REVISÃO
Prevenção
da gravidez na adolescência no Brasil
Alessandra Lima Vicentim, M.Sc.*, Alessandra Marinela de Abreu Queiroz**, Natália Sperli
Geraldes Marin dos Santos Sasaki***, Maria de Lourdes
Sperli Geraldes Santos, D.Sc.****
*Enfermeira
Obstétrica, servidora pública da Secretaria Municipal de Saúde de São José do
Rio Preto/SP, docente do Curso de Enfermagem da União das Faculdades dos
Grandes Lagos (Unilago), **Enfermeira, discente do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do
Rio Preto (FAMERP), docente do Curso de Enfermagem da União das Faculdades dos
Grandes Lagos (Unilago), ***Enfermeira Obstétrica,
docente e coordenadora do Curso de Enfermagem da União das Faculdades dos
Grandes Lagos (Unilago), docente do Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto
(FAMERP), ****Enfermeira, professora adjunta IV da Faculdade de Medicina de São
José do Rio Preto (FAMERP) e docente da Graduação e Pós-Graduação em Enfermagem
da FAMERP
Recebido em 28 de
agosto de 2018; aceito em 14 de abril de 2019.
Correspondência: Alessandra Lima Vicentim, Rua Pedro Amaral, 1020/01, 15025-043 São José do
Rio Preto SP
Alessandra Lima
Vicentim:alessandravicentim@gmail.com
Alessandra Marinela de Abreu Queiroz: alessandramarinela@hotmail.com
Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki:
nsperli@gmail.com
Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos: mlsperli@gmail.com
Resumo
Introdução: A gravidez na
adolescência ainda é uma questão preocupante para a saúde pública devido às
implicações tanto no presente quanto no futuro. Objetivo: Analisar as publicações disponíveis sobre ações
desenvolvidas pela Atenção Básica para prevenção da gravidez na adolescência no
Brasil. Métodos: Revisão integrativa
nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), U.S. National Library of
Medicine (Pubmed), Scientific Electronic
Library Online (Scielo), Periódicos CAPES e Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature (CINAHL), no período de junho a julho de
2018. Resultados: Foram incluídos
cinco artigos no estudo, que mostram que a Atenção Básica trabalha na prevenção
da gravidez na adolescência por meio de orientações individuais em consultas,
estratégias de educação em saúde, grupos de adolescentes e utiliza estratégias
junto à escola, família e comunidade. Conclusão:
As estratégias para a prevenção devem ser efetivas e a equipe da Atenção
Básica, destacando-se aqui o papel do enfermeiro como parte desta equipe, é
essencial para a realização dessas estratégias de prevenção, seja dentro da
unidade básica de saúde, junto à escola, família, comunidade e outros
contextos.
Palavras-chave:
gravidez na
adolescência, atenção primária à
saúde, prevenção de doenças,
educação em
saúde, cuidados de enfermagem.
Abstract
The
prevention of adolescent pregnancy in Brazil
Introduction:
Adolescent pregnancy is still a concern for the public health, since it can
present several implications either in the present or in the future time. Objective: To analyze the publications
available on the actions developed by the Primary Health Care service for the
prevention of adolescent pregnancy in Brazil. Methods: Integrative review on databases such as the Virtual Health
Library (VHL), U.S. National Library of Medicine (Pubmed),
Scientific Electronic Library Online (Scielo), CAPES
periodicals and Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature
(CINAHL) from June to July 2018. Results:
Five articles included in the study have showed that Primary Health Care in
Brazil has been working to prevent adolescent pregnancy through individual
counseling, health education strategies, adolescent groups, and has been using
strategies in school, family, and community. Conclusion: Prevention strategies should be effective, and the
primary health care team is essential for the implementation of these prevention
strategies. The nurses´ role should be stand out as part of this team into the
Primary Health Care service as well as close to the school, family, community
and other settings.
Key-words: pregnancy in
adolescence, primary health care, disease prevention, health education, nursing
care.
