REVISÃO
Influência
de gênero em sintomas de síndrome coronariana aguda
Josemare Tosta Daiube Santos*, Jonathan Bastos Cruz**
*Graduanda
do curso de Enfermagem da Universidade Salvador (UNIFACS), **Enfermeiro,
docente da Universidade Salvador (UNIFACS), especialista em urgência e
emergência e UTI adulto
Recebido em 12 de
outubro de 2017; aceito em 22 de novembro de 2017.
Endereço
para correspondência:
Josemare Tosta Daiube
Santos, Rua Alameda Carrara, 64, Edf Residencial
Carrara, Pituba, 41830-590 Salvador BA, E-mail:
josy.tds@gmail.com; Jonathan Bastos Cruz: jonbcruz@gmail.com
Resumo
A Síndrome
Coronariana Aguda (SCA) é um dos achados mais frequentes na prática clínica,
que continua a apresentar grande morbidade e mortalidade, apesar dos avanços
para seu tratamento. Este estudo tem como objetivo verificar quais são as
diferenças na sintomatologia apresentada pelos gêneros na SCA com base em
estudos clínicos prévios. Foi realizada uma revisão sistemática de artigos
científicos publicados sobre o tema no período de 2006-2016, utilizando-se de
bases de dados eletrônicas Lilacs, Capes, Pubmed e OvidMedline,
nos idiomas português e inglês. Foram observadas significativas diferenças na
apresentação sintomatológica da SCA entre homens e mulheres. Mulheres
apresentam mais sintomas atípicos e dor precordial atípica ou ausente com mais
frequência do que homens. Esse achado é relevante na prática clínica,
fazendo-se necessário adotar medidas de alerta à população de risco,
principalmente, e aos profissionais de saúde para que se evitem diagnósticos
equivocados e se reduzam atrasos no diagnóstico e tratamento desses pacientes
com apresentação sintomatológica atípica.
Palavras-chave: síndrome
coronariana aguda, angina instável, infarto do miocárdio, sinais e sintomas,
gênero e saúde.
Abstract
Influence of gender in symptoms of acute coronary syndrome
Acute Coronary Syndrome (ACS) is a very common finding in clinical
practice, and although its treatment has advanced, its mortality and morbidity
rates are still expressively elevated. The present study’s aim is to verify the
differences of symptomatology between genders during ACS based on preview
clinical studies. A systematic review was conducted including scientific
articles published about the theme during the period of 2006-2016, using the
databases Lilacs, Capes, Pubmed and OvidMedline, in Portuguese and English. Significant
differences were observed in the symptomatic presentation of ACS between men
and women. Women presented more atypical symptoms and atypical or absent chest
pain more often than men. This finding is relevant in clinical practice, being
recommended to adopt measures to alert the risk population mainly, and health
professionals to avoid misdiagnosis and to reduce delays in diagnosis and
treatment of these patients with atypical symptomatology presentation.
Key-words: acute
coronary syndrome, unstable angina, myocardial infarction, signs and symptoms,
gender and health.
Resumen
Influencia del género en los síntomas de síndrome coronario agudo
El Síndrome Coronario Agudo (SCA) es uno de los hallazgos más frecuentes en la
práctica clínica, que sigue
presentando una alta morbilidad y mortalidad
a pesar de los avances en el tratamiento. Este estudio tiene como objetivo
verificar cuáles son las diferencias en los síntomas presentados por
género en SCA con base en estudios clínicos previos. Una revisión sistemática
de artículos científicos publicados sobre el
tema se llevó a cabo durante el
período 2006-2016, utilizando como bases de datos
electrónicas Lilacs, Capes, Pubmed
and OvidMedline, en los idiomas portugués e inglés. Se observaron significativas diferencias en
la presentación
sintomatológica de la SCA entre hombres
y mujeres. Las mujeres presentaron más síntomas atípicos y dolor atípico
o falta de dolor en el pecho con
más frecuencia que los hombres. Este hallazgo tiene relevancia en la práctica clínica, por lo que es necesario tomar medidas de alerta sobre todo para los que estén bajo riesgo, y para profesionales de la salud para que eviten diagnósticos erróneos y reduzcan
los retrasos en el diagnóstico y el tratamiento de estos pacientes con manifestaciones clínicas atípicas.
