ARTIGO ORIGINAL
Opiniões de universitários acerca da experiência da
primeira exposição ao álcool e outras drogas
Daniel
Augusto da Silva*, Carlos Fabiano Munir Gomes**, Josiane Viana Cardoso**,
Ronaldo José Pereira Junior**, Rosângela Gonçalves da Silva***
*Enfermeiro, Doutorando em Ciências (EPE/UNIFESP),
Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA), **Enfermeiro, Fundação
Educacional do Município de Assis (FEMA), ***Enfermeira, Doutoranda em
Biociências (UNESP), Fundação Educacional do Município de Assis (FEMA)
Recebido
em 5 de dezembro de 2018; aceito em 2 de julho de 2019.
Correspondência: Daniel Augusto da
Silva, Avenida Getúlio Vargas, 1200, Vila Nova Santana, 19807-130 Assis SP
Daniel
Augusto da Silva: daniel.augusto@unifesp.br
Carlos
Fabiano Munir Gomes: carlos.fabiano93@gmail.com
Josiane
Viana Cardoso: josiane.jv11@gmail.com
Ronaldo
José Pereira Junior: ronaldopereirajunior@hotmail.com
Rosângela
Gonçalves da Silva: roseziquinelli@gmail.com
Resumo
Objetivo: Conhecer as opiniões
de estudantes universitários sobre experimentar os diferentes tipos de drogas
existentes, compreendendo as drogas lícitas e as ilícitas. Métodos: Trata-se de pesquisa transversal, de abordagem
quantitativa, realizada com 406 estudantes universitários, no 3º trimestre de
2017, com questionários elaborados pelos autores. Os dados foram analisados por
meio de análise estatística descritiva. Resultados:
Os índices gerais de aprovação para experimentação e o tipo de drogas são:
29,8% para tabaco, 68,2% para álcool, 15,5% para maconha, 3,7% para crack, 4,7%
para anfetaminas, 4,7% para inalantes, 13,1% para hipnóticos, 6,4% para alucinógenos,
e 6,4% para opiáceos, o que traduz um comportamento de admissão da
possibilidade de experimentação de todos os tipos de substâncias pelos
participantes da pesquisa. Conclusão:
A necessidade de investimento em políticas educacionais relacionadas à prevenção
do primeiro contato com essas substâncias é clara, quando considerado o cenário
real de contato com essas substâncias na população universitária.
Palavras-chave: estudantes,
comportamento de procura de droga, transtornos relacionados ao uso de substâncias.
Abstract
University
students’ opinions on their first exposure to alcohol and other drugs
Aim: To know the opinions
of university students about experimenting with different types of drugs,
including licit and illicit drugs. Methods:
This is a cross-sectional, quantitative approach, carried out with 406
university students, in the 3rd quarter of 2017, with questionnaires prepared
by the authors. Data were analyzed through descriptive statistical analysis. Results: The general approval ratings
for experimentation and the type of drugs are: 29.8% for tobacco, 68.2% for
alcohol, 15.5% for marijuana, 3.7% for crack cocaine, 4.7% for amphetamines,
4.7% for inhalants, 13.1% for hypnotics, 6.4% for hallucinogens, and 6.4% for
opiates, which translates into an admission behavior of the possibility of
experimentation of all types of substances by participants in the search. Conclusion: The need to invest in
educational policies related to the prevention of first contact with these
substances is clear when considering the real scenario of contact with these
substances in the university population.
Key-words: students,
drug-seeking behavior, substance-related disorders.
Resumen
Opiniones
de universitarios sobre la
experiencia de la primera exposición al alcohol y otras drogas
Objetivo: Conocer
las opiniones de estudiantes universitarios sobre
experimentar los diferentes tipos de drogas, incluidas las drogas lícitas e
ilícitas. Métodos: Se trata de una investigación transversal, de abordaje
cuantitativo, realizada con
406 estudiantes universitarios,
en 2017, con cuestionarios elaborados por los
autores. Los datos fueron analizados con análisis estadístico descriptivo.
