ARTIGO
ORIGINAL
Percepção
do profissional de enfermagem sobre a sistematização da assistência de
enfermagem
Ana Larice Gomes do Nascimento*, Emanoela
Negreiro Coelho*, Flávia Emília Cavalcante Valença Fernandes**, Gerlene Grudka Lira***, Rachel
Mola****
*Graduanda em
Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE), **Enfermeira, Docente
Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina, doutoranda em
Inovação Terapêutica (UFPE), ***Enfermeira, Docente Assistente da Universidade
de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina, mestrado em Ciências da Saúde pela UFPE,
****Enfermeira, Docente Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) Campus
Petrolina, doutoranda em Enfermagem pelo Programa Associado de Pós-Graduação em
Enfermagem (UPE/UEPB)
Recebido em 18 de
julho de 2018; aceito em 13 de setembro de 2018.
Endereço
de correspondência:
Rachel Mola, Rodovia BR 203, km 2, s/n, Vila Eduardo,
56328-903 Petrolina PE, E-mail: rachel.mola@upe.br; Ana Larice
Gomes do Nascimento: ana_larice07@hotmail.com; Emanoela
Negreiro Coelho: emanoelanegreiro@gmail.com; Flavia Emilia
Cavalcante Valença Fernandes: flavia.fernandes@upe.br; Gerlene
Grudka Lira: gerlene.grudka@upe.br
Resumo
A Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) tem grande relevância no processo de trabalho
da equipe de enfermagem, visando à excelência na
qualidade de atenção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade. O estudo
tem como objetivo conhecer a percepção do profissional de enfermagem sobre a
SAE, em um hospital de Petrolina/PE. Trata-se de um estudo exploratório,
descritivo e qualitativo, realizado com 14 profissionais de enfermagem de nível
técnico e superior. Os dados foram coletados no período de agosto a dezembro de
2017, por meio de entrevistas e analisados mediante técnica de análise de
conteúdo de Bardin. As percepções dos profissionais
de enfermagem resultaram nas categorias: SAE como ferramenta do planejamento
dos cuidados de Enfermagem; desafios para implementação
da SAE; e SAE proporcionando qualidade na assistência. Os profissionais de
enfermagem reconhecem a importância da implementação
da SAE e a identificam como condicionante fundamental para qualidade do
cuidado, organização da equipe e fluidez da assistência global. O aspecto
formativo surge como componente importante no caminho para a mudança, diante do
predominante desconhecimento sobre a SAE, decorrente da provável escassez de
abordagem sobre o tema na sua formação profissional, principalmente referente
ao técnico de enfermagem.
Palavras-chave: processo de enfermagem,
percepção, planejamento em saúde, cuidados de enfermagem, protocolos.
Abstract
Perception of the nursing professional about the systematization of
nursing care
The Systematization of Nursing Assistance (SNA) has great relevance in
the work process of the nursing team, aiming at excellence in the quality of
health care to the individual, family and community. This study aims to know
the nursing professional's perception about SNA, in a hospital in Petrolina/PE. This is an exploratory, descriptive and qualitative
study carried out with 14 nursing professionals of technical and higher level.
Data were collected from August to December 2017, through interviews and
evaluated using Bardin content analysis technique.
The perceptions of nursing professionals resulted in the following categories:
SNA as a tool for nursing care planning; challenges to SNA implementation; and
SNA providing quality care. Nursing professionals recognize the importance of
SNA implementation and identify it as a fundamental condition for quality of
care, team organization, and overall care fluency. The formative aspect emerges
as an important component on the road to change, in the face of the predominant
lack of knowledge about the SNA, due to the probable shortage of approach on the
subject in its professional formation, mainly referring to the nursing
technician.
Key-words: nursing process, perception, health planning, nursing care,
protocols.
Resumen
Percepción del profesional de enfermería sobre la sistematización de la asistencia de enfermería
La Sistematización de la
Asistencia de Enfermería
(SAE) tiene gran relevancia en el
proceso de trabajo del equipo de enfermería,
buscando la excelencia en la calidad
de atención a la salud del individuo, de la familia y de la comunidad. El estudio tiene como objetivo conocer la
percepción del profesional de enfermería sobre la SAE, en un
hospital de Petrolina/PE. Se trata de un estudio exploratorio,
descriptivo y cualitativo,
realizado con 14 profesionales
de enfermería de nivel
técnico y superior. Los datos fueron
recolectados en el período de agosto a diciembre de 2017, por medio de
entrevistas y evaluados mediante técnica de análisis de contenido de Bardin. Las percepciones de los profesionales de enfermería resultaron en las categorías:
SAE como herramienta de la planificación de los cuidados de Enfermería; desafíos para la implementación de la SAE; y SAE
proporcionando calidad en la asistencia. Los profesionales de enfermería reconocen la
importancia de la implementación de la SAE y la identifican como condición fundamental para la calidad del cuidado, organización del equipo y fluidez
de la asistencia global. El
aspecto formativo surge como componente importante en
el camino
hacia el cambio, ante el predominante desconocimiento
sobre la SAE, resultante de la
probable escasez de abordaje sobre el tema en su formación
profesional, principalmente referente al técnico de enfermería.
