ARTIGO
ORIGINAL
Impressões
maternas acerca da presença do pai/companheiro nas consultas de pré-natal
Pablo Luiz Santos
Couto, M.Sc.*, Antônio Marcos Tosoli Gomes, D.Sc.**, Luan Farley Pereira
Fernandes***, Mona Lisa Leite Neves Brandão****, Marcella Ravanne Almeida Lima,
D.Sc.****, Luiz Carlos Moraes França, M.Sc.*****, Mirian Santos Paiva,
D.Sc.******, Núbia Rêgo Santos*******, Diogo Jacintho Barbosa********, Sérgio
Correia Marques, D.Sc.*********, Samantha Souza da Costa Pereira,
M.Sc.**********, Arilene Rodrigues Silva Vieira***********
*Enfermeiro,
Docente na Universidade do Estado da Bahia e do Centro Universitário UniFG,
**Enfermeiro, Docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, ***Enfermeiro, Centro Universitário
UniFG, ****Enfermeira, Centro Universitário UniFG, *****Enfermeiro, Mestre em
Enfermagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ),
******Enfermeira, Docente do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde da
Universidade Federal da Bahia, ******Graduanda de Enfermagem pelo Centro
Universitário UniFG, *******Enfermeiro, Doutorando em Enfermagem pela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Professor Substituto no
Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), **********Enfermeiro, Docente do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, **********Enfermeira, Mestre em Saúde Coletiva, Centro de Ensino
Superior de Guanambi, ***********Enfermeira, Centro de Ensino Superior de
Guanambi
Recebido em 31 de maio
de 2018; aceito em 16 de novembro de 2018.
Endereço
de correspondência:
Pablo Luiz Santos Couto, Centro de Ensino Superior de Guanambi, Av. Pedro
Felipe Duarte, 4911 São Sebastião 46430-000 Guanambi BA, E-mail:
pabloluizsc@hotmail.com; Antônio Marcos Tosoli Gomes: mtosoli@gmail.com; Luan
Farley Pereira Fernandes: luan.enf.2017@gmail.com; Mona Lisa Neves Brandão:
lisa_neves1@hotmail.com; Marcella Ravanne Pereira Lima:
marcellaravanne@yahoo.com.br; Luiz Carlos Moraes França:
lcmoraesfranca@hotmail.com; Mirian Santos Paiva: paivamirian@hotmail.com; Núbia
Rêgo Santos: nubya.net12@gmail.com; Diogo Jacintho Barbosa:
jacintho.enf@gmail.com; Sérgio Correia Marques: sergiocmarques@uol.com.br;
Samantha Souza da Costa Pereira: samantha.uefs@gmail.com; Arilene Rodrigues Silva
Vieira: leneemariana@gmail.com
Introdução: A gestação é um
período de preparação para que os pais possam assumir novos papéis no
relacionamento, frente ao bebê e a tudo que ele representa para o casal e para
a nova configuração familiar. Em muitos casos, a presença do companheiro pode
ser um suporte emocional à gestante. Objetivo:
Compreender as impressões das gestantes acerca da participação do companheiro
nas consultas de pré-natal. Métodos:
Estudo descritivo e qualitativo, realizado em uma cidade do interior da Bahia.
Foram entrevistadas 30 gestantes. A técnica adotada para a obtenção dos
resultados foi a entrevista em profundidade, submetidas à Análise de Conteúdo
Semântica. Resultados: Emergiram três
categorias que revelaram as impressões desse grupo de gestantes, as quais
variaram conforme a vivência da gestação e das situações enfrentadas com os
companheiros: tem-se o desejo de algumas para a participação deles, ainda que
impossibilitados pelo trabalho; a negação por não aceitar a presença deles seja
pelo medo e vergonha de tê-los presente em um momento que podem conversar sobre
seus dilemas privativamente com a enfermeira, ou até mesmo pelo abandono. Conclusão: Para parte das mulheres a
participação do companheiro durante o pré-natal configura em conforto e
segurança, entretanto para outras revela medo e angústias.
Palavras-chave: cuidado pré-natal,
gravidez, paternidade, saúde da mulher.
