ARTIGO
ORIGINAL
Vinculação
da gestante com a maternidade: a influência no tipo de parto
Elisandra de Cássia Popolli*, Jessica Mayara Barcellos*, Juliana Rodrigues Zuco*, Tatiana Aparecida Ribeiro Coelho*, Luciana Braz de
Oliveira Paes, M.Sc.**,
Paulo Fasanelli***, Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler, D.Sc.****
*Egressa
do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Padre Albino (UNIFIPA),
**Enfermeira Obstétrica, Docente do Centro Universitário Padre Albino
(UNIFIPA), Catanduva/SP, ***Médico obstetra, mestrando do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em Enfermagem, Mestrado Acadêmico da Faculdade de
Medicina de São José do Rio Preto/SP (FAMERP), ****Obstetriz,
enfermeira, livre-docente em enfermagem obstétrica, docente e orientadora de
graduação e pós-graduação lato sensu e stricto sensu da FAMERP
Recebido em 18 de
junho de 2018; aceito em 30 de junho de 2018.
Endereço
para correspondência:
Luciana Braz de Oliveira Paes, Rua Barão do Rio Branco, 436 Centro 15828000
Palmares Paulista SP, E-mail: lucianabrazenf@gmail.com; Elisandra de Cássia Popolli: elisandrapopoli@gmail.com; Jessica Mayara
Barcellos: jmbascellos30@mail.com; Juliana Rodrigues Zuco:
juzucco@gmail.com; Tatiana Aparecida Ribeiro Coelho:
tatycoelho.ribeiro@gmail.com; Paulo Fasanelli:
paulofasanelli@hotmail.com; Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com
Resumo
Introdução: A vinculação da
gestante com a maternidade é tapropriada para o
nascimento humanizado e contribui para aumento dos partos normais, sendo um
direito garantido por lei no Brasil. Objetivo:
Verificar a opinião de gestantes sobre a vinculação da gestante com a
maternidade e a influência quanto ao parto de eleição. Métodos: Pesquisa de caráter exploratório, descritiva e análise de
dados quali-quantitativa. Os sujeitos do estudo foram
gestantes que visitaram a maternidade campo de pesquisa, localizada em um
município de médio porte do interior paulista. Resultados: Entrevistadas 31, destacando-se os dados: faixa etária
de 21-30 anos (41,9%); escolaridade de 12 ou mais anos (45,2%); desempregadas
(61,29%); todas faziam acompanhamento pré-natal e consideravam importante
conhecer a maternidade para o parto; multíparas (54,8 %); 93,5% escolhiam o
parto vaginal e nos relatos de valorização da visita à maternidade ressaltaram
acolhimento, segurança e receber orientações sobre o parto. Conclusão: A vinculação da gestante com
a maternidade influênciou na escolha do tipo de
parto, com preferência pelo parto normal.
Palavras-chave: humanização do
parto, parto normal, maternidade, obstetrica.
Abstract
Women´s link with maternity services and its influence on mode of
delivery
Introduction: The creation of a link between maternity services and pregnant women
contributes to the humanization of childbirth and the increase of normal
delivery. Moreover, getting to know a maternity facility prior to delivery is a
right secured by law. Objective: To
investigate women’s opinion on how the link with a maternity facility
influences their choice of delivery. Methods:
This is an exploratory, descriptive study and qualitative-quantitative data
analysis. The subjects of the study were pregnant women who visited the
maternity research field, located in a medium-sized municipality in the
interior of São Paulo. Results: Thirty-one women were interviewed. Of these,
41.9% were aged 21-30 years; 45.2% had completed 12 or more years of schooling;
61.29% were unemployed; 54.8 % were multiparae; 93.5%
chose vaginal delivery as the preferred mode of delivery. All of the women were
in prenatal care and believed it was important to get to know the maternity
facility before onset of labor. Participants valued this prenatal visit because
it helped them feel safe and welcomed, and provided them with guidance on
childbirth. Conclusion: A woman’s
link with the maternity facility influences her delivery mode decisions and
favors natural delivery.
Key-words: humanization
of childbirth, normal birth, maternity, obstetrics.
