ARTIGO ORIGINAL

Detecção de problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em universitários

 

Fernanda Caroline Florêncio*, Geraldo Vicente Nunes Neto*, Luanna Kléssia de Carvalho Silva*, Yalle Laryssa Florencio Silva**, Laysa Thayane Silva Cavalcante***, Michel Gomes de Melo, M,Sc.****, Thyago da Costa Wanderley, M.Sc.*****

 

*Discentes do curso de enfermagem do Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, **Enfermeira, Graduada pelo Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, Especializando em Saúde Pública com ênfase em saúde da família (INESP), especializando em Saúde mental, crack, álcool e outras drogas (INESP), ***Enfermeira, Graduada pelo Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, Especializando em nefrologia (UPE), ****Enfermeiro, Docente do curso de Enfermagem do centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA, Professor do Curso de Agente Comunitário de Saúde (PRONATEC-UFRPE), *****Enfermeiro, Especialista em saúde mental (FIP), Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Tabosa de Almeida ASCES-UNITA

 

Recebido em 6 de julho de 2018; aceito em 12 de abril de 2019.

Endereço para correspondência: Thyago da Costa Wanderley, Rua Iracema Araújo Freire, 512 Nova Caruaru 55014-450 Caruaru PE, E-mail: thyagowanderley@asces.edu.br Geraldo Vicente Nunes Neto: neetinho.nunes@gmail.com; Fernanda Caroline Florêncio: nanyf0110@gmail.com; Luanna Kléssia de Carvalho Silva: 2014106065@app.asces.edu.br; Yalle Laryssa Florencio Silva: yalleflorencio@gmail.com; Laysa Thayane Silva Cavalcante: 2013106003@app.asces.edu.br; Michel Gomes de Melo: michelmelo@asces.edu.br

 

Resumo

Objetivou-se detectar problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em universitários. Trata-se de um estudo descritivo, transversal com abordagem quantitativa. Os dados foram coletados por meio de questionário autoaplicável, em 352 universitários. Destes, 62,8% eram mulheres e 37,2% homens, com uma média de idade de 21,8 anos. Dentre os participantes, 54% realizam consumo de risco ou nocivo, e o álcool foi a droga mais utilizada, com 71,3%, dados dos últimos 30 dias. Concluiu-se um consumo de risco entre os universitários, que aponta a necessidade de ações de promoção e prevenção da saúde destes discentes, a fim de evitar ou minimizar agravos.

Palavras-chave: usuários de drogas, detecção do abuso de substâncias, universidades, estudantes.

 

Abstract

Detection of problems related to the use of alcohol, tobacco and other drugs in university students

We sought to detect problems related to the use of alcohol, tobacco and other drugs in university students. It was a descriptive, cross-sectional and quantitative study. The data was collected by means of an auto-applicable survey, in 352 university students. Of these, 62.8% were women and 37.2% were men, with a mean age of 21.8 years. Among them, 54% are consuming risk or harmful drugs to health. Of the drugs, alcohol was the most consumed, with 71.3%, data from the last 30 days. We concluded on a risk consumption among college students, with this, we pointed out the need of actions to promote the health prevention, in order to avoid or minimize diseases.

Key-words: drug users, substance abuse detection, universities, students.

 

Resumen

Detección de problemas relacionados al uso de alcohol, tabaco y otras drogas en estudiantes universitarios

Se buscó detectar los problemas relacionados al uso de alcohol, tabaco y otras drogas en estudiantes universitarios. Se trata de un estudio descriptivo, transversal y de abordaje cuantitativa. Los datos fueron colectados por medio de una encuesta auto aplicable, en 352 estudiantes universitarios. De estos 62.8% eran mujeres y 37.2% hombres, con una edad media de 21.8 años. Entre ellos, 54% realizan un consumo de riesgo o nocivo para la salud. De las drogas, el alcohol fue el más consumido, con el 71.3%, datos de los últimos 30 días. Se concluyó un consumo de riesgo entre los universitarios, que apuntan la necesidad de acciones para promover la prevención de la salud de los mismos, a fin de evitar o minimizar enfermedades.