Abstract
Maternal
impressions about the presence of the father/companion in prenatal
consultations
Introduction:
Gestation is a time of preparation for the parents to take on new roles in the
relationship, in front of the baby and all that it represents for the couple
and the new family configuration. In many cases, the presence of the partner
can be an emotional support to the pregnant woman. Objective: To understand the impressions of pregnant women about
their partner's participation in prenatal consultations. Methods: Descriptive and qualitative study, carried out in a city
of Bahia. Thirty pregnant women were interviewed. The technique adopted to
obtain the results was the in-depth interview, submitted to the Semantic
Content Analysis. Results: Three
categories emerged that revealed the impressions of this group of pregnant,
which varied according to the experience of the pregnancies and the situations
faced with the companions: there is the desire of some for their participation,
even if they are unable to work; denial for not accepting their presence is the
fear and shame of having them present at the moment when they can talk their
dilemmas privately with the nurse, or the abandonment. Conclusion: For a group of women, the companion's participation
during prenatal care configures comfort and safety, but for others reveals fear
and anxiety.
Key-words: prenatal care,
pregnancy, paternity, women's health.
Resumen
Impresiones maternas acerca de la presencia del padre/compañero en las
consultas de prenatal
Introducción: La gestación es un período de preparación para
que los padres puedan asumir nuevos papeles
en la relación,
frente al bebé y a todo lo que representa para la pareja y para la nueva configuración
familiar. En muchos casos, la presencia del compañero puede ser un soporte emocional a la gestante. Objetivo:
Comprender las impresiones de las gestantes
acerca de la participación del compañero en
las consultas de prenatal. Métodos: Estudio
descriptivo y cualitativo,
realizado en una ciudad del interior de Bahía. Se entrevistaron a 30 gestantes. La técnica adoptada para la obtención de los resultados fue la entrevista en profundidad, que se somete al análisis
de contenido semántico. Resultados: Surgieron
tres categorías que revelaron las impresiones
de ese grupo de gestantes, las
cuales variaron según la vivencia de la gestación y de las situaciones enfrentadas con los compañeros:
se tiene el deseo de algunas para su participación, aunque imposibilitados por el trabajo; la
negación por no aceptar la
presencia de ellos sea por el miedo y vergüenza
de tenerlos presente en un momento que pueden conversar
sobre sus dilemas privativamente con la enfermera, o incluso por el abandono. Conclusión: Para parte de las mujeres la participación
del compañero durante el prenatal se configura en confort y seguridad,
pero para otras revela miedo
y angustias.
Palabras-clave: atención
prenatal, embarazo, paternidad, salud de la mujer.
A consulta de pré-natal
prestada pelos enfermeiros na Estratégia Saúde da Família (ESF) é importante
para o bom desenvolvimento fetal, pois é nessa consulta que as situações de
risco são identificadas e as orientações são passadas para a gestante [1]. O
controle pré-natal e a assistência ao parto contribuem para a redução da
mortalidade materna e morbi-mortalidade perinatal,
promove a saúde das mães e crianças além de gerir e prevenir os fatores de
risco [2].
A gestação é um período
de preparação para que a mãe e o pai possam assumir novos papéis no
relacionamento, frente ao bebê e a tudo que ele representa para o casal e para
a nova configuração familiar [3].
Entretanto, no período
gestacional o que se percebe é que a maioria das pessoas que busca os serviços
públicos de saúde é constituída por mulheres. Grande parte delas buscam esses
atendimentos tanto para seus filhos como para elas mesmas. Nessa perspectiva, é
comum que, para consulta de pré-natal, a mulher vá sozinha ou acompanhada com
sua mãe, tia ou alguma amiga [4].
Por esse motivo, a
gestante, na maioria das vezes, torna-se a única a receber as orientações da
sua condição clínica obstétrica e, consequentemente, sobre o desenvolvimento
fetal. Dessa maneira lhe é imputada socialmente a responsabilidade pelo futuro
recém-nascido, pela adesão ao serviço, aos exames e as medidas passadas pelo
enfermeiro durante a consulta [5].
O pai tem pouca ou
nenhuma participação durante o período gestacional, normalmente todas as
atenções estão voltadas para a mulher. Logo, o homem, muitas vezes é deixado de
lado, assumindo um papel secundário [6]. Por outro lado, também, existem homens
que demonstram pouco interesse em participar do ciclo gravídico de suas
companheiras, deixando-as sozinhas diante de novos fatores e aspectos que
cercam a fase gestacional [3].
Algumas pesquisas já
realizadas evidenciaram, no entanto, que a presença desses homens pode
favorecer o suporte emocional à companheira, além de ser este um momento em que
eles recebem as orientações para contribuir com a saúde materno-fetal [5,7-8].