Resumen
La vinculación de la gestante con
la maternidad y su influencia en el tipo de parto elegido
Introducción: Además de
ser un derecho reconocido por ley, la creación
de un vínculo entre la
gestante y la maternidad contribuye a la humanización del parto y al
aumento de partos normales. Objetivo: Conocer la opinión de las gestantes acerca de la vinculación con la maternidad y su influencia en el tipo de parto elegido. Métodos: Investigación de carácter exploratorio, descriptivo y análisis de datos cual-cuantitativos. Los sujetos del estudio
fueron gestantes que visitaron
la maternidad campo de investigación, ubicada en un municipio
de mediano porte del interior paulista. Resultados: Se entrevistaron
31 embarazadas. El 41,9% tenían
entre 20 y 30 años de edad;
el 45,2% tenían
12 o más años de escolaridad;
el 61,29% estaban desempleadas; el 54,8% eran multíparas; y el 93,5% elegían el parto vaginal. Todas las entrevistadas recebían
cuidado prenatal y consideraban
importante conocer la maternidad antes del parto. Según las mujeres, tal visita les hace sentir seguras y acogidas, y les permite obtener orientación sobre el parto. Conclusión: La vinculación de la
gestante con la maternidad influye en la elección
del tipo de parto y favorece el
parto normal.
Palabras-clave: humanización
del parto, parto normal, maternidad, obstetricia.
A cada ano acontecem
no Brasil cerca de três milhões de nascimentos, 98% em ambiente hospitalar, o
que significa que ao menos seis milhões de binômios – mãe e filho- vivenciam
mais diretamente este momento, via de regra não
prazeroso [1,2].
Ao longo das últimas
décadas, pelo menos a partir de 1990, o Brasil é mencionado em todo o mundo
como o país das cesáreas e de prática obstétrica intervencionista, hospitalocêntrica, medicalizada,
que permitiu a concretização de um modelo que considera a gravidez, o parto e o
nascimento como doença e não como expressões de saúde [3,4].
No atual cenário do
parto, houve ganhos no acesso a tecnologias de saúde
que impactaram de forma positiva na saúde da mulher e da criança, porém algumas
intervenções, que deveriam ser utilizadas com critério, são rotineiras e
atingem quase a totalidade das mulheres e seus filhos assistidos nos hospitais
no Brasil. Assim, são desconsiderados os aspectos emocionais, humanos e
culturais envolvidos neste processo, com repercussões negativas na saúde física
e emocional da mulher, da criança e da família [5].
A institucionalização
do parto culminou com a desorganização da assistência obstétrica, que hoje
envolve necessariamente o deslocamento da gestante em busca de resolução do
parto, percorrendo uma rede de saúde complexa e na maioria das vezes desarticulada.
Ainda, transformou e interferiu nas relações do cuidado à saúde e nas
interações interpessoais mulher-bebê-família, deslocando o protagonismo para a
equipe de saúde no lugar da mulher e da família [6].
Em 27 de dezembro de
2007 foi sancionada a Lei nº 11.634, que dispõe sobre o direito da gestante ao
conhecimento e a vinculação à maternidade, assim como receber assistência no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Em seu artigo 1º destaca que toda
gestante tem direito ao conhecimento e à vinculação prévia à maternidade na
qual será realizado seu parto - será atendida nos casos de intercorrências no
pré-natal e também no puerpério [7].
Então, mesmo “desconhecida”em muitos hospitais e
por muitos profissionais, a vinculação da gestante à maternidade é um direito
garantido por lei no Brasil. Entretanto, o direito assegurado por lei e a sua
transformação em exercício constituinte incorporado na rotina da vida apresenta
dificuldades para serem superadas, sendo esta uma das propostas do Ministério
da Saúde, formalmente, desde 2000, integrando o Programa de Humanização do
Parto e Nascimento do Ministério da Saúde[8].
Além da humanização
no nascimento, a vinculação é uma tecnologia apropriada para o parto, pois deve
interferir no processo fisiológico do trabalho de parto, ao dirimir ou diminuir
o medo, a insegurança, a desinformação, as incertezas, as dúvidas, a falta de
apoio. Vale lembrar que situações de estresse interferem na liberação de
hormônios importantes do processo do parto, como a ocitocina endógena,
importante para o trabalho de parto eutócico,
enquanto em situações de estresse há maior liberação de adrenalina, hormônio do
medo, dificultando a evolução normal do parto. De modo geral, a vinculação da
gestante à maternidade é uma tecnologia apropriada ao nascimento, um recurso
que influencia a prática obstétrica humanizada, já que estimula a fisiologia do
trabalho de parto e propicia mais segurança, confiança e tranquilidade para o
adequado transcorrer do parto e resolução do parto normal [6].
