ARTIGO
ORIGINAL
Características
clínicas e epidemiológicas de idosos com hanseníase atendidos em um Hospital de
Ensino no Nordeste do Brasil
Wesley da Silva
Marques*, Rita da Graça Carvalhal Frazão Corrêa**, Kezia
Cristina Batista dos Santos***, Aruse Maria Marques
Soares***, Mara Ellen Silva Lima***, Dorlene Maria
Cardoso de Aquino**
*Graduando
em Enfermagem pela Universidade Federal da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA), **Docente do Departamento de Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), ***Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
Recebido em 12 de
setembro de 2018; aceito em 10 de janeiro de 2019.
Correspondência: Kezia
Cristina Batista dos Santos, Avenida Luizão, 49, 65068-619 São Luís MA, E-mail:
kezia_cristinabs@hotmail.com; Wesley da Silva Marques: wesleymarx13@gmail.com;
Rita da Graça Carvalhal Frazão Corrêa: ritacarvalhal@hotmail.com; Aruse Maria Marques Soares: arusenet@hotmail.com; Mara
Ellen Silva Lima: maraellens@hotmail.com; Dorlene
Maria Cardoso de Aquino: dorlene@elointernet.com.br.
Resumo
Objetivo: Descrever o perfil
clínico e epidemiológico dos casos de hanseníase em idosos atendidos em um
Hospital de Ensino em São Luís/MA. Métodos:
Estudo descritivo, retrospectivo e quantitativo realizado por meio da ficha de
notificação e dados de prontuário. Foram analisados 100 prontuários de idosos
do Programa de Controle da Hanseníase (PCH) de um hospital de ensino. Os dados
foram coletados por meio de formulário semiestruturado contendo variáveis
socioeconômicas e clínicas. Resultados:
No período de 2005-2010 foram notificados 632 casos de hanseníase, dos quais
100 foram em idosos, correspondendo a 15,8% dos casos. A maioria dos idosos era
do sexo feminino (53,0%), na faixa etária de 60-69 anos (61,0%), cor parda
(26,0%) e procedente da capital (79,0%). Quanto aos aspectos clínicos, 40,0%
eram da forma dimorfa e 61,0% classificados como multibacilar. Todos os idosos aderiram ao esquema
terapêutico com poliquimioterapia e 71,0%
apresentaram cura. O grau de incapacidade I foi predominante (40,0%) no início,
entretanto observou-se que a maioria dos pacientes apresentou algum grau de
incapacidade. Apresentaram reação 17,0%, sendo mais frequente a do tipo I. Conclusão: Os idosos foram
diagnosticados de forma tardia, pela forma clínica e frequência de algum grau
de incapacidade.
Palavras-chave: epidemiologia,
hanseníase, idoso, perfil de saúde.
Abstract
Clinical
and epidemiological characteristics of elderly people with leprosy attended at
a Teaching Hospital in northeastern Brazil
Objective: To describe
the clinical and epidemiological profile of leprosy cases in the elderly
attended at a Teaching Hospital in São Luís/MA. Methods: Descriptive, retrospective and quantitative study carried
out by means of the notification form and medical records data. A total of 100
medical records of the elderly of the Leprosy Control Program (LCP) of a
teaching hospital were analyzed. Data were collected through a semi-structured
form containing socioeconomic and clinical variables. Results: In the period 2005-2010, 632 cases of leprosy were
reported, of which 100 cases were in the elderly, corresponding to 15.8% of the
cases. Most of the elderly were female (53.0%), age 60-69 (61.0%), brown skin
(26.0%) and from the capital (79.0%). Regarding clinical aspects, 40.0% were
dimorphous form and 61.0% classified as multibacillary. All the elderly adhered
to polychemotherapy and 71.0% were cured. The degree of incapacity I was
predominant (40.0%) at the beginning; however, most of the patients showed some
degree of disability. A total of 17.0% presented reaction, being more frequent
type I. Conclusion: The elderly was
diagnosed late due to the clinical form and frequency of some degree of
disability.
Key-words: epidemiology,
leprosy, aged, health profile.