Resultados: Los índices generales de aprobación para experimentación y el tipo de
drogas son: 29,8% para tabaco, 68,2% para alcohol, 15,5% para marihuana,
3,7% para crack, 4,7% para anfetaminas, 4,7% para los
inhalantes, 13,1% para los
hipnóticos, 6,4% para los alucinógenos y 6,4% para los opiáceos, lo que refleja un comportamiento
de admisión de la posibilidad de experimentación de
todo tipo de sustancias por los
participantes de la encuesta.
Conclusión:
La necesidad de inversión en políticas educativas relacionadas con
la prevención del primer contacto con esas sustancias
es clara, cuando se considera el
escenario real de contacto con esas sustancias
en la población
universitaria.
Palabras-clave:
estudiantes, comportamiento
de búsqueda de drogas, trastornos
relacionados con sustancias.
A
questão do uso e dependência do álcool e outras substâncias psicoativas têm
correspondido a um problema cada vez mais presente e frequente, em todas as
sociedades, em nível mundial, fato que tem se traduzido em grave problema
social e de saúde pública. Os usuários que outrora eram considerados marginais
em um contexto social estão passando a ser identificados como membros da
família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho ou pessoas que possuam qualquer
outro laço de convivência [1,2].
Na
análise do envolvimento com álcool e outras substâncias na população geral, é
observável que os estudantes universitários apresentam um consumo de drogas
mais intenso e frequente, quando comparados a outras parcelas da população [3].
Com
essa situação, é evidente a necessidade do conhecimento sobre o envolvimento
dos estudantes com as drogas, pois as atividades de prevenção têm mais
resultados nessa faixa etária, e é nessa faixa que ocorre o primeiro contato
com as drogas para a maioria das pessoas, além de que o acesso a uma variedade
de substâncias, que tem sido mais facilitado a essa população, que vivencia uma
série de impactos negativos para a saúde por conta do precoce contato com essas
substâncias [3].
Por
conta disso, várias pesquisas locais, regionais e nacionais têm sido
realizadas, para rastreamento do envolvimento com álcool e outras substâncias
entre a população universitária, possibilitando até a análise anual do
comportamento em relação às drogas, com a oportunidade de conhecimento sobre a
diminuição, manutenção ou aumento do índice de envolvimento com drogas nesta
parcela da população [3].
O
envolvimento com o álcool e outras substâncias pode ser classificado por
estágios, e estes compreendem a experimentação, que marca o início do contato
com a droga; o uso social ou ocasional, que se refere ao uso da droga com
frequência irregular e em quantidades modestas; o uso regular, que caracteriza
um padrão de uso frequente; o uso situacional, quando o consumo é associado a
um objeto específico; o uso compulsivo, caracterizado por períodos de uso de
grandes quantidades intercalados por períodos de abstinência; o abuso, que é o
uso da droga com apresentação de problemas significativos associados a ela, e a
dependência, quando ocorre a presença de sintomas cognitivos, comportamentais e
fisiológicos que indicam a continuação do uso de substâncias apesar dos
problemas relacionados a ela [4].
O
estágio de experimentação, com a ocorrência do primeiro contato com as drogas,
é apontado na literatura como maior facilidade e vulnerabilidade na
adolescência, em decorrência do impacto das transformações físicas e psíquicas
características desta faixa etária [5].
A
partir do expressivo número de pessoas que apresentam envolvimento com álcool e
outras drogas, esta pesquisa tem como objetivo conhecer as opiniões de
estudantes universitários sobre experimentar os diferentes tipos de drogas
existentes, compreendendo as drogas lícitas e as ilícitas.
Com
os dados obtidos por meio da avaliação dos estudantes universitários, haverá
possibilidade de contribuição na compreensão e planejamento de estratégias de
prevenção e recuperação relacionadas à ocorrência do envolvimento com álcool,
tabaco e outras substâncias nesta população, tendo em vista a vulnerabilidade a
qual estão expostos, e os altos índices de utilização, discutidos amplamente na
literatura.
Trata-se
de uma pesquisa de levantamento, exploratória, descritiva, de abordagem
quantitativa.
O
estudo foi realizado em uma instituição de ensino superior localizada em cidade
do centro-oeste do estado de São Paulo, Brasil. A população de estudantes
universitários regularmente matriculados na instituição de ensino em 2017 era
de 2.164, e a amostra calculada com grau de confiança de 95%, e margem de erro
de 5% foi de 326 participantes. Participaram 406 estudantes universitários, que
compuseram a amostra final.