A forma de nascer não
significa apenas a via de parto, deve ser entendida como foco de atenção
fundamental para o futuro e o desenvolvimento das relações humanas. Envolve
toda a ambiência relacionada ao processo do nascimento, desde o domicílio, a
atenção primária de saúde, o hospital/maternidade, a vinculação com os serviços
e as equipes, o acolhimento com deslocamento seguro para o parto [9].
Na busca de agir
contra a desumanização da prática obstétrica instalada no Brasil, várias iniciativas
foram sendo realizadas, entre outras [10,11]: em junho de 2011 o Governo
Brasileiro instituiu a Rede Cegonha no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde),
visando assegurar à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção
humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério. E adotou a adoção de práticas
de atenção à saúde baseada em evidências científicas nos termos do documento da
Organização Mundial da Saúde, de 1996: “Boas práticas de atenção ao parto e ao
nascimento” [10,11].
Com as “Boas Práticas
do Parto e Nascimento”, aprovada pela Resolução SS – 42, de 06-05-2015, que
assegura o direito ao parto humanizado, torna-se de extrema importância à
adoção de diretrizes que resgatem à mulher o protagonismo do parto e
nascimento, baseado no respeito aos seus direitos, assegurando-lhe privacidade
e apoio emocional, oferecido também por seu familiar de escolha durante todo o
processo de parturição [12].
Sendo assim,
entende-se que todas as instituições hospitalares sob gestão
do Estado, devam adequar para que sejam garantidos os direitos da gestante e
atendendo às recomendações da OMS, providenciando: Implantação das Boas
Práticas de atenção ao parto e puerpério propostas pela OMS, sendo uma das
recomendações “Vincular a gestante à maternidade por meio de regulação no
território e dos fluxos de visita à maternidade” [13].
Cabe ressaltar que as
visitas à maternidade permitem a redução da ansiedade e desmistificação do
parto normal e do aleitamento materno, além da participação do acompanhante
durante o parto, o conhecimento prévio das normas institucionais, o estímulo à
cidadania das usuárias e a vinculação da usuária à maternidade são considerados
medidas importantes da humanização [14]. Ante o exposto, este estudo tem como
objetivo verificar a importância da vinculação da gestante com a maternidade e
sua opinião quanto ao tipo de parto desejado e influência das orientações
quanto ao tipo de parto.
Trata-se de pesquisa
de caráter exploratório, descritiva e com apresentação e análise de dados quali-quantitativa. Os dados foram registrados em um
formulário semi-estruturado,
elaborado pelas autoras da pesquisa e aplicado em forma de entrevista. Os
sujeitos do estudo foram gestantes que visitaram a maternidade campo de
pesquisa, por ocasião da visita a maternidade definida para atendimento ao
parto e intercorrências na gestação e puerpério, localizada em um município de
médio porte do interior paulista.
Vale explicar que na
instituição hospitalar campo desta pesquisa, as visitas à maternidade são
programadas mensalmente e inclui orientação quanto ao tipo de parto, com ênfase
no incentivo ao parto normal.
Os resultados
quantitativos deste estudo foram apresentados em forma de tabela. Para a
análise dos dados qualitativos, as entrevistas foram transcritas na íntegra e
submetidas à análise. No tratamento dos resultados, tais elementos foram
agrupados, de acordo com a semelhança, para a formação de três categorias
temáticas: Orientação recebida quanto ao parto, Segurança e acolhimento, Falta
de conhecimento prévio quanto o nascimento.
Esta pesquisa
respeitou todas as recomendações de pesquisas envolvendo seres humanos,
previstas na Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovada
por Comitê Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos sob Parecer
nº69601217.9.0000.5430. Além disso, cada uma das
participantes, ao aceitar fazer parte da pesquisa, assinou o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Os resultados a seguir mostram a relação de algumas variáveis de caracterização amostral de gestantes que visitaram a maternidade. Foram entrevistadas 31 gestantes que consentiram em participar do estudo, destacando-se entre as gestantes do estudo o que se mostra na Tabela I.
Tabela
I - Percentuais referentes aos dados sociodemográficos das gestantes que visitaram a
maternidade. Catanduva, São Paulo, 2017.
Verifica-se na Tabela II:
Tabela
II -
Percentuais referentes aos dados
obstétricos das gestantes que visitaram a maternidade. Catanduva, São Paulo,
2017.
Todas as gestantes
destacaram a importância da visita à maternidade onde serão atendidas no parto,
emergindo falas apresentadas em três categorias: Orientações quanto ao parto,
Segurança e acolhimento, Conhecimento prévio quanto o nascimento.