Palabras-clave: proceso
de enfermería, percepción, planificación en salud, cuidados de enfermería,
protocolos.
O cuidado de
enfermagem é desenvolvido com base em ações sistematizadas, organizadas e
planejadas denominada Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a qual
deve ser realizada integralmente e individualmente [1]. A SAE tem grande relevância
no papel da equipe de Enfermagem e no prognóstico do cliente, pois busca a partir de novos conhecimentos, recursos técnicos,
científicos e humanos, favorecer a qualidade da assistência, possibilitando o
reconhecimento e a valorização profissional, além da compreensão do homem como
um ser social [2]. É definida como atividade privativa do enfermeiro que deve
ser executada em ambientes públicos ou privados em que haja
cuidados de enfermagem. A SAE é operacionalizada por meio do Processo de
Enfermagem, o mesmo possui cinco etapas: coleta de dados; diagnóstico;
planejamento; implementação e avaliação [3].
Os
benefícios da SAE
nos estabelecimentos de saúde incluem a segurança no
planejamento, a execução e
a avaliação das condutas de Enfermagem, a
individualização da assistência, a
visibilidade e a autonomia para o enfermeiro, além da
elaboração de cuidados ao
indivíduo e não apenas à doença, à
diminuição do tempo de hospitalização e,
consequentemente, à economia de recursos.
Apesar dos benefícios
trazidos à equipe de Enfermagem, ao paciente e ao serviço de saúde, a implementação da SAE ainda é insuficiente ou ausente nos
estabelecimentos de saúde, sofrendo interferências de vários fatores tais como:
a falta de reconhecimento da equipe de Enfermagem, número insuficiente de
profissionais de Enfermagem, falta de conhecimento e envolvimento sobre o
processo, desvalorização profissional, e falta de indicadores de resultado da
assistência [1]. A partir da compreensão do contexto da prática da SAE, o
profissional poderá refletir sobre como contribuir para melhor desempenho da
assistência do cuidado, mesmo ao atuar no campo de serviços de enfermagem que
ainda não contemplem uma prática sistematizada [4].
A visualização da
percepção dos enfermeiros e técnicos de enfermagem sobre a SAE, a análise dos
fatores que influenciam sua implementação e os
registros das vantagens e desafios da sua utilização no cotidiano são de suma
importância para sugerir recursos que colaborem para sua introdução nos serviços
de saúde. Com o propósito de identificar o conhecimento dos profissionais de
enfermagem e aprimorar esta metodologia de trabalho, este artigo teve como
objetivo conhecer a percepção do profissional de Enfermagem sobre a SAE em um
hospital de Petrolina/PE.
Esta pesquisa faz
parte do projeto intitulado “Sistematização da Assistência de Enfermagem como
ferramenta para a qualidade do cuidado”. É um estudo descritivo, exploratório,
com abordagem qualitativa, cuja análise dos dados foi realizada mediante técnica
de análise de conteúdo de Bardin, seguindo três
etapas: leitura flutuante e exaustiva do material; resumo dos achados obtidos;
e identificação dos conteúdos implícitos [5].
A pesquisa foi
desenvolvida no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal do Vale do
São Francisco (UNIVASF), no período de agosto a dezembro de 2017. A instituição
está localizada no município de Petrolina/PE, possui 129 leitos, 11
ambulatórios, atende 53 municípios, abrangendo uma população de,
aproximadamente, 2.068.000 habitantes nos estados de Pernambuco e Bahia. O
hospital de médio porte é referência em neurologia/neurocirurgia e traumato-ortopedia, sendo administrado atualmente pela
Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) [6].
Os dados foram colhidos
com 14 profissionais de Enfermagem de nível técnico e superior, atuantes na
referida instituição hospitalar. A seleção foi do tipo não
probabilística por saturação dos discursos dos sujeitos [7]. O
instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada,
realizada mediante convite direto aos sujeitos nos setores da emergência, da
clínica médica, da clínica cirúrgica, do bloco cirúrgico e da unidade de
terapia intensiva.