Palabras-clave: consumidores de drogas, detección de abuso de substancias, universidades, estudiantes.

 

Introdução

 

O consumo de álcool, tabaco e outras drogas vêm se elevando ao longo dos anos, especialmente na população jovem. Esse fato é preocupante, uma vez que o abuso e a dependência de drogas põem em risco valores políticos, sociais e econômicos; aumenta os gastos públicos com tratamento médico e internações hospitalares e aumenta o número de acidentes de trânsito e a violência [1].

O 1º Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras [2] mostrou que 49% desta população já utilizou drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida, e dos que se declaram menores de 18 anos, 80% declarou que já utilizou algum tipo de bebida alcoólica. Além disso, jovens na faixa etária entre 18 e 24 anos apresentam as maiores taxas de uso de drogas e comportamento de risco, e cerca de 40% desta população é composta por universitários. O grupo populacional de universitários apresenta também o uso de drogas ilícitas na vida cerca de duas vezes maior que a população em geral de 12 a 65 anos de idade.

A futura vida profissional desses universitários poderá ser afetada pelo consumo de álcool, tabaco e outras drogas, tanto pela própria distorção do quanto a dependência influência nos comportamentos, pensamentos críticos e atitudes frente às responsabilidades profissionais, quanto pela visão dos demais profissionais a respeito da sua capacidade profissional, fazendo com que a credibilidade do indivíduo seja afetada e, consequentemente, o sucesso profissional [3].

A detecção precoce de fatores de risco como: histórico, carência, conflitos familiares, problemas acadêmicos, econômicos e sociais, possibilita um melhor planejamento de ações voltadas para evitar o uso ou até mesmo a realização de ações com objetivo de redução de danos. A importância do reconhecimento dos fatores de risco é refletida na preparação do círculo de apoio do jovem para desenvolver e melhorar os fatores de proteção [4].

A realização da pesquisa justifica-se pela necessidade de descrever o perfil epidemiológico, padrão de consumo e problemas relacionados ao uso de drogas em universitários a fim de identificar os problemas relacionados ao uso de drogas lícitas e ilícitas, possibilitando que as ações de saúde sejam voltadas para a realidade, e como consequência os resultados serão mais eficazes nas estratégias de prevenção e promoção. Por fim, o objetivo geral do artigo foi detectar problemas relacionados ao uso de álcool, tabaco e outras drogas em universitários.

 

Material e métodos

 

Trata-se de um estudo descritivo, transversal com abordagem quantitativa cuja população foi formada por discentes devidamente matriculados nos cursos de Administração pública, Biomedicina, Direito, Educação Física (Bacharelado e Licenciatura), Enfermagem, Engenharia Ambiental, Engenharia de Produção, Farmácia, Fisioterapia, Odontologia e Relações Internacionais de uma Instituição de Ensino Superior (IES) totalizando 3.952 alunos.

Foram adotados parâmetros de estudos de prevalência realizados no país, cujas características se aproximam dos sujeitos que foram investigados no presente estudo. Adotou-se como proporção na população de 49% de usuários de drogas ilícitas. Para o cálculo amostral foi utilizado nível de significância de 5%, poder do teste de 80%, para testes de hipótese monocaudal, obtendo-se tamanho amostral necessário de 351 sujeitos. Devido às possíveis perdas, foi acrescido 10% do valor amostral, totalizando-se 387 sujeitos. Devido à incompletude do preenchimento do questionário houve 35 perdas, sendo assim, o estudo teve a participação de 352 indivíduos.

A amostragem foi aleatória estratificada, sendo investigados sujeitos de 12 cursos selecionados na IES, com valores proporcionais, variando de acordo com a quantidade de estudantes por turma. Foram analisados alunos maiores de 18 anos até 24 anos, de ambos os sexos, devidamente matriculados e que frequentem regularmente a IES. Foram excluídos alunos em período exclusivo de estágio curricular ou matriculados há menos de seis meses, e cursos com quantitativos de alunos inferiores a cinquenta, por ser uma amostra pouco significativa.

