ARTIGO ORIGINAL

Percepção do profissional de enfermagem sobre a sistematização da assistência de enfermagem

 

Ana Larice Gomes do Nascimento*, Emanoela Negreiro Coelho*, Flávia Emília Cavalcante Valença Fernandes**, Gerlene Grudka Lira***, Rachel Mola****

 

*Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE), **Enfermeira, Docente Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina, doutoranda em Inovação Terapêutica (UFPE), ***Enfermeira, Docente Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina, mestrado em Ciências da Saúde pela UFPE, ****Enfermeira, Docente Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) Campus Petrolina, doutoranda em Enfermagem pelo Programa Associado de Pós-Graduação em Enfermagem (UPE/UEPB)

 

Recebido em 18 de julho de 2018; aceito em 13 de setembro de 2018.

Endereço de correspondência: Rachel Mola, Rodovia BR 203, km 2, s/n, Vila Eduardo, 56328-903 Petrolina PE, E-mail: rachel.mola@upe.br; Ana Larice Gomes do Nascimento: ana_larice07@hotmail.com; Emanoela Negreiro Coelho: emanoelanegreiro@gmail.com; Flavia Emilia Cavalcante Valença Fernandes: flavia.fernandes@upe.br; Gerlene Grudka Lira: gerlene.grudka@upe.br

 

Resumo

A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) tem grande relevância no processo de trabalho da equipe de enfermagem, visando à excelência na qualidade de atenção à saúde do indivíduo, da família e da comunidade. O estudo tem como objetivo conhecer a percepção do profissional de enfermagem sobre a SAE, em um hospital de Petrolina/PE. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e qualitativo, realizado com 14 profissionais de enfermagem de nível técnico e superior. Os dados foram coletados no período de agosto a dezembro de 2017, por meio de entrevistas e analisados mediante técnica de análise de conteúdo de Bardin. As percepções dos profissionais de enfermagem resultaram nas categorias: SAE como ferramenta do planejamento dos cuidados de Enfermagem; desafios para implementação da SAE; e SAE proporcionando qualidade na assistência. Os profissionais de enfermagem reconhecem a importância da implementação da SAE e a identificam como condicionante fundamental para qualidade do cuidado, organização da equipe e fluidez da assistência global. O aspecto formativo surge como componente importante no caminho para a mudança, diante do predominante desconhecimento sobre a SAE, decorrente da provável escassez de abordagem sobre o tema na sua formação profissional, principalmente referente ao técnico de enfermagem.

Palavras-chave: processo de enfermagem, percepção, planejamento em saúde, cuidados de enfermagem, protocolos.

 

Abstract

Perception of the nursing professional about the systematization of nursing care

The Systematization of Nursing Assistance (SNA) has great relevance in the work process of the nursing team, aiming at excellence in the quality of health care to the individual, family and community. This study aims to know the nursing professional's perception about SNA, in a hospital in Petrolina/PE. This is an exploratory, descriptive and qualitative study carried out with 14 nursing professionals of technical and higher level. Data were collected from August to December 2017, through interviews and evaluated using Bardin content analysis technique. The perceptions of nursing professionals resulted in the following categories: SNA as a tool for nursing care planning; challenges to SNA implementation; and SNA providing quality care. Nursing professionals recognize the importance of SNA implementation and identify it as a fundamental condition for quality of care, team organization, and overall care fluency. The formative aspect emerges as an important component on the road to change, in the face of the predominant lack of knowledge about the SNA, due to the probable shortage of approach on the subject in its professional formation, mainly referring to the nursing technician.

Key-words: nursing process, perception, health planning, nursing care, protocols.