Foram incluídos
profissionais de Enfermagem de ambos os sexos, de nível técnico e superior,
atuantes nos setores referidos da instituição hospitalar, de prestação da
assistência direta ao paciente; e que aceitaram participar da pesquisa por meio
da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos
os profissionais de Enfermagem, que, no período da coleta, encontravam-se de
férias ou de licença e que desempenhavam atividades exclusivamente burocráticas/gerenciais.
Foi utilizado um
roteiro de entrevista com questões sociodemográficas
e de formação profissional, abertas, sobre a temática do estudo, coletadas com
auxílio de gravador. Foi realizado, também, um teste piloto para possíveis
adequações do instrumento e ajustes da condução da coleta pelos pesquisadores.
As questões norteadoras da entrevista acerca da SAE foram: Na sua prática
diária, o que significa a SAE pra você? De acordo com sua vivência
profissional, qual a importância da SAE? Na sua formação, como era trabalhada a
SAE? No seu setor, como você e a equipe aplicam a SAE? Quais as dificuldades
enfrentadas para implementação da SAE? Qual a
importância da aplicabilidade da SAE para o paciente?
As entrevistas
ocorreram em ambiente privativo, na sala de apoio multiprofissional, presente
em cada setor da instituição hospitalar, em momentos pré-agendados entre os
pesquisadores e os sujeitos. Para garantia do anonimato das falas dos
participantes, foi atribuído (E) para os enfermeiros e (T) para os técnicos de
enfermagem, seguidos de um algarismo arábico correspondente ao número da entrevista
realizada, compreendendo do E1 ao E7 e T1 ao T7. Os parênteses ao longo das
falas significam palavras complementares ao entendimento do pesquisador, e as
reticências foram para suprimir falas desnecessárias.
A pesquisa foi
aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade de
Pernambuco, sob número do CAAE: 57875216.2.0000.5207,
obedecendo aos aspectos éticos determinados na Resolução Nº 466, de 12 de
dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS).
Participaram da
pesquisa 14 profissionais de Enfermagem, os quais sete eram enfermeiros, e sete
técnicos em enfermagem. Houve predominância do sexo feminino, com média de
idade de 37 anos para os técnicos de enfermagem e de 32 anos para os
enfermeiros. A média de formação foi de 12 anos para os técnicos de enfermagem
e de 7 anos para os enfermeiros. A média do tempo de
atuação foi de 9 anos para os técnicos de enfermagem e
de 3,5 anos para os enfermeiros. Houve predominância da renda mensal acima de 3 salários mínimos. A maioria dos profissionais possuía
especialização. A rede de formação profissional (privada ou pública) teve
resultados iguais. O município de atuação no último ano da maioria foi
Petrolina. A maioria não participou de aperfeiçoamento sobre SAE, apesar de
quase todos referirem que existe oferta pela instituição de capacitação sobre a
SAE.
Após a leitura
flutuante e exaustiva dos dados, foram obtidos três temas de análise: SAE como
ferramenta do planejamento dos cuidados de enfermagem; Desafios para implementação da SAE e SAE proporcionando qualidade na
assistência.
SAE
como ferramenta do planejamento dos cuidados de Enfermagem
Esse tema de análise
surgiu a partir das falas das entrevistadas sobre o entendimento da Sistematização
da Assistência de Enfermagem como planejamento das ações, como organização do
seu trabalho e da sua prática, como observado a seguir:
“A
sistematização do atendimento... da assistência em enfermagem... essa rotina de
balanço, de fichas... essa rotina pré-estabelecida... são as anotações, os
registros diários, os formulários... os checklist, o
sistema” (T2)
“...é nossa organização... planejamento de
cuidado... precisa de nossa prescrição... cuidado 24 horas, contínuo...” (E5)
“...planejar os cuidados... executar e observar a
resposta... e ver o resultado.” (E7)
Desafios
para implementação da SAE
Nos relatos das
entrevistadas, observa-se referências às dificuldades para implementar
a SAE, entre elas: grande demanda de pacientes, falta de tempo e quantidade
insuficiente de profissionais, como descrito nos depoimentos:
“...é bem dividido... a gente não faz ela (SAE)
completa... a equipe é bem reduzida, sempre acaba um fazendo o serviço do
outro... aqui (emergência) é mais o imprevisto das intercorrências... paciente
um atrás do outro... as vezes não dá pra voltar e completar...” (T1)
“...a demanda de pacientes... tem a prescrição de
enfermagem e tem a médica... é preciso priorizar um ou outro.” (T3)
“...falta tempo porque tem dia que está
