Enferm Bras 2020;19(3):253-60
https://doi.org/10.33233/eb.v19i3.4127
REVISÃO
Risco ocupacional:
violência no trabalho de enfermagem
Leandro Nonato da Silva
Santos*, Cryslanny de Souza Maciel e Silva**,
Andressa Pereira do Carmo***, Nívea Mabel de Medeiros, M.Sc.****,
Aissa Romina Silva do
Nascimento, D.Sc.*****, Anubes
Pereira de Castro, D.Sc.******
*Enfermeiro graduado
pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Membro do Grupo de Pesquisa
Violência e Saúde-GPVS/CNPq/UFCG, **Enfermeira graduada pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), ***Enfermeira graduada pela Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG), Membro do Grupo de Pesquisa
Violência-GPVS/CNPq/UFCG, ****Enfermeira, Membro do Grupo de Pesquisa Violência
e Saúde-GPVS/CNPq/UFCG, *****Sociologa pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Docente da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG) e membro do grupo de pesquisa Violência e
Saúde-GPVS/CNPq/UFCG, ******Enfermeira pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB), Docente da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Líder do
grupo de pesquisa Violência e Saúde-GPVS/CNPq/UFCG
Recebido em 25 de
setembro de 2019; aceito em 25 de junho de 2020.
Correspondência: Leandro Nonato da
Silva Santos, Rua Vicente Alves Sobral, 95 Padre Cícero 63300-000 Lavras da
Mangabeira CE
Leandro Nonato da Silva
Santos: leandrononato92@gmail.com
Cryslanny de Souza Maciel e Silva:
cryslanny_souza@hotmail.com
Andressa Pereira do Carmo:
andressapcarmo@hotmail.com
Nívea Mabel de Medeiros:
niveamabel@hotmail.com
Aissa Romina
Silva do Nascimento: aissas@bol.com.br
Anubes Pereira de Castro:
anubes@bol.com.br
Resumo
Objetivo: Identificar e
analisar, através da literatura, considerações gerais sobre a violência sofrida
pela equipe de enfermagem. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa
da literatura, realizada a partir de materiais disponíveis na Biblioteca
Virtual em Saúde (BVS) do Brasil, com arquivos indexados nas bases de dados
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic
Library Online (SciELO), Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Foram
utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS):
enfermagem, violência e saúde do trabalhador. Foram incluídos 10 materiais
disponíveis na íntegra, em língua portuguesa, publicados entre 2013 e 2018. Resultados:
Evidenciou-se que a maioria dos casos de violência acontece nos setores de
urgência e emergência dos hospitais; a principal causa é o despreparo
institucional para atender aos usuários que são os principais perpetradores; a
violência verbal é a mais comum. Conclusão: O conjunto de questões
acerca da violência laboral é considerado um obstáculo que deve ser vivenciado
diariamente pelos profissionais de enfermagem.
Palavras-chave: Enfermagem; saúde do
trabalhador; violência.
Abstract
Occupational risk: violence in nursing work
Objective:
To identify and analyze, through the literature, general considerations about
the violence suffered by the nursing team. Methods: This is an
integrative review of the literature made from available materials on Virtual
Health Library (VHL) of Brazil, with files indexed in databases Latin American
& Caribbean Health Sciences Literature (LILACS), Scientific Electronic
Library Online (SciELO), nursing database (BDENF).
Descriptors were used in Health Sciences (DeCs):
nursing, violence and occupational health. We included 10 materials available
in full, in Portuguese, published between 2013 and 2018. Results: It was
evidenced that most cases of violence occur in the urgency and emergency
departments of hospitals; the main cause is the institutional unpreparedness to
attend the users who are the main perpetrators; verbal violence is the most
common. Conclusion: The set of questions upon the labor violence is
considered an obstacle that must be experienced daily by the nursing
professionals.
Keywords: Nursing; occupational health; violence.
