REVISÃO
Medidas de prevenção à
infecção hospitalar em unidades de terapia intensiva
Juliane Fontes Teles, Esp*, Brendo Vitor Nogueira
Sousa, Esp**, Elenilda Farias de Oliveira, D.Sc.***, Matheus Rodrigues Martins****
*Enfermeira,
Especialista em Enfermagem Hospitalar, Faculdade Adventista da Bahia (FADBA),
**Enfermeiro, Especialista em Enfermagem em Urgência, Emergência e Unidade de
Terapia Intensiva, FADBA e Gestão em Saúde pela Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia, ***Docente do Departamento de Saúde da FADBA,
****Enfermeiro, Residente em Urgência e Emergência, Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia (UESB)
Recebido em 19 de
novembro de 2018; aceito em 10 de janeiro de 2020.
Correspondência: Juliane Fontes Teles,
Ladeira dos Guararapes, 263 Cosme Velho 22241-220 Rio de Janeiro RJ
Juliane Fontes Teles:
julianefontesteles@gmail.com,
Brendo Vitor Nogueira Sousa:
brendovitor@hotmail.com
Elenilda Farias de
Oliveira: didafarias@yahoo.com.br
Matheus Rodrigues
Martins: matheusrodrigues355@gmail.com
Artigo baseado no
Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-Graduação em Enfermagem em Unidade de
Terapia Intensiva do Programa de Pós-Graduação da Faculdade Adventista da
Bahia.
Resumo
As infecções
relacionadas à assistência à saúde representam um problema antigo de saúde
pública e consideradas como uma das principais causas de morbidade e mortalidade,
tornando-se um impasse para a segurança do paciente e qualidade da assistência.
Assim, objetivou-se descrever o papel do enfermeiro nas medidas de prevenção
das infecções relacionadas à assistência à saúde em Unidades de Terapia
Intensiva. Trata-se de uma revisão sistemática, realizada nas bases de dados
eletrônicas: Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific
Eletronic Libray Online (Scielo)
e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), com artigos originais, disponíveis na
integra, em idioma português e publicados entre os anos de 2009 e 2017 que
atendiam o objetivo proposto. Foram identificados 466 artigos, dos quais 7
foram selecionados. Percebeu-se que as principais medidas de prevenção estão
voltadas para vigilância, higienização das mãos, adesão de protocolos e
educação permanente. Conclui-se que o papel da enfermagem é de extrema
importância para melhoria da qualidade assistencial, aumento da segurança do
paciente, diminuição do tempo de internação e custos hospitalares.
Palavras-chave: infecção hospitalar,
unidade de terapia intensiva, Enfermagem.
Abstract
Measures to prevent nosocomial infection in intensive care units
Health
care related infections represent an old public health problem and are a major
cause of morbidity and mortality, representing a deadlock for patient safety
and quality of care. The objective of this study was to describe the role of
nurses in the prevention of infections related to health care in Intensive Care
Units. This is a systematic review, carried out in the electronic databases:
Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (Lilacs), Scientific
Eletronic Libray Online (Scielo) and Nursing Database (BDENF), with original
articles, available in full in Portuguese, published between the years 2009 and
2017 that met the proposed objective. A total of 466 articles were identified,
of which 7 were selected. The main prevention measures are focused on
surveillance, hand hygiene and compliance with protocols and permanent education.
We concluded that the role of nursing is extremely important to improve the
quality of care, increase patient safety and decrease length of hospital stay
and hospital costs.
Keywords: cross infection, intensive care units, Nursing.
Resumen
Medidas de prevención de la infección hospitalaria en unidad de cuidados intensivos
Las infecciones
relacionadas con la asistencia sanitaria representan un problema antiguo de salud pública y
consideradas una de las principales
causas de morbilidad y mortalidad
que representan un impasse
para la seguridad del paciente y la calidad de la asistencia.
Así se objetivó describir el papel del enfermero en
las medidas de prevención
de las infecciones relacionadas con
la asistencia a la salud en
Unidades de Cuidados Intensivos. Se trata de una revisión
sistemática, realizada en las
bases de datos electrónicos: Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (Lilacs),
Scientific Eletronic Libray
Online (Scielo) y Base de Datos
de Enfermería (BDENF), con
artículos originales, disponibles
en su totalidad,
en portugués, publicados
entre los años 2009 y 2017
que atendían al objetivo propuesto.