Resumen
Características clínicas y epidemiológicas de
adultos mayores con hanseniasis atendidos en un Hospital de Enseñanza en el nordeste de Brasil
Objetivo: Describir
el perfil clínico y epidemiológico de los casos de hanseniasis en mayores atendidos en un Hospital de Enseñanza en São Luís/MA. Métodos: Estudio
descriptivo, retrospectivo y cuantitativo
realizado por medio de la
ficha de notificación y datos
de prontuario. Se analizaron
100 prontuarios de adultos mayores
del Programa de Control de la Hanseniasis (PCH) de un hospital de enseñanza. Los datos fueron recolectados
por medio de un formulario semiestructurado que contenía variables
socioeconómicas y clínicas. Resultados:
En el período 2005-2010 se notificaron 632 casos de hanseniasis,
de los cuales 100 fueron en mayores,
correspondiendo al 15,8% de los
casos. La mayoría de los mayores era del sexo femenino (53,0%), en el grupo de edad de 60-69 años (61,0%), color parda (26,0%) y procedentes de la capital (79,0%). En cuanto a los aspectos clínicos, el 40,0% eran de la forma dimorfa y 61,0% clasificados como multibacilar.
Todos se adhirieron al esquema terapéutico
con poliquimioterapia y el 71,0% presentó cura. El grado
de incapacidad I fue
predominante (40,0%) al principio, sin embargo se observó que la mayoría de los pacientes presentó algún grado de incapacidad. El 17,0% presentó reacción, siendo más frecuente el tipo I. Conclusión: Los mayores fueron diagnosticados de
forma tardía, por la forma
clínica y frecuencia de algún
grado de incapacidad.
Palabras-clave: epidemiología,
hanseniasis, anciano,
perfil de salud.
A hanseníase é uma
doença infectocontagiosa, crônica, potencialmente incapacitante, que quando não
diagnosticada precocemente, pode apresentar complicações físicas, psicológicas
e sociais em qualquer fase da vida [1]. Dentre os agravantes inerentes à
doença, ressalta-se a repercussão psicológica gerada pelas incapacidades
físicas e deformidades, causa de estigma e isolamento do paciente na sociedade
[2].
Esse fato agrava-se
quando a pessoa idosa é acometida pela doença, pois além das alterações
biológicas, morfológicas, funcionais e bioquímicas próprias do envelhecimento
humano, podem ser observados nessa fase da vida, processos de desenvolvimento
social e psicológicos alterados [3].
A Organização Mundial de
Saúde (OMS) considera como idoso a pessoa acima de 65 anos para os países
desenvolvidos e acima de 60 anos para os países em desenvolvimento [4]. O
aumento dessa população é uma realidade mundial, anualmente, 650 mil novos
idosos são inseridos na população brasileira com projeções para atingir a meta
de 30 milhões de idosos em 2020 [5].
Dados epidemiológicos
sobre a hanseníase revelam que o Brasil ocupa o segundo lugar em números de
casos detectados no mundo, com 13% dos novos casos mundiais [6], tendo a região
Nordeste o maior número de casos novos registrados [7]. Em se tratando da
hanseníase em pessoas com mais de 60 anos de idade, o número de casos vem
aumentando gradativamente, visto que, em 2010 foram diagnosticados 7.571 casos,
em 2011 foram diagnosticados 7.670 casos e em 2012, 7.834 casos [8].
O Maranhão é
considerado como um dos estados mais endêmicos do país, ocupando o terceiro
lugar no Brasil e o primeiro na região Nordeste, sendo classificado como hiperendêmico de acordo com o Ministério da Saúde (MS). O
município de São Luís detém o maior número de casos do estado do Maranhão [9].
A hanseníase, embora,
curável, apresenta um alto grau incapacitante e esta tem sido a maior
problemática da doença, que acaba interferindo no trabalho e qualidade de vida
do paciente, comprometendo sua vida diária e social, levando às perdas
econômicas e muitos traumas psicológicos, causando estigma e isolamento. Por
isso a necessidade do diagnóstico precoce, tratamento e acompanhamento adequado
da doença [1,10].
Diante disto,
considerando a importância do conhecimento epidemiológico da doença para tomada
de decisões, a escassez de estudos que abordem hanseníase na população idosa e
o caráter de hiperendemicidade no município, este
estudo, teve o objetivo de descrever o perfil clínico e epidemiológico dos
casos de hanseníase em idosos atendidos em um Hospital de Ensino em São
Luís/MA.
Trata-se de um estudo
descritivo, retrospectivo, com abordagem quantitativa realizado no Programa de
Controle da Hanseníase (PCH) do Hospital Universitário da Universidade Federal
do Maranhão (HU-UFMA) no município de São Luís, Maranhão, Brasil.