Resumen
Riesgo ocupacional: violencia en el
trabajo de enfermería
Objetivo: Identificar y analizar a través de la
literatura, consideraciones generales
sobre la violencia sufrida por el equipo de enfermería. Métodos: Se trata de una revisión integradora de la
literatura, realizada a partir de materiales disponibles en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) de Brasil, con estudios indexados en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), Scientific Electronic Library
Online (SciELO), Base de Datos de Enfermería
(BDENF). Se utilizaron los Descriptores en Ciencias de la Salud
(DeCS): enfermería, violencia y salud del trabajador. Se incluyeron 10
materiales disponibles en su totalidad, en portugués, publicados entre 2013 y
2018. Resultados: Se evidenció que la mayoría de los casos de violencia ocurre en los sectores de emergencia y urgencia de los hospitales; la principal causa es la falta de
preparación institucional para atender a los usuarios que son los principales
agresores; la violencia verbal es la más común. Conclusión: El
conjunto de cuestiones acerca de la
violencia laboral es considerado un
obstáculo que debe ser vivido diariamente por los profesionales de enfermería.
Palabras-clave: Enfermería;
la salud del trabajador; violencia.
No Brasil e no mundo
tem-se percebido o aumento significativo dos variados tipos de violência, nos
diversos meios em que o sujeito está inserido o que vem gerando medo e
preocupação na sociedade em geral. Em suas variadas dimensões, a violência não é
um fenômeno recente. Desde a antiguidade se faz presente na história social
brasileira, principalmente na época da escravidão, sendo a evidência mais
conhecida [1].
O local de laboral,
considerado um meio social, também é perturbado profundamente pela expansão da
violência em geral. Nesse sentido, tem-se percebido também um crescimento
significativo da violência nas instituições de saúde. Segundo a Organização
Internacional do Trabalho (OIT), a violência na instituição empregadora é todo
ato ou conduta imoral entre duas pessoas na qual uma delas é alvo de prejuízos,
ofensas, humilhação, ou agressão [2].
A violência que ocorre
na área da saúde representa aproximadamente um quarto do total de
acontecimentos violentos no trabalho. Estas situações, portanto, têm sido
observadas, são rotineiras em alguns locais de trabalho dos profissionais de
enfermagem. A violência no trabalho em saúde tem repercussão na saúde do
trabalhador por implicar nas pontuações (menores) de saúde geral, saúde mental
e vitalidade, conforme observado em profissionais que se sentiam ameaçados, e
pelo aumento nos níveis de sofrimento psicológico relacionado ao bullying e
assédio sexual verbal sofrido [3].
Outrossim, quando a
equipe de saúde vivencia a violência no trabalho, pode desenvolver um tipo de
sofrimento invisível. Essa problemática, no ambiente laboral, pode culminar no
adoecimento do trabalhador, prejudicando o convívio deste no meio social sendo
manifestado através de: tristeza, desânimo, comprometimento do vínculo entre
colegas ou chefe, culminando no aumento do não comparecimento ao trabalho,
troca de setor aumentanda, licenças, ou até mesmo a
permuta de profissão [4].
Segundo Vasconcelos,
Abreu e Maia [5], a violência no trabalho da equipe de enfermagem pode ter como
perpetrador o paciente, os colegas de trabalho e até mesmo pela chefia. As
agressões comumente são direcionadas aos profissionais de enfermagem e
justamente por este trabalhador estar mais próximo do ator social que precisa
de cuidados, estando, portanto, submetido as reclamações por insatisfação com a
qualidade da assistência por parte da comunidade.
Sabe-se que a violência
voltada contra os profissionais de enfermagem pode acontecer em todos os
setores hospitalares ou serviços de atenção básica, porém, é na assistência de
urgência e emergência que este episódio, se sucede com maior frequência levando
em consideração os estresses e pressão que fazem parte do contexto deste setor
[5].
