RELATO DE
CASO
Prevenção
de lesão por pressão e o uso do colchão pneumático versus colchão piramidal em
unidade de terapia intensiva
Alexandre Aguiar
Pereira*, Ana Paula Figueiredo Montalvão França, M.Sc.**, Andrea Fabiane Aguiar Chagas
de Miranda, M.Sc.***, Elaine Valéria Rodrigues M.Sc.****, Jaqueline Vieira Guimarães*, Maria
Elizabete de Castro Rassy, D.Sc.*****
*Enfermeiros
Residentes em Atenção à Saúde da Mulher e da Criança da Universidade do Estado
do Pará (UEPA/FSCMP), Belém/PA, **Enfermeira Especialista em Terapia Intensiva,
Mestre em Gestão e Saúde na Amazônia (FSCMP), Belém/PA, ***Enfermeira
Especialista em Urgência e Emergência e Regulação em Serviços de Saúde,
Mestre em Gestão e Saúde na Amazônia (FSCMP), Belém/PA, ****Enfermeira
Especialista em Saúde da Família, Mestre em Gestão e Saúde na Amazônia
(FSCMP), Belém/PA, *****Docente de Graduação e Pós-graduação da Universidade do
Estado do Pará (UEPA), Belém/PA
Recebido em 8 de julho
de 2018; aceito em 4 de abril de 2019.
Endereço
para correspondência:
Ana Paula Figueiredo Montalvão França, Rodovia Augusto Montenegro, 6955, Quadra
3, Casa 6, Parque Verde, 66635-110 Belém PA, E-mail: anapaula@alexandrohup.com;
Alexandre Aguiar Pereira: alexandre_ap22@hotmail.com; Andrea Fabiane Aguiar
Chagas de Miranda: andreaf_chagas@hotmail.com; Elaine Valéria Rodrigues:
elainerik@gmail.com; Jaqueline Vieira Guimarães: jakque-k3@hotmail.com; Maria
Elizabete de Castro Rassy: elizarassy50@hotmail.com
Resumo
Introdução: As lesões por pressão
são injúrias na pele ou tecidos moles adjacentes, que normalmente encontram-se
sobre uma proeminência óssea, consideradas como problema de saúde pública e
fator de agravo para o paciente acamado. Objetivo:
Relatar o caso de pacientes que utilizaram o colchão pneumático e/ou piramidal
como estratégia de prevenção de lesões por pressão em Unidade de Terapia
Intensiva. Métodos: Relato de caso,
descritivo, realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva Adulto de uma
Maternidade de Referência na cidade de Belém/PA, em setembro de 2017, com 6
pacientes. Para a obtenção dos dados foi realizada a busca dos pacientes que
utilizavam o colchão pneumático e/ou piramidal e anotações diárias de
enfermagem. Resultados: 2 (33,3%)
dos pacientes que foram colocados sob o uso de colchão piramidal apresentaram
lesão por pressão, enquanto dos 4 (66,67%) que utilizaram o colchão pneumático,
apenas 1 (16,67%) paciente apresentou lesão. Conclusão: Sendo a prevenção de lesão por pressão uma das metas de
Segurança do Paciente, concluiu-se que a utilização do colchão pneumático
poderá contribuir para a redução do aparecimento dessas lesões em Unidade de
Terapia Intensiva.
Palavras-chave: lesão por pressão,
unidades de terapia intensiva, segurança do paciente.
Abstract
Pressure
injury prevention and the use of air mattress versus convoluted foam mattress
in intensive therapy unit
Introduction:
Pressure injuries are damage caused on the skin or surrounding soft tissues
which are typically found on prominent bones and are considered as a public
health issue and an aggravating factor for the bedridden patient. Objective: To report the case of
patients who made use of air mattress and/or convoluted foam mattress as a
strategy for the prevention of pressure injury to Intensive Therapy Unit. Methods: Case report, descriptive,
developed at an Adult Intensive Therapy Unit of a reference maternity hospital
in Belém/PA, in September 2017, involving 6 patients.
For the data acquisition, a search was performed for patients who utilize air
mattress and/or convoluted foam mattress, as well as for nursing notes. Results: Two (33.3%) of the patients who
were assisted with the use of the convoluted foam mattress showed signs of
pressure injury whereas, out of the 4 (66.67%) of those who utilized the air
mattress, only 1 (16.67%) patient revealed signs of injury. Conclusion: Since pressure injury
prevention is one of the purposes of the Patient Safety, it has been concluded
that the use of the air mattress could contribute to the reduction of the
emergence of these injuries in Intensive Therapy Unit.
Key-words: pressure
injury, intensive therapy unit, patient safety.