É importante que os
profissionais envolvidos com o pré-natal estimulem a presença do pai nas
consultas, desde quando a gestante queira a presença dele, de modo que a
gestante compreenda que a presença paterna contribuirá para a sua qualidade de
vida e a do feto também. Em contrapartida, é imprescindível que o pai reconheça
a relevância de sua participação nas consultas de pré-natal [5].
Por isso, este estudo
justifica-se pela necessidade em compreender o pensamento e as impressões das
gestantes acerca da presença do pai no acompanhamento das consultas de
pré-natal, uma vez que estudos têm considerado que a presença do pai durante o
período gravídico pode contribuir para uma qualidade de vida materno-fetal.
Destarte, este estudo
tem como objetivo compreender a impressão das gestantes acerca da participação
do pai acompanhante nas consultas de pré-natal.
Trata-se de um estudo
descritivo e de abordagem qualitativa, com enfoque nas subjetividades e ideias
que permeiam o pensamento e a vivência das gestantes quanto a importância da
presença paterna na consulta de pré-natal.
A coleta de dados foi
realizada em salas privativa de duas Estratégias de Saúde da Família da atenção
primária na cidade de Guanambi/BA, no mês de abril de 2017, sempre após a
consulta pré-natal com a enfermeira. Participaram do estudo 30 gestantes que
realizaram consultas em serviços da Atenção Básica do município de Guanambi/BA
e atenderam aos seguintes critérios de inclusão: maiores de 18 anos e
cadastradas no SISPRENATAL. Foram excluídas aquelas que declararam, durante as
entrevistas, se sentir sem condições emocionais e, dessa forma,
impossibilitadas de interagir por comunicação verbal para responder aos
questionamentos, pois conforme relatos vinham à tona em suas mentes algum fator
traumático na relação com seus parceiros.
A técnica adotada para
a obtenção dos resultados foi a entrevista em profundidade, mediante a
aplicação de um roteiro com três perguntas abertas, o que favoreceu um maior
aprofundamento das respostas das participantes: “Fale-me da importância das
consultas do pré-natal durante a gestação da senhora”, “Fala-me o que senhora
pensa sobre a presença de seu parceiro (pai da criança) nas consultas de
pré-natal” e “Fale-me como a enfermeira pode contribuir para que o pai ou o
acompanhante/parceiro da senhora participe das consultas pré-natal”.
Por este estudo ser de
cunho qualitativo foi utilizado como critério de validação dos resultados a
saturação empírica, ou seja, fundamentou-se na saturação teórica das falas no
momento em que se tornou desnecessária a inclusão de participantes, visto que
houve repetição de respostas [9].
As respostas das
participantes foram gravadas em um gravador MP3 Player, em seguida foram
transcritas na íntegra e, por fim, submetidas à Análise de Conteúdo Semântica
(ACS), realizada através de quatro etapas: pré-análise
do material; constituição do corpus do texto; exploração e decodificação do
material; tratamento dos resultados e interpretação; categorização, que ocorreu
a partir das divergências e convergências dos conteúdos semânticos [10].
Ressalta-se que antes
da aplicação do instrumento de coleta, foi apresentado o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido às participantes e, logo após a leitura, foi solicitado a
assinatura, garantindo o respeito à Resolução 466/2012 que trata de pesquisas
envolvendo seres humanos. Para garantir o sigilo e confidencialidade das
informações as gestantes receberam um código de identificação: a letra “G”
seguida de um número, exemplo, “G01”. O projeto foi aprovado pelo Comitê de
Ética e Pesquisa da Faculdade Guanambi com o parecer número de protocolo
2022888/2017.
Quanto a caracterização
da população, a idade das 19 gestantes estava na faixa de 18 a 25 anos, 10 na
faixa de 26 a 35 anos e 01 gestante com mais de 35 anos. Em relação à raça/cor
autodeclarada 21 eram negras/pardas e 9 brancas, 17 gestantes eram solteiras e
13 se encontravam em uma união estável. A respeito de sua religião 17 se
declararam católicas, 09 evangélicas e 04 de outra religião. Sobre o nível de
escolaridade, 13 gestantes possuíam o nível fundamental, 15 o nível médio e 02 nível superior. Sobre a quantidade de filhos, 18 mulheres
não tinham filho, 11 tinham de 01 a 02 filhos e apenas 01 mais de 02 filhos. No
que tange a quantidade de gestações, 18 mulheres eram primigestas, 06 eram secungesta e 06 multigesta.
