EDITORIAL
Envelhecimento
e uso de psicotrópicos
Camila Garcel Pancote, D.Sc.*, Natália Sperli Geraldes Marin dos Santos Sasaki**,
Maria de Lourdes Sperli Geraldes Santos, D.Sc.***, Zaida Aurora Sperli
Geraldes Soler, D.Sc.****
*Graduada
em Farmácia, doutora em Fármaco e Medicamentos pela Faculdade de Ciências
Farmacêutica de São Paulo – USP, Docente do curso de Medicina da União das
Faculdades dos Grandes Lagos – Unilago,
**Graduada em enfermagem, enfermeira obstetra docente e coordenadora do curso
de enfermagem da União das Faculdades dos Grandes Lagos – Unilago,
Docente do programa de mestrado em enfermagem da FAMERP, ***Enfermeira, doutora
pelo Programa Interunidades de Doutoramento em
Enfermagem pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP, professora
adjunta IV da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto – SP (FAMERP) e
docente da graduação e pós-graduação em enfermagem da FAMERP, ******Obstetriz, enfermeira, docente e orientadora de graduação e
pós-graduação e pesquisadora do ensino e exercício da Enfermagem no Brasil
Correspondência: E-mail: Camila Garcel Pancote:
camilapancote@hotmail.com; Natália Sperli Geraldes
Marin dos Santos Sasaki: nsperli@gmail.com; Maria de
Lourdes Sperli Geraldes Santos: lsperli@yahoo.com.br;
Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler: zaidaaurora@gmail.com
O envelhecimento
humano é um processo universal, complexo e sua progressão é consequência do
aumento da longevidade e diminuição das taxas de natalidade [1,2].
A população idosa no
Brasil vem crescendo de forma significativa, passando de 9,8% em 2005 para
14,3% em 2015, o que representa um crescimento anual por volta de 1,0% do total
da população brasileira (estimada em 204,9 milhões no ano de 2015). Neste mesmo
período, a parcela de pessoas de zero a 14 anos no total da população diminuiu
de 26,5% para 21% e de 15 a 29 anos, de 27,4% para 23,6%. Neste contexto, o
Brasil caminha para se tornar um país de idosos no ano de 2030, considerando
estimativas do IBGE para este ano, de que o país contará com predomínio de
idosos em relação ao grupo de crianças e adolescentes até 14 anos de idade
[2-4].
A complexidade do
processo de envelhecimento está pautada no fato que essa transição etária vem
acompanhada de alterações biológicas, cognitivas e motoras, além de mudanças
sociais, como, por exemplo, o afastamento do indivíduo do mercado de trabalho,
além da relação com o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, que
muitas vezes levam a incapacidade. As doenças neurodegenerativas
e depressão estão entre as mais citadas neste grupo etário e esta última
apresenta maior incidência em mulheres, segundo relatos na literatura. Muitos
desses indivíduos apresentam problemas emocionais, que não são levados em
consideração pela equipe de saúde, continuamente por despreparo, considerando a
incipiência das políticas públicas voltadas para o envelhecimento [2,4-6].
Ressalta-se que nessa
fase da vida é muito comum o pensamento em torno da morte e o sentimento de incapacidade,
impotência devido ao afastamento do trabalho em razão das doenças crônicas,
desempenho sexual comprometido, inúmeras perdas durante a vida, dentre outros
fatores que, aliados a dificuldade do manejo do processo saúde doença do idoso
pelo serviço de saúde, principalmente daquela em idade mais avançada,
contribuem para prolongar seu sofrimento, a ponto de motivá-lo a atentar contra
a própria vida, a fim de aliviar sua dor e, muitas vezes, diminuir o peso que
causa em sua família [1,2,7].
Com base neste
cenário, o uso dos psicotrópicos nesta população tornou-se rotineiro, sendo
estes os medicamentos mais prescritos entre os idosos. Os antidepressivos
lideram o ranking de prescrições, em virtude da maior incidência de episódios
depressivos entre estes indivíduos. Os benzodiazepínicos também ocupam locais
de destaque em número de prescrições, já que distúrbios do sono é motivo de
grande parte das reclamações por esta população. Estes medicamentos atuam no
sistema nervoso central e em alguns pacientes proporcionam maior alívio dos
desconfortos relatados, como depressão, ansiedade e insônia. Entretanto o uso
incorreto e abusivo dessa classe de fármacos, somado às possíveis interações
com outros fármacos, tais como anti-hipertensivos, hipoglicemiantes, entre
outros, pode trazer riscos potenciais à saúde do idoso, bem como intoxicação e
óbito [8-11].
Nesse sentido, é
essencial o desenvolvimento de estratégias, programas e ações orientadas à
prescrição racional de psicotrópicos aos idosos, considerando que alterações farmacocinéticas e
farmacodinâmicas nessa população devem ser relevantes ao planejamento
terapêutico. O acompanhamento desses pacientes é essencial e deve ser motivo de
grande preocupação por parte dos profissionais da saúde, a fim de promover
qualidade de vida e bem-estar para essa população.