Resumen
Prevención de lesiones por presión y el uso del colchón neumático
versus colchón piramidal en
la unidad de cuidados
intensivos
Introducción: Lesiones por presión
son heridas en la piel
o tejidos blandos adyacentes que normalmente se encuentran
en una proeminência de la estructura ósea, y se considera un problema de salud pública y factor agravante para los
pacientes hospitalizados. Objetivo:
Relatar el caso de pacientes que se han utilizado del colchón neumático y/o piramidal
como estrategia de prevención
de lesiones que se produzcan por la
presión en Unidad de Cuidados Intensivos. Métodos: Descripción de caso realizado en la unidad
de cuidados intensivos para adultos de una maternidad
de referencia de la ciudad de Belém/PA, en septiembre del año 2017, con 6 pacientes. Los
dados se obtuvieron através de una búsqueda a los pacientes que utilizaban el colchón
neumático y/o piramidal, además
de las anotaciones de enfermería. Resultados:
Dos (33,3%) de los pacientes que se sometieron al uso del colchón piramidal presentaron lesión por presión, mientras que los 4 (66,67%) que utilizaron el colchón
neumático, solamente 1 presentó. Conclusión: Siendo la prevención de lesión por presión una de las metas de seguridad al
paciente, se concluye que la
utilización del colchón neumático podría contribuir a la reducción de aparición de estas
lesiones en Unidad de
Cuidados Intensivos.
Palabras-clave: lesión por presión, unidades de
cuidados intensivos, seguridad del
paciente.
As lesões por pressão (LPPs) são injúrias na pele ou tecidos moles adjacentes, que
normalmente encontram-se sobre uma proeminência óssea ou causada por
dispositivo médico ou outro artefato [1], consideradas como um problema de
saúde pública e fator de agravo para o paciente internado, intensificando seu
sofrimento, risco de mutilação, de infecção, prolongando o tempo de internação
do mesmo, elevando a morbimortalidade, além de aumentar a carga de trabalho da
equipe de enfermagem e os custos hospitalares [2].
Desta forma, os
pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) apresentam elevado
risco para o desenvolvimento destas lesões, visto que apresentam restrição de
mobilidade no leito e percepção sensorial diminuída por ação de sedativos e
relaxantes musculares [3].
Nos últimos anos, a
prevalência das LPPs vem aumentando, devido ao
envelhecimento da população e consequentemente das doenças crônicas e
lentamente debilitantes, que geram hospitalização prolongada [4]. Apesar da
existência de vários estudos mundiais, estudos realizados no Brasil sobre a
incidência deste evento adverso mostram números que variam entre 20% a 59%,
dependendo da população estudada [5].
A fim de garantir a
segurança dos pacientes em Instituições de saúde, o Ministério da Saúde (MS)
instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), lançando
protocolos de prevenção de incidentes, entre eles as LPPs.
Nesse contexto, ações preventivas e sistematizadas da equipe multiprofissional
e principalmente da equipe de enfermagem com o objetivo de diminuir a
ocorrência destas lesões são de grande importância, gerando qualidade na
assistência prestada [6].
A literatura tem
apontado que a utilização de colchão pneumático, embora exija um maior
investimento, pode gerar uma economia hospitalar com a redução da utilização de
curativos industrializados e diminuição do tempo de internação [7],
diferentemente do colchão piramidal ou “caixa de ovo” que deve ser trocado
sempre que o colchão perder densidade ou altura, para não ter sua função
anulada ou reduzida [8].
Diante do exposto,
definiu-se como questão de pesquisa deste estudo: Como a utilização do colchão
mais apropriado pode contribuir para a prevenção do aparecimento de lesões por
pressão em pacientes acamados em Unidade de Terapia Intensiva?
Desta forma, este
estudo tem por objetivo: relatar o caso de pacientes que utilizaram o colchão
pneumático e/ou colchão piramidal como estratégia de prevenção de lesões por
pressão, a fim de identificar o mais adequado para pacientes internados em
Unidade de Terapia Intensiva.
Relato de caso, com abordagem
descritiva, realizado em uma UTI Adulto de uma Maternidade de Referência no
Estado do Pará, durante as atividades práticas do Programa de Residência
Multiprofissional em Saúde da Mulher e da Criança, da Universidade do Estado do
Pará (UEPA), no mês de setembro de 2017. Esta Unidade possui 10 leitos e uma
demanda de pacientes adultos clínicos, cirúrgicos e mulheres com gestação de
alto risco.
Para a obtenção dos
dados foi realizada a busca nos impressos assistenciais e evoluções diárias de
enfermagem dos pacientes internados, presentes nos prontuários da Unidade.
Elencou-se como critérios de inclusão: pacientes com avaliação de risco alto
para desenvolvimento de lesão de acordo com a Escala de Braden, internados há
mais de 30 dias, independentes da idade e que utilizavam o colchão pneumático
e/ou piramidal como medida preventiva de LPP. Assim, incialmente, foram
analisados os 10 prontuários dos pacientes internados, contudo 6 casos se
adequaram aos critérios de inclusão e, portanto, foram selecionados e incluídos
no estudo.