Para apreensão de informações sociodemográficas foi utilizado um questionário construído pelos autores, que permitiu a caracterização do perfil dos participantes; e para obtenção dos dados relativos aos problemas associados ao uso de álcool e drogas foi utilizado o instrumento DUSI (Drug Use Screening Inventory), que foi originalmente desenvolvido nos Estados Unidos da América, por Dr. Ralph Tarter [5], mas adaptado e validado no Brasil por De Micheli e Formigoni no ano de 2000 [6]. O instrumento avalia de forma eficiente os problemas associados ao uso do álcool, tabaco e outras drogas e quantifica a intensidade dos problemas por meio de dez áreas.

Embora pouco utilizado em âmbito nacional em termos de jovens adultos e universitários, o uso do instrumento DUSI permite uma conformidade para comparações com estudos, visto que possui avaliação tanto do consumo, quanto do comportamento relacionado, bem como do comprometimento causado por este consumo. Ademais, o instrumento foi avaliado quanto à sua estrutura psicométrica quando utilizado em adultos [7], e como resultado disto, classificou corretamente 80% dos usuários de drogas, e obteve 100% dos controles identificados corretamente. Estes dados revelaram que o DUSI é um instrumento prático e sólido também entre os adultos [8].

As questões são dicotômicas, totalizadas em 149 questões que avaliam de acordo com cada área: uso de álcool e outras drogas, uso de substâncias, comportamento, saúde, desordens psiquiátricas, competência social, sistema familiar, escola, trabalho, relacionamento com amigos, e lazer/recreação; além de possuir uma escala de mentira com questões distribuídas nas dez áreas (uma ao final de cada área), para identificar possíveis questionários inválidos, sendo assim, foram eliminados os questionários que não foram respondidos integralmente, pois se trata de um questionário autoaplicável. Para realização do estudo foram selecionadas apenas 4 áreas do DUSI, são elas: área 1 - uso de substâncias, área 2- comportamento, área 6- sistema familiar, área 7- escola.

Os dados foram tabulados no Microsoft Excel e analisados através do software estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), utilizando-se de estatística descritiva. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Tabosa de Almeida (ASCES\UNITA) com CAAE 62270616.0.0000.5203 e obedeceu aos pressupostos da Resolução 466/12, que regulamenta as pesquisas envolvendo seres humanos, visando à preservação da autonomia, não maleficência, beneficência e justiça.

 

Resultados

 

Os discentes que participaram do estudo estão distribuídos entre os cursos da seguinte forma: direito (43,8%), odontologia (10,8%), farmácia (7,7%), enfermagem (7,4%), educação física (7,1%), fisioterapia (6%), biomedicina (4,5%), licenciatura em educação física (4%), engenharia de produção (3,4%), relações internacionais (2,6%), engenharia ambiental (1,4%) e nutrição (1,4%).

Através da análise das variáveis sociodemográficas foi possível identificar o perfil dos discentes (tabela I).

 

Tabela I - Características sociodemográficas dos universitários entrevistados. Caruaru/PE, 2017 (n = 352).

 

Fonte: Dados coletados na pesquisa; 1 Valor atual do salário mínimo: R$ 937,00 em 20/09/17, Brasil.

 

No que diz respeito ao sexo, 62,8% dos discentes são mulheres, apresentam faixa etária predominante de 20 a 22 anos 53,6% e a média de idade foi de 21,8 anos. Solteiros ou divorciados totalizam 88,6%, com renda mensal de 2 a 3 salários mínimos, e 56% dos alunos apenas estudam.

Quanto a investigação do uso de risco de substâncias psicoativas foi utilizada a área 1 do questionário, onde: score maior que 3 é considerado uso de risco, a partir disto foi possível observar que 54% fazem uso de risco, destes, 54% são mulheres e 46% são homens. Abaixo segue a descrição das drogas mais utilizadas, da frequência do uso nos últimos 30 dias, autorrelato de problema com a droga utilizada e predileção entre os universitários (tabela II).