Se identificaron 466 artículos, de los cuales 07 fueron
seleccionados. Se percibió
que las principales medidas
de prevención están
dirigidas a la vigilancia, higienización de las manos y adhesión de protocolos y educación
permanente. Se concluye que el
papel de la enfermería es
de extrema importancia para la
mejora de la calidad asistencial, aumento de la seguridad del
paciente y disminución del tiempo de internación y costos hospitalarios.
Palabras-clave: infección
hospitalaria, unidades de cuidados intensivos, Enfermería.
A
infecção hospitalar
(IH) é um problema antigo de saúde pública no
Brasil e no mundo. No entanto,
observa-se que, mesmo com o desenvolvimento científico e
tecnológico nas ações
de prevenção em saúde, tem-se observado que
problemas antigos, como as infecções
hospitalares ainda persistem em dias atuais. Apresenta-se como uma das
principais causas de morbidade e mortalidade, interferindo na
saúde dos
usuários que se submetem a procedimentos ou diagnóstico
[1]. No ano de 1990, o
termo “infecções hospitalares” foi
substituído por Infecções Relacionadas à
Assistência em Saúde (IRAS), tal denominação
abrange qualquer ambiente, não só
o hospitalar [2].
As IRAS representam um
grande impasse para a segurança do paciente e para a qualidade da assistência.
Estudos relatam que de 3% a 15% dos pacientes hospitalizados evoluem para um
quadro de infecção, resultando assim em hospitalizações prolongadas,
incapacidade a longo prazo e até mesmo a morte, além de gerar um grande encargo
financeiro às instituições de saúde, para os próprios pacientes e seus
familiares [3].
A Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) por sua vez é um ambiente crítico destinado a internamento de
pacientes graves, que precisam de assistência especializada de forma contínua,
materiais específicos e recursos tecnológicos necessários para monitorização
dos padrões vitais, de forma invasiva e não-invasiva, terapêutica e para
diagnóstico [4]. As IRAS na UTI estão associadas aos métodos invasivos, tais
como Cateter Venoso Central (CVC), sonda vesical de demora (SDV), ventilação
mecânica (VM), uso de imunossupressores, período de internação prolongada,
colonização por microrganismos resistentes e prescrição de antimicrobianos [5].
Diante do supracitado,
o Ministério da Saúde por meio da Portaria nº 2.616/98 dispõe sobre a
obrigatoriedade dos hospitais em manter programas de controle de infecções
hospitalares. O Programa de Controle de Infecções Hospitalares (PCIH) consiste
em um conjunto de ações que visa reduzir o máximo possível à incidência e
gravidade das infecções hospitalares. E para execução do PCIH, tais
instituições devem formar uma Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH), instrumento de assessoria à autoridade máxima da instituição e de
execução das ações de controle de infecção hospitalar [6].
Assim, o enfermeiro
pode desempenhar um trabalho fundamental na luta contra as IRAS, pois pode
fazer parte da CCIH e supervisionar toda equipe de enfermagem, capacitando a
mesma para adoção de práticas seguras de prevenção, visando à segurança do
paciente. Neste contexto, este estudo visa responder a seguinte pergunta
norteadora: Qual o papel do enfermeiro na prevenção das infecções relacionadas
à assistência à saúde em Unidades de Terapia Intensiva?
Considerando-se o importante
papel do enfermeiro e de sua equipe para prevenção e controle da IRAS, o
presente estudo tem por objetivo descrever o papel do enfermeiro nas medidas de
prevenção das infecções relacionadas à assistência à saúde em Unidades de
Terapia Intensiva.
Trata-se de uma revisão
sistemática, que seguiu as seguintes etapas: formulação do tema,
estabelecimentos de critérios de inclusão e exclusão, pesquisa, triagem,
avaliação dos estudos encontrados e descrição dos artigos inclusos.
Para o levantamento da
produção científica, foram utilizadas as bases de dados eletrônicas: Literatura
Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs),
Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), por meio dos
descritores (DeCS): infecção hospitalar, prevenção e
Unidade de Terapia Intensiva, de forma única e combinada, utilizando o operador
booleano AND.
