EDITORIAL
Cuidados
críticos em risco iminente de morte e ensino à distância de enfermagem: paralelos
que sinalizam o óbvio
Prof. Dr. Wiliam César
Alves Machado
Enfermeiro,
Professor Adjunto, Departamento de Enfermagem Fundamental, Escola de Enfermagem
Alfredo Pinto (EEAP), UNIRIO, Professor na Faculdade Univértix
de Três Rios (UNIVÉRTIX)
Correspondência: E-mail: wilmachado@uol.com.br
A
revogação do Decreto
8.754/2016 [1], que incluía a Enfermagem entre os cursos de
graduação que dependiam
de prévia manifestação do Conselho Nacional de
Saúde para autorização do Ministério
da Educação, foi de fato um retrocesso, cujos reflexos
negativos haveremos de constatar
em futuro próximo. O emblemático episódio de
atentado ao candidato e presidente
eleito do Brasil, evidenciou a importância do cuidado de
enfermagem prestado por
profissionais qualificados e com expertise na assistência
integral da pessoa em
risco iminente de morte. Caso as equipes de enfermagem da Santa Casa de
Misericórdia
de Juiz de Fora, ou do Hospital Albert Einstein, em São Paulo,
não fossem compostas
por profissionais bacharéis egressos de cursos presenciais,
não haveria como garantir
plenas possibilidades de recuperação do presidente
eleito.
A partir do momento em
que o Decreto 8.754/2016 [1] foi revogado pelo Decreto 9.235/2017 [2], teve início
a proliferação desordenada de cursos de graduação em Enfermagem de baixa qualidade,
agora, amplamente oferecidos na modalidade ensino à distância (ED). Os parlamentares
da Comissão de Educação da Câmara demonstraram profundo desconhecimento sobre as
especificidades do processo pedagógico da formação técnico-científica do enfermeiro,
tampouco se dispuseram a convocar experts de cada uma das suas subáreas de atuação
para lhes prestar assessoria. Esqueceram-se do fato de quando submetidos aos mais
diversos procedimentos hospitalares de internação clínica ou cirúrgica, todos procuramos
identificar a capacitação dos profissionais que nos prestam cuidados, buscando visualizar e ler o que nos possa informar os dados contidos
em seus crachás. Negligenciaram, por desconhecimento, o
papel decisivo do enfermeiro como responsável imediato pelo cuidado de alta complexidade
prestado às pessoas que experimentam situações que requeiram maior domínio de conhecimentos
e habilidades para o desempenho de cuidados críticos, além de desconexão com a realidade
dos serviços públicos de saúde oferecidos à população brasileira [3].
A aplicação do princípio
da integralidade na relação pedagógica é condição sine
qua non para a construção da identidade profissional e
pessoal do futuro enfermeiro, contudo, com limitadas possibilidades de êxito na
modalidade ED para sua formação profissional [4]. É no campo configurado pela presença
de um professor diante de seus alunos, expondo conteúdos teóricos e suas dimensões
operacionais, contextualizando tais abordagens com suas experiências de cuidar,
que se constroem oportunidades de transferência de constructos. Primeiramente do
professor que fala, e depois dos alunos, quando estes começam a falar e a ser ouvidos
pelo professor [5]. Acredita-se que, ao ser diretamente apresentado às situações
de cuidado e assistência de Enfermagem pautadas no princípio
da integralidade, o bacharelando se torne mais propenso a introduzir tal prática
em sua futura atuação profissional [4].
Não
há dúvida que uma
aula virtual não pode ter intensidade similar à de uma
aula presencial, quando a
relação professor-aluno é essencialmente imediata,
sem intermediações, e descreve
uma situação de tangível transferência entre
professor e aluno [5]. Relação de transferência
de extrema relevância no ensino presencial de Enfermagem,
fundamentalmente calcada
no respeito às necessidades humanas básicas afetadas e
vulnerabilidades multidimensionais
do outro, compreendido como expressão da imagem e
semelhança de Deus [6].
Não me parece sensato
atribuir equivalência entre a sistemática dinâmica presencial de práticas repetitivas
de procedimentos de cuidados simulados em laboratórios de técnicas, até que os estudantes
alcancem domínio e habilidades para seu seguro desempenho, com quaisquer estratégias
de ensino à distância que se proponham envolvimento de cuidados na multidimensionalidade
das necessidades humanas. Evidente que as práticas simuladas em laboratórios de
técnicas de Enfermagem são desenvolvidas em manequins, porém, transcorridas em ambientes
propícios à criação de atmosferas respeitosas, como se estivéssemos diante dos clientes
nos diversos campos de prática profissional [7].
Ademais, é fundamental
compreender que a formação profissional do enfermeiro deve ser focada no trabalho
em equipe, como estratégia pedagógica de preparo para suas futuras atuações nos
campos de prática assistencial. Nesse sentido, a aprendizagem colaborativa destaca
vantagens em dois níveis: individual e grupal. No primeiro, ela pode contribuir
para: ampliar e/ou construir as competências sociais, de integração e comunicação
efetivas; incentivar o desenvolvimento do pensamento crítico e a abertura mental;
conhecer diferentes temas e adquirir nova informação; reforçar a ideia de que a
aprendizagem emerge do diálogo ativo entre professores e alunos; diminuir os sentimentos
de isolamento e de temor à crítica; e, finalmente, aumentar a segurança em si mesmo,
a autoestima e a integração no grupo [8].
Brasil. Decreto Nº 8.754,
de 10 de maio de 2016. Altera o Decreto nº 5.773, de 9de
maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das
funções de regulação, supervisão
e avaliação de instituições de
educação superior e cursos superiores de
graduação
e sequenciais no sistema federal de ensino. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2016/decreto-8754-10-maio-2016-783053-publicacaooriginal-150314-pe.html
Brasil.
Decreto Nº 9.235,
de 15 de dezembro de 2017. Dispõe sobre o exercício das
funções de regulação, supervisão
e avaliação das instituições de
educação superior e dos cursos superiores de
graduação
e de pós-graduação no sistema federal de ensino.
Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Decreto/D9235.htm
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