A população do estudo
foi constituída por todos os casos de idosos com hanseníase, diagnosticados e
notificados pelo Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Unidade
Presidente Dutra (HUPD), que foram assistidos no período de janeiro de 2005 e
dezembro de 2010. Foram incluídas no estudo todas as fichas de notificação de
idosos (≥ 60 anos), diagnosticados com hanseníase e notificados pelo
referido hospital de ensino no período do estudo. Foram excluídas as fichas de
notificação que apresentavam preenchimento dos dados incompletos ou incorretos.
Inicialmente, os idosos
foram identificados no livro de registro de casos novos de hanseníase e a
partir destas informações, foi realizada a busca nos prontuários e fichas de
notificação para coleta dos dados. Os dados foram coletados no período de maio
de 2012 a junho de 2013. Para coleta de dados utilizou-se um formulário
semiestruturado contendo variáveis socioeconômicas, epidemiológicas e clínicas.
As variáveis utilizadas
no estudo foram: sexo, procedência, idade, cor, forma clínica, classificação
operacional, grau de incapacidade no início e no final do tratamento,
ocorrência de reação e tipo de alta. Os dados foram organizados no programa
EPI-INFO (versão 7.0) e analisados considerando-se frequências absoluta e
relativa.
Atendendo aos
princípios e aspectos éticos de acordo com a Resolução do Conselho Nacional de
Saúde nº 466/12, este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão sob o
parecer consubstanciado nº. 289.205.
No período de 2005 a
2010 foram notificados 632 casos de hanseníase. Destes, 100 foram em idosos,
representando 15,8% dos casos. Observou-se maior frequência de pacientes na
faixa etária de 60-69 anos (61,0%), do sexo feminino (53,0%), procedentes da
capital do Estado (79,0%), da cor parda (26,0%). Em 43,0% esta informação não
estava registrada (Tabela I).
Tabela I - Características sociodemográficas dos idosos com hanseníase. Hospital
de Ensino. São Luís/MA, 2005-2010.
Em relação à ocorrência
de reação, 17% dos pacientes apresentaram reação. Entre os que apresentaram
reação predominaram reação tipo I (52,9%) e reação tipo II (47,0%). Observou-se
que (71,0%) dos pacientes obtiveram alta por cura, 15,0% foram transferidos
para outras unidades de saúde, 8,0% abandonaram o tratamento e 6,0% dos pacientes
vieram a óbito. Quanto ao esquema terapêutico, verificou-se que 61,0% dos
pacientes foram tratados com o esquema de poliquimioterapia
multibacilar (PQT/MB) e 31,0% com esquema de poliquimioterapia paucibacilar
(PQT/PB). Quanto aos dados clínicos, no que se refere à forma clínica, os dimorfos (40,0%) foram os mais encontrados, seguido das
formas tuberculoide (35,0%), virchowiana
(21,0%) e indeterminada (4,0%). Já na classificação operacional, predominou os multibacilares com (61,0%). As informações relativas ao
grau de incapacidade no início do tratamento mostraram que 33,0% eram grau
zero, 40,0% grau I e 10,0% grau II. Observou-se que, tanto no início quanto no
fim do tratamento, a maioria dos pacientes apresentou algum grau de
incapacidade (Tabela II).
Tabela II – Características clínicas dos idosos com hanseníase. Hospital de
Ensino. São Luís/MA, 2005-2010.
*Esquema alternativo
De acordo com os
resultados encontrados, no início da série histórica do período analisado (2005
a 2010), observou-se 16,3% de casos notificados de hanseníase em idosos. No ano
de 2007 foi registrado o mais alto percentual (21,3%) de casos dos cinco anos
estudados. Houve declínio entre os anos de 2008 (19,3%) e 2009 (13,5%),
entretanto, observa-se pequeno aumento no percentual de casos notificados em
idosos em 2010 (14,4%) (Figura 1).
Figura 1 - Série histórica de casos de hanseníase em idosos por ano de
notificação. Hospital de Ensino. São Luís/MA, 2005-2010.
O presente estudo
permitiu identificar as características clínicas e epidemiológicas de idosos
acometidos pela hanseníase na região metropolitana de São Luís/MA.