Para seleção dos
artigos, foram utilizados como critério de inclusão: artigos originais, publicados
nas bases de dados supracitadas, em idioma português, entre os anos de 2009 a
2017, que atendessem ao objetivo proposto. Excluíram-se artigos de revisão,
editorial, relatos de casos, teses, monografia, dissertações e artigos
publicados fora do recorte temporal estabelecido e os que não atendiam ao
objetivo deste estudo
Foram encontrados 466
artigos, após as buscas realizadas, que passaram por três etapas, a primeira
consistiu na análise dos títulos, resumos e objetivos, confrontando-os com critérios
de inclusão estabelecidos e selecionados os julgados adequados para a segunda
etapa, assim foram selecionados 26 artigos e excluídos 440 por não estarem em
conformidade com tais critérios. A segunda etapa consistiu na leitura integral
para refinamento dos artigos inseridos, para compor os resultados deste estudo,
assim foram excluídos 17 artigos, por não atenderem aos critérios e incluídos
07 artigos neste estudo. A terceira etapa consistiu em elaborar uma síntese
crítica dos artigos selecionados na fase anterior para composição dos
resultados dessa pesquisa. A Figura 1 descreve este processo em forma de
fluxograma conforme as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta
(PRISMA) [7].
Figura 1 - Fluxograma das
fases de seleção dos artigos inclusos. Cachoeira, Bahia, Brasil, 2018.
Foram incluídos 7
artigos nos resultados deste estudo, 3 artigos da BEDENF, 3 do Scielo e 1 do Lilacs. Os mesmos estão apresentados na Tabela I, que traz
informações sobre os autores, tema do artigo, base de dados, ano e síntese
crítica dos resultados.
Tabela I - Informações dos
artigos inclusos. Cachoeira, Bahia, Brasil, 2018.
Os artigos descritos na
Tabela I evidenciam que a vigilância, higienização das mãos, adesão de
protocolos e educação permanente são ações de grande importância para a
diminuição e controle da incidência de IRAS no ambiente de terapia intensiva e
são gerenciadas pelo enfermeiro. Perante os resultados, essa discussão será
dividida em três tópicos (1. IRAS mais prevalentes, 2. Fatores de risco para
IRAS, 3. Atuação de enfermagem para prevenção de IRAS).
IRAS mais prevalentes
Dentre as IRAS mais
prevalentes em UTI, destacam-se as pneumonias associadas à ventilação mecânica
(PAVM), infecções de corrente sanguínea (ICS) e infecções do trato urinário
(ITU) [5]. Além disso, outros estudos afirmam que a utilização de ventilação
mecânica, exposição a procedimentos invasivos e o uso de cateter vesical e
central são de infecções de difícil controle [15].
Os artigos 1 e 7 que
abordam essa temática, embora já se saiba a respeito da fisiopatologia o da
PAVM e das propostas de intervenção, reportam que ela ainda é considerada um
dos efeitos adversos mais atemorizantes, principalmente na UTI e a maioria
destes microrganismos está presente na microbiota das mãos. Pode-se inferir
então que há baixa adesão às normas técnicas para higienização das mesmas por
parte dos profissionais de saúde [8,14].
No que se diz respeito
à PAVM, estudos apontam que as medidas adotadas para prevenção e ocorrência de
infecção do trato respiratório estão baseadas em optar por ventilação invasiva
somente quando necessário, manter decúbito de 30 a 45°, checar se há refluxo do
resíduo gástrico, não compartilhar entre pacientes os artigos assistenciais
respiratórios, realizar troca dos circuitos ventilatórios e umidificadores a
cada 48 horas, inaladores a cada uso, nebulizadores a cada 24 horas,
ressuscitadores manuais (ÂMBU) quando visivelmente sujo, realizar aspiração em
técnica asséptica rigorosa antes da mobilização ou remoção da cânula traqueal,
realizar fisioterapia respiratória, realizar higiene oral de preferência a cada
três horas ou em casos de emergência, manter o fixador do ventilador mecânico
limpo e seco [16,17].
Os artigos 1, 2 e 7
trazem como atuação do enfermeiro a prevenção e controle de infecções da
corrente sanguínea, medidas de acordo com normas e regulamentos do CCIH,
capacitação dos profissionais da UTI sobre a higiene das mãos, intervenções
invasivas a serem feitas por médicos experientes e utilização de roupas
esterilizadas durante as intervenções, uso de máscaras, luvas e aventais,
implementação de um bundle que consiste em cinco
componentes principais: higiene das mãos; barreiras máximas de precaução
durante a inserção do cateter; antissepsia da pele com Clorexidina; seleção do
melhor local; revisão diária da necessidade do cateter com a remoção imediata
de cateteres desnecessários [8,9,14].