Resumen
Prevención del
embarazo en la adolescencia en Brasil
Introducción: El embarazo en la adolescencia
sigue siendo una cuestión preocupante para la salud pública, pues puede tener varias implicaciones tanto en el presente como en el futuro. Objetivo:
Analizar las publicaciones disponibles sobre las acciones desarrolladas
por la atención básica para
prevención del embarazo en la
adolescencia en Brasil. Métodos: Revisión
integrativa en las bases de
datos Biblioteca Virtual en
Salud (BVS), U.S.
National Library of
Medicine (Pubmed), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Periódicos CAPES y Cumulative Index to
Nursing & Allied Health
Literature (CINAHL), en
el período de junio a julio de 2018. Resultados:
Se incluyeron 5 artículos en
el estudio, que muestran que la atención básica en Brasil ha trabajado la
prevención del embarazo en la
adolescencia por medio de orientaciones individuales en consultas, estrategias de educación en salud,
grupos de adolescentes, y ha utilizado estrategias
junto a la escuela, familia y comunidad. Conclusión: Las estrategias para la prevención deben ser efectivas y el equipo de atención básica, resaltamos aquí el papel del
enfermero como parte de este equipo, es esencial para la realización de esas estrategias de prevención, sea dentro de la unidad básica de salud, junto a la escuela,
familia, comunidad y otros contextos.
Palabras-clave: embarazo
en adolescencia, atención primaria de salud, prevención de enfermedades, educación en salud,
atención de enfermería.
A gravidez na
adolescência é uma questão preocupante para a saúde pública, geralmente
associada a falta de conhecimento dos métodos anticoncepcionais, porém, pode
estar incluída no projeto de vida da adolescente [1-4]. Esta fase compreende a
faixa etária dos 10 aos 19 anos, entre infância e vida adulta, em que ocorrem
diversas transformações no indivíduo [1,5].
Em 2016, o país
apresentou 24.135 gestantes na faixa etária de 10 a 14 anos e 477.246 de 15 a
19 anos [6]. No estado de São Paulo, esse número foi respectivamente 2.690 e
76.607 [6]. Isto revela um desafio enfrentado pelos profissionais de saúde
devido ao risco de abortos provocados que evoluem para problemas obstétricos e
possibilidade de risco psicossocial para a adolescente [1-4,7].
Outro
fator relevante
para o desenvolvimento das ações de
prevenção e controle é a atitude dos
adolescentes em relação a busca por atenção
à saúde, que interfere na
vulnerabilidade individual, principalmente na aquisição
de comportamentos de
risco. Assim, os profissionais de saúde precisam criar
estratégias que
contemplem ações voltadas para a
identificação destas vulnerabilidades e
facilitar o acesso desta população aos serviços de
saúde, principalmente na
atenção básica [8]. É nela que as
ações de promoção devem ser intensificadas,
tanto no âmbito individual como no coletivo, sendo desenvolvidas
na unidade de
saúde e no território, buscando parcerias intersetoriais
e com a comunidade. As
parcerias são essenciais, pois proporcionam acesso a
informações e contribuem
para a formação de vínculo e acolhimento [2,3].
Os serviços de saúde
precisam buscar estratégias para aperfeiçoamento e melhorar a qualidade dos
profissionais que atuam diretamente com esta população [2]. O enfermeiro tem
papel essencial na abordagem do adolescente, principalmente como educador,
utilizando-se de várias estratégias para promoção da saúde e prevenção de
agravos [2].
Diante disso, este
estudo teve como objetivo analisar as publicações disponíveis sobre as ações
desenvolvidas pela Atenção Básica para prevenção da gravidez na adolescência no
Brasil.
Trata-se de uma revisão
integrativa da literatura organizada de acordo com as etapas: 1) Identificação
da questão da pesquisa; 2) Busca na literatura; 3) Categorização e avaliação
dos estudos; 4) Interpretação dos resultados e; 5) Síntese do conhecimento [9].
A
questão norteadora
foi “Quais ações de prevenção da
gravidez na adolescência a Atenção Básica
desenvolve no Brasil?”. Para responder a esta questão
optou-se pela busca nos
seguintes locais: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), U.S. National Library of
Medicine (Pubmed), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Periódicos CAPES e Cumulative Index to Nursing
& Allied Health Literature
(CINAHL).