Orientações
recebidas quanto ao parto
Revela o déficit do
conhecimento sobre o parto, a falta de orientação
quanto ao parto normal e deficiência de informações nas consultas de pré-natal.
“...
Foi importante conhecer e tirar dúvida sobre o parto...”.
“...
tirei várias dúvidas sobre o parto e descobri que não é nada daquilo que as
pessoas falam...”.
“...
Sim, porque explicou como é o parto que agora tem coisas para relaxar...”.
“...
Sim, tirei as dúvidas sobre o parto e como que vai acontecer...”.
“...
Ajudou-me, a saber, me preparar mais para o trabalho de parto...”.
“...
Tirei dúvidas sobre o parto...”.
“...
Foi bom para tirar dúvidas sobre o parto normal...”.
“...
Eu pude conhecer o procedimento...”.
“...
vi coisas diferentes, para ser usado na hora da dor de parto...”.
A gestante deve
receber orientações e informações sobre a gravidez, o parto e o puerpério no
decorrer das consultas de pré-natal quanto ao tipo de parto, desde os aspectos
técnicos, referentes ao trabalho corporal, incluindo rotinas e procedimentos da
maternidade referência, até aspectos cognitivos e emocionais. Para isso, os
profissionais envolvidos nos serviços de pré-natal devem adotar medidas
educativas [18,20]. Há necessidade de considerar na qualidade de atenção
pré-natal não só o número de consultas, mas também as orientações fornecidas
para a redução dos índices de morbimortalidade materna e perinatal [21].
As
gestantes neste
estudo manifestaram preferência pelo parto normal após
visitarem a maternidade,
após receberem informações sobre métodos de
alívio da dor baseados nas “Boas
práticas de atenção ao parto”. Das
informações que as gestantes recebem no pré-natal
pouco se fala sobre práticas para facilitar o parto, que
são de relevância para
a promoção do parto vaginal, sendo priorizadas durante o
pré-natal as
orientações sobre sinais de risco, reforçando o
caráter biomédico da
assistência [18].
Segurança
e valorizar o acolhimento
Mencionada tanto no
sentido do serviço oferecer o nascimento seguro, quanto a
mulher sentir-se segura principalmente quando cita a importância do
acompanhante.
“...
Para saber se o hospital é adequado e seguro...”.
“...
Teve muita melhora, pode ter acompanhante...”.
“...
Pode ter acompanhante...”.
“...
Para conhecer melhor...”.
“...
Porque gostei de conhecer o local...”.
“...
Não tinha conhecido o hospital e assim não fica perdida e tira todas às
duvidas...”.
“...
Fui bem recebida...”.
“...
Estou mais calma, Senti mais confiança no hospital...”.
A equipe obstétrica
precisa priorizar a humanização durante o atendimento a gestante, entendendo-a
como prática pautada em princípios como integralidade e equidade das ações,
evidenciando os usuários como sujeitos de direitos e participantes ativos do
seu processo saúde/doença. Quando o atendimento é feito de forma
contextualizada e qualificada, além de se basear nos aspectos clínicos e
científicos, proporciona também o acolhimento da mulher e família, valorizando
e respeitando a individualidade de cada uma, considerando as múltiplas
dimensões que circundam o viver em sociedade, a criação de vínculos e a
participação ativa das mulheres no momento do pré- natal, parto e puerpério [21].
Emergiu nas falas das
gestantes a importância do acompanhante, destacado em muitas pesquisas. A
gestação tem sido associada a um período de ansiedade para mulher e a família devido ao período de transição diante do nascimento e o
acompanhante no momento do parto é de muita ajuda. Além do mais, esse é
um direito garantido legalmente no Brasil, - Lei nº11. 108, promulgada em 7 de abril de 2005, que assegura a presença do acompanhante
de escolha da mulher durante o processo de nascimento. Não se pode negar ao pai
ou acompanhante de eleição da mulher o direito de vivenciar um dos momentos
mais importantes da vida do ser humano, o nascimento de um novo membro da
família [22].
A falta
de conhecimento prévio quanto ao nascimento
No que tange à ótica
da gestante, devido à falta de conhecimento prévio quanto ao nascimento,
ocorreram manifestações sobre modificações do período perinatal e a estrutura
física da maternidade, o que influência no bem-estar deste período.
“...
Não conhecia e tirou muitas dúvidas...”.
“...
Desenvolvi conhecimentos...”.
“...
Pelos conhecimentos gerais...”.
“...
Para poder conhecer coisas que eu não sabia...”.
