ARTIGO
ORIGINAL
Idosos
institucionalizados e depressão: rastreamento dos sintomas
Evelto Angelo
Frutuoso*, Fernanda Formiga Flávio**, Cláudia
Maria Fernandes, M.Sc.***, José Augusto de Sousa
Rodrigues****, Maria Joyce Tavares Alves***, Gabrielle Mangueira Lacerda****,
Cícera Renata Diniz Vieira Silva*****
*Graduado
em Enfermagem pela UFCG-CFP, Docente do ITEC-PB, **Mestranda em
Saúde Coletiva-PPGSCol/UFRN, Professora Substituta da
Universidade Federal de Campina Grande, ***Docente do curso de
Bacharelado em Enfermagem da UFCG-CFP,
****Acadêmicos do Curso de Bacharelado em Enfermagem da UFCG-CFP,
*****Doutoranda em Ciências da Saúde (UFRN), Docente do
curso de Bacharelado em
Enfermagem da UFCG-CFP
Recebido em 8 de
novembro de 2018; aceito em 18 de fevereiro de 2019.
Correspondência: José Augusto de Sousa
Rodrigues, Rua Josefa Maria Braga, Cajazeiras PB, E-mail:
joseaugustoat41@gmail.com; Evelto Angelo
Frutuoso: evelto_angelo@hotmail.com; Fernanda Formiga Flávio:
ff.flavio@hotmail.com; Cláudia Maria Fernandes: claudiaalegriaf@yahoo.com.br;
Maria Joyce Tavares Alves: joyce.alves_26@gmail.com; Gabrielle Mangueira
Lacerda: gabrieellecz@gmail.com; Cícera Renata Diniz Vieira Silva:
renatadinizz_enf@yahoo.com.br
Resumo
Introdução: No Brasil, com a
transição demográfica, o número de pessoas que alcançam a terceira idade tem
aumentado significativamente e, paralelamente a esse processo, observa-se um aumento
gradativo de perturbações de humor nessa etapa da vida, principalmente o
transtorno depressivo. Objetivo: Analisar
a prevalência de sintomas depressivos em idosos institucionalizados. Métodos: Estudo descritivo, com
abordagem quantitativa, desenvolvido com idosos de três instituições de longa
permanência no município de Cajazeiras, Paraíba. O instrumento utilizado para a
coleta de dados consistiu em um questionário validado, a Escala de Depressão
Geriátrica. A análise estatística descritiva e testes estatísticos foram
realizados no software SPSS, versão 20. Todos os itens dispostos na Resolução
466/12 do Conselho Nacional de Saúde foram obedecidos neste estudo. Resultados: A prevalência de
sintomas depressivos foi de 47,8%, mostrando-se elevada quando comparada com
outras pesquisas. Isso demanda melhores capacitações
por parte dos profissionais em busca de olhares diferenciados e investigações
direcionadas, objetivando intervenções precoces e satisfatórias. Conclusão: Torna-se primordial a criação
de programas para idosos institucionalizados que visem promover participações
diretas no âmbito social, cultural, esportivo, lazer e educacional, com ênfase
no empoderamento dos atores sociais e na redução da sintomatologia depressiva
neste grupo etário.
Palavras-chave: saúde do idoso,
depressão, institucionalização.
Abstract
Institutionalized
old people and depression: symptoms trace
Introduction:
In Brazil, with the demographic transition, the number of people reaching the
third age has increased significantly, and in parallel with this process, there
is a gradual increase of mood disorders in this stage of life, especially the
depressive disorder. Objective: To
analyze the prevalence of depressive symptoms in institutionalized elderly
people. Methods: Descriptive study,
with a quantitative approach, developed with elderly individuals from three
long-term institutions in the municipality of Cajazeiras,
Paraíba. The instrument used for data collection
consisted of a validated questionnaire, the Geriatric Depression Scale.
Descriptive statistical analysis and statistical tests were performed in SPSS
software, version 20. All items set forth in Resolution 466/12 of the National
Health Council were obeyed in this study. Results:
The prevalence of depressive symptoms was 47.8%, which was high when compared
to other studies. This demands better qualifications on the part of the
professionals in search of differentiated looks and directed investigations,
aiming at early and satisfactory interventions. Conclusion: It is essential to create programs for
institutionalized elderly people that aim to promote direct social, cultural,
sports, leisure and educational activities, with emphasis on the empowerment of
social actors and the reduction of depressive symptomatology in this age group.