Palabras-clave: síndrome coronario agudo, angina inestable,
infarto del miocardio, signos y síntomas,
género y salud.
As doenças cardiovasculares possuem
atualmente grande impacto no Brasil e no mundo [1], em especial a Síndrome
Coronariana Aguda (SCA) que ainda continua a ser um importante fator de
morbidade e mortalidade – apesar dos avanços no tratamento, formulação e
padronização de guidelines, que orientam como
proceder diante dessa situação emergencial –, estimando-se que apenas ela seja
a causa de metade de todas as mortes causadas por doenças cardiovasculares [2].
Doenças
cardiovasculares representam um terço de uma projeção de 47 trilhões de dólares
gastos com doenças não transmissíveis nos próximos 20 anos ao redor do mundo
[1]. Os custos estimados para Síndrome Coronariana Aguda no Brasil no ano de
2011 foram de R$ 3,8 bilhões, incluindo custos diretos (hospitalares) e
indiretos (perda de produtividade devido à mortalidade por infarto agudo do
miocárdio) [3].
A Síndrome Coronariana
Aguda é caracterizada por uma série de manifestações clínicas e laboratoriais
de isquemia miocárdica aguda, podendo ser classificada em: Angina Instável
(AI), Infarto Agudo do Miocárdio sem supradesnivelamento
do segmento ST (IAMSSST) e Infarto Agudo do Miocárdio com supradesnivelamento
do segmento ST (IAMCSST) [4].
O IAMCSST é
caracterizado por completa obstrução da artéria coronária, causando danos que
envolvem toda a espessura do músculo cardíaco, já no IAMSSST ocorre obstrução
parcial da artéria coronária e não envolve toda espessura do músculo cardíaco. Na AI, o trombo não obstrui totalmente a artéria e as
enzimas cardíacas não se elevam [5].
As recentes pesquisam
demonstram certa diferença de morbidade e mortalidade entre homens e mulheres
após sofrerem um episódio de SCA, sendo a mortalidade entre mulheres maior na
maioria dos casos [6]. Verificou-se também que mulheres levam mais tempo para
procurar socorro durante um infarto agudo do miocárdio (IAM) do que homens,
parte dessas por não relacionar os sintomas com problema cardíaco emergencial
[7].
Dor precordial é o
principal sintoma para o reconhecimento da SCA, porém até 35% dos pacientes
podem não apresentar dor no peito durante um episódio de SCA [8].
Principalmente mulheres, idosos e pacientes com diabetes estão em maior risco
de um diagnóstico equivocado, ou maior demora em serem diagnosticados, pois
reportam dor no peito com menor frequência que homens [9,10], o que é um
problema relevante levando-se em consideração que tempo é um fator essencial no
tratamento e prevenção de complicações da SCA.
Dada a gravidade, peso e custo das doenças coronárias e a
dificuldade de promover maior queda em sua morbimortalidade, faz-se necessário
refletir sobre possíveis questões que podem estar impedindo esse progresso.
Neste sentido, a significativa diferença de mortalidade no sexo feminino em
comparação com o masculino na SCA levou à reflexão acerca desta associação com
seus sintomas, culminando na pergunta: Qual a influência do gênero em sintomas
de síndrome coronariana aguda?
O objetivo geral
deste trabalho, portanto, é verificar se há e quais são as diferenças na
sintomatologia apresentada pelos gêneros com diagnóstico ou suspeita de SCA
baseando-se em estudos clínicos prévios a respeito do tema, fazendo uma
avaliação dos resultados e constatando sua relevância para a prática clínica.