Após análise semântica
dos depoimentos, emergiram três categorias, que consolidam as impressões
maternas acerca da presença do pai nas consultas de pré-natal: categoria 01
“[...] É importante, meu esposo demonstra interesse, mas não vem porque
trabalha”, categoria 02 “[...] Eu gostaria que ele participasse, mas ele não
demonstra interesse”, categoria 03 “Não sinto necessidade da presença dele”.
Categoria
1: “[...] É importante, meu esposo demonstra interesse, mas não vem porque
trabalha”.
Em nosso estudo
realizado com as gestantes das unidades básicas de saúde, sobre a presença do
companheiro nas consultas de pré-natal, foi pontuado por elas que os homens não
frequentam as consultas de pré-natal, pelo fato de estarem ocupados com
trabalhos.
Diante do revelado,
nota-se que as mulheres sentem falta de seu marido durante as consultas de
pré-natal, e se sentiriam felizes se ele pudesse estar presente, para
contribuir nos cuidados durante o período gravídico, parto e puerpério, como
pode ser evidenciado a seguir.
“Ele
trabalha e não tem como ele vir, mas se a consulta fosse à noite ele viria
sempre ele pergunta como foi.” (G1).
“Seria
bom a presença dele, mas ele não vem porque as consultas são a tarde e ele
trabalha nesse horário. Eu queria muito que ele participasse das consultas, mas
ele não participou de nenhuma consulta, seria uma segurança a mais.” (G2).
“Nas
consultas não é sempre que ele pode estar ao meu lado por conta do trabalho e
como o horário de atendimento nos postos é em horário comercial complica
muito.” (G5).
“É
um pouco complicado porque ele trabalha mais creio que ele faria um esforço.”
(G8).
“Mas
nas outras ele não veio por conta do trabalho, só que ele sempre me pergunta
das consultas, se não fosse o trabalho ele viria, ele é um pai muito presente,
extremamente dedicado.” (G12).
Foi possível evidenciar
nesta categoria, que o homem tem um papel relevante tanto no período
gestacional. Além disso, é o momento em que ele pode estar formando um vínculo
com o seu filho. Entretanto, maioria dos pais não participa destes momentos por
não terem como faltar ao trabalho.
Categoria
2: “[...] Eu gostaria que ele participasse, mas ele não demonstra interesse”.
Perante o
questionamento sobre a percepção das gestantes sobre o interesse dos pais em
participarem das consultas de pré-natal, algumas revelaram que eles nunca
demonstraram interesse, outras disseram que o marido só se preocupa em
trabalhar para pagar as contas.
Durante o momento
gravídico, sabe-se que a mulher sofre alterações hormonais e psicológicas, por
isso é uma fase em que elas precisam de apoio, carinho e atenção,
principalmente dos pais da criança.
“Ele
não tem muito interesse em participar, não faz questão em estar presente, ele
só realiza mesmo os exames porque realmente é necessário”. (G16).
“Ele
não teve interesse algum em participar das consultas e também
não dava por conta do trabalho. Eu acho que na verdade nenhum pai sabe que
deveria participar nas consultas.” (G18).
“[...] Mas ele poderia demonstrar um pouco mais de interesse
em saber como o filho dele está, me sinto muito mal com isso.” (G23).
“[...]
Meu marido nunca demostrou interesse em participar, pois ele fica muito
preocupado em trabalhar para poder sustentar a casa.” (G26).
Os discursos das
depoentes revelam, ainda que implicitamente, a cultura do machismo presente na
relação entre o casal, uma vez que ele relega a companheira o cuidado com o
bebê, ainda na gestação, ao não acompanhá-la em todos
os momentos, inclusive nas consultas. Essa constatação fica nítida na
preocupação desses homens com o espaço público, especificamente, o trabalho, e
com o sustento do lar, do que no auxílio à companheira durante o período
gestacional.
Categoria
3: “Não sinto necessidade da presença dele”.
A terceira categoria
revela subjetivamente faces das relações de poder entre homens e mulheres e a
construção social da maternidade naturalizada pelas próprias mulheres, além de
apontar o modo como se dá o relacionamento entre elas e seus companheiros. As
falas abaixo apontam que parte delas não vêm a necessidade do acompanhamento
dos companheiros durante as consultas do pré-natal:
“Eu
prefiro que a minha mãe venha comigo, eu me sinto mais segura, ela me ajuda em
tudo, o pai só ajudou a fazer, ele tem 17 anos, deve ter sido um choque para
ele também.” (G03).
“Ele
não está participando por que nós brigamos, mas não sinto falta da presença
dele, se ele viesse na consulta eu não iria me sentir bem porque não estamos
mais juntos.” (G06).