Key-words: elderly
health, depression, institutionalization.
Resumen
Adultos mayores
institucionalizados y depresión: rastreo
de los síntomas
Introducción: En Brasil, con la transición
demográfica, el número de personas que alcanzan la tercera
edad tiene aumentado
significativamente y, paralelamente a ese proceso, se observa un aumento
gradual de perturbaciones de humor en esta etapa de la vida,
principalmente el trastorno
depresivo. Objetivo:
Analizar la prevalencia de síntomas depresivos en mayores
institucionalizados. Métodos: Estudio descriptivo, con abordaje cuantitativo,
desarrollado con personas mayores de tres instituciones de larga duración en el municipio
de Cajazeiras, Paraíba. El instrumento utilizado para la
recolección de datos consistió en un
cuestionario validado, la
Escala de Depresión Geriátrica. El análisis estadístico descriptivo
y las pruebas estadísticas
se realizaron en el software SPSS, versión 20.
Todos los ítems dispuestos en la
Resolución 466/12 del Consejo Nacional de Salud fueron obedecidos en este estudio. Resultados:
La prevalencia de síntomas depresivos fue de 47,8%, mostrándose elevada cuando
comparada con otras investigaciones. Esto demanda mejores capacitaciones por parte
de los profesionales en busca de miradas diferenciadas e investigaciones
dirigidas, objetivando intervenciones precoces y satisfactorias.
Conclusión:
Se vuelve primordial la creación de programas para personas mayores
institucionalizadas que busquen promover participaciones directas en el ámbito
social, cultural, deportivo, ocio
y educativo, con énfasis en el empoderamiento
de los actores sociales y en la
reducción de la sintomatología depresiva en este grupo de edad.
Palabras-clave: salud
del anciano, depresión, institucionalización.
A efetivação e melhoria
das políticas públicas, da promoção da saúde e a busca incessante por uma
melhor qualidade de vida, têm proporcionado um aumento da expectativa de vida.
No Brasil, a transição demográfica proporcionou um aumento significativo no
número de pessoas que alcançam a terceira idade, e, paralelamente a este
processo, observa-se um aumento gradativo de perturbações de humor nessa etapa
da vida, destacando-se o transtorno depressivo [1].
A depressão não deve
ser observada apenas como um momento de tristeza ou algo intimamente ligado ao
processo de envelhecimento, pois é um transtorno afetivo que provoca várias
alterações, envolvendo distúrbios de humor, respostas cognitivas e mentais, ou
seja, constitui-se um processo patológico que merece atenção e um diagnóstico
precoce [2]. Para Nogueira et al. [3], a doença reflete uma apreensão em
perspectivas futuras, traduzindo-a, portanto, como um grande problema de saúde
pública.
No Brasil, o aumento do
número de casos de doenças psiquiátricas em idosos ocorre simultaneamente à
progressão do envelhecimento humano. A taxa de prevalência da depressão é
apontada na literatura como estando entre 5 e 35%, levando em consideração as
suas diferentes formas e o nível de gravidade [4].
Nesse contexto, a
utilização habitual de instrumentos de rastreamento de sintomas depressivos,
simples e práticos, como, por exemplo, a Escala de Depressão Geriátrica (EDG),
subsidiaria de forma preditiva vários casos da doença, contribuindo
inexoravelmente para a redução da prevalência, do agravamento de comorbidades
existentes relacionadas à enfermidade supracitada, da própria mortalidade,
principalmente no que concerne aos casos de suicídio, bem como o desgaste
biológico, psicológico, social e econômico. Segundo Matias et al. [5], o
rastreamento de sintomas depressivos sugestivos constitui uma ferramenta
indispensável; todavia, o fato é que este é frequentemente negligenciado, seja
por cuidadores, familiares, e até mesmo pelos próprios profissionais de saúde.