Esta revisão sistemática
se caracteriza como pesquisa exploratória-analítica,
baseada em estudos quantitativos. Todo o processo de produção da revisão
sistemática, de pesquisa e seleção de artigos, foi realizado de forma
padronizada, seguindo protocolo específico.
A busca na literatura
foi realizada através de bases de dados eletrônicos Lilacs,
Capes, Pubmed e OvidMedline,
utilizando os seguintes termos em inglês e português: Síndrome Coronariana
Aguda, sintomas e gênero. Foi obtido um resultado de 1.184 publicações no
total. Após análise do tema, resumo, exclusão de resultados repetidos, leitura
íntegra dos artigos e avaliação metodológica foram selecionados 16 artigos.
Foram também revisadas as referências bibliográficas desses artigos.
Os critérios de
inclusão para a seleção bibliográfica da presente pesquisa consistiram em
estudos publicados nos últimos dez anos (2006-2016), em português e inglês, que
continham texto na íntegra e tinham como objetivo principal analisar a
apresentação sintomática de pacientes na Síndrome Coronariana Aguda analisando
as diferenças entre os gêneros feminino e masculino, sendo esta classificada
como IAMCSST, IAMSSST ou angina instável. Foram excluídos estudos que não
fizeram comparação e/ou análise de sintomas durante a SCA entre os sexos, que
reportaram pacientes com doença arterial coronariana ou que foram publicados há
mais de dez anos. Todos os estudos selecionados foram revisados na íntegra
pelos autores.
Foram extraídos os
seguintes dados dos artigos selecionados: Nome dos autores, localidade do
estudo, tipo de estudo, tipo de SCA, método de coleta de dados, período de
realização do estudo, tamanho da amostra, idade média dos participantes, ajuste
por idade ou outros fatores relacionados e resultado final do estudo (diferenças
significativas de sintomas encontrados entre homens e mulheres).
Devido à
heterogeneidade dos estudos encontrados não foi realizada metanálise
dos dados apresentados, apenas estatística descritiva simples.
Diferenças
entre os gêneros na síndrome coronariana aguda: pré-hospitalar, tratamento e
mortalidade intrahospitalar
Estudos demonstram
que mulheres tendem a demorar mais tempo para buscar
atendimento médico de emergência, em comparação com homens, durante um episódio
de SCA [7,11]. Dentre os fatores envolvidos estão o não reconhecimento dos
sintomas como cardíacos e o fato de sua experiência em relação aos sintomas não
ser compatível com sua expectativa e idealização do que seria ter um IAM [12].
Estes resultados estão compatíveis com outras pesquisas que referem que
mulheres sentem dor precordial em menor proporção que os homens, ou dor menos
intensa e apresentam sintomas atípicos com maior frequência na SCA [6].
Além disso, há
evidência de que mulheres são menos invasivamente examinadas e tratadas do que
homens [11,13-16], tem pior prognóstico e em alguns
estudos maior mortalidade intra-hospitalar [11].
Entre as possíveis especulações do motivo pelo qual as mulheres são menos
examinadas e tratadas invasivamente, considera-se a apresentação de
sintomatologia atípica [16].
Sintomas
típicos e atípicos da SCA
Os sintomas clássicos
ou típicos associados à síndrome coronariana aguda são a dor precordial,
desconforto no peito, desconforto em outras áreas superiores do corpo,
dispneia, suor frio, náusea e tontura, segundo a Associação Americana de
Cardiologia [17]. Porém, encontram-se na literatura diversos relatos de
sintomatologia sem a clássica dor no peito, ou dor no peito em menor
intensidade e mais difusa. Segundo um registro global de eventos coronarianos
agudos, cerca de 8% das pessoas não apresentaram dor
precordial ao buscarem atendimento durante um episódio de SCA, e 23,8% dessas
interpretaram os sintomas como sendo de outros tipos de problemas cardíacos ou
não cardíacos [18].