Os critérios de
inclusão estabelecidos foram: artigos originais, publicados nos idiomas inglês,
português e espanhol disponíveis na íntegra nas bases de dados. Foram excluídas
teses, dissertações, monografias, trabalhos de conclusão de curso, textos,
cartas, revisões de literatura e repetições nas bases.
A coleta de dados
realizou-se no período de junho a julho de 2018 por três pesquisadores de forma
independente com 100% de concordância entre eles. Para a busca foram utilizados
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH) e em todas as
buscas utilizou-se o filtro para os idiomas inglês, português e espanhol para
obtenção dos resultados. Foram utilizadas as seguintes
combinações de descritores:
desc 1: pregnancy in adolescence AND
primary health care, desc 2: pregnancy
AND adolescent AND primary health care; desc 3: pregnancy in adolescence AND disease prevention; desc 4: health education AND pregnancy in
adolescence; desc 5: pregnancy in
adolescence AND sex education, desc 6: nursing
care AND pregnancy in adolescence, desc 7: pregnancy in adolescence AND prevention. Na CAPES não foi
possível a busca pelo desc 2. Apenas na Pubmed, como desc 3 utilizou-se pregnancy in adolescence
AND prevention and control. O desc 7 foi
utilizado apenas nas bases Scielo, CAPES e CINAHL.
Para extração dos dados
dos artigos incluídos nesta revisão, foi utilizado um instrumento de coleta de
dados validado previamente [10] e organizado nos seguintes itens: 1) Dados de
identificação do estudo; 2) Introdução e objetivo; 3) Características
metodológicas; 4) Resultados; 5) Conclusões. Os níveis de evidência foram
classificados de acordo com a literatura [11].
Por se tratar de estudo
de revisão, portanto de estudos disponíveis na internet, não houve a
necessidade de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa.
Dos 11 artigos
incluídos neste estudo, vários estavam duplicados em mais de uma busca, e, após
aplicado os critérios de exclusão, somente cinco foram incluídos no estudo
(Figura 1).
Na BVS foram
encontrados 2146 estudos com a combinação dos descritores do DeCS: desc 1 - pregnancy in adolescence
AND primary health care (n=157, 1 incluído), desc
2 - pregnancy AND adolescent
AND primary health care (n=430, 1 incluído); desc
3 - pregnancy in adolescence
AND disease prevention
(n=3, nenhum incluído); desc 4 - health education AND pregnancy
in adolescence (n=362, 2 incluídos); desc 5 - pregnancy in adolescence AND sex education
(n=1115, 1 incluído); e desc 6 - nursing care AND pregnancy
in adolescence (n=79, nenhum incluído).
Na Pubmed foram encontrados 4768 estudos com a combinação dos descritores do MeSH: desc 1 - pregnancy
in adolescence AND primary health care (n=136); desc 2 - pregnancy AND adolescent AND primary health
care (n=662); desc 3 - pregnancy in
adolescence AND prevention and control (n=1603); desc 4 - health education AND pregnancy in
adolescence (n= 1350); desc 5 - pregnancy in adolescence AND sex education
(n=854); e desc 6 - nursing care AND pregnancy
in adolescence (n= 163). Nenhum estudo foi incluído.
Na Scielo
encontraram-se 92 estudos através da opção todos os índices com as seguintes
combinações: desc 1 - pregnancy in adolescence
AND primary health care (n=11, nenhum incluído); desc
2 - pregnancy AND adolescent
AND primary health care (n=17, 1 incluído); desc
3 - pregnancy in adolescence
AND disease prevention
(n=0); desc 4 - health education AND pregnancy
in adolescence (n=10, 1 incluído); desc 5 - pregnancy in adolescence AND sex education
(n=16, nenhum incluído); desc 6 - nursing care AND pregnancy
in adolescence (n=1, nenhum incluído); e desc 7 - pregnancy in adolescence AND prevention
(n=37, 2 incluídos).
No Periódicos CAPES
encontraram-se 1402 estudos através da opção assunto com as seguintes
combinações: desc 1 - pregnancy in adolescence AND primary
health care (n=70,
nenhum incluído); desc 2 - pregnancy AND adolescent AND primary
health care (não
pesquisado); desc 3 - pregnancy in adolescence AND disease
prevention (n=101, nenhum incluído); desc 4 - health education AND pregnancy in adolescence (n=244, 1 incluído); desc
5 - pregnancy in adolescence
AND sex education (n=248, nenhum incluído); desc 6 - nursing care AND pregnancy in adolescence (n= 46, nenhum incluído); e desc 7 - pregnancy in adolescence AND prevention
(n=693, 1 incluído).