Vale salientar que
embora os instrumentos de rastreamento não caracterizem um diagnóstico nosológico definitivo, esses são indicados devido a sua
facilidade de aplicação e efetividade da identificação de indivíduos com
sintomas depressivos [6].
Este estudo tem por
objetivo analisar a prevalência de sintomas depressivos em pessoas idosas
institucionalizadas e identificar os principais fatores associados aos sintomas
sugestivos da doença. Seu desenvolvimento é justificado mediante a necessidade
da aplicação de ferramentas capazes de realizar uma identificação precoce do
transtorno depressivo, para, a partir disso, atuar na promoção e reabilitação
da saúde das pessoas idosas acometidas.
Trata-se de um estudo
transversal descritivo, com abordagem quantitativa, realizado em janeiro de
2017 em três Instituições de Longa Permanência (ILP) localizadas no município
de Cajazeiras, no estado da Paraíba. A população do estudo foi constituída
pelos idosos institucionalizados das três ILP, totalizando 46 indivíduos. Foram
considerados critérios de inclusão do estudo: Idosos (60 anos ou mais)
institucionalizados, que possuíam as funções cognitivas preservadas. Foram excluídos
os idosos que por algum motivo não estavam presentes na instituição durante o
período da coleta, permanecendo, portanto, uma amostra de 23 idosos.
O instrumento utilizado
para a coleta de dados consistiu em um questionário validado, a Escala de
Depressão Geriátrica (EDG-15), que foi adaptada para esta pesquisa, com
acréscimo de questões relativas aos dados sociodemográficos dos participantes.
A EDG-15 é um instrumento composto de 15 perguntas dicotômicas, de forma que
cada resposta positiva relacionada ao transtorno depressivo representa 1 ponto,
originando escores de 0 a 15. A coleta dos dados ocorreu em datas e horários
previamente pactuados com a administração das instituições, sendo a abordagem
aos idosos realizada após explicação dos objetivos da pesquisa, em um ambiente
tranquilo e reservado.
O banco de dados foi
construído no programa SPSS® (Statistical Package for the Social Sciences – versão 20.0). Utilizou-se a estatística
descritiva e inferencial, utilizando-se o Teste do Qui-Quadrado
de Pearson, para se observarem as possíveis associações existentes entre
algumas variáveis. O nível de significância adotado foi de p < 0,05.
Destaca-se que todos os
itens dispostos na Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta
a pesquisa com seres humanos, foram obedecidos. A pesquisa foi submetida à
análise e emissão de parecer do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
Universitário Alcides Carneiro da Universidade Federal de Campina Grande e só
teve início após a devida aprovação, sob número de parecer 1.886.740.
Após verificação dos
critérios de seleção, a amostra foi constituída por 23 idosos. O rastreamento
de sintomas depressivos encontrado foi de 47,8%. Destes, 39,1% apresentaram
nível leve; e 8,7% nível severo, de acordo com a EDG – 15 (Tabela I).
Tabela I - Classificação dos escores de depressão em idosos institucionalizados,
de acordo com EDG – 15. Cajazeiras/PB, 2017.
Fonte: Dados da
pesquisa. 2017.
Quanto à associação
entre as variáveis de contexto (sociodemográficos, econômicos, de hábitos e
saúde) com os escores alterados da EDG-15, estes estão sumarizados na tabela
II.
Tabela II - Variáveis de contexto e frequência de alterações da EDG-15.
Cajazeiras/PB, 2017.
Fonte: Dados da
pesquisa. 2017; *Valores baseados nos resultados do teste Qui-quadrado.
Houve predominância do
sexo feminino (52,2%), de idosos com idade entre 70 e 79 anos (52,2%),
solteiros e analfabetos (56,5%), que possuem filhos (65,2%), com doença de base
do tipo hipertensão arterial sistêmica (HAS) e/ou diabetes (56,5%), que não
praticam atividades físicas (78,3%) e cuja iniciativa da internação partiu da
própria família (39,1%).
As verificações de
associações entre a depressão e as características sociodemográficas, de saúde,
comportamentais e sociais foram significantes para as seguintes variáveis:
sexo, possuir filhos, prática de atividades e autoavaliação da saúde
(p<0,05).