Dores atípicas não
precordiais são descritas como dor nos ombros, sudorese, palpitações, dor na
área superior e média das costas, dispneia, dor nos braços, fadiga excessiva,
náusea, vômito, tontura, indigestão, dor na mandíbula, fraqueza e dormência em
membros [6,10]. Caracterizam-se como dores atípicas principalmente na ausência
de dor precordial, pois são sintomas que podem estar relacionados com uma
variedade de patologias não necessariamente cardíacas. Esses sintomas descritos
foram utilizados para construção de questionários e checklist
para avaliar sintomas e suas características em estudos que avaliam a
influência de determinados fatores como o sexo, idade e comorbidades
na síndrome coronariana aguda, portanto, são sintomas previamente validados
como preditivos de SCA [10].
Diferenças
nos sintomas de síndrome coronariana aguda entre homens e mulheres
Os estudos indicam
que há significativa diferença de sintomatologia entre os gêneros na SCA. As
principais características e resultados desses estudos são apresentados no
Quadro 1. Foram reportados também outros sintomas
incomuns que não haviam sido descritos previamente, como dor nas mãos,
anorexia, dor no pescoço, dor na garganta, ansiedade e soluço [19-22].
Os sintomas reportados
com maior frequência nas pesquisas, descritos como encontrados
significativamente mais vezes em mulheres, ou que foram preditivos, ou ainda
com maior probabilidade em mulheres foram náusea [19,21,23-25],
vômito [19,20,22,23,26] e dor nos ombros [10,12,21-23]. Em seguida, palpitação
[19,23-25], dor nas costas [2-22,25] e dor na mandíbula [20-22,26].
Sintomas reportados
com menor frequência, mas ainda significativamente mais encontrados em mulheres
do que homens foram dor no pescoço [20-22], dor no peito atípica ou ausente [8,12,27], dispneia [23,26], tontura [19,25], fadiga [19,24],
fraqueza [22,28], dor de garganta [21,22] e ansiedade [19,22]. Por fim, os
sintomas reportados mais frequentes em mulheres por apenas um estudo foram
anorexia [19], dor [21] e dormência nas mãos [24].
Alguns sintomas ainda
demonstraram resultados conflitantes entre diferentes estudos, como a dor no
braço reportada em dois estudos como mais frequente em mulheres do que homens
[10,21] e em outro mais frequente em homens do que mulheres [20]. Assim como a
sudorese uma vez reportada mais frequente em mulheres [28] e outro em homens
[20].
Um estudo conduzido
avaliando a sensitividade e especificidade de sintomas de SCA entre os sexos
encontrou que mulheres diagnosticadas com SCA eram mais propensas a reportar
dor no braço, enquanto homens reportaram mais pressão e dor no peito. Foi
observado também que dor no ombro e dor no braço foram preditivos
de diagnóstico de SCA apenas para mulheres, e que, dor, pressão e
desconforto no peito foram sensitivos, mas não específicos para o diagnóstico
de SCA, ou seja, sintomas precordiais estão fortemente associados a indivíduos
que se apresentam com SCA, porém, a ausência desses sintomas não
necessariamente indica que o indivíduo não apresenta a síndrome [10].
Outros dados
importantes encontrados foram que a dor no peito foi ainda o sintoma mais comum
entre homens e mulheres em alguns estudos [8,22,24,28,29],
demonstrando que apesar de haver evidência que uma parcela da população pode
não apresentar dor precordial na SCA, ele é de fato o sintoma mais frequente e
mais preditivo de SCA. O problema associado a isso é que a parcela menor da
população que não apresenta dor precordial sofre com atrasos no diagnóstico e
tratamento, por ter sintomas menos associados à SCA, o que é grave, visto que
tempo é um fator essencial na diminuição de morbimortalidade entre os pacientes
com essa condição.