 

Resumen

Percepción del profesional de enfermería sobre la sistematización de la asistencia de enfermería

La Sistematización de la Asistencia de Enfermería (SAE) tiene gran relevancia en el proceso de trabajo del equipo de enfermería, buscando la excelencia en la calidad de atención a la salud del individuo, de la familia y de la comunidad. El estudio tiene como objetivo conocer la percepción del profesional de enfermería sobre la SAE, en un hospital de Petrolina/PE. Se trata de un estudio exploratorio, descriptivo y cualitativo, realizado con 14 profesionales de enfermería de nivel técnico y superior. Los datos fueron recolectados en el período de agosto a diciembre de 2017, por medio de entrevistas y evaluados mediante técnica de análisis de contenido de Bardin. Las percepciones de los profesionales de enfermería resultaron en las categorías: SAE como herramienta de la planificación de los cuidados de Enfermería; desafíos para la implementación de la SAE; y SAE proporcionando calidad en la asistencia. Los profesionales de enfermería reconocen la importancia de la implementación de la SAE y la identifican como condición fundamental para la calidad del cuidado, organización del equipo y fluidez de la asistencia global. El aspecto formativo surge como componente importante en el camino hacia el cambio, ante el predominante desconocimiento sobre la SAE, resultante de la probable escasez de abordaje sobre el tema en su formación profesional, principalmente referente al técnico de enfermería.

Palabras-clave: proceso de enfermería, percepción, planificación en salud, cuidados de enfermería, protocolos.

 

Introdução

 

O cuidado de enfermagem é desenvolvido com base em ações sistematizadas, organizadas e planejadas denominada Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), a qual deve ser realizada integralmente e individualmente [1]. A SAE tem grande relevância no papel da equipe de Enfermagem e no prognóstico do cliente, pois busca a partir de novos conhecimentos, recursos técnicos, científicos e humanos, favorecer a qualidade da assistência, possibilitando o reconhecimento e a valorização profissional, além da compreensão do homem como um ser social [2]. É definida como atividade privativa do enfermeiro que deve ser executada em ambientes públicos ou privados em que haja cuidados de enfermagem. A SAE é operacionalizada por meio do Processo de Enfermagem, o mesmo possui cinco etapas: coleta de dados; diagnóstico; planejamento; implementação e avaliação [3].

Os benefícios da SAE nos estabelecimentos de saúde incluem a segurança no planejamento, a execução e a avaliação das condutas de Enfermagem, a individualização da assistência, a visibilidade e a autonomia para o enfermeiro, além da elaboração de cuidados ao indivíduo e não apenas à doença, à diminuição do tempo de hospitalização e, consequentemente, à economia de recursos.

Apesar dos benefícios trazidos à equipe de Enfermagem, ao paciente e ao serviço de saúde, a implementação da SAE ainda é insuficiente ou ausente nos estabelecimentos de saúde, sofrendo interferências de vários fatores tais como: a falta de reconhecimento da equipe de Enfermagem, número insuficiente de profissionais de Enfermagem, falta de conhecimento e envolvimento sobre o processo, desvalorização profissional, e falta de indicadores de resultado da assistência [1]. A partir da compreensão do contexto da prática da SAE, o profissional poderá refletir sobre como contribuir para melhor desempenho da assistência do cuidado, mesmo ao atuar no campo de serviços de enfermagem que ainda não contemplem uma prática sistematizada [4].

A visualização da percepção dos enfermeiros e técnicos de enfermagem sobre a SAE, a análise dos fatores que influenciam sua implementação e os registros das vantagens e desafios da sua utilização no cotidiano são de suma importância para sugerir recursos que colaborem para sua introdução nos serviços de saúde. Com o propósito de identificar o conhecimento dos profissionais de enfermagem e aprimorar esta metodologia de trabalho, este artigo teve como objetivo conhecer a percepção do profissional de Enfermagem sobre a SAE em um hospital de Petrolina/PE.

 

Material e métodos

 

Esta pesquisa faz parte do projeto intitulado “Sistematização da Assistência de Enfermagem como ferramenta para a qualidade do cuidado”. É um estudo descritivo, exploratório, com abordagem qualitativa, cuja análise dos dados foi realizada mediante técnica de análise de conteúdo de Bardin, seguindo três etapas: leitura flutuante e exaustiva do material; resumo dos achados obtidos; e identificação dos conteúdos implícitos [5].

A pesquisa foi desenvolvida no Hospital Universitário (HU) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), no período de agosto a dezembro de 2017. A instituição está localizada no município de Petrolina/PE, possui 129 leitos, 11 ambulatórios, atende 53 municípios, abrangendo uma população de, aproximadamente, 2.068.000 habitantes nos estados de Pernambuco e Bahia. O hospital de médio porte é referência em neurologia/neurocirurgia e traumato-ortopedia, sendo administrado atualmente pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) [6].

