ARTIGO
ORIGINAL
Detecção
de problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em
universitários
Fernanda Caroline
Florêncio*, Geraldo Vicente Nunes Neto*, Luanna Kléssia de Carvalho Silva*, Yalle
Laryssa Florencio Silva**, Laysa Thayane Silva
Cavalcante***, Michel Gomes de Melo, M,Sc.****, Thyago da Costa Wanderley, M.Sc.*****
*Discentes
do curso de enfermagem do Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA,
**Enfermeira, Graduada pelo Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA,
Especializando em Saúde Pública com ênfase em saúde da família (INESP),
especializando em Saúde mental, crack, álcool e outras drogas (INESP),
***Enfermeira, Graduada pelo Centro Universitário Tabosa de Almeida
ASCES-UNITA, Especializando em nefrologia (UPE), ****Enfermeiro, Docente do
curso de Enfermagem do centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, Professor
do Curso de Agente Comunitário de Saúde (PRONATEC-UFRPE), *****Enfermeiro,
Especialista em saúde mental (FIP), Docente do Curso de Enfermagem do
Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA
Recebido em 6 de julho
de 2018; aceito em 12 de abril de 2019.
Endereço
para correspondência:
Thyago da Costa Wanderley, Rua Iracema Araújo Freire,
512 Nova Caruaru 55014-450 Caruaru PE, E-mail: thyagowanderley@asces.edu.br
Geraldo Vicente Nunes Neto: neetinho.nunes@gmail.com; Fernanda Caroline
Florêncio: nanyf0110@gmail.com; Luanna Kléssia de Carvalho Silva: 2014106065@app.asces.edu.br; Yalle Laryssa Florencio
Silva: yalleflorencio@gmail.com; Laysa Thayane Silva Cavalcante: 2013106003@app.asces.edu.br;
Michel Gomes de Melo: michelmelo@asces.edu.br
Resumo
Objetivou-se detectar
problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em
universitários. Trata-se de um estudo descritivo, transversal com abordagem
quantitativa. Os dados foram coletados por meio de questionário autoaplicável,
em 352 universitários. Destes, 62,8% eram mulheres e 37,2% homens, com uma
média de idade de 21,8 anos. Dentre os participantes, 54% realizam consumo de
risco ou nocivo, e o álcool foi a droga mais utilizada, com 71,3%, dados dos
últimos 30 dias. Concluiu-se um consumo de risco entre os universitários, que
aponta a necessidade de ações de promoção e prevenção da saúde destes
discentes, a fim de evitar ou minimizar agravos.
Palavras-chave: usuários de drogas,
detecção do abuso de substâncias, universidades, estudantes.
Abstract
Detection
of problems related to the use of alcohol, tobacco and other drugs in
university students
We
sought to detect problems related to the use of alcohol, tobacco and other
drugs in university students. It was a descriptive, cross-sectional and
quantitative study. The data was collected by means of an auto-applicable
survey, in 352 university students. Of these, 62.8% were women and 37.2% were
men, with a mean age of 21.8 years. Among them, 54% are consuming risk or
harmful drugs to health. Of the drugs, alcohol was the most consumed, with
71.3%, data from the last 30 days. We concluded on a risk consumption among
college students, with this, we pointed out the need of actions to promote the
health prevention, in order to avoid or minimize diseases.
Key-words: drug users,
substance abuse detection, universities, students.
Resumen
Detección de problemas
relacionados al uso de alcohol, tabaco y otras drogas en estudiantes universitarios
Se buscó
detectar los problemas relacionados al uso de alcohol, tabaco y otras drogas en estudiantes universitarios. Se trata de un estudio descriptivo, transversal
y de abordaje cuantitativa.
Los datos fueron colectados por medio de una encuesta auto aplicable, en 352 estudiantes universitarios. De estos 62.8% eran mujeres y 37.2% hombres, con una edad media de 21.8 años. Entre ellos, 54% realizan un consumo de riesgo o nocivo para la salud. De las drogas, el alcohol fue
el más consumido, con el 71.3%, datos
de los últimos 30 días. Se concluyó un consumo de riesgo entre los universitarios, que apuntan la necesidad de acciones para promover la prevención de la salud de los mismos,
a fin de evitar o minimizar enfermedades.
Palabras-clave: consumidores de drogas,
detección de abuso de substancias, universidades, estudiantes.
O consumo de álcool,
tabaco e outras drogas vêm se elevando ao longo dos anos, especialmente na
população jovem. Esse fato é preocupante, uma vez que o abuso e a dependência
de drogas põem em risco valores políticos, sociais e econômicos; aumenta os
gastos públicos com tratamento médico e internações hospitalares e aumenta o
número de acidentes de trânsito e a violência [1].