Diante do exposto o
presente trabalho tem como objetivo geral identificar e analisar, através da
literatura, considerações gerais sobre a violência sofrida pela equipe de
enfermagem, utilizando a seguinte questão norteadora: “O que diz a literatura
científica acerca da violência sofrida pela equipe de enfermagem? ”, com o
intuito de fomentar ainda mais estudo sobre a temática, levando em consideração
a importância de trabalhar essa problemática.
Trata-se de um estudo
do tipo revisão integrativa da literatura, realizado a partir de materiais
disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) do Brasil, com arquivos
indexados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Base de Dados de
Enfermagem (BDENF).
De início foi efetivada
uma pesquisa geral de informações sobre a violência contra os profissionais de
enfermagem, visando identificar a demanda de literaturas relacionadas a
temática para posteriormente dar-se início as buscas nas bases de dados online
citadas anteriormente.
Após a averiguação da
relevância do tema, iniciou-se a procura na BVS, para isso os seguintes
Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) foram usados:
Enfermagem, violência e saúde do trabalhador, seguidos do
operador booleano AND para restringir a pesquisa. Nessa etapa
levou-se em consideração os materiais gerais relacionados ao assunto, e ao
inserir os descritores encontraram-se como resultado 588 produções, e sentiu-se
a necessidade de aplicar filtros de inclusão e exclusão para obtenção de uma
amostra satisfatória para discussão.
Os critérios de
inclusão foram os materiais disponíveis na íntegra, em língua portuguesa, com
conteúdos relacionados ao tema em questão e os publicados na margem de anos
entre 2013 e 2018. Com a definição dos referidos critérios obtive-se um total
de 22 arquivos, que, através da leitura dos títulos, pré-selecionaram-se apenas
12 destes, tendo em vista que os repetidos e os que não tivesse relação com o
assunto do estudo foram excluídos. Após leitura na íntegra, apenas 10 foram
incluídos na revisão.
Os resultados foram
consolidados em tabelas que foram preenchidas com informações relevantes do
material como título, fonte de localização e ano de publicação, nome do autor e
objetivo do estudo. Não foi necessária a elaboração de projeto de pesquisa para
ser submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), tendo em vista que o
trabalho tem como fonte de informação as bases de dados disponíveis para o
público em geral, sendo, portanto, de livre acesso.
Das 588 referências
encontradas, apenas 10 se encaixaram nos critérios de inclusão e, portanto,
compuseram o presente estudo. Observa-se na tabela I, através da busca
realizada na BVS, a seguinte distribuição 494 estudos na Medline, desses nenhum
foi selecionado, dos 52 disponíveis na Lilacs, 6
foram inclusos e dos da BDENF apenas 4 compuseram a amostra.
Tabela I - Distribuição dos
estudos encontrados e selecionados nas bases de dados online do Brasil
Fonte: Dados da
pesquisa, 2018
No quadro 1,
verifica-se em ordem numérica um breve resumo dos materiais utilizados na
revisão integrativa em questão, identificando o título, fonte e ano de
publicação, autor e objetivo do estudo. Esse quadro permitiu agrupar as
informações com a finalidade de contribuir na interpretação por parte do
leitor.
Quadro 1 - Apresentação da
síntese do material sobre a violência contra os profissionais de enfermagem, incluidos na revisão integrativa, Cajazeiras, 2018
Fonte: Dados da
pesquisa, 2018
Percebeu-se que dos
materiais utilizados, nove foram artigos e uma dissertação de mestrado, grande
parte publicados em revistas ou periódicos de enfermagem.
Quanto ao ano de
publicação, observa-se que foram dois de 2013, dois de 2014, apenas um de 2015
e 2017, e que o maior número de publicações se deu em 2016 com quatro
manuscritos. Com relação à temática, seis arquivos tratam de temas acerca da
violência especificamente contra os profissionais de enfermagem, e os outros
quatro relacionados a equipe de saúde em geral.