 

Tabela II - Drogas mais utilizadas, frequência do uso nos últimos 30 dias, autorrelato de problema com a droga e predileção dos universitários. Caruaru/PE, 2017 (n = 352).

 

Fonte: Dados coletados na pesquisa.

 

Observando a tabela II, as drogas mais utilizadas no último mês são as lícitas, sendo o álcool a mais consumida, em sua maioria numa frequência de 3 a 9 vezes nos últimos 30 dias, seguida dos analgésicos (sem prescrição) com o maior uso de 1 a 2 vezes. No que se refere às drogas ilícitas, a maconha foi utilizada mais frequentemente de 1 a 2 vezes, e nesta sequência vem o ecstasy, e os inalantes tiveram a mesma frequência geral, e do uso de 1 a 2 vezes no mês.

Quanto ao autorrelato de problemas relacionados com a droga utilizada, apenas 2,3% dos usuários de álcool referem ter problema com o uso e, entre os usuários de maconha, apenas 0,3%. Álcool e maconha foram as duas drogas escolhidas como prediletas pelos estudantes entre as lícitas e ilícitas.

A densidade absoluta de problemas refere-se à intensidade de problemas presentes de acordo com cada área do instrumento DUSI, e é calculada a partir da fórmula: (nº de respostas afirmativas na área/nº de questões na área *100). A partir do resultado obtido consideramos que quanto mais o resultado aproxima-se de 100, maior a intensidade dos problemas do indivíduo no que tange àquela área específica. A partir disto foram obtidas as médias das densidades absolutas e o desvio padrão das áreas selecionadas no estudo (tabela III), que tiveram como resultado: A6- Sistema familiar, com média densidade absoluta de 20,61 e desvio padrão de 18,10, respectivamente, A7- Escola, com 24,20 e 15,00 e A2- Comportamento com 31,85 e 15,55.

 

Tabela III - Áreas do instrumento DUSI, descrição, média da densidade absoluta e desvio padrão.

 

Fonte: Dados coletados na pesquisa.

 

Discussão

 

Diante dos resultados do estudo podemos observar que a maioria dos estudantes pesquisados é do sexo feminino, somando 62,8%, reafirmando assim um cenário já conhecido na educação superior: as mulheres são o público majoritário nas universidades; em geral, no Brasil, 57,1% das matrículas em universidades são do sexo feminino [9].

Em relação à idade média dos participantes da pesquisa (21,8 anos), esta se assemelha à encontrada em outros estudos [10] com idade média de 21,4 anos. Verificou-se, também, que a maior parte dos universitários pesquisados refere que o seu estado civil é solteiro corroborando dados da literatura [11] que apontam que indivíduos que não possuem relações afetivas estão mais vulneráveis ao consumo de drogas, assim como estão mais susceptíveis a serem influenciados por amigos.

Muitas vezes os alunos desenvolvem outras atividades diárias além de estudar. Entre os universitários pesquisados, 56% referiram que apenas estudam, sendo assim o tempo livre permite aos universitários a busca de atividades de lazer, encontrando nas drogas uma forma de ocupar o tempo ocioso [12]. Além do fator “ocupação” ou sua ausência como possível causa para o uso de drogas, a renda também pode influenciar.

Ainda sobre a renda dos alunos entrevistados a renda mensal familiar de 2 a 3 salários mínimos foi de 40,3%, resultado que se mostra contrário a resultados obtidos em outras pesquisas que evidenciam que os universitários com renda mais baixa são os que menos usam drogas lícitas e ilícitas [13], essa discordância pode ser compreendida pela cultura destes universitários que pode influenciar um estilo de vida não saudável, assim como o consumo de drogas com baixo custo e que tenham uma maior facilidade de se adquirir como é o caso das drogas lícitas, que geralmente são amplamente consumidas em festas servindo como porta de entrada para as drogas ilícitas, dando a elas também um maior potencial de abuso.