O 1º Levantamento
Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das
27 Capitais Brasileiras [2] mostrou que 49% desta população já utilizou drogas
ilícitas pelo menos uma vez na vida, e dos que se declaram menores de 18 anos,
80% declarou que já utilizou algum tipo de bebida alcoólica. Além disso, jovens
na faixa etária entre 18 e 24 anos apresentam as maiores taxas de uso de drogas
e comportamento de risco, e cerca de 40% desta população é composta por
universitários. O grupo populacional de universitários apresenta também o uso
de drogas ilícitas na vida cerca de duas vezes maior que a população em geral
de 12 a 65 anos de idade.
A futura vida
profissional desses universitários poderá ser afetada pelo consumo de álcool,
tabaco e outras drogas, tanto pela própria distorção do quanto a dependência
influência nos comportamentos, pensamentos críticos e atitudes frente às
responsabilidades profissionais, quanto pela visão dos demais profissionais a
respeito da sua capacidade profissional, fazendo com que a credibilidade do
indivíduo seja afetada e, consequentemente, o sucesso profissional [3].
A detecção precoce de
fatores de risco como: histórico, carência, conflitos familiares, problemas
acadêmicos, econômicos e sociais, possibilita um melhor planejamento de ações
voltadas para evitar o uso ou até mesmo a realização de ações com objetivo de
redução de danos. A importância do reconhecimento dos fatores de risco é
refletida na preparação do círculo de apoio do jovem para desenvolver e
melhorar os fatores de proteção [4].
A realização da
pesquisa justifica-se pela necessidade de descrever o perfil epidemiológico,
padrão de consumo e problemas relacionados ao uso de drogas em universitários a
fim de identificar os problemas relacionados ao uso de drogas lícitas e
ilícitas, possibilitando que as ações de saúde sejam voltadas para a realidade,
e como consequência os resultados serão mais eficazes nas estratégias de
prevenção e promoção. Por fim, o objetivo geral do artigo foi detectar
problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em
universitários.
Trata-se de um estudo
descritivo, transversal com abordagem quantitativa cuja população foi formada
por discentes devidamente matriculados nos cursos de Administração pública,
Biomedicina, Direito, Educação Física (Bacharelado e Licenciatura), Enfermagem,
Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção, Farmácia, Fisioterapia,
Odontologia e Relações Internacionais de uma Instituição de Ensino Superior
(IES) totalizando 3.952 alunos.
Foram adotados
parâmetros de estudos de prevalência realizados no país, cujas características
se aproximam dos sujeitos que foram investigados no presente estudo. Adotou-se
como proporção na população de 49% de usuários de drogas ilícitas. Para o
cálculo amostral foi utilizado nível de significância de 5%, poder do teste de
80%, para testes de hipótese monocaudal, obtendo-se
tamanho amostral necessário de 351 sujeitos. Devido às possíveis perdas, foi
acrescido 10% do valor amostral, totalizando-se 387 sujeitos. Devido à
incompletude do preenchimento do questionário houve 35 perdas, sendo assim, o
estudo teve a participação de 352 indivíduos.
A amostragem foi
aleatória estratificada, sendo investigados sujeitos de 12 cursos selecionados
na IES, com valores proporcionais, variando de acordo com a quantidade de
estudantes por turma. Foram analisados alunos maiores de 18 anos até 24 anos,
de ambos os sexos, devidamente matriculados e que frequentem regularmente a
IES. Foram excluídos alunos em período exclusivo de estágio curricular ou
matriculados há menos de seis meses, e cursos com quantitativos de alunos
inferiores a cinquenta, por ser uma amostra pouco significativa.
Para apreensão de
informações sociodemográficas foi utilizado um questionário construído pelos
autores, que permitiu a caracterização do perfil dos participantes; e para
obtenção dos dados relativos aos problemas associados ao uso de álcool e drogas
foi utilizado o instrumento DUSI (Drug Use Screening Inventory), que foi
originalmente desenvolvido nos Estados Unidos da América, por Dr. Ralph Tarter
[5], mas adaptado e validado no Brasil por De Micheli e Formigoni
no ano de 2000 [6]. O instrumento avalia de forma eficiente os problemas
associados ao uso do álcool, tabaco e outras drogas e quantifica a intensidade
dos problemas por meio de dez áreas.