Quanto a autoria, no
geral os 10 (100%) materiais inclusos foram produzidos por 36 (100%) autores,
sendo 3 (30%) por dois autores, 3 (30%) por três, 1 (10%) composto por quatro
pesquisadores, 1 (10%) feito por cinco autores e, por fim, 2 (20%) que foi
escrito por seis profissionais.
Ainda com relação a
autoria dos trabalhos, observou-se que foram compostos principalmente por
enfermeiros, assim distribuídos: 7 (19,4%) graduados em enfermagem, 4 (11,1%)
mestrandos, 3 (8,3%) mestres, 7 (19,4%) doutorandas, 8 (22,2%) doutoras, em meio
aos profissionais de enfermagem apenas 1 (2,8%) acadêmica de medicina, além de
6 (16,7%) autores que não identificaram as credenciais nos artigos. Com esse
resultado, evidenciou-se que a classe profissional está preocupada em levar
para a comunidade informações referentes a violência no ambiente de trabalho, o
que pode ser considerado de grande importância.
Ao analisar os artigos,
percebe-se que a maior parte aborda a questão da violência no ambiente
hospitalar, principalmente nos setores de urgência e emergência. O despreparo
das instituições de saúde é considerado como principal fator de risco para o
surgimento de agravos sendo a violência contra o profissional de enfermagem a
um dos principais.
As particularidades
institucionais e o sistema de trabalho em saúde por si só já são aspectos
relevantes na ocorrência de danos para com a atuação dos profissionais. Sendo
assim, as circunstâncias laborais inadequadas são consideradas meios,
causadores de adoecimentos e sofrimento nos profissionais de enfermagem,
remetendo também a ocorrência de violência. Nesse panorama, destaca-se a
violência institucional, existente em várias instituições de saúde, podendo
estar relacionada ao surgimento de outros tipos de violência [6,3].
Muitos dos artigos analisados
apresentam informações referente à violência institucional. Esse é apontado
como uma violência sentida muito de perto pelo profissional, que por sua vez,
tem seus principais atributos ou funções prejudicadas, não sendo posto em
discussão [7].
Apesar disso, dentre os
diversos tipos de violência, a agressão verbal é tida como a mais presente,
sendo os principais alvos os auxiliares e técnicos em enfermagem, podendo ser
resultado da violência institucional que culmina no desarranjo do funcionamento
das redes de saúde, provocando prejuizos a
assistência [6]
De acordo com Oliveira et
al. [7], os casos de violência verbal acontecem principalmente por
insatisfação do ator social com relação ao atendimento e acabam por culpar o
profissional de enfermagem que tem acesso direto e é conhecedor das demandas de
saúde pública.
Grande parte dos
artigos evidenciaram que a maioria das agressões são perpetradas principalmente
por familiares e pacientes. Silveira et al. [8] em seu estudo demostraram que
os casos de violência foram executados por pacientes, principalmente aqueles
que estavam impacientes pela demora no atendimento. Ainda de acordo com os
autores supracitados, os profissionais participantes do estudo indicaram que a
violência verbal é expressa por meio de insultos com verbalizações de baixo
calão.
Apesar dos pacientes e
familiares serem considerados os principais atores dos atos de violência nas
instituições de saúde, deve-se também levar em consideração os casos de
violência que acontecem entre os próprios companheiros de trabalho, ou destes
com superiores, que muitas vezes transcorrem no recinto laboral e que podem
causar severos impactos [3].
Para Worm et al. [9], em alguns casos, o próprio vínculo
peculiar a equipe de enfermagem é frágil, sendo consequência de falhas na
organização e planejamento junto com os recursos humanos e suas atribuições.
Em um estudo realizado
com profissionais de um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de
Porto Alegre/RS, evidenciou-se que acontecem casos de violência entre os
próprios membros da equipe de trabalho. Os funcionários que trabalham há mais
tempo, por muitas vezes, desvalorizam os novos integrantes da equipe, por serem
desprovidos de experiência. Podem, também, surgir atritos inerentes das
próprias condições de trabalho e até conflitos com superiores, o que culmina
uma inversão de papéis em que a vítima assume a posição de agressor [10].