Neste estudo a faixa
etária de 60 a 69 anos foi a mais acometida, concordando com o estudo realizado
no Distrito Federal que analisou a situação epidemiológica da hanseníase na
população idosa no período de 2003-2011 [11] e estudo realizado em dois Centros
de Reabilitação em São Luís que analisou o perfil socioepidemiológico
e clínico de idosos afetados por hanseníase em 2016 [12]. Esta situação pode
ser explicada pelo fato de a hanseníase apresentar um longo período de
incubação, ou mesmo em razão dos pacientes buscarem tratamento tardiamente.
A ocorrência deste
aumento está relacionada à mudança da estrutura etária, com diminuição relativa
da população mais jovem e aumento proporcional dos idosos [13]. Também se pode
considerar o fato de que o envelhecimento seja acompanhado da diminuição da
imunidade, tornando o indivíduo mais suscetível a patologias infectocontagiosas
[14].
Em relação ao sexo, as
mulheres foram maioria, estando de acordo com outros estudos [15-16]. Tal
proporção é confirmada pela taxa de detecção em mulheres, de 10,20/10.000
habitantes contra 9,27/10.000 habitantes em homens [15].
A taxa de detecção
maior entre mulheres pode ser explicada por haver maior preocupação com o corpo
e a estética entre estas do que entre os homens, e também pela facilidade de
acesso das mulheres às unidades de saúde em função de priorizações que têm
origem em outros programas, como a atenção à saúde materna (pré-natal,
planejamento familiar, prevenção de câncer cérvico-uterino
e de câncer de mama), que proporcionam contatos com atendimentos de saúde
[15-16]. Outra possível explicação para esse achado se deve aos casos
diagnosticados do sexo masculino representarem detecção tardia [17].
A maioria dos idosos
com hanseníase se declararam da cor parda, concordando com outros estudos
realizados com a mesma população [10,12]. Esse percentual está de acordo com o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que avaliou a cor parda como
sendo predominante na região Nordeste [18].
Verificou-se predomínio
de idosos oriundos da capital, assemelhando-se ao estudo realizado em um centro
de referência na região Nordeste do país, em que a maioria dos seus casos era
proveniente da cidade de Fortaleza [19]. Esses números podem ser explicados
pelo processo de mobilidade populacional, que foi o deslocamento da população
da zona rural para a zona urbana e tendo como consequência o aumento da
densidade populacional da região metropolitana em relação às áreas do interior
do estado.
A forma clínica mais
encontrada foi a dimorfa, corroborando dados
encontrados em outros estudos [1,10,12]. Quanto à classificação operacional, os
multibacilares obtiveram a maior frequência,
resultado semelhante ao encontrado em estudos realizados em outras áreas hiperendêmicas do Maranhão [8,10,12].
O predomínio da
classificação operacional multibacilar, caracterizado
pelas formas clínicas dimorfa e virchowiana
foi demonstrado no presente estudo, e representa um indicativo de que o
diagnóstico tem ocorrido tardiamente, contribuindo para a manutenção da cadeia
de transmissão da doença, uma vez que essas são consideradas as principais
fontes de infecção da hanseníase devido à alta carga bacilar, mantendo-se
contagiante, enquanto o tratamento específico não for iniciado [20,21].
É importante destacar
que o idoso com hanseníase classificada como multibacilar
sem tratamento adequado, além de ser uma fonte de transmissão ativa no espaço
em que habita, possui maiores chances de apresentar incapacidades físicas
devido ao comprometimento neural da doença e o limite funcional que apresenta
[1].
Em relação ao registro
do grau de incapacidade, tanto no início quanto no final do tratamento,
notou-se predominância do Grau I. Concordando com os resultados apresentados em
um estudo realizado em São Paulo, em que se observou que 60% dos pacientes já apresentavam
algum grau de comprometimento funcional, no momento do diagnóstico, sendo que a
maioria (57 pacientes) dos incapacitados foi classificada como Grau I [22].
O predomínio do Grau I
de incapacidade associado à maioria dos casos multibacilares
(formas dimorfa) demonstra diagnóstico tardio da
doença e possível prevalência oculta. Isso representa uma necessidade imediata
de melhora nas medidas preventivas em hanseníase, como educação permanente em
saúde, monitoramento das ações de controle da hanseníase, dentre outras [8,10].