Quanto ao repertório ou características do uso, foi identificado uso de risco ou uso nocivo por 54% dos discentes, sendo 54% mulheres, e 46% homens. Este é considerado o padrão de consumo que aumenta o risco de gerar danos físicos e/ou psicológicos ao indivíduo [14].

O álcool foi a substância mais utilizada, alcançando uso por mais de 70% dos entrevistados, sendo mais relatado o consumo de 3 a 9 vezes no mês, padrão assemelhasse a outros estudos [15] e pode ser compreendido a partir do reconhecimento do contexto em que a universidade está inserida, onde tudo é novo, e envolto à novas interações sociais, festas, e disponibilidade de bebidas alcóolicas. Também relatada como droga lícita de maior predileção e problemas relacionados ao uso, mostrando um grande problema de saúde pública, pois estudos [16] apontam que a ingestão elevada de álcool gera uma grande probabilidade de envolvimentos em acidentes de trânsito, como também aumenta a susceptibilidade para infecções sexualmente transmissíveis, visto que há um aumento de atividades sexuais desprotegidas.

O uso de analgésicos sem prescrição encontra-se em segundo lugar entre as drogas utilizadas no mês, com uso por 67% dos estudantes pesquisados, assemelhando-se com o estudo em que o álcool também lidera o ranking, e o analgésico é a segunda mais utilizada, embora o percentual obtido tenha sido quase o dobro do estudo acima [17]. O uso sem prescrição médica pode ser explicado pela falta de tempo para procurar às redes de saúde, pela praticidade de se automedicar e facilidade de acesso [18].

Entre as drogas ilícitas mais utilizadas e mais declaradas como predileta, destaca-se a maconha, essa realidade pode ser vista também em outros estudos, como, por exemplo, no II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas que mostra maior prevalência na população brasileira [13]. Sobre os fatores associados ao consumo de maconha entre universitários, pode ser explicado pelo fato de muitos considerarem esta como uma droga leve, de poucas consequências a saúde e fácil acesso, mesmo não sendo legalizada [19], mas contrapondo estes estudos, outros mostram que os efeitos desta droga a curto prazo não são bem evidentes se comparados a outras drogas ilícitas, entretanto, são frequentes os problemas de concentração e memória [20].

Ainda sobre as drogas ilícitas, em segundo lugar está o ecstasy e os inalantes, realidade esta que também é comprovada em outros estudos que mostram o aumento do consumo do ecstasy no país, aumentando consequentemente o número de apreensões de comprimidos e a descoberta do primeiro laboratório clandestino na cidade de São Paulo [21].

Já referente aos inalantes, que são pertencentes à classe de produtos químicos, não foram criados para ser uma droga, mas são consumidos com essa finalidade. Seu acesso é facilitado, o que pode se associar ao fato de que a frequência de seu uso no Brasil é o maior das Américas [22] podendo causar distúrbios visuais e reduzir o controle muscular e dos reflexos, em casos mais graves pode causar morte súbita por sufocamento, colapso respiratório ou ataque cardíaco [23].

O contexto familiar há muito tempo é enfoque quando o assunto se trata do uso de drogas por adolescentes e jovens, visto que a família é tanto fator de proteção quanto fator desencadeante do consumo, além de ser também aliada quando já houver dependência química instaurada e for necessário um tratamento. A família e os problemas de relacionamento neste âmbito surgem como consequência do consumo de drogas que levam esse ambiente domiciliar a tornar-se frequentemente palco de conflitos e desavenças, colaborando para que os princípios familiares estejam cada vez mais escassos [24].

Os resultados apresentam uma média da densidade de problemas considerável na área 6, que avalia o sistema familiar através de uma investigação do relacionamento familiar, principalmente os conflitos familiares. Unindo este dado ao alto índice de consumo de álcool pelos universitários, reafirmam-se relações familiares conflituosas como consequência do consumo de drogas.