As iatrogenias
são consideradas como fator ameaçador para a origem da violência no local de
trabalho. Esse fator soma-se ao despreparo dos profissionais para lidar com as
situações de prevenção ou diante de um ato de violência. Isso acontece
principalmente com os profissionais mais jovens, que por não saber reagir
sofrem com maior intensidade [11].
Em pesquisa realizada
por Oliveira, Camargo e Iwamoto [12], em uma unidade básica de saúde, também se
evidenciou que as principais causas que predispõem o ato de agressão no meio
laboral consistem na falta de profissionais capacitados para agir diante dos
casos de violência, excesso de tarefas e mais comum os usuários agressivos.
Para a maioria dos
autores da presente revisão, é nos serviços de pronto-atendimento que ocorre a
maioria dos casos de violência, tendo em vista que esse setor é considerado o
local de acesso dos serviços hospitalares, fazendo parte desse cenário usuários
e trabalhadores com maior demanda de trabalho gerando, portanto, o estresse em
ambos [13].
Ainda com relação aos
fatores de risco para violência, um dos estudos realizados com enfermeiros
evidenciou, através das falas dos mesmos, que trabalhar em um hospital
universitário, onde tem uma demanda elevada de discentes inseridos, também é
considerado um fator de risco para violência no trabalho [8].
Ao longo de muito tempo
o exercício da medicina era tão somente a figura masculina, e aquelas
atribuições consideradas de menor relevância como o cuidado e assistência eram
destinadas à mulher. Nessa perspectiva, não se pode descartar a hipótese de que
atualmente ainda existe esse pensamento em meio a comunidade, o que pode
originar desacato, desrespeito e desvalorização das equipes de saúde [6].
Nesse seguimento, outro
fato curioso evidenciado é saber que, quando se refere ao sexo feminino como
vítima, é possível observar outra dimensão do conjuto
de problemas que é a violência contra a mulher. Sendo assim, agregam-se as
causas de violência nas atividades laboral, o preconceito, os valores e
estigmas ainda presentes no meio social [11].
A literatura utilizada
aborda, principalmente, a violência contra os profissionais de enfermagem
apenas no contexto intrainstitucional, ou seja,
dentro das instituições, seja nos serviços de pronto atendimento hospitalar ou
na Estratégia de Saúde da Família. Destaca-se que os profissionais de
enfermagem também correm riscos nos atendimentos extrahospitalares
como é o caso da assistência prestada pelo SAMU.
Os profissionais do
SAMU, principalmente os enfermeiros, que atuam na assistência direta ao paciente,
estão diretamente expostos aos casos de violência urbana. Esses profissionais
podem de atender criminosos, serem ameaçados e agredidos. A equipe fica suceptível também aos danos patrimoniais como furtos ou
danos nos equipamentos, principalmente depredação da ambulância [10].
As equipes de
enfermagem que passam por situações de agressão na instituição de trabalho têm
sua qualidade de vida prejudicada, uma vez que há o comprometimento da saúde
física e mental. Este comprometimento pode interferir nas habilidades,
responsabilidades, potencial e capacidade de desenvolver as atividades laborais
diárias, gerando prejuizos para a empresa empregadora
e os profissionais [3].
De acordo com estudo de
Oliveira, Camargo e Iwamoto [12], realizado com profissionais de uma Estratégia
de Saúde da Família (ESF), com relação aos principais sentimentos relatados
pelos participantes após terem passado por alguma situação violenta, 41,9%
referiram sentimento de tristeza, 38,4% de raiva e 36,1% de humilhação. Para os
participantes do estudo, a principal consequência foi a insatisfação pelo
trabalho (54,6%).