Os dados foram colhidos com 14 profissionais de Enfermagem de nível técnico e superior, atuantes na referida instituição hospitalar. A seleção foi do tipo não probabilística por saturação dos discursos dos sujeitos [7]. O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, realizada mediante convite direto aos sujeitos nos setores da emergência, da clínica médica, da clínica cirúrgica, do bloco cirúrgico e da unidade de terapia intensiva.

Foram incluídos profissionais de Enfermagem de ambos os sexos, de nível técnico e superior, atuantes nos setores referidos da instituição hospitalar, de prestação da assistência direta ao paciente; e que aceitaram participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos os profissionais de Enfermagem, que, no período da coleta, encontravam-se de férias ou de licença e que desempenhavam atividades exclusivamente burocráticas/gerenciais.

Foi utilizado um roteiro de entrevista com questões sociodemográficas e de formação profissional, abertas, sobre a temática do estudo, coletadas com auxílio de gravador. Foi realizado, também, um teste piloto para possíveis adequações do instrumento e ajustes da condução da coleta pelos pesquisadores. As questões norteadoras da entrevista acerca da SAE foram: Na sua prática diária, o que significa a SAE pra você? De acordo com sua vivência profissional, qual a importância da SAE? Na sua formação, como era trabalhada a SAE? No seu setor, como você e a equipe aplicam a SAE? Quais as dificuldades enfrentadas para implementação da SAE? Qual a importância da aplicabilidade da SAE para o paciente?

As entrevistas ocorreram em ambiente privativo, na sala de apoio multiprofissional, presente em cada setor da instituição hospitalar, em momentos pré-agendados entre os pesquisadores e os sujeitos. Para garantia do anonimato das falas dos participantes, foi atribuído (E) para os enfermeiros e (T) para os técnicos de enfermagem, seguidos de um algarismo arábico correspondente ao número da entrevista realizada, compreendendo do E1 ao E7 e T1 ao T7. Os parênteses ao longo das falas significam palavras complementares ao entendimento do pesquisador, e as reticências foram para suprimir falas desnecessárias.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade de Pernambuco, sob número do CAAE: 57875216.2.0000.5207, obedecendo aos aspectos éticos determinados na Resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS).

 

Resultados

 

Participaram da pesquisa 14 profissionais de Enfermagem, os quais sete eram enfermeiros, e sete técnicos em enfermagem. Houve predominância do sexo feminino, com média de idade de 37 anos para os técnicos de enfermagem e de 32 anos para os enfermeiros. A média de formação foi de 12 anos para os técnicos de enfermagem e de 7 anos para os enfermeiros. A média do tempo de atuação foi de 9 anos para os técnicos de enfermagem e de 3,5 anos para os enfermeiros. Houve predominância da renda mensal acima de 3 salários mínimos. A maioria dos profissionais possuía especialização. A rede de formação profissional (privada ou pública) teve resultados iguais. O município de atuação no último ano da maioria foi Petrolina. A maioria não participou de aperfeiçoamento sobre SAE, apesar de quase todos referirem que existe oferta pela instituição de capacitação sobre a SAE.

Após a leitura flutuante e exaustiva dos dados, foram obtidos três temas de análise: SAE como ferramenta do planejamento dos cuidados de enfermagem; Desafios para implementação da SAE e SAE proporcionando qualidade na assistência.