Algumas pesquisas
mostraram não haver diferença na frequência em que homens e mulheres reportaram
dor precordial [23,25,30], enquanto outra encontrou
que homens relataram o sintoma mais vezes que mulheres [20]. Poucos estudos
relataram ainda não haver diferença significativa de sintomas entre gêneros
[30,31], entretanto estes tiveram uma amostra populacional pequena comparado a
outras pesquisas que demonstraram diferenças significativas. Devido à inconsistência
nos resultados dos estudos, encontram-se divergências de opiniões a respeito de
adotar medidas para alertar a população e profissionais de saúde.
Mulheres reportaram
maior número de sintomas do que homens em algumas pesquisas, o que está de
acordo com resultados encontrados em outros estudos [8,25], demonstrando que
como esperado, mulheres tendem a apresentar maior número e variedade de
sintomas na SCA do que homens, e sintomas considerados atípicos, principalmente
na ausência de dor precordial.
Os resultados deste
estudo são compatíveis com os resultados de outras revisões sistemáticas
[32,33], em que foram encontradas diferenças substanciais de sintomas entre
homens e mulheres no IAM, e dor precordial atípica ou ausente em mulheres em
maior proporção que homens. Os resultados de metanálise
[33] ainda demonstraram diferenças nos sintomas de modo geral entre os sexos de
uma magnitude que garante consideração e significância clínica, sendo
necessário alertar o público e os profissionais de saúde quanto a apresentações
atípicas de síndrome coronariana aguda, especialmente entre mulheres para
redução do tempo de diagnóstico e tratamento e redução da morbimortalidade
desses pacientes.
Características
demográficas e clínicas
Quanto aos dados
demográficos e clínicos das pesquisas, no geral, mulheres eram
significativamente mais velhas que homens na maioria dos estudos [14,19,20,23-27,30], e tinham maior probabilidade de ter
diabetes [8,21,22,28,30] e hipertensão arterial (HAS) [8,20-23,28] do que
homens, já os homens tinham histórico de tabagismo mais frequentemente que
mulheres [10,19,21,22,30]. Apenas dois estudos informaram sobre mortalidade, e
em ambos as mulheres tiveram maior índice [21,27], dois estudos compararam
também o tratamento entre homens e mulheres diagnosticados com SCA e em ambos
as mulheres receberam tratamento invasivo e medicamentoso menos frequentemente
que homens, dentre eles Intervenção Coronária Percutânea (ICP), cirurgia,
terapia tromboembolítica, nitroglicerina endovenosa e
heparina [23,28].
Outros
problemas associados à diferença de sintomas na SCA
Apesar de haver
evidências em relação à diferença de sintomas entre os gêneros na Síndrome
Coronariana Aguda, há uma divergência de opiniões quanto ao que de fato
influencia nessas diferenças. Alguns autores associam a diferença de sintomas
não ao gênero em si, mas a fatores como idade, comorbidades,
principalmente a diabetes mellitus, ou até mesmo o tipo de SCA (AI, IAMCSST,
IAMSSST).
As pesquisas
demonstram que mulheres são cerca de 10 anos mais velhas do que homens quando
apresentam SCA[17]. Uma pesquisa realizada detectou as
diferenças de sintomas na SCA entre pessoas mais jovens e mais velhas e
encontrou que as mais velhas, em sua maioria mulheres, reportaram com menos frequencia dor no peito e mais frequentemente outros
sintomas atípicos de SCA [5]. Porém, outros estudos realizados encontraram
diferenças de sintomas entre os sexos mesmo em pacientes mais jovens [8,27], um
destes encontrou até mesmo que o grupo que menos apresentou dor/desconforto no
peito foram mulheres mais jovens, sendo, portanto,
inconclusivo a relação da idade com sintomatologia atípica da SCA [27].
Outro fator
importante é que em diversas pesquisas, as mulheres além de serem mais velhas,
possuíam também maior número de comorbidades [8,20-23,28,30]. Alguns autores associam a sintomatologia atípica
e a maior morbimortalidade a esse fator, principalmente ao diabetes mellitus
(DM). Um estudo realizado comparou sintomas de indivíduos na SCA com e sem
diabetes e encontrou que os que possuíam diabetes tinham uma probabilidade
significativamente grande de não apresentar dor no peito e de apresentar fadiga
incomum em comparação aos não-diabéticos, não
encontrou, porém, diferenças significativas entre outros sintomas [34].
