmissão, a prevenção, e
sinais e sintomas de algumas IST/AIDS, demonstrando que 62% desses
participantes eram do sexo masculino e 68% do feminino que tinham conhecimento
quanto ao herpes genital. Nesse mesmo estudo, quando foram questionados sobre o
conhecimento sobre as formas de contaminação, esse teve uma diminuição, ou
seja, 55% dos indivíduos do sexo feminino não sabiam nada sobre o assunto,
enquanto que nos indivíduos do sexo masculino, essa taxa foi de 62% [14].
A
maior parte dos participantes do presente estudo era do sexo feminino,
reforçando que as mulheres, normalmente, se preocupam mais com o bem-estar,
estética e saúde, quando comparadas aos homens e, por esse motivo, costumam
procurar com maior frequência unidades de serviços de saúde para diagnóstico e
tratamento [15].
Na
literatura corrente, há relatos de que alguns fatores podem influenciar na
prevalência do HSV em nível mundial, dentre esses: idade, etnia, localização
geográfica e o fator socioeconômico [16-18]. Estas descrições vêm ao encontro
do perfil da amostra avaliada no presente estudo, no qual a maioria dos
indivíduos tinha ensino fundamental completo, porém não havia concluído o
ensino médio, além da possibilidade de estarem inseridos nas classes
socioeconômicas C1, C2 e D, que atualmente equivalem a 23,2%, 26,6% e 23,3% da
população, respectivamente [19].
Responsáveis/pais
que autodeclararam possuir a infecção pelo HSV (Tabela VI) eram em sua maioria
do sexo feminino (11/13), com média de idade de 28,5 anos (21-41 anos), com
infecção mais frequente na região oral (9/13). Em um estudo realizado em
diversas regiões do Brasil, com indivíduos de faixa etária semelhante (21-30
anos), foi observada presença de anticorpos para HSV-1 em torno de 81%
(102/126) no sexo feminino, maior que no sexo masculino (76,6%; 82/107),
possivelmente devido ao fato da infecção ocorrer de forma assintomática ou oligossintomática [20]. Porém, pode ser observado que a
frequência para HSV-2 foi menor dentro desse aspecto [21].
Deste
modo, faz-se necessária a realização de programas de educação em saúde voltados
para a prevenção de IST em diversos níveis incluindo os indivíduos com status socioeconômico mais elevado, que
frequentam universidades inclusive. Assim, devemos também levar em consideração
o esclarecimento da necessidade do uso de métodos contraceptivos, tais como
preservativos, não só para evitar gravidez indesejada [22]. Partindo disso, se
faz importante o acesso à educação em saúde para a população, pois a
implementação do conhecimento gera como benefícios, além da qualidade de vida
do indivíduo, o fato de proporcionar ao mesmo a possibilidade de ser um
multiplicador de informações ajudando na melhoria de sua localidade regional
[23]. Outra questão importante é a construção do conhecimento tentando
compreender e respeitar as origens socioculturais da região observando a
realidade local, proporcionando assim uma maior compreensão dos indivíduos
envolvidos e a efetividade da informação ofertada, tendo como desafio o
estímulo às mudanças de hábitos [24].
A
Agência Nacional de Saúde Suplementar [25] ressalta a importância do acesso à
educação em saúde para a população, pois a implementação do conhecimento gera
como benefícios, além da qualidade de vida do indivíduo, o fato de proporcionar
ao mesmo a possibilidade de ser um multiplicador de informações ajudando na
melhoria de sua localidade regional. Outra questão importante é a construção do
conhecimento sabendo respeitar as origens socioculturais da região e
acrescentar o saber popular a este processo, facilitando o entendimento dos
indivíduos envolvidos e a efetividade da proposta, tendo como desafio a quebra
de paradigmas sem que este afete a adesão do conhecimento [26,27].