No que tange ao sexo,
observou-se uma maior predominância de sintomas depressivos entre as mulheres.
Outra variável que
apresentou valor relevante estatisticamente foi o fato de a maioria dos idosos
possuírem filhos, e destes, parte significativa (63,6%) apresentaram
sintomatologia depressiva. Isso pode ser explicado pela observação de outra
variável (recebe visitas), que embora não tenha manifestado valor
significativo, está intimamente relacionada com o aspecto familiar, afetivo e
social, tendo em vista que grande parte dos atores sociais (78,3%) relatou nunca
(36,4%) ou raramente (54,5%) receberem visitas.
Não obstante, dos
idosos que não possuíam filhos (34,8%), uma parcela (36,4%) apresentou escores
maiores ou iguais a 6, reforçando a ideia que a ausência do seio familiar pode
contribuir de maneira efetiva para o surgimento ou desenvolvimento do processo
patológico estudado. Em correlação, como grande parte da amostra são solteiros
ou viúvos acentuam consideravelmente para o desenvolvimento de tal quadro
depressivo, uma vez que associada a ausência do companheiro existe à falta ou
deficiência de apoio por partes dos entes queridos considerados mais próximos
(filhos) no modelo histórico tradicional.
No que diz respeito à
autoavaliação de saúde, a variável apresentou significância estatística e constatou-se
maior prevalência nos idosos que classificaram sua saúde como ruim (54,5%).
Quanto ao restante das
variáveis estudadas, com relação ao grupo etário, houve predomínio de risco de
depressão entre os idosos com idade entre 70 e 79 anos (72,7%).
Entre os idosos com
escores indicativos de sintomas depressivos, 36,4% estavam institucionalizados
há menos de 1 ano e o mesmo percentual igualitário (36,4%) para os que estavam
institucionalizados entre 1 e 5 anos. Dos 21,7% que residiam na instituição há
mais de 5 anos, 3 apresentaram valores positivos para sintomatologia
depressiva.
A partir desses
resultados, percebe-se que a presença de sintomas depressivos não apresentou,
neste estudo, uma ligação com o aumento gradual do tempo de permanência do
idoso na instituição, sendo ela mais frequente em idosos recém-chegados e com
poucos anos de institucionalização devido ao impacto provocado pela mudança de
convívio. Esse dado pode ser correlacionado com as adaptações que os idosos
precisam fazer ao novo lar, com normas e rotinas pré-estabelecidas, restrições
ao planejamento de passeios fora do ambiente, horários determinados para
refeições e outras atividades que antes faziam com livre arbítrio. Embora a ILP
ofereça certa flexibilidade em relação a determinadas atividades, acabam, em
contrapartida, limitando a maleabilidade da vida das pessoas que ali residem.
Quanto à presença de
outras comorbidades associadas, 67,8 % dos idosos pesquisados com escores ≥
6 eram portadores de HAS e/ou diabetes.
No que concerne à
situação econômica, observou-se que de acordo com os sintomáticos, segundo a
EDG, 45,4% classificaram sua situação como ruim, 36,4% como regular, e apenas
18,2% entenderam que seu estado econômico era considerado bom.
Quanto à iniciativa de
internação, 39,1% da amostra referiu que a família tomou a decisão de
inseri-los na instituição de longa permanência, e destes, 36,4% apresentaram
quadro sugestivo de depressão.
Em relação à satisfação
com a instituição de longa permanência, 56,5% referiram gostar do lugar onde
residem e os outros 43,5% relataram insatisfação com o ambiente de moradia, dos
11 que apresentaram sintomas sugestivos de quadro depressivo, 63,3% revelaram
não gostar da instituição. Isso pode acontecer devido à dificuldade de
adaptação, a falta do convívio social e vida cotidiana a qual estavam
acostumados antes da internação, bem como as restrições impostas pela
instituição, limitando as opções socioculturais dos indivíduos.
Os resultados da
pesquisa equipararam-se a outros estudos, como em um realizado na cidade de
Recife, Pernambuco, em que se aplicou o mesmo instrumento de avaliação,
constatando prevalência de sintomatologia indicativa de depressão equivalente a
49,76% [7].
Segundo Almeida et al.