As informações
coletadas foram inseridas em uma planilha eletrônica no software Microsoft
Office Excel, versão 2010, e os resultados estão descritos e apresentados na
tabela abaixo.
Tabela I – Dados dos casos internados na Unidade de Terapia Intensiva sob uso de
colchão pneumático e/ou piramidal, Belém/PA, 2018.
Fonte: Dados do Estudo.
Quanto ao tipo de
colchão utilizado para prevenir as LPPs, 2 (33,3%)
pacientes foram colocados sob o uso de colchão piramidal e 100% apresentaram LPPs, enquanto dos 4 (66,67%) que utilizaram o colchão
pneumático, apenas 1 (16,67%) paciente apresentou LPP.
Estudo realizado em 2012, em Unidades
Coronarianas de um Hospital Universitário de Pernambuco, mostrou redução da
incidência de LPPs após implementação da utilização
de colchão pneumático, à medida que este tipo de superfície gerou uma redução
na incidência das LPPs de 55,4%, comparando os anos
de 2011 e 2012 [5].
Quanto a avaliação do
risco para desenvolvimento de LPP realizado com o auxílio da Escala de Braden, 6 (100%) dos pacientes foram classificados como de
alto risco para o aparecimento de lesão, dos quais 3 (50%) desenvolveram LPP.
Tais instrumentos
avaliativos, como a escala de Braden, tornam-se de
suma relevância para determinação do risco de um paciente, uma vez que os
valores baixos mostram maior propensão para desenvolver estas lesões. A
avaliação diária deste risco pelo profissional enfermeiro, possibilita-o
implementar ações individualizadas que minimizem a incidência deste agravo [9].
Os 6 casos (100%)
estudados possuíam uma ou mais patologias de base, consideradas fatores de
agravo para o aparecimento de LPPS, uma vez que a presença de comorbidades é
considerado fator intrínseco no desenvolvimento de lesões cutâneas,
principalmente as doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares
[10]. Essas enfermidades facilitam a imobilidade do paciente e exposição
prolongada à umidade, má nutrição e capacidade reduzida de sentir dor e/ou
pressão, condições que aumentam a probabilidade do surgimento de uma LPP [11].
Em relação ao tempo de
internação hospitalar, todos os pacientes (100%) permaneceram internados pelo
menos 30 dias. Estudos apontam que quanto maior o tempo de internação de um
paciente, maior é sua exposição aos fatores de risco para o desenvolvimento de LPPs [12], reforçando a necessidade de utilização do
colchão mais adequado para pacientes com tempo de internação prolongado.
Fator relevante para o
aparecimento de LPP refere-se à idade dos pacientes. Neste estudo, dos 3
pacientes que desenvolveram LPP, 1 era adulto jovem e 2 eram pacientes idosos,
de acordo com a classificação etária da Organização Mundial da Saúde [13].
Nesse contexto, estudos demonstram que a idade avançada e o sexo masculino [14]
são fatores preditivos para o aparecimento de LPPs.
Durante o período de
estudo no setor, evidenciou-se a importância do trabalho da equipe de saúde,
principalmente a de enfermagem, na prevenção de LPPs,
por meio do estabelecimento do cuidado diário e prática baseada em evidências,
tendo em vista que, em sua maioria, as lesões são evitáveis. Cabe à enfermagem,
por meio da utilização de seus conhecimentos específicos, estabelecer metas,
utilizar escalas preditivas de avaliação de risco e implantar medidas de
prevenção e tratamento das lesões, adotando protocolos baseados em diretrizes
internacionais e estabelecendo um processo avaliativo contínuo da integridade
da pele [15].
Sendo a prevenção de LPPs uma das metas de Segurança do Paciente, concluiu-se
que a utilização do colchão pneumático pode influenciar na redução dos riscos
de aparecimento de LPPs em pacientes internados em
UTI, possibilitando a prevenção adequada desse tipo de agravo.
Por esta razão, a
utilização do colchão mais adequado pode trazer grandes benefícios para o
paciente e reduzir a incidência de LPPs na Unidade,
reforçando a necessidade de intensificação dos cuidados de toda equipe
multiprofissional e implementação de protocolos que estimulem a utilização do
colchão pneumático.
O estudo apresentou
algumas limitações relacionadas a não inclusão da equipe multiprofissional de
saúde do Hospital; à inclusão de apenas um setor da unidade hospitalar e a
avaliação de uma amostra reduzida de casos e em um tempo limitado. Sugere-se,
então, a realização de novos estudos sobre o assunto, utilizando-se uma amostra
e tempo mais amplos e que reforcem os resultados encontrados.
Os resultados apontam
para a necessidade de investimento na utilização de colchão pneumático em UTI,
por parte das instituições hospitalares. Assim, espera-se contribuir para o
conhecimento dos profissionais que atuam nessas Unidades e sensibilização
destes para a importância de utilizarem o colchão pneumático na prevenção de
LPP, a fim de subsidiar o planejamento e implementação desse cuidado na rotina
do setor.