Outra importante consequência do consumo de drogas é a queda do desempenho acadêmico, seja por avaliações abaixo do padrão do aluno ou por ausência nas aulas. Estudos mostram que esses aspectos somados à repetência escolar são mais frequentes em estudantes que consomem substâncias [24], bem como o consumo problemático de álcool favorece o sono em sala de aula [25].

A média de densidade de problemas na área 7, responsável por avaliar o desempenho acadêmico dos universitários, demonstra sinal de alerta para indicar a necessidade tanto da detecção precoce para os que estão em fator de risco evidente quanto para a intervenção voltada aos que estão em uso de risco ou até em abuso, trazendo à tona a importância de estar atento aos sinais que jovens consciente ou inconscientemente emitem no âmbito familiar, acadêmico e social.

A detecção de comportamentos tidos como de risco é fator importante para família e escola agirem como protetores para jovens propensos ao uso, ou usuário de droga, principalmente porque nestes âmbitos é possível perceber mudanças singelas de comportamentos dando margem para ações precoces e efetivas.

O âmbito de comportamento foi o que alcançou resultados mais altos a partir da análise da densidade de problemas da área 2, que avalia questões comportamentais a partir da investigação de aspectos como isolamento social e problemas de comportamento, este aspecto aumentado quando comparado aos outros âmbitos pode ser compreendido pelo fenômeno estudado por Becker [25] que mostra que a interação social reflete nas decisões individuais e vice-versa, ou seja, um grupo social tende a tomar decisões e comportar-se de maneira semelhante entre si.

 

Conclusão

 

O presente estudo revelou que a maioria dos universitários era do sexo feminino, solteiros ou divorciados, com renda mensal familiar baixa e apenas estudam, 54% fazem uso de risco ou nocivo de alguma (s) das drogas estudadas.

Os problemas causados pelo uso de drogas é um problema de saúde pública, visto que os consumidores se expõem a riscos que podem afetar sua saúde, tanto física como biopsicossocial, tendem a envolver-se mais em acidentes, relações sexuais de risco, diminuírem o rendimento escolar, ter mais problemas familiares, sociais e propícios a dependência química.

Ter um olhar holístico sobre o indivíduo é de suma importância para a enfermagem, visto que diversos fatores desencadeiam a presença de problemas, sendo necessário acompanhar usuários para evitar os agravos que o consumo pode vir a causar. Ter conhecimento sobre fatores e repercussão na vida de usuários é indispensável para que haja cuidado efetivo e eficaz.

 

Referências

 