Na CINAHL encontraram-se 2117 estudos através da opção assunto com as seguintes combinações: desc 1 - pregnancy in adolescence AND primary health
care (n=49); desc 2 - pregnancy AND
adolescent AND primary health care (n=16); desc 3 - pregnancy in adolescence AND disease prevention (n=55); desc 4 - health education AND pregnancy in
adolescence (n=234); desc 5 - pregnancy
in adolescence AND sex education (n=504); desc 6 - nursing care AND pregnancy in adolescence (n=14); e desc 7 - pregnancy in adolescence AND prevention
(n=1245). Nenhum
estudo foi incluído.
A grande maioria das
publicações excluídas referem-se ao perfil das gestantes adolescentes, fatores
socioeconômicos e obstétricos, estudos qualitativos envolvendo a gestação e
estudos que não envolviam a Atenção Básica, e sim, o setor da educação. Muitos
estudos foram excluídos por não serem artigos, e sim, por exemplo, trabalhos de
conclusão de curso, teses, dissertações e monografias.
Figura 1 - Resultado de busca e seleção de artigos para revisão integrativa
segundo descritores (DeCS e MeSH)
e filtro para os idiomas inglês, português e espanhol, São José do Rio
Preto/SP, 2018.
Os artigos selecionados
foram publicados entre o ano de 2008 e 2016, e destes, 60% foram publicados por
periódicos de enfermagem. Em relação ao Qualis na
área de enfermagem, 60% possuem Qualis B1, 20% A2 e
20% B4 [12]. Todos os artigos possuem nível de evidência IV, pois são estudos
descritivos [11] (Quadro 1).
Quadro 1 - Distribuição dos estudos por autor, ano de publicação,
periódico/revista, Qualis do periódico e nível de
evidência.
Como resultado
verifica-se que enfermeiros e médicos realizam atendimento aos adolescentes com
frequência em suas unidades de saúde, porém não de forma sistematizada. Nestes
atendimentos a maioria afirma realizar orientações sobre infecções sexualmente
transmissíveis, uso de preservativo e gravidez [13].
Além das ações
programáticas e preventivas na unidade de saúde, alguns enfermeiros referem que
a equipe tem realizado atividades com os adolescentes na comunidade e na escola
[13]. No tocante à promoção da saúde do adolescente, esta é trabalhada de forma
individual, na consulta de enfermagem, e coletivamente nos grupos de
adolescentes, como estratégias de educação em saúde adotadas em suas práticas
[14].
A orientação sexual na
escola se mostra como uma oportunidade de reflexão e discussão, e incentiva que
os adolescentes vejam a unidade de saúde como referência para suas necessidades
[15]. A realização de oficinas pela equipe de saúde neste local otimiza o
espaço para a prevenção e a promoção da saúde sexual e reprodutiva do
adolescente [15].
A comunidade também é
vista como parceira no desenvolvimento de atividades educativas sob uma
perspectiva pautada na participação e emancipação [16].
Por fim, profissionais
de saúde da Atenção Básica integram a estratégia preventiva de dar acesso ao
contraceptivo de emergência a adolescentes, mas o fazem numa perspectiva
multiprofissional, encaminhando as adolescentes aos grupos de planejamento
familiar, a consultas médicas, principalmente de ginecologistas [17]. Diante
dos resultados encontrados, verifica-se que 100% dos artigos mostram a educação
em saúde como forma de prevenção da gravidez na adolescência, seja de forma
individual ou coletiva (Quadro 2).
Quadro 2 - Síntese dos artigos selecionados com objetivo, método e principais
conclusões.