Embora pouco utilizado
em âmbito nacional em termos de jovens adultos e universitários, o uso do
instrumento DUSI permite uma conformidade para comparações com estudos, visto
que possui avaliação tanto do consumo, quanto do comportamento relacionado, bem
como do comprometimento causado por este consumo. Ademais, o instrumento foi
avaliado quanto à sua estrutura psicométrica quando utilizado em adultos [7], e
como resultado disto, classificou corretamente 80% dos usuários de drogas, e
obteve 100% dos controles identificados corretamente. Estes dados revelaram que
o DUSI é um instrumento prático e sólido também entre os adultos [8].
As questões são
dicotômicas, totalizadas em 149 questões que avaliam de acordo com cada área:
uso de álcool e outras drogas, uso de substâncias, comportamento, saúde,
desordens psiquiátricas, competência social, sistema familiar, escola,
trabalho, relacionamento com amigos, e lazer/recreação; além de possuir uma
escala de mentira com questões distribuídas nas dez áreas (uma ao final de cada
área), para identificar possíveis questionários inválidos, sendo assim, foram
eliminados os questionários que não foram respondidos integralmente, pois se
trata de um questionário autoaplicável. Para realização do estudo foram
selecionadas apenas 4 áreas do DUSI, são elas: área 1 - uso de substâncias,
área 2- comportamento, área 6- sistema familiar, área 7- escola.
Os dados foram
tabulados no Microsoft Excel e analisados através do software estatístico SPSS
(Statistical Package for
Social Sciences), utilizando-se de estatística
descritiva. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro
Universitário Tabosa de Almeida (ASCES\UNITA) com CAAE 62270616.0.0000.5203 e
obedeceu aos pressupostos da Resolução 466/12, que regulamenta as pesquisas
envolvendo seres humanos, visando à preservação da autonomia, não maleficência,
beneficência e justiça.
Os discentes que
participaram do estudo estão distribuídos entre os cursos da seguinte forma:
direito (43,8%), odontologia (10,8%), farmácia (7,7%), enfermagem (7,4%),
educação física (7,1%), fisioterapia (6%), biomedicina (4,5%), licenciatura em
educação física (4%), engenharia de produção (3,4%), relações internacionais
(2,6%), engenharia ambiental (1,4%) e nutrição (1,4%).
Através da análise das
variáveis sociodemográficas foi possível identificar o perfil dos discentes
(tabela I).
Tabela I - Características sociodemográficas dos universitários entrevistados.
Caruaru/PE, 2017 (n = 352).
Fonte: Dados coletados
na pesquisa; 1 Valor atual do salário mínimo: R$ 937,00 em 20/09/17, Brasil.
No que diz respeito ao
sexo, 62,8% dos discentes são mulheres, apresentam faixa etária predominante de
20 a 22 anos 53,6% e a média de idade foi de 21,8 anos. Solteiros ou
divorciados totalizam 88,6%, com renda mensal de 2 a 3 salários mínimos, e 56%
dos alunos apenas estudam.
Quanto a investigação
do uso de risco de substâncias psicoativas foi utilizada a área 1 do
questionário, onde: score maior que 3 é considerado uso de risco, a partir
disto foi possível observar que 54% fazem uso de risco, destes, 54% são
mulheres e 46% são homens. Abaixo segue a descrição das drogas mais utilizadas,
da frequência do uso nos últimos 30 dias, autorrelato
de problema com a droga utilizada e predileção entre os universitários (tabela
II).
Tabela II - Drogas mais utilizadas, frequência do uso nos últimos 30 dias, autorrelato de problema com a droga e predileção dos
universitários. Caruaru/PE, 2017 (n = 352).
Fonte: Dados coletados
na pesquisa.
Observando a tabela II,
as drogas mais utilizadas no último mês são as lícitas, sendo o álcool a mais
consumida, em sua maioria numa frequência de 3 a 9 vezes nos últimos 30 dias,
seguida dos analgésicos (sem prescrição) com o maior uso de 1 a 2 vezes. No que
se refere às drogas ilícitas, a maconha foi utilizada mais frequentemente de 1
a 2 vezes, e nesta sequência vem o ecstasy, e os inalantes tiveram a mesma
frequência geral, e do uso de 1 a 2 vezes no mês.
Quanto ao autorrelato de problemas relacionados com a droga
utilizada, apenas 2,3% dos usuários de álcool referem ter problema com o uso e,
entre os usuários de maconha, apenas 0,3%. Álcool e maconha foram as duas
drogas escolhidas como prediletas pelos estudantes entre as lícitas e ilícitas.