 

SAE como ferramenta do planejamento dos cuidados de Enfermagem

 

Esse tema de análise surgiu a partir das falas das entrevistadas sobre o entendimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem como planejamento das ações, como organização do seu trabalho e da sua prática, como observado a seguir:

 

“A sistematização do atendimento... da assistência em enfermagem... essa rotina de balanço, de fichas... essa rotina pré-estabelecida... são as anotações, os registros diários, os formulários... os checklist, o sistema” (T2)

 

“...é nossa organização... planejamento de cuidado... precisa de nossa prescrição... cuidado 24 horas, contínuo...” (E5)

 

“...planejar os cuidados... executar e observar a resposta... e ver o resultado.” (E7)

 

Desafios para implementação da SAE

 

Nos relatos das entrevistadas, observa-se referências às dificuldades para implementar a SAE, entre elas: grande demanda de pacientes, falta de tempo e quantidade insuficiente de profissionais, como descrito nos depoimentos:

 

“...é bem dividido... a gente não faz ela (SAE) completa... a equipe é bem reduzida, sempre acaba um fazendo o serviço do outro... aqui (emergência) é mais o imprevisto das intercorrências... paciente um atrás do outro... as vezes não dá pra voltar e completar...” (T1)

 

“...a demanda de pacientes... tem a prescrição de enfermagem e tem a médica... é preciso priorizar um ou outro.” (T3)

 

“...falta tempo porque tem dia que está desfalcada (equipe)...nem sempre é possível fazer tudo direitinho.” (T6)

 

O contraponto em relação a esse aspecto do dimensionamento de profissionais é descrito nas falas de T7 e E1, em que se entendeu haver viabilidade na implementação da SAE, desde que haja uma organização:

 

“...muitas vezes demoram eles (enfermeiros) atualizarem (SAE)... fica desorganizado isso... talvez a demanda... mas tempo tem também, sei lá... acho que é organizar.” (T7)

 

“Não está documentado e nem respeita aquela linha das cinco etapas, mas a gente tenta fazer.” (E1)

 

Especialmente nas falas dos técnicos de enfermagem observou-se que os mesmos referiam não ter abordado essa temática no período de formação:

 

“No (ensino) técnico, não me lembro de ter tocado nesse assunto não.” (T1)

 

“...eu não sei o que é SAE, eu não sei, assim, a definição exatamente, não... na prática com certeza eu sei... essa sigla (SAE) eu não me lembro... Não tenho nem como dizer.” (T3)

 

“...eu não via muito (SAE).” (T5)

 

SAE proporcionando qualidade na assistência

 

Os benefícios da SAE são comprovados por meio dos relatos dos profissionais com relação à melhora clínica do paciente, pela organização e agilidade que oferece aos profissionais na execução de suas atividades, ampliando a qualidade da assistência prestada na tríade paciente - equipe multiprofissional - serviço de saúde.

 

“...as coisas não ficam soltas na assistência... segue aquele padrão... você não se perde... vai seguir aquele protocolo... é o objetivo do cuidado.” (E2)

 

“A SAE é um instrumento que facilita a gente dar uma assistência melhor ao paciente.” (E3)

 

“...a gente vai verificar os problemas do paciente e tentar sistematizar através de diagnósticos... tentar dar uma maior resolubilidade com as intervenções de enfermagem...” (E4)

 

“...é como se a gente colocasse no papel e realmente tivesse como comprovar a assistência que a gente presta para o paciente.” (E6)

 

“...vai proporcionar a ele (paciente) um acompanhamento melhor... o acompanhamento vai ser melhor, a equipe vai saber o que está sendo feito... o que é pra melhorar... o paciente que não tem a SAE ... fica jogado ao serviço.” (T1)

 

“...ele vai se sentir mais seguro... um ambiente mais humanizado... assistência quanto mais integrada pra mim é melhor pra o paciente.” (T4)

 

Discussão

 

Os enfermeiros e técnicos de enfermagem participantes deste estudo reconhecem a SAE como uma ferramenta útil para a organização e planejamento dos cuidados de enfermagem. A SAE integra o processo assistencial do enfermeiro contribuindo para garantia da qualidade da assistência, contemplando uma gama de ferramentas que inclui a comunicação, a interação e a articulação das dimensões gerenciais e assistenciais [8]. Outro aspecto relatado pelos participantes esteve relacionado aos desafios para implementação da SAE na sua prática de trabalho. Entre as dificuldades estavam a alta demanda de pacientes, aos quais era necessário prestar o cuidado, associado ao tempo e ao dimensionamento profissional insuficientes para execução da assistência de forma integral.