“Não
me sinto mal se não der para ele estar presente, gosto de estar sozinha, queria
muito a minha mãe me acompanhando só que infelizmente ela não pode estar
presente [...] Eu prefiro que a minha mãe venha comigo, eu me sinto mais
segura, ela me ajuda em tudo [...] Minha mãe sempre me ajuda e dá dicas sobre a
gravidez.” (G17).
“O
meu esposo nunca participou de nenhuma consulta e eu acho isso normal, tanto
que prefiro estar sozinha nas consultas, pois, me sinto melhor dessa maneira e
consigo me expressar melhor sem a presença dele, fico muito reprimida quando
ele está ao meu lado.” (G27).
“Eu
não vejo importância da participação do meu companheiro, para mim tanto faz ele
vir ou não vir nas consultas.” (G28).
Como visto no decorrer
dessa categoria, percebe-se que por vários motivos as gestantes preferem que o
seu companheiro não esteja presente durante as consultas de pré-natal, isso
implica maior segurança para expressar suas dúvidas, angústias, medos e
sentimentos. O mais importante é proporcionar um ambiente em que ela possa se
sentir bem e segura, realizando a melhor consulta possível para que essa
gestante possa continuar esse procedimento para ter uma gestação saudável e sem
riscos.
A presença do pai nas
consultas de pré-natal além de ser importante para algumas gestantes é também
essencial para que o homem saiba quais as suas competências diante da
paternidade e conheça as necessidades do seu filho em cada fase de seu
desenvolvimento. Além do mais, à medida que seu filho se desenvolve ele se
constrói como pai [11].
Conforme as gestantes
do estudo sobre as suas percepções acerca da atuação dos parceiros nas
consultas de pré-natal, realizado em Fortaleza, em 2016, foi pontuado que se os
companheiros frequentassem as consultas de pré-natal, entenderiam melhor sobre
o processo da gravidez e as mudanças que ocorrem no organismo gravídico,
saberiam como agir em situações de emergências. E quando a criança nascesse ele
estaria presente nos cuidados diretos com recém-nascido [12].
De acordo com o estudo
realizado em Aracajú, o pai tem um papel fundamental durante a maternidade,
iniciando-se no pré-natal no qual a gestante durante as consultas recebe várias
orientações do profissional de saúde sobre os cuidados, sobre sua saúde e de
seu filho [4]. Neste momento, o companheiro deve estar presente, para que
possam dividir as tarefas e responsabilidades. Além disso, a presença do
companheiro serve de incentivo, tanto para que a gestante se faça presente em
todas as consultas quanto para que elas realizem os cuidados necessários [13].
O papel da figura
paterna é fundamental durante três fases do ciclo gravídico-puerperal: na
gestação, no momento do parto e em toda a fase do puerpério [14]. Em um estudo
realizado com profissionais de saúde da rede básica acerca da presença do
acompanhante no pré-natal percebeu-se nos depoimentos que em decorrência das
mudanças fisiológicas e psicológicas que ocorrem com a mulher durante este
período, faz-se essencial a presença do seu companheiro durante o pré-natal
para que ele compreenda as dificuldades e auxilie nos cuidados com a gestação
[15].
Desde o desenvolvimento
gestacional e até o pós-parto o companheiro pode oferecer para ambos, atenção,
carinho, amor, cuidado, e também auxiliar em tudo o que se fizer necessário
para a mãe e bebê, e, dessa forma, ela irá se sentir segura, pois, o momento o
período deixou ansiosa e insegura, isso tudo, devido ao surgimento de novas
responsabilidades e preocupações imbricadas à maternidade [16].
Contudo, alguns fatores
impedem que os pais estejam presentes durante esse momento na vida de sua
companheira, dentre esses, está o trabalho. Além disso, não sendo possível sua
liberação para acompanhar as consultas de pré-natal, ele goza da liberação da
licença paternidade, de apenas 5 dias, para registrar a criança e ajudar a
mulher na adaptação da nova rotina nos primeiros dias pós-parto [15].
Há uma preocupação
social apenas com a presença do pai no puerpério, contudo, ainda existem poucos
estímulos para que ele acompanhe e auxilie sua companheira, quando desejado por
ela, durante a fase gestacional da mulher e nas consultas pré-natal.
Certamente, em decorrência da cultura do machismo e da masculinidade, que
relega socialmente e exclusivamente à mulher o papel da maternidade e a única
responsável pelo cuidado com os filhos. Dessa forma, veem-se muitos homens
ausentes nessa etapa e sem consciência de seu papel de cuidador também
[4-5,7-8,12].