Optou-se
por um modelo de amostragem probabilística aleatória estratificada
proporcional, para que houvesse representantes dos cursos de graduação
oferecidos pela instituição, a saber: Administração, Análise de Sistemas,
Ciências da Computação, Ciências Contábeis, Direito, Enfermagem, Fotografia,
Medicina, Publicidade e Propaganda e Química.
Todos
os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, concordando a participação e, após, responderam os instrumentos
respectivos a esta pesquisa, de acordo com a legislação específica para
pesquisas com seres humanos [6].
A
coleta de dados se deu no decorrer do 3º trimestre de 2017, em salas de aula ou
espaços internos da instituição, que proporcionassem privacidade para o
desenvolvimento da mesma. Houve a aplicação de questionário semiestruturado,
elaborado pelos autores, para identificação de dados sociodemográficos e
instrumento acerca da aprovação ou desaprovação da experimentação de álcool e
outras substâncias, ambos os instrumentos elaborados pelos autores. Os dados
foram analisados com uso de análise estatística descritiva e de acordo com as
instruções para aplicação do instrumento selecionado. Também foi realizado o
teste de Qui-Quadrado de Pearson, no Software SPSS
versão 20.0, para verificar as diferenças existentes entre o sexo e o
envolvimento com substâncias. A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê
de Ética em Pesquisa do Hospital Amaral Carvalho, sob parecer número 2.105.041,
de 07 de junho de 2017.
Obtiveram-se,
neste estudo, respostas afirmativas sobre a aprovação de experimentação de todas
as substâncias, conforme descrito na Tabela I.
Tabela I - Índice geral de aprovação de experimentação do álcool e outras
substâncias por estudantes universitários, Assis, São Paulo, Brasil, 2019 (n =
406).
Quanto
à participação, este estudo contou com a participação voluntária de 406
estudantes universitários, dos quais 240 (59,1%) eram do sexo feminino e 166
(40,9%) do sexo masculino. Demais dados a respeito da caracterização dos
participantes e a aprovação da experimentação do álcool, tabaco e outras drogas
estão descritos na Tabela II.
Tabela II - Aprovação da experimentação do álcool ou outras substâncias por
estudantes universitários e as diferenças de comportamento em relação às
variáveis sociodemográficas, Assis, São Paulo, Brasil, 2019 (n = 406). Teste de
Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher.
Sobre
esses dados, estatisticamente é possível afirmar que a aprovação da
experimentação de hipnóticos está associada ao sexo, a experimentação do álcool
está associada a faixa etária, a experimentação do tabaco, da maconha e de
alucinógenos estão associadas à orientação sexual, a experimentação do tabaco
está associada à cor de pele, e a aprovação da experimentação do tabaco e do
álcool estão associadas ao estado civil.
Quanto
as variáveis acadêmicas, há diferença estatística significante para quase a
totalidade dos tipos de drogas pesquisados, quando analisada a diferença de
comportamento para a aprovação em relação ao curso de graduação no qual o
estudante está vinculado, possibilitando a afirmação de que há diferença de
comportamento para aprovação de diferentes tipos de drogas (Tabela III).
Tabela III - Aprovação da experimentação do álcool ou outras substâncias por
estudantes universitários e as diferenças de comportamento em relação às
variáveis acadêmicas, Assis, São Paulo, Brasil, 2019 (n=406).
O
início do uso das drogas é observado por diferentes razões, que incluem o
julgamento pessoal do indivíduo sobre o prazer da experiencia em si, o efeito
estimulado pelas drogas sobre as pressões cotidianas, podendo, até este motivo
para uso, ser devido ao desejo de alcance de um estado religioso ou espiritual
[7].
Vários
fatores podem estar intrínsecos ao comportamento do uso das drogas, como o
conhecimento sem censura sobre o uso de drogas por celebridades, que por vezes
são consideradas ídolos, e podem induzir a imitação do comportamento pessoal, a
facilidade de acesso às drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, a pressão
social, e fatores genéticos que parecem sugerir maior susceptibilidade de
pessoas às drogas [8].