“...
Para a gente saber melhor...”.
“...
Aprendi muitas coisas que não sabia...”.
“...
Foi importante conhecer a maternidade para mim e meu bebê...”.
As alterações
fisiológicas ocorridas durante a gravidez sejam elas sutis ou marcantes estão
entre as mais acentuadas que o corpo humano pode sofrer, gerando medos, dúvidas,
angústias, ou curiosidade. É relevante que esses sentimentos sejam
compartilhados nas consultas de pré-natal, não se restringindo apenas aos
aspectos biológicos da gestação [23].
Na Tabela III estão
dados sobre a preferência das gestantes do estudo, antes e após a visita à
maternidade, quanto à via de resolução do parto. Observa-se que 22 (71%) já
preferiam o parto vaginal. Após a visita, apenas duas gestantes ainda preferiam
a cesariana. Durante a gravidez e o parto as mulheres vivenciam várias
alterações físicas e emocionais e expressam neste processo, valores e crenças,
assim como se defrontam com a estrutura social e cultural dos serviços de saúde
que podem apresentar potencial influência na escolha do tipo de parto [24]. A
expectativa das mulheres a respeito da escolha do tipo de parto tem relação com
o conhecimento das mesmas sobre o assunto e as informações que são tratadas
pelos profissionais da área da saúde. Por isso é importante a
troca de conhecimentos duração a realização do pré-natal, possibilitando o
esclarecimento de dúvidas, reduzindo a ansiedade em relação às vias de parto,
propiciando atenção obstétrica integral e de melhor qualidade [25].
Pudemos analisar
neste estudo que as mulheres durante a gestação preferem o parto vaginal quando
são informados dos benefícios do mesmo, porém o que acontece no Brasil é que a
cesariana é influenciada pela assistência recebida no pré-natal, pela fonte de
pagamento do parto e outros fatores socioeconômicos, sugerindo que no Brasil, o
parto cirúrgico é um bem de consumo [26].
Como foi percebido
também neste estudo, há falta de consonância entre as informações referentes ao
parto durante o pré-natal, com a recebida na maternidade. Percebe-se que
existem grandes lacunas da assistência à saúde no Brasil e ausência de uma
filosofia de trabalho em equipe, que permita resultados na melhoria dos
indicadores de saúde, particularmente na assistência perinatal. Vários resultados
adversos de morbimortalidade materna e fetal têm sua origem em um trabalho em
equipe fraco e desarticulado [27].
No Brasil, dados da
literatura mostram que ao longo das consultas de pré-natal, principalmente no
âmbito de atenção privada, os médicos criam um cenário incentivando as mulheres
à intervenção na resolução do parto. Destacam nas consultas de pré-natal,
riscos mais supostos do que reais como: bebê
grande, bacia estreita, circular de cordão, pouco líquido, apresentações
anômalas, o que intimidam as gestantes e sua família que “optam” pela
cesárea diante do temor de serem responsabilizadas por qualquer desfecho
negativo e fragilizadas diante do “poder de convencimento” dos médicos [27].
Muitas cesarianas são
indesejadas e a mulheres são “persuadidas” ao final da gestação, com
apresentação de quadros de riscos que não condizem com as evidências
científicas. Com a “banalização” da cirurgia, as mulheres não se surpreendem
com sua indicação e aderem à cesárea, renunciando à vontade inicial pelo parto
vaginal [26,27].
Tabela
III
- Percentuais da preferência das
gestantes quanto ao tipo de parto antes e após visita à maternidade. Catanduva,
São Paulo, 2017.
Segundo o objetivo
definido e os resultados obtidos, concluímos neste estudo que a vinculação da
gestante com a maternidade influenciou na decisão das gestantes quanto à
preferência pelo parto normal. Também, sobre a importância da visita à
maternidade, no foco da humanização, pois propicia conhecimento, conforto e segurança
para a gestante.
Os resultados desta
pesquisa indicam a urgência em reformar o modelo de atenção ao parto e o
nascimento, tendo em vista que as orientações quanto ao parto vaginal no
pré-natal são falhas.
Vale destacar que o
tema da vinculação à maternidade não tem sido pesquisado no Brasil e que o
momento atual de atendimento obstétrico na região estudada é muito crítico.
Assim, é preciso cumprir de um lado as normas legais vigentes e, de outro, que
os profissionais atendam com proficiência técnico-científica,
mas também com humanidade, dignidade e respeito, propiciando que as mulheres
sejam protagonistas em seu parto.