No Brasil, a proporção
de nascidos vivos de mães adolescentes passou de 19,77%, em 1994, para 18,15%,
em 2015, mostrando uma estabilidade [6]. Porém, quando separado entre as faixas
etárias de 10 e 14 anos e 15 a 19 anos, nota-se uma evolução diferente, 0,69%
para 0,88% para a primeira faixa e, de 19,08% para 17,26% para a segunda faixa
[6]. No estado de São Paulo, o percentual total de gravidez na adolescência
passou de 18,18%, em 1994, para 13,82%, em 2015, com forte declínio, fato este devido
ao grupo das adolescentes de 15 a 19 anos que passou de 17,65% para 13,32%,
pois o grupo das adolescentes de 10 a 14 anos passou de 0,53% para 0,50%,
mostrando estabilidade [6].
A gravidez na
adolescência continua um problema de saúde pública, não somente no Brasil, mas
em países desenvolvidos e países com leis liberais de aborto, como Estados
Unidos, com maior taxa (57 gestações/1000 mulheres) e Suíça com menor taxa (8
gestações/1000 mulheres) [18]. Nesta fase da vida, pode trazer implicações negativas
como abandono das atividades escolares, riscos para o feto e para a mãe,
conflitos na família, discriminação social, afastamento de grupos de
convivência, adiamento ou destruição de sonhos e planos, sentimento de perda,
tristeza, solidão, isolamento, preocupações, desemprego ou ingresso no mercado
de trabalho não qualificado, impossibilidade de completar a função da
adolescência, dependência financeira e impossibilidade de estabelecer uma
família com plena autonomia, autogestão e projeto de futuro [3,4].
Para tanto são
necessárias ações eficazes voltadas para esta população, com o desenvolvimento
de orientações claras e acessíveis sobre o processo reprodutivo, planejamento
familiar, tipos e uso correto de métodos contraceptivos, opções e negociações
entre os parceiros desses métodos, sensibilização sobre as consequências de uma
gravidez não planejada e das infecções sexualmente transmissíveis para
empoderar os jovens para uma atividade sexual saudável [2].
É papel da atenção
básica o planejamento de ações programáticas para esta população, visando a
prevenção da gravidez [13]. Estas ações podem ser desenvolvidas no âmbito
individual, consultas, como coletivamente, em grupos de discussão tanto no
território como na unidade de saúde [13-17].
Alguns fatores podem
contribuir negativamente para o desenvolvimento da gestação nesta fase, como a
falta de diálogo e informação dentro do ambiente familiar, abordagem inadequada
dos temas nas escolas, pouca articulação do serviço de saúde com a comunidade e
precariedade das políticas públicas [19].
A falta de ações
programáticas, sistematizadas para adolescentes e a priorização de outras
populações contribuem para a ineficácia das ações prestadas [13]. Apesar do
contato diário das equipes com esta população, as intervenções preventivas são
insuficientes, pois o acesso deste grupo etário se limita a demanda espontânea,
e quando a adolescente chega ao serviço geralmente já está grávida [13].
A educação em saúde é
considerada como estratégia essencial para conter o aumento da gravidez na
adolescência [14-16,20], sendo o enfermeiro o principal responsável pelo seu
desenvolvimento a partir de ações interdisciplinares de educação sexual que
integrem família, escola e comunidade [14-16]. A comunidade como parceira na
realização de atividades educativas contribui para a identificação do problema,
verifica potencialidades, traça estratégias para a resolução e as executa em
conjunto com as equipes de saúde [16,20].
Os profissionais de
saúde podem utilizar como método de abordagem dos adolescentes as oficinas de
educação em saúde, tidas como oportunidade de reflexão e discussão, ampliando o
conhecimento sobre sexualidade e vulnerabilidade nesta fase de vida, em um
espaço favorável à expressão e familiar para o adolescente [15].
A literatura revela que
as abordagens com maior impacto para redução da ocorrência de gestações
precoces são educação sexual compreensiva, prevenção de reincidência de
gravidez e programas de abstinência [20].
Além disto, o
envolvimento da família durante as ações de promoção e prevenção da gravidez na
adolescência garante uma responsabilidade desta durante o processo, gerando
conhecimentos relevantes para promover a orientação eficaz dos filhos,
prevenindo a gravidez e até causando o adiamento do início da vida sexual [21].