desfalcada (equipe)...nem sempre é possível fazer tudo direitinho.” (T6)
O contraponto em
relação a esse aspecto do dimensionamento de profissionais é descrito nas falas
de T7 e E1, em que se entendeu haver viabilidade na implementação
da SAE, desde que haja uma organização:
“...muitas vezes demoram eles (enfermeiros)
atualizarem (SAE)... fica desorganizado isso... talvez a demanda... mas tempo
tem também, sei lá... acho que é organizar.” (T7)
“Não
está documentado e nem respeita aquela linha das cinco etapas, mas a gente
tenta fazer.” (E1)
Especialmente nas
falas dos técnicos de enfermagem observou-se que os mesmos referiam não ter
abordado essa temática no período de formação:
“No
(ensino) técnico, não me lembro de ter tocado nesse assunto não.” (T1)
“...eu não sei o que é SAE, eu não sei, assim, a
definição exatamente, não... na prática com certeza eu sei... essa sigla (SAE)
eu não me lembro... Não tenho nem como dizer.” (T3)
“...eu não via muito (SAE).” (T5)
SAE
proporcionando qualidade na assistência
Os benefícios da SAE
são comprovados por meio dos relatos dos profissionais com relação à melhora
clínica do paciente, pela organização e agilidade que oferece aos profissionais
na execução de suas atividades, ampliando a qualidade da assistência prestada
na tríade paciente - equipe multiprofissional - serviço de saúde.
“...as coisas não ficam
soltas na assistência... segue aquele padrão... você não se perde... vai seguir
aquele protocolo... é o objetivo do cuidado.” (E2)
“A SAE é um instrumento que facilita a gente dar uma
assistência melhor ao paciente.” (E3)
“...a gente vai verificar
os problemas do paciente e tentar sistematizar através de diagnósticos...
tentar dar uma maior resolubilidade com as intervenções de enfermagem...” (E4)
“...é como se a gente
colocasse no papel e realmente tivesse como comprovar a assistência que a gente
presta para o paciente.” (E6)
“...vai proporcionar a ele
(paciente) um acompanhamento melhor... o acompanhamento vai ser melhor, a
equipe vai saber o que está sendo feito... o que é pra melhorar... o paciente
que não tem a SAE ... fica jogado ao serviço.” (T1)
“...ele vai se sentir mais
seguro... um ambiente mais humanizado... assistência quanto mais integrada pra
mim é melhor pra o paciente.” (T4)
Os enfermeiros e
técnicos de enfermagem participantes deste estudo reconhecem a SAE como uma
ferramenta útil para a organização e planejamento dos cuidados de enfermagem. A
SAE integra o processo assistencial do enfermeiro contribuindo para garantia da
qualidade da assistência, contemplando uma gama de ferramentas que inclui a
comunicação, a interação e a articulação das dimensões gerenciais e
assistenciais [8]. Outro aspecto relatado pelos participantes esteve
relacionado aos desafios para implementação da SAE na
sua prática de trabalho. Entre as dificuldades estavam a
alta demanda de pacientes, aos quais era necessário prestar o cuidado,
associado ao tempo e ao dimensionamento profissional insuficientes para
execução da assistência de forma integral.
O insuficiente
registro sistemático da SAE pode resultar em falta de visibilidade e de
reconhecimento profissional; comumente, vemos o enfermeiro executando
atividades que não lhes competem, causando uma sobrecarga de trabalho e, além
disso, ausência ou dificuldade de avaliação de sua prática, impedindo-o de
desempenhar corretamente o processo de enfermagem, ainda que, em sua prática
profissional, o processo de enfermagem não seja sistematizado [8-9].
A falta de um
protocolo, roteiro ou instrumento de SAE, evidencia um entrave no cotidiano do profissional
de Enfermagem. Dentre essas dificuldades, temos: a grande demanda de pacientes,
a consequência por ser um hospital de médio porte de porta aberta, além da
quantidade de leitos e de profissionais que compõem a instituição que são inadequados, tendo 150% de taxa de ocupação [6]. Para
melhoria das condições de trabalho relacionadas a este aspecto, a instituição
deve oferecer ferramentas que auxiliem a equipe, sistematizando a assistência
de enfermagem através dos planos de cuidados, dos protocolos, da padronização
de procedimentos e do processo de enfermagem [8].
Quanto ao relato
sobre a grande demanda, alguns profissionais preferem priorizar o atendimento
ao paciente devido à falta de tempo a realizar a SAE. Desta forma, o
profissional está sujeito a realizar um plano de cuidados superficial e/ou
incompleto. Entende-se que o caminho para resolução da falta de tempo é
justamente a implantação da SAE, pois estudos mostram que a mesma organiza e
dinamiza o serviço, tornando-o mais fluido [2,10].