O insuficiente registro sistemático da SAE pode resultar em falta de visibilidade e de reconhecimento profissional; comumente, vemos o enfermeiro executando atividades que não lhes competem, causando uma sobrecarga de trabalho e, além disso, ausência ou dificuldade de avaliação de sua prática, impedindo-o de desempenhar corretamente o processo de enfermagem, ainda que, em sua prática profissional, o processo de enfermagem não seja sistematizado [8-9].

A falta de um protocolo, roteiro ou instrumento de SAE, evidencia um entrave no cotidiano do profissional de Enfermagem. Dentre essas dificuldades, temos: a grande demanda de pacientes, a consequência por ser um hospital de médio porte de porta aberta, além da quantidade de leitos e de profissionais que compõem a instituição que são inadequados, tendo 150% de taxa de ocupação [6]. Para melhoria das condições de trabalho relacionadas a este aspecto, a instituição deve oferecer ferramentas que auxiliem a equipe, sistematizando a assistência de enfermagem através dos planos de cuidados, dos protocolos, da padronização de procedimentos e do processo de enfermagem [8].

Quanto ao relato sobre a grande demanda, alguns profissionais preferem priorizar o atendimento ao paciente devido à falta de tempo a realizar a SAE. Desta forma, o profissional está sujeito a realizar um plano de cuidados superficial e/ou incompleto. Entende-se que o caminho para resolução da falta de tempo é justamente a implantação da SAE, pois estudos mostram que a mesma organiza e dinamiza o serviço, tornando-o mais fluido [2,10].

Alguns entrevistados referiram que, embora a alta demanda para realização dos cuidados ao paciente seja uma realidade no serviço, existem meios organizativos que podem viabilizar a SAE integralmente; assim, a variável tempo não representaria um impedimento para sua implementação. Essa organização deve ser efetivada através da implantação de sistemas de classificação que adotem uma linguagem única e padronizada. O planejamento deve se adequar às necessidades institucionais, de acordo com os valores, os recursos humanos e suas funções, a estrutura política de gestão institucional, a capacitação profissional, o perfil dos usuários, a sensibilização e o preparo de toda a equipe de enfermagem, a definição do referencial teórico, a elaboração dos instrumentos do Processo de Enfermagem e o preparo prático para a implementação da SAE, além de uma fiscalização realizada pelos órgãos de classe [10].

Com relação à formação profissional sobre a SAE, houve diferença no relato entre os profissionais de nível técnico e superior. Entre os enfermeiros, a maioria relatou que a SAE era abordada de forma superficial; já os técnicos de enfermagem afirmaram que o tema era insuficiente ou ausente no conteúdo teórico-prático da sua formação. A Resolução Cofen nº 358/2009 dispõe que a implementação da SAE deve ocorrer em toda instituição da saúde, pública e privada, sendo atividade privativa do enfermeiro, além de considerar que sua implementação constitui, efetivamente, melhora na qualidade da Assistência de Enfermagem [3].

Contudo, a falha na abordagem da SAE na formação da maioria desses profissionais, mesmo sendo uma obrigatoriedade legal, pode ter implicação na sua falta de interesse em conhecê-la, uma vez que existe oportunidade de acesso à informação fora do nível de formação acadêmica (técnico ou superior). Apesar de haver oferta de capacitação sobre o tema pela instituição, alguns não participam, levando ao exercício de sua função de modo automático e empírico.

A capacitação profissional é basal como forma de oferecer ferramentas para que os enfermeiros desenvolvam os conhecimentos científicos, teóricos e práticos necessários ao desempenho das funções do cuidar com arte, amor e ciência, e mesmo que o serviço não ofereça capacitação/treinamento é preciso ter a motivação do profissional em buscar o conhecimento através de outros meios [11]. Infere-se que isso pode dificultar a adesão desse profissional como parte da equipe multiprofissional para implementação da SAE, porque uma vez que ele não teve subsídio, conhecimento, ele não se sente parte importante e integrante para sua construção e implantação.

Na Resolução 272/2002 que dispõe sobre a SAE nas instituições de saúde brasileiras, o artigo 5º refere que é de responsabilidade do COREN, em suas respectivas jurisdições, zelar pelo cumprimento desta norma, porém faz-se necessário que a ordem de classe coopere fiscalizando e exigindo a implementação adequada [12].