[8], as pessoas do sexo feminino atingem maior longevidade, seguida por uma
maior incidência de processos patológicos crônicos, entre os quais o transtorno
depressivo. Em associação, aqueles que alcançam idades mais avançadas, consequentemente
vivenciam diversas experiências que podem contribuir para o desenvolvimento da
sintomatologia depressiva, tais como a morte de entes queridos, perda da
autonomia, dificuldade de se relacionar, diminuição da sexualidade,
incapacidades decorrentes de traumas, principalmente por quedas, entre outros.
Em relação à prática de
atividades físicas, Lopes et al. [9]
referem que há indícios de que essa, quando programada entre as pessoas da
terceira idade, contribui para uma melhor relação e comunicação social, levando
a uma maior satisfação de controle sobre episódios e eventualidades do meio. No
presente estudo, entre os idosos que não praticavam atividades físicas, 81,8%
apresentaram sintomatologia sugestiva do transtorno depressivo, com valores estatisticamente
significativos, reiterando a concepção de que a prática regular de atividades
simples pode contribuir como fator de redução da prevalência de tal doença.
Frade et al. [10] corroboram que os índices de
depressão em idosos são maiores para aqueles que apresentam maior solidão, com
ênfase aos idosos solteiros e viúvos que destacam-se com maior probabilidade
para apresentar sintomas depressivos, fato que pode ser reforçado neste estudo
devido à maioria dos idosos serem solteiros (63,3%) e viúvos (36,4%) em risco
de depressão, condizendo com o estudo de Nóbrega et al. [11]. Vale salientar que a ausência do cônjuge não se torna
um fator isolado para o desenvolvimento dos sintomas da depressão, tendo em
vista que números significativos de idosos que vivem acompanhados podem
apresentar determinado risco, enfatizando e valorizando também a presença da
qualidade de vida em harmonia entre o casal [12].
Estudos realizados com
idosos na Atenção Básica por Nogueira et
al. [3] e Bretanha et al. [6] indicaram
maior prevalência nos indivíduos com autopercepção de saúde regular ou
ruim/péssima. Não obstante, para tais autores, as relações entre a
autopercepção de saúde e o transtorno depressivo estão intrinsicamente
relacionadas.
Com relação às comorbidades,
a maior prevalência de sintomatologia depressiva está associada de forma
relevante ao número de doenças crônicas [12]. Para tais autores, os processos
patológicos crônicos subsidiam o desenvolvimento de episódios depressivos, uma
vez que afetam diretamente a função cerebral ou provocam efeitos psicossociais.
Estudo realizado por
Moraes et al. [13] com a população
idosa dos municípios de São Luiz de Montes Belos e Firminópolis, em Goiás,
evidenciou que o transtorno depressivo é mais frequente na faixa etária
encontrada neste estudo. Isso pode ser explicado pela transição da vida, em que
as pessoas passam por perdas frequentes, e vivenciam experiências desgastantes
ou estressantes, levando a uma difícil elaboração do luto. Também é uma fase caracterizada
pela perda progressiva da energia, do vigor físico, ocasionando em uma possível
dependência e maior susceptibilidade para desenvolvimento de sintomas
depressivos.
Ainda que o tempo de
institucionalização e o nível de escolaridade não apresentem valor
estatisticamente significativo no presente estudo, Souza e Paulucci
[14], por exemplo, relatam que estas podem estar diretamente relacionadas ao
surgimento do transtorno depressivo. Já a maior prevalência em idosos com baixo
grau de escolaridade, corrobora pesquisas realizadas por Borges et al. [15] e Nóbrega et al. [11].
De acordo com Frade et al. [10], a mudança na rotina ou
ambiente em que os idosos residiam anteriormente a sua institucionalização
acarreta em várias mudanças, podendo refletir em baixas expectativas em seu
cotidiano.
Percebe-se que a maior
associação de sintomas depressivos ocorreu em idosos com menor classificação
econômica, corroborando com estudos realizados por Bretanha et al. [6].