  1. Wagner GA, Andrade AG. Uso de álcool, tabaco e outras drogas entre estudantes universitários brasileiros. Rev Psiq Clín 2008;35(supl1);48-54.
  2. Andrade AG, Duarte PCAV, Oliveira LG, organizadores. I Levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras. Brasília: SENAD; 2010.
  3. Soares J, Vargas DV, Oliveira MAF. Atitudes e conhecimentos de profissionais de saúde diante do álcool, alcoolismo e do alcoolista: levantamento da produção científica nos últimos 50 anos. SMAD, Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog 2011;7(1):45-52.
  4. Cavalcante MBPT, Alves MDS, Barroso MGT. Adolescência, álcool e drogas: uma revisão na perspectiva da promoção da saúde. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008;12(3):555-59. https://doi.org/10.1590/S1414-81452008000300024
  5. Tarter RE. Evaluation and treatment of adolescent substance abuse: a decision tree method. Am J Drug Alcohol Abuse 1990;16(1,2):1-46.
  6. De Micheli D, Formigoni MLOS. Screening of drug use in a teenage Brazilian sample using the Drug Use Screening Inventory (DUSI). Addict Behav 2000;25(5):683-91.
  7. Tarter RE, Kirisci, L. The drug use screening inventory for adults: psychometric structure and discriminative sensitivity. Am J Drug Alcohol Abuse 1997;23(2):207-19.
  8. Gorenstein C, Wang Y, Hungerbüler I. Instrumentos de avaliação em saúde mental. Porto Alegre: Artmed; 2015.
  9. Barreto A. A mulher no ensino superior: Distribuição e representatividade. Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior no Brasil. FLACSO Brasil; 2014. http://flacso.org.br/files/2016/04/caderno_gea_n6_digitalfinal.pdf.
  10. Ayer-Abdalla,MB. Uso de substâncias psicoativas entre estudantes universitários da área da saúde e avaliação de gravidade de problemas através do instrumento DUSI-R [Tese]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, Núcleo de Estudo de Álcool e outras drogas; 2014.
  11. Zeferino MT, Hamilton H, Brands B, Wright MGM, Cumsille F, Khenti A et al. Consumo de drogas entre estudantes universitários: família, espiritualidade e entretenimento moderando a influência dos pares. Texto Contexto Enferm 2015; 24 (Esp):125-35. https://doi.org/10.1590/0104-07072015001150014
  12. Kerr-Corrêa F, Andrade AG, Bassit AZ, Boccuto NMVF. Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp. Rev Bras Psiquiatr 1999;21(2):95-100. http://doi.org/10.1590/S1516-44461999000200005
  13. Silva LVER. Fatores associados ao consumo de álcool e drogas entre estudantes universitários. Rev Saúde Pública 2006;40(2):280-8. https://doi.org/10.1590/S0034-89102006000200014
  14. Duarte CE. Texto adaptado do original do curso Prevenção do uso indevido de drogas: Capacitação para Conselheiros Municipais. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas - SENAD, 2012(3):347-55.
  15. Pillon SC, Corradi-Webster CM. Teste de identificação de problemas relacionados ao uso de álcool entre estudantes universitários (AUDIT). Rev Enferm UERJ 2006;14(3):325-32.
  16. Pillon SC, O’Brien B, Piedra KAC. A relação entre o uso de drogas e comportamentos de risco entre universitários brasileiros. Rev Latinoam Enferm 2005;13(spe2):1169-76. https://doi.org/10.1590/S0104-11692005000800011
  17. Domingos NAM, Domingos JCV. Levantamento sobre o uso de álcool e drogas em universitários. Rev Bras Ter Cogn 2005;1(1):75-82.
  18. Galato D, Madalena J, Pereira GB. Automedicação em estudantes universitários: a influência da área de formação. Ciênc Saúde Coletiva 2012;17(12):3323-30. https://doi.org/10.1590/S1413-81232012001200017
  19. Solowiji N, Stephens RS, Roffman RA, Babor T, Kadden R, Miller M et al. Cognitive functioning of long-term heavy cannabis users seeking treatment. JAMA 2002;287:1123-31.
  20. Coutinho MPL, Araújo LF, Gontiès B. Uso da maconha e suas representações sociais: estudo comparativo entre universitários. Psicologia em Estudo 2004;3(9):469-77. https://doi.org/10.1590/S1413-73722004000300015
  21. Xavier CAC, Lobo PLD, Fontdes MMF, Vasconnelos SMM, Viana GSB, Souza FCF, et al. Êxtase (MDMA): efeitos farmacológicos e tóxicos, mecanismo de ação e abordagem clínica. Rev Psiq Clín 2008;35(3):96-103. https://doi.org/10.1590/S0101-60832008000300002
  22. Frederico E, Andrade AG, Oliveira LG. Comparação do uso de drogas entre universitários brasileiros, norte-americanos e jovens da população geral brasileira. J Bras Psiquiatr 2013;3(62):199-207. https://doi.org/10.1590/S0047-20852013000300004
  23. Steiman R. O mapa de droga. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1995:39.
  24. Malbergier A, Cardoso LRD, Amaral RA. Uso de substâncias na adolescência e problemas familiares. Cad Saúde Pública 2012;28(4):678-88. https://doi.org/10.1590/S0102-311X2012000400007
  25. Becker, KL. O efeito da interação social entre os jovens nas decisões de consumo de álcool, cigarros e outras drogas ilícitas. Estud Econ 2017;47(1). https://doi.org/10.1590/0101-416147136klb