A densidade absoluta de
problemas refere-se à intensidade de problemas presentes de acordo com cada
área do instrumento DUSI, e é calculada a partir da fórmula: (nº de respostas
afirmativas na área/nº de questões na área *100). A partir do resultado obtido
consideramos que quanto mais o resultado aproxima-se de 100, maior a
intensidade dos problemas do indivíduo no que tange àquela área específica. A
partir disto foram obtidas as médias das densidades absolutas e o desvio padrão
das áreas selecionadas no estudo (tabela III), que tiveram como resultado: A6-
Sistema familiar, com média densidade absoluta de 20,61 e desvio padrão de
18,10, respectivamente, A7- Escola, com 24,20 e 15,00 e A2- Comportamento com
31,85 e 15,55.
Tabela
III - Áreas do instrumento DUSI, descrição, média
da densidade absoluta e desvio padrão.
Fonte: Dados coletados
na pesquisa.
Diante dos resultados
do estudo podemos observar que a maioria dos estudantes pesquisados é do sexo
feminino, somando 62,8%, reafirmando assim um cenário já conhecido na educação
superior: as mulheres são o público majoritário nas universidades; em geral, no
Brasil, 57,1% das matrículas em universidades são do sexo feminino [9].
Em relação à idade
média dos participantes da pesquisa (21,8 anos), esta
se assemelha à encontrada em outros estudos [10] com idade média de 21,4 anos.
Verificou-se, também, que a maior parte dos universitários pesquisados refere
que o seu estado civil é solteiro corroborando dados da literatura [11] que
apontam que indivíduos que não possuem relações afetivas estão mais vulneráveis
ao consumo de drogas, assim como estão mais susceptíveis a serem influenciados
por amigos.
Muitas vezes os alunos
desenvolvem outras atividades diárias além de estudar. Entre os universitários
pesquisados, 56% referiram que apenas estudam, sendo assim o tempo livre
permite aos universitários a busca de atividades de lazer, encontrando nas
drogas uma forma de ocupar o tempo ocioso [12]. Além do fator “ocupação” ou sua
ausência como possível causa para o uso de drogas, a renda também pode
influenciar.
Ainda sobre a renda dos
alunos entrevistados a renda mensal familiar de 2 a 3 salários mínimos foi de
40,3%, resultado que se mostra contrário a resultados obtidos em outras
pesquisas que evidenciam que os universitários com renda mais baixa são os que
menos usam drogas lícitas e ilícitas [13], essa discordância pode ser
compreendida pela cultura destes universitários que pode influenciar um estilo
de vida não saudável, assim como o consumo de drogas com baixo custo e que tenham
uma maior facilidade de se adquirir como é o caso das drogas lícitas, que
geralmente são amplamente consumidas em festas servindo como porta de entrada
para as drogas ilícitas, dando a elas também um maior potencial de abuso.
Quanto ao repertório ou
características do uso, foi identificado uso de risco ou uso nocivo por 54% dos
discentes, sendo 54% mulheres, e 46% homens. Este é considerado o padrão de
consumo que aumenta o risco de gerar danos físicos e/ou psicológicos ao
indivíduo [14].
O álcool foi a
substância mais utilizada, alcançando uso por mais de 70% dos entrevistados,
sendo mais relatado o consumo de 3 a 9 vezes no mês, padrão assemelhasse a
outros estudos [15] e pode ser compreendido a partir do reconhecimento do
contexto em que a universidade está inserida, onde tudo é novo, e envolto à
novas interações sociais, festas, e disponibilidade de bebidas alcóolicas.
Também relatada como droga lícita de maior predileção e problemas relacionados
ao uso, mostrando um grande problema de saúde pública, pois estudos [16]
apontam que a ingestão elevada de álcool gera uma grande probabilidade de
envolvimentos em acidentes de trânsito, como também aumenta a susceptibilidade
para infecções sexualmente transmissíveis, visto que há um aumento de atividades
sexuais desprotegidas.
O uso de analgésicos
sem prescrição encontra-se em segundo lugar entre as drogas utilizadas no mês,
com uso por 67% dos estudantes pesquisados, assemelhando-se com o estudo em que
o álcool também lidera o ranking, e o analgésico é a segunda mais utilizada,
embora o percentual obtido tenha sido quase o dobro do estudo acima [17]. O uso
sem prescrição médica pode ser explicado pela falta de tempo para procurar às
redes de saúde, pela praticidade de se automedicar e facilidade de acesso [18].