O tipo de SCA é
também outro fator considerado como principal nos sintomas apresentados, porém
resultados quanto a qual tipo de SCA ser mais relacionado com apresentação de
sintomas atípicos são inconsistentes nos estudos,
enquanto alguns estudos associam o IAMCSST à maior número de sintomas atípicos
[35], outros relatam que o IAMSSST demonstrou ter maior número de pessoas sem
dor precordial e como forte preditor de apresentação
de sintomatologia atípica [36].
Portanto, algumas
variáveis são importantes e devem ser levadas em consideração ao se analisar as
diferenças de sintomas entre os gêneros, como idade, comorbidades
e tipo de SCA, porém, estudos não conseguiram determinar se de fato essas
variáveis são o fator principal na influência dos
sintomas da SCA.
Com base nos
resultados da pesquisa foi observado que mulheres levam mais tempo para
procurar atendimento de emergência durante a SCA do que homens. Dentre os
motivos encontrados estão que elas não detectam ou associam seus sintomas com
problemas cardíacos emergenciais e que a experiência percebida por elas de ter
um IAM foi diferente de suas expectativas do que seria ter um infarto. Esse
resultado demonstra a importância de instruir mulheres sobre a possibilidade de
apresentação sintomatológica inespecífica, encontrada mais comumente no sexo
feminino, e da necessidade de buscar atendimento médico o quanto antes para um
melhor prognóstico e prevenção de complicações.
Foi observado também
que as mulheres recebem tratamentos invasivos e medicamentosos
com menor frequência que homens e tem pior prognóstico e maior mortalidade.
Esses fatores podem ser associados à idade mais avançada da maioria das
mulheres em comparação com homens e a terem mais comorbidades
ao sofrerem a SCA.
Foram encontradas
relevantes diferenças na sintomatologia de homens e mulheres na SCA. Apesar de
encontrar variáveis importantes que podem influenciar na natureza desses
sintomas, como a idade, comorbidades e tipo de SCA,
os estudos realizados até o momento não foram suficientes para determinar a
superioridade desses fatores sobre o gênero.
Mulheres apresentaram
mais frequentemente sintomas como náusea, vômito, dor nos ombros, palpitação,
dor nas costas e na mandíbula, e ainda dor precordial menos frequente do que
homens. Esse resultado demonstra porque algumas mulheres têm dificuldade a
identificar seus sintomas como sendo de origem cardíaca, pois na ausência de
dor no peito eles se tornam inespecíficos, provocando atraso na procura por
atendimento médico e no diagnóstico da síndrome.
O presente estudo
enfrentou algumas limitações, como a dificuldade para encontrar pesquisas do
assunto, por ser pouco abordado no cenário científico e a heterogeneidade das
pesquisas selecionadas. Outro problema também foi o tamanho das amostras, em
algumas pesquisas bem pequenas, e o método de coleta de dados com questionários
sem padronização, com alguns estudos reportando alguns sintomas e outros não,
além disso, a análise de prontuário com relação à sintomatologia tende a ser
imprecisa ao descrever todos os possíveis sintomas relatados pelos pacientes.
No entanto, as
pesquisas incluídas demonstram essa realidade a nível mundial, o que aponta
para significância do tema. Não foram encontradas pesquisas do assunto
realizadas no Brasil, fazendo-se necessário a realização de estudos no país
para avaliar o quadro a nível local.
De qualquer forma,
encoraja-se que sejam adotadas medidas para alertar a população de maior risco,
assim como aos profissionais de saúde, principalmente médicos e enfermeiros que
atuam na triagem desses pacientes com o objetivo de agilizar
o diagnóstico e tratamento e reduzir as taxas de mortalidade, comprovadamente
mais elevadas nos pacientes que não apresentam a sintomatologia clássica da
SCA.