Nos artigos inclusos,
pouco foi descrito sobre ITU, porém pesquisas referem que o índice de ITU está
relacionado com a cateterização vesical. Para
diminuição da ocorrência de ITU, é preciso ações de educação continuada e
implementação de protocolo que apresentem efeitos favoráveis na redução de
casos e identificando ações que ajudem a evitar erros e danos decorrentes da
assistência com o paciente durante os procedimentos invasivos [18].
Fatores de risco para
IRAS
Os artigos 3 e 4
demonstraram que apesar do número de pacientes das UTIS serem menor em
comparação a outros setores, a taxa de IRAS é significativamente maior, por
causa do estado crítico do paciente, necessitando de diversos procedimentos
invasivos e por consequência são acometidos por variados tipos de IRAS [10,11].
Com isso pode-se
inferir que a longa permanência e a gravidade do estado clínico dos pacientes
internados na UTI são fatores que aumentam os riscos de infecção e os gastos
financeiros, pois os pacientes necessitam de maior assistência em
procedimentos, principalmente invasivos, medicamentos, tempo da equipe e
ocupação no leito diminuindo a rotatividade.
Além disso, outro fator
apontado pelo artigo 4, que contribui para IRAS é a sobrecarga de trabalho da
equipe de enfermagem nas UTIs, o que favorece ou predispõe o desenvolvimento de
IRAS, porém no artigo, não foi um fator que exerceu influência para o desfecho
[12]. No entanto, outros estudos referem que a carga de trabalho de enfermagem
excessiva é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de IRAS
em UTI [19].
Atuação de enfermagem
para prevenção de IRAS
Os resultados
evidenciaram que a atuação do enfermeiro nas medidas de prevenção das IRAS está
relacionada à vigilância, higienização das mãos, adesão de protocolos e
educação permanente, como ações de grande importância para a diminuição e
controle da incidência de IRAS no ambiente de terapia intensiva, segundo os
artigos 2, 5 6 e 7 [9,12-14].
Outros estudos também
corroboram essa informação ao afirmar que dentre as ações, a lavagem das mãos é
uma medida simples, porém importante e econômica. Outro fator não menos
importante é o incentivo aos profissionais na participação de educação
continuada como uma das principais formas de divulgação e multiplicação do
conhecimento [20]. No entanto, em relação à adesão e aplicabilidade de
protocolos na prática, tem sido um grande desafio [21].
É
relevante mencionar
os programas governamentais de controle de infecção
hospitalar que são
abordados nos artigos 6 e 5, a importância do sistema de
vigilância,
relativamente recente no país, com a finalidade de
construção contínua e
efetiva da infecção; incentivos através de
campanhas, adesão às medidas de
precauções-padrão; monitoração e
divulgação das taxas de higienização das
mãos
por unidades e equipes sempre com o aspecto de incentivo a melhoria dos
padrões, além de que cada instituição
hospitalar tem o dever de disponibilizar
recursos para permitir a efetividade da adesão das medidas de
precaução na
prática [12,13].
Outros estudos também
evidenciam que apenas criar políticas e estabelecer normas, diretrizes e
indicadores não são suficientes, se não houver suporte de estrutura e condições
para as intervenções nas práticas dos profissionais, no seu processo durante a
assistência prestada ao paciente em busca de resultados em níveis aceitáveis
dessas infecções [22].
Para um cuidado seguro,
envolve a segurança do paciente e dos profissionais que exercem tais
atividades. Entretanto, esse cuidado abrange aspectos múltiplos que envolvem
desde o conhecimento dos profissionais, sua complexidade nas atividades
assistenciais, até disponibilidade e a distribuição de recursos humanos e
estrutura física adeptas ao controle das infecções. Deste modo, o controle das
infecções requer esforços conjuntos de todos os envolvidos na assistência em
saúde com estratégias que contemplem seus múltiplos aspectos [23,24].
O estudo destaca que o
papel do enfermeiro nas medidas de prevenção das IRAS em UTI está baseado em
vigilância, higienização das mãos, adesão de protocolos e educação permanente.
A prevenção e medidas de controle da infecção hospitalar, qualidade da
assistência, segurança dos pacientes e profissionais e diminuição do tempo de
internação e dos custos é boa parte conferida à equipe de enfermagem.
Entretanto, apesar da
equipe de enfermagem ter boa parte da responsabilidade na prevenção e controle
de IRAS, esta deve ser partilhada as demais profissões que estão envolvidas na
assistência, além de formar e treinar todos profissionais inseridos na
assistência com foco no conhecimento prático e teórico para melhor elaboração e
adesão de ações que minimizem as ocorrências de IRAS.