A partir do levantamento de informações sobre o conhecimento e a vivência dos aspectos teórico-práticos que permeiam a SAE, o profissional de Enfermagem será capaz de realizar uma avaliação pessoal sobre o tema e, possivelmente, preencher as lacunas existentes.

 

Conclusão

 

Enfermeiros e técnicos de enfermagem reconhecem a importância da implementação da SAE e a identificam como condicionante fundamental para a melhora da qualidade do cuidado, para a organização da equipe de enfermagem e a fluidez da assistência de um modo global. No entanto, não vislumbram mobilizar-se para tal, pois parecem atuar sem esse direcionamento.

O aspecto formativo dos técnicos de enfermagem e enfermeiros surge como componente importante no caminho para a mudança diante da notória escassez de conhecimento sobre a SAE, decorrente, provavelmente, da insuficiente abordagem sobre o tema na sua formação profissional, além da demonstrada falta de interesse em participar desse processo.

Nota-se que o estudo das percepções da equipe de enfermagem pesquisadas permitiu uma visão mais abrangente sobre a temática, apontando o aspecto formativo dos técnicos de enfermagem como elemento que precisa ser repensado, no que diz respeito à SAE, e revelando que os técnicos de enfermagem se sentem motivados a participarem da SAE e a buscar novos conhecimentos para a concretização dessa integração, porém necessitam de apoio institucional. Por mais que a atividade seja privativa do enfermeiro, a execução abrange toda a equipe de enfermagem; então, todos os atores precisam estar envolvidos e capacitados.

 

Referências

 

  1. Santos WN. Systematization of nursing care: the historical context, the process and obstacles to deployment. J Manag Prim Health Care 2014;5(2):153-8.
  2. Chaves RRG, Silva CFM, Mota E, Ribeiro EDLM, Andrade YNL. Sistematization of nursing care: overview of nurses. Rev Enferm UFPE on line 2016;10(4):1280-5.
  3. Brasil. Resolução COFEN nº 358 de 2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes público ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. [citado 2018 Jun 8]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br
  4. Silva RS, Almeida ARLP, Oliveira FA, Oliveira AS, Sampaio MRFB, Paixão GPN. Sistematização da assistência de enfermagem na perspectiva da equipe. Enferm Foco 2016;7(2):32-6. https://doi.org/10.21675/2357-707x.2016.v7.n2.803 
  5. Bardin L. Análise de conteúdo. 4 ed. São Paulo: Edições 70; 2011.
  6. Ministério da Educação. Portal EBSERH/HU-UNIVASF - Hospital de Ensino da Universidade Federal do Vale do São Francisco. [citado 2018 Jun 8]. Disponível em: http://www.ebserh.gov.br/web/hu-univasf/especialidades.
  7. Pereira MG. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. 1 ed. Rio de Janeiro: Ganabara Koogan; 2012.
  8. Soares MI, Resck ZMR, Terra FS, Camelo SHH. Systematization of nursing care: challenges and features to nurses in the care management. Esc Anna Nery 2015;19(1):47-53. https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150007
  9. Ferraz C, Michelly K, Gonçalves S, Castro M, Duran M, Christiane E. Percepção dos graduandos de enfermagem sobre a sistematização da assistência de enfermagem perioperatória. Rev Enferm UFPE on line 2016;10(6):2108-15.
  10. Salvador PTCO, Alves KYA, Ribeiro JLS, Martins CCF, Santos VEP, Tourinho FSV. The sistematization of nursing care as instrument of empowerment: integrative review. J Nurs UFPE on line 2015;9(5):7947-56. https://doi.org/10.5205/1981-8963-v9i5a10545p7947-5956-2015
  11. Pallarés EC, Xavier LF, Oliveira OD, Moraes Júnior SLA, Silva SBM. Sistematização da assistência de enfermagem: a percepção dos enfermeiros de um município de Rondônia. Revista Nursing 2017;20(234):1936-9.
  12. Brasil. Resolução COFEN nº 271 de 2002. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) nas Instituições de Saúde Brasileiras. [citado 2017 Nov 6]. Disponível em: http://www.cofen.gov.br