A hanseníase, quando
não diagnosticada precocemente, acaba evoluindo para incapacidades que levam à
diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social e problemas
psicológicos [1,14]. Portanto é de suma importância diagnosticar a hanseníase
precocemente, bem como tratá-la adequadamente, detectar os prejuízos funcionais
incipientes, estabelecer um plano de intervenções visando à prevenção de
incapacidade, bem como a educação aos idosos portadores sobre a doença [10,16].
No que se refere à
ocorrência de reações hansênicas, a maioria foi
reação do tipo I ou reversa (RR), semelhante ao encontrado em um estudo sobre
reações hansênicas em pacientes do município do Rio
de Janeiro; onde evidenciou que dos 288 pacientes com descrição do tipo de
reação, 58,3% foram reações do tipo I, 10,4% do tipo 2, 5,9% mistas e 25,3%
foram neurites [23]. Episódios ou surtos reacionais são episódios inflamatórios
agudos, de origem imunológica que ocorrem antes, durante ou após o tratamento
da hanseníase e que exigem cuidados e tratamento imediatos para evitar a
instalação de incapacidades e deformidades.
Quanto à situação de
registro, a maioria dos casos obteve alta por cura; o que reflete as condições
de acompanhamento dos casos. Estando de acordo com os parâmetros preconizados
pelo Ministério da Saúde [24]. Em um estudo realizado no município de
Uberlândia/MG, observou-se que 109 pacientes de hanseníase saíram do registro
ativo do Programa de Controle por cura (84,4%), abandono de tratamento (11%),
transferência (2,8%) e óbito (1,8%) [25].
Em relação ao esquema
terapêutico, quando avaliado os prontuários dos 100 casos notificados de idosos
com hanseníase, houve predomínio do tratamento PQT/MB, estando em consonância em
estudo realizado no município da região do Centro-Oeste do Paraná-Iratema com 29 pacientes, dos quais 72,4% foram
classificados como MB. Assim quanto maior o atraso no diagnóstico, maior a
chance de desenvolvimento de incapacidades físicas irreversíveis e lesões
decorrentes da própria evolução da doença [26].
No que concerne aos
percentuais de casos notificados em idosos com hanseníase no período analisado,
observou-se declínio de percentual de casos notificados de hanseníase nos anos
em estudo. Essa queda dos percentuais de casos em idosos com hanseníase pode
estar relacionada a uma maior cobertura e qualidade de atenção em saúde, com
foco na descoberta de fontes ativas de transmissão.
O Estado do Maranhão
destaca-se como terceiro estado do Brasil e o primeiro da região Nordeste com o
maior número de casos novos notificados [9]. Dados da Secretaria de Estado da
Saúde e SINAN/SVS mostram que o Estado do Maranhão registrou 4.694 casos
notificados em 2007 e 4.579 em 2008, demonstrando assim um número muito elevado
no Estado; indo de acordo com o encontrado no nosso estudo a respeito da série
histórica, que os maiores percentuais foram encontrados no ano de 2007 e 2008
[27].
Segundo inquérito
epidemiológico MS/SVS dentre os municípios mais endêmicos localizados no Estado
do Maranhão, destaca-se a capital São Luís, que apresentou 60,1 casos/100 mil
habitantes em 2010, padrão de hiperendemicidade [28].
Em relação às
limitações do presente estudo, aponta-se a falta de dados registrados em
prontuário e ficha de notificação e/ou seu preenchimento incompleto ou
incorreto. O uso de dados secundários não permite ao pesquisador controlar
possíveis erros decorrentes de digitação e de registro, além de possíveis
subnotificações. Apesar disto, acredita-se que os resultados permitiram o
alcance dos objetivos propostos.
O perfil clínico e
epidemiológico dos casos de idosos com hanseníase atendidos em um serviço de
referência em São Luís/MA foi caracterizado pelo sexo feminino, faixa etária de
60-69 anos, cor parda, procedentes da capital do estado, classificação multibacilar, forma clínica dimorfa,
grau I de incapacidade predominante e reação do tipo I mais frequente.
A maioria dos idosos
foi classificada como multibacilar e tinha a forma dimorfa com algum grau de incapacidade no momento do
diagnóstico, demonstrando a forma tardia de diagnóstico. Destaca-se a
importância das ações de promoção e prevenção de saúde voltadas para essa
população, considerando o aumento da incidência de casos de hanseníase em
idosos. Neste sentido, faz-se necessário o envolvimento de profissionais
capacitados, no desenvolvimento das ações de controle da hanseníase na Atenção Básica
de Saúde.