No que concerne à
construção social dos gêneros, o papel do homem e da mulher é constituído
culturalmente e muda conforme a sociedade e o tempo, atribuindo a mulher e ao
homem papeis diferentes no meio social. Desde o primeiro momento em que a
menina é criada, ela é incentivada pela família, sociedade e religião à prática
da maternidade com objetos infantis e brincadeiras, como cuidar da boneca,
brincar de casinha, fazer ‘comidinha’ [17].
São nesses momentos de
lazer que nelas são introjetadas, de modo
inconsciente, o papel de companheira, dependentes e submissas ao homem, tendo
sempre que estar à disposição e ao serviço das necessidades do marido, dos
filhos e do lar. Essas ideias emanadas na sociedade existem desde os primórdios
e têm sido reforçadas pelas doutrinas das religiões, como por exemplo, a noção
cristã de que a mulher surgiu da costela do homem e foi criada para servi-lo
[18].
Por sua vez, ao homem é
imputado o papel de provedor do lar, o qual tem que trabalhar para sustentar a
casa, a esposa e os filhos, com a permissão social de ocupar os espaços
públicos, restando a mulher o espaço privado: a maternidade e as tarefas
domésticas. Desse modo, ainda que alguns homens demonstrem interesse pela
maternidade, por outro lado sentem-se responsáveis pelas despesas, não deixando
o trabalho para acompanhar sua mulher durante as consultas [15].
Em relação aos papeis
dos homens e das mulheres na sociedade, um estudo realizado com escolares
acerca de suas representações sobre a mulher, descreveu historicamente a função
da mulher e do homem no meio social [19]. A mulher com a função de cuidar do
lar, do filho, desempenhando o papel de esposa e mãe; e o homem a figura que
trabalha para sustentar o lar [19].
Mas na família moderna,
esses papéis sofreram alterações, as mulheres trabalham para sustentar a casa,
cuidam das tarefas domésticas e educar os filhos, desempenhando a dupla
jornada; os homens trabalham, mas ajudam sua companheira nos afazeres de casa.
No entanto, existem ainda homens quem mantém o tradicionalismo machista por
assumirem a função de apenas trabalhar para pagar as despesas [15].
Por outro lado, algumas
participantes relataram durante a entrevista que não tem nenhum relacionamento
amoroso com o parceiro, e por isso ele não demonstra interesse, no entanto, ela
ficaria feliz se ele participasse. Já em outro estudo realizado no ano de 2009,
no estado do Rio Grande do Norte, verificou que muitas mulheres não queriam
mais continuar com o pai da criança, levando-o ao abandono do seu filho, não
mostrando preocupação e interesse nas consultas [20].
Durante muitos anos,
para manter a pose da família burguesa, as mulheres, permaneciam em casa
realizando as atividades domésticas, cuidando da educação dos filhos, exercendo
apenas este trabalho e o de reprodutora, com o intuito também de repassar todos
esses princípios para seus descendentes [3-4,12].
Essa cultura
transformou a mulher como sendo a única responsável pela educação das crianças,
uma vez que nela foi e ainda é imbricada a maternidade, como se fosse designo
de sua própria natureza. Por este motivo, se percebe uma desvalorização e desigualdades
entre homens e mulheres no mundo do trabalho, devido à forma como se constitui
o trabalho capitalista [21], e em decorrência dessa situação as mulheres que
experimentam a dupla jornada têm que provar constantemente que podem ser
bem-sucedidas na profissão sem abandonar as demandas domésticas [22].
No Brasil a ocupação
das mulheres e dos homens no âmbito do trabalho revela que a mulher brasileira
representa 63,9% da população ocupada entre 25 e 49 anos, porém 14,5% dessas
mulheres ocupam-se exclusivamente dos trabalhos domésticos contra apenas 0,7%
dos homens [19]. Contudo, 94,85% das mulheres exercem dupla jornada, trabalham
fora de casa e ainda se ocupam dos trabalhos domésticos e dos cuidados com os
filhos, contra somente 5,2% dos homens [14].
Apesar das informações
encontradas revelarem que o homem também possui um papel no que diz respeito
aos cuidados com os filhos, alguns estudos mostram que eles não consideram as
idas às consultas de pré-natal uma função sua, mas sim apenas da mulher, se
preocupando apenas com o trabalho e a manutenção da casa [11].