Dessa
forma, muitas pessoas, durante a vida, experimentam uma variedade de
substâncias que são causadoras de dependência, mas não se pode afirmar que
todas as pessoas que experimentam essas substâncias serão dependentes delas,
para que esse comportamento se efetive, uma complexa interação de fatores
psicológicos, neurobiológicos e individuais precisa ocorrer [9].
Este
fato nos permite afirmar que, dependendo do contexto, cada substância pode
influenciar o comportamento do indivíduo de forma inofensiva, com poucos
riscos, ou pode acarretar em prejuízos biológicos, psicológicos e sociais,
sendo observado que as situações de risco como os problemas com a polícia e a
justiça, a exposição e envolvimento com diversos tipos de violência, a vivência
de comportamento sexual de risco e a possibilidade de desenvolver a dependência
química serão proporcionais ao maior tempo de exposição a elas, considerando o
início de consumo mais precoce [10].
Em
universitários, o envolvimento com álcool e outras drogas pode estar
relacionada à intensa mudança de hábitos, consequência de realidades cognitivas
e emocionais inesperadas, como o afastamento da família, adaptação ao novo
estilo de vida e ao ambiente desconhecido, novas amizades, novos desafios e
preocupações, fatos que o tornam susceptíveis a adoção de hábitos não
saudáveis, como o envolvimento a essas substâncias [11-13].
Neste
estudo, obteve-se aprovação para experimentação para todas as drogas, no
entanto as características sociodemográficas, diferenças individuais, revelaram
diferenças nas opiniões e condutas quanto a esse comportamento.
A
aprovação para experimentação do álcool foi a de maior incidência, mesmo sendo
de conhecimento que o álcool e o tabaco são as substâncias que mais matam em
todo o mundo [14].
A
situação da alta incidência de experimentação do álcool é fato que se semelha a
outras pesquisas realizadas com essa temática, não somente no Brasil, mas
abrangendo estudantes portugueses (59,0%) [15-20].
A
análise de comportamento relacionado à experimentação de álcool e outras
substâncias, em relação ao sexo, revelou, na população feminina, a maior
aprovação para experimentação do álcool (feminino 68,3%, masculino 68,1%), de
hipnóticos (feminino 17,1%, masculino 7,2%), e de opiáceos (feminino 6,7%,
masculino 6,0%).
O
comportamento da população feminina em relação ao uso de substâncias
psicoativas tem apresentado aumento gradual nos últimos anos, com o aumento e
dependência do álcool, e prevalência do uso das substâncias estimulantes, cuja
utilização é duas ou três vezes maior quando comparado o uso na população
masculina [21].
A
questão do uso de álcool, tabaco e medicamentos na população feminina tem sido
prevalente, entretanto, mesmo que pouco aceito socialmente, o envolvimento e
uso de substâncias ilícitas pelas mulheres tem revelado importante mudança de
comportamento, no que se refere a maior aprovação para experimentação de drogas
ilícitas [22]. Esses fatos puderam ser comprovados neste estudo, no qual houve envolvimento
desta população para todos os tipos de substâncias.
A
questão dos altos índices de utilização do
álcool está relacionada à permissão
desta ação por parte da sociedade e do governo, todavia,
deve-se ressaltar que
a grande maioria das pessoas que faz uso de álcool não o
faz de modo
problemático, contudo, devem estar incluídas nas
atividades de educação e
prevenção de riscos, danos e vulnerabilidades [23-24].
Quanto
ao estado civil, a aprovação para experimentação do álcool esteve presente de
forma significativa, chegando ao índice de aprovação em 68,2% para os
solteiros.
O
fator estado civil e a interferência no uso de substâncias possuem ampla
discussão na literatura, com a afirmação de que a ausência de um parceiro pode
resultar como risco para o envolvimento com estas substâncias, uma vez que o
parceiro pode se constituir como auxilio psicológico frente aos acontecimentos
estressantes, culminando na não recorrência às drogas [25-27].