Os
profissionais da
atenção básica realizam orientações
sobre o uso de diversos métodos
anticoncepcionais para a prevenção da gravidez na
adolescência [17]. Durante
uma consulta de enfermagem, enfermeiros consideram relevante a
discussão de
alguns assuntos, como sexualidade, prevenção de
infecções sexualmente
transmissíveis, gravidez, oferecimento de métodos
contraceptivos, uso adequado
desses métodos e planejamento familiar. Também se
destacam a importância de
alguns fatores no trabalho com adolescentes, como
infecções sexualmente
transmissíveis, álcool e outras drogas, gravidez precoce
e concepção familiar.
Diante disso, várias ações de
prevenção podem ser desenvolvidas, como:
distribuição
de contraceptivos, panfletos e cartilhas, palestras,
orientações individuais,
dinâmicas e grupos operativos [22].
Apesar disto, existem
barreiras para o desenvolvimento das ações de promoção e prevenção em saúde
para os adolescentes, como dificuldades nas ações prestadas pelas equipes e de
acesso desta população em busca das ações [3].
Para que as ações de
educação em saúde nas escolas e comunidade sejam eficazes, elas devem ser
programáticas e sistematizadas mais de uma vez ao ano. Além disto, a falta de
adesão dos adolescentes, de capacitação profissional, de infraestrutura, de
planejamento, de colaboração da direção das escolas, excesso de trabalho e
falta de comunicação entre as equipes são considerados como fatores negativos
na realização destas ações [22].
Os adolescentes
consideraram importante a prevenção da gravidez na adolescência para manutenção
de suas atividades de lazer, sua liberdade, manutenção da própria adolescência,
além de propiciar maiores oportunidades para um futuro melhor, emprego,
continuidade dos estudos e evitar conflitos familiares e preconceito da
sociedade. Porém, apesar de considerarem positiva esta prevenção e expressarem
conhecimento sobre os métodos contraceptivos, não sabem utilizá-los corretamente.
As barreiras no acesso aos serviços de saúde para prevenção referem-se
principalmente à qualidade do atendimento oferecido e ao constrangimento que
sentem em função desse tipo de assistência à saúde. Tal achado demonstra que as
ações educativas muitas vezes não são efetivas e que devem combater as
barreiras que afastam o serviço de saúde desses adolescentes, melhorando o
acolhimento e fortalecendo o vínculo para conseguir um diálogo efetivo e a
inclusão desses adolescentes nas estratégias de prevenção [3].
A
concepção de saúde
agregada ao modelo biomédico pode ser uma das justificativas
para a não adesão
do adolescente às ações de promoção
à saúde. Cabe aos profissionais de saúde,
pais e educadores a função de garantir o conhecimento
necessário para melhoria
da adesão aos serviços de saúde por esta
população, diminuindo assim a
vulnerabilidade individual [8].
Este estudo revela uma
lacuna nas publicações referente à questão estudada e também o baixo nível de
evidência dos estudos incluídos, pois todos apresentaram nível de evidência IV
[11]. Verifica-se a necessidade de realização de mais estudos sobre o tema,
principalmente de estudos com melhor nível de evidência, ou seja, com
delineamento de pesquisa quase-experimental, experimental ou resultado de
meta-análise de estudos clínicos controlados e randomizados.
Nota-se que a
literatura brasileira é ineficiente em relação a estudos que abordem a
efetividade de programas dirigidos à prevenção da gravidez na adolescência com
intervenções e capacitações de profissionais da Atenção Básica para o
desenvolvimento de melhores estratégias para esta prevenção. Observa-se ainda
uma lacuna nas publicações referentes à questão estudada e a necessidade de
realização de mais estudos sobre o tema, principalmente de estudos com melhor
nível de evidência. A Atenção Básica no Brasil tem trabalhado a prevenção da
gravidez na adolescência por meio de orientações individuais em consultas de
enfermagem e/ou de outros profissionais; tem feito uso de estratégias de
educação em saúde e grupos de adolescentes, e tem utilizado estratégias junto à
escola, família e comunidade. As estratégias para a prevenção devem ser
efetivas e a equipe da atenção básica, ressaltando o papel do enfermeiro como
parte desta equipe, é essencial para a realização dessas estratégias de
prevenção, seja dentro da unidade básica de saúde, junto à escola, família,
comunidade e outros setores.