Por serem consideradas
mais frágeis, as consequências da violência são mais intensas na mulher. No
Brasil, a agressão psicológica vivenciada por enfermeiras na sua atuação
profissional foi analisada, e evidenciou-se que quando essas profissionais
passam por um elevado nível de violência desenvolvem alterações no estado de
saúde fisica e mental. Além das consequências
identificadas, quando submetidas a violência de baixo nível sofrem com sentimentos de tristeza, irritabilidade, baixa autoestima,
momentos de choro e fúria [3].
A violência compromete
todas as esferas da instituição de saúde, principalmente quando inclui os
trabalhadores, que podem ser vítimas ou também autores, ao contribuir na luta
contra a violência ou por diversos fatores demonstram ignorância, desrespeito a
dignidade humana, maus tratos, dentre outros tipos de violência [7].
Percebe-se, então, uma
fase, na qual os atos violentos são gradativamente causadores de alterações no
estado de saúde das equipes de enfermagem, que passam a sentirem-se
desvalorizadas e desenvolvem sentimentos negativos no que diz respeito ao seu
papel como profissional de saúde [14].
Quanto as estratégias
defensivas adotadas por profissionais vítimas de violência, apenas dois artigos
abordam o tema de uma forma geral. No estudo de Mello e Laurert
[10], que teve como objetivo identificar quais os meios de proteção adotados
por profissionais que atuam no SAMU frente aos atos de violência vivenciados na
jornada de trabalho, as autoras evidenciaram através das falas dos
participantes que alguns profissionais, ignoram, rebatem, tentam manejar verbalmente,
se defendem fisicamente, chamam a polícia, dentre outros.
Perante o cenário de
violência vivenciada pelos trabalhadores em um dia a dia marcado por
depreciações e/ou humilhações, a estratégia de cuidado integral e humanizado
proporcionado por profissionais de saúde passa a ser realizado de maneira tensa
e precária, viabilizando a desumanização e o desrespeito nas suas práticas
[13].
Levando em consideração
que os profissionais de saúde são alvo dos vários tipos de violência no local
de trabalho, eles deveriam receber o preparo para lidar com a situação, ainda
no processo de formação, sendo assim, seria de grande relevância uma disciplina
voltada para a temática [11].
Através deste estudo
foi possível analisar os aspectos gerais que cobre a violência vivenciada por
profissionais de enfermagem na instituição de trabalho. Nesse sentido, por meio
deste estudo foi possível constatar quais os principais fatores de risco para
que ocorra a violência, os ambientes de saúde mais propícios, quem são os
principais perpetradores, as técnicas de defesa usadas pelas vítimas e as
consequências dessa problemática para o profissional.
Identificou-se que a
maioria dos casos de violência acontece no ambiente hospitalar, principalmente
nos setores de urgência e emergência e na Estratégia de Saúde da Família. Foi
possível perceber que a principal causa é o despreparo institucional para
atender as necessidades dos usuários, que são os principais perpetradores do
ato de violência, sem esquecer que também há casos de agressão entre os próprios
membros da equipe.
Notou-se que a
violência verbal é a mais comum, manifestada por meio de palavras de baixo
calão, justamente por insatisfação do ator social com o serviço. Os profissionais
de enfermagem por estarem em contato direto com o público e expostos a
situações de risco, estando susceptíveis a serem violentados fisicamente ou
psicologicamente, acabam por ser as principais vítimas, e nem sempre estão
preparados para lidar com casos de agressões.
Além do estresse
ocupacional, o trabalhador vítima de situações de violência passa a ter sua
saúde mental comprometida, uma vez que pode desenvolver esgotamento físico e
sofrimento mental. Vale salientar que esses agravos refletem diretamente na
assistência, que deixa de ser com qualidade e humanizada.
Por fim, desvelou-se
que o conjunto de questões acerca da violência laboral é considerado um grande
obstáculo que deve ser vivenciado diariamente pelos profissionais de saúde, principalmente
a equipe de enfermagem. Identifica-se a necessidade da realização de mais
estudos sobre a temática, já que ainda é um tema pouco debatido nas
instituições, evidenciado por ausência de estratégias de prevenção.