A
orientação sexual revelou diferenças importantes de comportamento quanto à
experimentação de substâncias. Tabaco, álcool, maconha, anfetaminas,
alucinógenos obtiveram aprovação para todas as populações. A aprovação da
experimentação do tabaco foi maior para a população homossexual (50,0%), assim
como o crack (5,6%) e inalantes (5,6%). A população heterossexual demonstrou
maior índice de aprovação para experimentação de hipnóticos (13,4%) e opiáceos
(6,6%). A população bissexual apresentou comportamento de total desaprovação
para experimentação de crack, inalantes, hipnóticos e opiáceos, todavia, foi a
população de maior aprovação para experimentação do álcool (72,7%), da maconha
(45,5%), de anfetaminas (9,1%) e alucinógenos (36,4%).
A
questão do risco da experimentação e o abuso de substâncias psicoativas em
homossexuais e bissexuais é uma temática frequentemente apontada por
pesquisadores, que afirmam notar taxas de abuso e dependência de substâncias
psicoativas nessa população [28]. Estudo realizado no Ceará revelou que 59,4%
desta população afirma utilizar substâncias lícitas, destes, 70,9% utilizam
álcool, e 22,7% utilizam o tabaco. Para as substâncias ilícitas, o consumo foi
afirmado em 40,5% destas pessoas [29].
Quando
analisado o comportamento de aprovação para experimentação de substâncias e a
relação com a cor da pele, notou-se que o comportamento da população negra,
quanto as substâncias lícitas, foi de maior índice de aprovação para
experimentação do álcool para 76,9% dos entrevistados, e das substâncias
ilícitas, o maior índice de aprovação para experimentação da maconha com 30,8%.
A população de cor de pele branca foi a única população que aprovou a
experimentação de todas as substâncias, e a que mais aprovou a experimentação
do tabaco (32,0%), de anfetaminas (5,0%), de inalantes (5,0%), de hipnóticos
(13,6%), e de opiáceos (6,8%). O índice de aprovação para experimentação de
alucinógenos foi maior na população parda (9,7%).
Em
relação à idade dos entrevistados, observa-se que na faixa etária de 17 a 34
anos existe a aprovação para experimentação de todas as substâncias. Ainda,
observa-se que o álcool mantém o maior índice de aprovação para experimentação
em todas as faixas etárias dos participantes deste estudo.
O
envolvimento, na idade da adolescência, com drogas lícitas é real, fato
semelhante ao de pesquisa realizada com 210 adolescentes, na qual 6,6% já
haviam experimentado o tabaco, e 20% já haviam experimentado o álcool [30].
O
álcool, no Brasil, é utilizado abusivamente por adolescentes e adultos jovens,
fato que constitui importante problema de saúde pública, proporcionando sérios
danos à sociedade, inclusive perfazendo a maior causa de morte nesta faixa
etária [15].
Este
comportamento pode estar associado a vários fatores de risco, fatos que podem
levar a maior utilização e dependência dessas substâncias, e, ainda, podem
levar a experimentação e envolvimento com substâncias ilícitas, que geralmente
ocorre na faixa etária da adolescência e adulta jovem [17].
Ainda,
é importante ressaltar que a faixa etária entre 23 e 28 anos de idade é a que
mais aprova a experimentação das substâncias lícitas (tabaco 31,8%, álcool
73,9%), além do crack (8,0%), inalantes (8,0%), opiáceos (9,1%). A faixa etária
entre 29 e 34 anos de idade apresentou maior índice de aprovação de
experimentação para anfetaminas (7,7%) e alucinógenos (11,6%). Para a maconha,
a faixa etária de maior aprovação foi dos 35 aos 40 anos de idade, com 22,2%.
A idade jovem se constitui o maior risco
para envolvimento com substâncias, contudo, neste estudo, a maior incidência de
aprovação para experimentação da maconha se apresentou na faixa etária entre 35
e 40 anos de idade, o que difere de pesquisas que revelam a diminuição do
envolvimento com o decorrer da idade [26].
Em
relação ao curso de graduação no qual o aluno está vinculado, observa-se a
escassez de estudos que tratem dessa temática em alunos que não sejam da área
da saúde, o que é apontado como necessário, tendo em vista a verificação deste
comportamento em estudantes de todos os cursos pesquisados.