As desigualdades ainda
são altíssimas, a mulher sofre no mundo todo com a misoginia, o machismo e o
preconceito que as leva a desigualdades profundas nas condições sociais de
gênero [19]. Em Cingapura e em outras sociedades asiáticas, por exemplo, em
nível de comparação, as mães solteiras e jovens também são estigmatizadas,
sofrem preconceitos decorrentes dos valores tradicionais machistas e
patriarcais que desvelam as desigualdades de gênero, o que interfere na busca
pelos cuidados pré-natal [22].
Em outro estudo
realizado em um município de Natal/RN com 20 gestantes acerca das atitudes do
companheiro diante de sua ausência no pré-natal, foi evidenciado que os mais de
80% dos maridos não acompanham suas mulheres durante as consultas de pré-natal,
mas quando eles se fazem presentes, as mulheres relatam satisfação por ele
estar ao seu lado. Por outro lado, comprovou-se que os homens acompanham muito
pouco suas mulheres durante as consultas de pré-natal, demonstrando assim pouco
interesse [20].
A participação do pai
no pré-natal torna-se cada vez mais frequente, sua presença deve ser estimulada
durante as atividades de consulta de grupo e serve para preparar o casal para a
hora do parto [20]. Os benefícios da presença do pai foram comprovados em
vários estudos científicos nacionais e internacionais, estes evidenciaram que
as gestantes que tiveram a presença do pai se sentiram mais seguras e
confiantes durante o parto [12,14].
Algumas opiniões
percebidas nas entrevistas também foram expressas em outros estudos, nos quais
foram encontrados resultados semelhantes acerca da violência contra a mulher,
associando essa falta da necessidade dos parceiros nas consultas de pré-natal a
vários fatores como: violência doméstica, preferência da presença de outro
familiar, o fato de não estar em uma união estável com o pai do bebê [4,12].
Os resultados apontam
que algumas gestantes referem que não se sentem bem com a presença dos seus
companheiros, o que causa intimidação e medo de se expressarem com a enfermeira
[23]. O período gestacional é cercado por incertezas e mudanças psicológicas e
fisiológicas para as gestantes, e, esses sentimentos provocados pelo homem
configuram em insegurança durante o período gestacional. A mulher para se
defender dessa situação acaba excluindo a presença paterna das consultas,
ficando dessa forma mais segura para expressar seus sentimento e dúvidas para a
enfermeira [24].
Algumas gestantes deste
estudo que apontaram que não desejavam a presença do marido, ainda que não
deixaram claro se sofriam violência doméstica, o próprio silêncio percebido
durante as entrevistas e a negação podem apontar para a vivência deste fenômeno
em seus lares. Além disso, por serem, em sua maioria, economicamente
desfavorável e terem baixa escolaridade, pressupõe vulnerabilidade para a
violência doméstica e de gênero [25]. Em estudo realizado na Etiópia no ano de
2014 evidenciou-se que a maioria das mulheres pobres e com baixo nível de
escolaridade haviam sido espancadas, inclusive na região do abdome, pelo pai
biológico do bebê e, por isso, demonstravam medo diante da presença deles [26].
Estudo realizado, no
ano de 2012, com mulheres que participaram de consultas de pré-natal em um
ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia de um Centro Municipal de Saúde,
localizado na zona Sul do município do Rio de Janeiro, demonstrou que algumas
gestantes sofreram algum tipo de violência, seja moral, psicológica ou física.
Constatou-se ainda que a violência psicológica foi a mais apontada pelas participantes,
considerado como fator de repressão emocionalmente que as faziam não querer a
presença de seus companheiros durante as consultas [27].
A violência de gênero,
seja em qual perspectiva for, tende a interferir na saúde mental da mulher não
só durante o período gravídico, mas no pós-parto também. Em um estudo
realizado, no ano de 2012, no Vietnã, com mulheres da zona rural e zona urbana,
percebeu-se que os sintomas depressivos que algumas delas apresentavam durante
a lactação ou após esse período estava associado a fatores sociais e culturais,
a pobreza e sobretudo à violência [28].
Contudo, não apenas a
violência, mas outro fator, como a confiança na experiência das mulheres mais
velhas com a maternidade, foi evidenciado por outras mulheres que comporam a terceira categoria, para não sentirem
necessidade da presença dos companheiros, mas de suas mães durante o pré-natal.