Neste
sentido, encontra-se a participação do enfermeiro atuando como agente educador,
promotor de transformação, levando em conta alguns achados descritos na
literatura, como a educação que deve ser entendida, não como “um repasse de
informações e orientações” distante do conceito de uma “educação
transformadora”, que pode perpetuar como um modelo tradicional distante de um
saber em construção baseado na consciência crítica e de sua relação social. Ocorrendo,
também, o “estímulo crítico criativo” na construção do conhecimento, que deve
levar em consideração as vivências dos participantes, além da relação entre
educador e educando que envolve diálogo, o conceito de cuidado, autocuidado e
participação ativa de ambos. Estas descrições são parte dos resultados de um
estudo que avaliou o impacto do processo de trabalho dos Enfermeiros e a sua
atuação como educador em saúde, em algumas dimensões [28].
Os
achados do presente estudo nos conduzem a possível dedução de que o número de
crianças declaradas infectadas, mesmo que assintomáticas, possa ser superior ao
relatado pelos pais entrevistados. Ampliando e confirmando esta possibilidade,
alguns estudos em pacientes infantis com e sem alterações sistêmicas e coinfecções,
identificaram a presença do DNA de HSV em pacientes assintomáticos [29,30].
Entre
as limitações do presente estudo estava o fato de que a avaliação dos
responsáveis sobre seus filhos também apresentou resultados que nos levaram a
questionar se as lesões que seus filhos apresentaram previamente eram de fato
associadas a infecções por HSV, pois os mesmos descreveram outro nome para
herpes. Alguns pais associaram a monilíase (por Candida albicans),
conhecido popularmente como “sapinho”, o que
coloca em questão o conhecimento desses responsáveis se
realmente o que a
criança apresentou foi um episódio de lesão
associada ao HSV ou outro tipo de
infecção, uma vez que apenas duas crianças se
submeteram a uma avaliação
médica. Este achado foi considerado pelos autores do presente
estudo uma de
suas limitações, além do fato de que aqueles que
relataram ter contraído o
vírus e/ou seu filho ter apresentado sua
manifestação clínica, em algum momento
da vida, chama a atenção para a
identificação da infecção viral, que
não pôde
ser efetiva uma vez que não foram utilizados métodos
moleculares e nem testes
sorológicos para correlação com os dados
encontrados.
Outra
limitação deste estudo, além dos indivíduos associarem monilíase a HSV, foi à descrição
de alguns pais sobre lesões orais em crianças serem consideradas de pouca
importância, e que muitas das vezes não recordam sobre episódios. Outro detalhe
é associar que a lesão oral ocorreu por outro fator como mão suja na boca,
exposição ao sol, estado febril, ou insetos que lesionaram a cavidade oral das
crianças. Dentro destes fatores, os pais não especularam a hipótese de ter sido
uma infecção viral e por este motivo não as citaram nas respostas do estudo.
Vale ressaltar que essa foi uma observação dos entrevistadores feita através de
diálogo com os pais após a entrevista, explicando aos pais sobre a infecção por
HSV 1 e 2.
O
presente estudo pode contribuir para a enfermagem e a saúde pública na
realização de ações educativas com o tema específico de HSV, contribuindo com o
conhecimento dos pais/responsáveis de crianças e adolescentes acerca do que é,
como identificar e como tratar essa doença. Levando em consideração as
vivências dos participantes, além da relação entre educador e educando que
envolve diálogo, o conceito de cuidado, autocuidado e participação ativa de
ambos.
Pode-se
concluir que o grupo investigado apresentou pouco conhecimento sobre a infecção
pelo HSV. Além disto, o número de indivíduos que relatou que seus filhos
manifestaram possíveis sinais e sintomas da doença apresentou baixa ocorrência
e eles não demonstraram preocupação com a infecção e com possíveis
manifestações futuras.
Neste
sentido, outros estudos necessitam ser realizados, envolvendo a soroprevalência e/ou tipagem molecular dentro da realidade
intrafamiliar, assim como as orientações fornecidas aos responsáveis devem
envolver informações quanto as infecções por herpes vírus e suas possíveis
repercussões. O enfermeiro possui uma contribuição significativa a realizar
quanto a educação e saúde dessas famílias, levando em consideração seus saberes
e práticas, de modo que seja efetiva a sua atuação.