Pesquisa
realizada em Volta Redonda/RJ aponta consumo de álcool por estudantes de
medicina em 81,1%, e 87,1% em Salvador/BA, 83,1% em São Paulo/SP, 85,2% em Belo
Horizonte/MG, 86,8% em cidade da região centro-oeste, próximo ao resultado
apresentado neste estudo. Aos alunos de Enfermagem, o índice de envolvimento
chegou a 90,6% em estudo realizado no nordeste brasileiro, superior aos 69,7%
encontrados neste estudo [31-33].
Observa-se
um comportamento de envolvimento com álcool, o maior índice de aprovação de
experimentação encontrado neste estudo, como uma prática consensual nos
universitários brasileiros.
O
envolvimento de estudantes universitários com álcool e outras drogas é real,
intenso e frequente, fato este exposto em estudo em que quase 49% dos
universitários pesquisados, pelo menos uma vez na vida, já haviam experimentado
alguma droga ilícita, e 80% dos que se declarara menos de 18 anos de idade
afirmaram já ter consumido algum tipo de bebida alcóolica [1].
O
primeiro uso da substância abriga diferenças individuais, que poderão
determinar a repetição do uso desta mesma substância. Para que a repetição
ocorra, será necessário o desenvolvimento da sensibilização e aprendizado na
autoadministração desta substância. Esse processo de aprendizado, por sua vez,
desenvolverá a dependência à substância respectiva, compreendendo as interações
com as drogas e com os ambientes relacionados a ela [9].
Ainda,
com a experimentação de uma determinada substância psicoativa, e consequente
contato com os efeitos produzidos, poderá ser desenvolvida a fissura no
indivíduo, que se refere a um intenso desejo, busca e repetição de pensamentos
relacionados à substância experimentada [9].
Esse
comportamento poderá incidir em risco maior à dependência, uma vez que a
necessidade dos efeitos produzidos pelas substâncias está em nível quase que
descontrolado pelo indivíduo.
As
limitações do estudo são consequência de recorte metodológico de dada realidade
e não do todo, no sentido de melhor compreendê-lo em cada região brasileira,
porém é importante considerar o fato exposto, e incentivar a realização de
outras pesquisas que objetivem compreender a intencionalidade e aprovação para
o envolvimento com substâncias.
Dessa
forma, recomenda-se a realização de mais estudo acerca da temática, que
apresentem diferentes realidades e forneçam contribuições para a prevenção e
identificação precoce do envolvimento com substâncias psicoativas, a fim de não
haver ocorrência de dependência dessas substâncias pela população
universitária.
Os
fatores relacionados ao primeiro contato com as drogas são variados, dessa
forma, a vivência de um conjunto de fatores de risco para o contato com as
drogas, atrelado ao contexto no qual está inserido, predispõe o adolescente e o
jovem à utilização de drogas, visto a interdependência desses fatores.
É possível observar que ainda se admite a
possibilidade da experimentação de álcool e outras substâncias, mesmo com o
desenvolvimento da tolerância a estas substâncias pelo organismo, fato que
aumenta o risco da dependência das substâncias e seus efeitos. E, ainda, é
importante ressaltar que o ambiente universitário poderia ser um espaço para
construção educativa preventiva relacionada a essa temática, contudo observa-se
a busca por experiências não sendo levadas em consideração as possíveis
consequências.
Dessa
forma, a necessidade de investimento em políticas
públicas educacionais, também
a nível local, que objetivem o conhecimento e a
prevenção do primeiro contato
com essas substâncias é clara, quando é considerado
o cenário real de contato
com essas substâncias na população
universitária brasileira. Além desta
população, as ações de
educação em saúde devem contemplar as
famílias e as
comunidades locais, pois, na maioria das vezes, a primeira
exposição a qualquer
tipo de droga está relacionada com as influências.
Concomitantemente,
a questão da experimentação e do uso do álcool e outras substâncias por
universitários precisam ser debatidos nos espaços acadêmicos locais, elaborando
políticas internas por parte das instituições, por conta do risco do estudante
desenvolver prejuízos, que são muitos, fatos que irão interferir na sua vida,
não somente no período de graduação, mas por toda a sua vida.