Entre as drogas
ilícitas mais utilizadas e mais declaradas como predileta, destaca-se a
maconha, essa realidade pode ser vista também em outros estudos, como, por
exemplo, no II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas que mostra maior
prevalência na população brasileira [13]. Sobre os fatores associados ao
consumo de maconha entre universitários, pode ser explicado pelo fato de muitos
considerarem esta como uma droga leve, de poucas consequências a saúde e fácil
acesso, mesmo não sendo legalizada [19], mas contrapondo estes estudos, outros
mostram que os efeitos desta droga a curto prazo não são bem evidentes se
comparados a outras drogas ilícitas, entretanto, são frequentes os problemas de
concentração e memória [20].
Ainda sobre as drogas
ilícitas, em segundo lugar está o ecstasy e os inalantes, realidade esta que
também é comprovada em outros estudos que mostram o aumento do consumo do
ecstasy no país, aumentando consequentemente o número de apreensões de
comprimidos e a descoberta do primeiro laboratório clandestino na cidade de São
Paulo [21].
Já referente aos
inalantes, que são pertencentes à classe de produtos químicos, não foram
criados para ser uma droga, mas são consumidos com essa finalidade. Seu acesso
é facilitado, o que pode se associar ao fato de que a frequência de seu uso no
Brasil é o maior das Américas [22] podendo causar distúrbios visuais e reduzir
o controle muscular e dos reflexos, em casos mais graves pode causar morte
súbita por sufocamento, colapso respiratório ou ataque cardíaco [23].
O contexto familiar há
muito tempo é enfoque quando o assunto se trata do uso de drogas por
adolescentes e jovens, visto que a família é tanto fator de proteção quanto
fator desencadeante do consumo, além de ser também aliada quando já houver
dependência química instaurada e for necessário um tratamento. A família e os
problemas de relacionamento neste âmbito surgem como consequência do consumo de
drogas que levam esse ambiente domiciliar a tornar-se frequentemente palco de
conflitos e desavenças, colaborando para que os princípios familiares estejam
cada vez mais escassos [24].
Os resultados
apresentam uma média da densidade de problemas considerável na área 6, que
avalia o sistema familiar através de uma investigação do relacionamento
familiar, principalmente os conflitos familiares. Unindo este dado ao alto
índice de consumo de álcool pelos universitários, reafirmam-se relações
familiares conflituosas como consequência do consumo de drogas.
Outra importante
consequência do consumo de drogas é a queda do desempenho acadêmico, seja por
avaliações abaixo do padrão do aluno ou por ausência nas aulas. Estudos mostram
que esses aspectos somados à repetência escolar são mais frequentes em
estudantes que consomem substâncias [24], bem como o consumo problemático de
álcool favorece o sono em sala de aula [25].
A média de densidade de
problemas na área 7, responsável por avaliar o desempenho acadêmico dos
universitários, demonstra sinal de alerta para indicar a necessidade tanto da
detecção precoce para os que estão em fator de risco evidente quanto para a
intervenção voltada aos que estão em uso de risco ou até em abuso, trazendo à
tona a importância de estar atento aos sinais que jovens consciente ou
inconscientemente emitem no âmbito familiar, acadêmico e social.
A detecção de
comportamentos tidos como de risco é fator importante para família e escola
agirem como protetores para jovens propensos ao uso, ou usuário de droga,
principalmente porque nestes âmbitos é possível perceber mudanças singelas de
comportamentos dando margem para ações precoces e efetivas.
O âmbito de
comportamento foi o que alcançou resultados mais altos a partir da análise da
densidade de problemas da área 2, que avalia questões comportamentais a partir
da investigação de aspectos como isolamento social e problemas de
comportamento, este aspecto aumentado quando comparado aos outros âmbitos pode
ser compreendido pelo fenômeno estudado por Becker [25] que mostra que a
interação social reflete nas decisões individuais e vice-versa, ou seja, um
grupo social tende a tomar decisões e comportar-se de maneira semelhante entre
si.
O presente estudo
revelou que a maioria dos universitários era do sexo feminino, solteiros ou
divorciados, com renda mensal familiar baixa e apenas estudam, 54% fazem uso de
risco ou nocivo de alguma (s) das drogas estudadas.
Os problemas causados
pelo uso de drogas é um problema de saúde pública, visto que os consumidores se
expõem a riscos que podem afetar sua saúde, tanto física como biopsicossocial,
tendem a envolver-se mais em acidentes, relações sexuais de risco, diminuírem o
rendimento escolar, ter mais problemas familiares, sociais e propícios a
dependência química.
Ter um olhar holístico
sobre o indivíduo é de suma importância para a enfermagem, visto que diversos
fatores desencadeiam a presença de problemas, sendo necessário acompanhar
usuários para evitar os agravos que o consumo pode vir a causar. Ter
conhecimento sobre fatores e repercussão na vida de usuários é indispensável
para que haja cuidado efetivo e eficaz.