Outros estudos também
apontam a indicação familiar como principal motivo de internação de idosos em
ILP [16]. Como a maioria dos idosos não possui companheiro, os demais
familiares ou amigos mais próximos optam por sugerir a institucionalização,
acreditando em melhores condições relacionadas à saúde, higiene, segurança e
alimentação, contudo, acabam por esquecer que os laços familiares, a percepção
de ambiente agradável para o desenvolvimento da satisfação com a vida e toda
uma tradição histórica e cultural inerentes a esses indivíduos configuram
fatores protetores para o desenvolvimento de doenças crônicas, principalmente
as alterações mentais, ao passo que estabelecem determinada harmonia com o
meio.
A satisfação quanto ao
fato de residir em ILP encontra-se apoiado em outros estudos, a exemplo de um
realizado no Vale do Taquari, Rio Grande do Sul, que encontrou em idosos níveis
elevados de satisfação com a ILP e com os cuidados que lhe são oferecidos [17].
Vale salientar que, no
decorrer do estudo, notou-se os efeitos do isolamento social dos idosos,
relacionado às poucas visitas de familiares e terceiros na instituição, fator
que dificultou a coleta dos dados da pesquisa, pois, como não estavam
acostumados a receber visitas, de início mostraram-se introspectivos e distantes.
Além disso, os profissionais que trabalham nas instituições não apresentaram
qualquer colaboração em relação à aproximação dos idosos com os pesquisadores.
Durante a análise dos
dados obtidos neste estudo, foi possível perceber que existe uma prevalência
relativamente alta em relação à presença de um quadro sugestivo de depressão
segundo a EDG-15. Era um fato desconhecido, até então, pelas instituições de
longa permanência estudadas, o que substancia o caráter subclínico
do processo patológico em pessoas da terceira idade e reforça que no primeiro
ano de institucionalização se torna imprescindível para atuação da equipe de
profissionais, o desenvolvimento primordial de ações que busquem a proteção da
saúde mental.
Em relação ao contexto
institucional, nota-se que embora consiga atender de forma parcial as
necessidades básicas dos idosos, em contrapartida, nem sempre se instiga a
atividade dos mesmos, podendo levar a uma tendência introspectiva e isolada do
contato social, considerando que as relações interpessoais refletem diretamente
na qualidade de vida e na manutenção da saúde mental.
No que concerne aos
possíveis fatores associados à sintomatologia depressiva, o presente estudo
evidenciou valor significativo estatisticamente para quatro variáveis, de forma
que os sintomas foram mais frequentes em idosos que possuíam filhos, os que não
tinham uma boa autoavaliação de saúde, os que não praticavam atividades, e o
gênero, sendo esta uma varável que apresentou frequências equiparáveis, apesar
de ter um percentual relativamente maior nas mulheres em comparação aos homens.
Embora algumas variáveis não tenham apresentado significância estatística, não
há exclusão da consistente correlação entre os fatores de risco, como a baixa
frequência de visitas e a alta frequência de solteiros e viúvos, associados ao
fato de parte considerável possuir filhos, fortalecendo a ideia de que os laços
familiares e o convívio social e harmonioso contribuem para preservação do
bem-estar psíquico.
Nesse sentido, torna-se
necessário a criação de programas para idosos institucionalizados, que visem
promover participações diretas no âmbito social, cultural, esportivo, de lazer
e educacional, dando empoderamento aos atores sociais, ao passo que contribuem
para redução da sintomatologia depressiva neste grupo etário. Assim, é preciso
que seja realizado o rastreamento de sintomas depressivos em pessoas idosas
institucionalizadas, utilizando-se de instrumentos simples e preconizados pelo
Ministério da Saúde, como a EDG-15, podendo possibilitar a detecção precoce do
processo patológico e, consequentemente, uma investigação mais aguçada,
facilitando um provável diagnóstico e tratamento inicial que garanta melhor
qualidade de vida.
É válido ressaltar que
a alta prevalência dos sintomas depressivos entre os idosos estudados sugere
melhores capacitações por parte dos profissionais em busca de olhares
diferenciados e investigações direcionadas, objetivando intervenções precoces e
satisfatórias.
Sugere-se a realização
de outros trabalhos que visem à implantação/implementação de programas e
estratégias, buscando sempre a promoção, proteção e recuperação dos idosos que
residem em instituições de longa permanência.