Esse fato pode ser
corroborado pelos resultados de uma pesquisa realizada, no ano de 2016, com
adolescentes de baixa renda da cidade de Cuiabá, Mato Grosso, que evidenciou a
preferência dessas moças pela mãe durante as consultas, pelo fato delas já
terem passado por essa experiência. Esse conhecimento adquirido através de
outras gestações reforça o sentimento de segurança por ser um ponto de apoio
contínuo [29].
Dessa maneira, as
gestantes visualizam a presença materna como um ponto de apoio familiar de
segurança e de estímulo. É natural esse sentimento de suporte manifestado
através da necessidade de um ponto de apoio com total experiência vivenciada em
gestações passadas. A figura materna demonstrada não apenas durante as
consultas de pré-natal, mas durante a vivência familiar, simboliza para as
gestantes a importância que elas têm nesse grupo, sentindo-se dessa forma amada
e segura [17,25].
Entretanto, foi
observado, através das falas das gestantes deste estudo, aquelas mulheres que
não tem a presença do companheiro por motivo de brigas e separações,
demonstrando a falta de afeto e do abandono do companheiro no período quando se
descobre a gestação, deixado assim de assumir/desempenhar o papel de pai dessa
futura criança.
Outro estudo realizado
com adolescentes gestantes que frequentavam as consultas de pré-natal em uma
Estratégia de Saúde da Família de uma cidade do sertão Paraibano, durante o ano
de 2014, revelou que a maioria dessas meninas vivia sem a presença dos
companheiros e contavam com o auxílio apenas dos seus familiares. Dessa
maneira, ainda que não tiveram apoio e segurança do companheiro,
encontraram-nos nos familiares e assim passaram a ter uma gravidez mais
tranquila [30].
Assim, o fato de ser
mãe solteira, a falta de afetividade com o pai da criança juntamente com a
falta de apoio emocional dele, pode gerar vários problemas para essa gestante
como depressão pós-parto. Toda essa futura preocupação em ter que trabalhar
para o sustento dela e de seu filho, associado às tarefas domésticas diárias e
aos cuidados maternos podem gerar distúrbios psíquicos e físicos tanto na mãe
como em seu filho.
Este estudo teve sua
limitação no quantitativo de mulheres, por ter ocorrido em um município
localizado no Nordeste do Brasil, o que impossibilita fazer generalizações, uma
vez que as mulheres têm perfis, vivências e condições de vida distintas, que
variam conforme a cultura e a localidade. Entretanto, apesar dessa limitação,
sua relevância está no fato de que algumas impressões se coadunam com aquelas
apresentadas em estudos realizados em outras localidades e algumas outras
impressões são distintas das apresentadas por mulheres de outras regiões,
revelando as singularidades e especificidades do grupo de mulheres aqui
estudadas.
Refletir estas questões
subjetivas contribui no campo científico ao trazer resultados que pode apontar
caminhos para que profissionais de saúde, sobretudo enfermeiras, possam
repensar estratégias que cooperam para a saúde da mãe e do concepto no ciclo
gravídico puerperal, especificamente no que concerne a opinião da mãe quanto à
presença do pai durante as consultas do pré-natal, o parto e o puerpério. As
informações apresentadas por elas indiretamente em relatos implícitos também
poderão indicar situações de vulnerabilidade como violência ou problemas
econômicos e, assim, a enfermeira poderá focar em um cuidado que leva a
amenizar esses fatores.
As impressões desse
grupo de gestantes revelaram a forma como essas mulheres vivenciam as gestações
com a participação ou não de seus companheiros durante a gravidez. Os
significados ou impressões da presença do companheiro nesse período variam
conforme as situações enfrentadas com eles, seja pelo desejo dele participar
das consultas, mas impossibilitados pelo trabalho, seja pela negação delas por
não aceitar a presença deles nas consultas.
As categorias levam a
concluir que, para as mulheres do presente estudo, a participação do
companheiro durante a gestação configura em conforto e segurança, entretanto,
para outras, revela medo e angústias, sugerindo implicitamente nos discursos,
situações traumáticas como violência de gênero doméstica, psicológica ou
física. Ressalta-se também a negação de algumas para o acompanhamento do pai
biológico do concepto durante todo o ciclo gravídico, que ocorre em decorrência
do abandono no início da gestação.
Essas nuances reforçam
a ideia de que a gestação e o pré-natal estão além das questões fisiológicos e
das alterações no organismo da mulher. Tais questões podem estar associadas às
condições de vida e saúde, às experiências positivas ou traumáticas em seu
cotidiano e aos laços desenvolvidos ou não com seus companheiros no período da
gravidez.