Alguns entrevistados
referiram que, embora a alta demanda para realização
dos cuidados ao paciente seja uma realidade no serviço, existem meios
organizativos que podem viabilizar a SAE integralmente; assim, a variável tempo
não representaria um impedimento para sua implementação. Essa organização deve
ser efetivada através da implantação de sistemas de classificação que adotem
uma linguagem única e padronizada. O planejamento deve se adequar às
necessidades institucionais, de acordo com os valores, os recursos humanos e
suas funções, a estrutura política de gestão institucional, a capacitação
profissional, o perfil dos usuários, a sensibilização e o preparo de toda a
equipe de enfermagem, a definição do referencial teórico, a elaboração dos
instrumentos do Processo de Enfermagem e o preparo prático para a implementação da SAE, além de uma fiscalização realizada
pelos órgãos de classe [10].
Com relação à
formação profissional sobre a SAE, houve diferença no relato entre os
profissionais de nível técnico e superior. Entre os enfermeiros, a maioria
relatou que a SAE era abordada de forma superficial; já os técnicos de
enfermagem afirmaram que o tema era insuficiente ou ausente no conteúdo
teórico-prático da sua formação. A Resolução Cofen nº
358/2009 dispõe que a implementação da SAE deve
ocorrer em toda instituição da saúde, pública e privada, sendo atividade
privativa do enfermeiro, além de considerar que sua implementação constitui,
efetivamente, melhora na qualidade da Assistência de Enfermagem [3].
Contudo, a falha na
abordagem da SAE na formação da maioria desses profissionais, mesmo sendo uma
obrigatoriedade legal, pode ter implicação na sua falta de interesse em
conhecê-la, uma vez que existe oportunidade de acesso à informação fora do
nível de formação acadêmica (técnico ou superior). Apesar de haver oferta de
capacitação sobre o tema pela instituição, alguns não participam, levando ao
exercício de sua função de modo automático e empírico.
A capacitação
profissional é basal como forma de oferecer ferramentas para que os enfermeiros
desenvolvam os conhecimentos científicos, teóricos e práticos necessários ao
desempenho das funções do cuidar com arte, amor e ciência, e mesmo que o
serviço não ofereça capacitação/treinamento é preciso ter a motivação do
profissional em buscar o conhecimento através de outros meios [11]. Infere-se
que isso pode dificultar a adesão desse profissional como parte da equipe
multiprofissional para implementação da SAE, porque
uma vez que ele não teve subsídio, conhecimento, ele não se sente parte
importante e integrante para sua construção e implantação.
Na Resolução 272/2002
que dispõe sobre a SAE nas instituições de saúde brasileiras, o artigo 5º
refere que é de responsabilidade do COREN, em suas respectivas jurisdições,
zelar pelo cumprimento desta norma, porém faz-se necessário que a ordem de
classe coopere fiscalizando e exigindo a implementação
adequada [12].
A partir do
levantamento de informações sobre o conhecimento e a vivência dos aspectos
teórico-práticos que permeiam a SAE, o profissional de Enfermagem será capaz de
realizar uma avaliação pessoal sobre o tema e, possivelmente, preencher as
lacunas existentes.
Enfermeiros e
técnicos de enfermagem reconhecem a importância da implementação
da SAE e a identificam como condicionante fundamental para a melhora da
qualidade do cuidado, para a organização da equipe de enfermagem e a fluidez da
assistência de um modo global. No entanto, não vislumbram mobilizar-se para
tal, pois parecem atuar sem esse direcionamento.
O aspecto formativo
dos técnicos de enfermagem e enfermeiros surge como componente importante no caminho
para a mudança diante da notória escassez de conhecimento sobre a SAE,
decorrente, provavelmente, da insuficiente abordagem sobre o tema na sua
formação profissional, além da demonstrada falta de interesse em participar
desse processo.
Nota-se que o estudo
das percepções da equipe de enfermagem pesquisadas permitiu uma visão mais
abrangente sobre a temática, apontando o aspecto formativo dos técnicos de
enfermagem como elemento que precisa ser repensado, no que diz respeito à SAE,
e revelando que os técnicos de enfermagem se sentem motivados a participarem da
SAE e a buscar novos conhecimentos para a concretização dessa integração, porém
necessitam de apoio institucional. Por mais que a atividade seja privativa do
enfermeiro, a execução abrange toda a equipe de enfermagem; então, todos os
atores precisam estar envolvidos e capacitados.